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Avaliação da aplicabilidade da Escala Bayley de desenvolvimento como instrumento auxiliar na detecção precoce do autismo infantil

RC: 77842
3.074
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/escala-bayley

CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

ALVES, Adriano de Souza [1], RAMOS, Júlia de Freitas [2], BARBOSA, Juliana Maria [3], COSTA, Ana Paula Cornélio da [4], CAMPOS, David Martins [5]

ALVES, Adriano de Souza. Et al. Avaliação da aplicabilidade da Escala Bayley de desenvolvimento como instrumento auxiliar na detecção precoce do autismo infantil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 03, Vol. 04, pp. 17-29. Março de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/escala-bayley, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/escala-bayley

RESUMO

O transtorno do espectro autista (TEA), também conhecido como autismo, é uma condição do neurodesenvolvimento que se manifesta já nos primeiros anos de vida da criança. Escala Bayley é um instrumento de avaliação composto por três subescalas, Cognitiva, da Linguagem e Motora, que são realizadas pela criança. A aplicação tem duração média de 3 minutos composta por atividades e brincadeiras que promovem a interação entre a criança e o aplicador. É uma escala de fácil aplicação, válida para avaliação de bebês com e sem deficiência, com idade entre 1 e 42 meses. O presente estudo investigou a possibilidade da Escala Bayley III ser usada como método auxiliar no diagnóstico precoce do autismo infantil e ser uma norteadora na realização de intervenções nesses quadros. A pesquisa se caracteriza como revisão bibliográfica, com critério qualitativo de caráter hipotético-dedutiva, tendo em vista assim discorrer a viabilidade da Escala Bayley do Desenvolvimento no diagnóstico e intervenção precoce em pacientes autistas. Conclui-se que a Escala Bayley do Desenvolvimento III tem potencial de aplicabilidade para auxílio no diagnóstico precoce e intervenção nos quadros de TEA. Ao utilizar brincadeiras, exercícios, técnicas, atividades, jogos e outros recursos que estimulam as funções do cérebro do bebê, propiciando amadurecimento neuronal, independência, aprendizagem e habilidades de sobrevivência, favorece o desenvolvimento das respostas da criança, dentro das suas reais capacidades físicas e mentais.

Palavras-chaves: Autismo, desenvolvimento, diagnóstico precoce, Escala Bayley, intervenção.

1. INTRODUÇÃO

O transtorno do espectro autista (TEA), também conhecido como autismo é uma condição do neurodesenvolvimento que se manifesta já nos primeiros anos de vida da criança. Essa condição caracteriza-se por manifestações diversas que ajudam a compor diferentes quadros clínicos, como déficit na comunicação ou interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento. De acordo com Venter, Lord, Schopler apud Bosa (2006), o desenvolvimento cognitivo, da fala/comunicação, da autonomia e independência, pode ser considerado como indicativo de um bom prognóstico do desenvolvimento acadêmico e social de crianças com TEA.

A Escala Bayley foi desenvolvida por Nancy Bayley em 1953 sendo sua primeira versão, já em 1977 obteve sua revisão e uma adaptação criando assim sua segunda versão, em 2006 foi publicada sua terceira versão.

“Trata-se de uma avaliação padronizada das habilidades mentais, motoras e de linguagem de crianças de 16 dias a 42 meses de idade (MADASCHI; PAULA, 2011, p 55).”

A avaliação de desenvolvimento acontece com recém-nascidos a partir de 16 dias até 42 meses em cinco domínios, sendo eles cognitivo, linguagem, motor, socioemocional e adaptativo. A avaliação dos domínios cognitivo, linguagem e motor são realizadas utilizando-se itens que são administrados à criança e registrados em formulário próprio de avaliação. Para análise dos domínios socioemocional e adaptativo utilizam-se as respostas do cuidador principal, coletadas a partir de um questionário que pode ser preenchido tanto pelo profissional quanto pelo cuidador. A metodologia é estabelecida por normas de base em procedimento, administração e pontuação com condições uniformes a cada faixa etária, para que dessa maneira os resultados sejam interpretados segundo o padrão nacional. O processo é padronizado e estabelecido por normas que se encontram no manual da escala.

A escala avalia as diferentes áreas do desenvolvimento separadamente. Com participação ativa dos pais no processo, avalia cada recém-nascido investigando atrasos no desenvolvimento que poderiam indicar características próprias do autismo logo no início da vida desses bebês, possibilitando uma intervenção precoce a partir dos resultados apresentados pela escala.

Está pesquisa pretende discutir a possibilidade da aplicação da escala Bayley III como contribuição para realização do diagnóstico precoce em autistas, bem como orientadora de intervenções a serem realizadas nos mesmos, a partir dos déficits identificados por esta escala.

2. REVISÃO DE LITERATURA

Segundo Rutter apud Oliveira (2019), os sinais e sintomas do autismo variam de acordo com a intensidade e manifestação dos sintomas, podendo ser identificados já no bebê, uma vez que essa manifestação dos sintomas é precoce, trazendo comprometimentos no desenvolvimento da linguagem, interação social, vida acadêmica, autocuidado, autonomia e independência.

O TEA é reconhecido como um transtorno do neurodesenvolvimento complexo com origem multicausal, combinando fatores genéticos e ambientais. Seu diagnóstico requer a presença de padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e ou atividades, podendo ser reconhecido por prejuízos na fala/comunicação/linguagem, dificuldades em estabelecer e manter a interação social em diferentes contextos, dificuldades e inabilidade para interpretar e compreender comportamentos não verbais. Crianças dentro do transtorno do espectro autista (TEA) podem apresentar atrasos/déficits na aquisição e ou desenvolvimento dessas habilidades (APA apud OLIVEIRA et al., 2019).

Pais, cuidadores e familiares são importantes no processo de identificação de sinais de atraso no desenvolvimento das crianças, uma vez que convivem e participam ativamente de suas vidas. Ao observar alguma anormalidade no desenvolvimento, esses adultos buscam a avaliação de um profissional de saúde. A partir dos relatos dos pais e cuidadores, será possível ao profissional investigar as causas deste atraso, possibilitando a intervenção precoce em serviços especializados (MANSUR, 2017).

Em virtude dessa importância, a orientação sobre o desenvolvimento típico do bebê durante o acompanhamento gestacional é imprescindível aos pais, pois poderia auxiliar os pais e cuidadores a identificar atrasos no desenvolvimento ou características atípicas que mereçam atenção. Isso reduziria o tempo para se chegar a um diagnóstico, possibilitando um diagnóstico e intervenção precoces que poderiam ser fundamentais para o desenvolvimento dessa criança. Pais e cuidadores bem orientados, por estarem cotidianamente com a criança, poderiam observar sinais que muitas vezes são de difícil detecção, mesmo para professores, pediatras e outros profissionais que não participam da rotina da criança (ZANON e BACKES, 2014).

De acordo com Mansur e Nunes (2017), o diagnóstico precoce do Autismo pode se dar dentro dos primeiros 2 anos de vida com observações sobre o desenvolvimento do bebê. Mesmo que esse diagnóstico não possa ser considerado conclusivo, as intervenções que visem minorar os comprometimentos observados em algumas áreas devem ser efetuadas. Ainda que o diagnóstico não esteja confirmado, verificados atrasos, por exemplo, no contato visual, atenção compartilhada e imitação, as intervenções cabíveis devem ser implementadas.

Segundo Cardoso e Formiga (2017, p.145),

a Escala Bayley é um instrumento desenvolvido pela psicóloga americana Nancy Bayley em 1969 e revisado em 2006. É composta por três subescalas realizadas pela criança: Escala Cognitiva, Escala da Linguagem (comunicação receptiva e comunicação expressiva) e Escala Motora (áreas motoras fina e grossa). É composta também pela Escala Socioemocional e pelo Questionário de Comportamento Adaptativo que é respondido pelos responsáveis pela criança.

A escala oferece uma avaliação abrangente em cinco domínios distintos, permitindo assim comparação do desenvolvimento infantil entre as 4 áreas avaliadas, construídos e diferenciados por faixa etária. Trata-se de um instrumento lúdico, flexível, de fácil aplicação, com excelentes índices de validade e confiabilidade, extensivamente utilizada em pesquisas. Além disso, mostra-se útil para a identificação precoce de risco de desenvolvimento, elaboração de projetos interventivos, bem como para fornecer orientações aos pais e informá-los sobre a evolução da criança quando há necessidade de intervenção. É considerada uma avaliação eclética, que aborda os conceitos tanto da teoria neuromaturacional como das teorias sociointeracionistas (CAVAGGIONI e BENINCASA, 2017).

O principal objetivo da escala Bayley III é o de avaliar crianças que apresentem algum atraso no seu processo de desenvolvimento e, a partir dos resultados dessas avaliações, planejar intervenções que possam favorecer seu processo de desenvolvimento (SILVA, 2010). Uma das técnicas utilizadas é a filmagem da criança em situações controladas e que estimulem a emissão de comportamentos que, usualmente, possam indicar a presença do TEA, como pouco contato visual, a não orientação quando chamada e baixa receptividade. Posteriormente, essas filmagens são avaliadas. Essa avaliação, apesar de identificar atrasos globais no desenvolvimento, poderia identificar o autismo precocemente e possibilitar intervenções nesses casos (BARANEK apud CARVALHO e TEIXEIRA, 2014).

A partir da identificação das características observadas no conjunto de sinais e sintomas do TEA, consideramos a possibilidade da utilização da escala Bayley como instrumento de avaliação para diagnóstico precoce do TEA, bem como para identificação das áreas que carecem de estímulo, visando o desenvolvimento da criança afetada.

3. METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho de revisão bibliográfica com critério qualitativo de caráter hipotético-dedutivo, conhecido como mecanismo de investigação científica onde o pesquisador propõe a hipótese por meio de dedução, estabelecendo um traço relativo do objeto analisado, estudando as suas singularidades e experiências específicas e, diante disso, comprovando ou não sua funcionalidade, visando assim discutir a viabilidade da Escala Bayley do Desenvolvimento no diagnóstico e intervenção  precoce em autistas.

É através do método científico hipotético-dedutivo que o cientista: observa inúmeros fatos variando as condições da observação; elabora uma hipótese e realiza novos experimentos ou induções para confirmar ou negar a hipótese; e se esta for confirmada, chega-se à lei do fenômeno estudado. A partir das respostas associadas às hipóteses formuladas, induz-se a solução de um problema (GOMES e GOMES, 2020, p 11).

Foi realizado um levantamento bibliográfico nas plataformas Scientific Electronic Library Online (SciELO), Google Acadêmico, revista Psico, de 2006 a 2020. Foram utilizados os seguintes descritores: escala bayley, autismo, desenvolvimento, diagnóstico precoce, intervenção em crianças autistas. Posteriormente, foi realizada uma triagem dos trabalhos selecionados com objetivo de testar-se a seguinte hipótese: A Escala Bayley III pode ser usada como método auxiliar no diagnóstico precoce do autismo infantil, bem como orientar intervenções nesses quadros.

Logo, a partir do levantamento dos trabalhos científicos sobre o tema, a pesquisadora procedeu ao estudo dos mesmos realizando uma análise teórica, dialogando com os autores, buscando elementos que pudessem testar a hipótese central da pesquisa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da interação do bebê com o mundo e as pessoas ao seu redor, e dos estímulos recebidos e captados por ele, as competências necessárias para o desenvolvimento da comunicação vão sendo construídas. Ao longo desse processo é possível identificar as falhas, por exemplo, quando a criança não é capaz de se expressar e ou demonstra não compreender os contextos sociais em que está inserida. A presença de estereotipias, comportamentos repetitivos, pouca habilidade de compreensão e comunicação são sinais de alerta importantes (BOSA; ZANON e BACKES, 2016).

Antes mesmo de desenvolver as habilidades motoras, através dos estímulos do ambiente e da interação com seus cuidadores, os bebês captam e processam estímulos visuais e auditivos. A partir desse processamento o bebê vai se instrumentalizando para explorar sensorialmente o ambiente físico. Pouco a pouco ele vai sendo capaz de realizar a integração sensorial das diferentes fontes de estímulo, fazendo com que seja capaz de identificar incoerências e novidades no ambiente. Esse processo fará com que a criança direcione sua atenção àquilo que é novo no ambiente. O desenvolvimento competente dessa habilidade está diretamente relacionado a uma estimulação adequada da criança, tanto o excesso quanto a falta de estímulos podem trazer prejuízos à criança (STEYER; LAMOGLIA e BOSA, 2018).

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento e como tal, seus sinais e sintomas podem estar presentes desde o começo do processo de desenvolvimento da criança. Esses sinais e sintomas estão relacionados a prejuízos nas habilidades de comunicação e interação social, a respostas emocionais incoerentes ao contexto, déficits intelectuais e no desenvolvimento da autonomia e independência. Por se tratar de um espectro de sinais e sintomas há grande variabilidade na manifestação dos mesmos, tanto em número quanto em intensidade. Em razão disso, a avaliação neuropsicológica é importante para identificar e avaliar o grau de comprometimento em cada área, bem como apontar intervenções que possam auxiliar no processo de desenvolvimento (NEUMANN et al., 2016),

É importante também que sejam criados programas para identificação de sinais e sintomas precoces de autismo, de conhecimento sobre o desenvolvimento típico do bebê, do desenvolvimento motor, sensorial e socioemocional para que a intervenção possa se dar o quanto antes (STEYER; LAMOGLIA e BOSA, 2018).

A Escala Bayley III pode cumprir a função de avaliar o desenvolvimento típico em bebês, bem como identificar áreas específicas de atraso no desenvolvimento, segundo  Madaschi e Paula (2011, p. 55), é uma das  “melhores escalas existentes na área de avaliação do desenvolvimento infantil, sendo considerada como ‘padrão ouro’ por diversos autores, principalmente por abarcar uma avaliação bem completa e detalhada do desenvolvimento neuropsicomotor”.

Com isso Rabelo e Smeha (2018), falam sobre verificar  regularmente os indicadores de risco psíquico e atrasos decorrentes ao desenvolvimento, que através de estudos possam viabilizar a escala como instrumento no diagnóstico de bebês,  visando identificar sinais de risco que venham evidenciar a eficácia do instrumento, sendo assim, capaz de orientar pelos eixos que a escala proporciona e podendo predizer a subjetividade desenvolvimental do bebê em  cada um de seus domínios .

Na utilização da Escala Bayley a avaliação tem uma regularidade de meses tornando possível a identificação precoce de alterações no desenvolvimento, antes de ser estabelecido um atraso de fato, isso devido às intervenções realizadas. Essas intervenções têm o objetivo de conscientizar e instrumentalizar as famílias para que possam atuar ativamente no processo de estimulação das áreas que apresentam déficits  (ROSOT et al., 2018).

Segundo Rabelo e Smeha (2018), o uso de um instrumento que possibilite a identificação do transtorno, ainda no início do processo de desenvolvimento, pode se tornar uma medida de alta relevância, permitindo a intervenção precoce, levando ao melhor prognóstico dos casos de TEA, decorrente de que quanto mais cedo for realizada a identificação dos sinais e o encaminhamento para estimulação antecipada, melhores serão as respostas da criança dentro das suas reais capacidades físicas e mentais.

Foi possível observar na maioria dos trabalhos que as intervenções feitas nas áreas do desenvolvimento até os 3 anos de vida da criança são mais efetivas. E segundo o estudo de Ferreira e Alves (2020), intervenções realizadas com foco na família e escola são mais positivas para o desenvolvimento do bebê.

Alckimin-Carvalho et al. (2014), propuseram a utilização da Escala Bayley como auxiliar no diagnóstico de TEA, justificando sua inclusão em seu estudo por abranger uma das áreas essenciais em se tratando da avaliação da independência e a possibilidade de apresentar um eficiente prognóstico de crianças com TEA, referindo-se ao seu desenvolvimento intelectual.

Em seu estudo, Alckmin-Carvalho et al. (2014),  utilizaram a escala para auxiliar no possível diagnóstico de TEA em 4 pacientes, sendo que em um, a família desistiu da pesquisa, restando assim 3 pacientes onde  a escala pode avaliar os domínios de cada um deles em relação as suas habilidades cognitivas, motoras e de linguagem receptiva e expressiva. A pesquisa obteve alguns resultados coniventes com o autismo. Mesmo que nenhum de seus pacientes tenha confirmado o diagnóstico, a escala foi benéfica para auxiliar outros testes neste estudo. Os resultados da escala mediante a pesquisa levaram como respostas os seguintes segmentos: no caso (1) foi percebido que os resultados obtiveram escore médio no domínio de linguagem expressiva; no caso (2) foi verificado atrasos dos domínios cognitivo, linguagem receptiva/ expressiva, e motores fino/ grosso; e no caso (3) constatou-se que estava na faixa de normalidade, apresentando apenas alguns aspectos de linguagem afetados. Apesar dos pacientes da pesquisa não terem obtido um diagnóstico definitivo de TEA, pressupõe-se que a Escala possui viabilidade para o auxílio do diagnóstico precoce de autismo devido às suas características de observações e análises.

Portanto, acredita-se que a Escala Bayley do Desenvolvimento pode ser efetiva no auxílio do diagnóstico precoce de autismo, seguindo os métodos adotados pela mesma, a qual abrange todas as áreas do desenvolvimento e tendo em vista seus escores ligados a idade.  Ao associar a Escala de Bayley com a intervenção precoce, obtém-se potencial favorável ao tratamento do paciente em que se constatou diagnóstico precoce do TEA, considerando as estimulações adequadas a cada caso e uma recorrente supervisão da escala com o objetivo de encontrar os atrasos específicos do desenvolvimento individualizado.

Pode-se pensar em estratégias de “vigilância do desenvolvimento” em saúde pública, principalmente na atenção básica, quando há o acompanhamento de todo o processo de desenvolvimento do bebê, para que sejam identificados possíveis sinais e sintomas que possam indicar a presença de autismo (STEYER; LAMOGLIA e BOSA, 2018). Pensando nisso, Mansur e Nunes (2017) concluíram que o diagnóstico precoce de Autismo pode ser cogitado dentro dos primeiros 2 anos de vida, ainda que esse diagnóstico não seja conclusivo, pode-se considerar intervenções visando minorar os comprometimentos nas áreas atingidas, as quais devem ser efetuadas o quanto antes,  e com essas intervenções adequadas as seguintes funções básicas podem ser desenvolvidas: contato visual, atenção compartilhada e imitação.

Alckmin-Carvalho et al. (2014, p. 09), afirmaram que “a identificação precoce é uma medida de alta relevância, pois permite intervenções precoces, levando ao melhor prognóstico dos casos de TEA”. A partir dessa afirmação os autores Cossio, Pereira e Rodrigues (2017), discorreram sobre a efetividade que a intervenção precoce é capaz de promover, utilizando práticas centradas na família.

O empoderamento dos pais é indicativo do sucesso da intervenção precoce, levando a grande variedade de resultados de desenvolvimento da criança, por estarem diretamente ligados ao paciente e aos seus comportamentos, podendo apoiar e buscar uma eficácia nos resultados. Acredita-se também ser vantajoso o envolvimento do cuidador por estarem envolvidos no processo, tornando-os capazes de obter melhor compreensão do comportamento das crianças, tornando-os mais capacitados a identificarem atrasos potenciais da criança, facilitando assim a intervenção precoce no momento de sua percepção.

Silva et al., (2018) afirmam que a intervenção precoce é uma forma de intervenção de suma importância, baseada em observações e escalas de desenvolvimento, identificam as eficiências e deficiências da criança o que torna possível traçar

Dessa maneira será possível associar a Escala Bayle com a intervenção precoce, pois o modo que é aplicada, brincando com a criança, possibilitará ao  psicólogo avaliador observar tais atrasos, possibilitando a aplicação de intervenções  de uma forma mais lúdica, de forma que os pais e ou responsáveis possam utilizá-las em casa nos momentos que se encontram com a criança. Uma vez que o cérebro é estimulado, ele estará permitindo ao bebe um desenvolvimento adequado para os parâmetros dentro da normalidade, onde o mesmo desenvolva-se adequadamente para aprender a lidar com as adversidades apresentadas pelo ambiente. A maturação mencionada acima é uma forte contribuição para que essas estimulações sejam realizadas por métodos voltados para as habilidades cognitivas, motoras e de linguagem, que prevaleçam o desenvolvimento baseado no instinto humano (SILVA, et al., 2018).

Partindo desse pressuposto, as autoras Silva, Kelly, Machado e Santos (2018) discutem o fato de que o desenvolvimento humano tem maior efetividade quando trabalhado entre o 0 e 3 anos por serem mais suscetíveis a intervenções utilizando-se o brincar de forma ampla, estimulando o ser humano como um todo  e nas diversas áreas do desenvolvimento como motora fina e grossa, cognitiva, e de linguagem receptiva e expressiva.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos analisados e incluídos nessa revisão de literatura tiveram por objetivo analisar a produção acadêmica e científica para testar veracidade sobre como a inclusão da Escala Bayley de Desenvolvimento será benéfica para auxiliar no diagnóstico precoce de autismo e em conseguinte nas intervenções efetivas para alguns desses casos, onde se pode comprovar a sua eficácia nas propriedades de documentar o avanço das crianças no decorrer das intervenções, por traçar o progresso delas ao longo das avaliações periódicas, oferecendo um nível de precisão para avaliar e distinguir corretamente em qual área do desenvolvimento a criança obteve melhora. Logo, pode-se pensar que a avaliação da Escala Bayley III utilizada como uma ferramenta de contribuição para assessorar na identificação de atrasos do desenvolvimento se adequa também a auxílio através de intervenções.

A Escala Bayley mostra-se um instrumento de simples aplicação e de rápido preenchimento, o que corrobora a hipótese de que ela tem propriedades que podem ser consideradas ideais para ser uma ferramenta de acompanhamento para bebês na idade crucial do desenvolvimento, colaborando no diagnóstico precoce de autismo, de modo que através de intervenções pontuais seja capaz de melhorar a qualidade de vida dessas crianças, por conseguinte ser utilizado regularmente, respeitando o tempo estipulado pelo seu manual, todavia analisando a eficácia do tratamento. Em relação à precisão da escala, os dados demonstraram que a Bayley é capaz de identificar as crianças que apresentam alterações cognitivas, motoras e de linguagem. Através dessas alterações é possível notar qual ou quais dos campos o bebê está mais defasado e trabalhando simultaneamente com seus cuidadores, pode haver uma evolução no quadro do paciente.

É importante ressaltar que o Bayley III não é uma escala específica para o diagnóstico de TEA, mas para avaliação do desenvolvimento infantil em geral. Todavia, ele apresenta em seu conteúdo perguntas que podem triar áreas usualmente afetadas pelo TEA como comunicação, interação social e cognição área motora. Dessa forma essa avaliação do desenvolvimento poderá ser capaz de auxiliar na evolução do quadro de cada sujeito através das intervenções por ela indicadas.

Pode-se então concluir, que a Escala Bayley do Desenvolvimento III tem potencial para auxílio no diagnóstico e intervenção de autismo, uma vez que, alguns dos autores descritos acima têm utilizado a mesma em pesquisas, viabilizando a escala no aspecto da contribuição do diagnóstico de autismo. Embora, ainda que os resultados possam ser contestados por serem realizados muito prematuramente, acredita-se que ela possa proporcionar a intervenção de forma bem completa por assim atingir as áreas de cognição, motora fina e grossa, de linguagem receptiva e expressiva de maneira bem ampla, podendo assim abordar minuciosamente alguns de seus atrasos para melhor qualidade na intervenção, considerando um progresso do desenvolvimento de cada indivíduo subjetivamente.

6. REFERÊNCIAS

ALCKMIN-CARVALHO, Felipe et al. Identificação de Sinais Precoces de Autismo Segundo um Protocolo de Observação Estruturada: um Estudo de Seguimento. Psico, v. 45, n. 4, p. 502-512, out./dez., 2014.

BOSA, Cleonice Alves. Autismo: intervenções psicoeducacionais, Rev. Bras. Psiquiatr. v. 28, São Paulo, mai., p. 47-53, 2006.

BOSA, Cleonice Alves; ZANON, Regina Basso; BACKES, Bárbara. Autismo: construção de um Protocolo de Avaliação do Comportamento da Criança – Protea-R. Revista Psicologia: Teoria e Prática, v. 18, n. 1, p. 194‑205. São Paulo-SP, jan./abr., 2016.

CARDOSO, Fernanda Guimarães Campos et al. Validade concorrente da Escala Brunet-Lézine com a Escala Bayley para avaliação do desenvolvimento de bebês de pré-termo até dois anos. Rev. Paul. Pediatr,  v. 35, n. 2, p. 144-150, abr./jun., 2017.

CAVAGGIONI, Ana Paula Magosso; MARTINS, Maria do Carmo Fernandes; BENINCASA, Miria Benincasa. A influência da via de parto no desenvolvimento infantil: comparação por meio da Escala Bayley III. Hum. Growth Dev, v. 30, n. 2, São Paulo, mai./ago., 2020.

CHRISTENSEN, Lisa et al. Play and developmental outcomes in infant siblings of children with autism. Journal of autism and developmental disorder, v. 40, n. 8, p. 946-957, 2010.

COSSIO, Anelise do Pinho; PEREIRA, Ana Paula da Silva;  RODRIGUEZ, Rita de Cássia Cóssio. Benefícios e Nível de Participação na Intervenção Precoce: Perspectivas de Mães de Crianças com Perturbação do Espetro do Autismo. Rev. bras. educ. espec., v. 23, n. 4, p. 505-516, 2017.

FERREIRA, Rachel de Carvalho et al. Efeitos da intervenção precoce com foco na família no desenvolvimento de crianças nascidas prematuras e/ou em risco social: metanálise. J. Pediatr., v. 96, n. 1, Porto Alegre jan./fev., p. 20-38, 2020.

GOMES, Alex Sandro; GOMES, Claudia Roberta Araújo. Classificação dos Tipos de Pesquisa em Informática na Educação. In: JAQUES, Patrícia Augustin et al. Metodologia de Pesquisa Científica em Informática na Educação: Concepção de Pesquisa. Porto Alegre: SBC, 2020.  (Série Metodologia de Pesquisa em Informática na Educação, v. 1). Disponível em: (https://metodologia.ceie-br.org/livro-1/). Acesso em: 20/09/2020.

MADASCHI, Vanessa; PAULA, Cristiane Silvestre. Medidas de avaliação do desenvolvimento infantil: uma revisão de literatura dos últimos cinco anos. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 52-56, 2011.

MANSUR, Odila Maria Ferreira de Carvalho et al. Sinais de alerta para transtorno do espectro autismo em crianças de 0 a 3 anos. Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos, v. 12, n. 3, p. 34-40, dez.  2017.

NEUMANN, Débora Martins Consteila et al. Avaliação neuropsicológica do transtorno do espectro autista. Psicologia.pt, jun., 2017. Disponível em: (https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1087.pdf). Acesso em: 17/09/2020.

OLIVEIRA, Maria Vitória Melo de et al. Rastreamento precoce dos sinais de autismo infantil: Um estudo na atenção primária à saúde. Revista Arquivos Científicos, v. 2, n. 2, p. 48-53, 2019.

RABELO Inês Farias; SMEHA Luciane Najar. A identificação precoce dos sinais de risco para o transtorno do espectro autista e as intervenções antecipadas: um encontro necessário. Disciplinarum Scientia. Santa Maria, v. 19, n. 2, p. 247-259, 2019.

RODRIGUES, Olga Maria Piazentin Rolim. Escalas de desenvolvimento infantil e o uso com bebês.  2012. Educ. rev., n. 43, Curitiba, jan./mar., p.81-100, 2012.

ROSOT, Natália et al. Verificação do progresso no desenvolvimento em crianças submetidas à intervenção de atenção precoce. Ciência e Cognição, v. 23, n. 2, p. 217-226, 2018.

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SILVA, Naíme Diane Sauaia Holanda. Validade concorrente e concordância entre os testes “Alberta Infant Motor Scale” e “Bayley Scales Of Infant Develompment-thrid Edition” em prematuros brasileiros com três meses de idade gestacional corrigida. 2010. 161f. Dissertação (Mestrado em Saúde Materno-Infantil) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís. 2010.

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ZANON, Regina Basso; BACKES, Bárbara; BOSA, Cleonice Alves. Identificação dos primeiros sintomas do autismo pelos pais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 30, n. 1, p. 25-33, jan./mar., 2014.

[1] Mestre em Biologia Animal (Magister Scientiae) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Pós-graduado em “Educação na Perspectiva do Ensino Estruturado para Autistas” pela faculdade OPET, Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).

[2] Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

[3] Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

[4] Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

[5] Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

Enviado: Fevereiro, 2021.

Aprovado: Março, 2021.

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Adriano De Souza Alves

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