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Práticas De Educação Em Saúde Realizadas Com Diabéticos Na Atenção Primária: Uma Revisão De Literatura

RC: 83914
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

MOREIRA, Héllia Cristina do Nascimento [1], FERREIRA, Lucineia Periard Lopes [2], LIMA, Ana Paula de [3]

MOREIRA, Héllia Cristina do Nascimento. FERREIRA, Lucineia Periard Lopes. LIMA, Ana Paula de. Práticas De Educação Em Saúde Realizadas Com Diabéticos Na Atenção Primária: Uma Revisão De Literatura. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 14, pp. 05-18. Abril de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/atencao-primaria

RESUMO

A Diabetes Mellitus (DM) é um problema de saúde pública, com crescimento da prevalência e incidência mundial atingindo proporções epidêmicas. Portanto, a Educação em Saúde é necessária para que o profissional possibilite ao diabético conhecer e participar de seu tratamento, através da utilização de práticas educativas. Esse artigo tem como objetivo verificar as práticas de Educação em Saúde que têm sido realizadas com diabéticos na atenção primária. A metodologia do estudo trata-se de uma revisão bibliográfica qualitativa. Concluindo-se que, para a obtenção do controle dessa patologia, são necessárias medidas que vão além do tratamento medicamentoso. Existem diferentes estratégias educativas sendo realizadas na atenção primária com diabéticos, como: grupos operativos, monitoramento telefônico, visitas domiciliares, aplicação de questionários, palestras, teatros e entrevistas. Além disso, também foram identificados que fatores como a formação e capacitação dos profissionais de saúde, e sentimentos dos diabéticos, interferem na realização dessas práticas.  Esse estudo poderá ajudar os profissionais de saúde a optarem por alguns modelos das práticas educativas a serem utilizadas com diabéticos na atenção primária, levando em consideração as características específicas de cada grupo.

Palavras-Chave: Diabetes, Mellitus, Educação em Saúde.

1. INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome de etiologia múltipla que ocorre pela falta ou incapacidade da insulina de exercer sua função adequadamente. É caracterizada como uma doença crônica não transmissível de grande relevância para a sociedade e para a saúde pública. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Diabetes (2002) afirma que o Diabetes é um problema de saúde pública, que vem apresentando um crescimento da prevalência e incidência mundial, atingindo proporções epidêmicas (BRASIL, 2002; SANTOS e TORRES, 2012).

As consequências da DM segundo a SBD, (2002) são:

As consequências do DM a longo prazo decorrem de alterações micro e macrovasculares que levam a disfunção, dano ou falência de vários órgãos. As complicações crônicas incluem a nefropatia, com possível evolução para insuficiência renal, a retinopatia, com a possibilidade de cegueira e/ou neuropatia, com risco de úlceras nos pés, amputações, artropatia de Charcot e manifestações de disfunção autonômica, incluindo disfunção sexual. Pessoas com diabetes apresentam risco maior de doença vascular aterosclerótica, como doença coronariana, doença arterial periférica e doença vascular cerebral.

Estima-se que mundialmente são gastos na saúde pública cerca de 2,5 a 15 % dos gastos nacionais com o tratamento de diabetes (BRASIL, 2006). E esses gastos nacionais sofrem interferência da prevalência local do diabetes e do tipo de tratamento realizado, além de sofrer influência da aposentadoria precoce, mortalidade prematura, pois representa uma carga adicional à sociedade, em decorrência da perda de produtividade no trabalho. (BRASIL, 2006.)

As formas básicas para o tratamento do diabetes incluem: dieta adequada de forma que mantenha equilibrados os níveis glicêmicos, uso regular da medicação, mudanças no estilo de vida, como a prática regular da atividade física e suspensão do tabagismo (GUIMARÃES e TAKAYANAGUI 2002; SBD, 2002). Nesse contexto, o Ministério da Saúde ressalta que essas mudanças quando realizadas são eficazes como formas de prevenção e controle do diabetes (BRASIL, 2006).

A atividade física é indicada a todos diabéticos, e seus benefícios são o aumento do metabolismo, acelerando a perda de gordura corpórea e promovendo o emagrecimento; a diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares e da necessidade de ingestão de hipoglicemiantes; e a melhoria na qualidade de vida (BRASIL, 2006).

Segundo Torres. et al., (2014), muitos diabéticos não realizam atividade física regular, e dentre os diversos motivos estão a falta tempo, o quadro álgico devido às comorbidades, a falta de local apropriado para realização dessas atividades, e ter que realizar atividade física individualmente, dentre outros fatores.

Para a melhoria do controle glicêmico é necessário a adesão do diabético ao tratamento e às práticas de saúde que auxiliam e facilitam a melhoria da qualidade de vida (Silva et al., 2006). Torres et al. (2010), afirmam que o tratamento do Diabetes é complexo, pois estão associadas com outras alterações como a neuropatia, retinopatia e cardiopatia, e necessita de mudança de hábitos de vida e uso de medicação. Nesse sentido, o aumento da prevalência do DM e a complexidade do tratamento, resalta a necessidade de práticas educativas eficazes e viáveis nas unidades de saúde direcionadas a esse público.

O Manual de hipertensão arterial e diabetes mellitus do Ministério da Saúde, afirma que a educação em saúde é parte essencial do tratamento e constitui um direito e dever do paciente e um dever dos profissionais responsáveis pela promoção da saúde (BRASIL, 2002).

Melo (2013), afirma que a sociedade atual convive com o conceito de vida saudável, sendo que existe um enfoque no estilo de vida das pessoas. Esse imperativo moral, de mudanças e adequações no dia a dia da população, necessita de estratégias e intervenções direcionadas a adequação de hábitos de vida saudáveis e mudanças de comportamento.

Melo (2013), ainda reforça que os gestores das políticas públicas necessitam investir para que a educação em saúde seja utilizada como uma ferramenta de combate aos “vilões” da qualidade de vida.

O Ministério da Saúde (2002), preconiza que as ações educativas voltadas para a prevenção do DM, devem abordar os seguintes tópicos: 1) Informar sobre as consequências do DM e HA não tratados ou mal controlados; 2) Reforçar a importância da alimentação como parte do tratamento; 3) Esclarecer sobre crendices, mitos, tabus e alternativas populares de tratamento; 4) Desfazer temores, inseguranças e ansiedade do paciente; 5) Enfatizar os benefícios da atividade física; 6) Orientar sobre hábitos saudáveis de vida; 7) Ressaltar os benefícios da auto monitoração, insistindo no ensino de técnicas adequadas e possíveis; 8) Ensinar como o paciente e sua família podem prevenir, detectar e tratar as complicações agudas, em casa, até chegar ao hospital ou ao centro de saúde mais próximo; 9) Ensinar claramente como detectar os sintomas e sinais de complicações crônicas, em particular nos pés; 10) Ressaltar a importância dos fatores de riscos cardiovasculares;11) Incentivar o paciente a se tornar mais autossuficiente no seu controle.

A educação em saúde se faz necessária para que o profissional de saúde através da utilização de práticas educativas, possibilite ao diabético conhecer e participar do seu tratamento.

Diante das recomendações do Ministério da Saúde e sabendo da importância da realização de atividades de educação em saúde com diabéticos para estimular o autocuidado e mudanças nos hábitos de vida, este estudo teve como objetivo verificar as práticas de educação em saúde que vem sendo realizadas com diabéticos na atenção primária.

2. METODOLOGIA

Para o alcance dos objetivos propostos, optou-se como método a revisão da literatura, como uma técnica de pesquisa que reúne e sintetiza o conhecimento científico produzido, por meio da análise dos resultados já comprovados nos estudos de autores especializados sobre o tema abordado. Trata-se, portanto, de um estudo qualitativo.

Após leitura cuidadosa dos materiais, com o objetivo de identificar os trechos nos quais havia referências às práticas de educação em saúde com diabetes mellitus na atenção primária no âmbito da estratégia de saúde da família, as estratégias educativas utilizadas foram analisadas e citadas de forma descritiva. Para análise e interpretação dos resultados sobre as dificuldades na realização das estratégias com diabéticos na atenção primária, foi utilizado, conforme sugerido por Gil (1999), o agrupamento dos dados nas categorias mais citadas.

A principal base de dados utilizada foi a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), por meio dos periódicos indexados na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), no Scientific Electronic Library Online (SCIELO), além da Revista Latino-Americana de Enfermagem e Manuais do Ministério da Saúde e livros relacionados ao tema. Os descritores utilizados na pesquisa foram: Diabetes Mellitus e Educação em Saúde.

Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra, no idioma português e de estudos realizados no território brasileiro. A busca foi realizada no mês de fevereiro de 2015, e nessa revisão não foi estipulado o espaço temporal de publicação, com isso, foram encontrados 3.895 artigos. Destes, 3.882 foram excluídos, pois não foram realizados no âmbito da atenção primária em saúde, não foram publicados em língua nacional, não estavam disponíveis na íntegra e não possuíam conformidade com o tema central em estudo. Ao final para esta revisão restaram somente 13 artigos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No nosso estudo, foi verificado que na atualidade existem diversas práticas educativas que estão sendo realizadas por profissionais de saúde destinadas aos diabéticos na atenção primária.

Observamos nos artigos analisados que existem diferentes estratégias educativas sendo realizadas na atenção primária com diabéticos, como grupos operativos, monitoramento telefônico, visitas domiciliares, aplicação de questionários, palestras, teatros e entrevistas.

Além disso, também foram identificados que são várias as dificuldades encontradas tanto pelos diabéticos quanto pelos profissionais de saúde, para a realização e entendimento dessas atividades.

Por isso, para melhor compreensão e análise dos dados, os resultados serão apresentados de acordo com as categorias de análise mais encontradas nos estudos analisados, que foram: as estratégias utilizadas para adesão à prática educativa, o sentimento e dificuldades dos diabéticos diante das práticas educativas e questões relacionadas à formação e capacitação dos profissionais de saúde.

Os artigos que fizeram parte dessa revisão foram inseridos em uma tabela com o nome do autor, ano de publicação e breve resumo das estratégias educacionais utilizadas.

Quadro 1: Estratégias educativas utilizadas.

AUTOR/ANO ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS UTILIZADAS
David e Torres, 2013 Grupos focais para profissionais de saúde, para analisar a percepção deles nas estratégias educativas com diabetes.
Guimaraes e Takayanagui, 2002 Aplicação de questionário com o objetivo de saber qual orientação foi recebida no momento do diagnóstico por 29 indivíduos diabéticos.
Matsumoto et al. 2012 Projeto de extensão universitária na atenção primária, onde realizaram grupos operativos, visitas domiciliares e ligações telefônicas.
Melo. 2013 Revisão de literatura de Manuais do Ministério da Saúde sobre práticas de educação em saúde com diabéticos.
Penna e Pinho, 2002 Entrevista com 10 diabéticos que refletiram sobre o processo educativo no qual participaram, ao enfrentar as proibições e limitações impostas pela doença e pelos profissionais da saúde.
Rodrigues et al. 2010 Relata a experiência de Educação Permanente em saúde através de oficinas educativas para profissionais de saúde.
Santos, Torres, 2012 Entrevista e grupos focais com profissionais de saúde para orientar a utilização de práticas educativas.
Silva et al. 2006 Estratégia de ações educativas e terapêuticas com 45 pacientes hipertensos e diabéticos, grupos operativos, fornecimento de medicações e consultas.
Silva et al. 2008 Grupo operativo de educação em saúde, palestras, teatros com 25 pacientes com Diabetes Mellitus.
Torres et al. 2010 Oficinas de formação profissionais de saúde para educação em Diabetes Mellitus.
Torres et al. 2013 Monitoramento e acompanhamento telefônico como estratégia com 115 usuários.
Torres, et al. 2011 Visita domiciliar em 63 pacientes com intervenção educativa e entrega do material educativo.
Torres et al. 2014 Visita domiciliar para 25 diabéticos que não participaram dos grupos operativos.

Fonte: autor.

3.1 ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA ADESÃO A PRÁTICA EDUCATIVA

Matsumoto et al. (2012), Torres et al. (2011), e Torres et al. (2014), utilizaram a visita domiciliar como uma estratégia de realização da prática educativa pelos profissionais de saúde na atenção primária. Torres et al. (2014), afirmam que a realização de práticas educativas durante a visita domiciliar é uma ferramenta que deve ser trabalhada e estudada a fim de aumentar a possibilidade de realização dessas práticas, uma vez que permite levar educação em saúde para usuários com limitações e dificuldades de acesso aos serviços de saúde. Porém, Torres; Santos e Cordeiro (2014), ainda relatam que podem existir dificuldades para realização dessas práticas no domicílio como acesso difícil, ausência do usuário, afazeres do lar e presença de várias pessoas no local, o que dificulta a interação entre profissional de saúde e o diabético.

Torres et al. (2013), citam em seu estudo que o acompanhamento através de ligações telefônicas pode ser utilizado como estratégia educativa para as práticas de autocuidado, associada aos conhecimentos adquiridos e a adesão voluntária de novos hábitos de vida, como alimentação saudável e a prática de atividade física. As ligações telefônicas têm o objetivo de estimular e motivar os diabéticos a aderirem ao regime terapêutico e realizarem as práticas de autocuidado. Assim, possibilita ao usuário manter um bom controle metabólico e prevenir possíveis complicações decorrentes da patologia. Matsumoto et al. (2012), também utilizaram contatos telefônicos em seu estudo, porém como estratégia de agendamento da visita domiciliar, definindo dias e horários para realização das mesmas.

As intervenções educativas foram realizadas em grupos operativos nos estudos de Matsumoto et al. (2012), Silva et al. (2006) e Silva, et al. (2008). Segundo Silva, et al. (2008) a vivência em grupo é uma estratégia que utiliza a troca de informações e experiências, o ouvir, o conhecer a realidade de cada pessoa, permitindo que a educação em saúde seja compartilhada com os diabéticos. Ela pode ser utilizada como um modelo de educação interativa nos grupos de pacientes, no qual os diabéticos relatam suas dificuldades e necessidades, refletindo sobre sua vida cotidiana (SILVA et al., 2008; SILVA et al., 2006).

O manual de hipertensão e diabetes do Ministério da Saúde também ressalta a importância de abordar estratégias de educação em saúde em grupos operativos com diabéticos e hipertensos para estimular a adesão ao tratamento proposto e ainda recomenda que sempre que possível devemos incorporar a participação de toda a equipe multiprofissional durante as atividades (BRASIL, 2002).

Silva et al. (2008), utilizaram também de palestras e teatros em seu grupo operativo. Nessas atividades, segundo esses autores, a utilização dessas estratégias foi bem aceita, uma vez que foram identificados o interesse e a participação dos diabéticos, através dos comentários e expressões faciais demonstradas.

O estudo de Guimarães e Takayanagui (2002), após a aplicação de um questionário no qual identificava qual a orientação era recebida no momento do diagnóstico do DM, identificou que a principal abordagem recebida estava relacionada ao tratamento medicamentoso.  E nesse estudo foi verificado também, que não houve nenhuma orientação em relação às mudanças de estilo de vida. Verificamos então, que nas práticas de educação em saúde da atenção primária, ainda existem ações voltadas somente para o tratamento medicamentoso, e essas práticas estão insuficientes, pois segundo as recomendações do Ministério da Saúde (2002), as ações educativas voltadas para a prevenção do DM, devem abordar tanto questões relacionadas à medicação, mas também a respeito da importância de mudança de hábitos alimentares, de prática de atividade física, dos benefícios da automonitoração, entre outros.

Para garantir a adesão ao grupo operativo, Silva et al. (2006), utilizaram de estratégias como agendamento de retornos, entrega de medicamentos, atendimento médico, odontológico e multidisciplinar. Conclui-se que essa troca se torna benéfica, pois o usuário utiliza o comparecimento aos grupos para também receber a medicação e atendimento dos profissionais de saúde, mas, por outro lado, acreditamos que o usuário deveria reconhecer a importância e a necessidade de participação nas atividades educativas para estimular a autonomia do cuidado enquanto diabético.

3.2 SENTIMENTOS E DIFICULDADES DOS DIABÉTICOS

Muitos diabéticos possuem dificuldades em aceitar sua doença e as restrições impostas por ela (MATSUMOTO et al. 2012). Torres et al. (2014), corroboram com essas informações ao dizerem que, muitos diabéticos no momento inicial do diagnóstico sentem negação da doença e também podem apresentar com frequência o sentimento de tristeza e insatisfação devido a dificuldade de adaptar a sua nova rotina.

Torres et al. (2014), ainda afirmam que:

[…] fica claro a diversidade de sentimentos relacionados ao diagnóstico do DM. Aceitar a nova condição de saúde, as reações negativas como medo, raiva, a necessidade de mudanças, são sentimentos que devem ser escutados e trabalhados pelos profissionais de saúde, intervindo sobre suas dúvidas e angústias a fim de tranquilizá-los a respeito de seus medos e temores […].

Nesse contexto, Penna e Pinho (2002), também relatam que:

Calar-se e guardar segredo podem ser as soluções encontradas pelo sujeito para continuar frequentando o programa, beneficiando-se do que for possível e mantendo um bom relacionamento com o profissional de saúde. Para tanto, utiliza-se do jogo duplo como uma forma de proteger-se das ordens difíceis de serem cumpridas. Assim, o sujeito esquiva-se para que não ocorra afrontamento de valores entre ele e o profissional.

Além da dificuldade de aceitação da doença e das restrições impostas por ela, são citados ainda que a idade avançada, o baixo grau cognitivo e a baixa escolaridade são dificuldades relacionadas aos diabéticos para adesão à prática educativa. Acredita-se que os usuários podem ter uma menor compreensão das orientações transmitidas pelos profissionais de saúde (TORRES et al., 2014).

Neste contexto, desta forma se espera que todos esses fatores, acrescidos das questões emocionais, devem ser levados em consideração pelo profissional de saúde durante a prática educativa. E, acredita-se que a utilização de estratégia e linguagem adequadas, aproximará o diabético das práticas educativas, minimizando as chances de afastamento e recusa em participar das atividades propostas, pois envolvê-los na proposta é outra premissa importante do processo educativo.

E ainda deve se levar em consideração o relato de Penna e Pinho (2002), que afirmam que os educadores em saúde precisam conhecer a realidade, a visão do mundo e a expectativa de cada usuário, pois esse entendimento permite priorizar as necessidades do usuário e não somente as exigências do tratamento.

3.3 FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Penna e Pinho (2002), observaram em seu estudo, após entrevistar diabéticos que tinham recebido intervenções educativas, que existia um autoritarismo dos profissionais de saúde na realização das práticas educativas.

Em seu estudo, Penna e Pinho (2002, p.10), ainda afirmam que:

Um processo como esse ignora a visão de mundo do sujeito que, sem participar de seu próprio tratamento, limita-se ao autoritarismo do profissional (ela dá o total, ela manda, eles querem), num educar que não estimula o desenvolvimento de habilidades intelectuais, não divide responsabilidade e não transforma o cliente em sujeito de seu tratamento. Portanto, é provável que não atinja um dos principais objetivos do programa, que é o de instruir o paciente para que ele possa adequar o esquema terapêutico às suas necessidades diárias e chegar ao autocuidado. O profissional parece esquecer que se torna fundamental dialogar com o cliente, para que ele possa entender o porquê das proibições e limitações que tanto o incomodam.

David e Torres (2013), ressaltam que alguns profissionais tiveram uma formação acadêmica baseada em saberes tradicionais, onde as práticas de educação em saúde consistiam apenas em mudança de comportamento e transmissão de saberes, não existindo construção compartilhada de conhecimentos, fato este que pode explicar a atitude inadequada utilizada dos profissionais, baseado no modelo tradicional de educação em saúde. Melo (2013), colabora com essa explicação quando afirma que a concepção biomédica e mecanicista presente desde o início da educação sanitária no Brasil continuam em muitos cursos de formação de profissionais de saúde.

Rodrigues et al. (2010), relatam que novas diretrizes curriculares estão sendo implementadas nos cursos da área de saúde, com o objetivo de transformar os modelos de saúde existentes, à medida que fortalece a prevenção e promoção de agravos, fornecendo autonomia e assistência integral aos profissionais de saúde, para promover a realização de uma prática educativa efetiva. Além disso, esses autores reforçam a necessidade de um perfil de profissionais de saúde interessados, esforçados e comprometidos, que se esforçam a buscar novos conhecimentos, transformando assim as práticas educativas. Dessa forma, com esse perfil, esses profissionais de saúde desenvolvem habilidades e aprendizado sobre o autogerenciamento da diabetes, promovendo ao usuário uma melhor qualidade de vida.

De tal maneira acredita-se então, que a possibilidade de capacitação contínua do profissional de saúde é outro fator importante que minimizará os riscos de desenvolvimento de estratégias inadequadas de educação em saúde. David e Torres (2013), defendem que ter um profissional capacitado é uma solução para aplicação de técnicas de trabalho em grupo, além disso, mantém o conhecimento técnico científico deste profissional atualizado, uma vez que novas informações podem surgir sobre tratamento dos diabéticos. Neste sentido, os profissionais de saúde interessam sobre a capacitação.

David e Torres (2013), afirmam também que “Fica claro que na maioria das vezes os profissionais acabam conduzindo as práticas educativas com pouco preparo, gerando insegurança, dúvidas e insatisfação com o produto final do trabalho […].”

O estudo de Santos e Torres (2012), identificou competências que os profissionais de saúde devem possuir, para realizar a prática educativa, em Diabetes tipo 2. Eles dividiram essas competências em três partes: conhecimentos (saber a teoria sobre o Diabetes tipo 2: fisiopatologia, nutrição, atividade física e cuidados com o paciente; saber a teoria de realização de atividades educativas e conhecer a população), ter habilidades.

(saber ouvir, comunicar, expressar, adaptar a linguagem, liderar, avaliar e trabalhar em equipe).

Ter atitudes (ter empatia, acolher, humanizar; ser calmo e tranquilo; aceitar avaliações; motivar: usuários e equipe; ser otimista/atitude positiva; ter flexibilidade; ser criativo e ter iniciativa).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Diabetes Mellitus é um problema de saúde pública, e para a obtenção do controle dessa patologia, são necessárias medidas que vão além do tratamento medicamentoso, como mudança no estilo de vida através da alimentação adequada e da prática de atividade física regular.

A educação em saúde é parte integrante desse processo, uma vez que permite que os profissionais de saúde, através do conhecimento das características da população atendida, identifiquem as necessidades de cada usuário diabético e através da utilização de práticas educativas promova ações de promoção e proteção à saúde de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde.

É possível observar nessa revisão que existem diferentes estratégias educativas sendo realizadas na atenção primária com diabéticos, como grupos operativos, monitoramento telefônico, visitas domiciliares, oficinas de capacitação de profissionais de saúde, questionários, palestras, teatros e entrevistas.

Além disso, também foram identificadas que são várias as dificuldades encontradas tanto pelos diabéticos quanto pelos profissionais de saúde, porém acreditamos que o sucesso dessas práticas depende da interação entre eles, à medida que se estabelece uma relação de confiança entre as partes.

Sugerindo o desenvolvimento de mais estudos sobre o tema que exemplifiquem mais as estratégias utilizadas, pois percebe-se que existem poucos relatos de estratégias de práticas educativas com diabéticos na atenção primária.

Tendo em vista que este estudo poderá ajudar os profissionais de saúde a escolherem algum modelo das práticas educativas a serem utilizadas com diabéticos na atenção primária, levando em consideração as características específicas de cada grupo.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Plano de reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus: manual de hipertensão arterial e diabetes mellitus. Brasília, DF, 2002. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/miolo2002.pdf.Acessado em: 02/04/2015.

DAVID, et al. Percepção dos profissionais de saúde sobre o trabalho interdisciplinar nas estratégias educativas em diabetes. Rev.RENE;14(6):1185-1192, nov-dez.2013. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/3738/2958. Acessado em: 17/02/15.

GIL, A, C. Métodos e técnicas de pesquisa social. – 6. ed. – São Paulo: Atlas,2011. Disponível em: https://ayanrafael.files.wordpress.com/2011/08/gil-a-c-mc3a9todos-e-tc3a9cnicas-de-pesquisa-social.pdf.

GUIMARAES, et al. Orientações recebidas do serviço de saúde por pacientes para o tratamento do portador de diabetes mellitus tipo 2. Rev. Nutr.[online]., vol.15, n.1, pp. 37-44. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rn/v15n1/a05v15n1.pdf.  Acessado em :17/02/15.

MATSUMOTO, et al. A Educação em Saúde no cuidado de Usuários do Programa Automonitoramento glicêmico. Rev. esc. enferm. USP [online]. vol.46, n.3. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n3/31.pdf. Acessado em :17/02/15.

MELO, L. P. de. Análise biopolítica do discurso oficial sobre educação em saúde para pacientes diabéticos no Brasil1.  Saúde soc. vol.22 no.4 São Paulo. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/sausoc/v22n4/22.pdf. Acessado em: 02/01/15.

PENNA, et al. A contramão dos programas de educação em saúde: estratégias de diabéticos. Rev. bras. enferm [online]., vol.55, n.1 2002.Disponivel em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v55n1/v55n1a02.pdf . Acessado em :17/02/15.

RODRIGUES, et al. A proposta da educação permanente em saúde na atualização da equipe de saúde em diabetes mellitus. Rev. esc. enferm. USP [online]., vol.44, n.2. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n2/41.pdf. Acessado em: 02/01/15.

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SILVA. V. S. et al. Vivência de educação em saúde: o grupo enquanto proposta de atuação.Trab. educ. saúde vol.6 no.3 Rio de Janeiro 2008.   Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462008000300014. Acessado em :14/02/15.

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[1] Fisioterapeuta – Formada pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). Especialista Em Saúde Pública Com Ênfase Na Estratégia Saúde Da Família. Especialista Em Fisioterapia Respiratória E Terapia Intensiva.

[2] Enfermeira- Formada Pelo Centro Universitário Newton Paiva. Especialista Em Saúde Pública Com Ênfase Na Estratégia Saúde Da Família. Especialista Em Formação De Educadores Em Saúde. Especialista Em Terapia Intensiva, Urgência, Emergência E Trauma.

[3] Fisioterapeuta – Mestre em Saúde da Família.

Enviado: Março, 2021.

Aprovado: Abril, 2021.

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Lucineia Periard Lopes Ferreira

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