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As Contribuições dos Livros Infantis nos Primeiros Anos de Vida da Criança na Escola

RC: 7906
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CONTEÚDO

BRASIL, Lívia Lima Pereira Lino [1], GELAIS, Cynthia [2]

BRASIL, Lívia Lima Pereira Lino; GELAIS, Cynthia. As Contribuições dos Livros Infantis nos Primeiros Anos de Vida da Criança na Escola. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 2, Ed. 01, Vol. 01. pp 418-432, Abril de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

Este artigo discute a importância da literatura infantil e suas contribuições pedagógicas aplicadas na prática cotidiana dos professores e na formação psicocognitiva [3] e cultural dos alunos da Educação Infantil. As escolas são as maiores contribuidoras para a construção do prazer literário, pois viabilizam o contato das crianças com a literatura e nessa interação está a riqueza dos aspectos formativos e estéticos nela apresentados. A intensificação dessa interação, por meio de procedimentos pedagógicos adequados leva a criança a uma maior compreensão do texto em seus aspectos objetivos e subjetivos. O objetivo nessa discussão é propor que o livro literário não sirva apenas de apoio ao professor, mas que se integre ao projeto pedagógico da prática de sala de aula. A literatura não pode ser usada apenas como pretexto para o desenvolvimento da linguagem oral e para o incentivo à formação do hábito de ler. Ela deve conter objetivos ligados às práticas pedagógicas, contribuindo para o aprimoramento da criança em relação a todos os aspectos inerentes a um texto literário, como a reflexão subjetiva do mundo e a formação de um público leitor capaz de usufruir do prazer literário. Sabe-se que a partir do momento em que a criança tem acesso ao mundo da leitura, ela passa a buscar novas experiências e descobertas que ampliam a compreensão de si e do mundo que a cerca.

Palavras-chave: Literatura Infantil, Práticas pedagógicas, Educação Infantil.

INTRODUÇÃO

A literatura infantil, na forma como hoje ela se apresenta, poderia sugerir ser algo mais recente na história da humanidade. No entanto, verificando dados históricos, pode-se ver que ela tem origem em períodos muito mais remotos, e já a partir dos contos folclóricos e lendas contadas pelos adultos ela se apresentava de alguma forma.

Segundo Antunes (1995), a partir do século XVIII, quando a criança passou a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, a sociedade passou a ter um olhar voltado para a educação dessas crianças a fim de prepará-las para a vida adulta.

A vida social da criança se resumia à vida dos adultos, participando da vida comunitária, dos costumes, dos hábitos, da linguagem, das festas e das brincadeiras. Os temas da vida adulta, as alegrias, a luta pela sobrevivência, as preocupações, a sexualidade, a morte, a transgressão das regras sociais, o imaginário, as crenças, as comemorações, as indignações e perplexidades eram vivenciadas por toda comunidade, independentemente de faixas etárias. As histórias ouvidas por elas eram contadas pelos adultos e se referiam às narrativas de cavalaria, guerrilhas, lendas e contos folclóricos que formavam uma literatura de cordel de grande interesse, principalmente, na classe popular. Não havia, portanto, uma literatura específica para o público infantil, ficando as crianças restritas a esse universo. A partir do final do século XIX, as crianças passaram a ser vistas pela sociedade com um olhar mais direcionado ao seu mundo que, evidentemente, era bem distinto ao mundo dos adultos. O espaço das crianças, seus anseios, suas emoções e seus desejos precisavam ser representados de outra maneira, diferente daquela que, até então, era vista, e não como “pequenos” adultos (ANTUNES, 1995).

Sobre o surgimento da literatura infantil, com a ascensão da burguesia, comenta Zilberman (1985):

Antes da constituição deste modelo familiar burguês, inexistia uma consideração especial para a infância. Essa faixa etária não era percebida como um tempo diferente, nem o mundo da criança como um espaço separado. Pequenos e grandes compartilhavam dos mesmos eventos, porém nenhum laço amoroso especial os aproximava. A nova valorização da criança gerou maior união familiar, mas igualmente os meios de controle do desenvolvimento intelectual da criança e manipulação de suas emoções (Zilberman, 1985, p. 15)

Para Zilberman (1985), a partir dessa nova percepção da criança, ela é vista como um indivíduo que precisa de atenção adequada a sua idade e o adulto passa a se preocupar com isso. Surgem demandas para uma literatura adequada para crianças e jovens. Em todos os países, vão, aos poucos, aparecendo propostas diferentes de obras literárias infantis. Entre os autores mais importantes pode-se citar: Andersen, Carlo, Amicis, Lewis Carroll, J. M. Barrie, Mark Twain, Perrault e os irmãos Grimm.

No Brasil, um pouco mais tarde, a literatura começa a chegar, por força da colonização portuguesa. A partir daí, a escola passou a exercer um papel importante na transformação dessa nova sociedade.

Segundo Cunha (1994, p. 20): “no Brasil, como não poderia deixar de ser, a literatura infantil tem início com obras pedagógicas e, sobretudo, adaptadas de produções portuguesas, demonstrando a dependência típica das colônias”. Neste caso, como se nota, os textos escritos destinados às crianças não eram exatamente literatura, já que cumpriam, sobretudo, um papel instrumental de material pedagógico.

Só nos fins do século XIX que o ensino e a aprendizagem assumem uma linha mais prática com nome de grandes reformadores na pedagogia do Brasil para a educação infantil. Foram destaques na época: Rui Barbosa, Guilhermina Loureira, Teodoro Morais e Lourenço Filho. Esses e outros escritores contribuíram para a expansão da literatura infantil brasileira.

1. A LITERATURA DE MONTEIRO LOBATO

Monteiro Lobato criou um universo para a criança enriquecida com o folclore, buscou o nacionalismo na ação dos personagens que refletiam na brasilidade na linguagem, no comportamento e nas relações deles com a natureza. De acordo com Aguiar (2001):

A grande virada ocorreu com a publicação, em 1921, de A menina do narizinho arrebitado, por Monteiro Lobato, o qual revela a preocupação em escrever histórias para a criança numa linguagem compreensível e atraente para ela, objetivo plenamente alcançado pelo autor, cuja obra é um dos pontos mais altos da literatura infantil brasileira. Usando uma linguagem criativa, Lobato rompeu a dependência com o padrão culto: introduziu a oralidade tanto na fala das personagens como no discurso do narrador. (AGUIAR, 2001, p.25)

Nesse caso, pode-se dizer que a literatura infantil brasileira teve início com Monteiro Lobato, com uma literatura centralizada em algumas personagens em especial. Além de despertar o interesse da criança por meio do imaginário, Lobato conscientiza com a sua literatura denunciadora, que envolve fatos político-econômico-sociais. O autor cria uma literatura focada em alguns personagens centrais. No Sítio do Pica-pau Amarelo, Lobato explora o lúdico, o folclore e a imaginação do universo infantil, abrindo caminhos para muitos escritores, que vinham criando respeitáveis obras endereçadas às crianças. Neste sítio temos de tudo: fadas, duendes, anjos, almirantes ingleses e muitos outros personagens que mexem com a imaginação das crianças, e até mesmo dos adultos, pois, pode-se reviver a mitologia grega e demais épocas de nossa história.

Acredita-se que Lobato foi um verdadeiro educador intuitivo, fazendo com que as pessoas entendessem os fatos através do riso, nos seus livros as questões morais são levadas de forma lúdica, despertando bons sentimentos e conduzindo a criança a fazer boas ações.

2. AS CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA PARA A FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS

Ao se questionar os pais, os professores, os coordenadores de ensino, que tenham a pretensão de educar quando se apresenta o livro na infância, tem-se sempre uma resposta óbvia: criar nas crianças o hábito de ler e, consequentemente, criar novos leitores e apreciadores da literatura. Sabe-se que a literatura é uma forma ativa de lazer, mas as formas passivas da leitura exigem um grau de consciência e atenção, deve haver uma participação ativa do receptor-leitor. A criança que entra muito cedo em contato com a obra literária escrita desenvolve uma compreensão maior de si e do mundo que a cerca e terá a oportunidade de ampliar seu potencial criativo abrindo seus horizontes da cultura e do conhecimento. Afinal, como ensina Barthes (1997, p. 18) “A literatura assume muitos saberes”.

Nessa linha, Bettelhim (1996) afirma:

[…] enquanto diverte a criança, o conto de fadas esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento da sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e a diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança. (BETTELHIM, 1996, p.20)

Conforme pode se perceber na citação acima, a literatura traz uma lição de vida de forma imaginária, favorecendo a criança na formação e no processo da sua personalidade.

A imaginação da criança conduz à capacidade de criação do animismo [4] para atingir a combinação de imagens e movimentos. Vygostsky (2007) afirma que é no animismo que a criança se projeta momentaneamente nos personagens, e, adentrando no mundo da fantasia, vivencia um contato mais estreito com seus sentimentos, organizando seus conflitos e emoções. Desta maneira, ela cresce e se desenvolve. Para confirmar essa assertiva, Aguiar (2001) diz:

A magia e o encanto que os contos de fadas transmitem até hoje estão no fato de que eles não falam a vida real, mas à vida como ela ainda pode ser vivida, apresentando situações humanas possíveis ou imagináveis […] os contos não se prendem a contingência do real e veiculam mais de uma significação. Assim, a criança encontra na literatura respostas às questões vividas e as dúvidas típicas de sua faixa etária (De onde vem? Quem imitar? É filho legítimo ou não?) (AGUIAR, 2001, p. 80-81)

Concordando com a autora, ler histórias para crianças é provocar o imaginário e despertar diversas emoções; instigar a criança a buscar nas histórias as respostas que procura, favorecendo a construção de seu desenvolvimento emocional e cognitivo. A literatura infantil contribui como objeto capaz de impulsionar a autonomia e a construção do sujeito criativo. Mas, para que essa importante assimilação aconteça é necessário que a leitura consiga estabelecer uma relação essencial entre a criança e o objeto que é o livro lido. Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de aprendizagem, entre elas, os valores que o livro traz através da sua história e a identificação da criança com os comportamentos dos personagens e isso possibilita ao leitor infantil desenvolver múltiplos aspectos educativos de natureza subjetiva, além de despertar no pequeno leitor/ouvinte o senso estético típico aos textos literários.

As atividades de leitura devem ocorrer desde os primeiros anos de vida em casa ou no contexto escolar, desde os primeiros dias de aula, mesmo quando a criança não tem nenhum conhecimento da escrita, pois por meio das imagens e da leitura feita pelo professor elas realizam a representação subjetiva e apreciam o aspecto estético. Nessa fase inicial da educação infantil, o público mirim aprende a manusear os livros e a reconhecer suas formas, perceber sua diagramação e inicia suas experiências de forma lúdica.

Há que se ter o cuidado para que a literatura infantil nessa fase inicial de 0 a 5 anos da educação não seja vista apenas como um momento de distração, para que não se perca a oportunidade de extrair do livro intenções pedagógicas que auxiliam o desenvolvimento da criança e do trabalho do professor. É necessário que se leve em conta a faixa etária e a maturidade em que a criança se encontra, para que não se apresentem obras literárias que estão além da compreensão dela em termos de linguagem.

Para Barthes (1997, p. 22): “A segunda força da literatura, é sua força de representação”. Além disso, Barthes (1997, p. 18) reforça, ainda, que a literatura “é absolutamente, categoricamente realista: ela é a realidade, isto é, o próprio fulgor do real”.

Pensando nesta força da literatura de representar o real, ou melhor, um “fulgor do real” e aplicando tal percepção à relação entre criança e literatura, Bettelhim (1996) completa:

Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida deve estimular lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar clara suas emoções; estar harmonizadas com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e ao mesmo tempo sugerir soluções para os problemas que a perturbam (BETTELHIM, 1996, p.13)

Assim, é ouvindo histórias que as crianças experimentam emoções importantes para a faixa etária e por elas ainda não verbalizadas ou vivenciadas, como tristeza, raiva, alegria, medo, insegurança e tantas outras que pela sua tenra idade e maturidade não são capazes de resolver sozinhas, desta forma, poderão aflorar, e a experiência trazida pelo texto literário poderá ajudar a criança a lidar com tais sentimentos quando eles forem de fato reais.

Sabe-se que um poema, ou uma boa narrativa reverberam e se fixam em nosso ser, muitas vezes, de forma constitutiva transformando certas experiências literárias em experiências de vida, que narramos a outras pessoas como se nós mesmos tivéssemos experimentado determinada situação. Assim também se dá com as crianças, elas também são capazes de memorizar e apreender lições de vida e emoções a partir de histórias ouvidas ou lidas em tenra idade.

3. O PAPEL DO PROFESSOR FRENTE À LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Pode-se afirmar que o professor é um dos responsáveis pela criação do hábito da leitura da criança. Seu papel é de grande valia, uma vez que ele pode criar ou destruir este hábito, de acordo com sua escolha dos livros e a forma como aborda a literatura em sala de aula.

Segundo Freire (1996, p. 22) “o trabalho do professor é o trabalho do professor com os alunos e não do professor consigo mesmo. Concordando com Freire, o papel do professor, em suas intervenções, é o de estimular, observar e mediar frente ao hábito da leitura, proporcionando momentos e criando situações de aprendizagem significativa através do livro. Portanto, é fundamental que este saiba produzir atividades que façam com que as crianças despertem curiosidades e o gosto pela leitura e apreciação de livros infantis. O mais importante no trabalho não é a origem do tema, mas o tratamento dado a ele, pois é preciso saber estimular as atividades para que esta se torne interesse das crianças e não só do professor, assim, o estímulo e a aprendizagem envolverão a todos de maneira ativa e participativa nas diferentes etapas.

Conforme Abramovich (2002), o professor tem em suas mãos a tarefa de propor situações de aprendizagens para construção do conhecimento e sensibilização para a sociedade culturalmente diversificada, em sua história e atualidade, assim como em suas diferenças. A literatura infantil, nesse enfoque, é um instrumento que contribui para elaboração destas situações e, portanto, cabe ao professor que tenha conhecimentos sobre este elemento tão importante.

Considera-se que a escolha do professor deve levar em conta a construção de uma relação dialógica com seus alunos; além de narrar, o professor cria condições para que a criança interprete a história a partir do seu ponto de vista infantil, trocando opiniões sobre ela, assumindo posturas frente aos personagens e tomando posições diante dos fatos narrados.

Deste modo, o docente ganha em qualidade literária, já que ele precisa propor atividades que façam a criança refletir, construir conhecimentos, conhecer a realidade, se posicionar sobre ela e, sobretudo, respeitar as diferenças existentes no universo de sua sala de aula.

É importante perceber a criança como um ser em desenvolvimento, cujos conhecimentos, habilidades e atitudes são adquiridos em função de suas experiências, em contato com o meio, e através de uma participação ativa na resolução de problemas e dificuldades.

O trabalho com o livro em sala de aula é uma ótima oportunidade para que os alunos possam construir narrativas coletivas, recontando as estórias sob o seu olhar e dependendo da intenção do professor, essa construção pode virar um projeto que organiza, trabalha a escuta, a fruição do prazer estético, a produção oral de textos, dentre outras atividades artísticas e lúdicas.

Segundo Garcia et al. (2003), cabe ao professor oferecer diferentes gêneros como os contos de fadas, fábulas, lendas, poemas e outros, onde cada um destes traga diferentes valores, visões de mundo, situações do cotidiano num enfoque multicultural, pois é pela literatura infantil que a criança tem a possibilidade de interagir com o mundo exterior e com situações do seu cotidiano, e é possível trabalhar pedagogicamente com a criança para que ela se posicione, promovendo oportunidades de argumentar, de criar respostas e imaginar soluções diferentes para as mesmas situações. As histórias auxiliam na organização de experiências de vida da criança onde ela aprende a lidar com perdas e conquistas.

O professor deve ter um objetivo definido e claro, mas como não tem como controlar os efeitos que e leitura/audição vai causar nos alunos, ele tem de ter flexibilidade suficiente para reformular seus objetivos no decorrer da atividade. Assim, é importante que em paralelo às atividades livres, os professores se preocupem em transformar a habilidade leitora em aprendizagem significativa, proporcionando momentos e situações que possibilitem apontar diversos problemas individuais, com a intenção de estimular na criança a reflexão e a critica sobre a realidade que a obra oferece e o que ele lhe diz sobre si mesmo (GARCIA et al., 2003)

Considera-se que na escola, mesmo a literatura de reconhecido valor artístico, perde seu encantamento e seu valor literário, quando empregada de forma denotativa apenas um conjunto de normas de obediência e bom comportamento ou pretexto para preencher o planejamento diário. Observa-se que há professores com mais habilidades para contar histórias que outros, porém todo professor deve priorizar, ao contar histórias, alguns critérios: adaptar o vocabulário à compreensão do aluno, despertar o interesse da criança, chamar a atenção aos aspectos estéticos, proporcionar o ambiente apto à leitura, estimular a criança a falar sobre a história, abrir espaço para discussões e interrogações e respeitar o limite da concentração da criança não prolongando a narração. Após a história contada, proporcionar atividades referentes a ela, dando a importância ao planejamento prévio, que é fundamental para concretizar a intenção pedagógica. Por isso, ao desenvolver um trabalho literário, os educadores devem estar cientes que algumas etapas devem seguidas.

De acordo Deprá (2016), a primeira delas é a intenção, na qual o professor deve organizar e estabelecer seus objetivos pensando nas necessidades de seus alunos, para posteriormente se instrumentalizar e problematizar o assunto, direcionando a curiosidade dos alunos para a montagem do projeto. Em seguida, tem-se a preparação e o planejamento. Nesta segunda etapa, planeja-se o desenvolvimento com as atividades, as estratégias, a escolha certa do livro ou obra literária, a definição do tempo de duração do projeto, e como será o fechamento do estudo do mesmo.

Ademais, busca-se estipular qual é a intenção pedagógica a ser trabalhada, o porquê e para qual o objetivo. É na execução ou desenvolvimento que ocorre a realização das atividades planejadas, sempre com a participação ativa das crianças, pois eles são sujeitos da produção do saber e, afinal, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua construção. É interessante realizar, periodicamente, relatórios parciais orais ou escritos a fim de acompanhar o desenvolvimento do tema. E enfim, na apreciação final é necessário avaliar o trabalho que foi programado e desenvolvido, dando sempre oportunidade ao aluno de verbalizar seus sentimentos, desse modo ao retomar o processo, a turma organiza, constrói saberes e competências, opina, avalia e tira conclusões coletivamente; o que promove crescimento tanto no âmbito cognitivo, quanto no social, afetivo e emocional (DEPRÁ, 2016).

Constata-se, então, a importância de planejar e ter a consciência da própria prática pedagógica na sala de aula, toda a reflexão apresentada acima, acrescenta e auxilia o professor (a) deixar mais clara sua intenção ao apresentar um projeto ou atividades ligadas aos livros que desejam trabalhar.

4. O LIVRO INFANTIL: SUA ESTÉTICA E SEUS ENCANTAMENTOS

A leitura é um dado cultural: o homem poderia viver sem ela e, durante séculos, foi isso mesmo que aconteceu. No entanto, depois que os sons foram transformados em sinais gráficos, a humanidade, sem dúvida, enriqueceu-se culturalmente. No mundo maravilhoso dos livros, a criança encontra, além da diversão, a capacidade de criar, imaginar e reproduzir através das histórias submundos onde ela criará a realidade e a fantasia sempre unidas num contexto infantil. O livro é um instrumento que permite ao professor ensinar ao aluno a ler corretamente, como também permite que conduza uma interação social com a criança favorecendo na formação de um leitor crítico. Neste sentido, quanto mais cedo tiver contato com os livros, a criança perceberá o prazer que a leitura produz e maior será a probabilidade de tornar-se um adulto leitor. Assim, é através da leitura que a criança adquire um caráter crítico-reflexivo, extremamente relevante à sua formação cognitiva (Sandroni; MACHADO, 1991).

Ainda de acordo com Sandroni e Machado (1991), para a criança pequena de 0 a 3 anos, o livro é cor, figuras, formas, papel e som, a partir de seu desenvolvimento cognitivo, as formas se tornam objetos, os sons familiares e reconhecíveis, ela começa a montar uma história a partir das figuras. Cada idade precisa de um conteúdo desenvolvido especialmente para atender às necessidades, aguçando a curiosidade dos pequenos e transmitindo a mensagem da forma mais correta. Analisando juntamente com os autores é preciso, então, que a criança pequena tenha acesso a figuras simples e coloridas, de objetos conhecidos por elas socialmente, onde elas se identifiquem mesmo sem saber o nome, tudo deve ser apresentado em páginas brilhantes, com muitas cores e desenhos bem feitos.

A criança deve poder manusear e ter um contato íntimo com o livro para criar uma relação de interesse. Mas, como fazer a escolha correta de livros infantis? De acordo com Machado e Sandroni (1991) a criança pequena precisa do auxílio da ilustração, e que deve ter uma linguagem direta, facilitando o entendimento das palavras que ela estará ouvindo.

As crianças precisam ouvir histórias de diferentes gêneros e autores. Acredita-se que um bom livro é aquele que apresenta a realidade de forma nova e criativa, deixando a criança descobrir o que está nas entrelinhas do texto. Novamente, Machado e Sandroni (1991) apresentam algumas questões em relação à escolha do livro.

1. O tamanho do livro e das letras é importante?
2. As ilustrações são nítidas, coloridas, detalhadas e interessantes?
3. A história vai provocar interesse da criança?
4. As personagens e os acontecimentos, reais ou imaginários descritos são agradáveis?

Partindo desta análise, é importante ressaltar a idade da criança e sua capacidade de compreensão. Para as crianças pequenas, às quais se quer atingir, as imagens dos livros devem traduzir facilmente o entendimento delas, pois as letras são para elas um símbolo incompreensível, ou seja, não significam nada. Por isso, tanto faz o tamanho das letras. Entende-se a ilustração como representação gráfica de uma ideia, portanto, é comum que a criança faça uma relação da imagem com o texto do livro. Coelho (2000) ao afirmar que o processo de análise de uma obra como um todo avança por meio de uma série de questões, abaixo relacionadas, que possibilitam a reflexão

a) O que a obra transmite? Qual seu enredo, assunto, trama, efabulação?
b) Como isso é expresso em escritura literária? Quais os recursos de linguagem, de estilo ou de estrutura escolhidos pelo autor? Qual a intenção que predominou nessa escolha: a estética ou a ética (a primeira dá ênfase ao fazer literário; a segunda, aos padrões de comportamento)?
c) Qual a consciência de mundo (ou sistema de valores) ali presente ou latente? Há ou não coerência orgânica na construção da obra, entre estilo, recursos expressivos, problemática e consciência de mundo? (É essa organicidade que lhe dá o valor de obra literária.);
d) Qual a intencionalidade em relação ao leitor? Divertir, instruir, educar, emocionar, conscientizar?

Compreende-se que essas questões possibilitam a reflexão sobre a finalidade ou consciência do educador ao fazer uma escolha certa nas obras literárias. Nicolielo (2015) destaca que reproduz a fala de Ninfa Parreiras, mestre em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em literatura infantil e autora de obras literárias e de ensaios, em que ela afirma que os livros-brinquedos são aliados importantes e “Eles podem aproximar a criança dos livros e da leitura de um modo lúdico e descontraído”. Além disso, a especialista completa que “[…] ao interagir com este tipo de livro, a criançada estabelece uma relação de espontaneidade com a leitura e vive uma experiência literária sem deixar de lado a brincadeira, uma das necessidades vitais da infância”.

Alguns livros infantis auxiliam também nas conquistas que a criança pequena adquire no decorrer no seu desenvolvimento infantil e auxilia o professor (a) nessa prática pedagógica diária.  Eis alguns deles:

  • “Tudo bem ser diferente”, de Tod Parr – este livro trabalha com as diferenças de cada um de maneira divertida, simples e completa, alcançado o universo infantil e trabalhando com assuntos que deixam os adultos de cabelos em pé, como adoção, separação de pais, deficiências físicas, preconceitos raciais;
  • “Lulu”, de Camilla Reid – que apresenta a rotina de uma criança pequena, Lulu, vai ao supermercado com a mamãe, vai ao parque, faz bagunça no seu quarto, as crianças acompanham o dia a dia na vida da personagem, com um olhar bem infantil Camilla Reid descreve num contexto criativo e interativo;
  • “Mamãe foi trabalhar”, de Kes kray e David Milgrim – no qual se tem que para toda mãe que trabalha fora de casa e precisa deixar os filhos durante algumas horas do dia, o momento de se despedir pode ser difícil – tanto para ela quanto para as crianças. Como fazer os pequenos entenderem que os pais estarão de volta em breve? Nesta obra, o autor procura abordar o problema, adotando o ponto de vista da criança para mostrar que a ausência dos pais ao longo do dia não é nenhum bicho de sete cabeças; seu personagem, que passa o dia longe da mãe, percebe que a ausência materna não tem tanta importância se comparado ao fato de que a mãe sempre volta para casa, para ele, para dar-lhe carinho e atenção. A história tem o intuito de ajudar as crianças a lidarem com os períodos em que os pais estão ausentes e mostrar a eles que não haveria motivos para se sentirem-se culpados ao deixar seus filhos em casa para trabalharem fora;
  • “Cocô no trono”, de Benoit Charlat – mostra que largar as fraldas e aprender a usar á privada não são tarefas fáceis, nem para as crianças nem para os pais. Essa é uma fase que envolve planejamentos e mudanças na rotina – afinal, ter de mandar dez cuecas ou calcinhas e dez shorts por dia para a escola do filho não é atividade corriqueira. ‘Cocô no trono’ é um livro divertidíssimo para qualquer um, mas muito útil para quem se vê às voltas com tantas mudas de roupa suja por dia. Estampado em formato grande, em páginas reforçadas e bem coloridas, um pintinho chacoteia de vários bichos que já aprenderam a sentar no trono – e que fazem cada um sua “espécie” de cocô.

Como se pode observar, hoje, os livros infantis direcionam assuntos corriqueiros e que fazem parte da prática diária pedagógica da Educação Infantil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo da proposta de apresentarmos uma análise sobre a importância dos livros infantis no universo da educação infantil entendemos que nesse artigo, foram abrangidos alguns pontos para formar uma reflexão crítica ao escolher o livro adequado que contribuirá para a formação desses pequenos leitores.

A literatura infantil proporciona às crianças um aprendizado lúdico e encarado muitas vezes como uma simples brincadeira, o que torna o hábito de manusear livros, ver suas figuras, sentir suas texturas, suas formas e cheiros, prazeroso a eles. De acordo com Abramovich (1995, p.17):

Ler histórias para crianças, sempre, sempre […] É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento […] É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões (como as personagens fizeram […]

Acredita-se que ao professor cabe a tarefa de direcionar para cada fase do desenvolvimento infantil, a escolha das obras mais adequadas. Com intenso trabalho de pesquisa, sempre procurando estar atualizado, deve o professor enriquecer seu conhecimento, para que possa estar sempre pronto a apresentar o melhor tema de acordo com o desenvolvimento de seus alunos. Desta forma, a Literatura Infantil é definida não por quem escreve, mas por quem a lê, e resta ao professor, auxiliar o leitor nesse processo, orientando o aluno a ler livros que proporcionem beleza, arte, emoção e, fundamentalmente, prazer, pois essas características incentivarão o aluno a ler novamente e desenvolver sua sensibilidade literária.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 2002.

AGUIAR, V. T. de (Coord.). Era uma vez… na escola: formando educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato, 2001.

ANTUNES, R. L. Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

BARTHES, R. Aula. 7. ed. São Paulo. Cultrix.1997.

BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. 11. ed.  Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1996.

COELHO, N. N. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo. Moderna, 2000.

CUNHA, M. A. A. Literatura infantil: Teoria e prática. São Paulo: Ática, 1994.

DEPRÀ, F. de S. R. A Pedagogia de Projetos no Processo Ensino-Aprendizagem da Educação Infantil. Revista Artigos da Educação, mar.. 2016.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e. Terra, 1996.

GARCIA, W. et al. Baú do Professor. Belo Horizonte: Fapi, 2003.

NICOLIELO, B. Leitura: 5 perguntas sobre livro-brinquedos. 2015. Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/5-perguntas-livro-brinquedos-733074.shtml>. Acesso em: 10 out. 2016.

SANDRONI, L.; MACHADO, L. R. A Criança e o Livro. São Paulo: Ática, 1991.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ZILBERMAN, R. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global, 1985.

3. A psicologia cognitiva está ligada ao estudo dos processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo e o desenvolvimento cognitivo (intelectual).

4. Animismo pode ser entendido como é a visão de mundo em que entidades não humanas, como animais, plantas, fenômenos e objetos inanimados possuem uma essência espiritual.

[1] Graduanda do curso de Pedagogia – 7° período. Centro Universitário Newton Paiva.

[2] Professora Orientadora. Pedagoga e Mestre em Educação e Sociedade.

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Lívia Lima Pereira Lino Brasil

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