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A arte-terapia na educação infantil com crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem

RC: 42286
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL 

YAVORSKI, Rosely [1]

YAVORSKI, Rosely. A arte-terapia na educação infantil com crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 12, Vol. 04, pp. 05-24. Dezembro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/arte-terapia-na-educacao

RESUMO

Arte proporciona ao homem diálogo de doação e entrega. Com crianças, que apresentam dificuldades de aprendizagem a arte-terapia estimula o conhecimento, habilidades de linguagem e a construção do conhecimento; é importante o lado lúdico da arte, que estimula a criatividade. Segundo Oliveira (2003), o professor de Educação Infantil como pesquisador avalia as muitas formas de aprendizagem, expressa suas próprias experiências, e reconhece suas emoções, enfrenta seus medos e frustrações para estabelecer uma relação segura e acolhedora com a criança, na arte-educação esta relação torna-se possível (Silva, Schultz, Machado, s/d). A arte-terapia possui abordagem educacional e terapêutica, que promovem a qualidade de vida ao ser humano através de recursos artístico. Com o objetivo de conhecer os conceitos e definições relacionados a arte-terapia na educação infantil acompanhando o trabalho realizado por profissionais dentro e fora da escola. Pesquisa básica bibliográfica estruturada a partir de artigos, teses, dissertações de outros autores, fontes secundárias deram suporte teórico e facilitaram o acesso às informações gerando novos conhecimentos. Conclui-se que a arte-terapia nas escolas, com seus recursos ajudam a diminuir problemas de ordem psicológica, de relacionamento, e inclusive problemas relacionados às dificuldades de aprendizagem,  as técnicas utilizadas pela arte-terapia incentivam a criatividade e estimulam a imaginação.

Palavras-chave: Arte-terapia, educação infantil, atividades lúdicas, aprendizagem.

INTRODUÇÃO

Diante do desenvolvimento da história de nossas escolas o profissional da educação sempre tem buscado formas de melhorar o aprendizado dos alunos, sejam aqueles que apresentem dificuldades na aprendizagem ou não.

Ao iniciar suas atividades acadêmicas o ser humano (criança) encontra-se em um mundo diferente do qual estava acostumado, sendo que este novo mundo pode causar-lhe sentimentos diferentes, que venham influenciar em seu comportamento futuro. A arte-terapia/educação auxilia a criança a enfrentar seus medos e frustrações estabelecendo relações seguras com os adultos (professores) e com outras crianças.

Pode-se refletir com esse estudo que a arte-terapia/educação não é mais um conteúdo para preencher tempo e espaço na rotina escolar. Mas a arte-terapia/educação faz com que o aluno utilize a criatividade mostrando suas emoções no momento em que as realiza.

O interesse da pesquisadora pelo tema é decorrente de trabalhos realizados com crianças da educação infantil e ensino fundamental.

O objetivo geral desta pesquisa é conhecer conceitos e definições que acompanham o trabalho com arte-terapia dentro e fora da escola.

Para atingir os objetivos propostos pelo trabalho o mesmo foi estruturado em quatro tópicos. O primeiro tópico introduz o tema relacionado a arte-terapia para crianças com dificuldade de aprendizagem, o segundo desenvolve o tema proposto apresentando definições de arte e de arte-terapia como um todo, a história e os pioneiros que iniciaram esta técnica abordando ainda a importância do trabalho realizado com crianças, os quais apresentam mudanças significativas relacionadas as dificuldades de aprendizagem, o terceiro tópico descreve a metodologia utilizada para a realização da pesquisa, que baseia-se em estudo bibliográfico e o último tópico apresenta as considerações finais do autor.

O estudo aborda definições de arte, conceitos e definições de arte-terapia, história da arte-terapia, os pioneiros da arte-terapia. E, finalmente as considerações finais, seguida do referencial bibliográfico

A abordagem metodológica define o tipo de pesquisa realizada e a coleta de dados, sendo realizados por meio de trabalho já publicados, ou seja, fontes secundárias de pesquisa. Assim este trabalho bibliográfico está baseado na pesquisa em artigos, revistas, teses de outros autores, que pesquisaram sobre o tema, onde foram coletados os dados para o estudo em questão.

DEFINIÇÃO DE ARTE

 Desde o começo dos tempos o homem tem necessidade de expressar seus sentimentos, e a arte é a forma que o mesmo encontrou para este tipo de expressão. A arte modifica-se com o passar dos tempos e de acordo com cada gerações, as quais apresentam suas ideologias levando em consideração a vivencia e reflexão sobre o mundo (Lucas, 2012).

Através da arte o homem comunica de forma simbólica o que está no seu consciente e no inconsciente por meio de técnicas e de criatividade. É através da arte que o homem busca equilíbrio para seu modo de vida (Schambeck, 2004).

Os artistas vêem o mundo de uma forma especial, isto se dá por meio da capacidade e sensibilidade de ver o mundo de maneiras diversas permitindo ao artista criar seu próprio mundo e a realidade daquele momento. A arte desenvolve no homem a criatividade adormecida como uma magia (Schambek, 2004).

Trinca apud Andrade (2000, p. 32) ressalta que:

A arte salva o homem da banalidade do dia a dia. Através dela o indivíduo pode dar a sua vida um contexto maior, alterando-lhe o ângulo de visão. A arte possui a virtude de aliviar o ser humano, e consequentemente toda a vida deste planeta, da violência, da insensibilidade, do absurdo, da loucura e da miséria em suas mais diversas e variadas formas. Ela é capaz de unir forças opostas dentro da personalidade bem como favorecer a reconciliação das necessidades do homem com o mundo externo. Daí sua função tão importante e essencial para o desenvolvimento humano (Schambeck, 2004, p. 38).

Através da arte o homem representa e interpreta o mundo em que vive e desenvolve habilidades indispensáveis para sua organização e evolução. A criança, por sua vez, comunica-se através de diversas linguagens e a arte possibilita a ela fazer ligações entre os diversos conhecimentos relacionando-os ao seu cotidiano (Silva, Schultz, Machado, s/d).

A arte nos dá a possibilidade de comunicar à concepção que temos das coisas através de procedimentos que não podem ser expressos de outra forma. Na verdade, uma imagem vale por mil palavras não apenas por seu valor descritivo, mas também por sua significação simbólica (Janson, Janson, 1988 apud Menezes, 2013, p. 7).

As imagens possuem valor simbólico, sendo que o artista comunica algo dentro de um universo de possibilidades. E assim, a educação passou a utilizar técnicas de artes para obedecer os Parâmetros Curriculares Nacionais (Menezes, 2013).

Para fazer com que a arte seja aplicada na educação os Parâmetros Curriculares Nacionais coloca que a criança expressa seus sentimentos através do desenho, da música, da dança e do teatro, o que permite o desenvolvimento a estimulação da criatividade e da expressão. Não havendo conhecimento das artes a aprendizagem da criança torna-se limitada, e a arte torna o ambiente escolar mais agradável (Silva, Schultz, Machado, s/d).

CONCEITOS E DEFINIÇÃO DE ARTE-TERAPIA

A arte-terapia possui abordagem educacional e abordagem terapêutica, enquanto abordagem terapêutica fundamenta-se nos campos da Psicologia, da Filosofia e da Arte (Ferreira, Bonomi, 2011).

A arte-terapia pode ser conceituada como:

Estratégia de intervenção terapêutica que visa promover qualidade de vida ao ser humano por meio da utilização dos recursos artísticos advindos principalmente das Artes Visais, mas com abertura para um diálogo com outras linguagens artísticas. Foca-se o indivíduo em sua necessidade expressiva e busca-se ofertar um ambiente propício ao surgimento de uma expressividade espontânea e portadora de sentido para a vida (Sei, 2010, p. 7-8).

A arte-terapia utiliza diversos recursos expressivos no sentido de fazer com que o individuo se comunique com seu inconsciente, onde os processos utilizados tem o objetivo de provocar transformações internas no individuo. Este processo pode ser desenvolvido através do desenho, da pintura, da colagem, da tecelagem, da construção, da criação de personagens, onde é permitido a cada individuo criar livremente tendo a possibilidade de conviver melhor com as pessoas e com o mundo. A arte-terapia é vista como uma alternativa para a recuperação da saúde (Schambeck, 2004).

A música, a pintura, o desenho cria uma realidade nova para o individuo, e isso possibilita indagações sobre a criação. Segundo Ciornai, em entrevista realizada:

as pessoas que desenhavam e criavam, afirmavam: eu sou o artista, estou controlando o que está acontecendo aqui neste papel. A arte-terapia traz esta possibilidade ao paciente, que pode passar a se sentir um cidadão/artista, ao mesmo tempo em que propicia uma comunicação intersubjetiva muito eficaz entre ele e o arte-terapeuta, entre ele e os outros (Silva, Carvalho, Lima, 2013, p. 23).

No processo de criação estão presentes experiências vividas pelas pessoas, suas fantasias, idéias, desejos, pensamentos, angústias entre outras experiências. É uma forma de aumentar as experiências humanas. Assim:

Arte-terapia é o termo que designa a utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos. […] é uma definição ampla, pois pressupõe que o processo do fazer artístico tem o potencial de cura quando o cliente é acompanhado pelo arte-terapeuta experiente, que com ele constrói uma relação que facilita a ampliação da consciência e do auto conhecimento, possibilitando mudanças (CiornaI, 2004, p. 7 apud Silva, Carvalho, Lima, 2013, p. 24).

Na visão de Martine et al (2002),

A arte-terapia é uma técnica que visa à expressão ou à comunicação de representações como as fantasias e sentimentos, possibilitando, assim, um espaço para liberação das energias psíquicas, bem como a possibilidade de expressão posteriormente à criação estabelecida em palavras, daquilo que antes não tinha nem nome e nem lugar para ser manifesto (Martine et al, 2002 apud Schambeck, 2004, p. 43).

Ou ainda conforme Camargo (1999),

A arte-terapia é um recurso que possibilita a reconciliação do homem com suas raízes mais profundas, como ser íntegro e total, tornando-o capaz de atingir o prazer no fazer e no viver. Essa reconciliação é um direito e uma necessidade do ser humano. Desse modo, incentivar o individuo, e em especial o idoso, por meio de processos que possibilitem exercitar a sua sensibilidade artística, é abrir-lhe caminhos de renovação espiritual, através da vitória da originalidade sobre o hábito, da ousadia sobre o conformismo (Camargo, 1999 apud Schambeck, 2004, p. 43).

Os recursos artísticos utilizados na arte-terapia procura propiciar uma reflexão sobre a produção e assim potencializar os valores terapêuticos oferecendo oportunidade de crescimento e mudança, podemos citar como referenciatrabalhos de arte-terapia da American Associationof Art Therapy (Silva, Carvalho, Lima, 2013).

[…] por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes, pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar sua auto-estima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico. Arte-terapeutas são profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia. Tem conhecimento sobre desenvolvimento humano, teorias psicológicas, prática clínica, tradições espirituais, multiculturais e artísticas e sobre o potencial curativo da arte (American Association of Art Therapy apud Silva, Carvalho, Lima, 2013, p. 25).

Na arte-terapia o terapeuta é um guia facilitador, que estimula ou sugere experimentos para a descoberta do desconhecido, de novos caminhos. A arte-terapia fundamenta-se na fenomenologia e existencialismo estimulando o individuo a encontrar significados relevantes que possibilitem mudanças, provocando no observador a vontade de dar significado e sentido ao observado (Silva, Carvalho, Lima, 2013).

Segundo Rhyne (1993):

Em qualquer criação artística as imagens explícitas são o seu conteúdo mais óbvio, mas a mensagem total pode não ser captada sem considerar-se o contexto total das imagens – o estilo no qual foram representadas, o relacionamento entre as figuras, a escolha da ênfase na representação e, com bastante freqüência, aquilo que foi deixado fora do quadro. Não posso fornecer nenhuma estrutura confiável para interpretar arte; há demasiadas variáveis nas experiências individuais, culturais e psicológicas do criador. Para dar sentido a todas essas mensagens, temos sempre de considerar a gama mais vasta possível de aspectos da expressão (Rhyne, 1993, p. 142-143 apud Silva, Carvalho, Lima, 2013, p. 26).

Levando-se em consideração as variáveis associadas a arte, na análise e reflexão sobre a mesma é necessário compreender e conhecer o contexto em que a mesma foi criada para se ter a visão real do todo, as partes isoladas não representam a realidade (Silva, Carvalho, Lima, 2013).

A arte-terapia vem sendo utilizada, na atualidade com crianças, com pessoas da terceira idade, com pessoas portadoras de doenças crônicas e degenerativas, com adolescentes, podendo ser usada como meio de evitar certas situações ou como processo normal de terapia. A arte-terapia possibilita a liberação das tensões nervosas e propiciar momentos de prazer em poder fazer arte, também devolve a auto-estima e o poder de criar. O trabalho com a arte revela novas possibilidades de vida, promove a independência e flexibilidade do pensamento para a solução dos problemas cotidianos (Schambeck, 2004).

A arte-terapia desperta a curiosidade e desenvolve a criatividade permitindo ao indivíduo experimentar o novo de forma espontânea. Considerada como terapia comportamental permite avaliar os seguintes aspectos:

Comportamental: fuga diante de solicitações, não conclusão de atividades, ansiedade, inibição, depressão, etc;

Psicomotor: dificuldade na coordenação motora, tremor no desenho, dificuldade na utilização dos materiais, rapidez ou lentidão na execução da atividade, etc;

Compreensivos: dificuldade em interpretar o que lhe é solicitado, uso e escolha errônea de materiais para executar tarefas, etc (Schambeck, 2004).

Por ser um método que possibilita a exploração e solução de problemas através da expressão verbal e não verbal, se destaca como modelo de terapia. Segundo Trevoz apud Martine et al (2002):

A arte-terapia além de desenvolver a capacidade motora, os gestos, ela ajuda a ativar os aspectos cognitivos, propiciando uma nova forma de aprendizagem. Ela é a cura emocional através da arte ilimitada aliada ao processo terapêutico. É a prática que utiliza a auto-expressão do individuo como um meio de revelar seu mundo interior (Schambeck, 2004, p. 48).

A HISTÓRIA DA ARTE-TERAPIA 

A arte surgiu na história nas manifestações de conhecimento, quando no tempo das cavernas os primatas utilizavam o desenho como forma de linguagem contando as caçadas. O ser humano é um ser criativo, que nasce com esta habilidade, e pode ser desenvolvida independentemente de sua cultura, porém com o estimulo em seu cotidiano (Silva, Schultz, Machado, s/d).

Na história da arte-terapia estão presentes manifestações espontâneas aquelas que sensibilizam o individuo profundamente, e onde o processo de criação vem carregado de emoção, como forma de compreender e adaptar-se harmonicamente ao meio ambiente que o rodeia (Souza Martins, 2012).

Sendo conhecido desde o inicio dos tempos, foi após a Primeira Guerra Mundial que a arte-terapia começa a ganhar força e constituir como profissão, dando seus primeiros passos para a construção e consolidação de conhecimentos em seu campo de atuação. A partir da década de 50 a arte-terapia ganhou uma nova perspectiva, a da arte-educação com o objetivo de exercitar a criatividade e a linguagem artística buscando o desenvolvimento de potencialidades (Silva, Carvalho, Lima, 2013).

A arte-terapia hoje serve como método terapêutico em diferentes campos de atuação trabalhando com pacientes individuais ou em grupo, sendo utilizada também para orientações profissionais, vocacionais, ocupacionais, recrutamento, seleção e treinamento, bem como na educação (Schambeck, 2004).

Para a história, a americana Margaret Naumburg e a austríaca Edith Kramer são consideradas pioneiras na terapia da arte, com base na teoria psicanalítica. Marcou também a fundação da escola Walden, que trazia uma proposta inovadora sobre a expressão livre com foco na linguagem simbólica infantil (Souza Martins, 2012).

Na história da arte-terapia podemos considerar que a necessidade do ser humano na busca de melhores soluções para resolver conflitos acaba por motivar interesse de psiquiatras para investirem na compreensão e no estudo dos trabalhos artísticos criados pelos doentes, no sentido de encontrar um significado para os mesmos (Souza Martins, 2012).

OS PIONEIROS DA ARTE TERAPIA

Para chegar a arte como terapia um longo caminho foi percorrido. Em 1941, Margaret Naumburg, precursora da arte como terapia, reconhece o que Freud já havia observado, que as imagens viriam antes das palavras por serem diretas e inteiras. Naumburg desenvolve seu trabalho partindo da observação e associação livre em trabalho realizados por seus pacientes (Schambeck, 2004).

Em 1953, Hanna YakaKiatkowska iniciou um trabalho com grupo e famílias acreditando que seria importante na solução de problemas. Ainda nesta década Edith Kramer desenvolveu trabalho levando em conta o processo de fazer arte sem a necessidade de verbalização. Kramer dá ênfase ao fazer, ao criar arte, a expressividade (Schambeck, 2004).

Outros profissionais surgem no estudo da arte-terapia, tais como: Françoise Dolto, JanieRhyne, Natalie Rogers. A ate-terapia também surge no Brasil, e os estudiosos brasileiros que se destacam em arte-terapia são:

Osório César, que começou em 1923 a desenvolver um estudo cm doentes mentais no hospital de Juquerí, procurando dar dignidade aos pacientes e valorizar a técnica de arte-terapia. Acreditava que a arte em si produzia a cura (Schambeck, 2004).

Nise da Silveira, comespírito inovador e criativo, implantou em 1946 sessões de Terapêutica Ocupacional. E em 1952 criou um acervo de trabalhos das expressões dos internados de instituições, com imagens do inconsciente (Schambeck, 2004).

Maria Margarida M.J. de Carvalho, desenvolve um trabalho de arte-terapia na USP, juntando o interesse da psicologia com a arte, e passa a ministrar cursos breves sobre esta arte. E em 1980/81 implantou o primeiro curso de arte-terapia em São Paulo, no Sedes Sapientiae (Schambeck, 2004).

Luiz Duprat, em 1970, organiza estudos e práticas da arte-terapia. Em 1979, Ângela Phillipini organiza um curso de cinco semanas em arte, e cria a clínica Pomarcom uma equipe multidisciplinar desenvolvendo a arte-terapia com crianças, adolescentes, adultos, idosos entre outros (Schambeck, 2004).

Joya Eliezer, em 1999 funda a Associação Paulista e Brasileira de Arte-terapia no Museu de Artes de São Paulo. Após tantos estudos as universidades passaram a oferecer cursos de arte-terapia, que ocuparam importante papel na recuperação e prevenção de doenças motoras e psicossomáticas. O uso da arte-terapia tem conseguido resultados positivos (Schambeck, 2004).

A ARTE-TERAPIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Segundo Arnheim (1989), a arte pode ser desenvolvida por todas as pessoas, que apresentem capacidade para produzir imagens, sendo que isso é algo inato do ser humano, e é uma atividade benéfica para o mesmo podendo ser produzida em vários espaços. A produção de imagens tem função cognitiva, pois aguça os cinco sentidos no homem (Menezes, 2013).

Para a pessoa que realiza a obra de arte, esta está relacionada a sua experiência e mesmo sendo abstrata representa o melhor da produção.

Dewey (2010) relaciona as experiências proporcionadas pela arte ao aprendizado, através da arte o indivíduo faz conexões entre as experiências pessoais e a apreensão do conhecimento. A arte é vista como um meio de promover o crescimento e o desenvolvimento emocional da criança, deixa de ser vista como algo apenas lúdico e passa a ser tratada como algo sério como o brincar, ou seja (Dewey, 2010 apud Souza Martins, 2012):

A antítese de brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a emoção com que a criança caracteriza seu mundo de brinquedo, ela o distingue perfeitamente da realidade, e gosta de ligar seus objetos e situações imaginados às coisas visíveis e tangíveis do mundo real. Essa conexão é tudo o que diferencia o ‘brincar’ infantil do ‘fantasiar’ (Freud, 1906: 79 apud Souza Martins, 2012, p. 4).

Com a nova visão da arte-terapia, como uma forma de expressividade espontânea e de liberdade criativa, a mesma começa a ser aplicada em diversas instituições com crianças que apresentam traumas dificuldades de aprendizagem, limitações que comprometem o desenvolvimento geral e psíquico (Souza Martins, 2012).

A arte-terapia não ensina técnicas de artes, mas promove o exercício de atividades criativas. As atividades criativas usadas em arte-terapia podem ser a expressão corporal, as artes plásticas, a expressão musical, ou a expressão dramática ou qualquer outra técnica que mobilize a capacidade criativa do indivíduo (Souza Martins, 2012).

Para que a criança aprenda, ela necessita de uma ação organizativa, ou seja, enquanto brinca ou desenha, a criança está o tempo todo ordenando sua realidade. Com a organização, a criança experimenta novas maneiras de vivenciar, alterar e experimentar a realidade, ou seja, cria uma nova realidade e se recria (Bittencourt, 2011).

Desde o aparecimento do homem, sua sobrevivência dependia do comportamento, do seu esforço em superar as exigências do dia a dia levando em consideração o processo de mudança também chamado de aprendizagem. Os homens formularam diversas teorias para explicar o processo de conhecimento.

Woolfolk (2000) acredita que a aprendizagem ocorre:

Quando a experiência causa uma mudança relativamente permanente no conhecimento e comportamento de um individuo. A mudança pode ser deliberada ou involuntária, para melhor ou para pior. Para se qualificar como aprendizagem, essa mudança deve ser realizada pela experiência – pela interação de uma pessoa com seu meio ambiente (Woolfolk, 2000, p. 184 apud  Assis, 2013, p. 21).

O discurso é um dos caminhos pelos quais o cérebro transforma experiências e a arte transforma as experiências, quando as idéias e sentimentos não conseguem ser transmitidos por palavras e as cargas emocionais necessitam ser colocadas para fora, os materiais simbólicos contribuem para que ocorra o processo de informação e crescimento pessoal (Assis, 2013).

A arte-terapia é vista como instrumento educativo:

Pela essência de sua ação terapêutica, pode possibilitar atividades preventivas tanto no âmbito psicopedagógico, já que oferece uma interação entre arte e cognição, quanto no contexto de resignificações de atitudes pessoais. Em ambas as situações e aprendizagem encontra-se presente (Assis, 2013).

A introdução da arte-terapia nas escolas não garante que desapareçam da sociedade os problemas de ordem psicológica, econômica, ou social. Porém é uma tentativa de melhorar a evasão escolar, desenvolvendo a criatividade, estimulando a imaginação e usando os recursos proporcionados pela arte-terapia (Assis, 2013).

Um conceito fundamental para a arte-terapia na aprendizagem é o de individuação, que significa:

A individuação, portanto, só pode significar um processo de desenvolvimento psicológico que faculte a realização das qualidades individuais dadas; em outras palavras, é um processo mediante o qual um homem se torna o ser único que de fato é. Com isto, não se torna “egoísta”, no sentido usual da palavra, mas procura realizar a peculiaridade do seu ser e isto, como dissemos, é totalmente diferente do egoísmo ou do individualismo (Jung, 1974, p. 61 apud Assis, 2013).

O uso da arte-terapia traz muitos benefícios ao ser humano facilitando o desenvolvimento integral do individuo, o autoconhecimento como atividade da arte-terapia:

Estimulam a desinibição, o autoconhecimento, a criatividade, levando os participantes a uma sensação de integração com o mundo que instiga à resolução de conflitos pessoais, à melhoria do relacionamento social e desenvolvimento harmônico da personalidade (George, 2007 apud Oliveira, Lima, Souza, s/d).

Ao professor não cabe apenas estimular a melhoria do relacionamento e desenvolvimento da personalidade é necessário proporcionar o conhecimento através de atividades, as quais os conteúdos sejam transformados em conhecimento significativo para o aluno, e onde o aprender não seja uma experiência produzida apenas em sala de aula. A arte-terapia vista de forma lúdica pelos alunos vai atuar no desenvolvimento da aprendizagem tornando a escola um local motivador e prazeroso de se aprender (Batista, Fernandes, 2015).

Finalmente, a arte-terapia pode ser utilizada como elo de interação entre os vários campos do conhecimento, colaborando sobremaneira na construção da interdisciplinaridade no âmbito da escola, elaborando a comunicação entre as possibilidades e limites próprios da ciência e a expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios gerados pelo mundo atual com o mais remoto passado, enfim promovendo o desenvolvimento do potencial humano através de situações que favoreçam a leitura do mundo de maneira ampla, rica e profunda (George, 2007 apud Oliveira, Lima, Souza, s/d).

A liberdade proporcionada pela arte-terapia faz com que o individuo explore o seu mundo imaginário e transforme a ficção em realidade, assim as atividades lúdicas seriam intercessoras do progresso pedagógico colaborando para tornar a sala de aula um ambiente alegre e favorável para o ensino e aprendizagem. A forma lúdica de ensinar permite ao aluno descobrir sua criatividade melhorando o comportamento diante do processo de ensino-aprendizagem e melhorando a auto-estima, o que faz o aluno perceber que faz parte do ensino (Batista, Fernandes, 2015).

A arte-terapia é uma forma lúdica de articular o processo de ensino aprendizagem, pois a mesma através de suas atividades desperta nos alunos o estimulo necessário para responder aos ensinamentos propostos pela educação. O lúdico utilizado como ferramenta educacional motiva o desenvolvimento integral do aluno (Batista, Fernandes, 2015).

A arte-terapia é entendida de maneira interdisciplinar, onde o professor não é apenas um reprodutor de conteúdos, mas um formador de opiniões e transformador de sentimentos, o qual consegue através de planejamento e objetivos elaborados estrategicamente realizar uma educação que dignifica o aluno em todos os contextos (Batista, Fernandes, 2015).

Para que o processo ensino aprendizagem tenha êxito o professor embasa-se em técnicas de expressão e vivencias reproduzidas em desenhos, pinturas, colagem, modelagem, artes cênicas, musicalidade como linguagem corporal e artes visuais, que devem favorecer o desenvolvimento das habilidades de socialização e integração dos alunos com o processo de ensino aprendizagem (Batista, Fernandes, 2015).

Para Ciornai (2010, p. 46 apud Batista, Fernandes, 2015):

A arte-terapia promove tais benefícios, na medida em que exerce o poder de integrar à realidade à fantasia, consolidando os alicerces subjetivos do mundo interno e objetivos do mundo exterior, fazendo falar aqueles conteúdos que, até então, se encontram suprimidos na psique. Através da emergência, da promoção e compreensão desses conhecimentos, o individuo pode se compreender melhor, além de propiciar o desenvolvimento da personalidade individual e grupal.

METODOLOGIA

A investigação em Arte-terapia baseia-se em leituras e estudo bibliográfico de trabalhos realizados por outros autores. Apresentam a definição de artes, conceitos e definições de arte-terapia, histórico da arte-terapia e os pioneiros da arte-terapia no mundo e no Brasil.

O estudo bibliográfico trabalha com dados secundários, ou seja, material já publicado por outros autores, como teses, dissertações, livros, artigos de periódicos e materiais disponibilizados na internet, e geralmente constituem a fase inicial do projeto de pesquisa. A vantagem deste tipo de estudo é a facilidade de acesso às informações, e a facilidade do desenvolvimento da pesquisa uma vez que as informações já foram coletadas por terceiros (Silva, 2005).

Trata-se ainda de uma pesquisa básica com o interesse de gerar conhecimentos, contudo esses não são práticos, ou seja, não serão aplicados diretamente na prática, com abordagem qualitativa, pois não tem representatividade da realidade (Prodanov, Freitas, 2013).

Segundo Prodanov e Freitas (2013) a pesquisa qualitativa:

Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objeto e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Essa não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Tal pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem (p.70).

A pesquisa qualitativa não pode ser traduzida em números, por esse motivo as interpretações podem variar de autor para autor. O pesquisador neste tipo de pesquisa é o foco principal e a tendência é que o mesmo analise de forma intuitiva os dados coletados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A arte nos acompanha desde os primórdios de nossa história, as gravações feitas em pedra e papel, propiciou para os seres humanos o conhecimento de sua história ao longo dos tempos. A arte são formas de registro de acontecimentos importantes para a humanidade, assim podemos dizer que a arte contribui para a construção do conhecimento do ser humano, e nas escolas torna-se importante pois pode ajudar crianças com dificuldades.

A arte na educação favorece a criatividade da criança, desenvolvendo a imaginação através das formas e cores empregadas, auxilia na expressão tanto oral quanto escrita fazendo com que a criança mostre o conhecimento através da história de seu desenho.

A psicologia utiliza-se da arte para trabalhar problemas relacionados à aprendizagem do indivíduo e problemas emocionais, pois a técnica proporciona um diálogo interior, e as emoções relacionadas neste diálogo são representadas através das cores aplicadas na arte. É possível reduzir níveis de ansiedade dos indivíduos através da utilização de técnicas de arte-terapia. Com as ferramentas utilizadas na arte-terapia os alunos começam a perceber as diferentes emoções que estão presentes em seu dia-a-dia. Por fim, a arte-terapia permite a evolução do indivíduo e a promoção do desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

Assis, A.M.M. de. (2013). Os efeitos da arteterapia na aprendizagem: uma análise do desempenho de alunos concluintes do Ensino Fundamental de uma escola pública. 217 f. (Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Ciências da Educação, pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias). Lisboa.

Batista, M.V. da S., Fernandes, R.P.P. (2015). O uso do lúdico e da arteterapia no processo de ensino e aprendizagem de língua portuguesa e no desenvolvimento das habilidades de leitura e produção textual. XIX Congresso Nacional de Linguística e Filosofia. CiFEFiL, Rio de Janeiro.

Bittencourt, L. (2011). A contribuição da arte no desenvolvimento infantil: primeiros passos rumo à autonomia. 102 f. (Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes da UNESP). São Paulo.

Ferreira, L.H.; Bonomi, M.C. (2011). Arteterapia: a mudança do olhar em educação. Revista de Arteterapia da AATESP, vol. 2, n. 1.

Lucas, M.P. de. (2012). Arteterapia en femenino. 42f. (Trabajo fin de especialidad) Universidad Autonoma de Madrid. Septiembre.

Menezes, T.D. (2013). Fronteira entre a Arteterapia e a Arte/Educação: uma narrativa ficcional em contexto hospitalar. 44 f. (Trabalho de Conclusão de Curso de Artes Plásticas, habilitação em Licenciatura, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília). Brasília.

Oliveira, M.A.C., Lima, S.V.R. de, Souza, F.M. de. (s/d). Contribuição da disciplina arteterapia na formação do psicopedagogo.

Prodanov, C.C.; Freitas, E.C. (2013). Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2ª Ed. – Novo Hamburgo: Feevale.

Schambeck, L.D. (2004). Arte-terapia na terceira idade: busca da felicidade, prezer, integração e promoção da saúde. 82 f. (Monografia Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para obtenção do título de especialista em Saúde Pública e Ação Comunitária). Criciúma.

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Silva, A.F., Schultz, C., Machado, I.H. (s/d). A arte-educação no cotidiano escolar. FAMEG.

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[1] Doutoranda pela Universidade Internacional  Ibero-Americana – UNINI, México. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, São Paulo. Pós-Graduada em Educação Especial – Deficiência Mental pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Jandaia do Sul – FAFIJAN, Paraná. Pós Graduada em: Arte, Educação e Terapia; Educação a Distância com Ênfase na Formação de Tutores pela Faculdade São Braz. Graduada em  Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM, Paraná. Psicóloga, Pesquisadora; atualmente Docente  do Curso de Graduação em Pedagogia e Direito da Faculdade de Paraíso do Norte – FAPAN, Paraíso do Norte-Pr.

Enviado: Setembro, 2018.

Aprovado: Junho, 2019.

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Rosely Yavorski

3 respostas

  1. Seu artigo me ajudou muito com a dúvida da minha pós!
    Amei o assunto do início ao fim! Parabéns e obrigada por essa publicação rica e apaixonante!

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