ARTIGO ORIGINAL
MORAIS, Luana Garcia de [1], NETO, Rodrigo Aquino [2], GARCIA, Juliane Ferreira [3]
MORAIS, Luana Garcia de. NETO, Rodrigo Aquino. GARCIA, Juliane Ferreira. Ética e moral: Diversidade étnico-racial no âmbito universitário. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 10, pp. 28-38. Junho de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/ambito-universitario
RESUMO
Este artigo aponta informações relacionadas à ética na educação, sendo seu objetivo empírico fundamental orientar os docentes e discentes universitários a se comprometer em respeitar ao próximo. Durante séculos, a seriedade da ética no processo formativo da humanidade tem incentivado amplas discussões, por parte de filósofos e educadores. Nessas discussões, foram apresentadas duas questões, primeiro a de natureza geral, onde se tem o conhecimento das transformações sofridas pela própria sociedade e a segunda, onde se viabiliza a formação de indivíduos para conhecer e refletir e torno aos laços sociais que os envolvem. Sendo assim, a educação é um fator fundamental para que esses indivíduos, homens e mulheres, possam ter e conhecer os valores da vida social moderna. A dimensão da ética, quando se refere ao professor-aluno, exige especial atenção, pois o professor, além de transmitir conhecimentos ao discente, atua como mediador na vida social dele. O objetivo deste artigo é, portanto, evidenciar como a ética e a moral se cultivam no processo educativo, para garantir respeito, solidariedade, justiça e diálogo em torno à diversidade étnico-racial, dentro do âmbito universitário.
Palavras-Chave: Ética, moral, diversidade étnica, diversidade racial, universidade.
INTRODUÇÃO
Antes de iniciar a discussão desta proposta de pesquisa, em torno à diversidade étnico-racial no âmbito universitário e suas implicações éticas e morais, é necessário aproximar-se dos conceitos de ética e moral, duas noções que referem um significado comum, fundamentalmente, devido a que remetem às ideias de conduta e costume. O Dicionário Aurélio serve de suporte para uma primeira aproximação a esses dois conceitos, sendo a ética definida como “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana” e a moral como a aquisição de “determinadas formas de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto” (FERREIRA, 1986, p. 733; p. 1158).
Observa-se, nesse sentido, que embora as palavras que os mencionam tenham a mesma origem, ambos os conceitos, ética e moral, se aliam numa formação histórica e de significados diferentes. No âmbito filosófico pode ser apontada uma distinção fundamental, pois a moral é entendida como uma noção que envolve diversos princípios, regras e crenças dispostas para orientar o comportamento social do indivíduo, enquanto que a ética está diretamente relacionada com a reflexão crítica sobre a moral (VÁZQUEZ, 2017).
Depois de colocar-se as diferenças entre elas, busca-se a seguir iniciar uma discussão em torno a como são trabalhadas nas universidades a ética e a moral, por meio das regras, que estão expressas no regimento escolar, nos planos de estudo e no Projeto Político Pedagógico (PPP) das instituições, que têm como objetivo despertar os indivíduos para a sociedade e, portanto, torna-los em cidadãos com consciência, capazes de reivindicar seus direitos e deveres.
A DIALÉTICA DOS EDUCADORES PERANTE À ÉTICA NA EDUCAÇÃO
Durante alguns estudos bibliográficos e encontros orientados ao processo de formação complementar e continuada de professores do ensino superior, foi abordada a questão da ética no âmbito universitário. Discussões foram levantadas em torno a diversos questionamentos acadêmicos, culturais e sociais, cabendo destacar três questões fundamentais para esta proposta, a saber: Qual o papel da ética no cotidiano escolar, em relação aos docentes e discentes? Quais as hipóteses que se podem ligar à ideia de ética? Qual a (co)relação entre a ética e a moral? Estas questões abordadas nas discussões que se estenderam durante o período da formação, permitiram (re)pensar em propostas que, posteriormente, foram encaminhadas para melhorar o Projeto Político Pedagógico.
Observa-se que, com as análises obtidas a partir da pesquisa bibliográfica, para a maior parte dos educadores ser ético é estar aberto ao diálogo, pois o profissional já traz consigo essa ferramenta para a formação de novos cidadãos críticos, conscientes do seu contexto e dispostos a enfrentar a sociedade.
A ética e a moral possuem a capacidade de atribuir sentido ao comportamento dentro da instituição de ensino e, mais especificamente, dentro da universidade, mas não apenas, pois mostram aprendiz a forma em que ele deve se responsabilizar pelos seus atos, para que possam identificar o que é certo e o que é errado e, dessa forma, não sofrer consequências no futuro.
Dentro das discussões levantadas na acadêmica em torno à temática, os educadores colocaram em pauta o papel da ética nas instituições educacionais públicas e privadas, mostrando que estes espaços, particularmente, possuem uma diversidade cultural e social muito grande, fundamental no que se refere ao carácter étnico-racial, religioso e sexual.
Ser um indivíduo solidário no ambiente educacional é respeitar as diferenças encontradas no dia-a-dia. Nas instituições públicas de ensino encontramos vários tipos de dificuldades vividas pelos discentes, e muitos veem o professor como mestre e acabam tendo confiança em relatar fatos que nem mesmo a família ou a própria gestão da escola podem identificar.
É preciso, nesse sentido, superar as barreiras do capitalismo, sair desse corre-corre diário e da competição, pois esses fatores não trazem vantagem nenhuma para ambas as partes (docentes e discentes), muito pelo contrário, acabam prejudicando as relações sociais; ultrapassando essas barreiras será possível resgatar o caráter, a solidariedade, a inclusão e o respeito mútuo, tão necessários no contexto atual.
A conduta de qualquer organização (educativa) depende da capacidade intelectual que lhe permitam seguir seus pensamentos e comportamentos, pois, sabe-se que as influências podem vir de diversos lugares, inclusive de dentro do ambiente educacional.
Assim, entende-se que a educação ética pode ser incluída para instruir e informar, sem que tenha um pensamento crítico do próprio conhecimento acumulado. Ao mesmo tempo, sabe-se que essa educação pode ainda construir educandos com determinação dentro do grupo social.
Além disso é importante destacar que na prática ética, moral e social, a educação estará ligada a uma visão ampla do mundo, e não só do cotidiano. Essa visão assume uma forma digna de transformar ou não, perante à realidade social em que se encontra, sabendo que acaba influenciando diretamente o processo de formação dos discentes.
Durante a convivência com os discentes se passa a conhecê-los, tanto a eles mesmos, quanto suas dificuldades familiares, políticas, econômicas, sociais e culturais. Assim, no dia-a-dia os educadores passam por diversas situações que lhes exigem parar e pensar na forma de reagir com o discente, pois se os profissionais docentes não trabalharem sua ética profissional acabam perdendo a noção sobre as ocorrências no contexto educacional.
Nesse contexto, a importância da ética deve ser defendida, pois em um mundo a cada vez mais globalizado a educação passa por grandes e variados problemas, podendo ser destacada a necessidade de uma formação que detenha a cidadania plena, que incentive o respeito à diversidade cultural e, ao mesmo tempo, a democratização da sociedade e do próprio espaço escolar, garantindo o combate às práticas desrespeitosas e à violência.
Chauí (2000) em um debate sobre a formação cultural brasileira revela que a nossa sociedade tem vários tipos de violência, pois está marcada por uma estruturação hierárquica que determina a distribuição verticalizada do espaço social e a forma em que ocorrem as relações sociais nesse espaço, onde um indivíduo é superior e outro inferior, a depender de suas características e da desigualdade reforçada nessa relação.
Entende-se que a educação, quando se refere ao aprendizado, pode vir a contribuir no auxílio do discente a reconhecer o outro, e a respeitar suas características e desigualdades, uma questão fundamental considerando a realidade social do país, onde se convive com grandes formas de violência, tais como preconceitos e discriminações contra as diferenças étnico-raciais e culturais, não apenas entre os alunos, mas envolvendo professores, funcionários técnicos administrativos, pessoal de apoio, pais, etc.
Nas instituições educativas públicas a situação não é diferente, por esse motivo, debater a prática ética na sociedade atual tornou-se um desafio, sendo que frequentemente são deslegitimadas a relação ética-cidadania e a relação ética-dignidade humana, devido à ocorrência de inúmeras ações que atentam contra a dignidade, contrapondo-se à necessidade do respeito e da solidariedade, entendidos como as bases para a construção da cidadania (RIOS, 2002).
Com essa realidade, citar a ética para a educação inflige aos educadores vários desafios, a iniciar pelo aumento da sua capacidade de identificar os limites que garantam o respeito à diversidade cultural e, ao mesmo tempo, a administração dos conflitos que possam vir a surgir durante a convivência entre essas diferenças.
Já Freire (1996) apontara que o educador deve assumir o compromisso com o conhecimento científico, mas, fundamentalmente, a consciência político-social na própria prática educativa, pois o preparo científico não é suficiente para garantir o cumprimento do seu papel social e acadêmico, é necessário que esse preparo condiga com sua correção ética e coerência no tratamento e respeito ao outro.
Por isso, a ética bem mais do que ensinar o que são os conceitos e valores de cidadania, a crítica, a solidariedade e o respeito, deve estar voltada à prática desses valores, fundamentalmente, a partir do respeito à diversidade e da defesa dos direitos do outro, apesar de suas diferenças e particularidades.
Dentro dessa perspectiva, Sousa (2007) aponta que a ética é conquistada e obtida dentro de um determinado contexto e, portanto, é universal para esse grupo social, estando associada ao comportamento e à prática das ações morais; nesse sentido, pode-se dizer que a ética ilumina a consciência do indivíduo e fundamenta suas ações, construindo uma crítica reflexiva a respeito da moral, em nível individual e social.
EDUCAÇÃO X ENSINO: A UNIVERSIDADE COMO UM ESPAÇO ÉTICO
Antes de mais nada, precisa-se esclarecer a diferença entre ensino e educação. Segundo alguns autores, o Ensino é a comunicação de conhecimento, já a Educação é a transferência de conhecimento adquirida pelos valores imprescindíveis ao diálogo, conservação e ampliação da sociedade.
Em outras palavras, a educação é o ensino agregado de valores, podendo ser observados dois elementos fundamentais, a saber: o núcleo do ensino, que estabelece o conhecimento, e os valores sociais (FERREIRA, 2017). Neste contexto, observa-se que as Secretarias de Educação administram o sistema de ensino, e os governos, mesmo falando em educação, conduzem o próprio sistema de ensino das secretarias. Sendo assim, o governo não provê educação, mas sim ensino.
Brandão (1995) sugere que a educação está associada, fundamentalmente, a três conceitos, a saber: extrair, desenvolver e tirar, isso se deve a que a educação consiste na formação do carácter do indivíduo, por meio da ação de duas forças, por um lado, a ação consciente do formador e, por outro lado, a vontade de aprendizagem do aprendiz. Dessa forma, a educação não deve (e nem pode) ser vista como um simples processo de crescimento ou adaptação do indivíduo, mas como uma atividade criadora, que leva o indivíduo a desenvolver suas potencialidades, de forma integral, ao longo da sua vida.
Já Paulo Freire (1996) apontara para a existência de um modelo de ensino bem mais importante para a sociedade, que não se restringe a transmitir conhecimento, mas abarca também a criação de possibilidades que permitem produzir e construir esse conhecimento, e esse processo de criação fica patente quando observamos que, da mesma forma em que o educador ensina e aprende, o educando aprende e ensina.
Lecionar, isto é, ter o poder de ensinar o indivíduo, ocasiona uma preocupação muito grande quando se refere à formação moral, pois se deve orientar o processo a garantir a preparação do indivíduo para a sociedade e, portanto, para o respeito à natureza humana, não sendo plausível um ensino fora da ética e nem a transgressão da ética como um direito, esta transgressão deve ser vista apenas como uma possibilidade, diante da qual é necessário lutar (FREIRE, 1996).
Com este pensamento, o autor nos faz refletir ao respeito da importância de um ensino adequado, sendo determinante, nesse sentido, o papel da Instituição Escolar e do educador, que podem orientar aos educandos para socializar de forma correta, não apenas durante as disciplinas, mas aprendendo a exercitar o modo de ser/atuar ético.
Frente a este panorama, as dificuldades encontradas no ambiente educacional são muitas, pois nem todas as escolas possuem o espaço adequado para possibilitar um conhecimento e maturidade, que servirão em todos os aspectos da nossa vida, sendo necessário incentivar um ensino pedagógico que venha elucidar a hierarquia, da ordem e do estudo, fazendo adaptações para a necessidade funcional dos educandos (FILHO; MEUCCI, 2010).
Esta não é uma tarefa simples, pois o sistema educacional não admite o que está acontecendo no Brasil e, portanto, acaba falhando no seu objetivo de garantir o acesso universal à educação; a cada dia são descobertas novas formas de alterar de forma positiva o panorama educacional, mas acabam ficando no papel. Justamente, ao respeito da educação moral, Cortella e La Taille (2005) sugerem que a escola deve ser um lugar de “repercussão”, um espaço de diálogo sobre o nosso papel ético, pois a falta de resposta sobre essa questão é, provavelmente, a causante da incivilidade.
A ÉTICA E AS DIVERSIDADES CULTURAIS NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO
Na história brasileira, quando se fala de educação são observadas grandes marcas profundas na relação de gênero e raça, sendo que esses assuntos são debatidos com frequências nas instituições educacionais e, mesmo assim, geram conflitos durante os debates com educadores, cabendo apontar que o próprio educador causa o preconceito.
Esse preconceito pode ser associado à falta de ética do docente, que lhe dificulta reagir de forma natural, sem agressividade e desde uma perspectiva neutra e objetiva, frente a uma determinada situação. Apesar desse panorama, não podem ser negados aos discentes seus direitos fundamentais, cabendo garantir a educação como um direito para todos, onde as relações étnico-raciais não podem negar as condições de vida igualitárias.
Conforme Carrera (2012) a própria definição de racismo já determina que se trata de um obstáculo ao direito à educação, pois acaba restringindo as oportunidades e condições para que os direitos da população negra (uma questão que pode ser ampliada a outras etnias) sejam respeitados e, ao mesmo tempo, incentivando a discriminação, inclusive no contexto das políticas públicas.
Hoje, percebe-se que muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos estão sendo expulsos das escolas e universidades, acuados, diminuídos e forçados a atuarem de forma diferente àquela que aprenderam com suas famílias. A ética educacional não é só educadores, mas alunos, pais, comunidade educacional, e a própria sociedade em que estes indivíduos vivem e se relacionam diariamente.
Nas universidades hoje temos discentes das mais diversas características, negros, indígenas, gays, lésbicas, transexuais, e isso causa a indignação de muitos, que não reconhecem o que esses estudantes passam no âmbito familiar, ou no próprio ambiente escolar, devido à exclusão.
Por esse motivo, devem ser pensadas diversas estratégias, práticas, políticas e sociais, orientadas a facilitar mudanças nesse sentido, principalmente mudanças de perspectiva de alunos, docentes e outros sujeitos envolvidos no processo educativo, que por estarem preocupados com seus interesses particulares, deixam de lado a prática ética.
Deste modo, é necessário tentar modificar as mentalidades, ultrapassar a barreira do preconceito e batalhar por melhores atitudes, buscando entender as diferenças, e saber agir com ética profissional, pois isso precisa acontecer para que exista mais respeito e poder excluir, de vez, essa distância presente entre a escola e o aluno.
As escolas e universidades já estão fazendo seu papel diante da comunidade, mas os profissionais da educação possuem ainda dados insuficientes para o conhecimento de como trabalhar essa questão com os alunos, o que exige pensar e repensar na prática educativa como um espaço fundamental para incentivar a prática da ética na sociedade.
Ao respeito da prática educativa, Roesch (2001) aponta que a escola é onde mais evidente se torna o insucesso escolar, pois incentiva as práticas preconceituosas, inclusive, vindo de parte de professores não-negros, que se expressam de forma depreciativa perante as pessoas negras, reproduzindo, dessa forma, o preconceito no grupo de docentes, e fora dele.
O entendimento da cultura se torna necessário para o docente, pois ele pode acabar impondo uma “tradição” seletiva e dominante a alunos pertencentes a outras comunidades étnicas e raciais (SILVA, 2001) e, ao mesmo tempo, negando-lhes o próprio contexto sociocultural, daí a importância de identificar, constantemente, os pontos positivos e negativos dos meios estabelecidos entre docentes e discentes, principalmente no que se refere às diversidades étnico-raciais.
A instituição tem que estar sempre preparada para abrir o espaço de diálogos e reflexões aos alunos, para que assumam a responsabilidade de entender o processo de humanização, evitando qualquer tipo de preconceito ou discriminação e possibilitando a valorização dos direitos humanos e da diversidade e, inclusive, o engajamento escolar dos indivíduos até então excluídos social, cultural, política e academicamente.
A ÉTICA E OS DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO UNIVERSITÁRIO
Desde a Revolução Francesa e a consequente Declaração dos Direitos Humanos (1948), a universalidade dos direitos do indivíduo é defendida; justamente o primeiro artigo da declaração aponta que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
Observa-se que já no primeiro documento orientado a garantir os direitos dos indivíduos, a igualdade de direitos e, de forma implícita, a diversidade, eram contemplados, uma questão que tem incentivado, ao longo das últimas décadas, o surgimento de outras tantas organizações, nacionais e internacionais, orientadas à proclamação e reclamação desses direitos.
Essas instituições têm pressionado constantemente a sociedade (fundamentalmente desde uma perspectiva política) para garantir a concretização dos direitos e o respeito aos acordos relacionados com os Direitos Humanos, exigindo que a ética seja considerada como uma obrigação, em detrimento dos interesses particulares.
Um dos grandes desafios para as instituições educativas é justamente adotar boas práticas nesse sentido, pois os valores éticos e morais continuam a ser deixados de lado na nossa sociedade, devido a que os objetivos prioritários são a produtividade e o lucro (MORIN; PRIGOGINE, 1998) e, portanto, os indivíduos acabam sendo considerados maquinaria de trabalho e formados com esse único fim.
Nesse contexto, as leis orientadas a garantir os direitos humanos e, implicitamente, a resgatar os valores éticos e morais da sociedade, acabam sendo permeadas por diversos abusos de poder, o que exige um comprometimento da instituição educativa de ensino superior, vista como o espaço propício para a mudança social, com o cultivo da ética em sala de aula, nos projetos de extensão e de pesquisa, orientando a conduta individual ao respeito ao próximo.
Isso se deve a que a ética regula as relações sociais e pode garantir a defesa dos direitos humanos, pois preconceitos e agressões, principalmente de aquelas de teor étnico-racial, podem ser evitadas, uma vez compreendida a diferença como uma possibilidade e defendida a diversidade como uma questão fundamental dentro da sociedade atual.
Espera-se que a partir das contribuições dos docentes e outros sujeitos envolvidos no processo educativo, a ética possa se tornar uma prática constante, que regule, de forma objetiva, a postura ativa do indivíduo perante a defesa dos direitos humanos e o exercício dos valores sociais.
Cabe reconhecer, frente a esse panorama, a necessidade de associar os direitos humanos aos valores éticos e morais, pois os objetivos destes dois convergem na busca por salvaguardar a dignidade do indivíduo, uma questão que deve ser a cada vez mais defendida no espaço acadêmico, principalmente no caso das instituições universitárias, orientadas a garantir a formação de cidadãos comprometidos com uma educação em valores.
CONCLUSÃO
O presente artigo trouxe como objetivo principal abordar o estabelecimento de normas e relações entre a ética e a moral na educação, o que permitiu trazer para a comunidade educacional importantes feições para a compreensão dos desafios educativos quanto à ética e à moral no ambiente escolar, fundamentalmente, quanto a essas práticas frente à diversidade étnico-racial.
Sabe-se que a instituição educacional hoje enfrenta grandes barreiras para cumprir com seu objetivo, mas em nenhum momento pode deixar a responsabilidade de formar o indivíduo em cidadão com caráter. Nesse sentido, dentre os desafios encontrados pela instituição cabe destacar a necessidade de tornar a universidade em um espaço que efetivamente respeite a diversidade cultural de seus discentes e profissionais, garantindo o desenvolvimento de uma comunidade educacional participativa, que valorize as diferenças, a autonomia, a responsabilidade, a criatividade e o respeito ao outro.
A participação do aluno nas práticas, propostas e projetos institucionais é importante porque pode vir a facilitar a mobilização dele em determinado evento ou atividade diferenciada, deixando-o com mais entusiasmo para estudar e se desenvolver eticamente no espaço escolar.
Cabe observar que a ética não tem uma expressão fixa, pois a mesma não indica o que podemos ou não fazer, por sua parte, a Moral nos mostra como obedecê-la, com suas leis e deveres. Todavia, há uma grande analogia entre ética e educação, em consequência disso, a extensão da ética na interligação entre professor-aluno adquire uma grande seriedade.
Por isso, busca-se uma discussão permanente enquanto à forma em que se trabalham a ética e a moral nas instituições educacionais, através de suas regras, expressas no regimento educacional, nos planos de estudo e no projeto político pedagógico, tendo como objetivo tornar os aprendizes em cidadãos conscientes, capazes de reivindicar seus direitos e deveres e de incentivar o respeito à diversidade. Não é questão de discutir o teor do conteúdo lecionado, mas a própria natureza da conexão educador/educando, que pode vir a estabelecer uma relação harmoniosa e, ao mesmo tempo, a garantir a formação integral do discente.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais, apresentação dos temas transversais e ética. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Brasília, DF: MEC, out. 2004.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. In: Pessoas Versus Sociedade: Um dilema que oculta outros. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
CARRERA, Denise. Por que o racismo é um obstáculo à garantia do direito à educação. In: Formação em Direitos Humanos – Educação, Relações Étnico Raciais e Direitos Humanos. São Paulo, 2012.
CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: 2000.
CORTELLA, Mário Sérgio; LA TAILLE, Yves de. Nos labirintos da moral. Campinas: Papirus, 2005.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.
FERREIRA, João. Ensino x Educação. 2017. Disponível em: <https://www.academia.edu/31603615/ENSINO_x_EDUCAÇÃO> Acesso em: 12 abr. 2020.
FILHO, Clóvis de Barros; MEUCCI, Arthur. Escola e Tristeza. Revista Sinais (Rede Sinodal de Educação), São Leopoldo, v. 5, n. 6, p. 5, jun. 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MORIN, Edgar; PRIGOGINE, Ilya. A sociedade em busca de valores. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.
RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e vida social: Programa de formação de professores em exercício. Módulo I. Unidade 6. Identidade, Sociedade e Cultura. 4. ed. Brasília: MEC/FUNDESCOLA, 2002, p. 53-73.
RÖESCH, Isabel Cristina Corrêa. Docentes Negros: um estudo sobre suas histórias de vida. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2001.
SILVA, Ana Célia da. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador: EDUFBA, 2001.
SOUSA, José Vieira de. A identidade do sujeito social, ético e político e o projeto pedagógico da escola. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro; FONSECA, Marília. (Orgs.). As dimensões do projeto político-pedagógico: novos desafios para a escola. 6. ed. Campinas: Papirus, 2007, p. 215-237.
VAZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 37. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
[1] Graduanda de Medicina.
[2] Graduando de Medicina.
[3] Licenciada em Geografia (AJES); Pós-graduada em História da Educação (FAMAC); Mestra em Ciências da Educação – Universidade do Chile – Saint Alcuin Of York Anglican College.
Enviado: Maio, 2020.
Aprovado: Junho, 2020.