REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

Tempo de Internação Psiquiátrica em Instituição de Referência no Estado de Sergipe

RC: 7159
3.193
5/5 - (2 votes)
DOI: ESTE ARTIGO AINDA NÃO POSSUI DOI
SOLICITAR AGORA!

CONTEÚDO

ONOFRE, Dilson Karlo Aquino [1]

ONOFRE, Dilson Karlo Aquino. Tempo de Internação Psiquiátrica em Instituição de Referência no Estado de Sergipe. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 02, Ed. 01, Vol. 16, pp. 36-42 Março de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

O estudo foi realizado na Clínica de Repouso São Marcello, unidade de referência em internação psiquiátrica no Estado de Sergipe, durante 01 de julho de 2015 até 24 de março de 2016. Apresentando um total de 290 pacientes, sendo 172 do sexo masculino e 118 do sexo feminino. Na atual política nacional de saúde mental, em que o modelo extra-hospitalar é priorizado, as internações hospitalares de longa duração tiveram significativa redução, e o trabalho visou quantificar o tempo médio de internações e o período em que os pacientes de primeira admissão na instituição permaneceram. Analisando os resultados foi observado um tempo médio de internação maior do que o priorizado pelo Ministério da Saúde quando analisados os números gerais. As justificativas dos resultados são abordadas de forma objetiva, para entendimento dos dados.

Palavras-chave: Internação psiquiátrica, Tempo de internação, Sergipe

INTRODUÇÃO

A loucura sempre existiu, bem como o lugar para se tratar dos loucos: templos, domicílios e instituições, mas a instituição psiquiátrica, propriamente dita, é uma construção do século XVIII. Desde então, o homem inventou uma nova maneira de se perceber, e de vivenciar a condição humana e assim deram início a institucionalização dos pacientes psiquiátricos. Por muito tempo o modelo de assistência psiquiátrica era fundamentalmente, a hospitalização e o asilamento (GONÇALVES, 2001).

A redução de leitos em hospitais psiquiátricos e de desinstitucionalização de pacientes com longo período de internação torna-se política pública no Brasil a partir dos anos 90, e intensificada em 2002 com uma série de normatizações do Ministério da Saúde, que instituem mecanismos claros, para a redução de leitos psiquiátricos a partir dos hospitais de grande porte (BRASIL, 2005).

A desinstitucionalização é um processo técnico, administrativo, jurídico, legislativo e/ou político, e acima de tudo um projeto ético de reconhecimento de uma prática que introduz novos sujeitos de direito e novos direitos para os sujeitos. O cenário brasileiro privilegia a discussão da desinstitucionalização implicando em um processo de redução do número de hospitalizações, mas também de criação de práticas assistenciais territoriais, ou seja, um processo prático de desconstrução dos conceitos e das práticas psiquiátricas (MESSIAS, 2013).

No Brasil os 167 hospitais psiquiátricos ainda existentes estão distribuídos em 116 municípios por 23 estados do país, ocorrendo um processo gradual de redução de leitos SUS em Hospitais Psiquiátricos. A quantidade de leitos em hospitais psiquiátricos destinados ao SUS eram 51.393, em 2002, mas foram reduzidos para 25. 988, em cerca de seis anos. Atualmente o Estado de Sergipe apresenta-se com apenas um hospital psiquiátrico, com 80 leitos SUS, o que representa 0,036 leitos por mil habitantes, abaixo da média nacional que é 0,129 (BRASIL, 2015).

O Tempo Médio de Internação Psiquiátrica estabelecido pelo Ministério da Saúde é de 30 dias para uma internação de adulto. Não foram encontrados dados estatísticos e epidemiológicos relacionados ao tempo médio de internações em hospitais psiquiátricos no Estado de Sergipe (BRASIL, 1990).

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado durante o período de 01 de julho de 2015 até o dia 24 de março de 2016, na Clínica de Repouso São Marcello (CRSM), localizada na cidade de Aracaju, capital do Estado de Sergipe. A clínica dispõe de um total de 160 leitos, dentre os quais 80 são destinados ao Sistema Único de Saúde, e divididos da seguinte forma: 50 leitos masculinos, 10 leitos masculinos para dependentes químicos (AD) e 20 leitos femininos. A CRSM é uma instituição de referência para internações psiquiátricas, recebendo pacientes de todo estado e algumas cidades de estados circunvizinhos. Além dos profissionais que fazem parte da escala de trabalho, a equipe da CRSM desde 2014, é composta também, por médicos residentes em Psiquiatria do programa de residência médica da Fundação de Beneficência Hospital de Cirurgia; que se responsabilizam por 16% dos leitos masculinos e 40% dos leitos femininos.

As variáveis utilizadas neste trabalho são qualitativas e quantitativas. Inicialmente foi feita uma análise descritiva dos dados obtendo a média, o mínimo, o máximo e o desvio padrão. Além disso foi feita uma análise inferencial, calculou-se a média e o desvio padrão do número de dias de internação dos pacientes e cruzou com a variável enfermaria. O nível de significância na análise inferencial foi de 5% e o software utilizado foi o R, versão 3.3.1.

Foram analisados os dados presentes nos prontuários e no sistema eletrônico MED-HOSP, utilizado pela Clínica.

Como critérios de inclusão no estudo foram adotados: internações realizadas pelo SUS durante o período estudado, todos eram maiores de 18 anos.

Para obtenção de tempo de internação, foram contabilizados os dias a partir da admissão na instituição até a data de saída dos pacientes, independente da causa, por exemplo, se por alta hospitalar, transferência, óbito ou fuga.

RESULTADOS

Durante o período do estudo, foram totalizadas as internações de 290 pacientes, conveniados ao SUS. Os quais 172 eram do sexo masculino, sendo que 152 na enfermaria masculina e 20 na enfermaria AD. Na enfermaria feminina houve um total de 118 pacientes.

As internações estão agrupadas em três categorias e foi adotado o teste de Kruskal-Wallis para a análise. Nos dados em que a diferença foi significativa, o teste de Mann-Whitney foi utilizado para a comparação dois a dois e constatação de como ocorrem as diferenças entre os grupos (MANN et al, 1947; KRUSKAL et al, 1957).

Para o número de dias da primeira interação, o p-valor do teste foi igual a 0,1029. Desta forma, ao nível de significância de 5%, as médias do número de dias para a primeira internação são semelhantes entre as enfermarias. Já para o grupo geral o p-valor foi igual a 0,0003, ou seja, o resultado aponta que há pelo menos uma enfermaria com o número de dias de internação diferente dos demais, ao nível de significância de 5%. Os resultados mostraram que os pacientes da enfermaria masculina permaneceram mais tempo internados em comparação com os pacientes da enfermaria feminina (p-valor = 0,0001). Por sua vez os pacientes da enfermaria álcool e drogas estiveram internados por mais tempo que os pacientes da enfermaria feminina p-valor (0,0428). E a enfermaria álcool e drogas comparada com a enfermaria masculina apresentaram resultados semelhantes p-valor (0,9917), quanto ao tempo de internação.  Em resumo, os resultados apontaram que no grupo geral o tempo de internação na enfermaria feminina é inferior ao tempo de internação das outras duas enfermarias analisadas.

As tabelas 1 e 2 apresentam os resultados obtidos dos tempos médios de internação geral e das primeiras admissões na instituição, além da duração mínima e máxima (em dias) verificadas durante o estudo.

Tabela 1: Tempo Médio de Internação Geral (em dias)

Enfermaria n Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Feminina 4027 30,51 23,57 1 130
Masculina 8584 50,20 43,73 1 212
Álcool e drogas 1016 48,38 40,37 1 172
Geral 1367 42,06 37,75 1 212

Tabela 2: Tempo Médio de Internação dos Pacientes com 1ª admissão na instituição (em dias)

Enfermaria n Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Feminina 1066 26,65 27,50 1 123
Masculina 2889 43,12 41,34 1 183
Álcool e drogas 219 31,29 34,03 1 102
Geral 4174 36,61 37,18 1 183

Nos gráficos 1 e 2 observamos o tempo médio de internação da instituição, o tempo médio de internação das primeiras admissões e a quantidade de internações que ultrapassam a média de cada enfermaria analisada.

Gráfico 1.
Gráfico 2.

Os gráficos são formados pelo mínino, primeiro quartil, mediana, terceiro quartil e máximo, da quantidade de dias das internações. O mínimo e o máximo são o menor e o maior valor encontrados no conjunto de dados respectivamente, abaixo do primeiro quartil estão 25% dos dados, abaixo da mediana estão 50% dos dados e abaixo do terceiro quartil estão 75% dos dados. Os pontos fora dos limites são os dados destoam dos demais.

O gráfico das internações de primeira admissão mostrou que na enfermaria masculina possui a maior variação do numero de dias de internação e maior tempo de internação. Entretanto a enfermaria do grupo álcool e drogas apresentou a menor variação do numero de dias de internação.

No gráfico geral, enfermaria feminina mostrou menor variação na quantidade de dias de internação, sendo a enfermaria com menor tempo de internação. A enfermaria masculina demonstrou comportamento semelhante em ambos os gráficos e a enfermaria álcool e drogas indicou maior variabilidade no gráfico geral em comparação com o gráfico de primeira internação.

DISCUSSÃO

A partir dos resultados observados, é possível fazer comparações com estudos realizados em outras instituições nacionais e com a meta estipulada pelo Ministério da Saúde.

Em outros estudos, como Souza et al, em que o tempo médio pouco variou entre os sexos, foi possível observar que a permanecia dos pacientes do sexo masculino foi maior do que as pacientes do sexo feminino. O Ministério da Saúde estabelece o tempo de 30 dias para internações psiquiátricas em adultos, a média da instituição é mais alta, mas se avaliarmos separadamente as internações entre as enfermarias, veremos que o tempo médio feminino é próximo ao recomendado pelo MS, já o masculino é superior em aproximadamente 20 dias (SOUZA, 2008).

Foi possível observar um maior número de internações de pacientes masculinos, pois são ofertados 30 leitos a mais que ala feminina. No público AD, foram internados somente pacientes do sexo masculino, pois há no Estado leitos em outras instituições reservados para o público feminino, além de outros serviços que também comportam pacientes masculinos adictos. Esse predomínio de homens internos, foi verificado em outros estudos, Coutinho et al, no Rio de janeiro teve 53,4% de internos masculinos (COUTINHO, 2002).

Entretanto, as divergências dos números obtidos para outros trabalhos e comparados com meta nacional, poderemos tecer as seguintes análises dos dados. Desde 2014, a CRSM, passou abranger um dos períodos da formação dos médicos residentes de psiquiatria. Foram inseridos 2 residentes por ano, sendo um na enfermaria masculina e outro na enfermaria feminina, e ficaram responsáveis pela evolução dos pacientes de oito leitos. Gerando o percentual de 40% das vagas femininas e 16% das masculinas. Visto que o setor da Enfermaria Masculina AD, não há serviço de residência médica, pois o estágio relacionado a área de dependência química é realizado em outro serviço.

Neste trabalho, quando avaliado o grupo de internações femininas de 1ª admissão na instituição, o tempo médio de internação foi de 266 dias. A média da enfermaria feminina geral foi de 30,5 dias, resultado próximo ao número de dias preconizado pelo Ministério da Saúde. Verifica-se uma interligação entre o trabalho de ensino médico e melhorias nos resultados relacionados ao tempo médio de internação.

Apesar do aumento da rede extra-hospitalar ainda é significativa a demanda numérica de pacientes que as políticas de saúde mental precisam acolher.

CONCLUSÃO

Os Hospitais psiquiátricos representam uma importante terapêutica aos pacientes com transtornos mentais, sendo muitas vezes indispensáveis ao tratamento. É essencial a busca por melhorias nos sistemas hospitalares, no intuito de facilitar e objetivar uma maior adequação ao modelo assistencial atualmente preconizado pela Atenção em Saúde Mental. Conclui-se que a junção do ensino de Residência Médica em Psiquiatria às atividades da instituição hospitalar, é promissora, para melhoria dos serviços ofertados, inclusive com uma maior aproximação das metas nacionais relacionadas ao tempo de internação regidas pelo Ministério da Saúde.

REFERÊNCIAS

1-BRASIL, Ministério da Saúde. Orientações para funcionamento e supervisão dos serviços de saúde mental. Brasília, DF, 1990.

2-Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil. Brasília, p 10, novembro de 2005.

3-Ministério da Saúde. Saúde Mental em Dados – 12, ano 10, nº 12. Informativo eletrônico. Brasília: outubro de 2015. (Acesso em 01/11/2016).

4-COUTINHO E.S.F., et al. Censo de pacientes internados em uma instituição asilar no estado do Rio de Janeiro: dados preliminares. Cad Saúde Pública. 2002;18(6):1803-7.

5-GONÇALVES, Alda Martins and SENA, Roseni Rosângela de. A reforma psiquiátrica no Brasil: contextualização e reflexos sobre o cuidado com o doente mental na família. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2001, vol.9, n.2, pp.48-55.

6-KRUSKAL, W. H.; WALLIS, W. A. Use of Ranks in One-Criterion Variance Analysis. Journal of the American Statistical Association, v. 47, n. 260, p. 583–621, 1952. Taylor & Francis Group.

7-MANN, H. B.; WHITNEY, D. R. On a Test of Whether one of Two Random Variables is Stochastically Larger than the Other. The Annals of Mathematical Statistics, v. 18, n. 1, p. 50–60, 1947. Institute of Mathematical Statistics.

8-MESSIAS P, Peixoto. Vivenciando Novas Práticas em Psiquiatria e Saúde Mental Saúde.Com 2013; 9(2): 180.

9-SOUZA J, SOUZA N, MAGNA L. Tempo médio de hospitalização e categorias diagnósticas em hospital psiquiátrico. J Bras Psiquiatria. 2008;57(2):112-6.

[1] Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação de Residência Médica do Hospital de Cirurgia como um dos requisitos para conclusão da Residência Médica em Psiquiatria.

5/5 - (2 votes)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POXA QUE TRISTE!😥

Este Artigo ainda não possui registro DOI, sem ele não podemos calcular as Citações!

SOLICITAR REGISTRO
Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita