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Lesão por pressão na assistência domiciliar: potencialidades e fragilidades na prevenção

RC: 102191
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CONTEÚDO

REVISÃO INTEGRATIVA

VALENTIM, Monique Faúla [1], SILVA, Alisce Luisa Carvalho Rocha [2], LEANDRO FILHO, José Marto [3], FERREIRA, Gabriela Rossi [4], RIBEIRO, Mara Martins [5]

VALENTIM, Monique Faúla. Et al. Lesão por pressão na assistência domiciliar: potencialidades e fragilidades na prevenção.  Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 06, Ed. 11, Vol. 13, pp. 195-207. Novembro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/lesao-por-pressao

RESUMO

A Lesão por Pressão (LPP) é localizada na pele ou em tecido subjacente, geralmente sobre proeminência óssea ou em áreas com dispositivos invasivos. É causada por pressão prolongada em pacientes com a mobilidade afetada e pode ser evitada através da adoção de medidas preventivas. Diante disso, questiona-se: quais as potencialidades e fragilidades são vivenciadas pela equipe de Enfermagem na adoção de medidas preventivas da LPP? O objetivo do estudo é identificar as potencialidades e as fragilidades encontradas na prevenção da lesão por pressão na assistência domiciliar pela equipe de enfermagem. Trata-se de uma revisão integrativa, as bases de dados usadas foram LILACS, MEDLINE e SCIELO. Os critérios de inclusão para o estudo foram período de publicação de 10 anos (2010-2020), disponíveis na íntegra, com os idiomas português, inglês e espanhol e títulos que abordassem a temática do estudo. Foi dividido em três categorias: 1° O conhecimento do profissional de saúde sobre as causas do desenvolvimento da lesão, os fatores de risco e as medidas preventivas; 2° O uso de diretrizes e protocolos para a prevenção da LPP; 3° A atuação da família/cuidador na prevenção da LPP e a educação em saúde prestada pelo enfermeiro no domicílio. A partir dos resultados, constatou-se que uso de diretrizes padroniza a avaliação de risco do paciente e auxilia no planejamento de cuidados baseado em evidências científicas. O envolvimento do familiar/cuidador pode impactar positivamente na prevenção da LPP em âmbito domiciliar, visto que o mesmo na ausência de um profissional, é responsável por dar continuidade nas medidas preventivas orientadas pela equipe de enfermagem. Além disso, evidenciou-se a importância da educação permanente do profissional de enfermagem quanto aos aspectos relativos à prevenção da lesão por pressão. Concluiu-se que, a lesão por pressão tem se tornado um problema de saúde pública, uma vez que o seu desenvolvimento traz sérios prejuízos a vida do paciente, nos aspectos físicos, sociais e psicológicos, sendo necessário uma atenção especial dos profissionais frente a esse problema.

Palavras-chave: Lesão por Pressão, Domicílio, Segurança do Paciente, Enfermagem.

1. INTRODUÇÃO

A lesão por pressão (LPP) é localizada na pele e tecidos adjacentes, e é causada pela necrose do tecido que foi exposto a pressão constante, prolongada ou não, fricção, cisalhamento ou pela combinação de ambos, frequentemente ocorre em áreas do corpo com proeminência óssea (BARBOSA et al., 2017).

A LPP é multifatorial, incluindo fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos podem ser estado nutricional, comorbidade, idade, hidratação, mobilidade, nível de consciência e perfusão tecidual, já os extrínsecos são fricção, cisalhamento, umidade e pressão prolongada. (BORGHARDT et al., 2015). A LPP se classifica em 4 estágios de comprometimento tecidual:  estágio 1, é evidenciado por eritema que não embranquece ao realizar a digito pressão,  atingindo somente a epiderme; estágio 2, é evidenciado pela perda parcial da superfície da pele, envolvendo a epiderme, derme ou ambos, apresenta de forma abrasiva, “bolhosa” ou com desepitelização; estágio 3, é evidenciado pela perda total da pele, envolvendo área de tecido subcutâneo, podendo se aprofundar, a gordura é visível, epíbole (lesão com bordas enroladas), esfacelo; e estágio 4, evidenciado pela perda da pele na sua total espessura, caracterizando-se por perda total dos tecidos, apresentando destruição, necrose dos tecidos ou danos aos próprios músculos (BORGHARDT et al., 2015).

Dependendo do seu grau a LPP pode levar o paciente a precisar de tratamentos cirúrgicos, medicação e fisioterapia. Além disso, o risco de apresentar uma infecção é alto, podendo evoluir para uma septicemia e até a morte. A LPP pode ainda levar a diminuição da autoestima do paciente e provocar danos psicológicos, por isso a ocorrência da LPP tem que ser reconhecida como um problema de saúde pública, uma vez que a lesão aumenta o sofrimento, o desconforto, os gastos financeiros e diminui a qualidade de vida do paciente (ASCARI et al., 2014).

É responsabilidade da enfermagem garantir a segurança do paciente e sua integridade, implementando medidas de prevenção e a sistematização do cuidado. O cuidado é prestado diretamente ao paciente e a prevenção é por meio da adoção de protocolos baseados em diretrizes internacionais (BARBOSA et al., 2017).

A segurança do paciente está garantida no Programa Nacional de Segurança do Paciente que foi lançado em 2013 pelo Ministério da Saúde em parceria com a ANVISA. A Portaria MS/GM nº 529/2013 definiu como estratégia a elaboração e implantação de um conjunto de protocolos básicos dos quais fazem parte diversos temas, entre esses está a prevenção da ocorrência da LPP e outras lesões da pele (BRASIL, 2013).

Na Assistência domiciliar (AD) percebe-se que muitos pacientes são propensos a desenvolver a LPP, devido a diversos fatores de risco como a limitação nos movimentos, dificuldades para deambular, restrição ao leito, entre outros.

Sabe-se que a AD é baseada na promoção, prevenção, tratamento e reabilitação com desenvolvimento no domicílio do paciente. A assistência realizada no domicílio conta com uma equipe multidisciplinar, incluindo enfermeiro, médico, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, entre outros. A AD visa atender o paciente como um todo, envolvendo a família/cuidador no tratamento para torná-lo mais eficaz. No Brasil e no mundo a AD está em alta e sua demanda tem aumentado cada vez mais (ANDRADE, 2017).

Na AD o protagonista na prevenção é a equipe de enfermagem, através da inclusão da família/cuidador no cuidado e na educação permanente em saúde (SOUZA, 2014). Souza Neto (2016) aponta a LPP como uma falha da equipe de enfermagem, ligando o seu aparecimento com a qualidade da assistência prestada. Nota-se que o enfermeiro é quem presta o cuidado direto ao paciente sendo sua responsabilidade orientar e implementar as medidas preventivas que devam ser usadas na sua ausência, já que a visita domiciliar é feita uma ou mais vezes na semana, o que varia de acordo com o paciente (FERREIRA; GUARDA, 2015).

No ambiente domiciliar são encontradas algumas dificuldades para implementar o cuidado e para isso são necessárias estratégias para garantir a prevenção da LPP. Os profissionais da enfermagem devem focar na educação em saúde, criar formas de cuidado de acordo com a família atendida, envolver a família/cuidador no cuidado, evitar futuras reinternações e prevenir o aparecimento das lesões. (SANTOS, 2018).

Em meio a essa problemática nos serviços de atendimento domiciliar questiona-se: quais as potencialidades e fragilidades são vivenciadas pela equipe de Enfermagem na adoção de medidas preventivas da LPP?

Acredita-se que tal pergunta servirá para aprofundar a questão central do estudo no que diz respeito à atuação da equipe de enfermagem frente a prevenção da lesão por pressão. Espera-se, assim, subsidiar novas reflexões acerca desse objeto, que está imbricado no trabalho cotidiano desse profissional.

Considerando a relevância da prevenção de lesão por pressão na assistência de enfermagem, compreender os aspectos positivos e negativos que influenciam a assistência, proporcionará uma melhoria na qualidade da assistência prestada ao paciente. Frente ao exposto, este estudo tem por objetivo identificar as potencialidades e as fragilidades encontradas na prevenção da lesão por pressão na assistência domiciliar pela equipe de enfermagem.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa. Esse tipo de estudo disponibiliza uma síntese de pesquisas sobre uma determinada temática e proporciona o direcionamento para a prática clínica, fundamentando-se em conhecimento clínico (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). Para a confecção do estudo foram seguidas as seis etapas descritas na literatura: 1ª FASE: Elaboração da pergunta norteadora; 2ª FASE: Busca ou amostragem na literatura; 3ª FASE: Coleta de dados; 4ª FASE: Análise crítica dos estudos incluídos; 5ª FASE: Discussão dos resultados; 6ª FASE: Apresentação da revisão integrativa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

Considerando a importância do tema e a atuação da equipe de enfermagem no âmbito domiciliar, faz- se a seguinte pergunta: quais as potencialidades e fragilidades vivenciadas pela equipe de Enfermagem que presta assistência domiciliar de pacientes com mobilidade reduzida?

A busca foi efetuada no mês de novembro de 2020 e foram utilizadas duas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO): portal de periódicos disponível online. A busca foi feita na Literatura Latino-Americano e do Caribe em Ciências da saúde (LILACS), Sistema online de busca e análise de literatura médica (MEDLINE) e a Base de dados bibliográficas especializada na área de Enfermagem (BDENF). Os descritores utilizados foram: Lesão por pressão e domicílio, utilizando o operador booleano ‘and’. A linguagem utilizada foi: português, inglês e espanhol. Foram encontradas 90 publicações científicas ao todo, sendo LILACS: 17, MEDLINE: 68 e BDENF:5. Os descritores utilizados foram: Lesão por pressão e Enfermagem, e Lesão por pressão e Segurança do paciente, utilizando o operador booleano ‘and’. A linguagem utilizada foi português, inglês e espanhol. Foram encontradas 67 publicações científicas com os descritores Lesão por pressão and Enfermagem e 21 publicações científicas com os descritores Lesão por pressão and Segurança do paciente.

Os critérios de inclusão foram: período de publicação de 10 anos (2010-2020), disponíveis na íntegra, com os idiomas português, inglês e espanhol e títulos que abordassem a temática do estudo. Os critérios de exclusão foram: tipos de estudo (revisão bibliográfica, revisão integrativa, relato de experiência, estudo de caso.), fora do período temporal e títulos fora da temática.

No total foram encontradas 178 publicações científicas, sendo 90 na BVS e 88 na SCIELO. Na triagem foram descartados 132 pelo título e 3 por estarem duplicados. Foram lidos 43 resumos para a fase de elegibilidade, dos quais 2 foram descartados por serem estudos de caso e 21 por não estarem disponíveis na íntegra. Foi realizada a leitura na íntegra de 20 artigos, dos quais 13 foram descartados por não terem relevância, não tratava diretamente do tema e 07 foram selecionados para a inclusão na revisão.

Figura 1. Fluxograma de seleção do estudo

Fonte: Dados do estudo, 2020

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados foram feitos por meio da inclusão de 7 publicações científicas que estão especificadas no quadro abaixo:

 Quadro 1. Características dos estudos selecionados

ANO DE
PUBLICAÇÃO/ LOCAL
TÍTULO DO ARTIGO AUTORES PERIÓDICO TIPO DE ESTUDO
1 2019 / Cratos- CE/Brasil Prevenção de lesão por pressão: conhecimento e ações de cuidadores e pacientes domiciliares CARVALHO et al . Journal Health NPEPS Estudo descritivo e qualitativo
2 2019/
Auckland/ NEW ZEALAND
Barriers and facilitators for caregiver involvement in the home care of people with pressure  injuries: A qualitative study SÁNCHEZ, VISCAINO E MARTIN Plos One Estudo qualitativo
3 2018/ Curitiba
– PB/ Brasil
Educação em saúde: conhecimento dos enfermeiros para prevenção da lesão por pressão no domicílio SANTOS et
al.
Revista espaço para a sua saúde Estudo exploratório- descritivo com abordagem qualitativa
4 2016/
Ribeirão
Preto- SP/ Brasil
Úlcera por pressão após a alta hospitalar e o cuidado em domicílio MORO e CALIRI. Escola de Enfermagem Anna Nery Estudo      transversal, descritivo e com abordagem quantitativa
5 2012/Fortalez a/ CE/ Brasil Avaliação de risco para úlcera por pressão em idosos acamados no domicílio MORAES et
al.
Acta Paul Enfermagem Estudo     longitudinal prospectivo
6 2010/ Porto Alegre – RS / Brasil A importância da assistência prestada pela equipe de enfermagem              ao paciente na prevenção da lesão por pressão TEODORO FEPESMIG Estudo qualitativo
7 2014/
Chapecó – RS
/ Brasil
Úlcera por pressão: Um desafio para a enfermagem ASCARI et al. BJSCR Estudo quantitativo

Fonte: Dados do estudo, 2020

Das 7 publicações selecionadas para o estudo, 6 estavam em português e 1 em inglês. Após a leitura na íntegra das publicações o estudo foi dividido em 3 categorias:

1. O conhecimento do profissional de saúde sobre as causas do desenvolvimento da lesão, os fatores de risco e as medidas preventivas.

A primeira categoria foi abordada nos artigos 3 e 6 do Quadro 1.

2. O uso de diretrizes e protocolos para a prevenção da LPP.

A segunda categoria foi abordada nos artigos 1, 4, 5, e 7 do Quadro 1.

3. A atuação da família/cuidador na prevenção da LPP e a educação em saúde prestada pelo Enfermeiro no domicílio.

A terceira categoria foi abordada nos artigos 1, 2, 3, 4 e 5 do Quadro 1.

3.1 O CONHECIMENTO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE SOBRE AS CAUSAS DO DESENVOLVIMENTO DA LESÃO, OS FATORES DE RISCO E AS MEDIDAS PREVENTIVAS

De acordo com Santos (2018) os enfermeiros têm conhecimento sobre as causas e fatores de risco da LPP, isso é importante para que o profissional seja capaz de orientar a família/cuidador para que o paciente tenha um cuidado na prevenção sem interrupções. Por meio da educação em saúde, a família/cuidador torna-se adepto ao conhecimento da prevenção da LPP. Outra questão está na falta de profissionais e a sobrecarga dos cuidadores, o que afeta diretamente a qualidade do serviço prestado.

Ainda para Santos (2018) os profissionais de saúde têm clareza sobre os fatores de risco e a causa da LPP, no entanto sobre a classificação da lesão eles apresentam dificuldades no estadiamento. Desta forma, a educação continuada é primordial para que os profissionais sejam capacitados e adquiram mais conhecimentos acerca desse assunto, e assim possam oferecer uma assistência de mais qualidade.

Percebe-se que a lesão por pressão é um evento adverso, um incidente que causa danos ao seu portador, desta forma deve ser notificado a sua incidência. Diante disso, o Programa Nacional de Segurança do Paciente ressalta as ações para a prevenção da LPP, estratégias para a gestão de risco e a sistematização de procedimentos, avaliação, comunicação, entre outras informações (SANTOS, 2018).

Teodoro (2012) afirma que a educação continuada se faz necessária para a qualificação e treinamento dos profissionais que prestam atendimentos a pacientes com lesão, para que ocorra uma padronização e atualização nas técnicas utilizadas, além da prestação dos serviços oferecidos em um nível de excelência.

O gestor e o serviço de saúde têm um importante papel na formação desses profissionais. Devem criar espaços de diálogo, formação prática e atualizações nos conhecimentos científicos para aprimoramento do saber na atuação profissional.

3.2 O USO DE DIRETRIZES E PROTOCOLOS PARA A PREVENÇÃO DA LPP

A avaliação do risco de desenvolvimento da lesão por pressão deve ser realizada precocemente, em pacientes que necessitam desta classificação de risco pode ser utilizada a escala de Braden segundo diretrizes internacionais. A classificação pode variar de acordo com o estado geral do paciente, assim pode ocorrer de determinados indivíduos apresentarem maior vulnerabilidade e risco ao desenvolvimento da LPP (MORO e CALIRI, 2016).

A escala de Braden é eficaz e traça o perfil de risco do paciente para o desenvolvimento da lesão, o que propicia um melhor planejamento do cuidado e das medidas que serão adotadas na prevenção (MORO e CALIRI, 2016).

Carvalho (2019) afirma que é primordial o processo de avaliação de risco, para que seja detectado prematuramente os pacientes que apresentam maior propensão ao desenvolvimento da LPP, isso facilita traçar um direcionamento de atendimento e uma organização do cuidado.

A escala de Braden é uma ferramenta acrescida nos protocolos e no cotidiano de trabalho, sendo a mais utilizada devido a sua eficiência. A escala aponta para os determinantes do agravamento e desenvolvimento da LPP, como: a intensidade, duração da pressão e tolerância tecidual (ASCARI, 2014).

Segundo Moraes (2012) a escala de Braden possui seis domínios que são: percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, estado nutricional, fricção e cisalhamento. Cada um dos domínios da escala tem uma especificação quantitativa de acordo com o paciente que está sendo aplicada, com variações de 1 a 4, com exceção da fricção e do cisalhamento, cuja variação é de 1 a 3. A classificação de risco é dividida em: risco (15 a 16 pontos), risco moderado (13 a 14 pontos), risco elevado (10 a 12 pontos) e risco muito elevado (≤9 pontos).

Além disso, a escala engloba todos os aspectos do paciente e do ambiente em que ele está inserido, principalmente o paciente em atendimento domiciliar que precisa ser considerado em sua visão integral (ASCARI, 2014).

O uso de protocolos, diretrizes e escalas mostram que a prática do profissional de enfermagem precisa estar ancorada nos conhecimentos dessas ferramentas, pois ajudam a realizar o planejamento do cuidado, a sistematizar a assistência e a promover um cuidado mais humanizado.

3.3 A ATUAÇÃO DA FAMÍLIA/CUIDADOR NA PREVENÇÃO DA LPP E A EDUCAÇÃO EM SAÚDE PRESTADA PELO ENFERMEIRO NO DOMICÍLIO

Santos (2018) indica que os familiares são os maiores responsáveis por assumir os cuidados dos pacientes propensos a desenvolver a LPP. Por estarem ali todos os dias, eles conseguem identificar a real necessidade daquela pessoa, permitindo humanizar o cuidado, o que leva o profissional de saúde a entender a história de vida daquele paciente, trazendo valor, respeito e autonomia do paciente.

Os familiares demonstram atitudes positivas ao enfrentar o processo de cuidar e reabilitar o paciente, e isso é considerável, porque se a família tiver uma atitude negativa, influenciará todo o planejamento de atendimento daquele paciente, e essa influência negativa facilita o aparecimento da LPP e até mesmo o seu agravamento quando já instalada (SANTOS, 2018).

A família pode ajudar na prevenção da LPP no âmbito domiciliar, ela é a base da prevenção. As ações que o familiar/cuidador desempenha frente ao cuidado, influencia diretamente no desenvolvimento das medidas de prevenção do paciente inserido naquele lar. Por esse motivo, a educação em saúde do familiar/cuidador, deve ser constante e supervisionada pelo enfermeiro, que conduzirá as orientações adequadas a cada paciente.

Para Moro e Caliri (2016) os enfermeiros que assistem os pacientes no domicílio, devem estar atentos em ajudar a família do paciente, tentando trazer práticas que facilitem a prevenção, que incentive a família a aderir ao processo de aprendizado e promover o autocuidado. As práticas usadas pelo enfermeiro devem estar de acordo com a ética, respeitando a cultura, a crença e os valores daquela família e do paciente. Entender esses aspectos leva a um envolvimento maior de ambas as partes e uma evolução no processo de cuidar.

O estudo realizado por Moraes (2012) demonstrou que a presença dos familiares é um fator importante de cuidado e de estímulo para os profissionais de saúde. O desempenho dos enfermeiros na assistência, o interesse em aprender, torna-se um incentivo para a continuidade da educação em saúde.

Contrapondo a isso, Carvalho (2019) destaca a dificuldade na orientação dos profissionais de enfermagem nos cuidados que deverão ser prestados pela família/cuidador, o que gera impacto na qualidade de vida do paciente e negligência no cuidado. Sabe-se que a falta de informação pode levar a uma prevenção ineficaz e a uma assistência desqualificada.

A interação entre a equipe de saúde e a família/cuidador é fundamental para que o cuidado seja garantido. O vínculo construído impulsiona para a contribuição e o envolvimento na execução do cuidado (SANCHEZ, 2019).

A valorização da família/cuidador no processo de cuidado, permite criar espaços de diálogo, a participação nas decisões do planejamento do cuidado e na contribuição para a garantia da qualidade de vida do paciente no domicílio.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desse estudo, concluiu-se que a lesão por pressão tem se tornado um problema de saúde pública, o que necessita de uma atenção especial por parte dos profissionais e serviços de saúde. Suas consequências são sérias, trazendo um prejuízo financeiro, social e psicológico. Além disso, atrelado a outras doenças pode dificultar o planejamento do cuidado e afetar a qualidade de vida do paciente.

Sabe-se que muitas vezes, a falta de profissionais qualificados, a sobrecarga dos cuidadores e familiares, a falta de insumos, impossibilita um cuidado maior na prevenção da LPP. Por outro lado, a existência de protocolos, diretrizes e a participação dos familiares/cuidadores no processo de cuidado, permite garantir uma assistência de mais qualidade ao paciente.

No ambiente domiciliar, a equipe de enfermagem, em especial o enfermeiro, deverá promover a educação continuada da família/cuidador, englobando as suas particularidades e criando um laço de confiança.

Os protocolos e diretrizes servirão como norte para as ações propostas na prevenção da lesão por pressão. Para isso, é fundamental o conhecimento acerca dos fatores de risco, o estadiamento da lesão, tratamento e a formas de prevenção. Portanto, a capacitação dos profissionais cotidianamente faz-se necessária nos serviços de saúde.

Enfim, espera-se que novos estudos possam impulsionar a busca dos profissionais de saúde pelo cuidado na prevenção da lesão por pressão no âmbito domiciliar, uma vez que a prevenção pode diminuir os gastos financeiros do serviço de saúde com o tratamento e o sofrimento psicológico e social do paciente.

5. REFERÊNCIAS

ASCARI, Rosana Amora et al. Úlcera por pressão: um desafio para a enfermagem. BJSCR, Santa Catarina, v.6, n.1, p.11-16, Mar -2014. Disponível em<https://www.mastereditora.com.br/periodico/20140301_132755.pdf> Acesso           em 22/10/2019

ANDRADE, Angélica Mônica. Atuação do enfermeiro na atenção domiciliar: uma revisão integrativa da literatura. Revista Brasileira de Enfermagem, Divinópolis, v.70, p199-208, 2017. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-71672017000100210&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em 25/09/2019

BARBOSA, Cláudia Paloma De Lima et al. Tratamento domiciliar de lesão por pressão: Inclusão da família na prática do cuidar. CONBRACIS, 2, 2014, Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande. Campina Grande: Realize, 2017, p 1-9. Disponível em <https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/29684>Acesso em 22/10/2019

BORGHARDT, Andressa Tomazine et al. Úlcera por pressão em pacientes críticos: Incidência e fatores associados. Revista Brasileira de Enfermagem, Vitória, p 431-8, 2016. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/reben/v69n3/0034-7167-reben-69-03- 0460.pdf> Acesso em 14/11/2019

BRASIL, Ministério da saúde Anexo 2: Protocolo de prevenção de úlceras por pressão. 2013. Disponível em: <https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/03/PROTOCOLO- ULCERA-POR-PRESS–O.pdf> Acesso em 25/09/2019

CARVALHO, Tatyelle Bezerra et al. Prevenção de lesão por pressão: conhecimento e ações de cuidadores e pacientes domiciliares. Journal Health NPEPS. Ceará, v. 4, n. 2, p. 331-344, jul-dez, 2019. Disponível em: < https://periodicos.unemat.br/index.php/jhnpeps/article/view/3981> Acesso em: 22/11/2020

FERREIRA Dharah Puck Cordeiro, GUARDA, Flávio Renato Barros. A percepção dos cuidadores familiares acerca da úlcera por pressão em idosos. Rev enfermagem UFPE online. Recife, p 321-7, nov. 2015. Disponível em <https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/10751/11869> Acesso em 19/10/2019

MORAES, Geridice Lorna de Andrades et al. Avaliação de risco para úlcera por pressão em idosos acamados no domicílio. Acta Paul Enferm, Fortaleza, p.7-12, 2012. Disponível em <https://www.scielo.br/pdf/ape/v25nspe1/pt_02.pdf> Acesso em: 22/11/2020

MORO, Jaísa Valéria, CALIRI, Maria Helena Larcher. Úlcera por pressão após a alta hospitalar e o cuidado em domicílio. EEAN. São Paulo, v. 20, n.3, Jul-Set 2016. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/ean/v20n3/1414-8145-ean-20-03- 20160058.pdf > Acesso em: 21/11/2020

SÁNCHEZ, Francisco José García, VIZCAÍNO, Vicente Martinez, MARTÍN, Beatriz Rodriguez. Barriers and facilitators for caregiver involvement in the home care of people with pressure injuries: A qualitative study. Plos One. New Zealand, p. 1-13 Dez, 2019.Disponível em: e <https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0226359> Acesso em: 21/11/2020

SANTOS, Rosenilda Rodrigues et al. Educação em saúde: conhecimento dos enfermeiros para prevenção da lesão por pressão no domicílio. Espaço para a saúde. Curitiba, v. 19, n.2, p. 54-63. Dez, 2018. Disponível em: < https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-981816> Acesso em: 22/11/2020

SOUZA, Lucas Loubato. Ùlceras por pressão em pacientes da atenção domiciliar. 2014. 48 f. Monografia (Bacharel em Enfermagem) – Faculdade de Ceilandia,Ceilandia. Disponível em: < http://bdm.unb.br/bitstream/10483/9324/1/2014_LucasLobatoDeSouza.pdf > Acesso em :19/10/2019

SOUZA, Marcela Tavares, SILVA, Michelly Dias, CARVALHO, Rachel. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein. São Paulo, v. 8, p.102-6, 2010. Disponível em; <https://www.scielo.br/pdf/eins/v8n1/pt_1679-4508-eins-8-1-0102> Acesso em: 20/11/2020

SOUZA NETO, Vinicius Lino. Ações de enfermagem na prevenção de úlceras por pressão em idosos. Revista Saúde, Guarulhos, v 10, p 87-96, 2016. Disponível em < http://revistas.ung.br/index.php/saude/article/view/2267/1832> Acesso em : 22/10/2019

TEODORO, Lhais Aparecida. A importância da assistência prestada pela equipe de enfermagem na prevenção da lesão por pressão. [s.l], 2017. Disponível em:<http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/324/1/Lhais.pdf> Acesso em: 17/10/2019.

[1] Graduanda em enfermagem. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3397-5432.

[2] Graduanda em enfermagem. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8740-3440.

[3] Graduando em enfermagem. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5561-5799.

[4] Doutora em Ciências da Saúde pelo Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte. Mestre em Ciências da Saúde pelo Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte. Especialista em Oncologia Multiprofissional pela Santa Casa BH Ensino e Pesquisa. Especialista em Nefrologia pela Faculdade de Ciências Médicas. Graduada em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2685-6598.

[5] Orientador. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0584-9188.

Enviado: Julho, 2021.

Aprovado: Novembro, 2021.

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Monique Faúla Valentim

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