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Gênero: parte da essência do ser humano ou uma construção sociocultural?

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

NASCIMENTO, Marcelo Victor Rodrigues do [1]

NASCIMENTO, Marcelo Victor Rodrigues do. Gênero: parte da essência do ser humano ou uma construção sociocultural? Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 07, Vol. 07, pp. 132-172. Julho de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/teologia/construcao-sociocultural

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo realizar uma análise de três trabalhos científicos e um documentário (com informações científicas) que tratam das questões de gênero, a fim de verificar se gênero faz parte da essência do ser humano ou é uma construção sociocultural. Para tanto, foi apresentada, inicialmente, uma síntese de cada um dos trabalhos científicos, bem como, do documentário, com vistas a verificar quais eram os postulados defendidos pelos autores. Na sequência, foi feita uma análise e discussão acerca dos dados apresentados pelos autores. De posse das informações obtidas, concluiu-se que gênero não é uma construção sociocultural, mas faz parte da essência do ser humano, definindo papéis distintos para homens e mulheres desde o nascimento, os quais podem ser reforçados ou atenuados durante a vida, mas nunca totalmente apagados.

Palavras-chave: gênero, sexo, igualdade, desigualdade, papel social.

1. INTRODUÇÃO

A ciência pode ser concebida como uma atividade humana racional que tem como objetivo primeiro descrever fielmente a realidade, confrontando as teorias propostas pelos cientistas com o maior número de fatos reais, a fim de qualificá-las ou refutá-las como verdade (BATISTA; BATISTA; SCHRAMM, 2005, p. 240, 242; ROVER; DUARTE;CELLA, 2008, p. 3236).

Nesse processo de produção de conhecimento, cabe ao pesquisador uma participação ativa, elegendo os fatos que merecem ser observados. Contudo, embora possa escolhê-los, o pesquisador não possui poder sobre os mesmos, uma vez que eles se impõem, por si próprios, de forma concreta e objetiva (mais realista possível) (ROVER; DUARTE; CELLA, 2008, p. 3232, 3234).

Além das questões éticas envolvidas na pesquisa científica, isto é, o compromisso com a verdade, a investigação requer um rigor científico, obtido por meio de métodos adequados que possibilitem padronizar os resultados (ROVER; DUARTE; CELLA, 2008, p. 3232, 3234).

Assim sendo, a ciência verdadeira não é (e não pode ser) fruto de convenções arbitrárias, que implicam em aparente certeza, como resultado de uma obra artificial do cientista, mas, o produto de procedimentos sistemáticos e racionais que, com maior confiança e economia, possibilitam obter conhecimentos pertinentes e válidos, delineando um percurso a ser seguido, constatando as incorreções e assessorando o cientista na tomada de decisão (VIZZOTTO et al., 2016, p. 117).

O conhecimento é classificado pela maior parte dos pensadores como uma crença verídica e fundamentada, isto é, uma crença que, além de verdadeira, esteja apoiada em pilares sólidos, de tal sorte que, quando a fundamentação, por questões pragmáticas, mostra-se não apropriada à crença, o conhecimento é substituído, e, assim, a ciência aprimora o rol de conhecimentos adquiridos pela humanidade (ROVER; DUARTE; CELLA, 2008, p. 3236; ).

Segundo Rover; Duarte; Cella (2008, p. 3239), há uma corrente de pensadores relativistas, como o sociólogo francês Edgar Morin, que defende a tese de que a ciência varia de acordo com a cultura, de tal forma que, variando esta, os conhecimentos científicos igualmente mudam. Entretanto, ainda que haja desconformidades culturais quase intransponíveis entre os povos, é possível perceber que o cerne do arcabouço de conhecimentos é comum em todas as culturas, como ocorre, por exemplo, com a condição anátomo-fisiológica dos seres humanos.

Quanto ao método científico, seja ele indutivo, dedutivo ou hipotético-dedutivo, o que importa é compreender a verdade como ela é e não como o pesquisador gostaria que fosse, ainda que, segundo o filósofo austríaco Karl Popper, a verdade absoluta seja um mito e o estado da ciência seja sempre provisório.

Para tanto, o pesquisador deve trabalhar com aquilo que Popper chama de “falseamento”, ou seja, deve colocar as hipóteses à prova, buscando não somente evidências de que elas estejam corretas, mas, sobretudo, indícios de que elas estejam incorretas; caso determinada hipótese não resista à prova, diz-se que ela foi “falseada” (SILVEIRA, 1996, p. 204; VIZZOTTO et al., 2016, p. 119).

Diante dos conceitos supracitados que regem a produção de conhecimento científico, este artigo tem por objetivo analisar três trabalhos científicos e um documentário que tratam especificamente da “ideologia de gênero”, abaixo discriminados, a fim de verificar se, na concepção dos autores, gênero faz parte da essência do ser humano (da substancialidade) ou é uma construção sociocultural, constituindo-se em um tema atual e de profunda relevância, debatido nos maiores veículos de comunicação de todo o mundo:

1) “Gênero: o que é e o que não é ideologia” (CARVALHO, s/data).

2) “O discurso cristão sobre a ‘ideologia de gênero” (MACHADO, 2018).

3) “Ideologia de gênero: uma falácia construída sobre os planos de educação brasileiros” (REIS e EGGERT, 2017).

4) “O paradoxo da igualdade” (EIA, 2010, citado por GRACINDO, 2013).

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 METODOLOGIA:

Segundo Gerhardt e Silveira (2009), a metodologia empregada neste trabalho científico pode ser classificada como:

1) Qualitativa, em virtude de estar focado na compreensão e elucidação da dinâmica dos relacionamentos entre as pessoas;

2) Aplicada, por propor soluções para óbices específicos;

3) Explicativa, uma vez que busca reconhecer os aspectos que causam ou que cooperam para o acontecimento dos fenômenos;

4) Bibliográfica, à medida que analisa as diversas posições acerca de uma dificuldade.

A escolha dos trabalhos científicos foi realizada aleatoriamente, sendo os três primeiros favoráveis e o último desfavorável à ideologia de gênero.

2.2 DEFINIÇÕES:

Com vistas a melhorar a compreensão dos termos usados neste trabalho científico, faz-se necessário definir algumas palavras, de acordo com a literatura corrente:

      • Essência: aquilo que é característico de algo, que o torna o que é, naquilo que consiste (MORA, 1978).
      • Espécie: termo entendido, no domínio da biologia, como um tipo biológico bem definido por características hereditárias e subordinado a um outro tipo mais amplo (gênero) (ABBAGNANO, 2007).
      • Gênero: seres da mesma espécie; no caso do homem, o “gênero humano” (ABBAGNANO, 2007).
      • Homem: definido, desde a antiguidade clássica, como um animal racional (com capacidade de juízo), cuja natureza racional o impele a viver em sociedade e a aprimorar-se, não por instinto, mas através da educação, acumulando vivências e experiências (ABBAGNANO, 2007).
      • Identidade: conjunto de características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível individualizá-la; relação de total semelhança entre duas coisas, possuindo as mesmas características essenciais (JUPIASSÚ E MARCONDES, 2001, p. 99).
      • Ideologia: de uma forma geral, ideologia significa uma crença (no significado mais amplo) usada para controlar os comportamentos coletivos, podendo estar fundada em elementos objetivos e realizáveis, ou subjetivos e não realizáveis; no sentido neutro, significa a soma de ideias, conceitos e valores que espelham uma determinada visão de mundo, orientando as ações, sobretudo na esfera política;
      • Ideologia de Gênero: crença, originária da literatura feminista da década de 70,  de que “sexo” é o aspecto biológico do ser humano e “gênero”, a construção social ou cultural do sexo, de sorte que cada pessoa seria absolutamente livre, sem condicionantes, nem sequer o biológico, para determinar seu próprio gênero, dando‑lhe o sentido que quisesse e mudando de gênero quantas vezes pretendesse, tornando, assim, todo e qualquer tipo de união entre os sexos socialmente aceita como matrimônio e moralmente boa (SCALA 2012, citado por REIS E EGGERT, 2017, p. 16,17).
      • Ser: expressão considerada, na esfera filosófica, não só como o verbo “existir”, mas também como um substantivo que indica “tudo o que é”, apontando para identidade; na linguagem popular, “ser” e “existir” têm sido usados como sinônimos, de tal forma que “ser” significa “o fato de existir” (ABBAGNANO, 2007).
      • Substância: etimologicamente falando, substância é aquilo que está debaixo da aparência; é uma palavra usada para designar a essência do ser, algo individual, irredutível, único, que não está noutra coisa; é algo que se determina a si mesmo e se basta ontologicamente a si mesmo (MORA, 1978).
      • Pessoa: na acepção clássica, o termo deriva da máscara que cobria o rosto de um ator quando ele desempenhava um papel no teatro (um personagem); para Santo Agostinho, o termo ganhou configuração de algo íntimo; para Boécio, a pessoa é uma substância individual de natureza racional; para Leibniz, a palavra “pessoa” traz consigo a ideia de um ser pensante e inteligente, que é capaz de razão e de reflexão; para Kant, pessoa é ser livre e independente, que está submetido a leis próprias, estabelecidas pela própria razão, sendo um fim em si mesmo e não podendo ser substituído por outro (MORA, 1978).

2.3 SÍNTESE DOS TRABALHOS:

2.3.1 PRIMEIRO TRABALHO:

“Gênero: o que é e o que não é ideologia” (CARVALHO, s/data).

A autora iniciou a sua apresentação definindo a palavra conceito como uma imagem abstrata da realidade, ressaltando a importância de que os ideólogos de gênero busquem aquilo que chamou de “alfabetização conceitual, crítica e científica” no trato das questões de gênero, com vistas a enriquecer o discurso e dar um caráter científico às proposições.

Ela lembrou que os conceitos são históricos e têm como objetivo atuar como “lentes críticas” para a análise e explicação das dificuldades sociais, com dois significados básicos para ideologia:

1) O conjunto de crenças e valores de caráter político, que visam direcionar as condutas públicas (significado forte); e

2) Uma falsa ideia das relações de dominação de classe, denotando uma ilusão decretada socialmente e contrastando os conceitos científicos com o senso comum (significado fraco).

No tocante ao gênero, a autora afirmou acreditar que a desigualdade de sexo, a dominação de gênero e a coerção que sofrem as mulheres possuem uma explicação ideológica, qual seja: a superioridade física, intelectual e moral dos homens.

As teses que defende têm origem no pensamento das feministas da década de 70, as quais afirmavam que a causa dos problemas de gênero é sociocultural e não biológica e natural, fazendo parte de um constructo histórico, sociocultural e educacional da ideia de feminilidade e masculinidade, estribada na diferença anátomo-fisiológica entre os sexos.

Assim sendo, a conclusão natural, na sua concepção, é que “gênero não é sexo”, havendo uma discrepância clara entre as definições de sexo, sexualidade, gênero, identidade de gênero e orientação sexual.

Sexualidade, segundo a autora, é o modo pelo qual as pessoas experimentam desejos e prazeres, segundo processos culturais e plurais, de tal forma que, na concepção tradicional, o macho é descrito como “naturalmente ativo, agressivo e sádico” e a fêmea, por sua vez, como “naturalmente passiva, masoquista e narcisista”, limitada à maternidade.

Dessa forma, na visão tradicional, gênero seria uma identidade socialmente binária de dominação simbólica (forte x fraca, dominador x dominada), na qual a ordem patriarcal termina por dividir o mundo em dois: o mundo do macho e o mundo da fêmea. Dessa concepção, segundo a autora, é que resultam os diversos tipos de violência, como estupro, feminicídio, degradação ambiental, guerras, etc.

Desassociar “sexo” e “gênero”, na opinião da autora, é algo positivo que faz com que gênero não seja visto como determinação do sexo biológico e que a sexualidade seja separada do gênero, desfazendo-se, assim, os papeis sociais estipulados culturalmente (macho-masculino, fêmea-feminino) e permitindo que a heteronormatividade deixe de ser vista como algo natural.

Em outras palavras, para a autora, a sociedade precisa entender que sexo (macho/fêmea) não determina gênero (masculino/feminino), nem tampouco, determina a orientação sexual (heteroafetividade/homoafetividade).

Conforme relata a autora, a partir da década de 90, a teorização feminista apontou os conceitos de “sexo”, “corpo” e “gênero” como culturalmente erigidos, de forma que a produção da masculinidade e da feminilidade deixou de estar presa ao corpo biológico dos indivíduos, podendo ser pluralizada e diversificada ao longo da vida.

A partir dos novos conceitos feministas a diferença entre os pôde ser considerada o grande vilão das desigualdades sociais, que se sustentam, segundo acreditam as feministas, por causa das diferenças corporais, psíquicas e sociais, as quais são usadas para classificar e ordenar hierarquicamente indivíduos como homens e mulheres e para distinguir as expressões de masculinidade e feminilidade.

Segundo as feministas supracitadas, as concepções tradicionais de gênero são responsáveis por trazer para o seio da sociedade algumas condutas negativas, tais como: sexismo (discriminação de sexo), machismo (subordinação das mulheres), androcentrismo (dominação de normas e valores masculinos), misoginia (depreciação das mulheres e dos valores femininos), heterossexismo (rejeição dos que assumem sexualidade diferente da heterossexualidade) e pensamento análogo ao racismo.

Com relação às últimas décadas do século XX, a autora citou dois movimentos importantes que ocorreram no cenário mundial, um favorável e outro desfavorável à causa feminista, quais sejam:

1) A IV Conferência Mundial da Mulher, realizada em 1995, em Pequim, que identificou 12 áreas prioritárias para mudar a situação das mulheres no mundo; e

2) Movimento conservador transnacional, formado por grupos religiosos cristãos, católicos e evangélicos, que visou denunciar a “ideologia de gênero” no final da década de 90 e início do ano 2000.

Para o sociólogo Rogério Junqueira, citado pela autora, o movimento conservador, supracitado, tratou-se de um “ativismo reacionário católico”, originado no Pontifício Conselho para a Família, criado pelo papa João Paulo em 1981, com os seguintes objetivos:

1) Recuperar o espaço das igrejas na sociedade, as quais passam por um forte processo de secularização;

2) Conter o avanço dos movimentos opositores; e

3) Restaurar a tradicional ordem de sexo (heteronormatividade) e gênero (dominação masculina).

Dessa reação católica, conforme relata a autora, surgiu a noção e o título “ideologia de gênero”, algo classificado, pelos católicos, como:

…uma forma de ‘doutrinação neototalitária’, de raiz marxista e ateia (…) camuflada em discursos sobre emancipação, liberdade e igualdade (…) uma imposição do imperialismo cultural dos Estados Unidos da América, da ONU, da União Europeia e das agências e corporações transnacionais dominadas por ‘lobbies gays’, feministas, juntamente com defensores do multiculturalismo e do politicamente correto, extremistas ambientalistas, neomarxistas e outros pós-modernos (JUNQUEIRA, 2017, citado por CARVALHO, s/data).

Para a autora, a ideologia de gênero, como um conjunto de ideias e valores, possui duas vertentes, quais sejam:

1) Ideologia Criacionista (religiosa) ou Biologista (pseudocientífica), que acredita que o gênero é determinado pelo sexo biológico e que gênero e sexualidade só devem expressar-se no marco da heterossexualidade; e

2) Ideologia Construcionista, que acredita que gênero é uma instituição social, fruto da divisão do trabalho, das relações sociais e das identidades sociais e individuais.

De acordo com sua tese, a ideologia de gênero criacionista sentencia, como anormais, imorais e pecadoras, as mulheres que querem fazer trabalhos de homem (governar, pilotar aviões, fazer pesquisa científica, etc.) e as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros, travestis, queer e intersexo, que querem, tão somente, gozar dos seus direitos humanos.

Já a concepção construtivista possibilita que a diversidade e a liberdade possam ser expressas muito além das categorias de homem ou mulher (modelo único), representando, para a autora, a esperança de um mundo mais justo e solidário.

Ela discorda da concepção usual de que os homens sejam potencialmente violentos e as mulheres sejam naturalmente “burras”, “escravas”, “saco de pancada” e “domésticas”, apontando a pluralidade sexual como mais propícia à saúde psíquica e à convivência e coesão social.

Outro aspecto destacado pela autora refere-se às questões relacionadas à identidade, algo definido como uma das dimensões do gênero e considerada como cultural, pelo sociólogo britânico-jamaicano Stuart Hall, nos seguintes termos:

As identidades estáveis, contínuas, coerentes, fixas e unificadoras do indivíduo proporcionaram a incorporação de significados culturais, alinhando o interior com o exterior e estabilizando sujeito e estrutura social (HALL, 2004; citado por CARVALHO, s/data).

Assim sendo, a autora entende que a concepção de que gênero faz parte da substância do ser humano (concepção essencialista) não mais se sustenta e deve ser substituída pelo conceito de que a identidade é algo sociocultural.

Esses novos conceitos feministas foram responsáveis por desencadear uma verdadeira guerra na elaboração das políticas educacionais brasileiras, especificadas no Plano Nacional de Educação 2014-2024 e na Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Foram ataques desferidos por um grupo, chamado, pela autora, de “grupos religiosos fundamentalistas”, os quais também reconheciam a escola como um espaço estratégico para a formação dos cidadãos e para produzir identidades, assim como as feministas.

Um desses grupos reacionários, tinha por nome “escola sem partido”, o qual, segundo a autora, elaborou um projeto de lei do mesmo nome, que visava formar uma escola com uma ideologia única, baseada numa crença religiosa tradicional e na heteronormatividade. Contudo, na visão da autora, tal ideia contraria a constituição de 1988, que assegura que a escola é um espaço para todas as famílias.

Para a autora, garantir igualdade de oportunidades, de aprendizagem e de desenvolvimento humano para meninos e meninas, ensinado sobre as relações de gênero na sala de aula, não representa praticar doutrinação ideológica totalitária na escola, como proclamavam falsamente os defensores do projeto “escola sem partido”.

Para ela, trata-se de uma oportunidade de erradicar um pensamento que discriminou e oprimiu, historicamente, mulheres e membros de grupos minoritários, e que perverteu a identidade do homem, enaltecendo os aspectos de “dominadores” e “violentos”, responsáveis por engrossar as filas das penitenciárias.

Ela não nega a biologia e nem repele a religião, mas entende que é necessário mudar a cultura, sob as seguintes alegações:

1) A biologia não cria, naturalmente, seres violentos (os homens) e seres submissos (as mulheres);

2) Os biólogos não teorizam gênero (não entendem de comportamento), mas veem somente o que a natureza lhes fala; e

3) Dentro das próprias religiões, há controvérsias sobre o tema, não havendo consenso.

Assim sendo, sem desfazer tanto da biologia quanto dos religiosos, a autora diz que a sua luta é para implantar a “cultura da paz”, cabendo à sociedade escolher que concepção ideológica é realmente benéfica à humanidade e ao desenvolvimento individual, oportunizando realização humana para todos/as.

2.3.2 SEGUNDO TRABALHO:

“O discurso cristão sobre a ‘ideologia de gênero” (MACHADO, 2018).

Segundo a autora, a construção do discurso sobre “ideologia de gênero” partiu da igreja católica, na década de 90, por ocasião da realização da Conferência Mundial da Mulher, organizada pela ONU, em Pequim, no ano de 1995, na qual representantes do Vaticano e delegadas de ONGs cristãs norte-americanas discordaram da maioria das passagens que citavam a expressão “gênero”, nas propostas feitas pelas líderes feministas que lá estiveram.

Apesar das fortes convicções feministas, a autora confessa que os assuntos referentes a gênero transitam em um terreno movediço, com controvérsias existentes entre as próprias feministas acerca do real significado de tal expressão.

De acordo com a filósofa pós-estruturalista Judith Butler (2004), citada pela autora, os prepostos católicos que estiveram presentes no evento supracitado intentavam reafirmar a concepção de mulher oriunda da biologia, reforçando os papéis atribuídos a ela tradicionalmente (o de esposa e o de mãe). Para tanto, eles pressionaram as lideranças da Conferência para substituir o termo “gênero” pela palavra “sexo”, restabelecendo o conceito biológico de reprodução como o destino social da mulher.

Naquela ocasião, disse a autora, os prepostos católicos tentaram desqualificar os argumentos feministas, associando-os a uma espécie de “cultura da morte”, tanto no que se refere à liberação do aborto, quanto ao homossexualismo, ambas condutas contrárias à concepção.

Conforme ela relata, nos anos seguintes à Conferência, algumas manobras foram perpetradas pela liderança católica, a fim de frear o movimento feminista, tais como:

      • Vincular a radicalização feminista ao marxismo, como forma de negativá-lo;
      • Associar a perspectiva de gênero ao marxismo, ao ateísmo e à “visão construcionista”, que negam a dimensão natural e instintiva de homens e mulheres;
      • Identificar o alastramento da “ideologia de gênero” como um dos fatores responsáveis pela gradual desestruturação da instituição matrimonial;
      • Refutar as colocações da Antropologia Moderna acerca da construção social dos gêneros, dizendo que o masculino e o feminino pertencem ontologicamente à criação e, por conseguinte, estão destinados a perdurar além do tempo presente;
      • Publicar obras literárias, tal como o livro do advogado e professor de bioética argentino Jorge Scala, cujo título é “Ideologia de Gênero: neototalitarismo e morte da família”, a fim de combater o movimento, os quais classificaram a “ideologia de gênero” como uma ferramenta de poder global capaz de levar o mundo a um regime totalitário, como ocorreu na Alemanha nazista;
      • Arrecadar fundos com a venda dos livros para financiar movimentos de “ativistas religiosos” contrários à demanda feminista de descriminalização do aborto.

Com relação ao Brasil, a autora reporta que, desde 1995, os governantes fizeram caminhar, a passos largos, a agenda favorável à “ideologia de gênero”, promovendo conferências, distribuindo cargos públicos a ativistas, firmando convênios, instituindo comissões, aprovando leis e programas para incorporar os termos ‘gênero” e “orientação sexual’ na educação brasileira, etc.

Nessa empreitada, tanto católicos brasileiros como evangélicos se uniram no Congresso Nacional, a fim de impedir a aprovação de leis que favorecessem à causa feminista. Os católicos traziam, como bandeira, o combate ao aborto; os evangélicos, por sua vez, a questão da sexualidade, pois viram-se ameaçados com a proposta de criminalizar a homofobia.

Nessa disputa, segundo a autora, foram produzidos, por parte de grupos religiosos, diversos materiais (cartilha, artigos, etc.), os quais foram divulgados através de sites cristãos e distribuídos nos municípios brasileiros, a fim de popularizar o discurso da “ideologia de gênero”. Foi o caso de uma cartilha produzida em 2015, que trazia o seguinte alerta: “Conheça esta ideologia e entenda o perigo que você e seus filhos estão correndo!”.

Nas considerações finais do artigo, a autora polariza a temática, mostrando que, na sua concepção, há dois grupos de verdadeiros “inimigos” e não de pessoas com opiniões distintas, que precisam debater ideias democraticamente. Ao contrário, ela conclama as feministas para aquilo que intitula como uma verdadeira “guerra cultural”, onde haverá vencedores e perdedores.

Para ela, de um lado estão os “cristãos extremistas”, com seus valores bíblicos, suas concepções heteronormativa e conceito patriarcal da sociedade. Do outro, estão os setores sociais que valorizam a autonomia dos sujeitos sobre seus corpos e sobre suas sexualidades.

Na concepção da autora, as feministas estão do lado da linguagem política global, usada pelas agências internacionais, e dos princípios naturalistas desenvolvidos pela ciência moderna, os quais ajudaram a atualizar o discurso cristão da criação da espécie humana por Deus.

Já os seus “inimigos”, os ativistas tradicionais, adotam um discurso religioso sem fundamentação científica, os quais, por falta de argumentos científicos, são obrigados a apelar para o juízo moral como um axioma, falseando a realidade. Não satisfeitos, tais religiosos, defensores da biologia e das concepções tradicionais, vão mais além e utilizam fieis do sexo feminino, com nível universitário, em suas campanhas, a fim de melhorar a retórica e dar um caráter científico ao movimento.

A presença das ativistas cristãs em meio aos movimentos tradicionais, segundo a autora, não passa de uma estratégica para mostrar que as igrejas não são “androcêntricas” e para perpetuar a histórica desvalorização social das mulheres nas nações ocidentais.

Ela conclui o artigo, afirmando que aceitar a “ideologia de gênero” significa admitir que é preciso mudar a organização e o esquema de autoridade das denominações religiosas, bem como a lógica dos partidos políticos e da sociedade como um todo, algo que é odiado pelos sacerdotes religiosos e pelos governantes, pois o que eles realmente desejam é manter seus privilégios e postos de comando. Combatê-la representa rechaçar a causa feminista a favor do aborto e replicar a histórica associação da mulher com o papel materno e com a fórmula tradicional de família cristã.

2.3.3 TERCEIRO TRABALHO:

“Ideologia de gênero: uma falácia construída sobre os planos de educação brasileiros”  (REIS e EGGERT, 2017).

Após relatar os fatos históricos que envolveram suas experiências de militância na luta contra a homofobia, suas participações nos debates realizados em conferências e suas presenças na elaboração do Planos Nacional, Estadual e Municipal de Educação do Paraná, os autores fazem a seguinte pergunta retórica: “Por que misturar gênero com ideologia?”.

Para respondê-la, os autores citam inicialmente o advogado argentino e professor de bioética Jorge Scala como um dos autores responsáveis por propagar o termo e o conceito de “ideologia de gênero” como algo radical, relacionando-o à imposição de ideias, através do seu livro intitulado “Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família”.

Segundo reportam os autores, os motivos que teriam levado Scala a escrever um livro depreciativo sobre a ideologia de gênero foram as seguintes dúvidas:

1) Por que a ONU criou uma Agência do Gênero que se dedica a pressionar todos os organismos e programas da ONU para incluir o gênero?

2) Por que a União Europeia e o Banco Mundial condicionarem os empréstimos para o desenvolvimento dos países pobres à difusão de Gênero?

3) Por que as questões de gênero foram incorporadas ao sistema educacional do seu país?

Conforme os autores, Scala faz críticas aos dizeres da Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, no ano de 1995, que diz o seguinte:

Em vários países, as diferenças entre as realizações e as atividades da mulher e do homem, ao invés de serem reconhecidas como consequência de funções socialmente estabelecidas para cada sexo, continuam sendo atribuídas a diferenças biológicas imutáveis” (UNFPA, 1995, p. 159, citado por SCALA, 2012).

Para desmistificar tais palavras da Plataforma supracitada, Scala faz a seguinte contraposição:

Seu fundamento [da ideologia de gênero] principal e falso é este: o sexo seria o aspecto biológico do ser humano, e o gênero seria a construção social ou cultural do sexo. Ou seja, que cada um seria absolutamente livre, sem condicionamento algum, nem sequer o biológico, para determinar seu próprio gênero, dando‑lhe o conteúdo que quiser e mudando de gênero quantas vezes quiser. Agora, se isso fosse verdade, não haveria diferenças entre homem e mulher — exceto as biológicas; qualquer tipo de união entre os sexos seria social e moralmente boas, e todas seriam matrimônio; cada tipo de matrimônio levaria a um novo tipo de família; o aborto seria um direito humano inalienável da mulher, já que somente ela é que fica grávida; etc. Tudo isso é tão absurdo, que só pode ser imposto com uma espécie de “lavagem cerebral” global […] O gênero destrói a estrutura antropológica íntima do ser humano… (SCALA, 2012).

Para os autores, o termo “ideologia de gênero” surgiu em meio aos debates que ocorreram em torno dos Planos de Educação Estaduais, nos quais a referida expressão foi utilizada exatamente por aqueles que defendiam posições tradicionais e fundamentalistas, os quais, citando autores como Scala, afirmavam que a “ideologia de gênero” significava a desconstrução dos papéis tradicionais de homem e mulher.

Assim sendo, a expressão ideologia de gênero, na verdade, possui, segundo acreditam os autores, um significado pejorativo, sendo parte de uma estratégia maior que visa associar as concepções defendidas pelas feministas com algo reprovado pela sociedade contemporânea, explorando o sentido ruim da palavra ideologia, que lembra “comunismo”, “ditadura”, “totalitarismo”, etc.

Conforme mostram os autores, tal postura é ratificada através dos seguintes dizeres, explicitados no site oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):

As expressões “gênero” ou “orientação sexual” referem‑se a uma ideologia que procura encobrir o fato de que os seres humanos se dividem em dois sexos. Segundo essa corrente ideológica, as diferenças entre homem e mulher, além das evidentes implicações anatômicas, não correspondem a uma natureza fixa, mas são resultado de uma construção social. Seguem o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, fazem‑na mulher (sic)”. Assim, sob o vocábulo “gênero”, é apresentada uma nova filosofia da sexualidade. (RIFAN, 2015)

Segundo tal site, a CNBB afirma que aqueles que adotam o termo gênero não possuem o intento de combater a discriminação, mas sim de desconstruir a família, o matrimônio e a maternidade, e, desse modo, fomentar um “estilo de vida” que incentiva todas as formas de experimentação sexual, desde a mais tenra idade.

Para os autores, do ponto de vista da moral cristã, as mulheres feministas e as pessoas do grupo LGBT foram praticamente transformadas em uma “força do mal” por parte dos fundamentalistas cristãos. No entanto, ao contrário do que se pensa, o que se pretendia com o movimento feminista era, simplesmente, fazer com que a sociedade superasse as desigualdades educacionais, apenas isso.

Na concepção dos autores, se os defensores da igualdade entre os sexos podem ser chamados de “totalitaristas” e “nazistas”, os tradicionalistas podem, igualmente, receber tal alcunha, uma vez que desejam impor suas convicções, a fim de manter as desigualdades de gênero. Nesse propósito, eles manipulam pessoas sem senso crítico por intermédio de uma ideologia fascista e sem fundamento científico, com vistas a manter as meninas e as mulheres em situações inferiores aos meninos e homens.

Assim sendo, na visão dos autores, foi criada, propositalmente, uma falácia apelidada de “ideologia de gênero”, que, segundo os ativistas religiosos, levaria à destruição da família tradicional, à legalização da pedofilia, à deturpação da ordem natural das coisas e ao fim das relações entre os gêneros. Tal opinião representa, segundo eles, um descaso completo com os números reais da discriminação e da violência contra mulheres e pessoas LGBT, comprovadas por dados oficiais e estudos científicos.

Conforme asseguram os autores, numa manobra astuta, os ativistas religiosos usaram-se de desonestidade intelectual, criando postulados sem bases científicas e replicando‑os nas mídias sociais, a fim de serem massificados nas mentes da população como verdades indiscutíveis, numa espécie de “terrorismo moral”, que praticamente demonizou aqueles que são partidários do respeito à igualdade de gênero e à diversidade sexual na esfera da educação.

Essa campanha tradicionalista partiu para o lado da intimidação dos profissionais de educação, através de notificações extrajudiciais e de ameaça de processo contra quem ousasse abordar tais assuntos em sala de aula, numa tentativa de riscar o assunto “gênero” do currículo escolar.

Na visão dos autores, a política de deturpação dos reais interesses do movimento deve ser combatida, no sentido de erradicar o conceito binário de gênero, que, segundo acreditam, relega o feminino a um plano inferior e serve, tão somente, para reforçar as desigualdades, originadas, basicamente, no modelo patriarcal.

Os autores destacam, ainda, o fato de que um dos principais motivos da luta contra o tradicionalismo é o combate à violência contra o gênero feminino, algo que é visto como natural por muitos. Nas suas concepções, o ponto de partida da violência está no âmbito da educação, de tal forma que as escolas constituem o instrumento apropriado para iniciar um processo de transformação da sociedade, formando cidadãos críticos e empenhados com a “cultura da paz”.

Para tanto, o autor sugere a necessidade do diálogo entre as partes de forma civilizada, a fim de superar as diferenças, com a participação ativa de pessoas do mundo acadêmico e religioso, que possam contribuir com posicionamentos que apontem para a moderação dos extremismos e a convivência harmônica com as diferenças.

2.3.4 QUARTO TRABALHO:

“O paradoxo da igualdade” (EIA, 2008; citado GRACINDO, 2013).

O documentário foi realizado pelo sociólogo e humorista norueguês Harald Eia, no ano de 2010, na Noruega, para verificar um paradoxo que existe na sociedade norueguesa entre a igualdade de gênero e os interesses profissionais dos cidadãos noruegueses.

Ainda que a Noruega tenha sido eleita, em 2008, como o país com maior igualdade de gênero em todo o mundo, pelo Fórum Econômico Mundial, tal paradoxo mantinha-se inalterado por décadas, chamando a atenção do protagonista do documentário, que resolveu investigar as razões para esse estranho e real acontecimento (HAUSMANN; TYSON; ZAHIDI, 2009, p. 8).

O ranking das nações mais igualitárias daquele ano trouxe a Noruega em primeiro lugar, a Finlândia na segunda colocação,  a Suécia na terceira  e a Islândia na quarta, todas nações-membro do Instituto Nórdico de Gênero, uma importante organização de cooperação entre Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia, responsável por promover a “ideologia de gênero” nos países nórdicos  (HAUSMANN; TYSON; ZAHIDI, 2009, p. 8).

As duas primeiras visitas do autor do documentário ocorreram em uma empresa de construção civil e no setor de enfermagem de um hospital norueguês, dois lugares onde, historicamente, há o predomínio de profissionais homens e mulheres respectivamente apesar de todos os esforços dos engenheiros sociais da Noruega para promover a igualdade entre os sexos.

Para sua surpresa, o autor constatou que as mulheres continuam, há décadas, a optar por profissões consideradas tipicamente “femininas” (como enfermeiras, professoras etc.) e os homens continuam atraídos por carreiras mais adequadas ao sexo “masculino” (engenheiros, técnicos, construção civil etc.), mesmo no país mais igualitário do mundo.

Na empresa de construção, um engenheiro disse ao autor que entende que dificilmente haveria um dia em que a Noruega teria 50% de homens e 50% de mulheres trabalhando na construção civil, pois, na sua visão, trata-se de algo próprio para homens, visto que a pessoa “suja-se”, “constrói” e “derruba”, coisas típicas de homem realizar.

No hospital, as enfermeiras disseram-lhe que já houve homens trabalhando no serviço de enfermagem, mas que os tais ficaram por períodos curtos. No que se refere ao serviço de engenharia e na área técnica, as enfermeiras responderam-lhe que se tratava de um serviço “chato” e que preferiam trabalhar com pessoas e conversar.

Os dados estatísticos de um estudo realizado na Noruega, apresentados pelo autor no documentário, mostram que a divisão de trabalho dos gêneros, naquela nação, segue a mesma desde a década de 80, com raras oscilações, contando com cerca de 90% de mulheres nos postos do serviço de enfermagem e 10% nos postos de construção civil.

Por se tratar do país mais igualitário do mundo, um determinado estudo chamou tal realidade norueguesa de o “paradoxo norueguês da igualdade de gênero”, algo que ocorre apesar dos grandes esforços do governo em recrutar, há anos, enfermeiros e engenheiras, sem êxito.

O autor decide, então, entrevistar uma senhora que chefiou, por longo tempo, a Comissão de Igualdade de Oportunidades da Noruega, a qual lhe diz que as medidas para alterar o percentual supracitado apresentam efeitos transitórios de um ou dois anos apenas, mas, depois desse período, voltam à situação anterior. Ao perguntar-lhe se o motivo para tal situação curiosa poderia ser discriminação, ela lhe garantiu que não.

Em seguida, o autor dirige-se à área da educação e, ao entrevistar uma ex-ministra norueguesa da Universidade de Oslo, o autor é informado que as mulheres se saem melhor do que os homens no ensino de todas as disciplinas, exceto na disciplina Educação Física, onde há melhor desempenho masculino.

Desejando saber o porquê que as mulheres acham as coisas técnicas “chatas”, o autor visita uma pesquisadora que fez essa pergunta, durante 15 anos, a diversas pessoas pelo mundo todo. Ela lhe diz que quanto mais desiguais forem os países, mais mulheres interessam-se pela área de exatas, ao contrário da Noruega que, apesar da igualdade, observa-se exatamente o contrário.

Com isso ela conclui que quanto mais igualitário é o país menos interesse há pela área de exatas, contrariando as expectativas de que, em um país com maior igualdade, os gêneros teriam interesses profissionais bem parecidos.

Dessa forma, o autor estabelece duas possíveis respostas para o fenômeno da desigualdade de interesses profissionais na Noruega, quais sejam:

1) Influência sociocultural; e

2) Diferenças inatas (naturais).

Em seguida, o autor segue para o Instituto de Pesquisa do Trabalho norueguês, a fim de verificar o que eles pensam a respeito da possibilidade de haver diferenças inatas que determinam a desigualdade de interesses no trabalho observado na Noruega, como, por exemplo, a diferença entre os cérebros femininos e masculinos (citada em algumas publicações científicas).

Ao perguntar a uma pesquisadora do referido Instituto, responsável por ter escrito diversos relatórios sobre escolha de profissão ao longo dos anos, sobre a possibilidade de haver diferenças inatas entre homens e mulheres que influenciem as escolhas profissionais, ela diz discordar dessa possibilidade, achando espantoso o fato de haver pessoas que ainda se interessem em procurar tais diferenças.

No término da entrevista, a pesquisadora diz não achar relevante estudar a diferença entre os cérebros masculino e femininos, com vistas a saber a razão de os homens apresentarem uma tendência a se tornarem engenheiros e as mulheres não. Na sua opinião, as diferenças que existem resultam do fato de esperarmos coisas diferentes de meninos e meninas, tratando-os diferentemente sem perceber, de tal forma que, se o tratamento fosse outro, desde o nascimento, certamente os interesses seriam diferentes.

O entrevistador segue, então, para o Centro de Estudos Interdisciplinares de Gênero, da Universidade de Oslo, onde entrevista um pesquisador de gênero daquele órgão, perguntando-lhe sobre as questões relativas à diferença entre o cérebro de homens e mulheres, o qual lhe responde que tais teses já estão superadas e foram refutados por estudos posteriores.

Dessa forma, para tal pesquisador, as únicas diferenças que existem entre homens e mulheres, além da genitália, são as relativas à aparência (altura, pelos, seio e outras pequenas coisas), mas, as demais características são basicamente idênticas (sentimentos, interesses, inteligência, capacidade, etc.).

Ele diz, ainda, que, na sua opinião, os papeis de gênero ainda estão profundamente arraigados entre os jovens, de tal forma que meninos e meninas absorvem as expectativas sociais que lhes é imposta, sendo tratados diferentemente desde o início da vida, ou seja, as  mulheres são treinadas para serem delicadas e os homens para serem valentões.

Com isso, o entrevistador concluiu que os pesquisadores noruegueses descartam as diferenças inatas como a fonte da diferenciação que existe entre os interesses profissionais, mostradas pelas estatísticas.

Considerando que os entrevistados noruegueses acham que há um condicionamento sociocultural desde o berço, através das cores das roupas e do tratamento dado às crianças (“gracinha” para as meninas e “valentões” para os meninos), o autor decide ir visitar sua mãe, a fim de questioná-la acerca da sua criação.

Ao perguntar à sua mãe, se, quando ele nasceu, ela lhe disse que ele seria um “valentão” e “fortão” quando crescesse, ela lhe respondeu que jamais lhe disse isso, visto que ele era um “pacotinho” e não tinha esse tipo de pensamento a respeito dele, o que sugere que ele não foi educado da forma que disseram os pesquisadores entrevistados.

Na sua casa, um pouco mais tarde, na companhia das suas duas filhas, o autor afirma não se lembrar de tê-las tratado de forma diferente por serem meninas e lhes perguntou qual era o gênero delas, dizendo-lhes que não se importava com suas escolhas. Imediatamente, elas lhe respondem, de forma incisiva, que eram meninas.

Por sugestão da ex-chefe da Comissão de Igualdade de Oportunidades, com quem esteve, o autor vai a uma loja de brinquedos e percebe que, além da influência dos pais, a indústria de brinquedos também estabelece o rótulo de brinquedos “masculinos” e “femininos”.

Na loja de brinquedos, ele entrevista um menino, mostrando-lhe brinquedos “femininos”, diante dos quais, o entrevistado demonstra total desprezo, ao contrário dos brinquedos tipicamente “masculinos”, pelos quais, se sente atraído. Ainda na loja, o autor pergunta a uma mãe acerca das preferências do seu filho de colo, do sexo masculino, e ela lhe responde: “bolas e carros”.

Já na rua, ao sair da loja, o entrevistador se depara com uma placa que indica “homens trabalhando”, contendo uma figura masculina, algo que lhe sugere que pode existir uma influência cultural, que norteia os interesses profissionais.

Sabendo que um determinado professor de psicologia da Universidade da Califórnia, nos EUA, realizou uma pesquisa sobre os interesses profissionais de milhares de jovens pelo mundo todo, o autor resolveu visitá-lo, a fim de conhecer sua pesquisa, ainda que tenha sido desencorajado pelo pesquisador norueguês do Centro de Estudos Interdisciplinares de Gênero, da Universidade de Oslo, o qual lhe disse que os pesquisadores norte-americanos eram “ruins”.

Ao chegar na Califórnia, o autor ouviu, da boca do referido pesquisador norte-americano, que, ao entrevistar mais de 200.000 pessoas, em 53 países de 4 continentes, ele obteve a seguinte informação: em todos os países, os homens procuram as áreas técnicas e as mulheres preferem trabalhar com pessoas, não se constituindo, ao seu ver, algo cultural, mas biológico, por causa da tendência mundial.

Como os cientistas não se baseiam em um único estudo para provar algo, tal pesquisador norte-americano sugeriu ao autor que procurasse descobrir quão cedo é possível perceber a diferença de interesse entre meninos e meninas.

Tendo informações de que o Diretor do Setor de Psiquiatria do Hospital Nacional da Califórnia estudou esse assunto e desenvolveu um teste para ver se havia diferença de gênero em pouca idade, o autor dirigiu-se para lá, a fim de obter a resposta para seu questionamento.

Ao chegar ao Hospital, o Diretor lhe disse que sua amostra eram crianças que nasceram com deformações nos órgãos genitais e que ele desenvolveu um teste para determinar o gênero da criança, usando brinquedos definidos como masculinos, femininos e neutros.

Segundo tal Diretor, a partir dos nove meses, as crianças mostram claras diferenças de interesses, de maneira que os meninos gatinham naturalmente em direção dos brinquedos masculinos e as meninas, em direção dos femininos.

Diante desse fato, o Diretor conclui que as crianças não são influenciadas por papéis sociais, mas nascem com uma pré-disposição biológica clara e que o ambiente apenas reforça ou diminui aquilo que já foi estabelecido pela natureza.

Segundo ele, a influência social pode ocorrer, porém vai até um certo ponto; contudo, ela não tem poder para mudar o que é inerente.

Ao exibir-lhe as afirmações do pesquisador norueguês, do Centro de Estudos Interdisciplinares de Gênero, da Universidade de Oslo, que disse que as teses sobre as diferenças inatas entre homens e mulheres já estão superadas e foram refutados por estudos posteriores, o Diretor norte-americano garante que existe publicações recentes e inovadores que mostraram exatamente o contrário do que afirmou o pesquisador norueguês.

Em seguida, ao saber da existência de um psiquiatra irlandês do Trinity College, em Dublin, que realizou experiências inovadoras com crianças recém-nascidas, alcançando descobertas importantes sobre a diferença de gênero desde o nascimento, o autor do documentário foi até ele.

Ao encontrá-lo, o tal pesquisador afirmou que o nível de testosterona é que define os interesses das pessoas, sendo encontrados em quantidade dobrada nos homens. Desde o útero, ele fez medições no nível de testosterona das crianças e constatou ser possível determinar, pela quantidade desse hormônio, quais crianças iriam desenvolver a linguagem e o relacionamento social mais cedo ou mais trade, bem como, quais seriam as suas tendências.

Assim sendo, ficou claro, pelos experimentos, que tanto os interesses quanto as qualidades são fruto de uma condição genética, assegurou o tal pesquisador irlandês.

Saindo do Trinity College, o autor perguntou-se: “se os seres humanos têm os interesses e as qualidades definidos geneticamente, por que as pessoas têm os genes que têm?”.

Para obter a resposta, o autor foi até uma psicóloga evolucionista que reside em Durhan, no norte da Inglaterra, responsável por um estudo que visa descobrir como a forma do corpo humano e a psique são influenciados pela evolução.

Segundo tal pesquisadora, é impossível que não haja uma orquestração psicológica inata que ajude, por exemplo, a mulher a sentir prazer em dar à luz e em amamentar uma criança. Da mesma forma, não há como dissociar uma predisposição inata da mulher com o interesse em evitar confrontos perigosos, evitar ser ferida, evitar ser machucada, evitar ser expulsa do grupo, etc.

Tais inclinações, na concepção da psicóloga, são inatas e significam uma luta intrínseca pela sobrevivência, havendo algo interno que a impele a preservar sua capacidade de se reproduzir e gerar filhos igualmente capazes de se reproduzirem.

Além desse aspecto, a psicóloga evolucionista afirmou que as mulheres, quando submetidas a uma situação de estresse, tendem a desejar estar acompanhada, diferentemente dos homens, que preferem estar sozinhos. Por isso, no parecer da psicóloga, as mulheres optam, predominantemente, por serem profissionais de enfermagem, medicina, trabalho social, educação e de todas as áreas de intercâmbios corporativos, onde sentem-se mais confortáveis e seguras.

Perguntada sobre as possíveis influências sociais sobre os interesses profissionais das pessoas, ela disse que, na sua opinião, uma diferença sutil do tom de voz dizendo “gracinha” para as meninas e “valentão” para os meninos, não possui capacidade de exercer tamanha influência nos interesses das pessoas, nas atividades que elas desempenham e nas preferências que demonstram.

Quanto ao maior interesse pela área de exatas, por parte das meninas de países com maior desigualdade de gênero, a psicóloga disse ao entrevistador que tal fenômeno se deve ao fato de as pessoas tenderem a seguir a predisposição genética quanto mais livres elas forem. Assim sendo, em um país como a Noruega, por exemplo, com maior liberdade de escolha, as pessoas certamente tenderão a seguir suas inclinações naturais, diferentemente dos países pobres, onde as pessoas são forçadas a se preocupar em ter um emprego, seja ele qual for.

Ao ouvir a gravação das palavras do pesquisador do Centro de Estudos Interdisciplinares de Gênero, da Universidade de Oslo, dizendo que as únicas diferenças entre homens e mulheres são a aparência física (altura, pelos, seio e outras pequenas coisas), a psicóloga disse que lhe causa estranheza o fato de alguém pensar assim. Isto porque, parece estranho alguém achar que a evolução tenha agido sobre os órgãos reprodutivos, tornando-os próprios de homens e mulheres, e não tenha efeito algum sobre o cérebro, predispondo-os a agirem distintamente, como agem.

Ao sair de Durhan, no norte da Inglaterra, o autor afirma ter provavelmente encontrado a resposta para o “paradoxo norueguês da igualdade”, qual seja: numa sociedade livre e igual, os homens e mulheres tornar-se-ão desiguais por questões inatas.

A partir dessas descobertas, o autor retornou à presença dos pesquisadores noruegueses (os primeiros a serem entrevistados), apresentando-lhes o resultado de sua pesquisa.

A pesquisadora do Instituto de Pesquisa do Trabalho não aceitou os dados que comprovam que crianças de 9 meses são capazes de escolher entre brinquedos masculinos e femininos, por entender que é papel das ciências sociais estudar as diferenças comportamentais entre os seres humanos e não da biologia, de tal sorte que os cientistas socias podem, até mesmo, contestar as teses defendidas pelos biólogos.

Mediante a afirmação da pesquisadora norueguesa, o autor reporta no documentário que provavelmente ela esqueceu-se de que o papel da ciência é exatamente descobrir como as coisas são e não como elas deveriam ser, segundo a visão de quem pesquisa.

Em seguida, o autor vai até o pesquisador do Centro de Estudos Interdisciplinares de Gênero da Universidade de Oslo, o qual afirmou, na primeira entrevista, que a única diferença entre os sexos é a aparência anatômica.

Ao exibir-lhe o resultado das entrevistas, o pesquisador afirmou que prefere entender que não há diferenças inatas até que a ciência prove o contrário, o que ainda não ocorreu, mesmo diante dos dados reais apresentados pelo entrevistador, os quais ele classificou como “fracos”.

2.4 ANÁLISE E DISCUSSÕES:

2.4.1 ANÁLISE DO PRIMEIRO TRABALHO:

Incialmente, a autora tentou desvincular a ideologia de gênero do conceito fraco que o termo possui, transferindo o conceito de falsa consciência das relações de dominação para o pensamento daqueles que combatem sua ideologia. Dessa forma, o jogo inverte-se e os defensores da ideologia de gênero passam a ser os “mocinhos” e as pessoas pró-vida passam a ser os “bandidos”.

Embora a autora admita que a ciência esteja corretíssima em afirmar que existem condições anátomo-fisiológicas diferentes entre os sexos (gêneros), pelo que parece, ela não quer enxergar o fato de que tais diferenças, por si só, já fazem com que a vida de homens e mulheres sejam bastante distintas (NATIVIDADE; SILVANO e FERNANDES, 2014, p. 119).

Querendo a autora ou não, as diferenças biológicas influenciam e determinam o comportamento de homens e mulheres, bem como, a forma de enxergar o mundo, fato que pode ser observado até mesmo em grande parte dos animais, onde os papéis de macho e fêmea também são naturalmente distintos, em virtude das diferenças anátomo-fisiológicas (GRACINDO, 2013; JABLONSKI JR, 1998, p. 5).

Quando falou de relações sexuais, a autora usou os termos “ativo” e “passivo”, considerando-os parte de uma construção social e não de algo natural. Contudo ela parece ignorar o fato de que, na própria espécie humana, existem alguns eventos naturais que mostram a passividade feminina e a atividade masculina, como, por exemplo, no caso da concepção, onde os espermatozoides, de forma ativa, lançam-se em direção ao óvulo, o qual, passivamente, aguarda para ser fecundado (MARTIN, 1991, p. 492).

A própria maneira ativa dos machos e passiva das fêmeas nas relações sexuais (cópula) de grande parte das espécies sexuadas do reino animal, especialmente os mamíferos terrestres, pode ser um indício de que as atitudes ativa dos homens e passiva das mulheres sejam inatas, até porque, embora sejam racionais, os seres humanos agem por instinto em determinadas situações (PTASZYNSKA, 2009;  MATOS, 2007, p. 281).

Ao apoiar os postulados das feministas dos anos 90, que classificavam o gênero como uma construção sociocultural, a autora mostra compartilhar com a ideia de que o gênero é o grande vilão das desigualdades sociais entre homens e mulheres. Contudo, ela ignorou as estatísticas que comprovam a existência de diferenças naturais entre homens e mulheres na escolha das profissões, as quais provam que seus argumentos se baseiam em teorias e não em dados reais e concretos (GRACINDO, 2013).

Ao longo do artigo, a autora utilizou expressões desconhecidas do público em geral, possivelmente com a intenção de dar um caráter científico para seus postulados feministas (como ela própria incentiva na matéria), tais como: sexismo, androcentrismo, misoginia, heterossexismo, heteronormatividade, etc. Esse tipo de conduta faz nos lembrar as estratégias de uma verdadeira guerra revolucionária cultural, não sendo, portanto, tão descabido comparar a ideologia de gênero com as teorias comunistas da luta de classes, de Karl Marx, e da hegemonia cultural, de Antônio Gramsci (HIRATA et al., 2009, p. 61, 150).

Ao longo do artigo, a autora afirmou que a divisão provocada pela ordem patriarcal (mundo do macho e mundo da fêmea) é responsável por provocar os diversos tipos de violência, tais como: estupro, feminicídio, degradação ambiental, guerras, etc. Contudo, o fenômeno da violência é complexo, principalmente nos países do terceiro mundo, e não se pode desprezar fatores decisivos como: o desvio de caráter, a falta de educação, as doenças psíquicas, a impunidade, a omissão do Estado, etc. (PORTELA, 2009).

Em outra parte do artigo, a autora associou o tradicionalismo com a discriminação (preconceito), ao dizer que o pensamento tradicional funciona como uma sentença condenatória sobre as mulheres, impedindo-as de escolherem profissões típicas de homem. Entretanto, mais uma vez ela ignorou as estatísticas mundiais que comprovam a diferença natural de interesse profissional por parte dos gêneros (GRACINDO, 2013).

Na visão da autora, as concepções construtivistas simbolizam a esperança de um mundo mais justo e solidário, propício para a saúde psíquica e para a uma melhor convivência e coesão social. Com isso, ela atribui à ideologia de gênero a solução para todos os males da sociedade, numa verdadeira panaceia social, algo que parece um tanto quanto irreal e utópico (SANTO e ROLINO, 2019, p. 96).

Em seu discurso, a autora elegeu, de forma astuta, a escola como o grande alvo da sua ideologia, sem perceber que, no fundo, ela está apelando para as questões biológicas, visto que as crianças estão em formação (em todos os sentidos). Com isso, fica caracterizado que sua estratégia é antecipar-se à fase em que a criança tem capacidade para tomar as suas próprias decisões, aproveitando-se da sua incapacidade de discernir as reais intenções das pessoas.

Salvo melhor juízo, essa estratégia de dominação intelectual proposta pela autora faz lembrar o programa de doutrinação nazista aplicado por Adolf Hitler, por ocasião da formação do Terceiro Reich, na Alemanha, nos idos de 1930 (VICENTE e WITT, 2018, p. 73)

Por fim, a autora admite não querer repelir a religião, mas, unicamente, os conceitos tradicionalistas que ela carrega consigo, citando, sem comprovar cientificamente, uma suposta divergência de opiniões no meio religioso acerca das questões de gênero. Com essa informação, ela entende que apresentou uma prova cabal contra o tradicionalismo, pois, conforme diz, nem mesmo os religiosos são unânimes sobre tais questões, o que fundamentaria os seus argumentos.

Contudo, a suposta divergência de opiniões sobre gênero entre os religiosos não prova a veracidade do postulado defendido pelas feministas, até porque, existem os cristãos nominais que não têm compromisso com as verdades bíblicas. Para os tais, pouco importa o fato da Bíblia dizer que Deus criou homem e mulher, macho e fêmea, dando à mulher a posição de ajudadora do homem (Gênesis 1:27; Gênesis 2:18).

Outrossim, se divergência fosse um sinal de inverdade, a própria ideologia de gênero teria que ser sepultada antes mesmo de nascer, pois, notoriamente, há um universo de pessoas que a vêem como algo que levará a humanidade para a extinção da espécie humana, não havendo unanimidade sobre o conceito de gênero, nem mesmo entre as próprias feministas, como declara a autora do segundo artigo analisado neste trabalho (MACHADO, 2018, p. 2).

Assim sendo, fica claro, diante das discussões acima mencionadas, que as propostas feministas são teorias que transitam pelo campo das ideias, diferentemente do que ocorre com a biologia que caminha sobre evidências palpáveis sem teorizar os acontecimentos, mas investigando-os cientificamente (SCAVONE, 2008, p. 174).

2.4.2 ANÁLISE DO SEGUNDO TRABALHO:

A autora inicia o artigo dizendo que, até mesmo entre as feministas, não há um consenso sobre a expressão gênero, o que pode refletir um drama particular dela própria (SCOTT, 2012, p. 331).

Ela menciona, com total repúdio, a intenção dos tradicionalistas em associar o movimento feminista com a “cultura da morte”. Porém, esquece-se, propositalmente ou não, de que as uniões homossexuais e a pauta abortista são, de fato, contraceptivas, representando, portanto, uma real ameaça à família e à perpetuação da espécie, conforme assegura o professor de bioética e advogado argentino Jorge Scala, em seu livro “IPPF: a multinacional da morte” (SCALA, 2004, p. 52, 269).

Ao comentar, negativamente, a respeito das iniciativas dos tradicionalistas em combater o aborto e as pautas homossexuais, a autora parece ser incapaz de enxergar o fato de que existe a possibilidade de haver pessoas sinceras no movimento tradicionalista, que estejam verdadeiramente preocupadas em preservar a espécie. Nem mesmo o fato da sua própria vida ser o resultado da heteronormatividade, a faz perceber que é legítima a preocupação expressada por aqueles que assumem uma postura pró-vida.

O fato das feministas colocarem em primeiro plano a autonomia das pessoas sobre os seus próprios corpos e sobre as suas sexualidades, em detrimento da vida humana, pode revelar um desvio de conduta (falta de caráter e respeito ao próximo), até porque, o aborto é um tipo de violência que não se compara àquela que as feministas alegam sofrer historicamente por questões de gênero, uma vez que tal ato cruel é praticado de forma silenciosa contra um bebê indefeso (KALSING, 2002, p. 290).

Para a autora, os cristãos “extremistas” querem perpetuar a concepção heteronormativa e patriarcal da sociedade por questões ideológicas, mantendo a desigualdade social entre os sexos. Contudo, ela fecha os olhos para a realidade de que existem condições inatas que levam as pessoas a fazerem escolhas profissionais distintas, conforme comprova o documentário norueguês analisado neste artigo (GRACINDO, 2013).

Ao classificar as feministas como defensoras de uma linguagem política global usada pelas agências internacionais, a autora parece confessar que o movimento do qual faz parte pode ser fruto de questões políticas e não, propriamente, de uma real preocupação com a saúde da mulher.

O professor de bioética Jorge Scala garante que o movimento feminista é parte de uma orquestração política para controlar a natalidade, nos seguintes termos:

Já conhecemos o objetivo real da “multinacional da morte”: fazer diminuir as taxas de natalidade dos países pobres, até alcançar as dos países ricos, com o objetivo de manter o atual equilíbrio econômico e político e, por conseguinte, a continuidade da submissão do Terceiro Mundo aos países desenvolvidos (SCALA, 2004, p. 16).

Ao criticar os conceitos tradicionais em determinado ponto do artigo, a autora afirmou que os princípios naturalistas desenvolvidos pela ciência moderna mudaram até mesmo o discurso cristão de criação da espécie humana por Deus. Ocorre que, se a ciência moderna trouxe novas concepções acerca da criação da espécie humana, nada impede que os novos postulados, por ela estabelecidos, venham a ser superados no futuro, assim como o foram os antigos, de tal forma que, aquilo que os cientistas sociais acreditam ser verdade hoje, amanhã poderá, da mesma forma, estar ultrapassado.

A teoria do big-bang, por exemplo, é um emaranhado de dúvidas trazidos pela ciência moderna, pois os cientistas modernos não sabem dizer quais leis da física produziram a suposta explosão (bing-bang) e quais eram as condições iniciais que levaram essas leis a permitirem que tal explosão ocorresse. Quando se pergunta aos cientistas modernos acerca de ambas as questões (leis e condições iniciais), a resposta é: “são leis e condições iniciais ainda desconhecidas”; dessa forma, percebe-se que é necessário crer naquilo que os cientistas dizem acerca do big-bang, trazendo-nos ao ponto inicial, que é, exatamente, o objeto da religião: a fé (LOURENÇO, 2003).

Ao longo do artigo, a autora declara que os ativistas tradicionais adotam um discurso religioso sem fundamentação científica e que, por isso, são obrigados a apelar para o juízo moral como um axioma, falseando a realidade. Em primeiro lugar, a Biologia não tem compromisso com a religião e sim com a verdade, por isso, dizer que o discurso religioso não tem comprovação científica é uma falácia, até porque, tudo o que a Bíblia relata sobre o ser humano não contraria, em nada, o que diz a Biologia.

Ao contrário que supõe a autora, a literatura mostra que a Bíblia e a Biologia andam de mãos dadas nas questões de gênero, o que não ocorre com as Ciências Sociais, que, além de ignorar a Biologia, age como se ela fosse uma verdadeira inimiga a ser vencida.

Outrossim, não se pode negar o fato de que as nações que abraçaram o protestantismo vieram, por uma série de razões, a tornar-se nações prósperas, democráticas e igualitárias, também por causa dos princípios éticos e morais cristãos. Fechar os olhos pra essa realidade seria mentir para si mesmo (SOUZA, 2007, p. 56).

A autora enxerga de forma extremamente negativa o fato de haver mulheres lutando para defender a família tradicional. Entretanto, ela não considerou a possibilidade de que tal luta possa representar a manifestação do instinto feminino de perpetuação da espécie, nela adormecido.

Quando a autora politiza o assunto, referindo-se à necessidade de mudar a organização das denominações religiosas, a lógica dos partidos políticos e a lógica da sociedade como um todo, a impressão clara que se tem é que ela está mais preocupada em promover uma revolução cultural do que propriamente cuidar da saúde da mulher (SCALA, 2004, p. 274).

2.4.3 ANÁLISE DO TERCEIRO TRABALHO:

O artigo gira em torno da concepção dos autores de que a junção da palavra gênero com a palavra ideologia foi uma estratégia usada pelos tradicionalistas para associar “um movimento legítimo de combate às desigualdades entre os sexos” com regimes ditatoriais. Contudo, no afã de defender suas concepções claramente ideológicas, os autores, parecem ignorar completamente as questões relacionadas à vida, à organização social e à perpetuação da espécie envolvidas no contexto (SCALA, 2004).

A impressão que se tem é que, assim como ocorre nos dois primeiros trabalhos científicos ora analisados, os autores em pauta desejam que suas ideias sejam implantadas mesmo que a tão sonhada igualdade social, pela qual dizem lutar, leve à desconstrução dos papéis tradicionais de homem e mulher, com consequente desintegração da família. Com esse tipo de conduta, não há como deixar de lembrar dos regimes ditatoriais que procuram impor suas concepções até mesmo pela força da espada (SCALA, 2004, p. 274).

Embora suas vidas sejam resultado da heteronormatividade, os autores classificam, como tendenciosas, as palavras ditas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em seu site oficial, dizendo que o verdadeiro intento da ideologia de gênero não é combater a discriminação, mas, sim, desconstruir a família, o matrimônio e a maternidade, incentivando um estilo de vida que leva a todas as formas de experimentação sexual desde a infância.

Contudo, como não classificar esse movimento como ideológico se a visão de mundo e o conjunto de ideias dos seus defensores são tidas, por eles, como ideal para o mundo todo, sem espaço para questionamento?

Em determinado momento, os autores falam em justiça social, insinuando que essa é uma bandeira do movimento que defendem. Contudo, parece que estamos diante de uma dissonância cognitiva, pois, como alguém pode mostrar total desprezo para com as vidas intrauterinas, por exemplo, e, ao mesmo tempo, falar em justiça social e no fim das desigualdades educacionais? (CARVALHO, 2018).

Em seguida, os autores citam uma suposta desigualdade entre meninas e meninos na escola que condiciona suas escolhas profissionais, porém isso parece não indicar a realidade, pois, além deles não mostrarem dados concretos para esse postulado, ficou provado, no documentário norueguês analisado neste artigo, que, nas sociedades igualitárias, as escolhas profissionais permanecem inalteradas, mostrando que há tendências inatas nas pessoas, as quais não são mero fruto da imaginação, perpetuadas socioculturalmente (GRACINDO, 2013).

Na sequência, os autores afirmam que os que defendem a família tradicional possuem um comportamento fascista e sem fundamento científico. Entretanto, os tais não apresentam dados científicos que sustentam suas afirmações, apoiando-se tão somente em deduções ou conceitos que ouviram de outros ideólogos de gênero.

Dessa forma, os próprios ideólogos de gênero acabam caindo no erro que acabaram de acusar seus opositores, não fundamentando cientificamente suas posições.

Quanto à expressão “fascista” usada pelo ideólogos contra os que defendem a vida, trata-se, possivelmente, de uma alusão ao conceito de “fascismo social”, criado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, para referir-se às sociedades discriminatórias e com profundas desigualdades sociais, nas quais os mais  poderosos controlam a vida dos mais fracos (BECKER E DIAS, 2018, p. 353).

Tais neologismos criados pelos ideólogos de gênero parecem, tão somente, fazer parte de uma estratégia para convencer o público de que os defensores da ideologia de gênero sabem perfeitamente o que estão a dizer, possuindo bases científicas para suas teorias (CARVALHO, s/data, p. 3).

Em determinado ponto do artigo, os autores citam um suposto descaso da sociedade brasileira para com os números da discriminação e da violência contra mulheres e pessoas LGBT, comprovadas, segundo eles, por dados oficiais e estudos científicos. Contudo, há diversas publicações que rebatem alguns números veiculados pela mídia, tal como a matéria publicada pelo teólogo, escritor e conferencista Solano Portela (2009), com o título: “Genocídio Homossexual ou heterofobia estatal? A arte de distorcer as estatísticas”.

Segundo Portela, os dados da violência contra LGBT no Brasil são manipulados, formulando estatísticas enganosas e desviando o foco das atenções do principal problema brasileiro relacionado à violência, qual seja: o governo abdicou da sua responsabilidade de proteger a vida, como a primeira prioridade das suas funções, misturando omissão com impunidade.

Na opinião do referido teólogo, foi imposta, no Brasil, uma onda heterofóbica, com estatísticas irreais, que, além de esconder a triste realidade social brasileira, visam dar guarida a ações e projetos que resultarão na desarticulação da frágil estrutura social brasileira (PORTELA, 2009).

Mais à frente, os autores tecem críticas ferrenhas ao sistema patriarcal, o qual, segundo eles, reforça as desigualdades entre os gêneros e é responsável por toda sorte de violência contra a mulher. No entanto, há dois fatos curiosos a respeito dessa posição:

1) Apesar de viverem sob uma estrutura social hierarquizada que funciona perfeitamente (com diretores, supervisores, chefes, etc.), os autores, ainda assim, entendem que o mal da existência humana está no sistema patriarcal; e

2) Quando culpam o sistema patriarcal por toda sorte de violência contra as mulheres, os autores desconsideram alguns fatores decisivos para que tal violência ocorra, tais como: desvios de conduta, falta de educação, falta de amor ao próximo, impunidade, problemas econômicos, etc.

No que se refere às metas de ação dos ideólogos para o futuro, assim como ocorre nos demais artigos analisados neste trabalho, a escola é vista pelos autores como o instrumento apropriado para iniciar o processo de transformação da sociedade (revolução sociocultural). Assim sendo, de forma perspicaz, os ideólogos querem aproveitar-se da sua vilã, a Biologia, para usar a ingenuidade das crianças em seus experimentos sociais, como fez Adolf Hitler no Terceiro Reich (VICENTE E WITT, 2018, p. 73)

Dos artigos analisados até aqui, este é o único em que os autores terminam defendendo o diálogo como uma ferramenta adequada para superar as diferenças de forma civilizada, inclusive com a participação de religiosos. Contudo, o radicalismo dos seus postulados suscita certa desconfiança a respeito da sinceridade das palavras amistosas com que encerram o artigo.

2.4.4 ANÁLISE DO QUARTO TRABALHO:

Algo que desperta curiosidade logo de início no documentário é o fato dos profissionais noruegueses, que trabalharam longos anos com seleção de pessoas e com pesquisas comportamentais, manifestarem completa aversão à Biologia, ainda que seja uma ferramenta legítima e muito útil para esclarecer o “paradoxo da igualdade” existente em seu país quanto a escolhas profissionais de homens e mulheres. Parece haver, de fato, um movimento mundial contra o tradicionalismo, como assegura o professor de Bioética Jorge Scala, em seu livro “IPPF: a multinacional da morte” (SCALA, 2004).

A diferença de interesse profissional entre homens e mulheres fica clara logo nas duas primeiras visitas que o autor fez aos setores de construção civil e de enfermagem de um hospital respectivamente. As respostas dos entrevistados mostraram que havia a possibilidade real e concreta de que algo inato estivesse atuando nas escolhas da área de trabalho na Noruega.

Tais pessoas, mesmo no país mais igualitário do mundo, disseram, ao autor, que existiam profissões tipicamente femininas (como enfermeiras, professoras etc.) e tipicamente masculinas (engenheiros, técnicos, construção civil etc.), ainda que o governo norueguês venha fazendo, por décadas, esforços para igualar os gêneros.

Na área de educação, ficou claro que existe algo inato por detrás dos números, muito provavelmente porque as mulheres reproduzem a capacidade inata de educar seus filhos e, com isso, dominam todas as disciplinas, enquanto os homens destacam-se unicamente na disciplina educação física, o que pode apontar para questões naturais, inatas.

Os dois pesquisadores noruegueses entrevistados em seguida mostraram profundo desprezo para com a Biologia, confessando estarem surpresos por existirem pessoas que ainda se interessem em estudar tal disciplina, a fim de entender o comportamento humano. Até mesmo as pesquisas recentes da área comportamental, que envolvem a Biologia, são, por eles, ignoradas e classificadas como ultrapassadas, fato que pode indicar uma doutrinação nas suas formações como ocorre no Brasil e no mundo (CORREIA, 2015, p. 18).

O segundo pesquisador chega a defender a ideia de que as únicas diferenças que existem entre homens e mulheres são anátomo-fisiológicas, desconsiderando que a maternidade, por exemplo, não envolve somente questões físicas e fisiológicas, mas também psicossomáticas (BARBOSA E ROCHA-COUTINHO, 2007, p.165).

Ambos apelaram para as questões culturais como as verdadeiras responsáveis pelas diferenças que ainda existem na Noruega, em termos de escolha profissional, algo que acabou sendo contraditado, quando o autor entrevistou sua mãe e suas filhas, acerca da educação e das questões de gênero respetivamente, as quais mostram não terem aderido aos pensamentos dos ideólogos de gênero noruegueses.

Quando o autor visitou a loja de brinquedos, os comportamentos distintos em relação ao sexo ficaram mais claros, principalmente quando o autor viu que um menino de colo preferia brinquedos relacionados com seu sexo (masculino).

A ida à Califórnia revelou ao autor que, em todos os países, os homens procuram as áreas técnicas para trabalhar e as mulheres preferem trabalhar com pessoas, não se tratando de uma coincidência, mas de algo biológico, conforme asseverou o pesquisador entrevistado.

A visita ao Diretor do Setor de Psiquiatria do Hospital Nacional da Califórnia fez com que o autor soubesse que, a partir dos nove meses, as crianças mostram claras diferenças de interesses, pois, segundo mostrou-lhe tal pesquisador, os meninos gatinham em direção dos brinquedos masculinos e as meninas, em direção dos femininos, não sendo, portanto, influenciadas por papéis sociais, mas mostrando uma pré-disposição biológica clara.

Ao ouvir o parecer dos pesquisadores noruegueses, que afirmaram não haver diferenças inatas entre homens e mulheres, com exceção da anátomo-fisiológicas, e que as pesquisas que apoiavam tal diferença já tinham sido refutadas, o referido Diretor disse discordar completamente dessas posições, pois há publicações recentes e inovadores que revelaram exatamente o contrário.

A visita ao psiquiatra irlandês revelou ao autor que, pelo nível de testosterona medido desde o ventre materno, é possível definir quais crianças terão maior ou menor dificuldade para desenvolver a linguagem, quais relacionar-se-ão com mais facilidade e quais seriam as suas tendências. Ou seja, há predisposições inatas para os comportamentos humanos segundo tal estudioso.

A entrevista realizada na sequência com uma psicóloga evolucionista inglesa esclareceu-lhe que é impossível não haver uma orquestração psicológica inata, que ajude a mulher a sentir prazer em dar à luz e em amamentar uma criança (BARBOSA E ROCHA-COUTINHO, 2007, p. 172).

Segundo a psicóloga, não há como dissociar o instinto de preservação da espécie do interesse da mulher em evitar confrontos perigosos, evitar ser ferida, evitar ser machucada, evitar ser expulsa do grupo, etc. Tal instinto, segundo ela, naturalmente, impele as mulheres a preservarem a capacidade de se reproduzir e gerar filhos, igualmente capazes de se reproduzirem, conforme defendiam algumas teorias sobre a natureza de homens e mulheres da metade do século XIX (POESCHL; MÚRIAS E RIBEIRO, 2003).

Além desse aspecto, a psicóloga evolucionista esclareceu que as mulheres, quando submetidas a uma situação de estresse, tendem a desejar uma companhia, diferentemente dos homens, os quais preferem estar sozinhos. Isso, por si só, explica a razão das mulheres optarem por serem profissionais de enfermagem, medicina, trabalho social, educação, etc., onde sentem-se mais confortáveis e seguras, segundo a psicóloga.

Quanto às escolhas profissionais, a psicóloga esclareceu que, em um país como a Noruega, que possui ampla liberdade de escolha, as pessoas tendem a seguir suas inclinações naturais, diferentemente dos países pobres, onde as pessoas são forçadas a se preocupar em ter um emprego, seja ele qual for.

Quanto à posição dos pesquisadores noruegueses, de que as diferenças biológicas entre homens e mulheres não têm relação com seus interesses profissionais, a psicóloga disse achar estranho alguém entender que a evolução tenha agido sobre os órgãos reprodutivos, tornando-os próprios de homens e mulheres, e não tenha tido efeito algum sobre o cérebro, predispondo-os a agirem distintamente, como agem.

Ao apresentar o resultado das entrevistas aos pesquisadores noruegueses, os mesmos mantiveram seus pontos de vista, ignorando totalmente as comprovações apresentadas por seus congêneres.

A primeira pesquisadora disse que o estudo dos comportamentos é responsabilidade das ciências sociais e não da biologia, defendendo a separação entre “sexo” e “gênero” e atribuindo aos biólogos apenas o trato das questões anátomo-fisiológicas (ARAÚJO, 2005, p. 42).

O segundo profissional disse manter a posição de que não há diferenças inatas até que a Ciência prove o contrário, ignorando as evidências científicas apresentadas pelo entrevistador, as quais ele classificou como “fracas”.

3. CONCLUSÃO

Diante dos argumentos apresentados pelos autores, sobretudo pelos resultados práticos da pesquisa realizada na Noruega, pelo sociólogo e humorista norueguês Harald Eia, ficou claro que existem tendências naturais que diferenciam homens e mulheres, o que nos faz concluir que a ideologia de gênero não é um fenômeno espontâneo, resultante da evolução dos tempos, mas algo orquestrado mundialmente, com ações que terminarão por desconstruir a instituição familiar, esvaziando  o conceito de homem e mulher, ainda que grande parte dos cientistas sociais modernos digam o contrário.

Embora os autores que defendem a ideologia de gênero argumentem que há comprovação científica para suas afirmações, os dados que apresentam como dados científicos, para justificar suas posições, referem-se, tão somente, à violência contra as mulheres, supondo que resultem unicamente de uma opressão histórica relacionada ao gênero, o que parece ser uma falácia, pois as causas da violência são bem mais amplas.

A premissa teórica básica demonstrada pelos ideólogos de gênero fundamenta-se em extirpar a sexualidade humana da sua realidade anátomo-fisiológica, procurando convencer a sociedade de que ela pode ser explicada somente através da cultura e pelo imaginário das pessoas. Com isso, tais ideólogos acabam por promover uma verdadeira confusão mental nas pessoas, as quais passam a lutar por uma liberdade inatingível, uma vez que é impossível, ao ser humano, libertar-se das dimensões naturais que o limitam (genes, etc.).

É muito provável que, assim como os homens escolhem profissões consideradas tipicamente de homens e mulheres, as tipicamente de mulheres,  a sexualidade coincida naturalmente com a identidade biológica, não se tratando de um mero desejo e não se constituindo em um estereótipo resultante de uma construção cultural, imposta com o objetivo de subjugar uma, ou mais classes, à outra.

Diante dessas informações, é possível afirmar que gênero não é uma construção sociocultural, mas faz parte da essência do ser humano, definindo papéis distintos para homens e mulheres desde o nascimento, os quais podem ser reforçados ou atenuados durante a vida, mas nunca totalmente apagados.

Segundo Dias (2015), as verdades apresentadas pelo citado sociólogo norueguês no documentário em pauta foram tão significativas que, tempos depois que ele foi exibido ao público norueguês, o Instituto Nórdico de Gênero foi fechado, pois ficou evidente a falta de base científica para os argumentos apresentados pelos profissionais do Instituto, que justificassem o investimento de 56 milhões de euros.

O documentário norueguês revelou que, apesar de todos os esforços dos engenheiros sociais noruegueses para igualar os sexos masculinos e femininos, as mulheres, naturalmente, preferem as profissões tipicamente “femininas” (como enfermagem, professorado, etc.) e os homens, naturalmente, preferem as carreiras mais adequadas ao seu sexo (como engenharias, tecnologia, construção civil etc.)

Quanto à importância e o rigor metodológico das pesquisas científicas é importante que cada pesquisador tenha em mente o decálogo proposto pelo filósofo Bertrand Russel, citado por Rover; Duarte; Cella (2008, p.3250), segundo o qual, em linhas gerais o pesquisador: não se deve estar seguro de absolutamente nada; não se deve esconder provas, pois elas aparecerão; não se deve temer o raciocínio, pois é com ele que se vence; deve vencer e superar as oposições pelo esforço e não pela autoridade; não se deve curvar-se diante das autoridades dos outros, pois são contraditórias; não se deve empregar o poder para suprimir opiniões consideradas  perniciosas, pois elas irão suprimir o pesquisador; não deve desprezar nenhuma opinião, pois algumas opiniões absurdas do passado hoje são aceitas como verdade; deve considerar que há mais utilidade na divergência inteligente do que na concordância passiva; considerar que, por mais inconveniente que seja, toda verdade é melhor do que qualquer mentira, por isso quem a oculta, será mais inconveniente do que ela; entender que o mundo dos insensatos é feliz somente para quem é insensato.

Restam duas preocupações importantes para com a saúde das mulheres em relação à ideologia de gênero, as quais servem como pauta importante para futuras pesquisas científicas e profundas reflexões, quais sejam:

1) Será que os pressupostos defendidos pelas feministas não acabarão levando os homens a perderem completamente o respeito para com as mulheres, passando a considerá-las simples instrumentos de prazer e não como uma companheira que precisa ser respeitada e amada? e

2) Será que as mulheres não estariam entrando debaixo de outra imposição social ao julgarem que a ideologia de gênero as libertará da suposta “imposição social da perpetuação da espécie”?

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[1] Doutor e Mestre em Teologia, pela Universidade da Bíblia – São Paulo.  Bacharel em Ciências Militares, pela Academia da Força Aérea Brasileira (AFA) – Pirassununga – SP. Licenciado em Educação Física, pela Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) – Rio de Janeiro. Bacharel em Administração de Empresas, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo. Especialista em Fisiologia do Exercício, pela Escola Paulista de Medicina. Especialista em Atividade Física na Saúde, na Doença e no Envelhecimento, pela Faculdade de Medicina da USP. Acadêmico do Curso de Licenciatura em Filosofia, pelo Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades (IALTH) – Recife – PE. Acadêmico do Curso de Pós-graduação em Ciência da Religião, pelo Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades (IALTH) – Recife – PE.

Enviado: Novembro, 2020.

Aprovado: Julho, 2020.

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Marcelo Victor Rodrigues do Nascimento

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