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Utilização dos banhos medicinais por diferentes grupos étnicos brasileiros

RC: 74338
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/banhos-medicinais

CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

SILVA, Felipe Pereira da [1]

SILVA, Felipe Pereira da. Utilização dos banhos medicinais por diferentes grupos étnicos brasileiros. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 02, Vol. 02, pp. 30-40. Fevereiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/banhos-medicinais, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/banhos-medicinais

RESUMO

Os banhos medicinais são para administrar fármacos, muito comuns na cultura afrodescendente e indígena brasileira, são de uso tópico e podem servir para tratar ou curar simultâneos problemas de saúde, seu usufruto é da população em geral, porém encontrasse marginalizado perante os demais tratamentos de medicina que são utilizados nos grandes centros urbanos. Este estudo tem como objetivo elucidar como os banhos terapêuticos são pouco utilizados por uma grande parcela da população brasileira e enaltecer seus benefícios em diversos tratamentos de saúde. trata-se de um estudo de revisão de literaturas que utilizou repositórios digitais (SciELO, ICENP, IFB, SUS e NÚCLEO DO CONHECIMENTO). Como resultado, os banhos medicinais revelaram-se plenamente satisfatórios para quem os utiliza, tratando diversas moléstias em simultâneo, não se limitando para males do corpo físico e sendo mais escolhido que os métodos mais avançados. Em alguns casos, seu uso em menor grau foi evidenciado ao constatar que está limitado as culturas de minoria no Brasil e para as demais está começando a ser reutilizado na maioria dos casos. Com a conclusiva foi possível observar que os banhos medicinais são mais utilizados por comunidades afrodescendentes ou indígenas brasileiras do que pela população em geral, evidenciando sua marginalização e constatou-se os diversos benefícios a saúde que possuem em diversas terapêuticas, restando realizar uma estratégia para reverter o aspecto negativo da situação atual e difundir o conhecimento em estudos futuros.

Palavras-chave: Banhos medicinais; afrodescendentes; indígenas

1. INTRODUÇÃO

Os banhos medicinais são uma forma de utilizar plantas de ação curativa em várias doenças, consistem em imergir a parte do corpo doente em um recipiente com a água que contém uma planta em pedaços ou lavar o local com o líquido, estão muito intrínsecas na cultura africana e indígena, no que diz respeito ao emprego no Brasil, não são de conhecimento geral de maior parte da população, mas sua serventia é a mais variada o possível, e seus benefícios fariam bem a todos. Por vezes, os banhos consistem na fragmentação de ervas adicionadas em um recipiente com água, para realizar a limpeza do local afetado, a cobertura do mesmo por tempo determinado ou pode-se realizar um trabalho energético a fim de melhorar o ânimo, sendo este uso aplicado ao que diz respeitos à religiosidade de quem o faz (ALVES, 2019).

Também é caracterizado como uma forma de administração de medicamentos utilizada em medicinas centralizadas na fitoterapia. Existem formas de uso de ervas fitoterápicas como a infusão, que são amplamente conhecidas e sua serventia é de grande utilidade em diversas culturas, mas como as plantas também podem curar doenças assim como os medicamentos sintéticos, as mesmas possuem potencial para ser aproveitado caso sejam administradas em diversas formas diferentes. Este é o viés do estudo sobre banhos medicinais, a serventia, que muitas vezes está concentrada no tratamento de questões espiritualizadas, como se alega em algumas comunidades (ALVES, 2019).

Os banhos terapêuticos são empregados em diferentes culturas e em diferentes intensidades, existem aqueles que o uso dos banhos advém de muitas gerações atrás, estão conectados a temas espirituais e religiosos, bem como da saúde do corpo, o ponto central da discussão é indagar a importância e vasto manejo de plantas medicinais de serventia fitoterápica, afinal os banhos são de usufruto de toda a população brasileira, constando até em produções didático pedagógicas, caracterizados de forma clara e breve para a terapêutica de vários problemas de saúde que podem ser tratados em casa (ZENI et al, 2015).

Por meio deste artigo pretende – se analisar diferentes escritos em busca dos registros do uso dos banhos medicinais, com a intenção de desvelar como diferentes grupos étnicos socioculturais que os utilizam, de modo a compreender as nuancem que agregam a esta forma de tratamento que é mais recorrente em determinada parte da população brasileira e se comparado ao todo, além de catalogar a maior parte dos benefícios dos banhos terapêuticos.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 COMUNIDADE AFRODESCENDENTE E POPULAÇÃO GENERALIZADA

É aderida determinada função aos banhos medicinais em diferentes culturas brasileiras, a afrodescendente possui uma vasta história com os mesmos, originada no continente africano, mas que como muitos outros aspectos de sua essência não foi perdida quando aos negros foi imposta a vinda ao Brasil. Os banhos foram aproveitados na cultura africana em demasia dos tempos antigos aos atuais, principalmente por praticantes da Umbanda e Candomblé e por este fato tem caráter extremamente espiritualizado, possivelmente um dos primeiros registros de um banho medicinal documentado por um brasileiro está contido no artigo “A memória do culto pelos olhos de Carybé”. Este que era um artista de nome Paride Carybé, refere-se ao contexto das cento e vinte e oito aquarelas produzidas entre 1930 a 1980, abordando os cultos, um de seus trabalhos que apresenta um banho é retratado na pintura “Águas de Oxalá” onde diversos indivíduos carregam recipientes para banhar a entidade, o próprio Oxalá, um ser conhecido como orixá e que se faz presente na cultura africana, está história retrata que as águas conduzidas até o orixá eram as mais puras, capazes de perdoar todos os arrependimentos daqueles que as carregaram (COSTA, 2019).

Esse banho é praticado por pessoas comuns atualmente, tornou-se conhecido como banho de Oxalá, para acalmar a mente de pessoas em sofrimento psicológico, este e muitos outros são elucidados no artigo etnobotânica de plantas ritualísticas na prática religiosa de matriz africana em Ituiutaba, Minas Gerais, “uma planta muito utilizada como banho de descarrego na Umbanda é o boldo (Plectranthus ornatos Cool), uma espécie que apresenta grande capacidade de limpeza energética, consegue eliminar energias negativas acumuladas nas pessoas” (SANTOS; ALMEIDA, 2016, apud ALVES, 2019, p. 11).

O banho medicinal, muitas vezes,  está atrelada ao relaxamento e alívio das tensões causadoras de aflição a vida cotidiana de seus praticantes, mas podem servir para questões mais místicas como a planta Justicia gendarussa Burm que possui a utilidade de abrir caminhos e quebrar feitiços, ou planta comigo ninguém pode, Dieffenbachia amoena, que ativa a vida, abre caminhos e realiza a limpeza espiritual e até para uma maior imersão e conexão espiritual existe a dracena ou pau D’água, que ajuda na revelação dos orixás, induz ao transe e atrai sorte (ALVES, 2019).

Não se trata apenas de acalmar alguém momentaneamente fora de seu estado emocional comum, as técnicas fitoterápicas descritas nesse artigo são de serventia para problemas de grande relevância na contemporaneidade utilizando-se do banho terapêutico,

Antes dos participantes fazerem parte da religião se encontravam tristes, excesso no uso de drogas, irritados, estressados, não sabiam lidar com suas perdas, depressão e ansiedade, além disso, os participantes ressaltaram casos de pensamentos suicidas, mas depois de entrarem para a religião e começarem a participarem dos ritos, renasceram e encontram-se mais tranquilos e equilibrados, apresentam estado físico, mental, emocional e espiritual mais fortalecidos (COSTA, 2019, p. 31).

 Ausentando-se de entrar no mérito comprobatório da eficácia e veracidade dos banhos medicinais juntamente toda fitoterapia, é correto dizer que ervas capazes de causar sensações metafísicas são largamente aceitas em diversos cultos religiosos para os mais vastos fins, não apenas na forma de banhos, mas como bebidas e oferendas por exemplo. O cerne da questão é que existe um cunho religioso amplamente difundido e aceito por pesquisadores da comunidade científica quanto à prática de rituais e cerimônias utilizando banhos ou qualquer outra forma de administração de plantas, para elevar o espirito a um estado que transcenda os tratamentos utilizados fora das práticas religiosas ou seitas em questão (BRUNING; MOSSEGUI; VIANNA, 2011).

Porém não pode- se negar que existe um viés alegando obter a terapia de diversos males do corpo com essas mesmas ervas, uma mesma planta pode amenizar as enfermidades físicas e extracorpóreas. É o caso do banho com folhas de alface, combate moléstias da visão como a conjuntivite e fornece a limpeza a nos olhos para começar a desenvolver mediunidade, indicando que a capacidade de curar enfermidades físicas está interligada ao meio espiritual (BRUNING; MOSSEGUI; VIANNA, 2011).

É vasto o campo para o estudo da fitoterapia no que tange as práticas religiosas. Os banhos são apenas um tópico em uma protuberante variedade de questões a ser debatido, o emprego para assuntos espirituais e energéticos não anula a capacidade terapêutica exequível em doenças causadas por microrganismo, autoimunes, traumas dos mais diversos, entre outras causas, o ponto em pauta consiste em afirmar que os banhos medicinais conhecidos na cultura africana trazem diversos benefícios e apesar de serem em muito utilizados para problemas do plano metafísico também são uteis em moléstias que atingem o corpo físico (BRUNING; MOSSEGUI; VIANNA, 2011).

Os estudos com banhos terapêuticos estão contidos em diversos livros e documentos de idealização estatal, o tratamento de pessoas com plantas possui tantas validações quanto o que se utiliza de medicamentos sintéticos. As plantas medicinais passaram por diversas normatizações que as integraram na saúde como um todo, inclusive no SUS. Em outubro de 2018 foi publicada a cartilha Plantas Medicinais em Campinas – SP, esta atesta como as ervas medicinais possuem um papel de extrema importância na saúde, detalhando de forma específica como administrar diversas plantas, bem como suas posologias para profissionais da saúde e usuários do SUS. Os banhos medicinais contidos na cartilha são por vezes comparados a compressas, concluindo – se que ambas as formas de administração surtiriam o mesmo efeito (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2018).

A mesma cartilha cita outra forma de banho medicinal, o banho de assento, utilizados com as plantas tanchagem e hortelã, a segunda planta contêm em sua seção a posologia do banho de assento “Fazer banho de assento diariamente durante 1 a 2 semanas. Deve ser associado com o uso interno (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2018, p. 33)”.³

Por ser uma cartilha de utilidade pública e profissional, não constam informações a fim de acarretar maiores estudos sobre o mecanismo de ação das plantas medicinais, principalmente no que diz respeito os banhos medicinais e banhos de assento, na apresentação da cartilha está escrito que a serventia do documento é trazer conhecimentos básicos de fitoterapia (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2018).

É possível traçar um paralelo entre os moradores em geral de Campinas e os praticantes de Umbanda de Ituiutaba. Explicitando como os banhos medicinais fazem-se mais presentes em culturas alternativas e margem das restantes, pois se nos lares brasileiros comuns, como os de Campinas, os chás são a forma de consumo de ervas curativas mais comuns, os banhos, por vezes, são mais utilizados por comunidades praticantes da cultura africana, embora todas as formas de utilização da fitoterapia sejam empregadas (ALVES, 2019).

Foi possível observar também que a forma de uso como banhos apresentou um percentual de 33,87%, utilizado pelos participantes, a ingestão de chás apresentou uma porcentagem de 20,97%, a realização de plantas para uso externo como compressa resultou 9,7%, a forma de manusear as plantas em função de oferendas 12,90% e benzedura com 22,58% (ALVES, 2019, p. 25).

2.2 POPULAÇÃO INDÍGENA BRASILEIRA

Os conhecimentos sobre fitoterapia, incluindo os banhos terapêuticos, estão presentes na cultura indígena brasileira, preservados para posteridade principalmente em sites criados por órgãos públicos, são vastos e diferenciados, assim como a cultura de cada estado brasileiro, mas a forma de compreendê-los não se diferencia muito de grupo para grupo. Existe um grande ramo de estudo muito embasado e fundamentado, a AMTI, que é o campo da medicina tradicional indígena (FERREIRA, 2012).

Objetiva-se auxiliar os indígenas a viver na atualidade, mantendo seu modo de vida, saberes em saúde e vital necessidade de usar os banhos medicinais, foi proposta a criação de uma forma de conhecimento extremamente participativa, líderes indígenas, entidades e o governo compartilham informações visando à fundamentação dos sistemas sócio médicos de medicinas tradicionais indígenas, os projetos em andamento visam chegar ao entendimento da tomada de decisão daqueles que atuam nas medicinas tradicionais indígenas (FERREIRA, 2012).

Neste contexto, os banhos terapêuticos são citados na prática das mulheres que auxiliam as indígenas nos primeiros cuidados com seus filhos após o parto. Alega-se que em regiões como o Acre e Sul do Amazonas existe uma função atribuída a aquela que corta o cordão umbilical e realiza os banhos de higiene e medicinais, é chamada de “pegar menino”, pois nessa cultura o parto acontece sozinho em condições normais, a pessoa que está junto à mulher em trabalho de parto apenas realiza procedimentos após o nascimento da criança, cortando o cordão umbilical e banhando o recém-nascido com ervas medicinais (FERREIRA, 2012).

Trata-se de uma questão espiritualizada, os banhos terapêuticos são uma forma de fazer praticamente tudo ocorrer da melhor forma o possível, tanto com a criança, quanto com a mãe no que tange a energia ali presente, se necessário é solicitada a presença do pajé, o líder religioso, que é capaz de lidar com algumas situações de risco com suas técnicas especializadas e experiência em partos de risco fora de centro cirúrgico. As mães sentem – se mal ao realizarem o parto comum na sociedade moderna “com relação ao parto hospitalar, existe um estranhamento no que se refere à forma como elas são geralmente acolhidas pelos serviços de saúde nos diferentes níveis da atenção” (FERREIRA, 2012, p. 273).

Não há estudos comprobatórios da real eficácia das práticas realizadas pelas mulheres que “pegam menino” no que tange aos banhos medicinais. Entretanto é fato que para as indígenas, o bem-estar é maior ao parir na aldeia e utilizar de práticas como os banhos (FERREIRA, 2012).

Não se sabe se para as demais culturas essa prática seria bem aceita, pois ao conceber uma criança em ambiente não hospitalar existe o risco de não estar preparado perante as intercorrências de um parto, resolvidas com aparelhos de tecnologia avançada em um hospital urbano, além de banhar o recém-nascido com uma erva que não foi testada cientificamente nessa faixa etária, os riscos são muitos, mas a atividade vem sobrevivendo gerações e continua em vigência na atualidade.

O parto é um momento de extrema carga emocional para a vida de uma mulher, não pode ser pautado apenas em questões científicas, contudo a saúde de seu filho também não pode ser deixada em segundo plano no que tange aos seus primeiros cuidados, se é correto ou não parir na aldeia e usar o banho medicinal em um recém-nascido com ervas fora dos conhecimentos de respaldo pela comunidade científica é algo discutível, mas muitos na sociedade moderna possuem críticas ao parto contemporâneo e existem outras formas de parir que são semelhantes ao das comunidades indígenas mencionadas (FERREIRA, 2012).

Somente ao distanciar o olhar e observar de forma imparcial é possível perceber como toda forma de conhecimento pode ter utilidade dependendo da situação e contexto, é inegável que essa forma de parto, seguido dos cuidados como banhos medicinais são satisfatórios para os indígenas brasileiros dessas tribos, se foi passado por várias gerações significa que possuiu grande serventia no passado e nenhuma nova prática foi capaz de suprir sua necessidade até a atualidade. Logo existe o questionamento a fim de comprovar os fatores positivos e negativos da prática das “pega menino” a medicina indígena, a questão vai muito além de utilizar os banhos em recém-nascidos, também está em pauta o parto humanizado, mas que os mesmos são de grande benesse para a população indígena brasileira destas regiões é inegável (FERREIRA, 2012).

2.3 MEDICINA ALOPÁTICA E POPULAR

Discorrendo sobre o desuso de banhos medicinais, seu forte valor em culturas que não são de grande visibilidade nas mídias sociais populares, faz – se necessário trazer á tona o embate entre medicina alopática e popular. As medicinas que se utilizam da fitoterapia remontam a tempos quando a medicina não era elitizada, pessoas comuns sabiam retirar a cura para seus problemas de saúde da terra onde viviam (BELTRÃO, 2000).

A mata a dois passos de distância constituía-se em farmácia inesgotável, um grande armazém de drogas, de acesso irrestrito, que auxiliava os desvalidos (Vianna, 1975; Silva Castro, 1983). Uma única planta podia ser aproveitada, da raiz aos frutos, ao natural ou em cozimentos, isoladamente ou associada a outras drogas, em chás, infusões em água, vinho e azeite, macerações, xaropes, unguentos, banhos, defumações (BELTRÃO, 2000, p. 849).

Uma história que elucida bem como a medicina popular possui grande valor, mesmo perante a medicina alopática é o caso de como a epidemia de cólera que assolou vários estados brasileiros no século XIX foi dissipada principalmente pela fitoterapia dos populares da época, não há fortes menções aos banhos medicinais no caso, também existe o questionamento do quanto à medicina alopática avançou desde o século XIX, porém alegações como a de que a fitoterapia jamais teve alguma relevância perante terapêuticas mais conceituadas para comunidade científica são infundadas (BELTRÃO, 2000).

O fato exemplificador se inicia em uma embarcação que vinha para o Brasil, onde colonos portugueses contraíram cólera, devido suas condições de alimentação e abrigo serem precários, pois em embarcações daquela época não havia as condições atuais de limpeza do ambiente e higiene pessoal. Chegando ao Brasil, os colonos causaram um surto de cólera, ao atingir os menos favorecidos, a medicina popular que se utilizava de ervas medicinais, em diversas formas de administração como o banho terapêutico, foi mais eficaz no tratamento, devido sua proximidade com a população da época que tanto conhecia seu potencial, quanto possuía maior facilidade de acesso à profissionais de saúde popular, comparados a medicina alopática e médicos graduados em medicina (BELTRÃO, 2000).

Vários fatores foram preponderantes para população em geral optar pelos serviços dos profissionais de saúde popular, mesmo com a união entre a mídia local e os médicos para difamar as formas de terapia não convencionais, que utilizavam- se de banhos medicinais ou demais preparações de plantas nativas, a população mais engajada na questão, os paraenses, eram conhecedores dos saberes da floresta e sabiam o que melhor adequava-se a sua situação (BELTRÃO, 2000).

Traçando um paralelo com o uso dos banhos, é possível correlacionar como os mesmos não são tão conhecidos como as demais vias de administração, porém existe a possibilidade de serem os melhores para tratar determinado tipo de enfermidade, devido mais fácil acesso, aqueles que não possuem condições de comprar medicações ou buscar ajuda psicológica podem se beneficiar em muito de seu uso. Mas retomando o raciocínio do surto de cólera do século XIX, o fato de a população escolher como se tratar é um fator deveras significativo, como a população local detinha de livre arbítrio, as pessoas foram donas de si e os protagonistas na promoção de saúde, não estavam mais sobre a sorte de encontrar um bom profissional para tentar remediar a cólera, eram capazes de julgar se quem as acompanhava em seus quadros clínicos era de confiança ou não quanto ao seu conhecimento e poder de resolução, não se tratou de escolher um lado do embate entre medicina alopática ou popular, mas sim da população obter habilidade para tratar-se da melhor forma (BELTRÃO, 2000).

3. CONCLUSÃO

Este estudo teve o objetivo de conhecer as utilidades dos banhos medicinais, principalmente por afrodescendentes e indígenas, ambos brasileiros e denunciar como estão marginalizados pela sociedade como um todo, mesmo possuindo eficácia em vários problemas de saúde, tratando-os em simultâneo em alguns casos. Diante do material analisado, percebeu-se que os banhos possuem uma utilização além do tratamento de doenças, que é muito enaltecida nas religiões africanas, trata-se da cura males energéticos que são capazes de acalentar pessoas em grandes situações de risco, também, o uso para adentrar melhor na religião, melhorando a conexão do usuário com o universo metafisico, além da ampla utilização para problemas de saúde, como os de tratamento tópico.

Também foi notável evidenciar o trabalho realizado em Campinas, a forma singela, porém efetiva de trazer não somente os banhos medicinais, mas a fitoterapia a conhecimento da população comum e profissionais interessados.

Para os indígenas do Acre e Sul do Amazonas é inegável o valor dos banhos medicinais, afinal quando uma criança vem ao mundo, seu primeiro banho é com ervas terapêuticas, a prática persiste até a atualidade com o respaldo de autoridades governamentais, mesmo que existam hospitais urbanos realizando procedimentos diferentes e melhor amparados no que diz respeito a tecnologia, não se trata apenas de trazer uma vida ao mundo, mas sim de toda carga emocional envolvida no processo.

Cabe ressaltar as limitações do estudo, que foi voltado a revisão de literaturas sobre banhos medicinais, sugere-se para trabalhos futuros, não apenas a pesquisa de materiais científicos, mas a comunicação com as pessoas que os realizaram, para ter conhecimento de como seus feitos podem ser mais aproveitados. Similarmente, o diálogo com estudiosos da área será de utilidade, a fim de discutir as melhores formas de disseminar como os banhos medicinais são uma alternativa válida para sanar as mais diversas moléstias.

REFERÊNCIAS

ALVES, Kenneri Cezarini Hernandes. Etnobotânica de plantas ritualísticas na prática religiosa de matriz africana em Ituiutaba, MG. Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Ciências Exatas e Naturais do Pontal. Curso de Ciências Biológicas. Ituiutaba – MG 2019. Acesso em: 10/03/2020. Disponível em: <https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/24955/5/Etnobot%C3%A2nicaPlantasRitual%C3%ADsticas.pdf>.

BELTRÃO, Jane Felipe. A arte de curar dos profissionais de saúde popular em tempo de cólera: Grão-Pará do século XIX. História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol. VI (suplemento), 833-866, setembro 2000. Acesso em: 20/04/2020. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702000000500005&script=sci_arttext>

BRUNING, Maria Cecilia Ribeiro; MOSEGUI, Gabriela Bittencourt Gonzalez; VIANNA, Cid Manso de Melo. A utilização da fitoterapia e de plantas medicinais em unidades básicas de saúde nos municípios de Cascavel e Foz do Iguaçu – Paraná: a visão dos profissionais de saúde. Ciênc. saúde coletiva vol.17 nº. 10. Rio de Janeiro Oct. 2012. Acesso em: 15/03/2020. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232012001000017&script=sci_arttext&tlng=pt>

COSTA, Rosemary Fraga. A memória do culto pelos olhos de Carybé. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 03, Vol. 05, pp. 93-105. Março de 2019. ISSN: 2448-0959. Acesso em: 15/03/2020. Disponível em: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/arte/memoria-do-culto>

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[1] Ensino Médio Completo.

Enviado: Julho de 2020.

Aprovado: Janeiro de 2021.

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