ESTADO DA ARTE
JULIANI, Joseane do Nascimento [1], LUCIANO, Cristiana da Costa [2]
JULIANI, Joseane do Nascimento, LUCIANO, Cristiana da Costa. Limitações de pacientes portadores de transtorno da falta de atenção com hiperatividade: uma revisão integrativa. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 02, Vol. 01, pp. 159-172. Fevereiro de 2019. ISSN: 2448-0959
RESUMO
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tem como características a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade persistente e inapropriada para a idade. O objetivo do nosso trabalho foi avaliar a produção científica acerca das complicações e limitações de pacientes com transtorno da falta de atenção com hiperatividade. Para isso, foi realizada a revisão integrativa da literatura com o intuito de reunir, analisar e sintetizar os estudos existentes sobre a temática proposta, publicados entre 2010 e 2016. A base de dados acessada foi a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), com os descritores “transtorno da falta de atenção com hiperatividade”, “transtorno de déficit de atenção e Hiperatividade (TDAH)”, “destreza motora” e “desempenho psicomotor”. Os resultados obtidos após a análise evidenciaram que o indivíduo com TDAH sofre com algumas comorbidades que podem ser evitadas ou amenizadas quando há diagnóstico precoce e acompanhamento correto. Além disso, podemos concluir que indivíduos com TDAH têm seu aprendizado prejudicado e a coordenação motora é inferior em comparação a indivíduos sem TDAH.
Palavras-chave: Transtorno da falta de atenção com hiperatividade, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Destreza motora, Desempenho psicomotor.
INTRODUÇÃO
O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é uma disfunção neurológica que leva a distúrbios emocionais, comportamentais, perceptivos e motores, tendo mais incidência em crianças e adolescentes (RODRIGUES; NASCIMENTO; PALÁCIO, 2011) e apresentando, como características centrais do TDAH, a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade (KLEIN; LAMPRECHT 2012).
O desenvolvimento desse transtorno no indivíduo, segundo Anflor (2014), pode ser associado às complicações durante a gravidez e o parto, sendo eles hemorragia pré-parto, duração prolongada do parto, sofrimento fetal e baixo peso ao nascer. Além das associações supracitadas, podemos demonstrar os fatores ambientais, que também podem acarretar o desenvolvimento do TDAH, como pobreza, baixo nível de educação materna, desentendimentos familiares, presença de transtornos mentais em pais, filhos de pais solteiros, conflito paternal crônico e abuso sexual.
Com o desenvolvimento do transtorno, o paciente apresenta alterações cognitivas e comportamentais, principalmente no fator emocional. Esses pacientes apresentam hiperexcitabilidade, baixa autoestima, fraco desempenho acadêmico, dificuldades nas relações sociais, familiares e financeiras (ANFLOR, 2014).
Conforme Silva (2013), o diagnóstico do TDAH é clínico e baseado em dois sistemas, o primeiro a classificação internacional de doenças (CID-10) e o segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV). No DSM-IV, o transtorno é subdividido em: predominante desatento, predominante hiperativo/impulsivo e predominante combinado, que seriam os dois anteriores associados.
Após o diagnóstico, os trabalhadores da área da Saúde (TAS) desempenham um papel-chave na gestão de cuidados às crianças com TDAH. Deles se requer cuidadosa anamnese, utilização de escalas de avaliação padronizadas, muita atenção ao comportamento do paciente e relatórios dos informantes. Esses TAS têm um importante papel ao desenvolverem em estratégias para alcançar os objetivos voltados aos cuidados com os pacientes e familiares tanto em casa como na escola (ANFLOR, 2014).
Frente ao exposto, nossa revisão integrativa justifica-se pela necessidade de ter conhecimento voltado às complicações e limitações de pacientes portadores de TDAH, sendo de suma importância que o TAS enfermeiro seja inserido, de forma prioritária, na atenção voltada à assistência aos pacientes e aos seus familiares. Contudo, surge a seguinte problemática: quais as complicações e limitações do paciente portador de TDAH? Os TAS estão preparados para ofertar assistência a esses pacientes? As escolas sabem lidar com estudantes portadores de TDAH?
OBJETIVO
Identificar produção científica acerca de assistência, complicações e limitações dos pacientes portadores de transtorno da falta de atenção com hiperatividade.
REVISÃO DA LITERATURA
A Associação Americana de Psiquiatria, através do DSM-IV, define TDAH como um padrão persistente de desatenção e/ ou hiperatividade (SIQUEIRA; GIANNETTI, 2011), em que a desatenção, frequente nesses indivíduos, afeta diretamente o desenvolvimento do autocontrole. Existem crianças com TDAH identificadas apenas como desatentas ou hiperativo-impulsivas, mas a maioria corresponde ao tipo combinado, cerca de 62% (JOU et al., 2010).
Em pesquisas realizadas mundialmente, a prevalência do transtorno é de 5% (JACOBSEN, 2016), entretanto, no Brasil, essa porcentagem está entre 3,5% e 8,0%, em ambos os sexos (MAINARDES, 2010).
Esse transtorno é diagnosticado utilizando os critérios do sistema DSM-5 (Quadro 1, a seguir), que colhe informações junto aos professores e pais, por meio de clínica. Ao apresentar os sintomas, a criança é monitorada por 6 (seis) meses, dentro dos quais se analisa seu desempenho acadêmico e/ou social, a desatenção e a hiperatividade/impulsividade.
Quadro 1 – Sintomas de TDAH e com suas respectivas características
Desatenção |
Falha para prestar atenção a detalhes |
Dificuldade para manter a atenção sustentada nas tarefas |
Frequentemente parece não escutar quando se fala diretamente com ele(a) |
Frequentemente não segue instruções ou falha na finalização de tarefas |
Tem dificuldade para organizar tarefas ou atividades |
Frequentemente perde coisas necessárias para a realização de tarefas |
É facilmente distraído por estímulos externos |
É frequentemente esquecido em atividades diárias |
Hiperatividade |
Mexe os ombros com frequência ou se move na cadeira |
Levanta-se da cadeira na sala de aula |
Levanta-se em outros locais onde se espera que permaneça sentado |
Corre ou sobe excessivamente nas coisas |
Tem dificuldade de brincar calmamente |
Está frequentemente “a ponto de” “e parece” ligado a um motor |
Fala excessivamente |
Impulsividade |
Explode em respostas antes das questões serem completas |
Tem dificuldade em esperar a vez |
Frequentemente interrompe os outros |
Fonte: Adaptado de http://www.scielo.br/img/revistas/jped/v80n2s0/s0a08t01.gif.
Frente aos critérios analisados no quadro anterior, segundo Correia (2014), são necessários, para fechar o diagnóstico de TDAH, seis ou mais critérios de cada alteração observada, tais como desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Após o diagnóstico positivo, é preciso começar o tratamento para que o indivíduo consiga melhorar seu desempenho na escola e seu relacionamento com a família e a sociedade. O tratamento do TDAH é realizado por meio de medicamento e com equipe multiprofissional, sendo o medicamento utilizado a Ritalina R, que pode causar efeitos colaterais como nervosismo, insônia, perda de apetite, ansiedade e aumento da pressão arterial (TASSOTTI, 2015).
Mesmo com o tratamento, os indivíduos apresentam complicações e limitações que prejudicam seu cotidiano, sendo elas: relacionamento interpessoal (SOUZA; FRIGHETTO; SANTOS, 2013); realização de tarefas diárias (MAINARDES, 2010); funções cognitivas (FONTES; FISCHER 2014); dificuldade escolar (SOUZA; FRIGHETTO; SANTOS, 2013; ALVES; ESTARLINO; MIRANDA, 2014); associação com outros transtornos e comorbidades (SILVA, 2013).
Conforme Mainardes (2010), os indivíduos com TDAH não prestam atenção a detalhes e, assim, cometem erros nos trabalhos escolares e nas tarefas diárias, tampouco conseguem atender todas as solicitações ou instruções passadas por professores ou familiares, comprometendo os trabalhos realizados e dificultando as tarefas que exigem planejamento.
Essa dificuldade em planejar e executar tarefas se deve à alteração na função executiva, entretanto, as funções cognitivas também apresentam alterações, acarretando deficiência de percepção, atenção, memória e linguagem (FONTES; FISCHER, 2014). A função cognitiva alterada nesse indivíduo está diretamente relacionada à dificuldade de aprendizagem, onde a paciência faz toda a diferença para o sucesso escolar (SOUZA; FRIGHETTO; SANTOS, 2013).
O sucesso escolar é difícil e/ou demorado pela dificuldade em aprender, principalmente na fase inicial da escolarização, na qual o mau desempenho é justificado por estudos incompletos, necessidade de reforço, repetências e expulsões (ALVES; ESTARLINO; MIRANDA, 2014).
Sendo assim, é fundamental, conforme Silva (2013), que os profissionais delimitem o que são prejuízos advindos do próprio transtorno e aqueles relativos à presença de comorbidades. Estima-se que 80% dos pacientes apresenta, na fase adulta, alguma comorbidade e que aproximadamente 56% dos indivíduos têm no mínimo dois outros transtornos, o que provoca um impacto na apresentação clínica do TDAH.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa, com a finalidade de reunir e sintetizar evidências científicas sobre delimitado tema, de maneira sistemática e ordenada, aprofundando o conhecimento a respeito do tema investigado, permitindo a síntese de múltiplos estudos e conclusões gerais a respeito de uma área particular. A revisão integrativa é dividida nas seguintes etapas: estabelecimento do objetivo, estabelecimento dos critérios para a seleção da amostra, definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados, análise das evidências, apresentação e discussão dos resultados (MARTINATO et al., 2010).
Foi realizada uma busca na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), sendo utilizados os descritores “ciência da saúde (DeCs)”, “transtorno da falta de atenção com hiperatividade”, “transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)”, “destreza motora” e “desempenho psicomotor”, sendo pesquisados de forma isolada.
Os critérios de inclusão utilizados foram artigos escritos em português, abordados durante o ano de 2010 a 2016 e disponíveis na íntegra. Para os critérios de exclusão foram abordadas publicações em teses, monografias, dissertações, livros e artigos que não abordavam a nossa temática.
A busca pelos artigos ocorreu no mês de março de 2016 e, primeiramente, realizou-se a leitura do título, selecionando somente aqueles que se enquadravam na temática. Em seguida, realizou-se a leitura do resumo do material selecionado, verificando quais respondiam a nossa hipótese de pesquisa. Após essa etapa, realizou-se a leitura completa de cada artigo selecionado e a categorização frente às temáticas abordadas, sendo comorbidades da TDAH e desempenho de paciente com TDAH.Com a leitura, verificou-se que TDAH e transtorno da falta de atenção com hiperatividade tinham artigos em comum, sendo ambos abordados de forma agrupada.
A análise dos dados extraídos foi computada em uma planilha e, depois, realizada de forma descritiva, permitindo avaliar as evidências, identificar a necessidade de investigações futuras acerca da temática e oferecer fundamentos para a prática profissional.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Nossa busca resultou em vários artigos (ver Gráfico 1), tendo sido a pesquisa realizada de forma isolada através dos DeCS.
Gráfico 1 – Relação de artigos encontrados na busca de dados LILACS por meio dos DeCS
Fonte: Dados da pesquisa.
Frente aos artigos encontrados, realizamos uma análise intensa, que resultou em nove artigos que abordavam a nossa temática, sendo classificados em duas temáticas, sendo dois artigos (22,2%) para as comorbidades do TDAH e sete artigos (77,7%) para desempenho de pacientes com TDAH, conforme Gráfico 2.
Gráfico 2 – Representação dos artigos selecionados e categorizados por temática
Fonte: Dados da pesquisa.
Para a divisão dos artigos em temática, construímos uma planilha para computar os dados achados e agrupar a similaridade (ver Quadro 2).
Quadro 2 – Demonstração dos artigos divididos em suas temáticas
N | Nome do Artigo | Autor/Ano | DeCS | Objetivo | Evidências científicas |
Temática 1 – Comorbidades do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade | |||||
1 | Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, comorbidades e situações de risco. | REINHARDT
; REINHARDT , 2013. |
TDAH | Verificar situações de urgência em pacientes com TDAH. | Pacientes com TDAH possuem um risco maior de ter urgências médicas e transtornos associados. |
2 | Repercussões do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) na experiência universitária. | OLIVEIRA; DIAS, 2015. | TDAH | Verificar de que forma o diagnóstico do TDAH interfere na vida acadêmica de estudantes universitários. | Estudantes com TDAH apresentam dificuldade em habilidades de organização e comprometim ento da memória. |
Temática 2 – Desempenho de pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade | |||||
3 | Coordenação motora fina de escolares com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. | OKUDA et al., 2011a. | TDAH | Caracterizar os achados cognitivos linguísticos e a neuroimagem de escolares disléxicos, com TDAH e bom desempenho escolar. | Escolares com TDAH apresentaram dificuldade na coordenação espacial. |
4 | Há relação entre desenvolvimento psicomotor e dificuldade de aprendizagem? Estudo comparativo de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldade escolar e transtorno de aprendizagem. | CARVALHO;
Ciasca; Rodrigues, 2015. |
TDAH | Avaliar o desempenho psicomotor de crianças com transtorno de aprendizagem (TA), dificuldade escolar (DE) e TDAH. | Constatou-se que o grupo TDAH teve o pior desempenho em algumas habilidades. |
(continua)
(Continuação do Quadro 2)
N | Nome do Artigo | Autor/Ano | DeCS | Objetivo | Evidências científicas | |
5 | Função motora fina, sensorial e perceptiva de escolares com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. | OKUDA et al., 2011b. | TDAH | Caracterizar e comparar as funções motora fina, sensorial e de perceptiva com escolares TDAH. | Escolares com TDAH apresentaram atraso no desenvolvime nto da coordenação motora fina, sensorial, perceptiva e disgrafia. | |
6 | Desempenho de escolares com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em tarefas metalinguísticas e de leitura. | CUNHA et al., 2013. | TDAH | Caracterizar o desempenho de escolares com TDAH em tarefas metalinguísticas e de leitura. | Escolares com TDAH apresentam desempenho inferior nas tarefas mais complexas. | |
7 | Percepção viso-motora de escolares com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.
|
GERMANO et al., 2013. | TDAH | Caracterizar as habilidades de percepção viso-motor de escolares com TDAH. | Escolares deste estudo apresentam alterações de percepção viso-motor. | |
8 | Desempenho cognitivolinguístico e achados de neuroimagem de escolares com dislexia, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.
|
CAPELLINI et al., 2011. | TDAH | Descrever e comparar o desempenho da coordenação motora fina em escolares com dislexia e TDAH. | Escolares com TDAH apresentam dificuldades para acionar processamento visual refinado. | |
9 | Desempenho motor de escolares com e sem transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH).
|
SILVA et al., 2012. | DP | Comparar o desempenho motor de escolares com e sem indicativo de TDAH. | Os escolares com TDAH tiveram um desempenho pior nos testes motores. |
* DP = Desempenho Psicomotor Fonte: Dados da pesquisa.
Temática 1 – Comorbidades do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Na nossa primeira temática, será discutido quais são as comorbidades que os pacientes com TDAH podem apresentam e qual é a consequência que elas acarretam no indivíduo. É de suma importância para os TAS, para a educação e pra os familiares conhecerem sobre esse assunto, pois, assim, a criança poderá ter um melhor acompanhamento, o que favorecerá seu desenvolvimento.
Pacientes com TDAH possuem mais risco de ferimentos acidentais e problemas de trânsito. Reinhardt e Reinhardt (2013) apontam a associação que homens jovens com o transtorno têm com suicídio, condição que aumenta em pacientes com comorbidades, particularmente com transtorno de conduta e depressão. Pacientes mulheres com TDAH apresentam um risco de até 3,6 vezes maior de ter transtornos alimentares em relação a mulheres que não tem TDAH.
Universitários com TDAH apresentam algumas limitações, conforme Oliveira e Dias (2015), sendo que os próprios acadêmicos acreditam e afirmam terem limitações em planejar tarefas e realizá-las, na gestão de tempo e dos prazos pré estabelecidos para elas. Afirmam, ainda, terem dificuldades em evitar distrações no ambiente universitário, o que prejudica os estudos e a obtenção de boas notas.
Os dois estudos apresentam comorbidades que o indivíduo com TDAH pode apresentar ao longo da sua vida. Por esse motivo, familiares e TAS precisam dar importância aos pequenos sinais que a criança e/ou adolescente apresente, pois, por meio dessa conduta, podemos prevenir que o quadro se agrave e prejudique a sua vida pessoal, estudantil e profissional.
Temática 2 – Desempenho de pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Nesta segunda temática, abordamos o desenvolvimento acadêmico e motor de pacientes com TDAH, suas dificuldades e as áreas neles afetadas.
O desenvolvimento da coordenação motora fina apresenta um atraso em escolares com TDAH em relação aos que não apresentam o transtorno (OKUDA et al., 2011a). Complementando o estudo anterior, Okuda et al. (2011b) afirmam que os escolares com TDAH apresentam atraso no desenvolvimento da coordenação fina, mas também no desenvolvimento sensorial, perceptivo e disgrafia. Para Silva et al. (2012), o motivo desse atraso é consequência da dificuldade de aplicar força constante e invariável nos movimentos pelas crianças que apresentam o transtorno.
Segundo Capellini et al (2011), os indivíduos com TDAH apresentam uma hipo-ativação na região frontal, acarretando um déficit nas funções executivas, sendo as funções mais prejudicadas a leitura e a escrita.
Conforme Germano et al. (2013), os pacientes também apresentam alterações de percepção viso-motor. Cunha et al. (2013) acreditam que isso acontece pelo fato de o processamento das informações auditiva e visual ser prejudicada nesse indivíduo, devido à desatenção, um dos sintomas do transtorno (CUNHA et al., 2013).
Conforme Carvalho, Ciasca e Rodrigues (2015), o indivíduo com TDAH pode apresentar prejuízo no desempenho acadêmico e social pelo comprometimento na aquisição e aprendizagem da linguagem escrita.
Ambos os estudos apresentam alterações no desenvolvimento do indivíduo. O desenvolvimento da coordenação motora fina é o mais prejudicado, dificultando, portanto, ações simples como a escrita. Isso acontece pela hipo-ativação na região frontal. O indivíduo pode apresentar prejuízo no processamento da informação auditiva e visual, trazendo para o indivíduo um prejuízo na vida acadêmica e social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O TDAH é um transtorno que deve ser mais estudado e repassado para a sociedade, pois muitos ainda o desconhecem e, por esse motivo, os familiares e profissionais de educação e de saúde não oferecem a assistência necessária e até julgam e castigam o indivíduo, sem entender que não é “birra” ou “má criação”, e sim alguém que precisa de ajuda e acompanhamento especializado.
O diagnóstico do TDAH deve ser realizado por profissionais capacitados e de maneira mais precoce possível, por meio de anamnese com uso de escala, que é de fácil acesso e fundamental para confirmar o diagnóstico. Após essa confirmação dos danos que o TDAH cause na vida social e/ou escolar do indivíduo, é oferecido o tratamento terapêutico e/ou medicamentoso, lembrando que cada indivíduo tem seu tratamento direcionado aos danos próprio dele e, por isso, é individualizado.
Os TAS e de educação devem trabalhar os déficits desse indivíduo para que seja possível amenizá-los ou eliminá-los em alguns casos. Desse modo, o indivíduo pode ter uma vida mais próxima da normalidade, sem grandes prejuízos nas diversas áreas afetadas. Esse paciente deve ter acompanhamento multiprofissional (médicos, enfermeiros, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicopedagogo, entre outros). Como o tratamento é individualizado, ele só será acompanhado por aqueles que supram a sua necessidade.
Foi encontrado somente um artigo abordando a assistência de enfermagem no paciente com TDAH. Isso mostra o déficit de estudos, conhecimentos e interesse por parte dos profissionais da enfermagem em saber mais sobre o indivíduo, pois um dos princípios é o cuidado integral, biopsicossocial. Os enfermeiros precisam pesquisar mais sobre o assunto e realizar trabalhos sobre o tema para conseguirem acompanhar e realizar sua assistência com perfeição.
O enfermeiro deverá ter capacidade de identificar, acompanhar e orientar a família e os TAS, bem como os trabalhadores de educação. Ainda, é preciso que seja capaz de treinar a equipe de enfermagem e ministrar palestras para o corpo docente e os alunos, pois assim levará conhecimento, e isso propiciará que o preconceito que ainda existe com crianças e adolescentes com TDAH seja possivelmente eliminado ou amenizado, visto que eles precisam de amor, atenção, cuidado e tratamento, e não de julgamentos.
REFERÊNCIAS
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[1] Graduada em enfermagem.
[2] Professora orientadora de TCC, Enfermeira, Mestre em Genética pela Universidade Pontifícia de Goiás (PUC/GO), Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Enviado: Janeiro, 2018
Aprovado: Fevereiro, 2019