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Teoria, Prática e Reflexão Pedagógica: Um tripé indispensável no processo educacional

RC: 71333
4.398
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/tripe-indispensavel

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

BASTOS, Manoel de Jesus [1]

BASTOS, Manoel de Jesus. Teoria, Prática e Reflexão Pedagógica: Um tripé indispensável no processo educacional. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 12, Vol. 16, pp. 120-131. Dezembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/tripe-indispensavel, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/tripe-indispensavel

RESUMO

Este artigo objetiva explicitar a importância do inter-relacionamento entre a teoria e a prática no processo pedagógico, com posteriores reflexões para possíveis reparos, através de novas ações. O norteamento do referido processo depende de uma reflexão crítica e minuciosa; isento da reflexão, não seria possível mensurar o seu efeito. Nos últimos anos têm-se percebido certas desconsiderações no que diz respeito ao cumprimento das diretrizes curriculares pedagógicas, prescritas nas leis educacionais. Considerando a imprescindibilidade da harmonia entre teoria e prática, no âmbito escolar, faz-se necessário a praxe da reflexão, ao longo do processo, para correção de supostos equívocos e a execução de novas ações para o seu norteamento. Trata-se de uma pesquisa de cunho teórico onde apoiou-se em alguns autores, além de fontes oficiais. Acredita-se que o divorciamento posto entre o pensamento e a ação no currículo pedagógico tem gerado elevados déficits na qualidade da educação. Os resultados auferidos explicitam a fragilidade de um processo quando não se leva em consideração a importância da reciprocidade entre a teoria e a prática. Conclui-se, portanto, que não basta a elaboração de extraordinários planejamentos (teorias) se não houver os esforços (práticas) adequados para a sua efetivação e a constante presença reflexiva para o seu norteamento.

Palavras-chave: Processo educacional, planejamento, pedagógica.

1.  INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, o processo educacional vem apresentando um grande déficit na aplicabilidade da prática em relação à teoria pelos que o faz. Considerando-as duas vertentes indissociáveis, verdadeiras norteadoras do acesso à formação do indivíduo e a emancipação da cidadania, surge a necessidade de uma reflexão a respeito do assunto.

A cada dia somos surpreendidos com as mais sofisticadas ferramentas tecnológicas que favorecem a facilidade de se construir o ensino-aprendizagem com muito mais eficácia. No entanto, muitos profissionais as ignoram, estacionando no comodismo e impossibilitando a transformação, tanto do professor, quanto dos alunos. Essas ferramentas são de grande importância no processo, uma vez que, propiciarão a inter-relação entre a teoria e a prática, viabilizando melhores resultados.

Para tanto, admite-se a necessidade de uma breve explanação sobre as terminologias teoria, prática e reflexão, de acordo Luft (1921-1995). a) Teoria: princípios gerais de uma ciência ou arte; b) Prática: ação ou efeito de praticar, aplicação da teoria e c) Reflexão: pensar, meditar.

Ademais, sendo a didática a parte da pedagogia que se ocupa da prática das diretrizes da teoria, é conveniente aplicá-la, seguindo todos os trâmites exigidos pelas normativas. A teoria traça caminhos orientadores do percurso e do ponto de chegada e a prática é o cumprimento ou a execução desse planejamento. É como um mapa rodoviário ou uma receita médica, que uma vez desconsiderados, terão os seus resultados comprometidos.

O planejamento pedagógico é uma ferramenta indispensável ao currículo e deve estar sempre em posse do profissional, no entanto, ele precisa ser elaborado com possibilidades que possam favorecer a sua efetivação. De que adiantaria enxertar um plano de aula, por exemplo, com materiais que não estariam ao alcance do professor? Um plano de trabalho precisa conter apenas o essencial, ou seja, ingredientes capazes de facilitar a inter-relação professor-conteúdo-aluno. A sua eficácia vai depender da consolidação da prática em lócus.

É possível considerar que o tripé teoria, prática e reflexão são pilares imprescindíveis à realização de um bom   trabalho. O descumprimento de um deles propiciará o desnorteamento do que se planejou. Ou seja, são engrenagens indissociáveis e dependentes que materializam o almejado. Na concepção de Martins (2009),

A prática pedagógica se materializa na totalidade das ações educativas. A prática tomada como ponto de partida, descrita, explicada, sistematizada e analisada de modo a compreendê-la, constitui a teoria. Com efeito, a teoria é a expressão da prática. A expressão da experiência vai além do fazer para assumir o estado de teoria explicativa e compreensiva da prática que origina, contendo a teoria os elementos constitutivos da prática (MARTINS, 2009, p. 01).

A reflexão pós atividade propiciará o encontro de supostos erros no processo, ao tempo em que, sinalizará a realização de novas ações, com estratégias diferenciadas e de acordo à necessidade. A reflexão sobre a consumação de um trabalho vai possibilitar o surgimento de leques de oportunidades para novos acertos. Em outras palavras, a reflexão é o raciocínio cauteloso e permanente sobre as atividades realizadas pelo homem.

Com efeito, a reflexão desenvolve, analogicamente, o papel de verdadeira lupa. É um processo que exige um ir e vir, para que se possa observar as suas fragilidades e refazer novas ações para a efetivação do ensino-aprendizagem. Ou se pensa para reagir ou não se terá condições de consertar as falhas cometidas em algo que se realizou. Notadamente, os mais acentuados erros cometidos nas ações de um profissional, são consequências geradas pela ausência de uma reflexão aprofundada.

2. DESCUMPRIMENTO DA PRÁTICA EM RELAÇÃO À TEORIA

A indissociabilidade entre a teoria e a prática no desenvolvimento do processo pedagógico, oportuniza, como consequência, uma produção raquítica e incapaz de atingir, com robustez, o alvo pretendido. O descumprimento ou a desatenção às normativas teóricas do processo educacional, propicia, de certa forma, a indisciplina ou a negligência pedagógica e que, na maioria das vezes, passa despercebida ou camufladamente. Notadamente, a necessidade do vínculo entre ambas é um processo previsto no artigo 13, inciso II, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN: Os docentes incumbir-se-ão de: “elaborar (teoria) e cumprir (prática) planos de trabalho, seguindo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.”

A relação recíproca entre teoria e prática pedagógica possibilita a abertura de caminhos emancipatórios e a consolidação daquilo que se almejou. O fraquejamento dessa relação implicará no desnorteamento do que foi pensado e aplicado. Em síntese, a prática é o cumprimento (agir) do que a teoria ordena. Para Mühl (2011), a similaridade entre teoria e prática mostra que “sem os dados empíricos, a reflexão pedagógica torna-se vazia, sem referenciais teóricos, sua atuação torna-se cega.”

A teoria é um pensamento prévio à prática, que sinaliza caminhos a serem percorridos, como a bússola aponta um norte a ser atingido. Dessa forma, ignorá-la na construção de um processo, é o mesmo que jogar a receita fora para poder comprar o remédio. Entende-se da necessidade de diálogo entre teoria e prática no processo pedagógico, considerando que o saber não se limita à uma, tampouco à outra. Segundo Freire (1987),

Teoria e prática são inseparáveis, tornando-se, por meio de sua relação, práxis autêntica, que possibilita aos sujeitos reflexão sobre a ação, proporcionando educação para a liberdade. “A práxis, porém, é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimido” (FREIRE, 1987, p. 38).

Notadamente, o processo educacional brasileiro não vem sendo desenvolvido como deveria. Planeja-se bem, mas cumpre-se mal. Teoricamente, traça-se rodovias retilíneas, no entanto, prefere-se às trilhas curvosas. É conveniente, observar que esse tão importante processo vem, ao longo de décadas, necessitando de um posicionamento dos que o faz: a tenacidade das propostas elaboradas, considerando a imprescimbilidade da reflexão para posteriores ações delineadoras. É essa praxe pedagógica que possibilita, na condição humana, a capacidade de transformação e de intervenção daquilo que incomoda a sociedade.

A prática pedagógica realizada com embasamento teórico vai ao encontro da ressignificação, beneficiando tanto o professor quanto aos alunos. Recheada de elementos construtivos, sinaliza um diálogo articulador e transformador com a teoria. Uma vez consumada, a prática pedagógica necessita da reflexão que, por   sua vez, fomenta a obrigatoriedade de novas ações reparadoras de supostos erros.

Vale ressaltar que a práxis pedagógica possibilita a parceria e a oferta de condições de intimidade entre teoria e prática consolidando o produto, resultado de ambas. Há uma falsa impressão dicotômica entre teoria e prática, quando não passam de engrenagens relativas. Segundo Vasquez,

Na visão de unidade, teoria e prática são dois componentes indissolúveis da “práxis” definida como atividade teórico-prática, ou seja, tem um lado ideal, teórico e um lado material, propriamente prático, com a particularidade de que só artificialmente, por um processo de abstração, podemos separar um do outro. Essa relação não é diretamente imediata, fazendo-se através de um processo complexo, no qual algumas vezes se passa da prática à teoria e outras desta à prática (VASQUEZ, 1977, p. 03).

Todavia, o professor que faz jus da ética e da responsabilidade profissional, preocupa-se com a realização da prática pedagógica, conforme prevê a teoria. Considerando o equilíbrio existente entre ambas, mas valorizando o efeito que cada uma pode representar dentro do processo. Afinal, são polos justapostos de autonomia e dependência recíprocas.

Ressalta-se, com propriedade, que o processo educacional apresenta uma gama de propostas norteadoras, com estratégias cobiçáveis, no entanto, não passam de verdadeiras utopias pedagógicas. Ou seja, demonstra-se uma grande preocupação com a resolução dos problemas educacionais, mas pouco se faz para a sua atenuação.

Na formação dos cursos de Licenciatura Plena, sobretudo nos de Pedagogia, a teoria vem sendo sobreposta ou majorada em relação à prática, deixando, sobremaneira, déficits profundos na segunda. Uma vez que a formação docente se inicia quando o professor adquire informações, tanto teóricas quanto práticas, como poderia este realizar um trabalho de acordo às diretrizes pedagógicas? Contudo, quando se dá ênfase uma e se menospreza a outra, surge o enfraquecimento do processo, pois em situações diversas teoria e prática possibilitam ao professor a realização de uma boa tarefa, proporcionando-lhe reflexões sobre a construção do seu conhecimento e o aperfeiçoamento do seu trabalho.

Nesse sentido, é preciso considerar a complexidade existente no processo educacional e a sua necessidade pelo cumprimento da teoria, da prática e da reflexão para o seu aperfeiçoamento. Ao discorrer sobre esses dois elementos imprescindíveis ao processo pedagógico, Candau e Lelis (1999), enfatizam que a relação existente entre ambas consta da existência de duas correntes de pensamento, a dicotomia e a associativa. Pois segundo essas autoras,

A visão dicotômica está centrada na separação entre teoria e prática, com ênfase na total autonomia de uma em relação a outra. Caberia assim aos teóricos pensar, elaborar, refletir, planejar, e aos práticos, executar, agir e fazer, tendo, cada um desses polos, sua lógica própria. Já em uma visão associativa, estes polos não são opostos. A prática deve ser uma aplicação da teoria e só adquirirá relevância na medida em que for fiel aos parâmetros desta, uma vez que a inovação vem sempre do polo teórico. (CANDAU e LELIS, 1999, p. 56-72).

Partindo dessa premissa, fica explícito a importância da utilização dialógica entre teoria e prática na construção do processo pedagógico. A sintonia entre elas é que vai proporcionar a aparição de um resultado satisfatório. Sem exagero, ignorá-las é, ao mesmo tempo, infringir as normativas, estabelecidas nas leis educacionais.

3. RESPEITO ÀS NORMATIVAS PARA OBTENÇÃO DE MELHORES RESULTADOS

O sistema educacional brasileiro tem se flexibilizado, demasiadamente, nas últimas décadas. O descumprimento às diretrizes curriculares vem crescendo assustadoramente. Tem-se avançado em teorias que dão inveja, mas tem-se esquecido de cumprir com a prática e refletir-se sobre o que foi feito, para acertar mais, no que se precisa fazer. A educação é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica. Segundo Luckesi (1994),

Nas relações entre filosofia e educação somente existem, realmente, duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e, assim, se realiza uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca, existente na cultura vivida no dia a dia e, assim, se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência (LUCKESI, 1994, p. 21).

Nosso sistema educacional tem elaborado muitas leis enxertadas de extraordinárias diretrizes que sinalizam o amparo à educação. A exemplo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, composta por 92 (noventa e dois) artigos voltados, exclusivamente, à educação e o Plano Nacional de Educação – PNE (2014-2024), instituído com 10 (dez) diretrizes e 20 (vinte) metas, com suas respectivas estratégias que asseguram a melhoria da qualidade educacional, entre outras. No entanto, grande parte do cumprimento destas, ou melhor, da prática dessas teorias, não são efetivadas, ficando apenas no seio das retóricas e nas justificativas inconvincentes. Analogicamente falando, é como fabricar os veículos e deixar de produzir o combustível.

Ademais, isso explicita a veracidade do descumprimento da prática em relação à teoria, causando, de certa forma, a origem de um produto despido de qualidade. Essa menção, aqui demonstrada, é o resultado de uma reflexão aprofundada sobre o que se planejou e o que se faz no seio do sistema educacional brasileiro.

Delimitadamente, esse panorama vem acontecendo dentro do ramo pedagógico, onde grande parte dos professores só planejam suas atividades para atenderem às exigências da instituição, mas posteriormente, ignoram o compromisso curricular. Esse comodismo, essa falta de compromisso e de ética profissional para com uma das mais importantes e mais delicadas funções da sociedade, vem propiciando a realização de um trabalho inerte e inacabado.

Notadamente, a prática é a tarefa responsável pela transformação daquilo que se pensou antecipadamente, sendo o sujeito o principal responsável por essa transformação. Essa transformação efetiva-se mediante à prática atrelada à teoria. Como diz (VASQUEZ, 1990), não se trata de pensar um fato, e sim de revolucioná-lo.

Portanto, defende-se que haja mais coerência entre teoria e prática, nas atividades pedagógicas, considerando que ambas intencionam o mesmo ponto de chegada e, uma vez ignorada, uma ou a outra, tende-se a chegar em lócus indesejável. Contudo, a obediência ao manual que referência alguma coisa, propiciará um trabalho perfeito e eficaz em tempo previsto. A articulação entre teoria e prática dentro desse processo, requer, trivialmente, a presença da reflexão para um direcionamento norteador.

Os aspectos teóricos e práticos vêm sendo bastante questionados nos currículos de licenciatura, mais precisamente, nos cursos de pedagogia, onde a teoria avança e a prática patina sinalizando decadência. Dessa forma ficam, eminentemente, dissociadas, enfraquecendo o processo e produzindo algo inerte.

Prima-se pela reflexão constante no âmbito educacional, em todos os níveis, sobretudo no ensino fundamental, por se tratar da etapa alfabetizativa e, portanto, responsável pela alavancagem do desenvolvimento nos estudos posteriores. O número de professores que lida com essa etapa é bastante amplo, pois segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, o Brasil possui, atualmente, 1,4 milhão de docentes ativos no ensino fundamental. De acordo com a pesquisa, 83,2% dos professores do ensino fundamental possui nível superior completo com licenciatura. O gráfico abaixo demonstra a formação dos docentes nos anos iniciais.

Fig. – 01

Fonte: Informação elaborada pelo autor

4. A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO NO FLUXO DE UM PROCESSO

Durante o processo pedagógico, a reflexão passa a ser uma das mais importantes aliadas para o seu norteamento, uma vez que ela recapitula o que vem sendo executado, notificando possíveis desvios e sinalizando a necessidade de ajustamento. A reflexão psicológica é um ato característico do ser racional que permite ao homem maiores probabilidades de acertos em suas ações.

Qualquer atividade realizada pelo homem está sujeita a desnorteio, mesmo que superficialmente, carecendo, portanto, de uma ligeira reflexão. Ou se reflete, ou não se sabe se errou ou acertou determinada ação. É essa reflexão-pós-ação que ofertará as chances necessárias para a correção dos supostos erros, através de ações diferenciadas.

A isenção da reflexão impossibilitará a percepção das incoerências existentes entre o processo teórico e prático, alargando, de certa forma, as possibilidades de desnorteamento. Teoria orienta a prática e esta, por sua vez, deve estar em consonância com a teoria, mas sujeita à reflexão.

Os cursos no ramo da pedagogia têm se intensificado bastante nos últimos anos, principalmente na modalidade EaD. No entanto, sua inclinação à teoria tem sido majoritária em relação à prática, ficando esta, no âmago das expectativas dos novos profissionais. E, na maioria das vezes, ignora-se a imprescimbilidade da reflexão sobre o processo para a busca de suas correções.

Defende-se que as instituições de ensino precisam adequar propostas que viabilizem a reflexão pós-ação, como instrumento fornecedor de novas práticas educativas. A busca pela qualidade do ensino-aprendizagem, deve ser incessante e ininterrupta. É preciso avaliar a educação hodierna, através da reflexão e desenvolva-se estratégias para a minimização dos seus problemas.

A prática educacional vigente vem demonstrando sinais de desalento e improdutividade, carecendo ser revisto e modificado de acordo à necessidade da sociedade. Essa prática conclama uma postura política enérgica e capaz de suprir suas fragilidades, estabelecendo compromissos éticos para com as normativas das leis pedagógicas.

O tripé teoria, prática e reflexão não representam caminhos de mão dupla, mas segmentos paralelos, com dependências recíprocas e almejos comuns. O descuido do funcionamento ativo de uma delas, propiciará o resultado de um processo retrógrado. Toda e qualquer atividade pedagógica necessita de teoria-prática-reflexão-nova-ação. É essa consideração expressa a cada um desses elos que fortalecerá a corrente do processo educativo, despertando à consciência crítica dos alunos e proporcionando, consequentemente, a qualidade educacional.

É oportuno observar que o grau de teorização, em relação à prática, apresenta-se no nível imediatista e, muitas vezes, improvisado, pois suas reflexões sobre o processo, no dia a dia, não excedem ao conhecimento empírico. O improviso é algo aleatório e sujeito a desvios que podem prejudicar à legitimidade do processo. No fazer pedagógico, teoria, prática e reflexão devem obedecer às normas técnicas/científicas, tendo em vista ser um processo delicadamente complexo e responsável pela construção da cidadania. São esses instrumentos que vão proporcionar as condições de direcionamento da prática educacional transformadora. É essa prática pedagógica, condutora de propostas de educação que consolidará a aprendizagem que o público-alvo necessita.

A reflexão sobre a prática consiste em uma estratégia indispensável à docência, uma vez que proporciona o descortinamento de acertos e de erros cometidos ao longo do processo, com o delineamento de novos caminhos. E para robustar essa explicitação, Misukami (2002) pondera,

O conceito de reflexão-sobre-a-ação é como um caminho para o aprimoramento da prática e a formação dos professores, por ajudar a refazer o caminho trilhado, possibilitando descobrir acertos e erros, e tentar construir novos rumos para a atuação, quando necessário (MISUKAMI, 2002, p. 167).

A consistência da reflexão no exercício da docência é extremamente necessária para o desenvolvimento do processo e reconhecimento do professor investigador e proporcionador do conhecimento. Refletir à prática pedagógica implica na busca de suporte metodológico que propicia a revisão do processo educativo e a execução de novas ações que efetivem, de fato, a formação consciente e crítica do discente. Essa retrospectiva oferece condições de análise da ação, além de sobrepor novas estratégias norteadoras.

Partindo dessa premissa, conclui-se que, ao produzirmos uma reflexão sobre determinada ação, obviamente, surgirão necessidades de novas ações que possam respaldar no que se almejou. A reflexão crítica e permanente tende a oferecer condições de transformação, através de novas práticas docentes. Na concepção de Micheletto,

Numa sociedade em constante transformação é necessário reconstruir conhecimentos e estratégias de ação de forma permanente, para enfrentar situações e contextos imprevisíveis. Só com um esforço contínuo de auto formação e reflexão, pode-se desenvolver plenamente o potencial dos profissionais de educação. Para que teoria e prática possam interagir de modo eficaz e criativo é necessário que no percurso da vida profissional dos docentes existam momentos de reflexão e de estudo que levem ao aprofundamento e à renovação das práticas pedagógicas (MICHELETTO, 2008, p.15).

De modo que a reflexão pedagógica sobre a ação consiste numa retrospectiva mental com o intuito de analisá-la e, a posteriori, desenvolver novas ações corrigindo as falhas supostamente encontradas no processo. As transformações das práticas pedagógicas só se consolidarão a partir do momento em que os profissionais refletirem sobre suas atividades, assumindo seus equívocos e preparando-se para novos desafios com a execução de novas ações.

Diante do exposto, conclama-se a todos os segmentos que compõem o sistema educacional à refletir sobre a educação que existe e a que a sociedade, realmente, precisa. O processo reflexivo crítico emancipa os feitores de educação de práticas mecanicistas, proporcionando a transformação educacional nas instituições. A capacidade da reflexão sobre as atividades humanas, sobretudo suas intenções e estratégias interventivas, contribuirá, essencialmente, com a construção do conhecimento pessoal e profissional.

O sistema educacional brasileiro apresenta uma carência muito acentuada da prática reflexiva sobre suas atividades. Sacristán (1999), pontua que “a reflexão é um caminho para atingir patamares cada vez maiores; é a geração da consciência sobre a ação.” Com base em seus argumentos, a qualidade desejável dos resultados almejados é dependentes da reflexão na prática docente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema educacional brasileiro tem, ao longo dos anos, elaborado muitas leis com previsões de garantias para o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. São diretrizes extraordinárias que sinalizam um direcionamento perfeito de onde se precisa chegar. Um planejamento vislumbrante que almeja, excepcionalmente, à formação do indivíduo crítico, comprometido e fiel com a sua pátria e com o desenvolvimento social. Entretanto, o que se tem observando é a falta de zelo e cumprimento, na íntegra, com essas normativas que, a priori, tem despertado a evidência de imensuráveis expectativas.

Diante de tal situação, não se faz necessário ser um erudito para compreender a existência divorcial entre a teoria e a prática, além da ausência da reflexão, no processo educacional brasileiro. Isso vem gerando o enfraquecimento do processo responsável pela formação da cidadania plena do indivíduo. Esse descuido ou essa desconsideração do fazer pedagógico, conforme às suas normativas, fere os princípios das diretrizes estabelecidos pelas leis.

Ademais, teoria, prática e reflexão são conceitos imprescindíveis ao processo pedagógico quando trabalhadas harmonicamente. A práxis educativa com o manuseio correto e intensivo desse tripé, viabilizará o resultado supridor de expectativas. Considerando as ações do homem passíveis de equívocos, torna-se necessária a empregabilidade ininterrupta da reflexão para o norteamento de novas ações que possam elencar maiores probabilidades de acertos. É com essa concepção que se acredita na superação do processo educacional e no resgate de sua qualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CANDAU, V.M.; LELIS, I.A. A Relação Teoria-Prática na Formação do Educador. In: CANDAU, V.M. (org.) Rumo a uma Nova Didática. 10 ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p.  56-72.

FREIRE, Paulo, Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

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MARTINS, Pura L. O. Didática. Curitiba: Editora IBPEX, 2009.

MICHELETTO, Ingrid Barbara Pereira. Ação-Reflexão-Ação: processo de formação continuada. II SEPED Seminário de Pedagogia Infância: Múltiplos olhares UENP, 2008. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1448-6.pdf.

MIZUKAMI, M. da G. N. e outros. Escola e Aprendizagem da Docência: Processos da Investigação e Formação. São Carlos: EdUFSCar, 2002, p. 203.

MÜHL, Eldon Henrique. Práxis Pedagógica. Ação dialógica comunicativa e emancipação. In: MÜHL, Eldon Henrique; SARTORI, Jerônimo; ESQUINSANI, Valcir Antônio (Org). Diálogo, ação comunicativa e práxis pedagógica. Passo Fundo: ed. Universidade de Passo Fundo, 2011, p. 11-24.

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[1] Mestre em Ciências da Educação pela Absoulute Christian University, Pós- graduado em Supervisão Escolar pela Faculdade de Teologia Hokemãh – FATEH e Graduado em Normal Superior pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI.

Enviado: Julho, 2020.

Aprovado: Dezembro, 2020.

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Manoel de Jesus Bastos

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