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A melhoria da ergonomia ambiental das salas limpas farmacêuticas por meio do uso adequado das cores

RC: 22597
298
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/ergonomia-ambiental

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

MARTINS, Sérgio Augusto Guerreiro [1]

MARTINS, Sérgio Augusto Guerreiro. A melhoria da ergonomia ambiental das salas limpas farmacêuticas por meio do uso adequado das cores. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 11, Vol. 04, pp. 68-82 Novembro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

Este artigo trata do design de interiores em salas limpas farmacêuticas. O crescente empenho da indústria de medicamentos em aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos, por meio da preservação da integridade psicológica dos seus recursos humanos, justificou a realização deste estudo, que se deu por meio de pesquisa bibliográfica. Embora não tenha sido possível encontrar na literatura pesquisada, estudos sobre esse tema, sendo a ergonomia ambiental, a ciência cuja aplicação pode favorecer a adaptação ao espaço habitado, foi proposto que os designers de interiores permitam, com base nos princípios dessa ciência, que a utilização de cores em salas limpas seja feita como uma das estratégias para combater os efeitos físicos e psicológicos negativos neste tipo de ambiente.

Palavras-chave: Ergonomia Ambiental, Salas Limpas Farmacêuticas, Design de Interiores.

INTRODUÇÃO

O crescente empenho do setor farmacêutico em aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos por meio da preservação da integridade psicológica dos seus recursos humanos, justificou o presente estudo, onde se buscou descobrir como o design de interiores pode melhorar a ergonomia ambiental nas salas limpas farmacêuticas. Por meio de pesquisa bibliográfica, foram coletados os dados necessários à discussão do assunto.

Objetivou-se conceituar ergonomia ambiental e a sua relação com o design de interiores, demonstrar a influência das cores na ergonomia ambiental dos locais de trabalho e, finalmente, expor como as salas limpas são ambientes de trabalho estressantes e predominantemente monocromáticos.

ERGONOMIA AMBIENTAL E DESIGN DE INTERIORES

Os indivíduos reagem de maneira diferente à execução de tarefas, devido à diversidade de perfis. Toda tarefa é executada em algum lugar. Portanto, é natural que as características do ambiente no qual esta ocorre venham também a influenciar o usuário, dificultando ou facilitando suas atividades (BATTISTELLA, 2017).

“Nota-se com muita clareza o ambiente interagindo e modificando o comportamento e o comportamento, em resposta, alterando o ambiente.” (ORNSTEIN, 1995, apud FONSECA; MONT’ALVÃO, 2017, p. 1).

Fonseca (2017) considera a ausência de estímulos como uma das causas mais frequentes do estresse induzido pelo ambiente.

Segundo Fonseca; Mont’Alvão (2017), a ergonomia ambiental é a vertente que estuda o ambiente físico da tarefa e como ele contribui positiva ou negativamente no desempenho dos usuários que nele realizam suas atividades.

Lançando mão de conhecimentos de antropometria, psicologia ambiental, ergonomia cognitiva e de análise ergonômica do trabalho, a ergonomia ambiental tem como objetivo, melhorar a adaptação do espaço e torná-lo mais conforme às tarefas e atividades nele desenvolvidas. Para a concepção de ambientes ergonomicamente adequados, são aplicados conceitos de conforto térmico, acústico, lumínico e também cromático (VILLAROUCO, 2002, apud FONSECA; MONT’ALVÃO, 2017). A responsabilidade do projetista deve ir além do desenho de ambientes confortáveis e seguros e devem ser levadas em consideração também as necessidades estéticas e formais do usuário, de modo a se obter um espaço agradável, de prazer e bem-estar (BINS ELY, 2003 apud FONSECA; MONT’ALVÃO, 2017).

Moraes (2004 apud SILVA; BORMIO, 2017) afirma que são necessários conhecimentos sobre ergonomia para a realização de projetos de design de interiores, pois esta trata não somente da relação do homem com o objeto, mas também da relação do homem com o ambiente onde está inserido.

2. INFLUÊNCIA DAS CORES NA ERGONOMIA AMBIENTAL

A cada dez informações recebidas pelos sentidos humanos, oito são visuais e destas, quatro são cromáticas (BATTISTELLA, 2017).

No início do século XIX, os cientistas Thomas Young e Hermann von Helmholtz desenvolveram a teoria tricromática, ao descobrir que o olho humano tem receptores que detectam apenas três cores: vermelho, verde e azul. Todas as outras são criadas pela combinação de emissões luminosas daquelas. Fisiologicamente, todos os indivíduos veem da mesma maneira, pois as combinações das três cores primárias da luz são captadas da mesma forma pelo sistema visual humano. Porém, o processamento e interpretação das cores pelo cérebro de cada um é que difere (FRASER; BANKS, 2007).

A cor é informação visual, pois, uma vez percebida pelos olhos, é decodificada pelo cérebro, que lhe atribui alguma sensação, que será o efeito da cor sobre o indivíduo que a visualiza (GUIMARÃES, 2000 apud FONSECA; MONT’ALVÃO, 2017). Em sequência, a ação tríplice da cor consiste em impressionar a retina, provocar uma emoção e, finalmente, exercer seu valor simbólico e de capacidade na construção de uma linguagem que comunica uma ideia (FARINA, 1982 apud FONSECA; MONT’ALVÃO, 2017). Organizações utilizam a linguagem de cores para transmitir diversas informações a seus funcionários e clientes, tais como localização geográfica e função dos diferentes departamentos. Outro exemplo da transmissão de mensagens por meio da cor é o uso de composições cromáticas mais ou menos estimulantes para a realização de atividades monótonas ou que exijam concentração, respectivamente (FONSECA; MONT’ALVÃO, 2017).

Fonseca; Mont’Alvão (2017) afirmam que, pelo uso das cores, pode-se modificar o ambiente e se obter efeitos que não poderiam ser alcançados de outras formas. Afirmam ainda que a cor é um dos principais fatores de interação entre o homem e o espaço em que se encontra, servindo, inclusive, para melhorar e transformar aspectos funcionais e estéticos dos locais de trabalho.

A cor, com suas ilimitadas possibilidades estéticas e psicológicas não tem por objetivo a criação de ambientes exibicionistas, mas sim tornar a vida mais agradável. (GOLDMANN, 1966, apud BATTISTELLA, 2017, p. 34).

Segundo Battistella (2017, p. 34), “embora pouco explorada, a psicodinâmica das cores faz parte da nova ciência da ergonomia.” (ROVERI, 1996 apud BATTISTELLA, 2017) atribui a essa ciência, a criação do esquema de significação das cores dos últimos 50 anos.

“Normas internacionais e nacionais foram elaboradas com os requisitos mínimos para padronização do uso das cores na segurança e higiene industrial.” (BATTISTELLA, 2017, p. 34).

Para Cabral (1974, apud BATTISTELA, 2003, p. 35),

o setor que mais obtém benefícios com a aplicação da cor é a indústria: iluminação eficiente e racional, boa visibilidade, ambiente confortável e alegre, redução da fadiga ocular, melhoria das condições de segurança, melhoria das condições psicológicas de grupo e melhoria da eficiência laborativa , identificação de objetos específicos, indicação de perigo ou condições especiais.

Pode-se citar como exemplo de padronização do uso de cores nos locais de trabalho, as normas brasileiras NB-76/59 que fixa as cores dos locais de trabalho para a prevenção de acidentes e a NR-26 que fixa as cores da sinalização de segurança nos locais de trabalho. As normas se fundamentam na linguagem psicológica das cores, carga cultural e educação do indivíduo para produzirem reações automáticas e instantâneas (BATTISTELLA, 2017).

Psicólogos e ergonomistas constataram que, se valendo dos efeitos das cores sobre as emoções, várias profissões as utilizam para influenciar psicologicamente seu público alvo. Por exemplo, na propaganda, usa-se a cor para favorecer a aceitação de um produto, na arquitetura, como complemento ambiental e de satisfação e na medicina, para auxiliar na cura de enfermidades (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017).

Os indivíduos, tendo seus sentimentos influenciados pelas cores, lhes atribuem significados. Os mais comumente conhecidos são:

Amarelo: Cor quente, vivaz, luminosa. Terapeuticamente, é usada para combater a depressão e a angústia (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017).

Por possuir alto índice de reflexão, o amarelo dá a sensação de proximidade, reduzindo assim, o espaço interno. Usado em paredes é, ao mesmo tempo, estimulante e irritante. Por ser considerada a cor mais estimulante da atividade cerebral, é indicada para salas de aula de crianças com deficiência intelectual e contra indicada para pisos, pois dá a sensação de avançar sobre o observador (FONSECA, 2017).

Esta cor favorece associações positivas, como otimismo, confiança, autoestima, extroversão, força emocional, simpatia, criatividade, e associações negativas, como irracionalidade, medo, fragilidade emocional, depressão, ansiedade, suicídio (FRASER; BANKS, 2007).

O azul, na cultura ocidental, está relacionado à fé, confiança, integridade, delicadeza, pureza e paz. Tons escuros denotam frieza e formalismo (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017). Dá a sensação de aumento do espaço interno e induz à serenidade e ao relaxamento, sendo indicado para ambientes de descanso. Deve ser associado a outras cores para não tornar o ambiente triste. Favorece associações positivas, como inteligência, comunicação, eficiência, dever, lógica, frescor, reflexão, calma, e associações negativas, como frieza, altivez, falta de emoção, antipatia (FRASER; BANKS, 2007).

O branco sugere tranquilidade. Porém, usado em excesso, torna o ambiente monótono e hostil, induzindo à dispersão (BATTISTELLA, 2017). Deve ser usado como acessório para realçar outras cores e para trazer claridade e alegria ao ambiente. No entanto, em demasia, torna o espaço frio e impessoal (FONSECA, 2017).

O cinza se harmoniza com todas as composições de cores e funciona bem como contraste para cores intensas. Para se evitar o sombreamento do ambiente, recomenda-se o seu uso somente para detalhes ou acabamentos (BATTISTELLA, 2017).

O laranja é estimulante e está relacionado com vitalidade, ação, entusiasmo e força. É indicado para evidenciar pontos que devem sobressair (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017). Se usado em grandes áreas, dá a sensação de diminuir o ambiente. Por se destacar com facilidade, é muito usado pela indústria para sinalizar peças perigosas (FONSECA, 2017).

O preto sugere agressividade, distância e isolamento. Ambientes onde predomina a cor preta tendem a ser escuros e depressivos (BATTISTELLA, 2017); Porém, se usado com parcimônia, transmite requinte (FONSECA, 2017).

O preto favorece associações positivas, como sofisticação, glamour, segurança, segurança emocional, eficiência, substância, e associações negativas, como opressão, frieza, ameaça, angústia (FRASER; BANKS, 2007).

O verde, em tons claros, transmite paz e bem estar e, em tons escuros, tende a deprimir. Dá a impressão de tranquilidade e frescor (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017). É muito utilizado em mesas de jogos e quadros escolares por ser a cor que menos fadiga a visão. Por esse mesmo motivo, é muito usado em arquitetura de interiores, além de sugerir natureza e tranquilidade (FONSECA, 2017).

O verde favorece associações positivas, como esperança, harmonia, equilíbrio, amor universal, repouso, restauração, reconforto, consciência ambiental, equilíbrio, e associações negativas, como tédio, estagnação, desinteresse, abatimento (FRASER; BANKS, 2007).

O vermelho: é estimulante e induz à sensação de calor e força. Estimula os instintos naturais e desperta entusiasmo, dinamismo e ação, podendo, por outro lado, despertar intranquilidade e violência (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017). É uma cor que avança, dando a sensação de aumentar as dimensões dos objetos e diminuir os ambientes. Pelo seu forte caráter estimulante, deve ser usada com parcimônia em arquitetura de interiores, a menos que a intenção seja a de causar excitação, como no caso de teatros. É atraente, porém cansativa, além de ser desfavorável à atividade mental por causar agitação (FONSECA, 2017). Favorece associações positivas, coragem física, energia, instinto básico de sobrevivência, estimulação, masculinidade, e associações negativas, como desafio, agressão, impacto visual, tensão (FRASER; BANKS, 2007).

O violeta sugere muita proximidade e espiritualidade, podendo, no entanto, levar à melancolia e à depressão, se usado em excesso. Recomenda-se sua aplicação em pequenas áreas (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017). É uma das cores que mais influencia as emoções e humores e deve ser usada, preferencialmente, em ambientes com muita luminosidade. (BATTISTELLA, 2017). Permite associações positivas, como consciência espiritual, refreamento, visão, luxo, autenticidade, verdade, qualidade, e associações negativas, como introversão, decadência, supressão, inferioridade (FRASER; BANKS, 2007).

As cores devem ser usadas para tornar as condições de trabalho o mais favoráveis possível. Seja em uma sala de repouso, um gabinete de reuniões, salas de aula de uma escola ou uma indústria, a associação de cores deve favorecer a execução das atividades e preservar a integridade dos colaboradores. A não observância de um esquema de cores que adeque o ambiente à atividade a ser realizada pode levar, ao longo do tempo, a alterações do estado de ânimo tais como, depressão, melancolia ou fadiga (AZEVEDO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017).

Silva; Bormio (2017) relatam dois experimentos realizados por outros pesquisadores em que se conclui que há influência das cores do ambiente de trabalho, de curta e longa permanência, sobre os indivíduos que nele exercem suas atividades. Os resultados vão desde aumento da capacidade de concentração, até agressões verbais e físicas.

3. SALA LIMPA¹: UM AMBIENTE ESTRESSANTE E MONOCROMÁTICO

Fonte: Página da empresa Life Laboratórios de Insumos Farmacêuticos ltda²

Foto 1 – Sala limpa farmacêutica

¹Sala onde a quantidade de partículas contidas em cada metro cúbico de ar é controlada dentro de limites específicos.

²Disponível em: https://www.lifepharma.com.br/copia-missao-e-principios?lightbox=dataItem-j70rsv0a

A definição técnica de sala limpa, segundo a International Organization for Standardization, é:

Sala na qual a concentração de partículas em suspensão no ar é controlada. É construída e utilizada de maneira a minimizar a introdução, geração e retenção de partículas dentro da sala, na qual outros parâmetros relevantes, como por exemplo, temperatura, umidade e pressão, são controlados conforme necessário. (INTERNATIONAL ORGANIZATION OF STANDARDIZATION, 2007 apud WHYTE, 2013, p. 1).

Sala limpa é um espaço quase que hermeticamente fechado, no qual, através de sistemas de filtros de alta eficiência, é feita a redução e diluição de contaminantes do ar, tais como partículas, bactérias, e produtos químicos que possam ser gerados e dispersos pelos trabalhadores, equipamentos e outras fontes de contaminantes. As salas limpas são construídas com materiais que não liberem partículas, nem gases, nem quaisquer contaminantes que possam ficar suspensos no ar (WHYTE, 2013).

O sistema de ar condicionado de uma sala limpa é dotado de filtros de alta eficiência, de modo que todo o ar fornecido ao ambiente tenha a menor quantidade de contaminantes possível e que a sua concentração destes no ar permaneça dentro dos parâmetros tolerados para uma dada atividade (WHYTE, 2013).

Salas limpas são necessárias em diversas atividades em que o controle de contaminantes do ar seja um fator determinante de segurança e qualidade. São utilizadas, por exemplo, pelas indústrias de eletrônica, semicondutores, micromecânica, óptica, nanotecnologia, biotecnologia, próteses, alimentos, bebidas e farmacêutica. Uma sala limpa farmacêutica é, portanto, um ambiente no qual, o controle de contaminantes visa a manter, sobretudo, a esterilidade dos produtos farmacêuticos nela produzidos (WHYTE, 2013).

A disciplina de trabalho em salas limpas é muito rigorosa, pois os produtos são muito sensíveis à contaminação e nem todas as pessoas estão aptas para ali atuar, pois, algumas condições pessoais podem gerar contaminantes, tornando o seu acesso proibitivo. Por exemplo, no caso de pessoas com dermatites, queimaduras de sol, caspa grave, condições respiratórias que provoquem tosse ou espirro e doenças infecciosas. Os hábitos pessoais também são fatores determinantes, não sendo permitido: higiene pessoal insatisfatória, fumantes, unhas e cabelos longos, uso de cosméticos ou perfumes, uso de relógio, brincos ou quaisquer adereços. Além disso, o pessoal considerado apto a trabalhar em uma sala limpa utilizará roupas especiais que propiciem o controle de contaminação e a proteção pessoal. Roupas comuns não são toleradas e, por carrearem muitos contaminantes, é comum que devam ser retiradas antes do início dos trabalhos e substituídas por roupas descontaminadas. O vestuário utilizado em uma sala limpa de mais alto padrão consiste em macacão com capuz envolvendo o corpo por completo, botas até os joelhos, propés, óculos de segurança, máscara cirúrgica e/ou máscara de carvão ativado e luvas (WHYTE, 2013).

O comportamento pessoal dentro das salas limpas deve obedecer a regras de conduta, visando ao controle da geração e dispersão de contaminantes. Os movimentos corporais devem ser limitados e somente os necessários à realização da tarefa. As pessoas não devem conversar e nem se cumprimentar com aperto de mãos e devem evitar ao máximo, a movimentação de entrada ou saída da sala para beber água ou ir ao banheiro (WHYTE, 2013).

Quanto ao design, piso, paredes e teto de salas limpas devem ser lisos, fáceis de limpar e resistentes ao choque mecânico e ao ataque químico. Todos os cantos devem ser arredondados para dificultar o acúmulo de contaminantes. Tradicionalmente, são utilizados a tinta à base de epóxi ou painéis vinílicos soldados para revestir as superfícies internas destas salas (WHYTE, 2013).

Segundo Hovaghimian; Paes Junior (2017), os pisos de salas limpas devem possuir aparência atrativa e cores claras, de modo a facilitar a visualização de sujidades.

Mello (2017) afirma que a sala limpa tem a tendência a ser uma sala quase monocromática.

Nas Resoluções da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não se fala em cores dos materiais a serem utilizados, a recomendação é que seja liso e lavável. Mas, por se tratar de salas limpas, e diferentes níveis de limpeza (graus A, B, C e D) e as salas controladas não classificadas, existe um consenso de que cores claras são as mais recomendadas.

Em uma parede branca a “sujeira” aparece mais, então seria mais recomendável, assim como pisos com cores claras.

Em algumas áreas produtivas em que a matéria-prima utilizada tem uma cor que mancha a área, é adotado o uso de uma cor parecida com a da matéria-prima para que a parede não fique eternamente manchada (amarela) (MELLO, 2017, online).

Este autor ainda se refere ao fato de que os fabricantes dos painéis utilizados neste tipo de salas adotam cores padrão Rationelle Arbeitsgrundlagen für die praktiker des Lack (RAL) e que este material na cor branca tem menor valor, por ser mais vendido, sendo o tipo RAL 9003, o mais utilizado.

Conheço áreas coloridas, mas sempre em tons mais claros, e as empresas preferem não adotar por causa da dificuldade na manutenção ou no caso de reforma, porque é difícil manter a cor e não se pinta os painéis como fazemos com paredes de alvenaria ou gesso.

A variável de cor se limita às portas e, mesmo assim, em cores “chaves” do padrão RAL que sejam mais vendidas (azul e verde), mas a maioria adota o branco. Novamente, por custo e facilidade de substituição (MELLO, 2017, online).

Quanto aos pisos, o uso do epóxi ou da manta também limita a variação de cores escolhidas que são sempre claras. “O único material adotado que não tem exatamente uma cor clara, mas é usado pelas suas propriedades de limpeza é o aço inox.” (MELLO, 2017, online).

Painéis para construir paredes divisórias e tetos de salas limpas são encontrados nas seguintes empresas:

A Dânica disponibiliza chapas de aço galvalume pré-pintado na cor padrão branca RAL 9003 ou chapas de aço inox escovado (DANICA, 2017).

A Goldbras oferece chapas de aço zincado pré-pintado na cor branca RAL 9003 ou outras cores sob consulta, chapas de aço inoxidável no padrão American Iron and Steel Institute (AISI) ou galvalume (GOLDBRAS SALAS LIMPAS, 2017).

A SD Divisórias dispõe de chapas de aço carbono revestidas de poliéster branco, aço inox ou alumínio (SD DIVISÓRIAS, 2017).

Jackson; Wilson (2017) sugerem que trabalhadores de salas limpas são submetidos ao estresse físico e psicológico, resultante das condições rigorosas dos seus locais de trabalho. Frequentemente, salas limpas não possuem janelas e são atipicamente quietas e isoladas. Ainda segundo esse autor, trabalhadores confinados por longos períodos de tempo em ambientes remotos e isolados costumam demonstrar efeitos psicológicos negativos tais como, isolamento social e conflito com os colegas. Trabalhar sob a ausência de luz natural pode levar a sintomas físicos e psicológicos tais como, desconforto visual, dores de cabeça, cansaço e estresse. Por outro lado, pessoas que trabalham em ambientes coloridos e visualmente estimulantes apresentam melhor estado de ânimo. Para melhorar o estado de atenção dos funcionários, deve-se dar mais personalidade às salas limpas por meio da iluminação, som ambiente e decoração.

CONCLUSÕES

Pelo fato das salas limpas farmacêuticas serem ambientes onde as condições são rigorosamente controladas com a intenção de reduzir, ao máximo, os contaminantes do ar e das superfícies, é exigido um alto grau de limpeza, optando-se por superfícies claras. Por outro lado, por motivo de custo mais baixo, pisos e portas se apresentam com poucas opções de cores, o que torna estas salas quase que monocromáticas. Além disso, estes ambientes exigem rotinas muito rigorosas, favorecendo o isolamento dos funcionários e tornando suas atividades muito estressantes.

Embora não tenha sido possível encontrar, na literatura pesquisada, estudos sobre esse tema, propõe-se que os designers de interiores, lançando mão de conhecimentos de ergonomia ambiental e dentro dos padrões exigidos pela vigilância sanitária, possibilitem que a utilização de cores em salas limpas seja feita como uma das estratégias para combater os efeitos físicos e psicológicos negativos deste tipo de ambiente. A utilização de cores frias em tons claros, nas paredes e piso, poderia favorecer a concentração, como o azul, poupar a visão, como o verde, e proporcionar um ambiente tranquilo, posto que o branco, em excesso, torna o ambiente angustiante e cansativo.

Em função das atividades exercidas em salas limpas exigirem um alto nível de concentração por parte dos funcionários, utilizam-se o branco e cores frias, tais como o azul e o verde, no vestuário, e evita-se o uso de cores quentes, para que a movimentação de uns não disperse a atenção de outros. Por outro lado, a utilização de cores quentes no mobiliário, tais como o laranja e o amarelo, em tons claros, reduziria a monotonia do ambiente sem dispersar a atenção e ajudaria a setorizar os espaços, favorecendo a diferenciação, por exemplo, entre uma bancada de insumos e uma de produtos acabados.

É bastante provável que a correta utilização das cores possa tornar o ambiente de uma sala limpa mais seguro e confortável, tendo como consequência a melhoria da eficiência do setor.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, M. de F. M. de; SANTOS, M. S. dos; OLIVEIRA, R. de. O uso da cor no ambiente de trabalho: uma ergonomia da percepção. 2016. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis. Disponível em: <http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Arquitetural/Sa%FAde/o_uso_da_ cor_no_ambiente_de_trabalho_uma_ergonomia_da_percepcao.pdf.>. Acesso em: 7 jun. 2017.

BATTISTELLA, Márcia Regina. A importância da cor em ambientes de trabalho: um estudo de caso. 2003. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis. Disponível em: <http://www.alexandracaracol.com/ Ficheiros/A_import%C3%A2ncia_das_cores.pdf.>. Acesso em: 7 jun. 2017.

DÂNICA. Arquitetura de salas limpas. Disponível em: < http://www.danicacorporation.com/salaslimpas/uploads/downloads/Revestimentos%20T%C3%A9rmicos%20-%20Divis%C3%A3o%20Salas%20Limpas_ A.pdf.>. Acesso em: 20 set. 2017.

FONSECA, Juliane Figueiredo. A contribuição da ergonomia ambiental na composição cromática dos ambientes construídos dos locais de trabalho de escritório. 2004. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Artes e Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Disponível em <http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Arquitetural/livros /ergonomia_e_cor_nos_ambientes_e_locais_de_trabalho.pdf.>. Acesso em: 5 jun. 2017.

FONSECA, J. F.; MONT’ALVÃO, C. Cor nos locais de trabalho: como aplicá-la de forma adequada às necessidades dos usuários e às exigências da tarefa? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 18., 2006, Belo Horizonte. Disponível em: <http://www.leui.dad.puc-rio.br/arquivosartigos /figueiredo_montalvao_anaisdoabergo_2006.pdf.>. Acesso em: 7 jun. 2017.

FRASER, Tom; BANKS Adam. O guia completo da cor. 2. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2007.

GOLDBRAS SALAS LIMPAS. Produtos. Disponível em: <https://salalimpagoldbras.com.br/produtos/itemlist/category/23-paineis-eps-sala-limpa.html>. Acesso em: 20 set. 2017.

HOVAGHIMIAN, L. H.; PAES JUNIOR, A. Salas limpas: entenda esse conceito. Coletânea de Artigos Técnicos ANAPRE – Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho, São Paulo, ago. 2008. Disponível em: <http://www.anapre.org.br/coletania_artigos_2010.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

JACKSON, C. A.; WILSON, D. A. World at work: Hospital pharmacy clean-rooms. Occupational & Environmental Medicine, Health and Policy Studies, University of Central England, Birmingham B42 2SU, UK, v. 1, n. 63, jan. 2006. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC207 8028/#ref9>. Acesso em: 21 set. 2017.

MELLO, Leila. Cores em salas limpas. Rio de Janeiro, empresa Marca projetos e consultoria. 21 set. 2017. Depoimento, via e-mail, feito ao pós-graduando em design de interiores, Sérgio Augusto Guerreiro Martins.

SD DIVISÓRIAS. Produtos. Disponível em: <http://www.sddivisorias.com.br/produtos/12/Divis%C3%B3rias-Sala-Limpa>. Acesso em: 20 set. 2017.

SILVA, V. L. A.; BORMIO, M. F. A importância do uso ergonômico da cor na interface ambiente x usuário. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ERGONOMIA APLICADA, 1., 2016, Recife. Disponível em: <http://pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/engineeringprocee dings/conaerg2016/7828.pdf.>. Acesso em: 7 jun. 2017.

WHYTE, William. Tecnologia de salas limpas: fundamentos de projeto, ensaios e operação. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

[1] Farmacêutico do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio); Engenheiro Civil autônomo. Artigo apresentado à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para a Conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Design de Interiores.

Enviado: Novembro, 2018

Aprovado: Novembro, 2018

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Sérgio Augusto Guerreiro Martins

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