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Capa de revista: Um gênero rico para a sala de aula

RC: 76022
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

RIOS, Thiane Marjorie Miranda [1], OSIAS, Juliene Paiva de Araújo [2]

RIOS, Thiane Marjorie Miranda. OSIAS, Juliene Paiva de Araújo. Capa de revista: Um gênero rico para a sala de aula. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 02, Vol. 07, pp. 37-52. Fevereiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/capa-de-revista

RESUMO

A pesquisa se propõe debater sobre o gênero discursivo capa de revista em discursos formais e informais em sala de aula, e para dar a direção ao trabalho os objetivos específicos buscam  discutir os gêneros do discurso usados pelos alunos no diálogo entre aluno-aluno e aluno-professor; compreender a competência dos gêneros do discurso dentro de uma produção escrita e analisar algumas capas de revistas como gêneros textuais usadas pelo professor em sala de aula e para cumprir tal proposta foi usada uma metodologia qualitativa. Após leituras sobre o tema, veio o questionamento: o trabalho em sala de aula com os gêneros do discurso dentro de uma linguagem formal e informal é imprescindível para o melhor domínio da produção escrita? É interessante que os alunos conheçam um pouco da gama de gêneros discursivos, especificamente a capa de revista, e se relacionem com ela, pois essa intimidade será feita na interação ao longo da vida, e a prática em sala de aula possibilita esse suporte com os diferentes gêneros. Por fim, esse estudo mostrou que o gênero capa de revista abordado em sala de aula pode melhorar a capacidade discursiva dos indivíduos e, com isso, a elaboração de um discurso claro.

Palavras-chave: Gênero do discurso, sala de aula, capa de revista.

1. INTRODUÇÃO

A comunicação é algo fundamental na vida humana, e nota-se que, nos variados campos da atividade do homem, a linguagem é parte importante da expressão, que varia conforme cada situação recorrente. O enunciado é peça-chave dessa comunicação, e os gêneros discursivos vêm para agregar estudos nos elementos que compõem a produção desses enunciados e, consequentemente, do texto. Segundo Bakhtin (2003, p. 265),

Todo enunciado – oral e escrito, primário e secundário e também em qualquer campo de comunicação discursiva – é individual e por isso pode refletir a individualidade do falante (ou de quem escreve), isto é, pode ter estilo individual. Entretanto, nem todos os gêneros são igualmente propícios a tal reflexo da individualidade do falante na linguagem do enunciado.

Ainda para Bakhtin (2003, p. 262), “cada enunciado particular e individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso”.

Para Marcushi (2008, p. 19), os gêneros do discurso são “entidades sociodiscursivas e formas de ação social incontornáveis de qualquer situação comunicativa”.

Estudar o fenômeno linguístico necessita posicionar os indivíduos que exercem a linguagem no meio social em que estão presentes, ou seja, o locutor e o ouvinte devem pertencer a um grupo que fala a mesma língua, para que o entendimento da mensagem seja obtido com fluidez. Assim, a linguagem nasce como forma de interação e faz a conexão dos sujeitos de uma sociedade e também o desempenho nas mais variadas ações cotidianas. Bakhtin (2003, p.16) tem o entendimento de que:

A enunciação, compreendida como uma réplica do diálogo social, é a unidade de base da língua, trate-se de um discurso interior (diálogo consigo mesmo) ou exterior. Ela é de natureza social, portanto ideológica. Ela não existe fora de um contexto social, já que cada locutor tem um “horizonte social”. Há sempre um interlocutor, ao menos potencial. O locutor pensa e se exprime para um auditório social bem definido.

A partir da compreensão de que gênero discursivo consiste num enunciado mais ou menos estável, como já vimos nas palavras de Bakhtin (2003), vejamos um gênero discursivo bastante versátil e rico para a abordagem em sala de aula: a capa de revista.

O gênero capa de revista promove excelente leitura e interpretação, revelando informações explícitas e implícitas, tendo sido construído em função do leitor, podendo ser explorado com ótimos resultados pelo professor em sala de aula. Para Puzzo (2009, p. 65), “as capas de revistas informativas, consideradas um gênero híbrido entre informação e publicidade, constituem um material importante de leitura, visto que antecipam de modo incisivo a leitura de suas reportagens internas”.

Dentro deste contexto, após pesquisas sobre o tema, foi escolhido o problema: o trabalho em sala de aula com os gêneros do discurso dentro de uma linguagem formal e informal é imprescindível para o melhor domínio da produção escrita?

Supôs-se, diante do apresentado, que os gêneros do discurso utilizados no discurso formal e informal, quando trabalhados em sala de aula com os alunos, podem melhorar a escrita deles. Com isso, é importante mencionar a necessidade de que os alunos conheçam a diversidade de gêneros discursivos inserida na cultura da sociedade e tenham intimidade com ela, pois esta se faz bastante necessária ao longo de suas vidas no processo de interação, e, por isso, precisa ser praticada em sala de aula pelo professor para criar condições que efetivem o uso da língua para além dos textos escolares, de modo que os gêneros e sua diversidade sejam aprendidos para dar continuidade da história e da cultura humana.

A melhor alternativa para trabalhar o ensino de gêneros [discursivos] é envolver os alunos em situações concretas de uso da língua, de modo que consigam, de forma criativa e consciente, escolher meios adequados aos fins que se deseja alcançar. […] Além disso, o trabalho com gêneros contribui para o aprendizado de prática de leitura, de produção textual e de compreensão (CALDAS, 2007, p. 4).

Muitos benefícios e algumas preocupações vieram com a evolução da escrita, principalmente na produção de textos. É interessante a investigação para acompanhar as mudanças do discurso formal/informal em diversos contextos. Os discursos, como forma de comunicação, variam conforme a época e os grupos sociais, eles têm características previamente definidas na sua produção com o contexto sociopolítico e em cada situação vivida, inicia-se um gênero que tem características próprias.

O trabalho objetivou investigar os gêneros discursivos nos discursos formais e informais em sala de aula; já os específicos foram: discutir os gêneros do discurso usados pelos alunos no diálogo entre aluno-aluno e aluno-professor; compreender a competência dos gêneros do discurso dentro de uma produção escrita e analisar algumas capas de revistas como gêneros textuais usadas pelo professor em sala de aula.

A metodologia utilizada nesta pesquisa seria a quantitativa, no grupo do 7º ano A de uma escola municipal, mas, por conta do isolamento social devido à pandemia da Covid 19, que assola o mundo, optou-se pela metodologia qualitativa para coletar e selecionar dados referentes à pesquisa, sendo esta determinante para a interpretação da realidade coletiva. A escolha da metodologia utilizada foi por conta da possibilidade de interpretar o meio social e suas características com base nos dados expostos na realidade vivenciada neste momento, ou seja, no que de fato está acontecendo como produto a ser analisado, e não no resultado final.

De acordo com Bogdan (1982 apud TRIVIÑOS, 1987, p. 128-130) a pesquisa qualitativa investiga o tipo fenomenológico e da natureza histórico-estrutural, dialética e demonstra seu estudo em características citadas abaixo:

1º) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave; 2º) A pesquisa qualitativa é descritiva; 3º) Os pesquisadores qualitativos estão preocupados com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto; 4º) Os pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados indutivamente; 5º) O significado é a preocupação essencial na abordagem qualitativa […].

O enfoque bibliográfico dá o suporte necessário para a coleta de informações para o devido trabalho, pois ele utiliza textos, documentos, artigos relacionados ao tema para a consulta necessária, assim é importante reconhecer e analisar os documentos para o desenvolvimento correto da pesquisa. Além de utilizar um objetivo exploratório com a finalidade de  proporcionar através da pesquisa maior familiaridade com o problema e assim construir hipóteses necessárias na análise da mudança na maneira de produzir os gêneros do discurso, especialmente na utilização e aplicação desses gêneros dentro do contexto da sala de aula.

2. GÊNEROS DO DISCURSO – DEFINIÇÃO

A comunicação pode ser formal ou informal e faz parte da vida do homem e dos contextos sociais envolvidos. A primeira é regida por aspectos mais ideológicos, indenitários e das relações sociais dentro de um grupo, enquanto a segunda é composta pela escassez de regras claras, mas deve haver um acordo em determinados contextos de que nem tudo pode ser falado.

A linguagem, além de transmitir informações necessárias entre o receptor e o emissor, tem a função comunicadora, e o homem coloca em prática, por meio dela, aquilo que não conseguiria se não fosse com seu uso. Para Geraldi (2002), o desenvolvimento do ser humano é relacionado à linguagem, pois é essa que permite ao homem a compreender o mundo e como estes devem nele agir. Outro ponto importante é reconhecer, captar informações contidas no contexto de produção do discurso. Existem peças que se encaixam e ajudam na interpretação, facilitando a compreensão da mensagem dita.

Apesar de a língua sofrer alterações tanto no caráter quanto no modo ao longo do seu uso e em diversos lugares dentro da sociedade, a unidade que a compõe é singular, e, em cada utilização, existem modelos de enunciados constantes baseados em referências existentes no contexto sócio histórico da própria enunciação, ou seja, devem ser exploradas características dentro das situações vivenciadas e determinadas pelo ambiente em que há a interação, quer seja na forma de falar, nos diferentes modos de discurso, na interação verbal ou no próprio discurso social, a depender de cada ocasião.

Com isso, a utilização da língua como meio de comunicação social entre seres humanos tem seus enunciados basicamente estáveis, a depender de cada situação, não sendo possível separá-la de seus falantes e de seus atos, dos meios sociais, dos valores ideológicos que a norteiam. Isso, segundo Bakhtin (2003), é conhecido como gêneros do discurso. Os gêneros demonstram uma gama inesgotável de possibilidades em sua criação, que varia conforme a atividade desempenhada pelo homem que se transforma ao longo dos tempos. Ou seja: o que estabelece um gênero é a sua associação com uma determinada situação social de interação, e não suas propriedades formais. Pode-se tomar como exemplo o telefonema, pois os elementos que formam esse gênero são os mesmos: saudação, interação, despedida. Esses elementos pré-estabelecidos são os mesmos em todo o tempo, o que muda é o momento histórico e o contexto. Essa ideia é discutida por Osias (2014, p. 7) quando cita Bakhtin: “os gêneros discursivos, como temos em Bakhtin (op. cit.), são elos transmissores que condicionam a história da linguagem à história da sociedade”.

Dentro de uma atividade social em contextos diversos em que o sujeito está inserido, é utilizada a língua conforme os gêneros de discurso próprios, e, assim, a utilização da linguagem também será:

1. A língua é uma atividade, um processo criativo ininterrupto de construção (“energeia”), que se materializa sob a forma de atos individuais de

2. As leis da criação linguística são essencialmente as leis da psicologia individual.

3. A criação linguística é uma criação significativa, análoga à criação artística.

4. A língua, enquanto produto acabado (“ergon”), enquanto sistema estável (léxico, gramática, fonética), apresenta-se como um depósito inerte, tal como a lava fria da criação linguística, abstratamente construída pelos linguistas com vistas à sua aquisição prática como instrumento pronto para ser usado (BAKHTIN, 1995, p. 72-3).

Com isso, teremos uma roupagem na língua para cada ocasião, uma língua de trabalho, uma língua das gírias, familiar, cada uma delas correspondendo às necessidades das inúmeras situações de interação social, e é por conta dessas situações que não podemos dizer tudo o queremos em todos os lugares pelos quais passamos, porque os discursos são elaborados conforme cada necessidade e levando em conta o molde que cada gênero é estabelecido, pois ele deve estar relacionado a cada situação social de interação.

De acordo com Bakhtin (2003), o gênero discursivo é composto de vários aspectos, tais como: conteúdo temático ou seja, o assunto que será tratado, a estrutura formal do enunciado, e o estilo, que é visto como a forma que cada um tem de escrever. Com isso, os atributos citados acima estão relacionados entre si e são determinados em função das individualidades de cada contexto social de comunicação.  Assim,  é  preciso  escolher  o   gênero para   organizar   um  discurso, conhecendo suas características, considerando se é apropriado aos objetivos a que se propõe e ao ambiente. A medida que se estuda mais sobre esse gênero, maiores são as possibilidades de o discurso ser eficaz (ARAÚJO; FREITAS, 2008).

Para Bakhtin:

O emprego da língua efetua-se em formas de enunciados…Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação discursiva (2003, p. 261)

Podemos dizer que qualquer gênero discursivo tem características definidas, tendo garantido o objeto de discurso assim como a sua finalidade, o sentido e sua direção quer para quem fala, quer para quem ouve, havendo, assim, a necessidade de considerar alguns aspectos para a sua formação, como as convicções, os preconceitos de quem vai ouvir, o nível de letramento, o conhecimento do assunto que será tratado, enfim, fatores que irão contribuir para a fluidez comunicativa, havendo, assim, a interação de todos os participantes.

Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais. […] Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível (BAKHTIN, 2003b, p. 301-302).

É importante, na formulação de um enunciado, ter noção da dimensão social e verbal, assim como fatores como o tempo e o espaço históricos, além de seus participantes. Para Bakhtin (2003), o enunciado é a resposta que o indivíduo tem de uma “memória discursiva”, algo no discurso que remete a outros lugares, sendo, assim, possível dizer que essa memória é cheia de enunciados utilizados anteriormente e, consequentemente, derivados de outras situações, em que o falante vai se basear para a elaboração de um novo discurso, sendo possível dizer que cada discurso composto é formado por diversos outros discursos num processo polifônico com a multiplicidade de vozes simultâneas que influenciam o texto, sendo essencial para uma enunciação.

É possível afirmar que o gênero do discurso não é algo parado, estático, mas está sempre em movimento, como as próprias atividades humanas que, por serem variadas e plurais, também farão com que o gênero seja diversificado e múltiplo, funcionando como elemento básico da interação verbal.

Segundo Larsen-Freeman e Cameron (2008, p. 190), “os gêneros são dinâmicos e continuam mudando com o uso. Sua estabilidade se combina com a variabilidade, e é essa variabilidade que fornece o potencial para o crescimento e a mudança”. E podemos continuar com a afirmação de Bakhtin na frase “um gênero é novo e velho ao mesmo tempo” e “só se conserva graças a sua permanente renovação” (2002, p. 106).

Levando-se em consideração o pensamento bakhtiniano de que os gêneros discursivos são heterogêneos, podemos chegar à conclusão de que são primários os que surgem de forma espontânea em uma determinada situação, sendo algo imediato, ou seja, cotidiano com ideologias não formalizadas, ou secundários, que são os discursos mais complexos e que precisam de uma elaboração, nascendo num contexto onde a cultura é mais elaborada, mas complexa e formal, conforme abaixo.

Quadro 1 Gêneros Primários E Secundários

Gêneros Primários Gêneros Secundários
a linguagem cotidiana, a familiar a carta

o bilhete

o diálogo cotidiano

o teatro,

o romance,

o discurso ideológico,

o discurso científico, etc.

Fonte: autora, com base em: https://periodicos.fclar.unesp.br/index.php/alfa/article/viewFile/1467/1172

Os gêneros primários podem ser incorporados aos gêneros secundários no momento em que estão sendo elaborados, devido ao fato de serem mais passíveis de uma compreensão. Com a diferença entre esses dois tipos de gêneros, é possível pensar e identificar os enunciados em sua composição linguística. Assim, ao produzir um discurso, é necessário levar em conta um conjunto de imposições que compõem o contexto da situação comunicativa que faz com que o locutor se constitua como sujeito que tem o poder de dizer, além de utilizarem outros recursos de comunicação, como gestos, expressões faciais.

A palavra dirige-se a um interlocutor. Ela é função da pessoa desse interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais mais ou menos estreitos (pai, mãe, marido, etc.). Não pode haver interlocutor abstrato; não teríamos linguagem comum com tal interlocutor, nem no sentido próprio, nem no figurado (BAKHTIN/VOLOCHINOV, [1929], 2003, p. 112).

Tanto quem fala quanto quem ouve requer um conhecimento sócio histórico do campo onde a comunicação se desenvolve. De acordo com o pensamento de Bakhtin, tanto o sentido quanto o objeto serão absorvidos conforme a “situação social mais imediata”, e devem ser levados em conta fatores como: quem são os envolvidos na comunicação, ou seja, quem vai falar e quem vai ouvir? Qual o local do discurso? Quando o mesmo acontece? Qual é sua finalidade? Assim, é preciso conhecer todo o contexto e relacioná-lo para que possa fazer o devido sentido.

Podemos dizer que as palavras são dotadas de valores que sofrem mudanças em diversos contextos sociais e não têm um sentido único, exercendo um papel de recordação social que possibilita a intertextualidade e a polifonia. Assim, “o estilo é indissociável de determinadas unidades temáticas e – o que é de especial importância – de determinadas unidades composicionais” (BAKHTIN, 2003, p. 266).

É possível notar que cada grupo social estabelecido no mesmo tempo e espaço tem infinitos gêneros discursivos. Sendo assim, é possível reconhecê-los de forma que suas crenças, peculiaridades, valores sejam vistos e até mesmo as mudanças que ocorrem ao longo dos tempos sejam acompanhadas, pois o sujeito é fruto da convivência como um ou mais indivíduos, das regras e significados que formam o discurso e do processo de buscas constantes ao longo das atividades humanas. Os gêneros representam um conjunto de aspectos que permite interpretar a ação humana em situações de comunicação com seus equivalentes.

Podemos dizer que o surgimento do gênero está ligado à cultura, juntamente com os aspectos da sociedade e do tempo vivenciado. Sendo assim, o gênero, que nasce dentro de uma cultura, pode sofrer modificações de acordo com o espaço e tempo.

Assim, é importante afirmar que o estudo dos gêneros abre um leque de informações que contribuem para uma infinidade de maneiras de discursar melhor. Ou seja, quanto mais informações e aprendizado acerca dos gêneros o indivíduo tiver, maiores serão suas possibilidades de desenvolver um excelente discurso, e, consequentemente, mais práticas sociais ele vivenciará.

3. O GÊNERO CAPA DE REVISTA EM SALA DE AULA

Em sala de aula, é possível e necessário capacitar os alunos para uma boa leitura de mundo associada a um bom treino tanto na escrita na como modalidade oral, para torná-los seres capacitados nos mais variados tipos de enunciados. O professor deve fornecer ao aluno o contato com os mais variados gêneros discursivos, devendo entender que não é preciso fazer com que os alunos assimilem ou até mesmo decorem quais são as características ou estrutura de cada gênero discursivo individualmente. O papel do docente é dar subsídio para que o aluno consiga diferenciar as diversas formas de enunciados e como ele deve agir nos mais variados contextos sociais. Por isso que é tão importante o ato de escrever, ler, compreender e interpretar na formação do indivíduo, uma vez que essas atitudes estão ligadas à união do sujeito na sociedade. Consequentemente, a abordagem dos gêneros discursivos em sala de aula precisa ser um trabalho pedagógico bem fundamentado, por meio de ações discursivas de oralidade, leitura e escrita.

Como os gêneros do discurso estão presentes na vida cotidiana e nas atividades do homem, desde a saudação até a construção de textos mais elaborados e diante de um mundo tão visual e disseminado nos meios digitais, em que a linguagem não verbal está bastante inserida, as capas de revistas vêm somar num processo de incluir, com letras de tamanhos variados em informações que merecem menor e maior destaque, com imagens estampadas que podem ser entendidas como a representação da realidade vigente. Para Foucault (1995), o texto da capa de uma revista e cada recurso que a compõe resultam de uma escolha ditada por uma época, uma intencionalidade, uma filosofia, uma opinião, enfim, no dizer do autor, uma prática discursiva.

Para Calazans (2006), as capas de revista são como anunciantes e estão incluídas na esfera de publicidade; muitos dos efeitos, por afetar o leitor, provocam sensações e formam indiretamente sua opinião, tanto em relação ao veículo informativo quanto aos fatos.

A percepção em torno da capa de revista é realizada no processo de ativar diferentes saberes e conhecimento de mundo de cada leitor. Assim, ele necessita ativar os conhecimentos adquiridos em outros momentos para a construção do sentido e expandir o campo da leitura. Koch (2006) afirma que o conhecimento de mundo reúne vivências pessoais e eventos situados no mesmo tempo e espaço, permitindo a produção de sentidos.

Nota-se que o objetivo central de uma capa de revista é dar ênfase à matéria principal de sua edição e despertar o interesse do leitor, convencendo-o à compra da edição. As manchetes que geralmente estampam a capa de uma revista estão sempre relacionadas a temas atuais da sociedade e de seus recentes acontecimentos, assim como de forma secundária em segundo plano, informam outros assuntos que foram abordados em outras matérias.

Para Magalhães (2003), as imagens compreendem textos que, além de funcionar como forma de rapto do olhar-leitor, de atalho para a informação, refletem uma leitura panorâmica, orientando à eleição e seleção dos sentidos de interesse do leitor de uma forma imediata.

Utilizar o gênero discursivo capa de revista em sala de aula pode ser bastante interessante nas atividades de produção textual. A capa de revista abaixo é uma excelente oportunidade para se trabalhar a sexualidade e gênero, pois é essencial que existam, ainda na educação básica, espaços para discussão e problematização deste tema.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) orientam que o professor tem o papel de mediar o debate para permitir que os alunos reflitam e decidam sobre sua própria sexualidade, apesar de ainda ser considerado tabu, levando em conta os valores recebidos da família e observando a diversidade aceita dentro da sociedade. É importante estimular o debate deste tema e de outros que dizem respeito à diversidade.

Nas capas de revistas, o professor explorará os três elementos constitutivos do enunciado: o conteúdo temático (a questão do gênero), o estilo (a seleção linguística para a compreensão do interlocutor – “Vamos falar sobre ele?”), a construção composicional (a organização do texto no tempo, no espaço e a relação com o interlocutor – a capa está relacionada ao contexto histórico que envolve os leitores).

A edição dessa revista circulou em um período em que estava no auge a discussão sobre o gênero e a sexualidade.

É importante formar alunos leitores e críticos dos textos que os cercam, desenvolvendo a capacidade de interpretar e compreender criticamente, como afirma Barbero (2000. p.60):

Gente livre significa gente capaz de saber ler a publicidade e entender para que serve, e não gente que deixa massagear o próprio cérebro; gente que seja capaz de distanciar-se da arte que está na moda, dos livros que estão na moda, gente que pense com sua cabeça e não as ideias que circulam ao seu redor.

Fonte: Nova Escola nº 279 Fev. /2015

Outro tema que é excelente para explorar é a diversidade. Na escola, isso precisa ser abordado por professores, pois é um espaço em que há uma gama de diferenças, devendo os alunos aprenderem a lidar com costumes, atitudes, etnias, gêneros diferentes, evitando, assim, as discriminações sociais no ambiente escolar.

Segundo Gomes:

O ambiente escolar é um local que exerce influência intelectual e cidadã sobre um indivíduo, vindo a afetar a formação da identidade dos alunos. Identidade a qual é definida pelos comportamentos, atitudes e costumes de um indivíduo e se modifica com a convivência entre sujeitos, ou seja, se constrói tendo o Outro como referência (GOMES, 1996), no entanto, podemos observar que não é bem assim que as coisas funcionam, pois somos integrantes de um modelo econômico capitalista que estimula a competitividade e o acúmulo de bens materiais. Logo, somos movidos pelo desejo de sermos sempre melhor do que o outro, o que nos leva a obcecação de que devemos nos posicionar em um patamar sempre acima do outro indivíduo. (GOMES,1996)

Fonte: Revista Exame nº 1182 de 03/04/2019

A capa da Revista Exame aborda o tema diversidade a partir dos elementos constitutivos do enunciado: a configuração geral da capa – construção composicional; a frase central “O poder da diversidade” – o conteúdo temático; e a seleção de palavras escolhidas pelo autor – o estilo e que devem ser explorados pelo professor. Como proposta a ser trabalhada em sala de aula, é importante pensar numa análise reflexiva em torno do tema e os questionamentos que podem ser levantados, como: Qual o componente principal existe na imagem em questão? Qual é seu conceito? A imagem e suas figuras são humanizadas? Qual é seu tema? E o sentido proposto? Qual é a informação e a mensagem que a capa quer passar?

Para Bakhtin (2003, p. 265),

Todo enunciado – oral e escrito, primário e secundário e também em qualquer campo da comunicação discursiva – é individual e por isso pode refletir a individualidade do falante (ou de quem escreve), isto é, pode ter estilo individual. Entretanto, nem todos os gêneros são igualmente propícios a tal reflexo da individualidade do falante na linguagem do enunciado, ou seja, ao estilo individual.

Podemos salientar que os gêneros discursivos devem ser entendidos como criação humana originados das práticas sociais, culturais, históricas e ideológicas com intenções variadas conforme cada ambiente e que não devem ser analisadas separadamente. Desta maneira, para Bronckart (2003, p. 72), “os textos são produtos da atividade humana e, como tais, estão articulados ás necessidades, aos interesses e às condições de funcionamento das formações sociais no seio das quais são produzidos.”

É importante o conhecimento e a escolha dos gêneros constantes no ambiente em questão, assim como dominar as estruturas permanentes de alguma maneira e que compõem esses gêneros, ter entendimento dos mecanismos de textualização e de enunciação aliado com a capacidade de mobilizar conteúdos temáticos, levando em consideração o contexto social e as posições de sujeito dos ouvintes e, por fim, ter a capacidade de passar conteúdos derivados de uma atividade de ensino- aprendizagem dentro da sala de aula para poder circular em diversos espaços discursivos.

Na concepção de Fairclough (2008):

Ao usar o termo ‘discurso’, proponho considerar o uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais. Isso tem várias implicações. Primeiro, implica ser o discurso um modo de ação, uma forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também um modo de representação. […] Segundo, implica uma relação dialética entre o discurso e a estrutura social, existindo mais geralmente tal relação entre a prática social e a estrutura social: a última é tanto uma condição como efeito da primeira. […] O discurso é uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH, 2008, p. 90-91).

Na visão deste pensador e de outros citados anteriormente, o discurso vem como uma prática social, das relações em diferentes níveis com variadas crenças, posturas e posicionamentos, em tempo e contexto variados e sujeitos a mudanças que costumam acompanhar a evolução do próprio ser humano.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade humana e todas as atividades desenvolvidas em torno do cotidiano fazem uso da linguagem. A língua e seus enunciados, quer sejam orais, quer sejam escritos, tem suas finalidades e circunstâncias próprias tanto com sua temática quanto o estilo de linguagem e construção que variam de acordo com o campo em que estão sendo proferidos. Com isso, a linguagem tem um importante papel de ligar as pessoas dentro de uma sociedade, fazendo a interação dos mesmos dentro do contexto em que estão.

Os gêneros surgem como forma de representação dos enunciados e a maneira como a língua faz seu uso, com a relativa estabilidade dos enunciados, é o que o compõe. E com base nesse estudo, a capa de revista enquanto gênero possibilitou uma análise mais específica, por ser multifacetada e possibilitar uma ampla abordagem em sala de aula e, assim, contribuir para melhorar a leitura e escrita dos alunos e consequentemente conceber requisitos para a prática da linguagem além dos trabalhos escolares.

Por fim, a análise foi baseada no gênero enquanto discurso formal e informal utilizados em sala de aula como forma de ampliar a visão dos alunos com relação aos textos abordados e sua diversidade, assim como, o entendimento dos gêneros e suas características, pois quanto mais conhecimento eles tiverem sobre o gênero, mais eficaz será o seu discurso. Desse modo, o estudo do tema mostrou que quanto mais conhecimento e informação o indivíduo tiver sobre os gêneros, melhor será sua capacidade de elaborar um discurso conciso.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Denise Castilhos de Araújo e FREITAS, Ernani Cesar de Freitas. Comunicação: ler, escrever e interagir. Texto disponível em: http://www.feevale.br/Comum/midias/6f693329-2204-43dc-a67d- 29167591ca1b/27846.pdf  Acesso em 20/01/2020.

ARRUDA, Soeli Aparecida Rossi de. Gêneros discursivos: uma reflexão necessária para o ensino de leitura e escrita na EJA. Texto disponível em: https://www.ucs.br/ucs/extensao/agenda/eventos/vsiget/portugues/anais/arquivos/um a_reflexao_necessaria_para_o_ensino_de_leitura_e_escrita_na_eja.pdf Acesso em 14/01/2020.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

CALAZANZ, F. Propaganda subliminar multimídia. Edição revista, atualizada e ampliada, São Paulo: Summus, 2006.

DIAS, Eliana; MESQUITA, Elisete Maria de Carvalho; FINOTTI, Luísa Helena Borges; OTINI, Maria Aparecida Resende; LIMA, Maria Cecília de; ROCHA, Maura Alves de Freitas. Gêneros textuais e(ou) gêneros discursivos: uma questão de nomenclatura? Texto disponível em: file:///C:/Users/Thiane/Downloads/475- Texto%20do%20Trabalho-1358-1-10-20120407.pdf Acesso em 15/01/2020.

DUARTE, Luiza Franco; OZELAME, Josiele Kaminski Corso. O trabalho docente com gêneros discursivos em sala de aula: intervenções pedagógicas. Texto disponível em: http://e- revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/7227/6037 Acesso em 15/01/2020.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

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[1] Pós-graduação em Coordenação Pedagógica e Formação Docente em Educação Infantil – FARESE. Graduação em Letras com Inglês – UFPB.

[2] Orientadora. Doutorado em Linguística.

Enviado: Julho, 2020.

Aprovado: Fevereiro, 2021.

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Thiane Marjorie Miranda Rios

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