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Concepções sobre a saúde do homem segundo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH)

RC: 71330
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

SILVA, Jhonatan Mariano da [1], CASTRO, Luzia de Moraes [2], MARIANO, Joseane Maria da Silva [3], NUNES, Ronaldo Lima [4]

SILVA, Jhonatan Mariano da. Et al. Concepções sobre a saúde do homem segundo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 12, Vol. 15, pp. 183-196. Dezembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/politica-nacional

RESUMO

Introdução: Diante da vulnerabilidade a mortes precoces e de doenças crônicas ou graves do grupo populacional masculino, o Ministério da Saúde instituiu a política de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que se fundamenta na promoção da saúde do gênero masculino. Objetivo: Este estudo objetivou conhecer as especificidades da atenção à saúde dos homens no campo da atenção básica. Materiais e Métodos: Foi realizado o método de análise de revisão integrativa, baseando-se na separação das informações encontradas na amostra final de diversos artigos publicados nos últimos 11 anos, utilizando-se da base de dados SCIELO e de revistas eletrônicas de saúde. Resultado: Os resultados encontrados através da compilação de diversos autores, indicaram que ainda é um grande desafio a inserção da população masculina nos serviços de atenção básica com vista à prevenção de agravos. Conclusão: observou-se que a PNAISH possibilitará mudanças significativas no cenário de atendimento do grupo masculino na atenção básica, pois constitui-se como importante estratégia de promoção da saúde.

Palavras-Chave: PNAISH, saúde do homem, atenção básica de saúde do homem.

INTRODUÇÃO

Estudos apontam que um dos grandes desafios para o Sistema Único de Saúde Brasileiro é a presença reduzida de homens nos serviços de atenção básica à saúde. A busca por estes serviços é maior entre as mulheres e significativamente menor entre os homens, fazendo com que a maioria dos usuários, adentrem o sistema de saúde pela atenção ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade já que na maioria das vezes têm diagnósticos mais tardios dos problemas relacionados à saúde (MOREIRA et al., 2016; TRILICO et al., 2015; TONELI e MULLER, 2015)

A ausência desse grupo nos serviços de atenção básica pode decorrer de vários fatores; no entanto, dentre algumas justificativas a cultura de gênero, a desvalorização do autocuidado, e a percepção de saúde foram as mais encontradas nos estudos pesquisados. Somado a estes fatores, não se pode deixar de lado o próprio contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF), que ainda se organiza de forma a não priorizar o atendimento à população masculina (ALBUQUERQUE et al., 2014; ARRUDA et al., 2017; SOUZA et al., 2015).

Em decorrência da baixa valorização com os cuidados com a saúde, destaca-se quatro grupos principais de doenças envolvendo os homens: Doenças do Aparelho Circulatório; Tumores; Doenças do Aparelho Digestivo e as Doenças do Aparelho Respiratório. Em relação a estas vulnerabilidades, morrem mais homens do que mulheres durante o ciclo evolutivo de vida. No entanto, o que se observa é que muitas dessas mortes poderiam ser evitadas, se não fosse à resistência masculina para procurar os serviços de saúde, com vista à prevenção de agravos. (MOREIRA et al., 2014; ALVES, 2016; OPAS/OMS, 2019).

O objetivo deste trabalho, será analisar algumas temáticas relacionadas ao processo de saúde e adoecimento da população masculina também, apresentar os principais motivos pelos quais os homens não procuram os serviços de atenção básica, direcionando o estudo para as ações propostas pelo Ministério da Saúde voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde dessa população, tendo como base a política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem e suas orientações.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura científica, que também pode ser denominada como revisão bibliográfica. Este método busca revelar as contribuições científicas de diversos autores sobre um determinado tema, com consulta à base de dados nacional SCIELO (Scientific Electronic Library Online), Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), e do site do Ministério da Saúde. A escolha da base de dados SCIELO se deu, pelo fato de agregar, sobretudo, diversos periódicos de grande expressão científica, em especial aqueles referentes à Saúde Pública.

Na seleção dos descritores, foram utilizadas as seguintes palavras‑chaves: PNAISH; Saúde do homem; atenção básica de saúde do homem. Esses termos foram inseridos isoladamente e também utilizados de forma conjunta, a fim de proporcionar uma pesquisa mais satisfatória.

O levantamento bibliográfico foi realizado entre os meses de agosto a novembro de 2019. Deste modo, foram incluídos na pesquisa os artigos de periódicos publicados nos últimos 11 anos na língua portuguesa (BRASIL), pesquisas desenvolvidas no Brasil, publicações produzidas pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e do ministério da Saúde, como artigos, Manuais e cartilhas disponibilizados nos portais governamentais e eletrônicos nos arquivos do tipo PDF; Toda esta seleção teve enfoque nos materiais que tratassem com maior relevância sobre o tema “a saúde do homem”.

Foram excluídas as teses, dissertações ou informativos anteriores a 2009, com títulos que não se relacionavam com a temática apresentada neste estudo. Assim a somatória das publicações possíveis por meio dos descritores totalizou 1105, ao inserir os critérios de inclusão reduziu para 337 publicações; e após o critério de exclusão foram selecionadas 45 publicações.

Em seguida foi realizada a leitura do título, resumo e introdução de todo o material encontrado, a fim de identificar a relação entre a saúde do homem e as ações propostas na PNAISH. Deste modo, foram selecionados 20 periódicos que respondiam de maneira satisfatória ao objetivo da pesquisa (conforme quadro 2), excluindo assim, 25.

RESULTADOS

Verificou-se na análise dos textos encontrados, que os artigos que se referem a temática Assistência à Saúde do Homem na Atenção Básica, apresentaram variação nos anos de publicação, com período de maior e menor interesse pela temática abordada. Em alguns anos, apenas um artigo foi encontrado, já no ano de 2014, foram encontrados cinco artigos, e no de 2019, foram encontrados dois.

As teses, dissertações ou informativos se caracterizam com um percentual de abordagens metodológicas de 75% (15 periódicos), dos estudos de caráter qualitativo e, 25% (5 periódicos), dos estudos de caráter quantitativo, conforme apresentados no gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Percentual de Abordagem Qualitativa e Quantitativa

Fonte: Alves; Pottes, 2020.

O quadro 2 descreve o conjunto das 20 dissertações, documentos, livros ou informativos selecionados neste estudo. Há uma descrição dos estudos incluídos nesta revisão integrativa, segundo autores, periódicos, ano de publicação por ordem decrescente, tipo de estudo e instrumentos utilizados para coleta de dados, e por fim, abordagens e técnicas de perspectivas qualitativa e quantitativa dos estudos apontados. Torna-se importante destacar, que para os documentos e informativos governamentais, optou-se por classificá-los com a abordagem do tipo qualitativo.

Quadro 2 – Caracterização dos artigos da amostra final, por ordem decrescente do ano de publicação. Brasília, 2019.

Autores Periódicos Ano Tipo de estudo /Instrumento/ Tipo de abordagem
BRASIL Site Ministério da Saúde 2009 Documento Princípios e Diretrizes PNAISH
Leal et al E-Revista ciência & Saúde coletiva 2012 Estudo de caso / análise de documentos e das técnicas de narrativa, de entrevista em profundidade (A partir de roteiro semiestruturado) e de observação etnográfica / abordagem qualitativa
Moura et al E-Revista ciência & Saúde coletiva 2012 Estudo de caso múltiplo / questionário autoaplicável / abordagem quantitativa
Storino et al E-Revista Esc. Anna Nery 2013 Estudo exploratório e descritivo / Entrevistas semiestruturadas / abordagem qualitativa
Albuquerque et al E-Revista Esc. Anna Nery 2014 Estudo descritivo / Entrevista semiestruturada / abordagem qualitativa
Moreira et al E-Revista Esc Anna Nery 2014 Exploratório e descritivo / Entrevista / abordagem qualitativa
Moura et al E-Revista ciência & Saúde coletiva 2014 Estudo transversal / IBM SPSS® versão 20.0 / abordagem quantitativa
Mozer e Corrêa E-Revista Esc Anna Nery 2014 Estudo descritivo e exploratório / entrevista semiestruturada / abordagem qualitativa
Siqueira et al E-Revista Esc Anna Nery 2014 Estudo descritivo / questionário e Ensemble de Programmes Permettant L’Analyse des Évocations (EVOC) / abordagem qualitativa
BRASIL Site Ministério da Saúde 2015 Informativo
Oliveira et al E-Revista ciência & Saúde coletiva 2015 Estudo transversal / planilha eletrônica Microsoft Excel 2003 / abordagem quantitativa
Souza et al E-Revista psico. Cien e prof. 2015 Relato de experiência profissional / abordagem qualitativa
Toneli e Muller E-Revista Fractal: ver. De psic 2015 Estudo de caso / Análise documental e entrevista / abordagem qualitativa
Trilico et al E-Revista trab. Educ, Saúde 2015 Descritivo-exploratória / discurso do sujeito coletivo / abordagem qualitativa
Moreira et al E-Revista Cad. Sal Pub. 2016 Estudo de caráter misto / observações e entrevistas semiestruturadas / abordagens qualitativa e quantitativa
Alves Portal UNASUS 2016 Livro
Arruda et al E-Revista ciência & Saúde coletiva 2017 Estudo transversal / Entrevista semiestruturada / abordagens qualitativa e quantitativa
Ribeiro, Gomes e Moreira E-Revista ciência & Saúde coletiva 2017 Estudo transversal / matriz hermenêutica-dialética / abordagem qualitativa
Pereira et al E-Revista Saúde Soc. 2019 Pesquisa documental / Análise documental / abordagem qualitativa
OPAS/OMS Portal PAHO 2019 Informativo

Fonte: Os autores / 2019

DISCUSSÃO

Os estudos apontaram que os principais motivos pelos quais os homens não procuram os serviços da atenção básica de saúde são: a cultura de gênero; a desvalorização do autocuidado; as barreiras socioculturais; a vergonha; o horário de funcionamento; e; a dificuldade de acesso aos serviços assistenciais. Através de um levantamento nos estudos indicados no quadro 2, foi possível encontrar 13 estudos que apresentavam motivos pelos quais os homens não procuram os serviços de saúde; o gráfico abaixo apresenta o percentual dos fatores motivacionais que impedem o público masculino de procurar pelos serviços básicos de saúde:

Gráfico 2: Percentual dos fatores motivacionais para não procurar os serviços de atenção básica.

Fonte: autor.

De acordo com o gráfico 2, é possível observar que um percentual de 35%, indicava a cultura de gênero como principal fator para os homens não procurarem os serviços de saúde (MOURA et al., 2014; SIQUEIRA et al., 2014; ALBUQUERQUE et al., 2014; MOZER e CORRÊA, 2014; TONELLI et al., 2015; ALVES, 2016; ARRUDA et al., 2017; PEREIRA et al., 2019; BRASIL, 2009). A desvalorização do autocuidado conta com um percentual de 16% entre os motivos apontados pelos autores; Oliveira et al. (2015, p. 274) diz que “O adoecimento e o cuidado de si são ações pouco valorizadas pelo homem, fato que os afastam do acesso aos serviços de saúde”; diante dessa realidade, nota-se que os homens, em geral, não são socializados para cuidarem de si, além o que, o acesso e a frequência aos serviços de saúde relacionam-se diretamente ao fato de que homens não se reconhecem como doentes. (SIQUEIRA et al., 2014; ALBUQUERQUE et al., 2014; OLIVEIRA et al., 2015; RIBEIRO et al., 2015).

As dificuldades de acesso, registraram um total de 16% entre os principais motivos (BRASIL, 2009; MOURA et al., 2014; MOREIRA et al., 2016; ARRUDA et al., 2017); um total de 12% dos estudos correspondia às Barreiras socioculturais. (BRASIL, 2009; SIQUEIRA et al., 2014; ARRUDA et al., 2017); o horário de funcionamento, também registrou um percentual de 12% (SIQUEIRA et al., 2014; SOUZA et al., 2015; MOREIRA et a.l, 2016); já a vergonha, teve um percentual de 9% entre os estudos pesquisados (SIQUEIRA et al., 2014; MOREIRA et al., 2016).

Alguns dos estudos indicados nos resultados, também evidenciaram que as políticas públicas voltadas para o público masculino esbarram em questões culturais para a sua implementação, pois os homens em geral não são socializados para o autocuidado. Inclusive Ribeiro, Gomes e Moreira (2017, p.42) destacam que “Esse modelo cultural compromete tanto a saúde dos homens quanto das mulheres, resultando na baixa procura pelas unidades de atenção primária”. Com isto, o que se observa é que grande parte dos homens costumam acessar os serviços de saúde pela atenção secundária ou terciária.

Além disso, observou-se na leitura dos artigos, que os homens procuram menos o serviço de saúde de atenção básica que as mulheres, pois tendem a optar por serviços hospitalares, pronto atendimento e serviços de emergência. Oliveira et al. (2015, p.276) corrobora com esse assunto ao citar “a pressa, a objetividade, o medo e a resistência, além da dificuldade de acolhimento desta população são fatores que afastam os homens dos serviços de saúde”. Com isso, nota-se que a procura por serviços de saúde ainda se apresenta conectada a algum problema, seja agudo ou crônico.

Além disso, os estudos de gênero apresentaram uma construção social de masculinidade que se relaciona diretamente com os modos de perceber e de viver o adoecer e o cuidado com o corpo. Inclusive Siqueira et al. (2014, p.691) destacam que “As barreiras socioculturais estão relacionadas aos estereótipos de gênero que concebem o ser homem, como um ser forte, viril e invulnerável”; com isso, a ideia do estereótipo masculino vincula-se a questões culturais e à imagem de identidade de gênero que concebem o ser homem.

De acordo com Alves (2016, p. 12) “A Política de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) estabeleceu um recorte estratégico da população masculina, que compreende a faixa etária de 20 aos 59”. Diante disso, o Ministério da saúde publicou informações sobre as maiores causas de internações para essa faixa etária no ano de 2015; foi informado que de 5,9 milhões de internações naquele ano, 3,009 foram somente dos usuários do sexo masculino, conforme pode-se observar no gráfico abaixo (BRASIL, 2015).

Gráfico 3 – Número de Internações realizadas pelo SUS no ano de 2015

Fonte: Alves; Pottes, 2020.

Os dados do Ministério da Saúde ainda informam que, excluindo as internações por gravidez, parto e puerpério, o sexo masculino tem o maior número de internações, correspondendo a 51% se comparado ao sexo feminino; e a maior proporção de internações entre os homens, ocorreu na faixa etária de 50 a 59 anos, correspondendo a 30% desse percentual de internações (BRASIL, 2015).

Alves (2016, p.13) corrobora com este assunto ao destacar que:

Entre as principais enfermidades e agravos que acometem os homens, aproximadamente 75% delas estão concentradas em cinco grandes áreas especializadas: cardiologia, urologia, saúde mental, gastroenterologia e pneumologia, além das causas externas, que representam um grande problema e com forte impacto na mortalidade e morbidade da população masculina.

A análise dos estudos ainda permitiu constatar que a principal causa de morbidade masculina foi consequência de causas externas. As causas externas são caracterizadas por sofrimento físico, psíquico e social determinado por acidentes e violências.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2009, p.40) destaca que “Os óbitos por causas externas constituem a primeira causa de mortalidade no grupo populacional dos 25 aos 59 anos.” Diante disto, não há dúvidas que as causas externas se configuram como um grande problema de saúde com forte impacto na mortalidade e morbidade da população Masculina.

As internações por doenças do aparelho digestivo, representaram no ano de 2015, a segunda causa de morbidade masculina; destacando-se as internações por hérnia inguinal, com 86% dos casos, sendo do público masculino. Já as internações por doenças do aparelho circulatório, representaram a terceira causa de morbidade entre os homens, chamando a atenção para as internações por infarto agudo do miocárdio. A quarta causa, é representada por doenças infecciosas e parasitárias, destacando-se o HIV. As internações por doenças do aparelho respiratório, representaram a quinta causa de morbidade masculina (BRASIL, 2015)

No entanto, deve-se considerar que a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem foi lançada com a intenção de orientar a formulação de estratégias e ações com vista à promoção de saúde e prevenção de agravos. Inclusive Moura et al. (2014, p.430) declaram que “A PNAISH tem como objetivo facilitar e ampliar o acesso com qualidade da população masculina às ações e aos serviços de assistência integral à saúde da Rede SUS”. Para tanto, essas ações só se aplicarão de modo efetivo, se o enfrentamento dos fatores de risco e a atuação nos aspectos socioculturais estiverem atrelados à promoção da saúde do público masculino.

Sabe-se que os princípios e diretrizes da PNAISH foram elaborados no ano de 2008, porém o lançamento oficial da política, se deu somente em 2009, através da portaria n⁰ 1944, de 27 de agosto do mesmo ano. Moura et al. (2012, p.2598) destacam que “O princípio básico da PNAISH é a orientação de ações e serviços de saúde para a população de homens entre 20 e 59 anos de idade, com garantia de integralidade, equidade e humanização do atendimento.” Acentuado deste modo, a importância dessas diretrizes num conjunto de ações com vista para a promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em diferentes níveis de atenção, contudo com priorização na atenção básica através da Estratégia Saúde da Família.

Ainda sobre a PNAISH, Pereira et al. (2019, p. 133) corroboram com este assunto ao declarar que “a iniciativa inova ao propor o cuidado integral, sendo a primeira política de saúde da América Latina direcionada ao gênero masculino”. Assim, fica explícito a finalidade da política em incentivar a participação do público masculino nos espaços e na promoção do cuidado com a saúde, possibilitando a apreensão da realidade particular masculina nos seus diversos contextos.

Deste modo sugere-se que a PNAISH tem o objetivo de concretizar a parceria com a Atenção Básica de Saúde, no sentido de estimular seus usuários a reformular aspectos importantes nas suas vidas. Para tanto, compreende-se que, para o avanço da implementação, faz-se necessário o envolvimento dos diversos agentes. Inclusive, Leal (2012, p.2608) informa que tal implementação “envolve decisões tomadas por uma cadeia de agentes em um determinado contexto: desde decisões dos formuladores até as dos encarregados da implementação.” Compreende-se esses encarregados, entre outros agentes, o gestor municipal de saúde, os profissionais de saúde, e uma equipe técnica local, com designação específica para atuar na saúde do homem.

Storino et a.l (2013, p.639) declaram que “o público masculino tem particularidades que precisam ser compreendidas, considerando sua forma de inserção na sociedade”; essa concepção revela a necessidade de reconhecimento de uma singularidade na assistência à saúde do homem. Também revela a necessidade de integralidade na assistência, pois o público masculino precisa estar representado na construção diária do trabalho em saúde.

Nesse sentido, entre as ações propostas na Política Nacional de atenção integral à saúde do Homem no âmbito da atenção básica, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009, p.53) destaca como um dos objetivos específicos: “Fortalecer a assistência básica no cuidado com o homem, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à saúde.” Ainda pontua como sendo uma competência de os municípios coordenar, implementar, acompanhar e avaliar a PNAISH, priorizando a atenção básica, ressaltando a Estratégia de Saúde da Família como porta de entrada para o sistema de saúde.

Ainda sobre as ações propostas, o Ministério da Saúde destacou que a PNAISH é desenvolvida a partir de cinco eixos temáticos: o acesso ao acolhimento, saúde sexual e reprodutiva, paternidade e cuidado, doenças prevalentes na população masculina e prevenção de violência e acidentes. Mozer e Corrêa (2014, p. 581) destacam que “As necessidades em saúde sexual e reprodutiva do homem são consideradas prioridades propostas pela PNAISH.” Assim, evidencia-se o direcionamento para a implementação da assistência em saúde sexual e reprodutiva, no âmbito da atenção integral à saúde do homem, adulto ou jovem, propondo a ampliação e a qualificação do cuidado no planejamento reprodutivo masculino e feminino, inclusive assistência à infertilidade (BRASIL, 2009).

CONCLUSÃO

A realização deste estudo permitiu concluir que, a forma com que os homens percebem e vivem o processo de saúde e adoecimento, está relacionada em grande parte, às questões culturais e de gênero; isso se deve ao fato da construção e representação do conceito sobre o “ser homem” decorrer de uma multiplicidade de convenções sociais e culturais envolvidas em estereótipos de gênero, que ressaltam a ideologia hegemônica de masculinidade.

Ainda se observou que esses comportamentos, acabam por se tornar fatores que agravam as condições de saúde dos homens, pois desencadeiam altas taxas de internações nos serviços de média e alta complexidade. Deste modo, aponta-se como imprescindível a realização de mais estudos que problematizam a assistência à saúde dos homens sob a perspectiva de gênero, com a finalidade de promover maiores esclarecimentos sobre a importância da inserção da população masculina no nível da atenção básica de saúde. Nesse sentido, reforça-se a implementação da PNAISH como importante ferramenta governamental para vigilância, prevenção e promoção à saúde do público masculino.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Grayce Alenca et al. O homem na atenção básica: percepções de enfermeiros sobre as implicações do gênero na saúde. E-revista Esc Anna Nery; v.18, n.4, p:607-614, 2014.

ALVES, Fábia Pottes. Saúde do homem: ações integradas na atenção básica.  Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2016. 53 p. Disponível em: www. ares.unasus.gov.br. Acesso em: 26 de maio de 2020.

ARRUDA, Guilherme Oliveira de; MATHIAS, Thais Aidar de Freitas; MARCON, Sonia Silva. Prevalência e fatores associados à utilização de serviços públicos de saúde por homens adultos. E-revista Ciência & Saúde Coletiva, v.22, n.1, p:279-290, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e diretrizes. Brasília: MS, 2009. Disponível em: <http://bvsms. saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1944_27_08_2009. html>. Acesso em: 28 de maio de 2020.

LEAL, Max Moura et al. O percurso da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Homens (PNAISH), desde a sua formulação até sua implementação nos serviços públicos locais de atenção à saúde. E-revista Ciência & Saúde Coletiva, v.17, n.10, p:2607-2616, 2012.

MOREIRA, Renata Lívia Silva Fonsêca; FONTES, Wilma Dias de; BARBOZA Talita Maia. Dificuldades de inserção do homem na atenção básica à saúde: a fala dos enfermeiros. E-revista Esc Anna Nery; v.18, n.4, p:615-621, 2014.

MOREIRA, Martha Cristina Nunes; GOMES, Romeu; RIBEIRO, Claudia Regina. E agora o homem vem?! Estratégias de atenção à saúde dos homens. E-revista Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.32, n.4, p:e00060015, abr, 2016.

MOURA, Erly Catarina de et al. Atenção à saúde dos homens no âmbito da Estratégia Saúde da Família. E-revista Ciência & Saúde Coletiva, v.19, n.2, p:429-438, 2014.

MOURA, Erly Catarina de; LIMA, Aline Maria Peixoto; URDANETA, Margarita. Uso de indicadores para o monitoramento das ações de promoção e atenção da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). E-revista Ciência & Saúde Coletiva, v.17, n.10, p:2597-2606, 2012.

MOZER, Isabele Torquato; CORRÊA, Áurea Christina de Paula. Implementação da Política Nacional de Saúde do Homem: o caso de uma capital Brasileira. E-revista Esc Anna Nery; v.18, n.4, p:578-585, 2014.

OLIVEIRA, Max Moura de et al. A saúde do homem em questão: busca por atendimento na atenção básica de saúde. E-revista Ciência & Saúde Coletiva, v.20, n.1, p:273-278, 2015.

OPAS/OMS. Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde. 2019. Disponível em: www.paho.org. Acesso em: 30 de maio de 2020.

PEREIRA, Jamile; KLEIN, Karin; MEYER, Dagmar Estermann. PNAISH: uma análise de sua dimensão educativa na perspectiva de gênero. E-revista Saúde Soc. São Paulo, v.28, n.2, p.132-146, 2019.

RIBEIRO, Cláudia Regina; GOMES, Romeu; MOREIRA, Martha Cristina Nunes. Encontros e desencontros entre a saúde do homem, a promoção da paternidade participativa e a saúde sexual e reprodutiva na atenção básica. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.27, n.1, p: 41-60, 2017.

SIQUEIRA, Bruna Paula de Jesus. Homens e cuidado à saúde nas representações sociais de profissionais de saúde. E-revista Esc Anna Nery; v.18, n.4, p:690-696, 2014.

SOUZA, Luiz Gustavo Silva. Intervenções Psicossociais para Promoção da Saúde do Homem em Unidade de Saúde da Família. E-revista Psicologia: ciência e profissão; v.35, n.3, p:932-945, 2015.

STORINO, Luisa pereira; SOUZA, Kley de Ventura; SILVA, Kênia Lara. Necessidades de saúde de homens na atenção: Acolhimento e vínculo como potencializadores da integralidade. E-revista Anna Nery (impr.), v.17, n.4, p: 638-645, out-dez, 2013.

TONELI, Maria Juracy Filgueiras; MULLER, Rita Flores. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem e suas engrenagens biopolíticas: o uso do conceito de gênero como regime de luzes. E-revista Fractal: Revista de Psicologia, v. 27, n. 3, p. 195-202, set.-dez. 2015.

TRILICO, Matheus Luis Castelan. Discursos masculinos sobre prevenção e promoção da saúde do homem. E-revista Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v.13 n.2, p.381-395, maio/ago. 2015.

[1] Graduação em Enfermagem.

[2] Graduação em Enfermagem.

[3] Graduação em Enfermagem.

[4] Orientador. Graduação em Enfermagem.

Enviado: Setembro, 2020.

Aprovado: Dezembro, 2020.

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