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A negação de Pedro – Uma abordagem teológica no fundo da sagrada escritura

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SABALO, Sérgio Fernando [1]

SABALO, Sérgio Fernando. A negação de Pedro – Uma abordagem teológica no fundo da sagrada escritura. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 02, Vol. 07, pp. 53-85. Fevereiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/teologia/negacao-de-pedro

RESUMO

Este Estudo faz reverência a Pedro e tem como objetivo apresentar a Negação de Pedro como Milagre de Jesus. São vários os problemas que se levantam neste Estudo ao colocar a Negação de Pedro na encruzilhada de uma leitura refinada da Sagrada Escritura e de uma exegese teológica audaciosa, como se podem destacar as circunstâncias em que tal acontecimento se dá e a unissonância dos Evangelhos em torno do mesmo. O método predominante é o bibliográfico e também histórico, pois, para o desenvolvimento de cada item foi imperioso recorrer à Sagrada Escritura e aos diversos comentários exegéticos sobre a narração da Negação de Pedro acoplados nas bordas dos textos da Sagrada Escritura e outros, desenvolvidos de forma autónoma como autênticos manuais de exegese da Sagrada Escritura e teológica; foram também consultados certos manuais que podem ser categorizados como sendo de teoria teológica e da Sagrada Escritura. Neste empreendimento, ficou verificado que, no Sinédrio, Pedro não nega Jesus por livre vontade sendo que Jesus decide a Negação de Pedro no Monte das Oliveiras; o acontecimento possui todas as propriedades de milagre e de Milagre de Jesus, torna-se sinal imediato de que as revelações feitas por Jesus se cumprem, assim como as profecias da Sagrada Escritura, e deve ser tratado como último sinal de Jesus sobre a efetividade de suas revelações. Trata-se de uma solução que pretende trazer ao leitor um estímulo e uma nova perspectiva a nível da exegese da Sagrada Escritura, da exegese teológica, da pregação pastoral, da meditação espiritual e da instrução doutrinária.

Palavras-chave: Sagrada Escritura, Teologia, Pedro, Negação de Pedro, Milagres de Jesus.

1. INTRODUÇÃO

Se a Negação de Pedro não for um Milagre de Jesus então vai ser um azar e sua explicação será efetivamente obscura em todos os âmbitos textual, exegético, teológico, pastoral, espiritual, doutrinal. Ela não resulta da vontade explícita de Pedro, mas sim da decisão incontestável de Jesus. Mais que predita é decretada por Jesus. É um acontecimento perfeitamente extraordinário. Além do canto do galo, Pedro propõe-se a não negar nunca o seu Senhor.

Analisando o acontecimento singularmente é difícil compreender que pelo menos Pedro nega Jesus para se proteger num momento de exposição ao perigo no Sinédrio, onde acontece o pré-julgamento de Jesus. No intertexto, mais que negar Pedro terá mentido por motivos de prudência ante o perigo em vista. Porém, ainda no intertexto Pedro não está em condições psicológicas nem morais de apelar à prudência com medo das autoridades que julgam Jesus. Ele promete seguir Jesus mesmo que seja para morrer como é detalhado e, para o demostrar, corta a orelha de um membro do “exército” que vem prender Jesus.

Vieira chega a certificar que Pedro, a quem muito bem conheceram os antepassados, tem tão boa espada que ele só avança contra um exército inteiro de soldados romanos e se Jesus olha não manda meter na bainha há de cortar mais orelhas que a de Malco. Contudo, que lhe sucede nesta mesma noite? Promete que, se todos fraquearem, só ele haverá de ser constante até morrer se for necessário e é tanto pelo contrário que só ele fraqueja mais que todos e basta a voz de uma mulherzinha para o fazer tremer e negar (VIEIRA, 1654a).

Barclay observa que às vezes se conta esta história de tal maneira que não se faz justiça a Pedro. O que às vezes se deixa de reconhecer é que até o último momento o comportamento de Pedro nessa noite é de uma valentia fantasticamente temerária. Começa tirando a espada no jardim com a coragem de quem pretende enfrentar sozinho toda uma turba. Nessa refrega, fere o servo do Sumo-Sacerdote. Agora, a simples prudência terá levado Pedro a não se deixar ver. O último lugar onde ninguém sonha que Pedro vai é o pátio da casa do Sumo-Sacerdote e aí é precisamente onde se dirige (BARCLAY, 1955).

Trilling depara-se com a Negação de Pedro e faz uma reportagem pertinente. Para ele o que acontece na Negação de Pedro não é mero fracasso humano, o vaivém dum temperamento volúvel desde a mais incondicional afirmação de fidelidade até à morte, à mais vergonhosa traição. Não apenas uma cena humanamente trágica e comovedora, mas a expressão da verdade da fé.

Aquele que fora elevado o mais alto de todos, Pedro, cai o mais fundo. Destinado a ser a rocha fundamental do novo edifício do Messias porta-se como chão de areia movediça em que nada se sustém. Aquele que por revelação divina professara a Jesus como Messias nega agora até conhecê-lo como homem. Que significa essa contradição difícil de compreender? Ele é rochedo, sim, mas sobre uma base que nenhum outro pode lançar a não ser Jesus. É sobre esse fundamento que será edificada a nova comunidade e nela também Pedro (TRILLING, 1894).

O núcleo do desenvolvimento deste Estudo compreende três secções. Na primeira secção procura-se proceder à leitura exegética dos textos explícitos sobre a Negação de Pedro nos Evangelhos sem preterir os textos paralelos a este episódio que implicam na prossecução do Objeto de Estudo respectivo.

Com a segunda secção pretende-se mapear o trajeto do discípulo protagonista de Simão para Pedro, da Galileia à Jerusalém, do Cenáculo da Última Ceia ao Getsemani e, daqui, ao Sinédrio e ao abandono efetivo de Jesus.

A terceira secção procura especificar os pressupostos sobre a Negação de Pedro como Milagre de Jesus. Na estrutura respectiva, é inicialmente exacerbada a teoria dos milagres e posteriormente revisto o conhecimento sobre os Milagres de Jesus, formando a plataforma para deduzir sobre a Negação de Pedro. A seguir, esta Negação é coroada como Milagre de Jesus a partir do princípio de que sua veracidade é incontestável pelo facto de se sobrepor qualitativamente à traição de Judas de que tem por paralelo imediato, por sua ligação direta com a Ressurreição de Jesus, entre outros.

1.1 OBJETIVOS

Pretende-se como Objetivo Geral deste Estudo proclamar a Negação de Pedro como Milagre de Jesus através da fundamentação teórica. São Objetivos Específicos: promover um estudo sobre a teoria dos milagres e dos Milagres de Jesus; determinar a Negação de Pedro no âmbito dos Milagres de Jesus; refletir a importância da Negação de Pedro no contexto bíblico, pastoral e/ou da fé; compreender Pedro como símbolo da natureza humana.

1.2 DEFINIÇÃO DE TERMOS

Percorrendo a apresentação de Mannucci, a Sagrada Escritura é a expressão em palavras humanas da Palavra de Deus dirigida aos homens em vista a sua salvação. Ela conserva e transmite a Revelação de Deus destinada aos homens de todos os tempos. Não é apenas o relato ainda que fiel das Palavras de Deus e nem contém apenas a Revelação feita por Deus com a sua Palavra e os seus Gestos Salvíficos, mas é realmente Palavra de Deus. O objeto formal permanente da Sagrada Escritura é a Comunicação da Verdade Salvífica (MANNUCCI, 1984).

Por Teologia entende-se uma reflexão científica sobre a autorrevelação de Deus ao homem e/ou ao mundo, em particular, descrita pela Sagrada Escritura.

Pedro é o Príncipe dos Apóstolos e a matéria do termo foi devidamente destrinçada na terceira secção deste Estudo.

A Negação de Pedro é a rejeição verbal de Jesus por Pedro no Sinédrio, descrita pelos Evangelhos (Mt 26, 69-75; Mc 14, 66-72; Lc 22, 56-62; Jo 18, 15-18, 25-27).

Com base em Leitão, uma noção de milagre em sentido lato tem a ver com a maravilha perante um fenómeno extraordinário na medida em que é enquanto se lhe não conhece a causa ou a sua essência permanece impenetrável (LEITÃO, 2001, col. 1196).

Por Milagre de Jesus considera-se o prodígio realizado por Jesus e conforme os Evangelhos. Os temas do milagre e Milagres de Jesus são aprofundados na quarta secção do Estudo.

2. A NEGAÇÃO DE PEDRO NOS QUATRO EVANGELHOS

O facto da Negação de Pedro parte do testemunho unânime dos Evangelhos sendo que cada um é sempre portador de um detalhe que ajuda, não só a conferir a historicidade, mas, também, a estar mais perto da estrutura interna e externa do acontecimento.

Este episódio dos Evangelhos consta de duas partes: o anúncio e o seu cumprimento. As referidas partes estão separadas por uma série de acontecimentos sobre a vida e obra de Jesus com os discípulos e o povo.

Nos Sinópticos, as secções tanto do anúncio como do cumprimento do anúncio da Negação de Pedro fazem parte de um único capítulo, – Mt 26, Mc 14 e Lc 22 – o antepenúltimo pelo qual, em regra, começa a parte final referente à Paixão e à Ressurreição de Jesus.

Em João, ambas as secções constam do Livro II sobre a Gloria, conforme a Bíblia Sagrada Africana (COUGIL; ALVES; FERREIRA, 2015). O anúncio da Negação de Pedro é parte do capítulo 13 que abre a parte sobre as Últimas Revelações de Jesus e a Negação de Pedro, do capítulo 18, o primeiro da Paixão e Ressurreição, havendo uma separação entre os capítulos de ambas as partes, de quatro capítulos cuja função ficou acima mencionada.

2.1 PANORAMA

Tabela 1

Mateus Marcos Lucas João
A conspiração contra Jesus 26, 1-5 14, 1-2 22, 1-2 11, 47-53
A unção em Betânia 26, 6-13 14, 3-9 12, 1-8
A traição de Judas 26, 14-16 14, 10-11 22, 3-6
Os preparativos para a Ceia Pascal 26, 17-19 14, 2-16 22, 7-13
O lava-pés 13, 1-20
O anúncio da Traição de Judas 26, 20-25 14, 17-21 22, 14.21-23 13, 21-30
A consagração dos Discípulos e de Pedro 19, 28

16, 19

22, 28-32 15, 27
A Instituição da Eucaristia 26, 26-29 14, 22-25 22, 19-20 6, 51-58
O anúncio da Negação de Pedro 26, 30-35 14, 26-31 22, 39.31-34 13, 36-38

16, 32

No Getsémani 26, 36-46 14, 32-42 22, 40-46 18, 1

12, 27-30

A Prisão de Jesus 26, 47-56 14, 43-52 22, 47-53 18, 2-11.20.36
No Sinédrio 26, 57-68 14, 53-65 22, 54-55.66-71 18, 15-16.18.24
A Negação de Pedro 26, 69-74 14, 66-71 22, 55-60 18, 17.25-27
O Canto do Galo 26, 74-75 14, 68.72 22, 60-62 18, 27

Fonte: autor.

2.2 OS EVANGELHOS SINÓPTICOS

2.2.1 MATEUS

No Evangelho de Mateus, Jesus faz o anúncio da Negação de Pedro logo a seguir à Instituição da Eucaristia (Mt 26, 26-29) e antes desta, podem ser registados outros episódios não menos relevantes, tais como: a conspiração dos judeus para matar Jesus (Mt 26, 3-5); a unção de Jesus por uma mulher em Betânia (Mt 26, 6-13); o acordo de Judas Iscariotes, ou simplesmente Judas, com os sumos sacerdotes para entregar Jesus (Mt 26, 14-15); a Última Ceia/ Páscoa de Jesus que compreende o anúncio da traição de Judas (Mt 26, 17-25).

No termo dos seus discursos Jesus anuncia fazendo lembrar o seguinte: “Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26, 2). Todos os momentos referentes à Paixão e Ressurreição de Jesus são antecedidos por este grande aviso em forma de recordação feito por Jesus sobre si mesmo aos seus discípulos.

O rito da Instituição da Eucaristia fica encerrado com o Hino. Nos comentários da Bíblia de Jerusalém, trata-se dos salmos 113-118 do Hallel, cuja recitação encerra a ceia pascal. Referem os textos que cantado o Hino saem para o Monte das Oliveiras (BAZAGLIA, 2013). É precisamente neste lugar onde é feito o anúncio da Negação de Pedro.

Afinal, Jesus tenta fazer lembrar o seguinte: “Essa noite todos vós vos escandalizareis por minha causa, pois está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Mas, depois que eu ressurgir, vos precederei na Galileia” (Mt 26, 31-32). Pedro protesta a advertência de Jesus e Jesus anuncia a Negação; Pedro continua a protestar e, com ele, todos os outros discípulos, pois, como descrito…

Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: ‘Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandalizarei’. Jesus declarou: ‘Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes!’ Ao que Pedro disse: ‘Mesmo que tiver de morrer contigo, não te negarei’. O mesmo disse todos os discípulos (Mt 26, 33-35).

O anúncio da Negação de Pedro resulta de uma discussão entre Jesus e os discípulos, da pretensão dos discípulos em rejeitar as revelações pertinentes que Jesus vai fazendo.

Depois do anúncio da Negação Jesus vai com os discípulos para o Getsémani, local do vale de Cédron ao pé do Monte das Oliveiras (Mt 26, 36). Deste modo, começa a catalogação dos acontecimentos que antecedem a Negação de Pedro, no espaço entre sua realização e anúncio respectivo.

Aqui no Getsémani (Mt 26, 36-56) Jesus ora. Os discípulos não resistem, adormecem/ dormem e Jesus procura repreendê-los de diversos modos, num dos quais dirige-se a Pedro, dizendo: “Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora!” (Mt 26, 40-41).

Jesus despede-se dos discípulos (Mt 26, 47-56); aparece Judas com a multidão munida de espadas e paus, vindos da parte dos sacerdotes e dos anciãos do povo, e com um beijo entrega-o. Um homem daqueles que estavam com Jesus recorre à espada que tem consigo e decepa a orelha do servo do Sumo-Sacerdote, que se encontra na multidão que vem prender Jesus. Este homem é severamente repreendido por Jesus por tal atitude.

Jesus é preso e levado ao Sinédrio (Mt 26, 57-68), Tribunal Judaico, as vezes também chamado Conselho Superior, sendo seus juízes Caifás que é o Sumo-Sacerdote, os escribas e os anciãos.

Conforme o texto, “Pedro seguiu Jesus de longe até o pátio da casa do Sumo-Sacerdote. Entrou e sentou-se com os guardas para ver como aquilo ia terminar” (Mt 26, 58).

No curso destes acontecimentos, chega finalmente o momento exato da Negação:

Pedro estava sentado fora, no pátio. Aproximou-se dele uma criada, dizendo: ‘Também tu estavas com Jesus, o Galileu!’ Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: ‘Não sei o que dizes’. Saindo para o pórtico, outra viu-o e disse aos que ali estavam: ‘Ele estava com Jesus, o Nazareu’. De novo ele negou, jurando que não conhecia o homem. Pouco depois, os que lá estavam disseram a Pedro: ‘De facto, também tu és um deles; pois o teu dialeto te denuncia’. Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço este homem!’ E imediatamente um galo cantou. E Pedro se lembrou da palavra que Jesus dissera: ‘Antes que o galo cante, três vezes me negarás’. Saindo dali, chorou amargamente (Mt 26, 69-75).

A secção da Negação encerra o capítulo 26 de Mateus. O Sinédrio delibera a sentença de morte logo a seguir à Negação de Pedro, no capítulo seguinte. Jesus é transferido para o Tribunal Romano presidido por Pilatos. Judas, o traidor, comete suicídio por enforcamento. Tudo termina com a Crucifixão, Morte, Ressurreição e Aparições de Jesus, no Evangelho de Mateus (27-28).

2.2.2 MARCOS

O relato de Marcos não difere tanto do relato de Mateus, porém importa sublinhar um ou outro detalhe que se específica somente em Marcos para, deste modo, compreender aquele detalhe que se enriquece somente em Mateus.

Tal como acontece em Mateus com o capítulo 26, os relatos da Paixão e Ressurreição de Jesus em Marcos começam do capítulo 14. Esta última secção dos Sinópticos, em Marcos, não apresenta nos seus primeiros versículos o anúncio de Jesus sobre sua Crucifixão como acontece em Mateus (26, 2). Começa logo pela conspiração dos judeus para matar Jesus (Mc 14, 1-2) e daí prossegue na mesma estrutura do Primeiro Evangelho.

Em Marcos, o contexto do anúncio da Negação de Pedro é paralelo ao de Mateus sendo que a diferença venha a ser modelada pela fórmula. Jesus declara o seguinte: “Em verdade te digo que hoje, esta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás!” (Mt 14, 30).

Se para Marcos, Jesus anuncia que Pedro o negará três vezes antes do galo cantar duas vezes, para Mateus (26, 34), como ficou referido, Jesus anuncia que Pedro o negará três vezes e depois o galo cantará. Em Mateus, não se sabe quantas vezes o galo cantará senão aquando do cumprimento do anúncio de Jesus em que, de facto, se pode verificar que o galo canta somente uma vez (Mt 26, 69-75).

Os pormenores da prisão de Jesus apesar de serem quase os mesmos, em Mateus, Jesus interroga Judas pelo beijo traiçoeiro: “Amigo, para que estás aqui?” (Mt 26, 50). Repreende o discípulo que recorre à espada e decepa a orelha do servo de Caifás dizendo: “Guarda tua espada no seu lugar…” (Mt 26, 52). Em Marcos, Jesus ignora isso tudo, nem responde a Judas que o beija para o entregar aos que o vêm prender, nem repreende o homem que corta a orelha do servo de Caifás à espada. Jesus limita-se a responder a multidão que vem detê-lo.

A particularidade de Marcos consiste também no facto de ser o único Evangelho Sinóptico a se referir ao momento exato em que os discípulos fogem, tal como ficou avisado com o anúncio da Negação de Pedro (Mc 14, 27) já referido. Todos fogem após Jesus se dirigir à multidão que o vem prender:

‘Serei eu um ladrão? Saístes para prender-me com espadas e paus! Eu estive convosco no Templo, ensinando todos os dias, e não me prendestes. Mas é para que as Escrituras se cumpram.’ Então, abandonando-o, fugiram todos. Um jovem o seguia e sua roupa era só um lençol enrolado no corpo. E foram agarrá-lo. Ele, porém, deixando o lençol, fugiu nu. (Mc 14, 45-52)

Em Marcos (14, 66-70) a Negação de Pedro molda-se numa estrutura igualmente paralela a de Mateus e, ainda assim, se para Marcos o galo canta duas vezes após a primeira e após a última das três negações de Pedro, para Mateus o galo canta somente uma vez, depois da terceira negação.

Outrossim, a secção da Negação de Pedro encerra o capítulo 14 de Marcos substituída por outros episódios no modelo de Mateus, fazendo a diferença omitindo a morte de Judas, não obstante referida apenas por Mateus, e acrescentando a Ascensão de Jesus sobre a Ressurreição de Jesus (Mc 15-16).

2.2.3 LUCAS

Nos Evangelhos Precedentes, o anúncio da Negação de Pedro é precipitado pela citação que Jesus faz de Zacarias, seguinte: “Fere o pastor, que as ovelhas sejam dispersadas!” (Zc 13, 7). Em Lucas, o anúncio da Negação de Pedro não resulta de uma discussão tão acesa assim entre Jesus e Pedro e/ou discípulos.

Depois do jantar da Última Ceia, Jesus prossegue conversando com os discípulos e, nisso, dirige-se particularmente a Pedro que recebe imediatamente o anúncio das suas negações ao tentar interferir com a sua opinião nas Palavras de Jesus:

‘Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos.’ Disse ele: ‘Senhor, estou pronto a ir contigo à prisão e à morte.’ Ele, porém, replicou: ‘Pedro, eu te digo: o galo não cantará hoje sem que por três vezes tenhas negado conhecer-me’ (Lc 22, 31-34).

Em Lucas, o capítulo (22) da Negação de Pedro começa imediatamente pela conspiração dos judeus para matar Jesus, compreendendo já a traição de Judas (Lc 22, 1-6).

O anúncio da Negação já não acontece logo a seguir à Instituição da Eucaristia, considerando as sequências narrativas como tais, contudo é feito no mesmo local do rito da Instituição da Eucaristia, na sequência dos discursos que seguiram após a cerimónia da Instituição da Eucaristia, incluindo a denúncia da traição de Judas por Jesus. Por isso, o anúncio já não é feito no Monte das Oliveiras, mas no mesmo local da Instituição da Eucaristia, da refeição da Última Ceia, em casa de um homem (Lc 22, 8-13).

A prisão de Jesus já não acontece no Getsémani, mas no Monte das Oliveiras.

Tal como em Mateus, Judas beija Jesus para o entregar aos judeus e Jesus responde a esse sinal de Judas: “Judas, com um beijo entregas o Filho do Homem?” (Lc 22, 48).

Os discípulos percebendo a eminência da agressão pedem autorização de Jesus para se servirem da espada: “Senhor, e se ferirmos à espada?” (Lc 22, 49). Sem o parecer direto de Jesus um deles fere o servo de Caifás decepando lhe a orelha direita (Lc 22, 50).

Lucas é o único Sinóptico a identificar a orelha decepada durante a prisão de Jesus. Jesus não ignora o procedimento do discípulo que corta a orelha do servo de Caifás como acontece em Marcos. Também não o repreende com repulsa como pode considerar-se em Mateus, contudo é aparentemente frio.

Depois do ferimento provocado pelo discípulo, “Jesus, porém, tomou a palavra e disse: ‘Deixai! Basta!’ E tocando-lhe a orelha, curou-o” (Lc 22, 51). Lucas é ainda o único Sinóptico a registar que Jesus cura o servo de Caifás da orelha ferida. Em Lucas, a multidão que vai prender Jesus é identificada como sendo constituída por chefes dos sacerdotes, chefes da guarda do Templo e anciãos (Lc 22, 52).

Após ser preso, Jesus é levado para o Sinédrio e aqui, assim como nos Evangelhos analisados acima, acontece a Negação de Pedro, narrada na estrutura seguinte:

Pedro seguia de longe. Tendo eles acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se ao redor, e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada viu-o sentado perto do fogo e, encarando-o, disse: ‘Este também estava em companhia dele!’ Ele, porém, negou: ‘Mulher, eu não o conheço.’ Pouco depois, outro, tendo-o visto, afirmou: ‘Tu também és um deles!’ Mas Pedro declarou: ‘Homem, não sou.’ Decorrida mais ou menos uma hora, outro insistia: ‘Certamente, este também estava com ele, pois é galileu!’ Pedro disse: ‘Homem, não sei o que dizes.’ Imediatamente, enquanto ele ainda falava, um galo cantou, e o Senhor, voltando-se, fixou o olhar em Pedro. Pedro então lembrou-se da palavra que o Senhor lhe dissera: ‘Antes que o galo cante hoje, tu me terás negado três vezes.’ E saindo para fora, chorou amargamente (Lc 22, 24b-62).

A secção da Negação de Pedro não encerra o capítulo 22 de Lucas como acontece nos Evangelhos Antecedentes. O capítulo termina com a secção dos ultrajes de Jesus e a do julgamento do Sinédrio que, na particularidade de Lucas, vêm depois da Negação de Pedro. Como no Segundo Sinóptico, em Lucas, tudo termina com a Crucifixão, Morte, Ressurreição, Aparições e Ascensão ao Céu.

2.3 O QUARTO EVANGELHO

No Evangelho de João, as secções textuais referentes à Negação de Pedro são separadas entre capítulos diferentes e distantes: o anúncio no capítulo 13 (36-38) e a negação propriamente dita no capítulo 18 (15-18.25-27).

A plataforma do anúncio da Negação, em João, aproxima-se de certo modo do Evangelho Sinóptico de Lucas.

Em João, Pedro recebe o anúncio das suas negações ao interferir prodigamente nas Palavras de Jesus do discurso de despedida:

Simão Pedro lhe diz: ‘Senhor, para onde vais?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Não podes seguir-me agora aonde vou, mas me seguirás mais tarde.’ Pedro lhe diz: ‘Por que não posso seguir-te agora? Darei a vida por ti.’ Jesus lhe responde: ‘Darás a vida por mim? Em verdade, em verdade, te digo: o galo não cantará sem que me renegues três vezes’ (Jo 13, 36-38).

O capítulo da Negação é o primeiro da parte II do Livro da Glória, sobre a Paixão e Ressurreição de Jesus, conforme a divisão do Quarto Evangelho (COUGIL; ALVES; FERREIRA, op. cit.). Começa com a prisão de Jesus num clima muito específico, a par dos Sinópticos. O local da prisão não é definido. Trata-se de um jardim ao lado da torrente de Cédron (Jo 18, 1). A hora é já noturna e os que vão prender Jesus são devidamente caracterizados pelo narrador: “Judas, então, levando a coorte e guardas destacados pelos chefes dos sacerdotes e pelos fariseus, aí chega, com lanternas, archotes e armas” (Jo 18, 3).

Em João, o papel traiçoeiro de Judas não passa de indicar aos judeus apenas o local onde presumivelmente Jesus está naquela hora, pois, segundo o texto, “Judas que o traía, conhecia também esse lugar porque, frequentemente, Jesus e seus discípulos aí se reuniam” (Jo 18, 2). Não houve tempo para Judas dar o seu beijo do mal, uma vez que Jesus se antecipa aos que o vêm prender (Jo 18, 4-11).

Neste Evangelho, é Jesus quem autoriza a fuga dos discípulos. O discípulo que fere o servo de Caifás é Pedro. A orelha cortada é à direita, tal como refere Lucas. O servo de Caifás ferido chama-se Malco. João é o único Evangelho que identifica pelo nome estes dois personagens.

Constata-se que “João pode ter usado material especial para desenvolver valiosa tradição histórica” (HARRINGTON, 2014, p. 592).

A Negação de Pedro acontece no Sinédrio como relatam todos os outros Evangelhos. Apesar de Jesus ter ordenado a fuga dos discípulos Pedro insiste em segui-lo na companhia de um condiscípulo até ao Sinédrio.

Em João, aparentemente, há poucas hipóteses de se evitar a negação por parte de Pedro. Um dos que interrogam Pedro no Sinédrio consegue provar que Pedro é perfeitamente um dos discípulos de Jesus e, ainda, aquele discípulo manchado de sangue, pois decepara a orelha direita de seu parente, Malco, servo do Sumo-Sacerdote, Juiz Supremo do Sinédrio (Jo 18, 15-27).

Depois do julgamento de Caifás, Jesus é encaminhado a Pilatos. Com o julgamento de Pilatos e posterior libertação de Barrabás fica encerrado o capítulo da Negação de Pedro, em João (18). Tudo que segue nos três últimos capítulos deste Evangelho resume-se na Crucifixão, Morte, Ressurreição e Aparições de Jesus, a par de Mateus.

3. O PARADOXO NA NEGAÇÃO DE PEDRO

Há um paradoxo grande por explorar nesse episódio da Negação de Pedro.

Este acontecimento tem espaço reservado nos Evangelhos e num relato caracterizado por certa imparcialidade da parte do narrador.

Ao longo dos Evangelhos, é possível deparar-se com a figura de Pedro consagrado Apóstolo Mestre tanto por Jesus como pelos diversos contextos inerentes aos relatos respectivos. É o discípulo que mais se destaca, que ama Jesus e amado por Jesus.

O personagem principal desta noite da Negação é Jesus que se investe a resumir seus ensinamentos e os da Sagrada Escritura.

Tudo corre contra os discípulos e particularmente contra Pedro. Logo depois do jantar, Jesus avisa apoiando-se nas profecias da Sagrada Escritura que todos os discípulos se escandalizarão por causa dele. Pedro rejeita com toda a determinação a advertência. Constata-se que não se trata do primeiro e único aviso, nem para esta noite. As outras profecias também estão em causa. Por isso mesmo Jesus dá uma declaração a Pedro, à parte: “Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes!” (Mt 26, 34). Na sequência, os discípulos escandalizam-se. Pedro nega e o galo canta.

3.1 PEDRO, PRÍNCIPE DOS APÓSTOLOS

É difícil relegar do primeiro plano o papel de Pedro ao observar os Evangelhos.

Conforme a descrição de Lopes, Pedro é galileu, nasce e cresce numa terra de escuridão, pois a influência gentílica é esmagadora na Galileia. Essa região é conhecida como Galileia dos gentios, terra de trevas e escuridão. Prospera nessa terra muitas crendices, crenças estranhas e contrárias à fé judaica.

Pedro é levado a Jesus pelo irmão André. Desde que tem o encontro com Jesus, Pedro exerce uma liderança notória dentro do grupo apostólico. Torna-se um dos Apóstolos mais próximo de Jesus. O seu irmão tem o privilégio de conduzi-lo a Jesus, contudo jamais tem a projeção do mesmo (LOPES, 2015).

3.1.1 O PRIMADO DE PEDRO

O nome primitivo de Pedro é Simão (Mc 1, 16.29.36; 14, 37; Mt 17, 25; Lc 5, 3-10, 22, 31; 24, 34; Jo 1, 41-42; 21, 15-17) que apenas em duas passagens do Novo Testamento aparece na forma grecizada de Simeão (Act 15, 14; 2Pd 1, 1). Tal nome é depois suplantado pelo apelido grego Petros, substantivo masculino formado a partir do termo petra traduzindo o original aramaico kepha, pedra, rocha.

Em Coenen e Brown, petra significa rocha, uma massa de rochas, seixo rolado, símbolo de firmeza. Raro no Antigo Testamento, no Novo, o nome petros ocorre 154 (cento e cinquenta e quatro) vezes, mas em todas as ocorrências, menos uma (Jo 1, 42), é empregado como cognome de Simão (COENEN; BROWN, 2000, pp. 1613-1614; cfr. ALVES, 2002, p. 483).

Natural de Betsaida da Galileia (Jo 1, 44) e irmão de André (Mt 10, 2), Pedro é casado (Mc 1, 29-30; Mt 8, 14-15; Lc 4, 38-39), pescador de profissão (Mc 1, 16; Mt 4, 18; Lc 5, 1-11) e vive em Cafarnaum (Mc 1, 21.29).

Dotado de um carácter impulsivo, ousado e mesmo precipitado é também por vezes circunspecto e temeroso.

Pode ser considerado realmente um líder nato, dedicado e fiel, com a palavra e a ação sempre prontas.

Em conformidade com os relatos da vocação dos primeiros discípulos (Mc 1, 16-20; Mt 4, 18-22; Lc 5, 1-11; Jo 1, 40-43), o seu chamamento dá-se no início do ministério público de Jesus próximo do lago da Galileia, juntamente com o chamamento de seu irmão André e em estreita ligação com o de Tiago e João.

Nos Evangelhos, é mencionado muito mais frequentemente do que qualquer outro discípulo. O seu nome aparece em primeiro em todas as listas dos Doze (Mc 3, 16) ou dos Apóstolos (Mt 10, 2; Lc 6, 14; Act 1, 13).

Acompanhando sempre Jesus, o Mestre, em quem deposita plena confiança, é testemunha de todos os seus ensinamentos e milagres, designadamente o da cura de sua sogra (Mt 8, 14). Com Tiago e João, assiste à ressurreição da filha de Jairo por Jesus (Mc 5, 37; Lc 8, 51), à Transfiguração de Jesus (Mc 9, 2; Mt 17, 1; Lc 9, 28) e à agonia de Jesus no Horto das Oliveiras (Mc 14, 33; Mt 26, 37). Com Tiago, João e André, interroga Jesus sobre os sinais que hão de preceder os acontecimentos escatológicos (Mc 13, 2).

Por vezes, os evangelistas apresentam-no a exercer uma função de liderança no grupo dos discípulos.

Ainda que na iminência da Paixão de Jesus Pedro venha rejeitar a profecia da Sagrada Escritura sobre o escândalo lembrada por Jesus no fecho da cerimónia da Última Ceia (Mc 14, 29-31; Mt 26, 33-35; Lc 22, 33; Jo 13, 36-38), é ele quem interroga Jesus sobre a interpretação dos seus ditos (Mt 15, 15; Lc 12, 41), sobre o perdão (Mt 18, 21), sobre a figueira seca (Mc 11, 21) e sobre a recompensa devida pela renúncia dos discípulos (Mc 10, 28; Mt 19, 27; Lc 18, 28); é ele quem lhe manifesta a dificuldade em compreender que é através do sofrimento que se atinge a glória (Mc 9, 32; Mt 16, 22), conduz os seus companheiros na Galileia à procura de Jesus (Mc 1, 36); é ele ainda que, na história da paixão, é enviado para preparar a Páscoa (Lc 22, 8), se recusa a que Jesus lhe lave os pés (Jo 13, 6-9) e o interroga sobre o traidor (Jo 13, 24).

Um antigo enunciado querigmático menciona como facto relevante da fé a anunciar a experiência pascal de Pedro e o testemunho coletivo dos Apóstolos os quais proclamam em uníssono: “É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (Lc 24, 34).

3.1.2 CHEFE DA IGREJA

Pedro exerce a sua atividade missionária inicial sobretudo em Jerusalém (Act 1-11.15; Gl 1,18) e no resto da Palestina (Act 8, 14-25; 9, 31-10, 48).

Em conformidade com o testemunho de Lucas nos Atos dos Apóstolos, ele atua como líder incontestável e chefe da Igreja nascente em Jerusalém. Organiza a eleição de Matias (Act 1, 15-26), fala como primeiro no Pentecostes (Act 2, 14-36) e ainda em várias outras ocasiões (Act 3, 12-26; 4,8-20). É também ele o primeiro a batizar uma família pagã sem impor a circuncisão prévia (Act 10, 34-48; 11, 1ss), advogando em favor de tal atitude na assembleia magna de Jerusalém (Act 15, 7-11). Mas tarde, em Antioquia, depois de ter mostrado grande abertura em relação aos étnico-cristãos, parece ter vacilado algum tanto por receio ou em consideração dos influentes judeu-cristãos. É devido a esta ambiguidade que se vê claramente censurado por Paulo (Gl 2, 11-14).

A tradição atesta a sua permanência, morte e sepultura em Roma. Todavia a forma literária da tradição não aparece claramente antes dos finais do século II e a ideia de Pedro como bispo de Roma não se encontra na literatura anterior ao século III. No entanto, a convergência de probabilidades leva a maior parte dos historiadores a aceitarem a tradição romana segundo a qual Pedro é executado no reinado de Nero, entre 64 e 67, na colina do Vaticano. As escavações arqueológicas realizadas na basílica de São Pedro entre os anos 1940-1949 e 1953-1957 parecem confirmar este dado tradicional.

3.2 PEDRO NEGA JESUS

Pedro nega verbalmente que não conhece Jesus nos vestíbulos do Sinédrio.

A Negação de Pedro pode ser compreendida no cúmulo das negações/ rejeições deste Apóstolo em relação a Jesus, suas palavras e seus gestos apesar de que tal aconteça na fase preliminar da Paixão e Ressurreição, num contexto em que Jesus pretende comunicar os últimos ensinamentos a todos os discípulos uma vez que se aproxima a sua morte na cruz.

3.2.1 O ANÚNCIO DA NEGAÇÃO

Em Mateus e Marcos, o anúncio da Negação de Pedro é feito em torno da profecia de Zacarias (13, 7) referida, lembrada por Jesus; em torno do aviso de Jesus sobre sua aparição na Galileia depois de ressuscitar; depois de Pedro discriminar que todos os discípulos se escandalizarão por causa de Jesus, exceto ele.

Jesus revela que os discípulos vão se escandalizar por causa dele já no Monte das Oliveiras, próximo do Getsémani, cantado o Hino que encerra o rito da Instituição da Eucaristia.

Na perspectiva de Pohl, Jesus prevê mais do que fuga exterior, falta de coragem. Os discípulos vão perder a fé nele. Ainda há pouco, durante o grande Hallel, o grupo cantava alegre: “A direita de Iahweh é excelsa! A direita de Iahweh faz proezas! Jamais morrerei, eu viverei…” (Sl 118, 16-17). Mas a conclusão que tiraram disto para o Messias Jesus no pensamento deles receberá um golpe mortal. Segundo o entendimento que Jesus tem da Escritura, eles precisam fazer reformas em nível do discernimento.

Pedro levanta uma profecia contrária ao responder assim… “ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandalizarei” (Mt 26, 33). Sua atitude tende inexoravelmente para o abandono. Nesta altura, Jesus apanha-o e se torna mais exigente. Pedro insiste com mais veemência. Considera o anúncio da morte de Jesus um absurdo.

Para Pedro, é mais possível que algo fracasse com Jesus do que com ele. Os demais discípulos agem como Pedro. Cada um deles retira-se para a própria fidelidade e entra sozinho na Paixão à qual ninguém resiste (POHL, 1998).

Num contexto paralelo em Lucas e João, Pedro embaraça Jesus com questões aparentemente da sua curiosidade. Quer saber para onde vai Jesus, prometer segui-lo e inclusive dar a vida por ele, mesmo depois de Jesus ter garantido que não pode segui-lo imediatamente senão mais tarde. O facto decide o anúncio da Negação (Jo 13, 36-38; Lc 22, 31-34).

Nas ilações de Hendriksen, Pedro fica perturbado com a observação feita por Jesus: “Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. Vós me procurareis… Para onde vou, vós não podeis ir” (Jo 13, 33). Ele quer manter Jesus aqui na terra. Se o grupo fica ele não (HENDRIKSEN, 2004).

3.2.1.1 A CONSAGRAÇÃO DOS DISCÍPULOS

Considerando o Evangelho de Lucas à parte, antes do anúncio da Negação de Pedro, Jesus consagra os discípulos em conjunto: “Vós sois os que permanecestes constantemente comigo em minhas tentações; também eu disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Lc 22, 28-30). Consagra em particular Pedro (Lc 22, 31-32).

Conforme Rienecker, o Senhor recorda a exaltação de seus discípulos que acontecerá depois de sua humilhação. Certifica-lhes a glória futura em seu reino messiânico. Com certo motivo Jesus interpela o discípulo com Pedro. Ele que confessou em nome de todos a fé em Jesus quando era Pedro, ainda hoje mesmo sendo o Pedro vai negar três vezes asseverando que nem sequer o conhece (RIENECKER, 2005).

A escolha que Jesus faz dos Apóstolos surpreende profundamente, observa Lopes citado. Nenhum empreendedor selecionaria esse grupo. São homens com muitas limitações.

Verificando, Jesus escolhe esses homens não por aquilo que eles são, mas por aquilo que eles vieram a ser. E vieram a ser não por desenvolverem seu potencial, mas pela transformação operada neles, por Jesus e pela capacidade do Espírito Santo (LOPES, op. cit., pp. 10-11).

3.2.2 O LAVA-PÉS

Pedro nega exclusivamente que Jesus lhe lave os pés nas cerimónias da Última Ceia, o grande sinal da humilhação de Jesus desta noite (Jo 13, 1-12).

Descrito por Hendriksen acima citado, Jesus e os discípulos acabam de chegar de Betânia. Os pés protegidos apenas por sandálias ficaram parcialmente expostos à areia e poeira. Estão sujos ou pelo menos desconfortáveis. Nessas circunstâncias, a lavagem dos pés é um costume. O anfitrião embora pessoalmente não realizasse essa tarefa (Gn 18, 4; Lc 7, 44), em geral, toma as providências para que seja feita. É no final das contas uma tarefa servil, ou seja, uma tarefa a ser feita por um criado.

Verificando, quando João Batista desejou expressar seus sentimentos de indignidade em comparação a Jesus, ele não conseguiu pensar em nada melhor para expressar isso do que dizer que ele se considerava indigno de se ajoelhar e desatar as correias das sandálias de Jesus e tirá-las para lavar os pés de Jesus (Mc 1, 7; Jo 1, 27).

Ora, aqui no Cenáculo não há servo e um dos discípulos tem de realizar essa tarefa. Mas nenhum deles tem à disposição. Esses homens são muito orgulhosos. Uns poucos momentos antes, estiveram a argumentar entre si sobre a questão de grandeza pessoal (Lc 22, 24).

Jesus dá exemplo de humildade e serviço no meio de homens tão cheios de importância pessoal, homens como Judas, o traidor. Jesus lava até mesmo os pés deste! Não se sabe de quem são os pés que Jesus lava primeiro enquanto, de facto, é registada apenas a reação de Pedro. Os outros discípulos provavelmente guardam seus pensamentos em seu íntimo estando perplexos e envergonhados pelo facto de que Jesus está a fazer por eles o que eles deveriam estar a fazer por ele e uns pelos outros.

Impetuoso e impulsivo, Pedro era o homem que não podia ficar quieto. Pensou em viva voz: “Senhor, tu, lavar-me os pés?!” (Jo 13, 6).

Pedro vê a incongruência do que está a acontecer. Para este discí­pulo, a simples ideia de Jesus lavar os pés dele é inconcebível. Não entende o que Jesus está a fazer, nesse momento, como parte e parcela de todos os acontecimentos dessa noite memorável e das horas que seguem. Ele está a pensar apenas sobre o que está a acontecer no momento e, mesmo isso, ele não consegue ver em seu contexto verdadeiro.

Jesus, entretanto, está constantemente a pensar na obra de humilhação como um todo, da qual essa lavagem dos pés é apenas parte.

Pedro consciente da impropriedade da presente situação, mas completamente ignorante da impropriedade de um discípulo dizer a seu Senhor o que fazer e o que não fazer exclama: “Jamais me lavarás os pés!” (Jo 13, 8). (HENDRIKSEN, op. cit., pp. 604-609).

3.2.3 A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

Nos Sinópticos, há aproximação entre o anúncio da Negação de Pedro e a Instituição da Eucaristia e, como em Marcos, nada separa os dois relatos.

Os primeiros momentos da Paixão e Ressurreição são marcados por avisos diversos de Jesus aos discípulos.

Momentos antes do anúncio da Negação, no cerne da Última Ceia, Jesus faz algumas alterações nas fórmulas da bênção do pão e do vinho.

Quem preside na refeição pascal judaica é sempre o chefe da família. Ao interpretar Marcos (14, 22-25), Mulholland pondera que o autor do Segundo Evangelho, como sempre, não preenche os detalhes. Provavelmente Jesus se levanta da posição reclinada e como chefe da família recita a oração judaica habitual, “Bendito seja o Senhor, nosso Deus, rei do universo, que faz a terra dar o seu fruto” e os discípulos respondem “Amém”, declarando sua unidade com a bênção. Jesus quebra o pão e o oferece à sua família segundo a tradição judaica, contudo dá a esse ato um significado novo ao dizer “Tomai, isto é o meu corpo” (Mc 14, 22). Ele não olha para trás, para o Egito. Olha adiante, para a própria morte, o que especifica ainda ao tomar o cálice e dar graças: “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado em favor de muitos” (Mc 14, 24). Dá-o a todos e todos dele bebem.

Na noite histórica da Primeira Páscoa, a redenção do povo de Deus da escravidão foi simbolizada pelo sangue do cordeiro (Ex 12, 21-28), sendo mais tarde a aliança de Deus com Israel no Sinai ratificada com sangue (Ex 24, 8).

Jesus anuncia uma nova aliança a ser selada com sangue. Essa, porém não é confirmada com o sangue de animais, é tomada efetiva pelo próprio sangue de Jesus (Hb 9, 15.20). Uma vez que o sangue é vida Jesus declara que está dando a si mesmo. Além disso, seu sangue será derramado indicando que ele morrerá uma morte violenta (MULHOLLAND, 1999, p. 211).

3.2.4 DO GETSÉMANI AO SINÉDRIO

No Getsémani, cumpre-se a profecia de Zacarias lembrada por Jesus referida: “Fere o pastor, que as ovelhas sejam dispersadas!” (Zc 13, 7). Todos os discípulos fogem (Mc Lc 14, 50), conforme à interpretação de Jesus: “Essa noite todos vós vos escandalizareis por minha causa, pois está escrito…” (Mt 26, 31). Cada um deles contradiz a sua promessa inicial: “Mesmo que tiver que morrer contigo, não te negarei” (Mt 26, 35).

Ao seu modo, Pedro nega Jesus ao intentar decepar a orelha do servo do Sumo-Sacerdote durante a prisão de Jesus (Mt 26, 47-56; Mc 14, 43-52; Lc 22, 47-53; Jo 18, 2-11). Aludido por Boor, Jesus protege seus discípulos exclusivamente por meio de sua palavra e sua autoridade interior. Pedro, porém, põe a ação de seu Senhor em risco com um procedimento súbito e autocrático. Esquece-se do que Jesus lhe dissera como advertência (Jo 13, 36-38) e o que realiza não representa nenhum ato heroico. Cogita das coisas dos homens e não das coisas de Deus sem prestar a atenção à ação de seu Senhor que não lhe dá nenhuma ordem para atacar, mas evidentemente deseja entregar-se para ser preso. Por isso Jesus repreende-o: “Embainha a tua espada. Deixar-me-ei de beber o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18, 11). (BOOR, 2002, pp. 245-246)

Preso Jesus, Pedro “segue-o”. Muitos exegetas encorajam que Pedro de facto foi um discípulo bravo entre todos porque foi visto a acompanhar Jesus mesmo depois da prisão deste, do Getsémani ao Sinédrio. Vêm Pedro a cumprir com a sua palavra, com a sua promessa a Jesus: “Senhor, estou pronto a ir contigo à prisão e à morte” (Lc 22, 33). Nas inferências deste Estudo, isto pode ser somente incriminatório.

Mais que Pedro a cumprir com as suas promessas ao Senhor, vê-se aqui o cumprimento das profecias reveladas por Jesus.

Todos os discípulos fogem incluindo Pedro e nesta superação do contraditório tudo o que foi dito no anúncio da Negação cumpre-se, incluindo os elementos precedentes. Todos os discípulos se escandalizam quando vêm Jesus a ser preso. Pedro é o primeiro a escandalizar-se ao cortar inadvertidamente a orelha de Malco (Jo 18, 10).

Pedro também “foge” quando vê Jesus a ser preso/ julgado. Os Evangelhos afirmam que “Pedro seguiu-o de longe até o pátio do Sumo-Sacerdote e, penetrando no interior, sentou-se com os servidores para ver o fim” (Mt 26, 58). Esta forma de seguir não corresponde àquela prometida por Pedro, seguir mesmo que seja para morrer. Aliás, Jesus já havia retirado do pensamento de Pedro esta ideia de segui-lo e neste modo: “Não podes seguir-me agora aonde vou, mas me seguirás mais tarde” (Jo 13, 37). E este seguir de longe de Pedro até ao pátio do Sinédrio não deve ser considerado um seguir autêntico. Para quem conhece Pedro, esse seguir indeciso não deve caracterizar o Príncipe dos Apóstolos.

Todavia no Sinédrio Pedro nega Jesus. Se Pedro seguisse decididamente não o negaria, senão por uma contradição redondamente absurda.

Pedro aparece no Sinédrio não para seguir Jesus, mas para que se cumprisse a palavra do Senhor: “…antes que o galo cante, me negarás três vezes! …todos vós vos escandalizareis por minha causa, pois está escrito…” (Mt 26, 31.34).

O momento e o lugar exato da “fuga” dos discípulos não estavam claro no aviso do Monte das Oliveiras. Só depois de tudo acontecer, depois de Pedro negar Jesus e o galo cantar, franqueia-se que tal se deu e/ou se daria no Getsémani para todos os discípulos, continuando no Sinédrio para Pedro.

Pedro nega Jesus nos vestíbulos do Sinédrio. Nega-o com juramentos e o galo canta conforme o anúncio precedente de Jesus. Aquele que prometera ir com Jesus à prisão e à morte desiste logo no início do clímax dos episódios da Paixão e Ressurreição. O julgamento do Sinédrio é só o começo de tudo que vai acontecer com Jesus e, aqui no Sinédrio, Pedro nega Jesus, chora e desaparece da cena, conforme a apreciação de Lopes (op. cit., pp. 67-69).

3.2.4.1 O CANTO DO GALO

Refere-se que o canto do galo que complementa a Negação de Pedro tem na antiguidade certa importância, pois de alguma forma marca as horas da noite. Distingue-se dois ou três cantos do galo: um entre as duas e as três, outro pela alvorada que, em Jerusalém, na Primavera desponta pelas cinco horas.

Sobre todos os factos, Pedro nega Jesus e o galo canta.

Como explica Mulholland supracitado, ao ouvir o galo cantar Pedro lembra-se das Palavras de Jesus em resposta à ostentação dele (Mc 14, 30ss). Ele arrepende-se e chora. É o princípio do arrependimento (MULHOLLAND, op. cit., p. 223; cfr LANCELLOTTI, 1985, p. 231; STOGER, 1985, pp. 249-250).

Com a última negação e com a canção do galo, Pedro chora. E se há nos Evangelhos um discípulo de Jesus a chorar talvez seja somente este.

Nas Palavras de Jesus a Pedro, “…o galo não cantará sem que me renegues três vezes” (Jo 13, 38). O canto do galo serve de indicação de tempo como foi referido. Porém, de acordo com Hendriksen citado, a menção do canto do galo refere-se não apenas ao tempo, mas também ao canto em si o qual marca o tempo.

De fato, Pedro ouve esse canto num modo de o levar ao arrependimento. Para ele a referência ao canto do galo fica bem registada. Quando o momento chega essa memória armazenada subitamente destrava a corda do sino da consciência de Pedro (HENDRIKSEN, op. cit., pp. 638-641).

Já na terceira vez da Negação, “imediatamente, enquanto ele ainda falava, um galo cantou, e o Senhor, voltando-se, fixou o olhar em Pedro. Pedro então lembrou-se da palavra que o Senhor lhe dissera: Antes que o galo cante hoje, tu me negarás três vezes. E saindo para fora, chorou amargamente” (Lc 22, 60-62).

Declamado por Vieira, “cantou o galo, olhou Cristo, chorou Pedro” (VIEIRA, 1669, p. 319).

4. A NEGAÇÃO DE PEDRO NO CONTEXTO DOS MILAGRES DE JESUS

Justifica-se que os milagres constituem os conteúdos principais de cada página da Sagrada Escritura. Cada livro bíblico, cada capítulo, cada versículo não descuida o facto de Deus Pai que se revela ao homem para o convidar a partilhar uma vida em comum de Deus com o homem e do homem com Deus. A exegese da Sagrada Escritura em geral e dos Evangelhos em particular tem tentado inventariar os Milagres de Jesus, como se pode conferir em Flores (2008).

É difícil separar entre Jesus e os milagres que ele realizou. Segundo Coenen e Brown, “os testemunhos neotestamentários concordam que a natureza sem igual de Jesus também se expressa nos milagres: seu amor compassivo bem como a sua autoridade divina” (COENEN; BROWN, op. cit., p. 1292).

Uma aproximação à teoria dos milagres e dos Milagres de Jesus pode conduzir à descoberta e à compreensão de outros milagres registados na Sagrada Escritura sem que tenham sido reclamados como tais.

No desabafo de João e no termo do seu Evangelho, há muitas outras coisas que Jesus fez que se fossem escritas uma por uma o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam (Jo 21, 25).

A Negação de Pedro cumpre todos os requisitos de milagre e de Milagre de Jesus.

4.1 PANORÂMICA CONCEITUAL DE MILAGRE

A História da Salvação é feita de eventos milagrentos sem os quais ela não passa de simples História da Humanidade. Aquela História é esta suturada por incidentes absolutamente extraordinários, aqueles que escapam do controlo racional do homem.

Em Coenen e Brown supracitados, pela etimologia as palavras milagre e maravilha referem-se ao assombro e espanto causados por um evento incomum ou inexplicável. Num contexto religioso, semelhante evento tem sua origem atribuída a uma influência divina transcendente, embora o incomum não seja necessariamente uma contradição das leis normais da natureza.

O assombro e o espanto que se sentem diante da confrontação com semelhante espetáculo ou por semelhante impressão expressa-se mediante o grupo de palavras gregas thaumazō (ficar atónito, maravilhar-se, ficar surpreso). (COENEN; BROWN, op. cit., pp. 1282, 1293)

Vancells refere que a palavra thauma (objeto de admiração, prodígio, maravilha, milagre) não aparece nunca nos Sinópticos. Quando estes livros falam de Milagres de Jesus usam a palavra dynamis (poder), mas geralmente no plural dynameis (atos cheios de poder, ações poderosas). O elemento prodigioso está indicado com a expressão semeia kai terata (sinais e prodígios/ maravilhas). O termo fundamental dos Sinópticos para os atos de Jesus é dynameis (VANCELLS, 1989, p. 33).

4.1.1 PROPRIEDADES DO MILAGRE

Na sistematização de Grasso, por milagre entende-se um facto sensível, superior às forças da natureza, operado por Deus em vista de um fim religioso ou moral.

Na definição de um milagre deve ter-se em conta quatro propriedades: deve ser um facto sensível, verificável pelos sentidos e através dos meios de pesquisa científica; deve ser superior às forças da natureza, ou melhor as forças da natureza não podem produzi-lo realmente ou produzi-lo daquela determinada maneira; e por isso mesmo devem provir de Deus como causa; e tal intervenção de Deus finalmente deve ter um fim religioso como a demonstração da sobrenaturalidade de uma revelação, ou um fim moral como poderia ser a demonstração da inocência de uma pessoa.

Os milagres são possíveis porque Deus Ser Infinito possui poder e motivos suficientes para modificar o curso normal das leis da natureza (GRASSO, 1967).

Deus Omnipotente, Criador do Universo exerce certamente domínio sobre o Universo.

4.2 OS MILAGRES DE JESUS

Além das referências feitas até aqui, deduzir a Negação de Pedro como Milagre de Jesus decorre inevitavelmente do reconhecimento de que os milagres são o fundamento da Pessoa de Jesus sem os quais seria perplexo descrever sobre a sua natureza tanto divina como humana e vice-versa. É quase impossível falar dele sem os seus milagres e sem os milagres de Deus. Se na fase adulta ele próprio sustentou a sua identidade operando milagres, sua vinda no mundo não seria possível se não houvesse milagre.

Comentado com Grasso citado, Jesus apresentou-se ao mundo como o Messias esperado pelos judeus, como o próprio Filho de Deus. Para provar a sua afirmação apelou para a sublimidade de sua doutrina, para a santidade de sua vida (Jo 8, 45) e especialmente para a realidade de seus milagres (Jo 10, 38).

Os Evangelhos estão repletos de milagres. Basta abrir qualquer página ao acaso. Pelo menos em 20 (vinte) ocasiões os evangelistas falam de modo geral haver Jesus Curado doentes (Mt 4, 23; 8, 16ss) enquanto em 35 (trinta e cinco) casos cada milagre é descrito mais ou menos detalhadamente. Destes, 12 (doze) são referidos por 3 (três) evangelistas, 6 (seis) por 2 (dois) e os outros por um só. A maioria dos milagres refere-se à cura de doentes ou possessos, 3 (três) são ressurreições de mortos e 9 (nove) factos realizados sobre a natureza inorgânica. Entre os últimos, pode destacar-se a transformação da água em vinho nas bodas de Caná (Jo 2, 1ss), 2 (duas) pescas milagrosas (Lc 5, 1ss; Jo 21, 1ss), 2 (duas) multiplicações de pães (Mc 6, 35ss; 8, 1ss), o caminhar de Jesus e de Pedro sobre as águas (Mt 14, 25ss) e a tempestade amainada (Mc 4, 35ss). Entre as curas, as melhores descritas são aquelas do cego de nascença (Jo 9, 1ss) e do paralítico (Jo 5, 1ss) e, entre as ressurreições, a de Lázaro (Jo 11, 1ss).

Certamente na descrição acima dos Milagres de Jesus nos Evangelhos não consta a Negação de Pedro, mas importa insistir entre outros motivos que tal Negação é referida por todos os evangelistas.

O autor supracitado recorda que a historicidade dos milagres é confirmada ainda pelo estilo simples e sóbrio em que são descritos. Nada com sabor de ostentação e de aparato, nada que se ressinta da tendência oriental ao exagero. As doenças que Jesus curou são as comuns entre os homens como a lepra muito frequente então na Palestina, a cegueira, a paralisia e a hidropisia. Vê-se que os evangelistas não inventaram casos extraordinários para colocar em evidência o destemor do seu Mestre (GRASSO, op. cit., pp. 96-97).

De acordo com Vancells citado, os gestos extraordinários de Jesus não são comumente atos espetaculares nem para castigar. Jesus não realiza milagres curiosos ou teatrais. Nos gestos de Jesus as ações violentas são estranhas da mesma maneira que quase não há manipulações ou gestos mágicos (VANCELLS, op. cit., pp. 33-34).

Para Coenen e Brown citados, o que distingue os Milagres de Jesus de modo definitivo e radical dos milagres das narrativas judaicas e helenísticas é a referência escatológica daqueles. Os Milagres de Jesus são sinais de governo soberano de Deus, a aurora do qual Jesus anunciava na sua proclamação (Mt 4, 23; 9, 35; Mc 1, 39; 6, 6; Lc 4, 14-15.44). As palavras e as obras de Jesus são o início da era da Salvação e os milagres são um prenúncio e uma promessa da Redenção Universal vindoura (COENEN; BROWN, op. cit.).

4.3 A NEGAÇÃO DE PEDRO COMO MILAGRE DE JESUS

Só é possível abordar a Negação de Pedro como Milagre de Jesus a partir de uma caracterização indireta dos Evangelhos, pois a maioria dos Milagres de Jesus celebrizados como tais são diretamente caracterizados nestes livros da Sagrada Escritura. Assim, por exemplo Jesus cura o paralítico e clarifica-se que se trata de Milagre de Jesus (Mc 2, 12; Lc 5, 26; Mt 9, 8).

Um dos aspectos que chega a chamar a atenção neste episódio da Negação é a sua autenticidade que pode ser cabalmente testada. Morris corrobora que a tríplice negação de Jesus por parte de Pedro está registada em todos os Evangelhos, como ficou mencionado acima. Surgem alguns problemas, de facto. Por exemplo, ao passo que os Sinópticos as registam todas juntas, João interpola um interrogatório diante de Anás entre a primeira e a segunda (MORRIS, 1983, p. 295).

Niccacci e Battaglia ao continuarem, propõem que João dá demonstração da sua habilidade narrativa. A segunda e terceira negação são separadas da primeira por motivos literários e não cronológicos (NICCACCI; BATTAGLIA, 1985, p. 240-241; MATEOS; BARRETO, 1989, p. 723).

Para Morris citado, este facto talvez nada mais signifique senão que os Sinópticos completam esta história uma vez começada. Ninguém sustenta que as três negações se seguem uma após outra imediatamente. Deve haver intervalos e não há razão por que algumas coisas não tenham ocorrido durante os intervalos.

Outro problema é que depois da primeira ocasião diz-se que pessoas diferentes desafiam Pedro. Em Mateus, a segunda negação parece ter sido eliciada por uma pergunta de uma criada diferente da primeira, em Marcos pela mesma criada, em Lucas por um homem e em João por certo número de pessoas. Um pouco de reflexão demonstra que em tal situação uma pergunta uma vez feita provavelmente é retomada por outras pessoas em derredor do fogo. Pessoas diferentes contando o caso ressaltam participantes diferentes (MORRIS, op. cit., p. 295).

Os Evangelhos proclamam em coro que, no Sinédrio e conforme havia sido avisado por Jesus, Pedro nega três vezes dizendo não conhecer Jesus e o galo canta. Nem especificam a Negação de Pedro como Milagre de Jesus, nem se dirimem no testemunho de um acontecimento extraordinário diretamente anunciado por Jesus, por sinal anteposto como penúltimo pela sua Ressurreição.

4.3.1 DIFERENÇA ENTRE A NEGAÇÃO DE PEDRO E A TRAIÇÃO DE JUDAS

A Negação de Pedro é às vezes comparada em mesmo nível com a traição de Judas. Isto pode ser somente incriminatório principalmente do ponto de vista de dignidade humana, moral e espiritual do Príncipe dos Apóstolos, Simão Pedro.

Muitos elementos cruzam-se de facto entre os dois episódios. Assim como a Negação de Pedro, a traição de Judas é testemunhada unanimemente por todos os Evangelhos. O anúncio tanto da Negação como da traição é feito por Jesus durante o jantar da Última Ceia e na sua dilatação.

Para Lancellotti supracitado, na maior coerência textual, a Negação de Pedro cuja gravidade de forma alguma é atenuada pelos Evangelhos corresponde não apenas a recusa de testemunhar a própria fé, mas a sua perda. Trata-se com efeito de uma traição não muito diferente da de Judas. Tal gravidade aparece com toda a clareza se se puser a atenção ao contexto jurídico da narração. Em Israel, a vida ou a morte de um homem levado ao tribunal dependia unicamente das testemunhas que o defendiam ou o acusavam (LANCELLOTTI, op. cit., p. 231).

Entretanto, ao ponderar a aproximação ambos os episódios podem ser thauma, mas só a Negação de Pedro pode chegar a ser dynameis de Jesus.

O anúncio da traição de Judas é feito sob uma descoberta. Judas tem um plano bem patente de trair Jesus (Mc 14, 10-11; Mt 26, 14-16; Lc 22, 3-6). É descoberto por Jesus que como Filho de Deus nada oculto deve estar escondido aos seus olhos. Não há indícios da parte de Pedro de um plano para negar Jesus durante o julgamento do Sinédrio e, pelo contrário, há a intenção e a promessa declarada de seguir Jesus para qualquer lugar que vá, ser preso e morrer por ele caso seja necessário.

Judas quer trair Jesus e trai. Pedro não quer negar nunca Jesus e nega. Judas quer trair Jesus por livre vontade e, por isso mesmo, depois deste crime suicida-se. Pedro vê-se a negar Jesus no Sinédrio por cumprimento das Palavras de Jesus e, por isso mesmo, continua o Príncipe dos Apóstolos apesar da sua negação.

Contudo, segundo Tasker, ao que parece o motivo da traição de Judas permaneceu como um mistério para os cristãos primitivos. Só podiam dizer com Lucas que Satanás entrou em Judas, é Satanás que decide a traição de Judas, porque está escrito: “Durante a ceia, quando já o diabo pusera no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregá-lo…” (Jo, 13, 2). (TASKER, 2006, p. 192; cfr. BRUCE, 1987, p. 240)

No cerne do Estudo em curso, importa considerar que Judas não passou de um discípulo ambicioso entre os discípulos de Jesus. Ele não entra no Processo da Salvação operada por Jesus ao que diz respeito ao testemunho dos Doze. É um oportunista. Interferiu o curso dos acontecimentos da Paixão e Ressurreição de Jesus e é por isso mesmo que é traidor, para sempre maldito.

Ainda que Judas não entregasse Jesus a Salvação seria operada em Jesus. Esse desafio vem da boca do próprio Senhor: “Com efeito, o Filho do homem vai, conforme está escrito a seu respeito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem for entregue! Melhor seria para aquele homem não ter nascido!” (Mt 26, 24; Mc 14, 21; Lc 22, 22).

De acordo com Mulholland, diferentemente de Judas, Pedro e os outros discípulos não tentam destruir Jesus para se salvar. Não estão contra ele apesar de que falham em ser com ele. Pedro não sai da cena. É restabelecido na comunhão e no ministério (Mc 16, 7; Jo 21, 15-17). É líder por graça de Deus e não por mérito pessoal (MULHOLLAND, op. cit., p. 223).

4.3.2 NEXO ENTRE A NEGAÇÃO DE PEDRO E A RESSURREIÇÃO DE JESUS

É necessário que Jesus ressuscite para a compreensão da sua vida e do seu ministério. Na ponderação de Calle, o sinal de que os tempos messiânicos chegaram é Jesus mesmo, mas esta realidade não é perceptível até que ele tenha dado a sua vida na cruz (CALLE, 1985).

A Ressurreição de Jesus devolve o sentido de todos os ensinamentos de Jesus e de todos os sinais operados por ele. Devolve o sentido da Negação de Pedro, o sentido da vida cristã, da Igreja e da doutrina da Igreja. A narração dos Evangelhos termina com a Ressurreição e a sua leitura começa com a Ressurreição. A partir da Ressurreição tudo ganha sentido e pode ser melhor compreendido. A Ressurreição de Jesus é também a razão do Mistério da Encarnação do Verbo de Deus.

Ora, segundo Grasso supracitado o milagre é a prova da divindade de Jesus, a resposta de Deus à afirmação de Jesus de ser seu Filho. Mas dentre todos os milagres um há que supera a todos e possui valor todo particular. Sozinho prova mais que todos os outros juntos e seria decisivo contra a divindade de Jesus se não se houvesse verificado: a sua Ressurreição. Se Jesus verdadeiramente ressuscitou é o Filho de Deus, do contrário não passa de um pobre iludido. O valor específico da Ressurreição consiste no facto de que o próprio Jesus a menciona como a demonstração oficial de sua divindade (GRASSO, op. cit., p. 109).

Em Mateus e Marcos, Jesus anuncia a Negação de Pedro concomitantemente com a sua Ressurreição: “Mas depois que eu ressurgir, vos precederei na Galileia” (Mt 26, 32). E esta terá sido a última vez em que Jesus avisa os seus discípulos sobre a sua Ressurreição. E isto terá agravado a situação de Pedro ao protestar contra argumentos que se declaram peremptórios.

Grasso acima referido não vacila em afirmar que os seus discípulos entendem pouco ou nada do significado dos diversos avisos de Jesus sobre a sua Ressurreição. Em contrapartida os fariseus as compreendem melhor. Tanto assim que logo após a morte de Jesus dela recordam e pedem a Pilatos que coloque guardas no sepulcro: “Senhor, lembramo-nos de que aquele impostor disse quando ainda vivo: ‘Depois de três dias ressuscitarei!’…” Mt 27, 63-64).

O aviso é claro. Aos representantes da lei judaica e aos que por direito e por dever têm a obrigação de reconhecer o Messias, Jesus fixa como sinal oficial de seu messianismo e divindade sua Ressurreição física, o retorno à vida três dias após a morte. A força do argumento intui-se facilmente. Ninguém pode duvidar de que a ressurreição de um morto seja um milagre, um facto extraordinário que somente pode ser obra de Deus. Se Jesus ressuscita, Deus confirma sua afirmação de ser seu Filho (GRASSO, op. cit., p. 112).

Os discípulos de Jesus entendem pouco ou nada dos avisos de Jesus sobre sua Ressurreição. No diálogo do anúncio da Negação, Jesus promete aos discípulos que os precederá na Galileia depois de ressuscitar. Porém, nem um dos discípulos está lá, nem Pedro até que o anjo não remarque o encontro: “Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou…, mas, ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia. Lá o vereis, como vos tinha dito” (Mc 16, 1-7). (TONON, 2012, p. 29)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do percurso feito, nada obsta que o aviso de Jesus sobre a Negação se tenha cumprido. Pedro foge, escandaliza-se por causa de Jesus como todos os discípulos e com todos eles nessa mesma noite.

A Negação de Pedro é um acontecimento que deve ser considerado insólito, miraculoso, um dynameis de Jesus, um ato poderoso de Jesus, um Milagre de Jesus. Ela acontece porque Jesus a determina. Como questiona Vieira, não pode haver nem melhor boca que a de Jesus, nem melhores ouvidos que os dos Apóstolos. E se entre o dizer de tal boca e o perceber de tais ouvidos sucedem estas contradições, que será quando a boca não é de Jesus e quando os ouvidos não são nem de Pedro nem de João? (VIEIRA, 1654b)

Trata-se de um acontecimento autêntico partindo do princípio de que é referido unanimemente pelos Evangelhos. No Sinédrio, Pedro nega três vezes que não conhece Jesus e o galo canta conforme o aviso feito por Jesus horas antes.

O paradoxo tem vários fundamentos na Negação de Pedro. Quem nega é o Príncipe dos Apóstolos e a Negação do Sinédrio vem a ser o culminar de vários momentos de tenção desta noite. Esta é anunciada logo depois da Instituição da Eucaristia e em meio a reformas na consagração do pão e do vinho. Ademais na mesma noite, até negar no Sinédrio Pedro nega que Jesus o lave os pés. Nega o aviso de Jesus apoiado na Sagrada Escritura segundo o qual todos os discípulos se escandalizariam por causa dele. Corta a orelha do servo do Sumo-Sacerdote em “defesa” de Jesus. Segue Jesus até ao Sinédrio apesar de ter sido alertado que não deveria fazê-lo neste momento, a não ser mais tarde.

Confrontada com a teoria dos milagres e dos Milagres de Jesus, a Negação de Pedro cumpre todos os requisitos de milagre e de Milagre de Jesus. Trata-se de um facto sensível, pois Pedro é visto e ouvido a negar Jesus no Sinédrio repetidamente e o galo a cantar. Trata-se de um facto superior às forças da natureza dado que Pedro promete nunca negar Jesus mesmo que seja para morrer e apesar disso o nega redondamente. Trata-se de um facto operado por Deus porque é Jesus quem a determina. Trata-se de um facto cujo fim é religioso porque Pedro chora ao negar pela última vez em sinal de sua conversão.

Confrontada com a traição de Judas, os dois episódios são anunciados por Jesus e no mesmo contexto. As suas bases de autenticidade são paralelas. A diferença consiste no facto de que Jesus decide a Negação de Pedro enquanto Judas (ou Satanás) decide a traição.

Por outro, é incontestável o nexo entre a Ressurreição de Jesus e sua aparição na Galileia a partir da fórmula do anúncio da Negação.

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_____________ Sermão de Santo António. São Luís de Maranhão, 1654b.

[1] Mestre em Direito (American World University – AWU); Especializado em “Estudos da Língua Portuguesa – Investigação e Ensino” (Universidade Aberta de Portugal – UAB.PT); Licenciado em Teologia (Universidade Católica de Angola – UCAN); Graduado em Teologia e em Filosofia (Seminário Maior do Sagrado Coração de Jesus de Luanda).

Enviado: Setembro, 2020.

Aprovado: Fevereiro, 2021.

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Sérgio Fernando Sabalo

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