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A Matemática na Educação Física: Uma proposta interdisciplinar para o ensino de Estatística

RC: 35239
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

JÚNIOR, Paulo do Nascimento Ferreira [1]

JÚNIOR, Paulo do Nascimento Ferreira. A Matemática na Educação Física: Uma proposta interdisciplinar para o ensino de Estatística. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 08, Vol. 01, pp. 72-91. Agosto de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/ensino-de-estatistica

RESUMO

As abordagens investigativas são estratégias didático – metodológicas elaboradas para favorecer o processo de Ensino e aprendizagem. Uma forma de ensino baseada nessa proposta pode ser de grande valor, por estimular nos alunos o senso – crítico e a autonomia, uma vez que propõe ao mesmo aprender Matemática fazendo Matemática. Essa proposta desenvolvida em paralelo com uma abordagem interdisciplinar pode ser uma ferramenta potencializadora da aprendizagem discente.

Palavras-chaves: estatística, interdisciplinaridade, investigação matemática, modelagem matemática, problematizações.

INTRODUÇÃO

O conhecimento estatístico, como competência, é uma exigência aos indivíduos na contemporaneidade para que possam compreender informações e assumir uma postura crítica diante delas.

Cotidianamente, os mais variados veículos de informação divulgam inúmeras informações por meio de ferramentas estatísticas que lhes atribuem simplicidade e credibilidade através de números, percentuais, gráficos e tabelas. A escola apresenta um papel essencial dentro desse contexto, pois cabe à mesma desenvolve competências e habilidades relacionadas a Estatística. Nesse sentido os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s):

A compreensão e a tomada de decisões diante de questões políticas e sociais também dependem da leitura e interpretação de informações complexas, muitas vezes contraditórias, que incluem dados estatísticos e índices divulgados pelos meios de comunicação. Ou seja, para exercer a cidadania, é necessário saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações estatisticamente, etc. (Brasil, 1997, p.25).

A escola atual requer estratégias didáticas que permitam formar alunos para o exercício da cidadania e para isso é necessário abordagens onde o mesmo possa investigar problemas reais afim de fazer previsões e propor possíveis soluções. O modelo clássico de ensino de Matemática baseia – se em aulas expositivas, resolução de listas de exercícios e consultas a livros didáticos. Essa metodologia não permite aos discentes durante o seu processo de construção do conhecimento formular problemas, levantar hipóteses, fazer verificações e generalizações. Trata – se de um processo de pouca criticidade.

Efetivar novas propostas para o ensino – aprendizagem em Matemática deve ser uma prática docente constante, pois permite a professores e alunos saírem de suas zonas de conforto em busca de situações de aprendizagens mais eficazes. Nesse sentido, as abordagens investigativas, podem ser um caminho, pois permitem uma atuação crítica por parte dos discentes, pois os mesmos são os próprios agentes da construção do seu conhecimento.

O objetivo geral dessa pesquisa foi estudar as abordagens investigativas em Matemática, em especial no ensino de Estatística, analisando suas possíveis contribuições no processo de ensino e aprendizagem. Para atingir o objetivo geral foram traçados objetivos menores como o levantamento de bibliografias sobre o tema, discussão das contribuições das abordagens investigativas e modelagem matemática, demonstração da importância do ensino de Estatística e das abordagens interdisciplinares para a formação discente.

Entender como abordagens inovadoras podem contribuir para um processo educacional que possibilite ao aluno desenvolver – se com senso – crítico apurado e autonomia é o que moveu – me no sentido de realizar essa pesquisa. Explicitar como novas abordagens metodológicas podem aprimorar o desenvolvimento discente no sentido de formá – lo para viver em sociedade é um aspecto de extrema relevância nesse processo, ou então, esse seria o real sentido da realização desse projeto.

Para esse trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica por meio de uma abordagem qualitativa, onde serão pesquisados artigos científicos relacionados ou co – relacionados as áreas envolvidas, dissertações, teses e livros que são referências na área. Os principais autores que serão tomados como referência serão a João `Pedro da Ponte e Ubiratan D’ Ambrósio, entre outros, pelos seus trabalhos na área e o reconhecimento no meio acadêmico, além de documentos oficiais como as Orientações Curriculares Nacionais e os Parâmetros Curriculares Nacionais.

O presente trabalho será dividido em três partes: a primeira fará uma revisão da literatura sobre os temas apresentados, onde serão discutidas as bases teóricas desse estudo e a segunda parte fará um resumo sobre a metodologia utilizada e a terceira parte fará uma discussão dos resultados obtidos pelo estudo.

DESENVOLVIMENTO

A INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA

A compreensão que se tem, em geral, da Matemática é de uma área do saber com seus próprios princípios e métodos, encerrados em si mesma. Entretanto ela pode ser vista como uma construção humana e que pode ser utilizada por outras áreas do saber para gerar os seus próprios conhecimentos. Essa área do saber, ao contrário do que muitos pensam, está além dos limites das fórmulas ou dos procedimentos

Abordagens de natureza investigativas estão tornando – se cada vez mais comuns nos currículos escolares. Em Matemática, essa nova perspectiva pode ser muito valiosa, pois permite desenvolver nos alunos competências relacionadas ao pensamento lógico – matemático e a autonomia, ressignificando os conhecimentos adquiridos ao longo de sua jornada escolar.

Trata – se de uma metodologia de trabalho diferente, pois não é uma resposta final pronta que é valorizada – como ocorre tradicionalmente – mas o caminho percorrido, onde o aluno assume um papel ativo em suas descobertas. A investigação matemática tem como ênfase o trajeto realizado pelos alunos em busca de suas descobertas e possíveis justificativas. Nesse processo o docente assume um novo papel diante do seu aluno – não oferecer respostas ou métodos – de encoraja – lós à busca – las por si mesmos. Nesse sentido Ponte (2005):

Uma investigação matemática é sempre uma viagem ao desconhecido, pois embora já até possa ter sido feita por outros, dará ao aluno a oportunidade de fazer matemática do mesmo modo como os matemáticos o fazem; ele é quem decidirá o caminho a ser seguido. (p.7)

Atividades que envolvam a investigação matemática como uma perspectiva de trabalho pode ser muito útil para a aproximação dos discentes com essa área do saber, pois foge dos limites da sala de aula tradicional, onde os alunos, geralmente, seguem um roteiro onde se prática e exercita conteúdos para posteriormente serem examinados. A construção dos saberes em Matemática vai muito além de fórmulas prontas e procedimentos repetitivos, estando relacionada com a capacidade de interagir com situações – problemas de modo a compreendê-los, levantar hipóteses, colher dados e avalia–las criticamente. Segundo Trindade (2008):

A Matemática, usualmente, é entendida como um corpo de conhecimentos, mas pode ser também vista como uma atividade humana, como um dentre os modos possíveis de gerar conhecimento. Acredito que mais do que aplicação de fórmulas ou procedimentos repetitivos, o que se exige do ser humano na sua luta pela sobrevivência é que tenha capacidade de lidar com diferentes problemas e representações, que possa argumentar sobre os procedimentos utilizados bem como formular problemas e avaliar criticamente os resultados obtidos. Numa perspectiva assim, tem-se um aprender Matemática fazendo Matemática. (p.21)

Portanto proponho – me a pesquisar sobre o Ensino da Estatística dentro da proposta de uma abordagem investigativa com o intuito de analisar possíveis contribuições dessa estratégia metodológica para o desenvolvimento do ensino de Matemática.

Dentro de uma concepção de “aprender Matemática fazendo Matemática” tem – se uma nova possibilidade, didático – metodológica de estruturação do ensino da mesma, onde permite ao discente, situações de aprendizagens permeadas pela reflexão sobre o que se aprende, possibilitando ao alunado uma discussão e avaliação sobre a Matemática. Dessa forma permite aos alunos, enquanto sujeitos de sua aprendizagem, desenvolver o pensamento matemático, competências e habilidades matemáticas, a criatividade, modelabilidade de situações, a autonomia, a autoconfiança, o senso – crítico, a responsabilidade com a sua própria aprendizagem etc. De acordo com Ponte (2005), os matemáticos em sua atuação profissional investigam para descobrir relações entre objetos matemáticos explícitos ou implícitos caracterizando as suas respectivas propriedades. Ainda, segundo, Ponte (2005), investigação é sinônimo de descobrimentos e para isso é necessário percorrer um caminho metodológico que tem como pontos de apoio a formulação de um problema, elaboração de hipóteses, realização e testes de conjecturas, generalizações e provas de resultados.

Analisando por uma perspectiva docente, tais formas de abordagens requer um mudança de concepção sobre o ensino da Matemática por parte dos professores. Ao professor cabe um planejamento que adapte conteúdos e problematizações a fim de que as abordagens investigativas sejam uma prática natural e inerente a construção do conhecimento matemático.

De acordo como Goldenberg (1999) a Educação Matemática objetiva que os alunos aprendam com descobrir fatos e métodos e por essa razão as aulas de Matemática deveriam ter boa parte do seu tempo, dedicadas a esse tipo de atividade. Sabe – se que para muitos docentes e discentes, situações de aprendizagem em Matemática que apresentem natureza investigativas podem ser consideradas um desafio ou uma ruptura de paradigma, que em uma outra perspectiva, pode ser muito enriquecedora no processo de ensino – aprendizagem, exigindo uma mudança de visão e postura de docentes e discentes sobre o processo de construção dos saberes matemáticos, desenvolvendo nos discentes o espírito investigativo e o prazer pela descoberta.

MODELOS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

A presença de conhecimentos matemáticos nas variadas áreas do saber tem tornado – se cada vez mais frequente. A construção dos saberes matemáticos está diretamente relacionada com os aspectos culturais e históricos de uma civilização, servindo de ferramenta e alicerce para a constituição de outras áreas dos saber como a Física, a Química, a Astronomia, Engenharia, Arquitetura, Computação e outras mais e por que não a Educação Física?

A educação Física constituiu – se ao longo da história como uma ciência da saúde dotada do seu escopo de saberes e métodos, com base na Anatomia e Fisiologia do corpo humano. Entretanto nos últimos anos a Matemática tem ganhado espaço dentro dessa área do saber, de maneira geral, com a Estatística para a tabulação e análise de dados relacionados a estudos, em particular, de um indivíduo ou de uma população ou de maneira específica analisando índices obtidos por meio de Investigações Matemáticas.

Dentre vários índices existentes, o Índice de Massa Corporal (IMC), o Recíproco de Índice Ponderal (RIP) e o Índice de Adiposidade Corporal (IAC) são talvez os mais conhecidos e difundidos através da mídia em geral.

ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA (IMC)

O Índice de Massa Corpórea foi desenvolvido por um matemático belga e também astrônomo Adolphe Quetelet. Pelo fato de ser um grande entusiasta da Estatística, ele desenvolveu um modelo matemático com o intuito de determinar o peso ideal de um indivíduo. No ano de 1972 o pesquisador norte – americano Ancel Keys, reavaliou o modelo Quetelet constatando ser o mais simples para medida da gordura corporal. Esse modelo foi tornando padrão pela OMS em 1980 e ele leva em consideração o peso corporal (kg) do indivíduo e a sua altura (cm) para a realização da aferição.

Equação 1 – Modelo matemático do IMC.

Tabela 1 –Valores de referência para o IMC.

IMC CLASSIFICAÇÃO
Abaixo de 18,5 Abaixo do peso
Entre 18,6 e 24,9 Peso ideal
Entre 25,0 e 29,9 Levemente acima do peso
Entre 30,0 e 39,9 Obesidade grau I
Entre 35,0 e 39,9 Obesidade grau II (severa)
Acima de 40 Obesidade grau III (mórbida)

Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde

O IMC é uma ferramenta matemática que se firmou na área da saúde entre os nutricionistas, educadores físicos, nutrólogos, endocrinologistas etc. Esse fato deve – se à sua simplicidade e objetividade em relação a informações nutricionais e físicas de um indivíduo. Nesse sentido Cervi (2005), Franceschinni (2005), Priore (2005):

O IMC de populações gera indicadores para identificar grupos que necessitam de intervenção nutricional. Para o campo da saúde pública esta avaliação se mostra uma ferramenta de grande utilidade. O cálculo do IMC é um dos métodos mais simples, considerado de fácil aplicação e baixo custo. Por estes motivos é um dos mais utilizados para avaliar a composição corporal de grandes grupos de indivíduos para estudos epidemiológicos. (p.57)

O IMC, enquanto ferramenta matemática, mostra – se de grande utilidade e aplicabilidade para estudos relacionados a saúde física e nutricional dos indivíduos. Esse modelo também apresenta limitações, de acordo com Garn; Leonard e Hawthorne (1986), há uma baixa correlação entre a estatura e a massa livre de gordura, principalmente entre os homens, e não leva em consideração qualquer influência da proporcionalidade corporal. Por sua vez Willett, Dietz e Coldtz (1999), desconsideram a distribuição de gordura abdominal e para Landi et al (2000) não distingue corretamente massa gorda de massa magra.

RECÍPROCO DE ÍNDICE PONDERAL (RIP)

O Recíproco de Índice Ponderal (RIP) é calculado por meio da razão entre a altura (cm) e raiz cúbica do peso corporal (kg) do indivíduo.

Tabela 2 –Valores de referência para o RIP.

RIP CLASSIFICAÇÃO
Acima de 44 Abaixo do peso
Entre 41 e 44 Peso Normal
Abaixo de 41 Acima do peso

Fonte: SILVA (2017)

Esse modelo é mais fundamentado matematicamente que o IMC, pois leva em consideração a proporcionalidade existente entre a altura e o peso corpóreo de um indivíduo.

ÍNDICE DE ADIPOSIDADE CORPORAL (IAC)

O Índice de Adiposidade Corporal (IAC) é um índice mais fiel pois leva em consideração a altura (cm) e a circunferência do quadril de um indivíduo (cm).

Tabela 3 –Valores de referência para o IAC.

IAC(%) CLASSIFICAÇÃO
HOMENS MULHERES
Acima de 11 Abaixo de 23 Abaixo do peso
Entre 11 e 22 Entre 23 e 25 Peso Normal
Entre 22 e 27 Entre 35 e 40 Sobrepeso
Acima de 27 Acima de 40 Obeso

Fonte: DIAS et al (2014)

Esse modelo matemático apresenta uma maior correlação com a gordura corporal, de acordo com Bergman et al. (2011) essa seria uma alternativa mais fidedigna para uma quantificação da gordura corporal, fazendo uso da medida do quadril e da altura.

A ESTATÍSTICA COMO UMA FERRAMENTA DIDÁTICA

O uso da Estatística tem sido cada vez mais frequente nas mais variadas situações no cotidiano e os seus conteúdos visam desenvolver nos discentes competências e habilidades para lidar com a informação dentro desse contexto. A importância do estudo desse conhecimento oportuniza aos alunos desenvolver – se criticamente eu autonomamente frente a informação na construção do seu conhecimento e no exercício da cidadania. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s,1998) afirmam ser de uma importância fundamental o ensino de Estatística, pois permite desenvolver nos alunos o hábito de verificar as fontes e condições de informações levantadas, verificar ou não erros no recolhimento de dados antes de chegar a uma devida conclusão.

Os PCN’s (1998) sugerem o uso de conhecimentos estatísticos para a educação básica a partir do tratamento de dados, que visa desenvolver nos alunos habilidades no tocante a organização de dados, construção de tabelas e gráficos, aquisição de novos conhecimentos, domínio de linguagens e compreensão da probabilidade como medida de incerteza. Nesse sentido Lopes (2008) defende que o estudo dessa temática é essencial para o presente e o futuro do cidadão contemporâneo, cabendo a Matemática não só ensinar números, e também a organização de dados, leitura de gráficos e análises estatísticas.

Estamos em uma era, na qual, somos inundados por informações das mais variadas formas. Tais informações podem ser de natureza: social, econômica, política, etc e na maioria das vezes são representadas por tabelas, gráficos, percentuais e números. Diante desse contexto os cidadãos precisam desenvolver habilidades e competências afim de assimilar o que for importante e até mesmo refutar informações equivocadas, tendenciosas e sem valor lógico.

Para o aluno do ensino médio é importante não somente o desenvolvimento de habilidades procedimentais, mas também, compreender os objetivos do estudo e a lógica que permeia os conhecimentos da Estatística. Dessa forma propicia – se ao aluno compreender o mundo por meio da intuição, definição de estratégias, confrontação de resultados, criatividade e proatividade. Vale ressaltar a importância para o discente compreender a ideia de termos médios e dispersão bem como as suas relações intricadas.

As Orientações Curriculares Nacionais (2008) apontam que:

O estudo desse bloco de conteúdo possibilita aos alunos ampliarem e formalizarem seus conhecimentos sobre o raciocínio combinatório, probabilístico e estatístico. […] O estudo da estatística viabiliza a aprendizagem da formulação de perguntas que podem ser respondidas com uma coleta dedados, organização e representação. (BRASIL, 2009, p. 78).

Sobre o ensino de Estatística, Mendonza e Swift (1981) apud Lopes (2008) defendem que:

A Estatística deveria ser ensinada a todos os indivíduos para que estes pudessem dominar conhecimentos básicos desta ciência, com o uso dela poderem atuar na sociedade. A importância de seu estudo é considerada imprescindível ao analisar índices de custo devida, realizar sondagens, escolher amostras e tomar decisões em várias situações do cotidiano. (p.8)

Sendo a Estatística um campo da Matemática, depreende – se que há uma conexão entre ambas. Enquanto outras áreas da Matemática como a Álgebra, a Geometria e a Aritmética procuram respostas exatas, a Estatística, por sua vez, busca por tendências e análises fazendo aproximações e estimativas. Essas características fazem da Estatística um instrumento social, de caráter político, com grande relevância para o desenvolvimento da cidadania. Nessa perspectiva D’ambrósio (1996):

Na preparação para a cidadania é fundamental o domínio da um conteúdo que tem a ver com o mundo real. O significado disto nas disciplinas das áreas sociais– Geografia, História, Literatura etc., – é mais facilmente aceito. Embora mesmo nessas disciplinas ainda haja muito progresso e aceitação geral de que isso seja importante. Porém em Matemática ainda há muita incompreensão a esse respeito. Muitos perguntam o que significaria em Matemática uma dimensão política. (p.86)

Apropriar – se dos conceitos de Estatística é essencial para a construção de indivíduos dentro da perspectiva de uma formação para a cidadania, pois esses conhecimentos se fazem presentes não somente em áreas ligadas às Ciências Exatas (Engenharias, Matemática, Química, Física, Geologia, etc), como também, em Administração, Contabilidade, Economia, Ciências Sociais, etc. Esse conhecimento é muito importante para a tomada de decisões e planejamento de ações, uma vez que permite conceber modelos de cenários futuros.

A Estatística, diante do contexto atual, assume um papel de extrema relevância na formação para a cidadania, sendo um desafio para os educadores promover por meio de uma engenharia didática[2] a aquisição desses conhecimentos por parte dos seus alunos. De acordo com Resende (2009):

É bem verdade que o professor tem sua postura pedagógica, o seu estilo de ensinar, assim como o aluno tem seu próprio jeito de aprender, isto é, de desenvolver seu comportamento cognitivo. Se o professor é criativo em sua ação pedagógica, supõe-se que ele criará meios de estimular o desenvolvimento da criatividade de seus alunos. (p. 218)

A atuação docente assume um papel de destaque pois cabe ao mesmo desenvolver estratégias didáticas de modo a inserir o aluno dentro desse contexto promovendo o desenvolvimento de suas potencialidades.

No colégio Acadêmico situado em Lauro de Freitas – BA, desenvolve – se todos os anos Os Jogos Internos do Colégio Acadêmico (JICA). Esse projeto foi concebido e está sendo coordenado pelos profissionais de Educação Física da instituição, tendo como intuito despertar nos discentes o interesse pela prática de esportes, alimentação saudável, solidariedade e espírito esportivo.

Desde o seu início o projeto sempre foi realizado pela área de Educação Física sem a participação de outras áreas do saber. Em 2018 a direção e a coordenação propuseram aos professores das áreas de Matemática e Ciências da Natureza que realizassem uma atividade dentro de sua área de saber relacionando com o projeto.

O presente trabalho investigativo teve como protagonistas os alunos do 2º ano do Ensino Médio da instituição. A coleta de dados da pesquisa foi realizada por meio de uma entrevista e realizações de medidas com os alunos participantes do evento esportivo realizado todos os anos por essa instituição. Essas informações obtidas foram registradas em planilhas para uma posterior tabulação, sendo de natureza qualitativa ou quantitativa.

O laboratório pedagógico teve início com a explicação da proposta de trabalho aos alunos e os procedimentos que deveriam ser realizados. Em seguida foi solicitado para que os mesmos realizassem uma pesquisa sobre o tema a ser pesquisado, uma vez realizada a pesquisa foi confeccionada uma ficha de entrevista. A temática que no caso foi sugerida a eles para a realização do trabalho está em consonância com os temas transversais propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) que orientam à prática de temas como Pluralidade Cultural, Ética, Saúde, Meio ambiente, Gênero, etc. Nessa atividade em questão para atender ao projeto foi escolhido o tema saúde.

Uma vez realizada a pesquisa, a turma escolheu o tema Saúde e depois o tema foi delimitado em trabalhar índices utilizados em Educação Física como o Recíproco de Índice Ponderal (RIP), Índice de Massa Corporal (IMC) e o Índice de Adiposidade Corporal (IAC) e mais uma vez, foi realizado um novo recorte com a turma que escolheu trabalhar com o IMC. Uma vez restringida a linha de atuação do estudo foram estabelecidas correlações desse índice como alimentação, prática de atividades físicas e gênero dos entrevistados. Em seguida será apresentado o questionário construído para a realização da pesquisa:

Figura 1 – Questionário da atividade

Fonte: FERREIRA JÚNIOR (2018)

O envolvimento dos alunos no estudo na escolha do tema, delimitação e pesquisa de campo, mostrou – se como uma importante praxis educativa do ponto de vista motivacional. Uma vez que oportunizou aos discentes desenvolverem a sua autonomia ao escolher o tema e delimitar a pesquisa, o espírito colaborativo ao trabalhar com os colegas nas tomadas de decisões e durante a pesquisa de campo, o senso investigativo ao ir pesquisar temas, elaborar hipóteses, fazer aferições e elaborar conclusões. Dessa forma é possível supor que ocorreu, por parte dos alunos participantes, uma ampliação de seus horizontes atitudinais e cognitivos.

Fazendo referência aos aspectos matemáticos os alunos tiveram que rever conteúdos de Estatística que geralmente são abordados no 9º ano do Ensino Fundamental, pois esses conteúdos ainda seriam revistos nessa série com uma maior profundidade, como: População, amostra, variáveis, média aritmética, mediana, moda e a construção de tabelas e gráficos.

No decorrer da atividade foi necessária a mediação do professor da turma como: Ajudar a escolher e delimitar o tema a ser desenvolvido e também orientar em relação a atitudes durante a pesquisa de campo. Essa atuação docente se fez necessária pois o alunado não estava acostumado com esse tipo de abordagem, onde deveriam levantar questionamentos e hipóteses. Isso se deve pelo fato deles estarem acostumados a um processo onde lhes são feitas perguntas e eles tem como objetivo final acertar a resposta, ou seja, estavam presos a um roteiro pré-definido com um início e um fim possível.

No dia do evento a turma foi a campo realizar a pesquisa com os participantes do evento e obtiveram os dados necessários ao seu trabalho. O passo seguinte foi organizar os dados e em seguida analisá-los, interpretá-los e representá-los. A organização foi realizada por meio da tabulação com os valores representados em uma tabela, para isso foi necessário utilizar habilidades relacionadas ao conceito de frequências relativa e absoluta acumuladas. Com relação as variáveis estudadas podem – se afirmar que o IMC é uma variável quantitativa contínua e as demais são qualitativas.

Uma vez tabulados os dados pesquisados, eles foram organizados e representados na forma gráfica, onde foram utilizados dois tipos de gráficos: Coluna e setores. Essas representações devem – se ao fato de transmitir clareza e objetividade para interpretações e inferências

O gráfico de setores escolhido foi do tipo anel e foi construído no Microsoft Excel para representar a relação entre a faixa etária de um grupo entrevistado e base predominante de sua alimentação. Esse tipo de representação é muito útil quando pretende – se realizar comparações entre diversas variáveis, nesse caso foi escolhido um gráfico de setores em forma de anel. Nessa atividade em específico o grupo não apresentou dificuldades na construção do gráfico.

Uma outra forma gráfica utilizada para representar os dados foi o gráfico de colunas onde foram representados a frequência da realização de atividades, classificada como raramente, regularmente e bastante, e o número de entrevistados. Essa classificação está de acordo com o item 7 do questionário. O grupo também não apresentou dificuldades com a construção desse gráfico, realizando com uma certa facilidade.

Figura 2 – Distribuição da frequência das atividades físicas em relação a idade, em forma de colunas.

Fonte: FERREIRA JÚNIOR (2018)

Figura 3 – Distribuição dos hábitos alimentares em relação a idade em forma de setores.

Fonte: FERREIRA JÚNIOR (2018)

Com relação ao IMC o grupo não apresentou dificuldade em calcula–lo para os entrevistados, bem como, relaciona–los dentro da classificação padrão. Percebeu – se nesse caso que o grupo apresentou dificuldades em trabalhar com a ideia de amostras no sentido de representatividade, uma vez que escolheu trabalhar com uma amostra uniforme dentro da população, obtendo um mesmo resultado para todos os entrevistados.

Observou–se dificuldades por parte do grupo em fazer uma correlação entre a alimentação e a prática de atividades físicas dos entrevistados. Isso deve – se ao fato deles em suas atividades diárias estarem acostumados apenas a responder perguntas e de raramente nunca precisar formulá–las.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A modelagem Matemática enquanto uma construção humana mostra – se como uma importante forma de pensar e agir sobre os fatos de forma a realizar problematizações e soluções para as mesmas.

Estratégias de ensino e aprendizagem que permitam aos alunos desenvolver uma postura ativa, enquanto sujeitos investigativos, em sua aprendizagem, pode ser um caminho a ser seguido pela Modelagem Matemática, uma vez que permite o uso de métodos e princípios matemáticos a solução de problemas cotidianos, permitindo um maior contato com essa disciplina tornando – a cada vez mais familiar.

A Estatística serviu como ferramenta, para a aplicação da Modelagem Matemática, enquanto método de ensino, dentro do contexto onde foi realizado o estudo de forma a realizar um debate sobre possíveis caminhos para o processo de ensino e aprendizagem em Matemática.

Diante do cenário atual onde a Estatística se faz presente como ferramenta de informação nas mais variadas áreas do saber, uma proposta de ensino e aprendizagem que utilize – a, como um elo, unindo – a temas transversais presente no cotidiano pode ser muito enriquecedor para o desenvolvimento discente no sentido de aprender produzindo conhecimento e agindo criticamente, dialogicamente e autonomamente .

Deve – se levar em consideração a experiência do estudante em pensar e agir como um pesquisador que busca construir novos conhecimentos, com responsabilidade sobre o processo, uma vez que, um erro em uma das etapas poderia comprometer toda parte do trabalho ou o todo.

Embora os alunos tenham se empenhado na realização do trabalho eles enfrentaram dificuldades cometendo erros, que muito se deve ao fato deles não estarem habituados com essa prática.

Dentro da perspectiva investigativa, esse estudo, que teve como ferramenta a Estatística, permitiu aos alunos posicionar – se com autonomia e criticidade frente as ferramentas de trabalho, contexto e eventuais dificuldades. Sendo assim, percebe – se uma necessidade em ampliar o diálogo frente ao uso de novas práticas educativas, onde a Matemática seja um instrumento de entendimento e mudança da realidade

REFERÊNCIAS

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GOLDENBERG, M., A arte de Pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências

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2. Engenharia Didática é uma metodologia de pesquisa e teoria educacional elaborada no início da década de 1980 para trabalhos de Educação Matemática.

[1] Mestre em Educação; Especialista em Estatística e Matemática Financeira; Especialista em Educação Matemática com Novas Tecnologias; Licenciado em Física e Matemática.

Enviado: Junho, 2018.

Aprovado: Agosto, 2019.

5/5 - (1 voto)
Paulo do Nascimento Ferreira Júnior

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