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A fragmentação da identidade do sujeito professor na obra a partida: a aceitação da Homossexualidade

RC: 84279
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

LIMA, Adriana Alves de [1], TAVARES, Elyzania Torres [2], HANNA, Adel Malek [3]

LIMA, Adriana Alves de. TAVARES, Elyzania Torres. HANNA, Adel Malek. A fragmentação da identidade do sujeito professor na obra a partida: a aceitação da Homossexualidade. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 05, Vol. 01, pp. 15-32. Maio de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/letras/identidade-do-sujeito

RESUMO

O presente artigo objetiva analisar a identidade do personagem Pedro, professor e protagonista do romance A partida, do escritor acriano Elonilson Parente. A obra relata a trajetória de um Professor inexperiente imbuído de ministrar aulas na Escola Municipal Pedro Afonso Correia, no Seringal Martins/Feijó, o qual precisou mostrar sua capacidade e comprometimento no processo de ensino e aprendizagem para as crianças e ganhar a credibilidade dos moradores dessa comunidade. A metodologia utilizada na elaboração deste trabalho será a descritiva e revisão bibliográfica. Para isso, utilizaremos como aporte teórico os escritos de Derrida (2001), Freire (1996), Hall (2000; 2006), Ferrari (2004) e Foucault (2004). A análise da obra discorre acerca da trajetória que o jovem faz até chegar ao Seringal Martins/Feijó, local em que ministrará aulas para as crianças. Envolvendo-se com uma bela jovem chamada Rebeca. O jovem professor passa por um processo de conflito interior ao sentir-se atraído por um jovem do mesmo sexo, Henrique. Em um triângulo amoroso, o jovem optar por manter a relação amorosa com Henrique, porém essa relação será interrompida por uma fatalidade que irá separar para sempre os apaixonados. O trabalho trás o processo de reconhecimento e aceitação da escolha sexual do personagem principal, o qual passa por um conflito interior, ocultado desde a infância ao perceber o interesse e desejo que possui por pessoas do mesmo sexo. Preso aos costumes e preceitos de uma sociedade tradicional, é possível depreender da obra o processo de fragmentação de identidade desse jovem ao se aceitar como homossexual.

Palavras-chave: Fragmentação, Identidade, Homossexualidade, Professor, Partida.

1. INTRODUÇÃO

O artigo encontra-se estruturado da seguinte maneira: uma introdução, seguida de três seções. A primeira seção apresenta o processo de deslocamento do jovem Pedro ao deixar a casa dos pais, rumo ao Seringal Martins/Feijó, para trabalhar como professor. No intuito de tornar-se independente e ascender profissionalmente, o jovem protagonista da narrativa segue em busca de seus objetivos em uma viagem marcada por momentos depressivos, taciturno pelo tempo e pelos fatos que se desdobram durante todo o percurso do personagem, pelas águas do rio Envira/AC. No decorrer desta seção, destacamos também o processo de transformação que o jovem professor se submete ao descobrir-se detentor de suas próprias vontades. Em um primeiro momento, envolve-se com uma jovem chamada Rebeca que acontece em um momento em que o jovem encontra-se em um estado de melancolia ao sentir saudade de seus familiares, bem como adaptação a sua nova rotina. Em um segundo momento, Pedro apaixona-se por um jovem do mesmo sexo, Henrique, momento em que um processo de conflito interior surge na vida de Pedro ao aceitar ou não aceitar seus sentimentos por Henrique. O jovem professor busca burlar esse sentimento em virtude do medo e discriminação que poderia enfrentar em razão desse sentimento. Por último, procuramos discorrer sobre a importância do professor e a construção do sujeito na modernidade. É importante destacar que constituir-se professor requer além de repetir práticas educativas, planejamento, estudos, criatividade e dedicação de modo a conduzir o aluno ao pensamento crítico. Apesar de ser bem jovem, Pedro se dedica de forma precípua a essa profissão. A relação estabelecida com os alunos da comunidade ultrapassava as paredes de sala de aula, fator preponderante para isso, destacamos o fato da escola ser localizada em uma comunidade pequena, de zona rural, em que os laços afetivos tornam-se bem mais fáceis de serem construídos uma vez que todos praticamente vivenciam as mesmas rotinas e os mesmos momentos de lazer, e essa relação de amizade era mantida não apenas com seus alunos, mas também com seus familiares.

Na terceira seção, discorreremos sobre a aceitação da identidade homossexual de Pedro. É sabido que a formação da identidade de um sujeito de modo geral está sempre em processo de construção, a depender da dinâmica das relações sociais. Em um processo de fragmentação da identidade, as mudanças ocorrem gradativamente a depender do grupo em que o indivíduo está inserido. Destacamos no trabalho a relutância de Pedro a aceitar-se homossexual, e isso é justificável por estarmos arraigados em uma sociedade, que apesar de trazer discussões relacionadas às causas gays, o preconceito e discriminação ainda imperam. Apesar dessa relutância o amor que ambos sentiam foi forte o suficiente para se aceitarem e viverem momentos inesquecíveis, a ponto de cogitar a possibilidade de irem embora do Seringal juntos e enfrentarem qualquer sentimento de preconceito, porém isso não foi possível se concretizar devido à tragédia que assolou os amantes do nosso romance. Por último, apresentamos os resultados finais do trabalho.

2. UM OLHAR PARA O ROMANCE A PARTIDA, DE ELONILSON PARENTE: O PERCURSO DA NARRATIVA E OS EFEITOS DE SEU DESLOCAMENTO

A literatura tem se desenvolvido ao longo de décadas e séculos, sempre trazendo uma linha demarcatória da realidade sociocultural através do retrato escrito de características individuais e coletivas de pessoas e sociedades que se manifestam no decorrer das narrativas. Nessa linha destaca-se o romance A partida, de Elonilson Parente, obra literária de cunho regional em que o autor descreve com riqueza de detalhes a trajetória de um jovem professor que após sair do seio familiar, encontra inúmeros desafios em seu percurso em busca de novas oportunidades, independência e ascensão profissional.

O romance, em um primeiro momento, traz o relato de um professor que busca ampliar seus horizontes ao aceitar ministrar aulas no interior do Estado do Acre. Durante a narrativa é possível perceber uma série de sinais que se manifestam como elementos de compreensão e descobertas quanto à ideia de partida. Partida essa que ocorre em movimentos depressivos, taciturnos pelo tempo e pelos fatos que se desdobram durante todo o percurso da personagem, da partida até a partida.

Ao olhar para narrativa o primeiro movimento proposto pela personagem é o deslocar-se, os encontros e despedidas que vão se acumulando de forma sintomática, gerando sensações e arrepios diante da realidade que terá que vivenciar no longínquo interior do Estado do Acre.

A escrita de Parente é recheada destes elementos, de temáticas que reverberam um misto de relato de viagem com um romance taciturno de metamorfoses relutantes embriagadas de despedidas regadas a lágrimas e perdas que vão se moldando ao longo do trajeto da personagem professor até seu ponto de chegada. As despedidas se seguem aos encontros, por meio de soluços lágrimas de familiares que percorrer o mesmo rio pela qual a personagem navega rumo a sua metamorfose, a aceitação da identidade que o persegue durante o tempo de sua vivência e racionalidade.

Mas, mesmo no ritual de passagem em que a personagem Pedro precisa passar para chegar a uma conclusão quanto à identidade que se desdobrará para a confirmação da metamorfose, ainda havia um caminhar árduo a percorrer, já que o sentimento de pertencimento não estava latente, ele não pertencia àquelas terras em que se embrenhara. Mesmo após a chegada em seu destino, o pertencimento ainda não havia se manifestado por completo, até o momento em que as identidades passaram a reverberar de forma mais intensa, uma passou a se destacar, aquela que já existia, embrionária em seu âmago, que começou a ganhar forma diante do ritual que transcorreu no momento da partida, deixando sua casa e seus familiares para trás em busca de uma nova vida, e que a cada partida promovida, a fragilidade de seu espírito foi sendo moldado para que quando a identidade fragmentada viesse ser reconhecida no Outro, ganhar forma e força para, então ganhar a liberdade desejada.

As imposições na qual Pedro teve de se enquadrar dentro de uma comunidade que lhe causava acolhimento e ao mesmo tempo um desespero, o qual começou a demonstrar que por mais que se sinta encorajado pela sua persistência, a necessidade de se despojar de parte de sua existência infantilizada pela criação e vivência com a família e passar a assimilar os costumes extrínsecos ao seu ser passou a se moldar a cada dia e a cada movimento oscilante da aceitação de sua nova realidade e da postura que deveria assumir frente às intempéries dos que o rejeitava.

Nesse momento é perceptível, na obra, um desenrolar de temáticas diversas e atual, convergente com discussões suscitadas em toda sociedade, que carrega em sua materialidade uma quebra de concepções tradicionais arraigadas na sociedade patriarcal e conservadora pela qual fomos constituídos enquanto sujeitos, uma vez que lança seu olhar sobre a diversidade de facetas da sexualidade humana.

Essa sexualidade começa a ganhar espaço dentro da obra quando Pedro, o protagonista da narrativa envolve-se em um primeiro momento com a jovem Rebeca, a qual o autor descreve como “detentora de uma beleza particular; dona de olhos bem arredondados, um olhar profundo, lábios carnudos, pernas torneadas, cabelos longos e ondulados” (PARENTE, 2018, p. 38), noiva de um morador da comunidade chamado Gilmar.

Essa construção da personagem enquanto sujeito discursivo está vinculada aos processos histórico-sociais e das condições de produção que o atravessam por meio da ideologia dominante. Ao analisar a situação que produziu o seu dizer e sua admiração por Rebeca, percebemos que Pedro sentia medo, ansiedade, tendo em vista que já tinha um sentimento, o qual não conseguia explicar pela “Miragem”. O jovem rapaz vivia em um espaço, o qual estava sendo ameaçado de morte, em que era culpabilizado pelo término do noivado da moça.

Ao observarmos a exterioridade e o que fora enunciado na obra, destaca-se que o garoto arredio e inexperiente preferia ser culpado pelo término de um noivado do que ver o sentimento pela “Miragem” exposto à população daquela comunidade rural, justamente, por tratar-se de uma mulher. Logo, admirar, beijar uma mulher é aceitável, o que “não é aceitável”, nesse contexto é admiração, o desejo por um homem. Esse discurso não pode ser enunciado, em uma sociedade que estabeleceu que os homens que trabalham na zona rural são “machos”, devem casar com mulher e devem ter inúmeros filhos. Fugir ao que já foi estabelecido por essa sociedade patriarcal, sobretudo, machista e preconceituosa é romper com todos os paradigmas postos até então.

Aceitar-se como um sujeito homossexual é trazer à tona todas as memórias discursivas que o atravessam ideologicamente na sua constituição enquanto sujeito: preconceitos, xingamentos na escola, ser chamado de “mulherzinha” por sua irmã Pietra. Estas são lembranças que deveriam ser esquecidas da sua memória.

Jacques Derrida em seu livro intitulado Mal de arquivo (2001), nos inspira a pensar algumas questões importantes e que têm estrita relação com o que pretendemos abordar, dentre elas: a concepção de arquivo que temos hoje.

Primeiramente, aquele conceito de arquivo como tipográfico, que está guardado em algum lugar. Por segundo, temos o arquivo, “como signo da aliança na circuncisão, a uma marca íntima diretamente sobre o corpo” (DERRIDA, 2001, p. 18). Esse conceito nos parece muito caro, justamente por colocar o corpo como um lugar de arquivo, ou seja, o nosso corpo também é um arquivo. O corpo de Pedro carregava as marcas de todas as surras que levou na infância por ser considerado “diferente”, o seu corpo foi marcado com o soco do irmão que o deixou-lhe com o olho roxo, sendo motivo de humilhação por onde passava.

Assim,

[…] Não há arquivo sem um lugar de consignação, sem uma técnica de repetição e sem uma certa exterioridade não há arquivo sem exterior […] O arquivo trabalha sempre a priori contra si mesmo. A pulsão de morte tende assim a destruir o arquivo hipomnésico, quando não a disfarçá-lo, maquiá-lo, pintá-lo, imprimi-lo, representá-lo no ídolo de sua verdade em pintura. (DERRIDA, 2001, p. 23).

A escrita está marcada por essa extensão da circuncisão que marca o corpo, a memória arquiviolística e mnemônica. Por conseguinte, a memória está relacionada com o que está escrito, que passa por um processo de esquecimento, mas que a palavra faz evocar um assunto que até então não era abordado na literatura, principalmente, na literatura acriana, produzida por autores acrianos. O narrador nos leva a questionar, por que mesmo querendo esquecer, arquivar, não foi possível?

Justamente, porque nós fazemos parte do arquivo, algumas alianças são estruturadas e nós não nos damos conta, conforme destaca Derrida (2001), tanto o ato de lembrar quanto o esquecer são dimensões da memória, mas essa memória não depende da nossa vontade.

Nessa perspectiva, Pedro gostaria de disfarçar e esquecer tais arquivos, e o romance com Rebeca poderia trazer o anonimato que tanto desejara a vida inteira. “O anonimato que Pedro tanto almejava parece que começava a se concretizar. Aquele beijo era a possibilidade do encontro com o caminho que Pedro desejava” (PARENTE, 2019, p.44).

Desse modo, diante de todas as indagações que lhe atormentavam, envolver-se com Rebeca parecia ser sua melhor saída, poderia ajudar a maquiar todos os seus sentimentos em relação à “Miragem”.

Ademais, por mais que Pedro desejasse esquecer, arquivar tudo o que aconteceu na sua construção enquanto sujeito, sua verdade não apenas material, ou o documento de identidade que o representa como homem, portanto, hétero, um ser humano. Ele é a sua história, aquilo que conhecemos como verdade histórica.

O Mal do Arquivo para Derrida (2001) é aquilo que foi recalcado, que foi silenciado por muito tempo, por que decidimos silenciar o romance homossexual e não outras discussões, por que esses sujeitos ficaram ausentes?

Depreendemos que a obra A Partida através desse arquivo linguístico que é a palavra traz à baila a personagem Pedro como o Outro nessa dimensão social que se faz literatura, traz uma representação de sujeito que foi construído nessa política do esquecimento, o corpo de Pedro é arquivo, ele enquanto sujeito é um arquivo. O recalque de Pedro nos traz reminiscências daquilo que estava apagado, aquilo que estava ausente, se faz presente e constitui a memória.

O recalque para Derrida (2001) será justamente trazer à tona aquilo que causava dor, Pedro foi ferido no passado, esses sentimentos ainda o perturbavam e o faziam sofrer, trazer o recalque por meio da personagem Pedro é se vingar do recalcante, é resolver e se livrar de tudo que o passado fez, ou seja, é estar no presente e voltar ao passado para resolver o passado e, isso, só é possível, pois, pela ausência. Pedro lembra daquilo que ele não tem mais, aquilo que está ausente constitui a memória.

Derrida (2001, p. 23) destaca que

[…] esta aparente oposição atual dos princípios, dos arkai, o princípio de realidade e o princípio do prazer. A pulsão de morte não é um princípio […].  Ela ameaça de fato todo principado, todo primado arcôntico, todo desejo de arquivo. E a isto que mais tarde chamaremos de Mal de arquivo.

A pulsão de morte é a ameaça, a agressão e a destruição do arquivo, o qual será o Mal de Arquivo postulado por Derrida (2001). Por isso, a relevância da obra A Partida, na qual temos uma personagem que enfrenta o recalque por meio da lembrança para acertar as contas, para mostrar que o preconceito, os rótulos, as imposições sociais marcam corpos, circunscreve a cicatriz no corpo, a qual lembrará a agressão sofrida.

A obra A partida reafirma os postulados de Derrida (2001, p. 32), que “não haveria mal de arquivo sem a ameaça desta pulsão de morte, de agressão ou de destruição”. É nessa perspectiva que o enredo da obra é construído, como um antídoto para que possamos enfrentar o nosso recalque na literatura acriana, e nos colocarmos diante da leitura da obra e nos questionarmos por que esse tipo de herói nunca esteve presente na escrita dos romances acrianos? Por que o amor entre dois homens ainda causa tanto espanto na escrita literária?

A narrativa de A Partida nos coloca diante desses arquivos para resolvermos o nosso recalque enquanto leitores. Nos leva a sair de nossa racionalidade e encontrar outras maneiras de resolver o nosso recalque, nos serve como fonte de inspiração para compreender o nosso mal de arquivo também. É essa formação circunscrita no corpo de Pedro que o constituiu enquanto sujeito e o fez resolver os recalques com o seu passado.

2.1 DESPEDIDAS E ENCONTROS: UM FLUXO CONTÍNUO ENTRE AS PARTIDAS E CHEGADAS E A PARTIDA

A obra A partida apresenta um retrato latente das despedidas e de encontros que se esmoessem no percurso feito por Pedro durante a sua migração. Percebe-se a partir do exposto na seção anterior, que a viagem que a personagem vivencia contrasta-se com o fluxo de ir e vir, despedir-se de uns, encontrar outros, como um ciclo interminável, moldando-lhe a identidade que precisará diversificá-la conforme as transmutações do momento aparente.

Se Pedro desloca-se de sua cidade e despede-se de sua família, automaticamente, enquanto indivíduo social encontrará outros que também deslocaram-se ou estão ainda por se deslocar, despedir-se daqueles com que convivem para encontrar outros indivíduos e criar novos laços de convivência e de relacionamento, criando novos vínculos e novas vertentes identitárias, às quais convergem e transbordam novas culturas, costumes, crenças, etc., elementos que passarão a rodeá-lo, influenciando-o de forma direta ou indireta.

A cada partida promovida pela personagem deságua em novos espaços identitários, promovendo um diálogo interior, entre o que está distante e o que está perto. Pedro desapropria o espaço em que se encontra para se apropriar de um novo espaço ao final da viagem. A cada espaço percorrido, revelam identidades que se moldaram em certas condições, condições na qual a personagem precisa se apropriar aproveitando-se das qualidades e se moldando para as dificuldades inerentes ao espaço em que se encontra.

Assim, torna-se necessário repensar a partida como um processo expansionista do ser humano, levando-o a olhar o antes e o agora, produzir valor naquilo que ficou para trás e valorizar o que está a sua volta no presente, promovendo assim uma ruptura do que é para proporcionar uma remodelagem e/ou até mesmo um deslocamento em seu ser, já que as mudanças tendem a promover conhecimento, adaptação e adequação à nova forma de vida escolhida.

Nesse entremeado de relações intrínsecas e extrínsecas na qual a personagem Pedro depara-se a cada partida e a cada chegada, torna-o mais forte.  A personagem é reordenada pela a fragmentação de uma identidade unívoca, singular. Esse sujeito cartesiano é interpelado pela pluralidade das muitas identidades que o compõem na pós-modernidade como postula Stuart Hall (2006). Entre as vivências e experiências adquiridas durante toda a viagem, de partidas rumo ao desconhecido, e de encontros inusitados, de confrontos ideológicos e conflitos internos.

Desse modo, as despedidas e os encontros promovidos pelas partidas e chegadas faz com que Pedro torne-se conhecido pela região. Outra linha dessa crise identitária está relacionada com a sua postura enquanto um professor, que além ser um excelente profissional, deve assumir uma postura enquanto educador.

Portanto, a obra A partida não se restringe apenas a metamorfose de Pedro, apresenta também um retrato vívido das peregrinações que muitos professores fazem no Estado do Acre, profissionais que se deslocam por grandes distâncias a fim de levar a instrução educacional para as sociedades e vilas ribeirinhas ou em localidades de difícil acesso, pelo interior do Estado. Esse deslocar do profissional, no caso de Pedro, foi uma dinâmica, como já mencionado, de ritual de passagem, mas não enquanto indivíduos, mas sim como profissional, gerando aí dois momentos, o pessoal e o profissional. Quanto ao profissional, será discursado esse processo identitário de Pedro enquanto professor no próximo tópico.

3. O PROFESSOR E A FRAGMENTAÇÃO DA IDENTIDADE DO SUJEITO NA PÓS-MODERNIDADE

O papel do professor no processo de ensino e aprendizado é fundamental para instigar aos alunos à transformação de realidades não satisfatórias à garantia e qualidade de vida da sociedade.

O trabalho de levar conhecimento no intuito de transformar realidade e tornar os alunos mais críticos é sempre um grande desafio. Embora a função de professor seja vista pela sociedade como “um detentor de conhecimento” o processo de ensinar vai além de repetir práticas educativas, repassar conteúdo ou até mesmo revisá-los, é preciso planejamento, estudos, criatividade e dedicação na busca de estratégias que conduza o aluno ao pensamento crítico.

Nas palavras de Freire (1996, p. 27):

Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a ele ensinar e não a de transferir conhecimento.  É preciso insistir: este saber necessário ao professor – que ensinar não é transferir conhecimento – não apenas precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica, mas também precisa ser constantemente testemunhado, vivido.

Por outro lado, também é uma exigência que esse profissional se mantenha de forma inalienável alicerçado nos valores éticos e morais impostos por uma sociedade patriarcal arraigada pelo conservadorismo que muitas vezes confunde regras morais com ética, enquanto a primeira se refere a tudo que é relativo aos costumes; a segunda tem a ver com o ser do sujeito, ou seja, seu caráter. Para Freire (1996), “não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos”.

Na obra A partida, nos deparamos com um jovem professor chamado Pedro que em busca de uma ascensão profissional saiu do seio familiar rumo ao Seringal Martins, no município de Feijó para ministrar aulas na Escola Municipal Pedro Afonso Correia. Com apenas 18 de anos de idade, esse jovem encarou o desafio de assumir uma sala de aula, na Zona Rural, sem saber os desafios que enfrentaria. Sua pouca idade diante do desafio de atuar como professor, fazia com que os pais de seus futuros alunos ficassem inquietos, preocupados, e isso se estendo ao longo da viagem, conforme descrito por Costa (2018, p. 22), “a cada nova localidade era apresentado aos ribeirinhos, na maioria pais de seus futuros alunos, que demonstravam no olhar as dúvidas a respeito do trabalho do garoto”.

Evidencia-se a preocupação das comunidades por onde o jovem passava. Apesar de ser jovem, destaca-se que o sujeito professor, independente do ambiente educacional, seja rural ou urbano, deve primar pela qualidade no processo de ensino e aprendizagem dos seus educandos, de modo a ultrapassar a esfera do “transferir conhecimento” para efetivar uma troca de saberes que contribuirá para o desenvolvimento social e intelectual do aluno.

A saber, Pedro mantinha com seus alunos uma relação que ia além do espaço de sala de aula, fator preponderante para isso, era o fato de morarem na mesma comunidade, onde todos se conheciam e participavam dos mesmos atos de confraternização. O cuidado que Pedro tinha com as crianças ao término da aula ao orientá-los terem cuidado no trajeto até suas casas, demonstrar a afetividade que existia entre professor e aluno. “- Até amanhã! Todo cuidado do mundo nesse varadouro, meninos”. (PARENTE, 2018, p. 31).

Quando o professor percebe a importância de pactuar com seus alunos essa troca de conhecimento, o processo passa a acontecer de forma efetiva e interativa. Além disso, é importante destacar que deve haver uma relação de confiança, harmonia e afetividade entre ambos.

De acordo com Freire (1996, p. 146)

Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual.

A partir do exposto, percebe-se que a pactuação entre professor e alunos devem ocorrer de forma a não transformar a sala de aula em um sistema opressor de ensino, e nem que haja uma flexibilização exacerbada, como se fosse um processo anárquico, é preciso que haja um equilíbrio entre a humanização e a disciplina, trazendo à baila os desafios que o profissional deverá enfrentar durante sua carreira.

O jovem professor descrito no Romance, buscava sempre que possível flexibilizar suas atividades com momentos de descontração ao presentear seus alunos com balas ou até mesmo as brincadeiras ao término das aulas.

É sabido que os desafios em atuar de forma equânime nessa profissão é preciso considerar que atrelado ao lado profissional, tem-se também o lado pessoal desse sujeito, e nessa transição, vislumbramos que a identidade oscila de acordo   com as suas vivências e a posição em que ele se coloca em determinados contextos históricos e sociais.

E é por meio desse movimento imbricado entre contextos históricos e sociais, somados a relação de vivências que este professor constrói com seus alunos é que sua subjetividade é impactada, numa crescente fragmentação identitária desse sujeito enquanto indivíduo e profissional. Identidade essa que passa a ser fragmentada no momento em que se propõe a ser educador/professor, já que a identidade é moldada pela circunstância interativa entre o Eu e o Outro na sociedade a qual está inserido.

Nesse sentido, retomando a obra A Partida é perceptível essa relação de desejo e determinação presente no íntimo desse professor. Esta determinação reluz no momento em que a personagem decide sair de casa em busca de uma melhor qualidade vida. Observa-se que o novo lhe proporcionou incertezas e inquietações, uma vez que nunca tinha saído do reduto familiar. O novo estava a sua frente, o contato com pessoas de diferentes características e comportamentos durante o trajeto da viagem proporcionou experiências vívidas e vividas, até a chegada ao Seringal Martins e, mesmo após a chegada, um novo ciclo interativo na qual estava trilhando continuou ganhando espaço. Processo que passaria a contribuir na reconstrução de sua identidade. Cabe salientar que o processo de formação da identidade de um sujeito nunca está pronto e acabado, mas sim em processo constante de formação uma vez que é fruto de um processo relacional com outros indivíduos, culturas e saberes.

[…] a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem (HALL, 2006,11).

Percebe-se a partir do excerto acima, que a aceitação do lugar, dos costumes e vivências faz parte do processo constitutivo da identidade. Esse processo reflete no professor, quando caminha pelas comunidades e aos poucos foi internalizando, ressignificando valores que promoveu o vislumbre de Pedro ao se reconhecer como parte dessa coletividade a qual passou a fazer parte.

A ressignificação e a internalização do novo como parte de sua própria identidade é compreensível, já que, segundo Santos (2006, p. 135), as identidades “[…] não são rígidas nem imutáveis. São resultados sempre transitórios e fugazes de processos de identificação… Identidades são, pois, identificações em curso”.

Nesse sentido, entende-se que a identidade do sujeito está sempre em construção, a depender do lugar em que está inserido. A cada dia, aprendemos algo novo e que pode ser absorvido ou renegado em nossas práticas diárias.

Segundo Hall (2006, p. 13)

O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor do “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas.

Nas reflexões de autores como Hall (2006) e Santos (2006) sobre a relação sociedade, indivíduo e identidade observa-se que a identidade do sujeito está relacionada intrinsecamente à sociedade moderna em constante processo de formação e como o sujeito se constrói perante ela, em oposição à sociedade tradicional que tinha a identidade como algo inato.

Nessa perspectiva, depreende-se ao longo da obra A Partida, uma mudança de comportamento do protagonista que outrora, em sua infância, era martirizado e agredido pelos próprios irmãos, principalmente por Pietra, sua irmã mais velha, ao buscar no seu íntimo um ato de bravura quando enfrenta Elias, o principal suspeito de vandalizar a escola e também mediante as ameaças e imposições postas no sentido de impedir Pedro de ir à casa do senhor Manoel, onde aconteceria um culto.

Ao receber tal notícia, o desafio foi fingir-se de forte e corajoso. Pedro sabia que por maior que fosse o perigo que lhe aguardava, se obedecesse a mensagem, daria margens para ser pisoteado para o resto da vida. A fama de medroso seria espalhada e os inimigos triunfariam. (PARENTE, 2018, p. 34)

Embora temendo o que poderia acontecer, caso fosse ao evento, Pedro não poderia deixar transparecer o medo do inesperado, tal comportamento nos leva a entender que “o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente” (HALL, 2006, p. 13), e isso se torna evidente quando o protagonista, por meio de um insight, já a muito desvelado, reconhece sua outra face, aquela que estava em seu âmago, roendo e correndo sua alma, promovendo conflitos de identidade quanto ao gênero que deveria perdurar. Esse reconhecimento o leva a um novo patamar, a uma nova aceitação identitária que estava em fase embrionária e que agora passou a eclodir e vislumbrar o que antes era negado: a aceitação de sua homossexualidade.

4. A ACEITAÇÃO DA IDENTIDADE HOMOSSEXUAL

A formação da identidade do sujeito está sempre em processo de construção, a depender da dinâmica das relações sociais. Por isso que ocorre o processo de fragmentação da identidade, uma vez que essas mudanças de identidade ocorrem de forma constante a depender do grupo em que o indivíduo está inserido, não nascemos com a identidade pronta e acabada, essa construção se dá gradativamente, dia após dia em um processo contínuo em que o sujeito vai se moldando entre vários aspectos.

Para Saffioti (1992, p. 210),

[…] não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro. É a totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo caráter do Eu, que entra em relação com o Outro. Cada ser humano é a história de suas relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições de gênero, classe, raça/etnia.

Dessa maneira, convém destacar o conflito interior vivenciado por Pedro, ao aceitar seus sentimentos por Henrique, “a Miragem”, o qual era descrito com um belo rapaz de “cabelos ondulados, lábios carnudos, músculos definidos e olhar fascinante que arrebatou o coração de Pedro de uma forma avassaladora” (PARENTE, 2018, p. 55).

Ademais, a primeira vez que Pedro o viu, ficou deslumbrado com a beleza singular desse jovem, a ponto de fazer o coração de Pedro pulsar mais forte, de outro lado, existia também um sentimento por Rebeca, “detentora de uma beleza particular; dona de olhos bem arredondados, um olhar profundo, lábios carnudos, pernas torneadas, cabelos longos e ondulados” (PARENTE, 2018, p. 38), que terminará o noivado com Gilmar, no intuito de namorar Pedro. E para burlar seus sentimentos por Henrique, Pedro não teve outra alternativa a não ser envolver-se com Rebeca, uma vez que temia que seu sentimento por Henrique pudesse ser descoberto: “- O que acontece comigo? Por que sinto essa emoção devastadora quando o vejo? O que o povo irá falar sobre mim? E ele, caso eu confesse o que sinto, fará o quê? E Rebeca? Não, não. Não posso ser.” (PARENTE, 2018, p. 68).

Para Pereira (2004), “as novas (várias) identidades são, por vezes, contraditórias. A nova concepção do sujeito se caracteriza pelo provisório, variável e problemático, alguém como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente”. Ao longo da narrativa, depreende-se que esse jovem, estava enfrentando uma crise de identidade em que seus sentimentos por Henrique iriam de encontro com os costumes existentes e inalienáveis do conservadorismo familiar da época.

A posição desse sujeito ao se assujeitar ao modo familiar tradicional que aceitava apenas o relacionamento entre homem e mulher, e o que fosse contrário a isso, seria totalmente discriminado, trouxe a memória do jovem os episódios vivenciados na infância.

Muitas foram as vezes que Pietra o chamara de “mulherzinha”. – Ah, como a alma dos feridos é sofredora. As marcas das agressões físicas o tempo se encarrega de apagar. Já as verbais, prevalecem na alma. Na escola sempre ouviu as infelizes e dolorosas ofensas. Mas só as lágrimas eram seu consolo. Afinal, como falaria a seus pais sobre um assunto tão “grave”. Seu pai era homem da roça; ter um filho homossexual o envergonharia profundamente. Seria um escândalo para toda a família. Talvez fosse expulso de casa. Para evitar tais transtornos, o melhor era ficar calado. (PARENTE, 2018, p. 71).

Essas lembranças torturavam imensamente o jovem, a ponto de reprimir seus sentimentos por Henrique. Enfrentar sua família bem como uma sociedade pautada por princípios tradicionais e repleta de preconceitos, faz esse personagem se transmutar no campo da identidade e reprimir seus sentimentos.

O entendimento do cotidiano, das identidades e das diferenças como construção social, histórica e cultural parece contribuir para a elaboração de projetos de emancipação, que serão construídos no presente a partir do inconformismo do passado e com a perspectiva do pensamento das opções, do futuro. Seguindo esse raciocínio, pode-se construir que os movimento gays, entendidos como local de questionamento, de construção de conhecimento, deveriam, a partir do pensamento do passado, das raízes, propiciar a elaboração de perspectivas para um pensamento do futuro, das opções (FERRARI, 2004, p. 26).

Observa-se um certo inconformismo de Pedro a ter que reprimir seus sentimentos por Henrique, porém não poderia deixar que seu trabalho e a reputação que havia construído no Seringal fosse desconstruído. Mas, diante dos acontecimentos, era preciso apropriar-se desse sentimento de inconformismo e se emancipar assumindo uma identidade que o fizesse realizado e feliz consigo. Em uma quebra de paradigmas impostos em determinada sociedade, o que o outro pode pensar ou prejulgar, muitas vezes estabiliza e reprime o processo de transformação desta sociedade em tornar-se emancipada e protagonista de seus atos, tendo que viver de forma reprimida em prol de costumes e tradições estagnadas numa sociedade envelhecida.

É sabido que ainda estamos arraigados em uma sociedade, que apesar de trazer discussões relacionadas às causas gays, especificamente a direitos e respeitos, o preconceito e discriminação ainda existem. “É necessário lutar para dar espaço aos estilos de vida homossexual, às escolhas de vida em que as relações sexuais com pessoas do mesmo sexo sejam importantes” (FOUCAULT, 2004a, p.119).

Imponderado desse sentimento de aceitação consigo, independente dos pensamentos de recriminação que poderiam surgir ao assumir-se homossexual, Pedro decide pedir a Henrique que o acompanhasse em sua partida, tão logo encerrasse o ano letivo na comunidade. Ambos estavam de acordo em assumir esse amor, precisavam apenas do consentimento dos pais de Henrique, consentimento esse que não foi possível, diante da catástrofe que separou os amantes dessa narrativa.

A canoa de seu Manoel estava amarrada em um galho de árvore. Devido à força das águas, pois o volume de água já era assustador, o galho quebrou justamente no momento em que Henrique estava na popa do barco desgostando-o. Ele tentou funcionar o motor, mas não obteve sucesso. A canoa, levada pela correnteza, rapidamente, ia ao encontro do despejo da Cachoeira do Chico. Desesperado, em meio à escuridão, nosso menino saltou. Saltou para encontrar a morte. Imediatamente fora tragado pelas águas (PARENTE, 2018, p. 129).

Apesar desse final trágico, depreendemos da obra que o jovem professor, não voltou a fugir de suas próprias verdades e nem reprimir seus desejos, a descoberta de uma nova identidade emergia em suas atitudes, os sentimentos não têm gênero, simplesmente amamos no intuito de sermos felizes, e para isso não precisamos ser aceitos por mais ninguém a não ser por nós mesmos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A identidade do sujeito professor independe da opção sexual assumida, essa profissão possui requisitos bem definidos e que devem ser seguidos por qualquer indivíduo que assuma o compromisso de ensinar. No entanto, quando sua atuação é no sentido de superar as discriminações, o educador pode contribuir para a formação de novas mentalidades e para a criação de uma sociedade mais democrática, principalmente quando isso se dá a partir do exemplo de sua própria aceitação identitária.

Ser professor é propor aos alunos que ultrapassarem os muros do conhecimento para que possam contribuir para uma mudança de realidade uma vez que esse processo de ensino aprendizagem vai além de passar e repassar conteúdo, requer planejamento e comprometimento em todos as etapas. Dessa forma, é preciso que o professor tenha compromisso de se reinventar para garantir aos alunos uma aprendizagem de qualidade e promissora.

A construção da identidade do sujeito está em constante mudança a depender da posição que ocupa em um determinado lugar, com um determinado grupo ligado a um contexto histórico-social.

A identidade do sujeito professor e a identidade do sujeito homossexual se difere a depender da posição em que estiver ocupando. Uma não se sobrepõe à outra, é preciso separar o comportamento profissional do pessoal. Por não possuir apenas uma identidade, mas muitas identidades, nos tornamos múltiplo nesse aspecto. Diante dessa diversidade de faces é imprescindível que o sujeito se coloque como sujeito de sua vontade, independente dos olhares de discriminação e preconceito. Assumir uma identidade homossexual em meio uma sociedade conservadora e exercer um direito de cidadania que é inalienável em um estado democrático de direito. A escolha sexual de uma pessoa não o diminui perante a sociedade, é preciso lembrar que se trata de um ser humano, com sonhos, vontades e sentimentos que precisam ser considerados e respeitados.

REFERÊNCIAS

COSTA, J. E. P. A partida. 1ª ed. Rio Branco: EAC Editor, 2018, 130 p.: il.

DERRIDA, J. Mal de Arquivo – uma impressão freudiana. Tradução Claúdia de Moraes. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.

FERRARI, A. Revisando o passado e construindo o presente: o movimento gay como espaço educativo. Revista Brasileira de Educação, n. 25, p. 105-115, 2004. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782004000100010&script=sci_arttext>. Acesso em: 20/05/2020.

FOUCAULT, M, 1926-1984. Ética, sexualidade, política. Organização e seleção de textos: Manoel Barros da Motta. Tradução: Elisa Monteiro; Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. (Coleção Ditos & Escritos: V)

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996.

OLIVEIRA, K. Partidas e chegadas: fenômenos migratórios na literatura juvenil. Revista escrita: Revista do Curso de Letras da UNIABEU, v. 6, n. 2, p. 286-291, 2015. Disponível em: <https://pdfs.semanticscholar.org/7ec1/ad58bd7c9fc0f1e9a4b15af70310f6d379eb.pdf>. Acesso em: 29/05/2020.

PEREIRA, H. R. A crise da identidade na cultura pós-moderna. Mental, v. 2, n. 2, p. 87-98, 2004. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-44272004000100007#Autora>. Acesso em: 02/02/2020.

PRADO, A. F. et al. Ser professor na contemporaneidade: desafios da profissão. [Revista Eletrônica Saber. Publicado em 15 jul. 2013] Disponível em: <https://www.inesul.edu.br/revista/arquivos/arq-idvol__1373923960.pdf>. Acesso em: 18/05/2020.

SAFFIOTI, H.I.B. Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, A. O.; BRUSCHINI, C. (Orgs.) Uma Questão de gênero. São Paulo; Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.

SANTOS, B. S. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 11.ed. São Paulo: Cortez, 2006.

VIANNA, C. Os nós do “nós”: crise e perspectiva da ação coletiva docente em São Paulo. São Paulo: Xamã, 1999.

[1] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade da Universidade Federal do Acre – UFAC (2020). Mestre em Letras pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR (2017). Especialização em Libras pela Faculdade Uniasselvi (2020). Especialização em Educação Especial Inclusiva pela Faculdade Acriana Euclides da Cunha – INEP (2014). Graduação em Letras Português e respectivas literaturas, pela Universidade Federal do Acre (2012)

[2] Mestranda em pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR (2020). Especialização em Gramática e Ensino de Língua Portuguesa pela Faculdade Barão do Rio Branco, UNINORTE, (2009). Graduação em Letras – Língua Portuguesa, pela Faculdade Barão do Rio Branco, UNINORTE, (2008)

[3] Doutorando em Letras: Linguagem e Identidade, pela Universidade Federal do Acre-UFAC; Mestre em Letras: Linguagem e Identidade, pela Universidade Federal do Acre-UFAC; Gradudo em Letras e Respectivas Literaturas, pela Universidade Federal de Rondônia-UNIR.

Enviado: Fevereiro, 2021.

Aprovado: Maio, 2021.

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Adel Malek Hanna

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