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Bullying: A Intervenção da Escola Estadual Tiradentes Diante desse Contexto

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CONTEÚDO

QUEIROZ, Mayara R. Maia Penafort

QUEIROZ, Mayara R. Maia Penafort. Bullying: A Intervenção da Escola Estadual Tiradentes Diante desse Contexto. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 05. Ano 02, Vol. 01. pp 956-973, Julho de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

Esta pesquisa trata da temática bullying na escola no contexto da escola. O referido estudo metodologicamente tem como base a pesquisa qualitativa, do tipo interpretativa. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com os sujeitos da pesquisa: professores, alunos, coordenadores e diretores do Ensino Médio em uma escola localizada em Macapá, no Estado do Amapá. Os resultados obtidos foram de extrema significância para conhecimento da realidade atual dentro e fora da escola e importante para compreensão da ação do professor frente ao bullying, visto que é umas das formas de violência que mais cresce no mundo.

Palavras-chave: Bullying, Escola, Violência.

INTRODUÇÃO

A violência nas escolas não é um fenômeno novo. Todavia tem vindo a assumir dimensões que a escola não sabe que medidas tomar para sanar com este problema. Atualmente é uma das principais preocupações da sociedade sendo necessário esclarecer os verdadeiros fatores que influenciam a violência na escola.

Compreende-se que a violência atinge a vida e a integridade física das pessoas. Sendo assim, esta pesquisa se propõe fazer algumas reflexões em torno de um fenômeno da violência exercida por adolescentes nas escolas que vem crescendo em Macapá.

Diante de tais situações busca-se evidenciar o bullying no âmbito escolar com o objetivo de analisar os fatores que contribuem com a violência na escola, bem como, verificar as estratégias utilizadas pela escola para combater a violência no Ensino Médio.

Para este estudo teve-se como princípio o seguinte questionamento: Quais as estratégias que a escola utiliza para combater o bullying?

Neste contexto, para atingir os objetivos foram consultados através de entrevistas alguns professores, alunos, coordenadores e diretores da rede estadual em uma escola em Macapá-AP.

Vale ressalvar, que a preocupação inicial ao realizar este trabalho não foi fazer um estudo que apresentasse dados que fossem generalizáveis para outras escolas, e sim conhecer a realidade da escola estudada.

Diante do exposto, este estudo justifica-se pela necessidade de compreender a violência na escola.  Para tanto, será realizado como aporte teórico da pesquisa NETO (2011); Silva (2010); Melo (2010); MATOS (2012) e outro que demonstram interesse pelo estudo do bullying na escola.

Em suma, procurou-se aprofundar os conhecimentos em torno desta temática, com a finalidade de conhecer como a escola se organiza na gestão desta problemática tão grave nos dias de hoje.

 1. CONTEXTUALIZANDO E CONCEITUANDO O BULLYING

O bullying é um problema mundial, e, é umas das formas de violência que mais cresce no mundo. Não é um fenômeno novo, sempre existiu, mas só recentemente ganhou mais atenção.

Segundo Fante (2005) citado por Melo (2010, p. 25), “o pioneiro no estudo sistematizado do fenômeno bullying foi o pesquisador da Universidade de Bergen, na Noruega, Dan Olweus, que desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma especifica”. Essa necessidade surgiu devido ao aumento do número de suicídios entre crianças e adolescentes na Europa na escola ou ligados à escola. O suicídio é um dos principais problemas de saúde na adolescência. O bullying virou caso de saúde pública.

Apesar da importância das pesquisas de Olweus, seus estudos não chamaram a devida atenção. Somente em 1983 na Noruega, um fato deu destaque ao fenômeno. Ocorreu o suicídio de três meninos, entre 10 e 14 anos, motivados pela situação de maus-tratos a que eram submetidos pelos seus colegas da escola.

Segundo Melo (2010) no Brasil o estudo do fenômeno bullying está apenas iniciando, tendo chegado por aqui no fim da década de 1990. Há pouco tempo atrás o tema era pouco comentado e discutido no Brasil.

O bullying vem se intensificando, a prática dessa violência gera muitas consequências para as vítimas, então a escola deve estar preparada em saber como lidar com essas situações. E para que as práticas de bullying sejam reduzidas, é necessário que a escola adote métodos para combater esse problema.

Segundo Chalita (2008), citado por Melo (2010, p. 19), “numa abordagem etimológica a palavra bullying é um verbo derivado do adjetivo inglês bully, que significa valentão, tirano.

Uma das principais motivações do agressor é adquirir a popularidade e o respeito entre os colegas, mas esse “respeito” vem acompanhado do medo.

Entendemos por bullying o comportamento intencional, logo, premeditado, sistematizado, planejado, articulado de forma repetitiva de agressão verbal, psicológica ou física adotado, sobretudo, no âmbito escolar ou externo à escola. (MELO, 2010, p. 19)

É fundamental apontar que as atitudes tomadas por um ou mais agressores, geralmente não apresentam razões especificas ou justificáveis. Isso quer dizer que, de forma quase que automática, os mais fortes utilizam os mais fracos como meros artifícios de diversão, com a intenção de humilhar suas vítimas.

Seguindo o raciocínio supracitado, Fante (2005), citado por Melo (2010, p. 19), “a palavra bullying é de origem inglesa e adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão.

As pessoas que praticam o bullying são as que mais precisam de ajuda, quem é vítima na verdade é vítima de uma pessoa que está insegura, então faz do outro menor para se sentir superior. O agressor tem muitas fragilidades e ele esconde através desse tipo de violência, no fundo o agressor tem medo de não ser aceito, para ele poder ser aceito ele manipula e destrói o outro.

De acordo com Neto:

A forma mais frequente de violência contra crianças e adolescentes é a que ocorre entre eles próprios, conhecida como bullying. Trata-se do conjunto de comportamentos agressivos e repetitivos de opressão, tirania, agressão e dominação de uma pessoa ou grupos sobre outra pessoa ou grupos, subjugados pela força dos primeiros. (2011, p. 21)

A escola é o lugar de adquirir conhecimento, de formação de caráter, de formar profissionais e também para fazer amigos, mas é o lugar ao mesmo tempo de enfrentar a realidade, muitas vezes passando por brigas, gozações, falta de lealdade e de respeito.

1.1 Características e formas do bullying no contexto escolar

O bullying pode ser caracterizado por agressões físicas ou verbais, sendo praticado por ações intencionais e continuadas por parte de um indivíduo ou grupo de indivíduos contra outro indivíduo ou grupos de indivíduos, causando na vítima dor, humilhação e exclusão, geralmente o perfil da pessoa agredida é obesa ou magro em demasia. Pode também ser de baixa estatura ou ainda tímida. Isso invariavelmente leva tais indivíduos ao isolamento onde as consequências podem se tornar graves, como problemas psicológicos e de relacionamento, ou até cometer suicídio. O agressor comumente não é sociável e pode se tornar um adulto violento, em geral ele está inserido em um ambiente familiar desestruturado.

“Nem toda violência escolar pode ser caracterizada como bullying. Para que a violência atenda à tipologia do bullying é necessário que contemple a agressão psicológica, moral ou física”. (MELO, 2010, p. 20)

O autor de bullying é identificado como alguém que ataque repetitivamente outro indivíduo que não seja capaz de reagir, assumem atitudes agressivas também contra os adultos até mesmo com os pais e professores, são geralmente mais fortes que os demais e que seus alvos.

“O bullying só ocorre se houver um contexto social onde os indivíduos estejam envolvidos em relacionamentos duradouros, como acontece no ambiente escolar, quando a convivência é cotidiana”. (NETO, 2011, p.22)

Quem pratica o bullying geralmente é porque vem de uma educação familiar instável e com problemas, é uma pessoa que não aceita diferenças. Segundo Silva (2010), os agressores apresentam, desde muito cedo, aversão as normas, não aceitam serem contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em atos de pequenos delitos, seguindo o raciocínio Neto (2004) afirma que, o bullying é tipicamente popular, tende a envolver-se em uma variedade de comportamentos anti-sociais, pode mostrar-se agressivo, vê a sua agressividade como uma qualidade.

As vítimas, em geral, são crianças e jovens que apresentam algumas diferenças em relação ao grupo ao qual estão inseridas. Por sua vulnerabilidade, passividade, falta de recursos ou habilidade para reagir, são os alvos mais apontados pelos agressores.

Em muitos casos, a vítima do bullying tende a se recolher e a se isolar, tornando-se uma pessoa mais sozinha. Em outros, acontece o oposto. O bullying pode induzir uma agressividade, tornando a pessoa mais rebelde e até mesmo violenta.

Existem dois critérios de classificação baseados nas circunstâncias em que as vítimas são agredidas e no tipo de agressão sofrida. As ações que são praticadas diretamente contra os alvos como os apelidos que ocorre muito entre os meninos e a indireta onde a vítima é ferida, mas nem sempre sabe quem é o culpado, mais praticado entre meninas. O bullying pode se manifestar em diferentes formas de agressão e tipos de danos, na maioria das vezes um leva ao outro, são elas:

  • Bullying verbal: apelidar, falar mal, e insultar;
  • Bullying moral: difamar, caluniar, disseminar rumores.
  • Bullying sexual: assediar, abusar;
  • Bullying psicológico: ignorar, excluir, perseguir, intimidar, manipular;
  • Bullying material: furtar, roubar;
  • Bullying físico: bater, chutar, empurrar, socar;
  • Bullying virtual ou cyberbullying: divulgar imagens, criar comunidades, enviar mensagens.

São vários os personagens que atuam no comportamento do bullying. Faz-se necessário identificá-los nas suas especificidades para melhor compreender as nuances atitudinais e suas implicações:

  • Autor/agressor: é identificado como alguém que ataque repetitivamente outro indivíduo que não seja capaz de reagir, é geralmente mais forte que os demais e que seus alvos, aquele que vitimiza os mais fracos e não aceita ser contrariado.
  • Vítima: é um indivíduo pouco sociável, que sofre agressões repetitivas de outros estudantes ou de um grupo deles, seu aspecto físico é mais frágil de que a de seus colegas, extrema sensibilidade, timidez e baixa autoestima.
  • Alvo/autor ou vítima agressora: são os que ora agridem e ora são vítimas, é aquele aluno que tenta transferir os maus-tratos sofridos para outro mais frágil que ele.
  • Observador/espectador: é o que não se envolve diretamente em atos de bullying, mas os assistem e convivem em um meio onde ocorrem, representa a grande maioria dos alunos que adotam a lei do silêncio por temer virar em um novo alvo para o agressor.

2. CONHECENDO A ESCOLA ALVO DA PESQUISA E OUTROS RELATOS

A Escola escolhida para ser campo de pesquisa foi a Escola Estadual Tiradentes por ser uma instituição de ensino médio e também por ser referência em qualidade do ensino no Estado. Como o bullying é um fenômeno mundial que vem prejudicando a vida escolar e social de muitos alunos, buscou-se identificar como a referida escola trabalha para intervir no combate ao bullying.

A Escola Estadual Tiradentes, com sede em Macapá, está situada à Rua Santos Dumont nº 128, Bairro Santa Rita e recebeu esse nome em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes) herói da Inconfidência Mineira, sendo mantida pelo Governo do Estado do Amapá e recursos oriundos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Funciona desde 1973, com a denominação inicial de Ginásio Polivalente Tiradentes, criado através da Portaria n. 183/71-GAB, de 26 de Junho de 1971 e inaugurada no dia 31 de Março de 1973. A partir de 26 de Abril de 1994, através do Decreto n0 1249, passou a denominar-se, Escola Estadual Tiradentes. Atualmente a escola funciona nos três turnos, oferecendo uma Educação voltada exclusivamente para o Ensino Médio com uma clientela composta por cerca de 1.700 alunos.

Vários casos de bullying têm se repercutido no mundo todo pelos noticiários, um fato que chamou atenção no Brasil nos últimos tempos foi a de um homem de 23 anos que entrou em uma escola municipal na Zona Oeste do Rio na manhã de uma quinta-feira (7/4/11), atirando contra alunos em salas de aula lotadas, foi atingido por um policial e se suicidou. Segundo o diretor do hospital para onde as vítimas foram levadas, 11 crianças morreram (10 meninas e 1 menino) e 13 ficaram feridas (10 meninas e 3 meninos). As crianças têm idades entre 12 e 14 anos. Segundo autoridades, o nome do atirador é Wellington Menezes de Oliveira e ele é ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, onde foi o ataque. O atirador da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio, declarou em vídeo gravado antes da tragédia que sofreu de bullying durante a vida escolar e, também por isso, iria se vingar.

O programa globo repórter exibido em 18 de outubro de 2013, mostrou um caso que ocorreu em uma Escola Estadual chamada de Profª Juracy Neves de Melo Ferracciú em Piracicaba interior de São Paulo, a professora comparou o aluno a um personagem da novela “amor à vida” o “Felix” e foi o suficiente para se espalhar na escola toda.

No Amapá uma estudante de 12 anos disse ter sido vítima de bullying na manhã de uma sexta-feira (09/05/14), no colégio particular Santa Bartolomea Capitânio, no bairro Central de Macapá. A menina, aluna da instituição, foi agredida e teve os cabelos cortados com tesoura por duas adolescentes que também seriam alunas da escola. Segundo a vítima, as menores estavam uniformizadas e a chamavam de gorda durante a agressão. O caso foi registrado na Delegacia de Investigações em Atos Infracionais (Deiai).  O colégio foi procurado, mas não quis se pronunciar sobre o assunto.

3. ANALISANDO OS DADOS DA PESQUISA

3.1 Concepção dos Alunos

De acordo com a pesquisa realizada, cerca de 61% dos alunos já sofreram algum tipo de bullying, e as reações são diversas, como relata a aluna A19:

Sim, no primeiro momento eu escondi dos meus pais e fingia que nada tinha acontecido, e em algumas vezes, até ria dos abusos junto com os agressores, até que minha família tomou conhecimento e sair da escola.

Portanto, muitos alunos sentem medo de expor essas situações á família e a escola, acham que nada irá resolver preferem esconder e sofrer calado e sozinho, e para que pensem que não se importa com isso, até se juntam com o agressor e acham divertida a situação. Isto fica claramente demonstrado na reação da aluna A31 ao ser indagada se já havia sido vítima do bullying e afirmar que “Sim, fiquei meio envergonhada, levei na brincadeira, mas é uma situação muito chata em que você se sente indefeso”. Então, muitos relevam externamente o que sentem, mais no seu interior estão se sentindo inferiores e humilhados, o que poderá prejudicar a autoestima e a vida.

Gráfico 1 – Você já foi vítima de Bullying
Gráfico 1 – Você já foi vítima de Bullying

Uma das consequências que o bullying pode trazer na vida de um aluno é a evasão escolar, podendo piorar se ocorrer transtornos psicológicos. Essa situação percebe-se no caso da aluna A14 ao relatar que “…no começo foi difícil enfrentar os problemas que apareciam, mas depois busquei ajuda psicológica e superei os traumas…”.

De acordo com Alves:

Diversas crianças deixaram e deixam de frequentar a escola e em alguns casos mais sérios, desenvolveram síndrome do pânico ou outras doenças psicossomáticas ou mesmo chegam ao suicídio. Estas crianças e, até mesmo, adultos não tem forças ou recursos para se defenderem ou denunciarem este tipo de violência, até porque, muitas vezes, ela é praticada escondida ou velada, e a pessoa não adquire provas para realizar a denúncia. (2011, p.167)

Os agressores escolhem suas vítimas pelas características, são aquelas que demonstram fraqueza, são reservadas e que dificilmente terão alguma atitude, com isso, o agressor garante que não será denunciado.

Foi detectado que 39% dos alunos informaram nunca terem sido vítima de bullying, porém afirmam que se viessem sofrer alguma agressão tomariam alguma atitude, como afirma a aluna A10: “Eu nunca sofri bullying, mas caso isso acontecesse eu iria relatar sobre o ocorrido na direção da escola, pois muitos daqueles que acham uma brincadeira, na verdade é algo muito sério”. Os alunos que nunca sofreram bullying demonstram não serem tão vulneráveis aos agressores, pois demonstram conseguir se impor diante dessas situações e também conhecer seus direitos. Como a aluna A8: “… a violência deve ser evitada, portanto o que deve ser feito é encaminhar o caso para as autoridades escolares, para que eles tomem as devidas providências”.

De acordo com Silva:

A ação das escolas perante o assunto ainda está em fase embrionária. A maioria absoluta não está preparada para identificar e enfrentar a violência entre seus alunos ou entre os alunos e o corpo acadêmico. Essa situação se deve a muito desconhecimento, muita omissão, e uma dose considerável de negação da existência do fenômeno. (2010, p.162)

As práticas do bullying são problemas antigos, que eram encarados muitas vezes, como brincadeiras, agora que as escolas despertaram o interesse em estudar e combatê-lo. Mas, de acordo com a realidade a maioria das escolas não está preparada para lidar com essas situações, pois muitas ainda omitem a existência do bullying, tornando assim impossível de ser extinto. O bullying é um fato tão presente na vida dos estudantes, que é raro não conhecerem um exemplo disso; como cita o aluno A8: “Sim conheço, era um amigo meu que estava acima do peso, o chamavam de baleia e outras palavras ofensivas”. A forma verbal de bullying, através de xingamentos, insultos, colocarem apelidos pejorativos são os mais identificados. Estes podem gerar consequências no comportamento do aluno, causando a destruição de sua própria vida. A aluna A10 ressalva: “Um conhecido meu sofreu bullying, por ser homossexual, todos da turma dele não aceitam a sua escolha sexual”. Em relação ao bullying homofóbico SILVA (2010, p. 149) diz: “É fundamental que nossos jovens aprendam e compreendam que a homofobia, bem como qualquer outro tipo de discriminação, é, sobretudo, um desrespeito à liberdade e à individualidade de cada ser humano”.

Gráfico 2 – Você conhece alguém que já sofreu Bullying?
Gráfico 2 – Você conhece alguém que já sofreu Bullying?

A sociedade ainda não respeita as diferenças, causando preconceito, devido a influência de uma educação familiar e religiosa conservadora. Com isso, as escolas têm o dever de trabalhar o respeito pelas diferenças para garantir a harmonia da diversidade.

O bullying racial é uns dos mais relatados mundialmente, como exemplo o caso da aluna A23: “Conheço, por esta pessoa ter a pele negra…”. Porém, não só as pessoas negras sofrem, mas também as que são orientais, indígenas e outros, ou seja, o preconceito racial, que já se tornou um crime, mas ainda é praticado em grande evidência na sociedade, seja na escola, no trabalho ou no esporte.

As pessoas menos notadas são as mais propícias a serem vítimas de bullying, de acordo com a aluna A26: “Sim, por esta pessoa ser calada e gaguejar ela sofre bullying diariamente”. Então, são pessoas que dificilmente socializam, são tímidas, geralmente são frágeis fisicamente e não conseguem reagir às provocações que sofrem.

Como afirma Silva:

Normalmente, essas crianças ou adolescentes “estampam” facilmente as suas inseguranças na forma de extrema sensibilidade, passividade, submissão, falta de coordenação motora, baixa autoestima, ansiedade excessiva, dificuldade de se expressar. Por apresentarem dificuldades de significativas de se impor ao grupo, tanto física quanto verbalmente, tornam-se alvos fáceis e comuns dos ofensores. (2010, p. 38)

Um outro dado levantado foi em relação ao comportamento que se apresentaria diante de situações onde se presenciasse a prática do bullyling, onde perguntou-se o que o aluno faria se um colega seu estivesse sendo vítima do bullying?

Gráfico 3 – O que você faria se um colega seu estivesse sendo vítima de bullying?
Gráfico 3 – O que você faria se um colega seu estivesse sendo vítima de bullying?

De acordo com a resposta dos alunos muitos iriam interferir, como diz a aluna A10: “Eu o defenderia diante das circunstâncias e ajudaria a combater esse preconceito com a ajuda dele”. Portanto, os alunos não se comportariam como espectadores passivos, sem atitude diante das ações do bullying, por medo de serem as próximas vítimas amedrontando-se se ocorrer ameaça dos agressores. Entretanto é sabido que existem sim os espectadores que participam indiretamente das agressões, pois apesar de não participar ativamente, eles dão risadas, acham engraçada a situação e tem aqueles espectadores que convive o seu dia-a-dia com a violência, com isso, não demonstram qualquer reação diante de uma situação em que ocorre o bullying. A aluna A18 responde: “O defenderia da maneira correta, mas algumas vezes nem mesmo a direção da escola toma providências”. Esse é um dos motivos que muitos alunos não denunciam essa prática, pois quando vão buscar ajuda para as situações do bullying, a escola não tem atitudes em solucioná-los, adquirindo assim consequências graves para seus alunos.

De acordo com o entendimento dos alunos, quais as principais características do bullying? Para a aluna A28: “São xingamentos, apelido, boatos falsos, fofocas, é mais grave ainda quando chega a ser uma agressão física”.

Gráfico 4 – quais as principais características do bullying?
Gráfico 4 – quais as principais características do bullying?

Então, os alunos têm o conhecimento das ações do bullying, cabe à escola e a família saber intervir e combater este fenômeno. Na opinião da aluna A19: “Tudo começa com algumas brincadeiras ofensivas, que acabam se transformando em agressões físicas e psicológicas por motivos banais e muitas vezes inexistentes”.

Segundo Matos:

São considerados bullying direto os apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões ou gestos que geram mal-estar aos alvos. São atos utilizados com uma frequência quatro vezes maior entre meninos. O bullying indireto é a forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas, e é caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social. (2012, p. 37)

Com tantas agressões, ofensas, xingamentos, apelidos pejorativos, será que podemos evitar o bullying? Como? Para os alunos poderá ser evitado, como relata o aluno A5: “Sim, conscientizando as pessoas para que não pratique esses tipos de atos e porque as pessoas podem entrar em depressão, isso pode ser realizado através de palestras feitas na escola”.

De acordo com Matos:

A única maneira de se combater e prevenir o bullying é através da cooperação de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais. Alguns exemplos dessas atividades práticas são: realizar palestras, para os professores e demais profissionais da escola. Realizar palestras para os pais, para que todos tenham conhecimento do venha a ser o bullying. (2012, p. 58)

Gráfico 5 – Como podemos evitar o bullying?    
Gráfico 5 – Como podemos evitar o bullying?

É imprescindível que todos estejam envolvidos para combater o bullying, pois somente com a integração de todos será possível garantir resultados positivos. Como menciona a aluna A18: “Sim, respeitando mais o próximo, sem dúvida o respeito e a compreensão é à base de uma boa convivência”.

Questionou-se aos alunos se eles acham que a escola está preparada para encarar o bullying, segundo a aluna A19:

Muitas vezes não, por não ter conhecimento das agressões, e não ter medidas para conscientizar o agressor. E o agredido não denuncia a agressão á escola, por medo de que piore a situação em relação aos agressores que foi o meu caso, por muito tempo sofria ameaças dos agressores caso contasse a escola.

A preparação das escolas frente a essa problemática ainda é mínima, deve haver o interesse em estudar, identificar e buscar métodos para conscientizar alunos e profissionais da escola, com isso, atingindo a sociedade. O questionamento da aluna A18 informa que a escola não está preparada:

Não, pois a situação só vai se agravando cada vez mais, pois, o bullying já causou até mortes, suicídios, etc., a escola precisa ouvir mais o aluno, saber o que se passa com ele e tentar compreendê-lo.

Gráfico 6 – A escola está preparada para encarar o bullying?
Gráfico 6 – A escola está preparada para encarar o bullying?

Inicialmente para combater o bullying é preciso ouvir o aluno, a escola tem que passar a confiança que o aluno precisa para que ele possa falar o que se passa com ele mesmo. Pois, assim é que a escola poderá intervir nesse fenômeno. Sendo um aliado contra as agressões.

3.2 Concepção dos Professores e Coordenadores

De acordo com os professores os tipos de bullying mais presentes na sala de aula são xingamentos e apelidos, como relata o professor P02: “É mais direcionado a pessoas obesas, com cor negra, a estatura ou mesmo com aprendizes que têm alguma necessidade específica”. O professor sabe identificar os tipos de agressões, faltando assim levar isso a sério. Há necessidade de os professores também serem preparados por especialistas na área, pois até eles não estão livres de sofrer Bullying.

Como afirma Matos:

Muitos falamos sobre a violência sofrida pelo aluno contra aluno, do aluno que é molestado ou sofre qualquer perseguição ou agressão do professor, mas não se pensa e nem se olha quase na violência e Bullying sofrido pelo professor em sala de aula. (2012, p. 61)

Dos professores entrevistados, até o momento da pesquisa, nenhum sofreu bullying, mas sabem que não estão livres disso acontecer.

Em relação aos alunos perguntou-se como identificar o aluno violento? Para o professor P03: “As aparências enganam, mas é uma identificação difícil. Há aqueles que apresentam atitudes agressivas”. Normalmente, são esses os alunos que os professores têm mais trabalho, atrapalham a aula, criam situações constrangedoras com seus colegas, através de xingamentos e apelidos pejorativos, não respeitam sequer a presença dos professores em sala.

Buscou-se saber se a escola desenvolve algum trabalho para minimizar o bullying, segundo o professor P03: “Sim, orientar os alunos e conscientizá-los, participação dos pais nas possíveis penalizações”. A escola sozinha não irá vencer o bullying, mas com a participação da família, o caso pode reduzir muito. Pois, de acordo com Matos:

Na opinião dos professores, a origem dos maus tratos e do Bullying no ambiente escolar e, em grande parte, familiar. Os professores acreditam que o ambiente familiar não socializa a criança para o convívio social e estimula que ele empregue comportamentos violentos na escola. (2012, p. 52)

É através da família que se obtêm os primeiros conhecimentos e valores, portanto, quando o aluno vai para a escola, ele leva tudo o que se passa em seu dia-a-dia, seja algo bom ou ruim, restando aos pais também a responsabilidade como educadores. Os responsáveis pelos alunos têm seu papel no combate ao bullying e devem tomar medidas que possa identificar as agressões, seja seu filho como vítima ou agressor. Deverão estar atentos ao comportamento do seu filho, caso identifique suspeitas devem agir inclusive, caso necessário, pedir ajuda de especialista na área.

Em relação ao professor, questionou-se se recebem algum tipo de capacitação para trabalhar com o aluno que pratica ou sofre bullying. Todos desconhecem tal como informa o professor P02: “Não, o que se observa é que se têm poucos psicólogos na escola, dificultando esse trabalho com toda a comunidade escolar”. Pois, todo o apoio de especialistas para combater as agressões dificilmente tem nas escolas, com isso, dificulta todo o trabalho que a escola deve fazer para intervir nesse problema.

Em sua maioria os professores informam que a escola não está preparada para encarar o bullying, segundo o professor P02:

Falta capacitação para os funcionários da escola, principalmente psicólogos e professores, falta campanhas educativas, palestras de outros órgãos e projetos que abarquem todos esses artifícios para minimizar o bullying, todos precisam de reeducação.

A escola pode promover essas capacitações necessárias para quem quer minimizar os casos de bullying, deverá trazer todo o conhecimento possível sobre o fenômeno para que possa obter uma postura frente a esta problemática.

Os coordenadores da escola têm conhecimento que os tipos de bullying que mais ocorre no contexto da escola são os preconceitos, como diz o coordenador C02: “Sobre a opção sexual, alunos acima do peso, a cor, este ano observamos que os alunos ficam fazendo bullying até em redes sociais”.

Os métodos que escola trabalha para minimizar os casos de bullying, segundo o coordenador C02 são: “Através de atendimento individual com os alunos que fazem bullying e os alunos vítimas, atendemos as famílias e realizamos palestras e trabalhos que o professor desenvolve em sala”.

E a capacitação de um profissional para trabalhar com o aluno que sofre ou pratica bullying, de acordo com o coordenador C01: “A escola dispõe de psicólogas que atendem aos alunos nos três turnos”.

Na opinião dos coordenadores a escola hoje em dia não está preparada para encarar o bullying, como afirma o coordenador C01: “Não, mas quando o problema surge resolvemos da melhor maneira possível, ou pelo menos tentamos”. E o coordenador C02 diz: “Nem sempre, há casos em que é preciso a intervenção da família e até mesmo do poder público”.

O papel da escola consiste em diagnosticar os casos de bullying e estabelecer metas e objetivos para a redução e até eliminação desse fenômeno, isso deve estar claro em seu planejamento pedagógico. No entanto, a escola sozinha não irá vencer o bullying, mas necessita da participação da família, das instituições estaduais e da sociedade civil, cada um agindo com seu papel, será possível eliminar o bullying.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desse trabalho apontam que a violência nas escolas possui múltiplas dimensões que vão desde os extramuros escolares até o contexto da escola.

Outro aspecto que concluímos neste estudo é que a violência na escola não pode ser somente de responsabilidade do professor, mas de todos os envolvidos no processo de aprendizagem.

Um aspecto importante a ser destacado é que já não basta somente o professor ensinar a matéria de sua área de conhecimento, e sim, trabalhar conteúdos significativos que envolvam situações vivenciadas na escola. Visto que, diante dos graves problemas que a escola vem enfrentando, uma vez que, para os jovens, aprenderem somente conteúdo não é suficiente, pois o aluno precisa ser visto como uma pessoa em formação e não como um delinquente.

Neste estudo ficou evidente que os professores procuram fazer um trabalho sistematizado na escola, no entanto necessitam de uma formação continuada e a participação da família na escola, com a finalidade de prevenir e combater.

Também foi constatado que o bullying se revela no espaço escolar, e que precisa ser combatido, visto que não é uma brincadeira de escola e sim um problema social, passível de ser prevenido e enfrentado pela instituição escola.

Sendo assim, o grande desafio é a mudança de mentalidade tanto da família quanto da escola, que precisam conscientizar-se de que seu papel na formação dos alunos vai muito além do ensino de conteúdos e deve abranger a formação da pessoa e do cidadão.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação: Referências: Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

_____. NBR 10520: Informação e documentação: Citações em documentos: Apresentações. Rio de Janeiro, 2002.

_____. NBR 14724: Informação e documentação: Trabalhos acadêmicos: Apresentações. Rio de Janeiro, 2011.

MATOS. William. BULLYING E CYBERBULLYING: conhecer para combater, identificar para prevenir. São Paulo: All Print, 2012.

MELO, Josevaldo Araújo de. Bullying na escola: como identificá-lo, como preveni-lo, como combatê-lo. 3 ed. Recife: EDUPE, 2010.

NETO, Aramis Antonio Lopes. Diga não ao bullying. 5 ed. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2004.

NETO, Aramis Antonio Lopes. BULLYING: saber identificar e como prevenir. São Paulo: Brasiliense, 2011.

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