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Arte Naif: Conhecimento, beleza e vivência com ênfase na arte de Adriano Dias

RC: 58433
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

PEREIRA, Cledir Rocha [1], SILVA, Fabiana Gomes da [2], SILVA, Joseane Tertulino da [3], DANTAS, Julienne Soares [4], ALVES, Márcia Geam Oliveira [5], MEDEIROS, Maria Fabrícia de [6]

PEREIRA, Cledir Rocha. Et al. Arte Naif: conhecimento, beleza e vivência com ênfase na arte de Adriano Dias. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 08, pp. 05-24. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/arte-naif

RESUMO

O estudo envolveu reflexão e ação sobre as artes visuais do Estado da Paraíba. Assim, desejamos mostrar, através desse relato de experiência, uma realidade onde coloca dentro do processo de ensino e aprendizagem o valor real das artes, concretizado em uma escola pública municipal da cidade de João Pessoa – PB. Trabalhar com um artista local, enriquece e desencadeia curiosidades mais presentes e pontuais sobre a vida e a obra do artista, mais especificamente sobre a arte Naif, expressa nas obras do artista Adriano Dias, artista de Guarabira – PB. Com o objetivo de ampliar o conhecimento de mundo, desenvolvendo a capacidade da apreciação estética da arte e o pensamento crítico, manipulando diferentes objetos e materiais, explorando suas características, propriedades e possibilidades, entrando em contato com formas diversas das artes visuais da Paraíba com foco na pintura Naif. Através das observações ao fazer pedagógico dos professores e alunos dos Anos Iniciais, através de uma investigação qualitativa, conseguimos compilar dados expressivos sobre a percepção artística pelos envolvidos. As análises das observações diretas e indiretas evidenciaram ainda o pouco conhecimento sobre as artes visuais paraibanas, bem como a pouca valorização do componente curricular de Artes, mas não pela falta de riqueza deste e sim pela falta de visibilidade que a arte enfrenta no cotidiano escolar, mas que conseguimos inverter esse quadro através das ações relatadas neste artigo. Assim, conseguimos obter resultados positivos, com um novo olhar às artes, proporcionando atos com capacidade de modificar o fazer pedagógico, despertando nos envolvidos a busca de inovações e a criação de caminhos colaborativos. Conseguimos o avanço desejado sobre o conhecimento da arte Naif e a valorização da arte regional, com a legitimidade do artista que contribui até hoje com a história e a cultura da Paraíba.

Palavras-chave: Arte, arte naif, educação, escola, projeto.

INTRODUÇÃO

Para contemplar o acompanhamento das ações realizadas em uma escola pública da Rede Municipal de Ensino, localizada no município de João Pessoa- Paraíba, envolvendo a Arte Naif, um conceito direcionado para artistas que tem a capacidade de aprender algo sem ter um professor ou mestre no ato de ensinar e de aprender, ou seja, que desenvolveram uma linguagem pessoal e original, no caso, na expressão artística visual.

Buscando reflexões e conhecimentos na relação de ensinar e de aprender com agudez, em uma realidade escolar vivida por professores a alunos, além é claro, da comunidade escolar pertencente e presente no cotidiano da instituição.

Com isso, a instituição, através de uma pesquisa e apresentação de possibilidades de artistas paraibanos para o grupo de professores, os grandes mediadores e divulgadores do projeto, escolheu-se, assertivamente, o artista Adriano Dias[7], nascido em 1968, na cidade de Guarabira/PB, no brejo paraibano.

Sabemos que a escola é uma instituição viva social, política e historicamente, onde repercute questões e problemáticas da nossa sociedade e transmutam os pensamentos da classe com a qual está ligada, especialmente a escola que desencadeou o Projeto Interdisciplinar envolvendo a arte visual paraibana.

A interação entre todos os atores envolvidos neste processo (professores, alunos, especialistas, gestores, intérpretes e cuidadores), somado com o compartilhamento de saberes, possibilitou aprendizagens colaborativas e significativas. Contribuindo assim, na formação acadêmica dos alunos, atores principais de todo o trabalho educativo que a escola oferece.

A contribuição ativa dos componentes curriculares de Artes, Língua Portuguesa, História, Geografia, Educação Física e os demais, como coadjuvantes, subsidiaram este Projeto e colaboraram para uma aprendizagem bastante efetiva e proativa. Pode-se dizer que os alunos já não são mais os mesmos em se tratando de Arte Naif, suas técnicas, sua abrangência de estilo e, sobretudo, a competência adquirida para fazer uma (re)leitura acerca de uma obra de arte plástica no gênero pintura e desenho.

Com clareza de que, este artigo apresenta uma breve descrição de tais ações, pois a riqueza revelada no fazer pedagógico durante o ano letivo, demonstrando as potencialidades protagonizadas pelos discentes, foge de qualquer dimensão escrita.

1. A EXPRESSÃO ARTÍSTICA E A ARTE NAIF

Os desenhos em cavernas dos povos primitivos, as danças em rituais e representações do cotidiano para fins de ensinamentos foram manifestações de um povo, que desencadearam o processo artístico que vemos na contemporaneidade. E isso é afirmado nos documentos de estudo da história da arte e relatado em livros didáticos dos diversos segmentos, como nos revela o excerto abaixo.

Acredita-se que, na pré-história, ao entender a vida, a morte, o mundo e os fenômenos da natureza, o ser humano tenha criado mitos e rituais para simbolizar sua existência e sua conexão com tudo o que estava a sua volta, visível ou invisível. As manifestações artísticas teriam se originado desses rituais. (FRENDA, 2013, p. 20).

Seguindo esse pensamento, acredita-se que a arte é universal, ontológica e, ao mesmo tempo relacionada a um povo, fazendo parte de sua manifestação cultural e, consequentemente, influenciando seus costumes e aprendizagem. Com o passar do tempo, por exemplo, foi e vai se transformando e se recriando de acordo com as mudanças sociais, históricas e culturais, condição essa que nos permite conhecer partes da história e o pensamento de cada sociedade por meio de seus registros.

Sabemos, porém, que o ensino da arte no Brasil, passando por diversos métodos e enfoques, muitas vezes, não favoreceram o reconhecimento da produção e vivência plural e, principalmente, regional, trazendo até mesmo cópias importadas e empobrecidas sem qualquer adaptação ou interação com nossa cultura. Mesmo tendo por base que a arte pode estar presente em incontáveis comunidades e em diferentes épocas da história, como uma forma legítima de expressão humana, muitas vezes não vem até as unidades de ensino essa multiplicidade de expressões. E, é, dentro deste olhar crítico e possibilitado pelo tema do projeto, que a escola, optou por trabalhar a Arte Naif, bastante significativa para nosso povo e reveladora de elementos que compõem a nossa cultura local, embora não seja uma arte advinda diretamente dela, mas sim incorporada à nossa regionalidade.

Essa denominação significa uma arte ingênua, um estilo que é feito por pintores autodidatas, com traços bidimensionais e utilização de cores puras, sem a técnica da perspectiva, devido nascer fora das academias de Belas Artes. Nos últimos tempos, vem ganhando grande importância como produção artística ao ser valorizada e destacada por talentos contemporâneos e consagrados que a ela se debruçaram ao pesquisar outras formas de arte fora das academias. Gombrich revela, a título de ilustração, uma carta de Gauguim mostrando esse movimento de saída, essa “insatisfação”:

Gauguim escrevera sentir que tinha de ir mais além dos cavalos de Partenon e retornar ao cavalinho de balanço da sua infância. É fácil sorrir dessa preocupação dos artistas modernos com o simples e o pueril; no entanto, não deve ser difícil entendê-la. Pois os artistas sentem que essa espontaneidade e simplicidade é algo que não pode ser aprendido. Todos os demais truques da profissão podem ser adquiridos. Todo efeito se torna fácil de imitar depois de provado que isso pode ser feito. Muitos artistas acham que os museus e exposições estão repletos de obras de tão surpreendente facilidade e habilidade que nada se ganha em continuar nesse rumo; sempre correr o perigo de vender a alma, tornando-se fabricantes hábeis de pinturas e esculturas que nada acrescenta, a menos que se tornem crianças pequenas. (GOMBRICH, 1979, p. 424-5).

Foi, então, que, no final do século XIX, um pintor chamado Henri Housseau se destacou por uma técnica simples que caracterizava um estilo de arte que fugia a todas as regras acadêmicas desenvolvidas até então. É considerado, portanto, um dos primeiros pintores representantes da Arte Naif. No entanto, apenas no início do século XX, é que esta arte ganha proporções de valorização no mundo todo, após ser elogiada por artistas, como Pablo Picasso. Acredita-se ainda que a Arte Naif inspirou movimentos como o Surrealismo.

Sendo assim, esse estilo, atualmente forte, com grandes representantes no Brasil, como Heitor dos Prazeres, Djanira, Mestre Vitalino, entre outros, e o escolhido para ser trabalhado na escola. E, é através da Arte Naif de Adriano Dias que a comunidade se deterá a explorar com mais profundidade o conceito e sua práxis.

Vale ressaltar que, no ano de 2018, estará acontecendo o Festival Internacional de Arte Naif (FIAN), em Guarabira, no estado da Paraíba, sendo um marco para a valorização desta cultura, com o encontro dos artistas, incluindo a participação do homenageado, Adriano Dias. O que apenas reforçar a relevância deste estudo.

2. RECONHECIMENTO DAS ARTES COMO CURRÍCULO

A arte, por assim dizer, desenvolve várias técnicas e procedimentos envolvendo o homem e sua cultura em diversos locais do mundo. Podemos defini-las em segmentos como: Arquitetura, Música, Cinema, Teatro, Dança, Pintura, Artesanato, Literatura etc. Todos eles marcando e delineando a sociedade em que estão presentes desde os primórdios. Como área de conhecimento, porém, foi oficialmente reconhecida, no Brasil, na segunda metade da década de 1990, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996 (LDBEN). Entra não só como um componente curricular do sistema de ensino, mas também desencadeando, dentro da Instituição, ações pedagógicas fortemente integradas no quotidiano escolar das linguagens, transversalizando os demais componente curriculares, contribuindo  assim,  para  o processo de ensinar e de aprender e  ressaltando a sua importância e afirmação dentro da Instituição Escolar, como reafirma a LDBEN:

Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.

§2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação básica. (BRASIL, 1996).

Diante disso, faz-se um recorte nesse componente curricular, para destacar, neste Projeto, as Artes Visuais, como um conjunto de manifestações artísticas, que compreendem um campo de linguagem e pensamento, que têm na visão o seu meio principal de apreciação estética.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Artes e a Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996 (LDBEN) caracterizam as diferentes linguagens presentes nessa categorização, no processo de aprendizagem. São elas:

  • Desenho: uma das manifestações que tem a função de atribuição de significação ao não-verbal;
  • Pintura: que pode ser definida como a arte da cor;
  • Escultura: arte tridimensional (modelagem), em que se procura explorar aquilo que a rodeia através do tato, da manipulação dos objetos, aguçando a curiosidade;
  • Recorte e colagem: que propiciam à criança dos primeiros anos escolares o aperfeiçoamento de conteúdos de coordenação motora, criatividade e desenvolvimento da sensibilidade, noções de espaço e superfície.

Sabendo disso, devemos observar que as artes visuais não ficam restritas apenas ver passivamente, mas a manifestações artísticas (desenho, pintura, modelagem, recorte colagem entre outros) nas quais os vários significados e interpretações são baseados nas vivências de cada indivíduo.

Segundo Panofsky, uma obra de arte deve ser definida como um “objeto feito pelo homem que exige ser esteticamente experienciado”. (SILVA et al, 2010, p. 97). Assim, necessitamos perceber que as artes visuais são linguagens, por isso são uma forma muito importante de expressão e comunicação humanas, isto justifica sua presença, “especialmente em suas expressões regionais, [como] componente curricular obrigatório da educação básica”. (BRASIL, 1996).

Os PCN’s de Arte destacam ainda que:

Dentre as várias propostas que estão sendo difundidas no Brasil na transição para o século XXI, destacam-se aquelas que têm se afirmado pela abrangência e por envolver ações que, sem dúvida, estão interferindo na melhoria do ensino e da aprendizagem de arte. Trata-se de estudos sobre a educação estética, a estética do cotidiano, complementando a formação artística dos alunos. Ressalta-se ainda o encaminhamento pedagógico- artístico que tem por premissa básica a integração do fazer artístico, a apreciação da obra de arte e sua contextualização histórica. (BRASIL, 2000, p. 25).

É fato que fazer arte reúne processos complexos em que o aluno sintetiza diversos elementos de sua experiência. No processo de selecionar, interpretar e reformar, mostra como pensa, como sente e como vê.

A criança representa na criação artística o que lhe interessa e o que ela domina, de acordo com seus estágios evolutivos. Uma obra de arte não é a representação de uma coisa, mas a representação da relação do artista com aquela coisa. […] Quanto mais se avança na arte, mais se conhece e demonstra autoconfiança, independência, comunicação e adaptação social. (ALBINATTI, 2008, p. 4).

Assim sendo, a arte propicia expressar os sentimentos e ideias, colocar a criatividade em prática, fazendo com que seu lado afetivo seja realçado. Tendo essa observação voltada para o espaço escolar que vivenciamos, percebemos claramente como as artes visuais são essenciais na interação social da criança e como os professores podem desfrutar desse recurso para isso. Além de utilizar as artes visuais para trabalhar o afetivo e a interação social da criança, o professor pode utilizá-las no auxílio da motricidade que deve ser bem trabalhada desde a infância para que, futuramente, ela possa sentir a diferença desse recurso na sua vida pessoal, escolar e profissional. Dito isso, o projeto em questão destaca, o artista autodidata, com resultados da inexistência de formação acadêmica no campo artístico, Adriano Dias, para dar rumo as ações previstas e construídas coletivamente para todos os níveis e modalidades presentes na rotina da nossa escola.

Observado isso, inserido no contexto atual de um mundo globalizado, é tratada a questão da Mídia como divulgadora da produção artística. Todas essas questões trazidas serão refletidas para a exploração e estudo das obras de Adriano Dias, nascido na cidade de Guarabira, no ano de 1968.

Sempre preocupado em se aperfeiçoar, estudar técnicas de desenhos com bico de pena, grafite, pintura a óleo, serigrafia e fotografia, o referido artista paraibano relembra como tudo começou:

Desde criança convivi com minha mãe que desenvolvia trabalhos manuais, inclusive pintura em tecido, o que sempre me atraiu e levou-me a ajudá-la nos seus trabalhos. O resultado disso foi o meu direcionamento para atividades afins, como desenho, gravura, pintura em tecido e telas. (PARAÍBA CRIATIVA, 2018).

Enquadra-se no estilo Naif clássico, porém, com criatividade, quase calculada, inserindo outras cores além das padrões primárias. Além de artista plástico, exerce a função de vice-presidente da Fundação Centro Unificado de Capacitação e Arte, onde trabalha no atendimento e proteção de crianças e adolescentes no município de Guarabira. Os filhos de catadoras do lixão da cidade, por exemplo, recebem assistência por parte da associação. A entidade é formada por um grupo de artistas locais que, preocupados com a questão social, decidiram centrar forças no enfrentamento a esse problema, tendo na arte um meio capaz de transformação social.

Neste sentido, buscamos a compreender a estética e simbologia que o artista  Adriano Dias transmite através de suas pinturas, as quais os   nossos alunos e demais envolvidos direta e indiretamente no projeto terão a oportunidade de apreciar, fazer leituras e releituras das mesmas vivenciando experiências estéticas com  o trabalho  desse artista.

3. A ARTE NAIF NO QUOTIDIANO DA ESCOLA

Compreender a Arte Naif pelos atores, inicialmente foi impulsionado através de pesquisação da trajetória de vida, bem como o conjunto da obra, a mostragem de exposições realizadas pelo artista, viabilizando o contato com o homenageado, Adriano Dias, através dos multimeios presentes nas dependências da escola.

Com esse pontapé inicial, as turmas foram responsáveis pela construção de painéis envolvendo a vida e a obra do artista, após audiovisuais, pesquisa em casa, na biblioteca escolar e na utilização do Laboratório de Informática, para assim, ocorre uma exposição nos corredores da escola, promovendo o conhecimento artístico por meio de expressões das artes visuais, representados nas formas e técnicas de colagem, pintura, desenho e escultura, contextualizando as obras de Adriano Dias e suas releituras, para a construção de conhecimento, competências e atitudes que valorizem a arte e cultura paraibana na escola.

Assim, podemos dizer que:

A arte cria sentidos para ler o cotidiano, apresenta maneiras de superar o comum e aprofundar-se nas ideias sobre o convívio social. Ela é uma possibilidade de criar sentidos ao já posto, de transcender a realidade, abrindo frestas para a imaginação criadora. Essa magnífica capacidade humana de imaginar permite alterar o cotidiano ou, pelo menos, encontrar espaços para compreender de outra maneira a realidade que nos cerca. (PEREIRA, 2014, p. 5-6).

Nesse conhecimento prévio, envolvendo a arte de Adriano Dias, a Sala de Recursos Multifuncionais, através do Atendimento Educacional Especializado, realizou com os alunos com deficiência intelectual, motora e auditiva, atividades de apresentação de algumas obras do artista, refletindo o significado dos nomes das mesmas, possibilitando a exploração do campo imagético e dos elementos relacionados à cultura popular existente nas obras. Para finalizar esta etapa, foram construídos jogos da memória, relacionando o nome e a imagem das obras. Vale ressaltar que, os jogos foram utilizados pelos referidos alunos e passaram a compor o acervo dos recursos ludo pedagógicos da escola. Percebe-se assim, que pessoas que nos olham em busca de dialogicidade e a ação libertadora dentro e incentivada pelo presente projeto interdisciplinar, envolvendo as artes visuais, propõe uma construção das novas relações humanas entre todos os envolvidos.

A luta de libertação, que é a expressão mais complexa do vigor cultural do povo, de sua identidade e de sua dignidade, enriquece a cultura e lhe abre novas perspectivas de desenvolvimento. As manifestações culturais adquirem um conteúdo novo e novas formas de expressão. Tornam-se assim um instrumento poderoso de informação e de formação política, não somente na luta pela independência, mas, ainda na batalha maior pelo progresso. (FREIRE, 2013, p. 61).

Seguindo essa proposição, tivemos a alegria de associar as obras de Adriano Dias e a musicalidade das festas do mês de junho. Através de suas pinturas, Adriano, aborda cenas do quotidiano nordestino, destacando elementos dos festejos populares. Com isso, realizou-se na escola uma integração dessa visão do artista com a Festa de São João da escola, cujo tema foi: O Regionalismo de Adriano Dias. No dia da festa, foi marcada pela exposição de trabalhos dos alunos, dentre eles, o quadro vivo, uma releitura da obra Boi de Reis. Percebe-se assim, segundo Greenberg (2013, p. 68) que, “já é evidente que o destino da arte visual em geral não está tão implicitamente atrelado ao da pintura como acontecia antes”.

Com uma pesquisa profunda, os alunos se dedicaram a continuidade dos estudos das obras, suas características regionais, a religiosidade, os costumes nordestinos e a interpretação das mesmas, através de coreografias, para apresentações artísticas durante a Festa de São João 2019. Ainda fazendo parte dessa dinâmica, os alunos com deficiência auditiva, intelectual, motora e com Transtorno do Espectro autista, exploram cartelas de cores encontradas nas obras de Adriano Dias, dando ênfase as cores predominantes e elementos da natureza, possibilitando assim, aos alunos experimentarem a Arte Naif através do uso de tinta e pincel, explorando as cores e os traços simples das obras apresentadas por meio de reprodução livre.

Durante o Projeto, um grande momento, de grande riqueza para todos os envolvidos, onde nossos alunos confeccionaram murais coloridos referentes às obras do artista, para uma exposição para o ápice, a visitação de Adriano Dias à escola. Assim, acredita-se que “a arte nos convida a uma consideração intelectual, e isso não com o intuito de criar a arte novamente, mas para conhecer filosoficamente o que é arte”. (HENGEL, 1998, p. 17). Em continuidade, foi trabalhado uma análise da linguagem artística a partir das obras do homenageado, através de reposição midiática, pelos professores, onde aprofundou-se a pesquisação sobre a Arte Naif, enquanto gênero artístico.

Com a colaboração de toda a escola e a comunidade escolar, tiveram a honra de receber com empolgação o artista Naif, Adriano Dias. Momento planejado como sequencia das atividades desenvolvidas desde o princípio do Projeto Interdisciplinar. Com dedicação de todos, conseguiu-se conhecer mais sobre a Arte Naif, expressão artística que não se enquadra nos moldes acadêmicos, sem mesmo nas tendências modernistas.

Foi o momento de uma roda de conversas com o convidado, Adriano Dias. Os alunos tiveram a oportunidade de questionar sobre sua vida e obra, além de um audiovisual mostrando ao homenageado, um pouco do percurso que a escola já havia construído até o momento, envolvendo a arte visual paraibana, além de danças artísticas, dando movimento e musicalidade as obras do artista. Com grande respeito e dedicação, Adriano Dias, ainda teve a disponibilidade de uma sessão de fotografias, onde os alunos queriam a recordação com o artista que estavam estudando e continuariam os estudos.

Teve-se ainda, como progressão os estudos da Arte Naif e o artista paraibano Adriano Dias, a integração saudável entre essa arte e o Dia Nacional do Folclore, assegurando assim “a mais ampla proteção as manifestações da criação popular, não só estimulado sua investigação – estudo, como ainda defendendo a sobrevivência dos seus folguedos e artes, como elo valioso da continuidade tradicional brasileira”. (BRASIL, 1965).

Foi assim, sondado com os alunos os conhecimentos prévios sobre músicas folclóricas que poderiam ser associadas, e fazer alusão às obras do artista paraibano homenageado durante o ano letivo. Explorado com o alunado, os professores foram os facilitadores durante esse período, atividades exploratórias das artes de Adriano Dias, transpondo assim, suas obras para a musicalidade. Com isso, o Dia do Folclore foi realizado um evento com dedicação de todos, com a leitura musicada de algumas obras do artista como: dança do Cavalo Criolo, dança da Araruna, dança Coco de Roda Paparú, Roda de Capoeira e dança do cavalo Marinho. Assim, se faz jus as palavras citadas por Ledur, onde enfatiza que:

As mudanças no conceito da arte, na figura do artista e no modo da arte se apresentar socialmente são os pontos-chaves para pensar numa concepção de arte contemporânea que rompe com a concepção tradicional de obra de arte como obra-prima, fundamentada na categoria da beleza, aliada às categorias de harmonia, perfeição, acabamento e unidade. (LEDUR, 2005, p. 34).

No seguinte mês, a escola no seu desfile cívico, em comemoração ao Dia da Independência do Brasil, teve a sensibilidade de articular a vida e a obra de Adriano Dias, através das alas e pelotões presentes. Com a colaboração essencial da uma comissão para a elaboração do desfile, tive a escola como tema gerador “O cenário cultural de Adriano Dias: nossa inspiração.

No mês de setembro, as ações do Projeto foram articuladas com o Desfile Cívico, onde o artista Adriano Dias, foi homenageado através das alas e pelotões presentes. O Desfile Cívico foi estruturado e construído por uma Comissão para este fim. Assim, na avenida o tema gerador foi “O cenário cultural de Adriano Dias: nossa inspiração”. As turmas participaram do Desfile Cívico, que levou para a avenida exposição resultante das atividades do projeto interdisciplinar, onde a organização dos pelotões fez referência à biografia do artista, suas fontes de inspirações, as cores e os instrumentos usados na criação e produção da Arte Naif, como também as releituras e encenações das obras trabalhadas e produzidas pelos alunos. Assim, pode-se afirmar que no atual contexto da sociedade, as práticas de comunicação são uma necessidade social, com uma importância imensurável da linguagem na construção e significação da realidade. Sendo essa, a proposição desse momento do projeto interdisciplinar.

Se reconhecemos que a comunicação fornece à sociedade o elo indispensável a seu funcionamento, o papel da linguagem e seu exercício se tornam dominantes. É por intermédio da linguagem que se estruturam não somente os grupos humanos, mas ainda a apreensão das realidades exteriores, a visão do mundo, sua percepção e sua ordenação. (CAUQUELIN, 2005, p. 63).

Para encerrar essa jornada de conhecimento e homenagens ao artista paraibano, Adriano Dias, a escola dedicou-se a Feira do Conhecimento, que contou com exposições, encenações e cordéis. Foram trabalhados festejos, tradições, brincadeiras, fauna, flora, fé e os cenários culturais expressões nas obras de Adriano, tudo para ressaltar e enaltecer nosso artista local.

Com inúmeras experiências e olhares baseados na Arte Naif do Adriano Dias, que favoreceram o processo de ensino e aprendizagem, a Feira do Conhecimento foi um grande momento, onde os alunos, familiares e a Comunidade Escolar puderam apreciar, visitar e conhecer um pouco mais das ações desenvolvidas na escola. Com isso, acredita-se que toda obra é, portanto, um modelo significativo de um mundo viável, pois permite-se encontros grandiosos de elementos separados. Como nos revela Bourriaud (2009, p. 10), “a arte mantém juntos momentos de subjetividade ligados a experiências singulares”.

Todos os trabalhos foram de grande valor para a culminância do Projeto Interdisciplinar Arte Naif na Escola: conhecimento, beleza e vivência com ênfase na produção de Adriano Dias. Sem dúvidas, foi mais uma ação pedagógica de sucesso através da troca de experiências entre as turmas, com a colaboração ímpar das mãos e dos pensamentos de cada professor polivalente e de disciplina, bem como de todos os demais que participaram ativamente do processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Assim, destaca-se algumas informações baseadas nessas temáticas construídas com muita dedicação pelos professores e suas turmas.

Os alunos dos Primeiros Anos do Ensino Fundamental apresentaram os “Festejos e tradições do nordeste”. Para o desenvolvimento desse trabalho se fez necessário uma retomada a bibliografia de Adriano Dias e, a partir de então, foi pontuado por meio de enquetes as tradições do nordeste e dentre outras, as festas juninas e quadrilhas que tinham relação com a vivência dos alunos.

Assim, a partir desta realidade se teve inicio o trabalho de produção de cenário e montagem de coreografia, finalizando com a apresentação a Comunidade Escolar com muita riqueza e presença significativa dos responsáveis ao trabalho dos alunos.

Já os Segundos Anos do mesmo nível de ensino, o tema central foi “A arte do brincar”. O tema foi enfatizado pelos alunos através de brincadeiras e brinquedos inspirados nas telas do Adriano Dias, relembrando sua infância. O brincar desenvolve as habilidades cognitivas sociais e afetivas, possibilitando ao individuo viver momentos de interação com o mundo imaginário que é de fundamental importância para o seu desenvolvimento.

Nesta perspectiva, o brincar é uma arte que envolve o imaginário, levando a criança a um mergulho no mundo da fantasia, onde ela se vê como telespectador de suas próprias ações, capaz de viver com liberdade de representação e criatividade.

[…] a existência permanente de uma alternância entre distanciamento e adesão da realidade, o que permite à criança que brinca dois tipos de movimentos opostos: a libertação de a imersão no real. Tanto um quanto outro movimento se modificam à medida em que a criança vai desenvolvendo sua capacidade para brincar, dentro das condições histórico-culturais de que dispõe. (ROCHA, 1994. p. 63).

Durante nossa Feira do Conhecimento 2018, os alunos dos Terceiros Anos enfatizaram “A Fauna e a flora inspirados por Adriano Dias”, onde acordaram as obras “O Boi de Reis” e “A Feira Livre” que remetem a valorização da cultura popular, recheada das belezas naturais (fauna e flora). Para tanto, foram realizadas oficinas e grupos de estudos em que os alunos pesquisaram sobre o reino animal, classificando em répteis, anfíbios, mamíferos, aves e peixes. Os grupos apresentaram oralmente na exposição e participaram de oficina de pintura com impressão das mãos, criando réplicas de animais. O intuito dessa atividade foi destacar que a preservação da Fauna está em nossas mãos.

No que se refere à Flora, se desenvolveu estudo sobre a classificação das partes da planta, a importância de uma alimentação saudável, pesquisa de preços tabulando os valores de frutas e verduras. Também se fez pesquisas sobre a importância das frutas, com intuito de descobrir seus nutrientes e utilidades no combate e prevenção de doenças. O resultado da pesquisa foi apresentado na exposição da Feira do Conhecimento.

Com a temática “A fé colorida por Adriano Dias”, as turmas dos Quartos Anos trabalharam com a religiosidade expressa nas obras do pintor. As turmas fizeram releituras de suas obras, construíram maquetes relacionadas ao tema e, através de expressões corporais, desenvolveram coreografias de canções que enaltecem à fé.

Por fim, envolvendo as turmas dos Anos Iniciais, as turmas dos Quintos Anos, levaram a Feira a temática “O cenário cultural de Adriano Dias”. Primeiramente se fez a divisão dos grupos respeitando o grau de afinidades entre os alunos, com atenção necessária à inclusão das pessoas com deficiência. Em seguida, os alunos pesquisaram sobre Arte Naif, o artista Adriano Dias e suas obras. Com isso, produziram trabalhos para apresentação e exposição. Com isso, surgiu a ideia de prestigiar os visitantes com o projeto Quinto Cordel.

Os professores e seus alunos elaboraram um resumo da história do artista em quartetos com versos em rimas e confeccionaram cordéis. No decorrer do trabalho, a Professora do componente curricular de Artes, sugeriu e apoiou integralmente a atividade de construção de pratos de argila, com pintura e traços culturais, esculpidos pelos próprios alunos. O material produzido compôs a exposição “Coisa de Índio Pintura Sobre Cerâmica”.

Com esse roteiro, tivemos com sucesso um percurso envolvendo a arte visual paraibana, onde os alunos dos Anos Iniciais, tiveram a intimidade com a Arte Naif, expressa com muita regionalidade, nos quadros de Adriano Dias. Segundo Medina (2002, p. 41), “seu real objetivo de trabalho tem que ser a relação entre o que o professor ensina e o que o aluno aprende”. Ressalta-se aqui, a importância da emoção como parte do eu interessado no movimento dos acontecimentos ocorridos durante a progressão das ações, em direção a um desfecho desejado ou não. Dito isso, pode-se ressaltar que “a emoção é a força motriz e consolidante” (DEWEY, 2010, p. 88), entre todas as partes envolvidas no decorrer do projeto.

4. METODOLOGIA

O projeto aconteceu através de conversações com os atores da escola, bem como através de observações nas ações pedagógicas dos professores e alunos. Contamos com 14 professores e 262 alunos dos Anos Iniciais, obtivemos os registros necessários para o sucesso do projeto pensado por todos.

Foram utilizados para este estudo a observação direta e participante no cotidiano escolar, conforme recomenda a “investigação qualitativa”. (TRIVIÑOS, 2001, p. 78). Com isso, o referente estudo caracteriza-se pelo compêndio dos dados angariados nas observações, contatos informais, bem como os formalmente construídos. Não é de desejo enquadrar as situações analisadas em fórmulas ou protótipos já perseverados e sim, a partir do referencial teórico adotado, configurar a realidade da situação nas relações com a prática pedagógica, onde a valorização das artes devem ser ampliadas e acolhidas pelos sistemas educacionais respeitosamente, com existência primária e não, como um componente curricular coadjuvante.

As ações do Projeto envolveram diversas estratégias interdisciplinares com foco nas áreas do conhecimento de linguagem e humanas envolvendo diretamente os componentes curriculares de Artes, Língua Portuguesa, História e Geografia e os demais como colaboradores nesse envolvimento e construção do conhecimento.

Com a proposição de estimular a leitura da linguagem visual, associando-a a diferentes possibilidades de diálogos com outros gêneros textuais como o cordel, a poesia e os textos de memórias, a partir do resgate da cultura popular, tão bem representada em suas telas, as quais constatam-se ser saberes importantes, pois temos nos dias atuais uma concepção de saber equivocada, onde enxerga-se apenas uma dimensão científica. Mas para isso destaca-se a fala de Kramer (1993, p. 196) onde o “saber abrange a dimensão científica, mas abrange igualmente a produção cultural, a literatura, a poesia, a arte em geral e a arte presente no cotidiano. O saber engloba a dimensão artística”. Portanto, frisamos que a arte aqui apresentada em forma de projeto interdisciplinar construído e vivido por todos os sujeitos que envolvem a escolar, fez-se de tamanha relevância no que refere-se a produção do conhecimento cultural e aprendizagem de todos os envolvidos, mostrando-nos ser possível e essencial a interlocução entre a arte produzida por atores culturais externos à escolar que podem ser trazidos para o ambiente escolar e integrando os dois mundos auxiliando os artistas regionais ao seu devido reconhecimento.

A partir da exibição das obras do artista, os alunos foram estimulados a fazer inferências, relacionando momentos conhecidos ou vivenciados por eles a situações expressas nas obras de Adriano Dias. O estudo de sua biografia e estilo artístico suscitou discussões acerca da importância da valorização da cultura popular para: a construção da memória de um povo, a representação de sua religiosidade, de seu trabalho e de seus valores.

Realizadas as leituras das obras do artista e o estudo de sua biografia, foi proposto aos alunos o trabalho de releitura, visando o desenvolvimento da prática da escrita dos gêneros memória, poemas ou cordel, conforme a verificação das habilidades escritoras dos alunos para a produção desses textos.

Além do trabalho com a releitura e com a escrita, os alunos foram convidados a pesquisar sobre a arte Naif e sobre sua influência na construção artística das obras do estudado. Visto que a atividade de pesquisa é, comprovadamente, um relevante instrumento para a construção do conhecimento, a investigação se dará de forma orientada, logo serão disponibilizados aos alunos sites de busca.

No que se refere aos alunos com deficiência ou surdos, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e conjunto com o corpo docente, respeitando a cronologia dos atendimentos, promoverá atividades coletivas e individuais, objetivando o  desenvolvimento e aprimoramento das habilidades e competências destes alunos, ampliando assim suas leituras e interpretações como base nas artes visuais Naif.  Assim, acredita-se que:

Quem ama Arte e respeita o ser humano, irá dar o devido lugar a ela na escola com a mentalidade pedagógica que tentei esboçar aqui. Dará a ela seu devido lugar através da percepção plena, abrangente do ser humano, que se concentrará, por si mesma, em mentalidade e vida pedagógica, pela convivência com os alunos. (STEINER, 2008, p. 36).

Como culminância dos estudos das obras do artista Adriano Dias e do trabalho de releitura, protagonizado pelos aprendizes, realizou-se uma exposição e divulgação da produção nos espaços da Escola no decorrer do ano letivo, e posteriormente, desenvolveremos o trabalho na feira do conhecimento com as turmas envolvimento toda a comunidade escolar, é importante ressaltar que estas estratégias planejadas não se limitarão às elencadas acima, mas, ao longo do processo, podem ser acrescidas ou modificadas conforme as necessidades emergentes do contexto escolar.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Desejando promover uma lógica, que interligassem os dados empíricos  das  às analises finais, realizou-se um relato de experiência, onde foram descritas as ações planejadas e executadas pelos atores envolvidos (professores, alunos, funcionários), envolvendo a Arte Naif, em especial o artista paraibano, Adriano Dias, dentro das limitações dos muros da escola, bem como fora destas limitações.

Com isso, percebe-se a necessária modificação no entorno das relações pedagógicas, quebrando os paradigmas tradicionais tão presentes nos sistemas educacionais e nas práticas dos professores, para um ação-reflexão-ação, onde esse processo irá, harmonicamente reestruturar e incentivar novos olhares para a prática, tornando assim, a arte presente nas comunidades, uma expressão integrante e integrada no processo vivenciado por todos. Isso vai ao encontro do que nos revela Giroux:

[…] a lógica da previsibilidade, verificabilidade, generalizabilidade e operacionalismo é substituída por um modo dialético, que enfatiza as dimensões históricas, relacionais e normativas da investigação social e do conhecimento. (GIROUX, 1986, p. 55).

Esse novo olhar nas artes é assumido pela escola, espaço esse que deve ter compromisso com a integração da teoria e da prática artística, tendo claro nesse meio, suas atribuições para o enriquecimento pelo olhar e desejo pelas artes dos envolvidos, proporcionando assim, um ato capaz de modificar positivamente a caminhada pedagógica, através de reflexões e espaços abertos para tanto já que a escola ainda é um espaço restrito aos agentes que dele fazem parte diretamente, baseado em uma referência acadêmica que contraponha o conservadorismo das competências já enrijecidas pelo senso comum. LEDUR (2005, p.40), considera que “na arte contemporânea convivem formas totalmente inéditas, resultantes da ruptura com o suporte, a materialidade e, inclusive, com o processamento da obra”. Rupturas estas, percebidas no decorrer das ações envolvendo a arte Naif na escola.

Com isso, o professor tendo a confiança nas potencialidades das artes e as artes proporcionando caminhos para o trabalho do professor, o ambiente de ensino e de aprendizagem, cresce e desperta uma melhora significativa no fazer pedagógico do professor, onde se faz constante presente no profissional, a busca de inovações para sanar problemas, criando caminhos vivos de colaboração para o fortalecimento nas relações educativas.

A necessária e que os atores desejam, é a que tem claritude nas suas atribuições sociais, educativas e científicas, atuando com atitudes reflexivas, desafiando os envolvidos em uma continuidade permanente e mobilizando o professor sobre seu ato pedagógico. Para Pontes:

Cabe ao professor promover a interação entre o saber técnico das linguagens artísticas e o saber artístico das crianças. Neste sentido, para planejar sua intervenção, ele precisa considerar as possibilidades das crianças naquele momento, sendo fundamental que ele tenha conhecimento sobres as habilidades imprescindíveis à vivência das diferentes linguagens artísticas. (PONTES, 2001, p. 107).

Sabe-se que o professor, terá maior dificuldade nessa nova visão, pois temos profissionais ainda resistentes as modificações que esses novos tempos exigem. Assim, “sejamos responsivos não há uma lei de proporção ou há um imperativo moral teórico, mas apenas ao nosso próprio e singular ‘eu que empreenda a ação’”. (EMERSON, 2003, p. 265).  Visto isto, acreditamos que a instituição escolar está se modificando, juntamente com os profissionais, através de formações e estudos, para que ocorra com justa e adequação esse novo olhar e valorização das artes no currículo escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do acompanhamento do caminho que esse projeto trilhou, a avaliação ocorreu de forma sistemática através de observações e apontamentos de grande valia dos envolvidos, no desenvolvimento das proposições construídas por todos, nas práticas orais e escritas, suas intervenções, debates, apresentações artísticas-culturais e exposições, considerando o crescimento e a aprendizagem dos (as) alunos (as).

As propostas pensadas e esquematizadas pelo grupo de docentes, equipe técnica-pedagógica e gestores atingiram uma qualidade adequada e um envolvimento na sua práxis muito positiva, pois a temática do ano letivo foi dinâmica e ampla para que os envolvidos desencadeassem suas proposições dentro da sua rotina nos espaços de ensino e de aprendizagem.

A experiência de construir conhecimento linguístico a partir da arte visual foi uma experiência muito rica e inspiradora e que contou com a participação ativa de todos. O trabalho do artista Adriano Dias possibilitou o diálogo com os gêneros textuais poema, painel, memórias literárias e cordel. O gênero memória representou o resgate da cultura popular, por meio das lembranças do alunado, onde momentos conhecidos e vivenciados por ele foram relacionados a situações expressas nas obras de Adriano Dias, a exemplo das brincadeiras de roda e das festas de São João.

Os gêneros poema e cordel uniram forma e conteúdo poético para tentar expressar o estilo e a emoção impressos nas telas de Adriano Dias. Dessa forma, as produções dos alunos referentes à biografia do autor, as festas juninas, a ciranda e a capoeira encontraram um espaço de construção poética nas mãos dos aprendizes.

Sendo assim, a realização do projeto com essa temática nos possibilitou um grandioso avanço no conhecimento da arte Naif e a valorização cultural e artística de nossa região, uma vez que muitos alunos não sabiam da sua existência. O caminho de ensinar e de aprender foi alcançado, pois o processo de aprendizagem se deu a partir da construção do projeto, realização e elaboração deste relatório, como consta nos registros das ações que favoreceram a descoberta do potencial criativo dos alunos.

Foi um excelente exercício acadêmico que proporcionou estímulo e motivação positiva de que é possível realizar um projeto envolvendo componentes curriculares, professores e demais profissionais com as turmas dos Anos Iniciais, a partir de uma temática comum a todos, contribuindo para a melhoria da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, bem como para a abertura do espaço escolar para a existência e relevância de artistas e seus variados tipos de arte, valorizando e enaltecendo a cultura regional de forma que possamos fortalecer tanto o enriquecimento cultural dos alunos, como a legitimação de artistas que contribuem grandemente com a cultura e história da região.

REFERÊNCIAS

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TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Teórico-metodológico da Pesquisa Qualitativa em Ciências Sócias: ideias gerais para a elaboração de um projeto de pesquisa. Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2001. (Cadernos de Pesquisa Ritter dos Reis).

APÊNDICE – REFERÊNCIA DE NOTA DE RODAPÉ

7. Adriano Dias, Perfil de Adriano Dias. Disponível em: <https://www.facebook.com/ adriano.dias.798>. Acesso em: 09 maio 2018.

[1] Mestrando em Ciências da Educação pela Christian Business Scholl; Especialista em Pesquisa Avançada em Educação pela Alpha; Especialista em Mídias na Educação pela UFRGS; Especialista em Tecnologias em Educação pela PUC Rio; Graduado em Pedagogia, com Habilitação em Supervisão Escolar pela ULBRA.

[2] Mestranda em Ciências da Educação pela Christian Business Scholl; Especialista em Supervisão de Ensino; Graduada em Pedagogia, pela UEG.

[3] Especialista em Literatura Comparada pela UEPB; Graduada em Letras Inglês/Português pela UEPB.

[4] Especialista em Educação Especial e Inclusiva pelo ISEP; Graduada em Pedagogia pela UPE.

[5] Mestranda em Educação pela UFPB; Especialista em Psicologia Escolar e da Aprendizagem pela Fundação Francisco Mascarenhas; Especialista em Educação, Desenvolvimento e Políticas Educacionais pela FIP; Graduada em Psicologia pelo UNIPE.

[6] Orientadora. Doutorado em Educação. Mestrado em Educação. Especialização em andamento em Neuroeducação: Neurociência e Educação. Especialização em Gestão e Organização da Escola. Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Graduação em Pedagogia.

Enviado: Agosto, 2020.

Aprovado: Agosto, 2020.

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Cledir Rocha Pereira

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