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Otimização do canteiro de obras logística aliada à segurança: Um estudo de caso de um canteiro de obras em Vitória Da Conquista – BA

RC: 52805
207
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

MENDES, Murilo Cardoso [1], ALMEIDA, André Luis de Souza [2], REBOUÇAS, Pedro Henrique Bitencourt [3], SANTOS, Larissa Sousa [4]

MENDES, Murilo Cardoso. Et al. Otimização do canteiro de obras logística aliada à segurança: Um estudo de caso de um canteiro de obras em Vitória Da Conquista – BA. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 10, pp. 104-115. Junho de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/canteiro-de-obras

RESUMO

A logística é um campo que tempo com escopo otimizar e gerir da melhor forma os processos que englobam uma determinada atividade. No âmbito da construção civil, a logística é particularmente eficiente, e, desse modo, parte-se do princípio de que sem um planejamento adequado os processos não são eficazes. Como exemplo de como esse campo pode contribuir pode-se citar o canteiro de obras. Com o emprego da logística, é possível agilizar diversas etapas, abastecer insumos, acomodar pessoas e máquinas, dentre outras possibilidades. A partir de uma revisão bibliográfica da literatura, o estudo tem como objetivo contribuir apresentando mecanismos logísticos que podem otimizar a esfera da construção civil, com vistas a fomentar a rapidez, a fluência e a economia em obras. Parte-se da hipótese de que é essencial pensar na logística somada à segurança e essa não pode ser encarada como um elemento secundário. Diante do contexto apresentado, o artigo visa refletir sobre como o bom uso dos mecanismos logísticos podem contribuir para com a eficiência de uma obra.

Palavras-chave: Logística, gestão, segurança, canteiro de obras.

1. INTRODUÇÃO

A esfera da construção civil tem se expandido de forma significativa, e, desse movo, novas abordagens e instrumentos têm sido empregados para tornar esse campo mais dinâmico. Eles precisam, por sua vez, caminhar para além das diretrizes técnicas. Nesse sentido, problemas relacionados aos prazos, ao desperdício e ao retrabalho, isto é, processos que englobam toda a logística dentro e fora do canteiro de obras, assim como questões relacionadas à segurança, têm sido discutidos na esfera acadêmica. Destarte, o presente estudo tem como escopo, a partir de uma revisão da literatura, discutir sobre como os processos de um canteiro de obras pode ser otimizado, visando-se, portanto, a facilitação da movimentação, e, também, evitar ou mesmo diminuir o número de baixas tocantes ao contexto da construção civil. A ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho) elaborou, em 2019, um documento que deve ser mencionado.

O Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT) aponta que apenas no ano de 2017 houve cerca de 549.405 acidentes ocorridos no trabalho em todo o território brasileiro. Apenas no âmbito da construção civil somaram-se 30.025 acidentes, correspondendo, portanto, à 5,46% do total. Nesse sentido, discutir sobre a otimização dos processos logísticos somados à segurança justifica a relevância desta proposta. O estudo é relevante, também, pois, segundo o mesmo Anuário, o número de afastamentos do labor por mais de 15 dias em razão dos acidentes totalizou 11.894 casos. Cheng (2010) aponta que, atualmente, o âmbito da logística teve um expressivo avanço em todas as suas dimensões, e, desse modo, essa área passou a ser empregada como uma ferramenta operacional, visto que as suas possibilidades de aplicação são bastante amplas e abrangentes. É, inclusive, uma vantagem estratégica.

Sobre o setor da construção, de acordo com os dados da Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), cerca de 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país corresponde ao setor em questão e há 2,6 milhões de empregados nessa área. Assim sendo, a segurança no canteiro de obras é um elemento primordial, pois interliga-se ao desempenho da logística e a falta de alinhamento entre ambas pode acarretar prejuízos de caráter pessoal, econômico e social. Para Sommer (2010), grande parte das perdas em obras se devem em razão da ausência ou deficiência no planejamento e controle da segurança. Aludem, ainda, que tanto o planejamento quanto o controle são requisitos obrigatórios no que tange as normas de caráter opcional e obrigatório em relação à segurança. De acordo com Hinze (2002) e Saurin, Formoso e Guimarães (2002) são elementos empregados em empresas que se destacam em segurança.

2. O CAMPO DA LOGÍSTICA

Inicialmente, o campo da logística foi cunhado pelo Council of Logistics Management, no ano de 1991. Esse ramo era compreendido, então, como um processo voltado ao planejamento, implementação e controle do fluxo e do armazenamento de forma eficiente e menos custosa. Compreende-se, também, nessa definição, o uso de matérias-primas, o estoque em processo, os produtos acabados, e, também, os dados que se estendem do ponto de origem até o ponto de consumo. Tem-se como escopo, portanto, contemplar, de modo eficaz, as demandas dos clientes. Desse modo, cabe destacar que a logística é uma área que está sempre em movimento, pois ainda está sendo desenvolvida. Contudo, é relevante à todos os segmentos, e, como exemplo, a pesquisa irá refletir sobre a sua abrangência e eficácia na esfera da construção civil.

Conforme Ballou (2006; 2011), a incorporação da logística no mundo corporativo tomou forma após a segunda guerra mundial. Em razão desse contexto, algumas características deram forma ao que ficou conhecido, posteriormente, como Logística Empresarial. Trata-se da logística desenvolvida para atender às demandas militares, que, por sua vez, estavam intimamente ligadas com os objetivos do meio empresarial. Assim sendo, manifestaram-se padrões de consumo diferentes, e, por outro lado, havia, também, uma grande pressão para que se reduzisse os custos, em razão, principalmente, do avanço tecnológico e da expansão da comunicação. Nesse contexto, Vieira (2009) alude que, à medida que os anos se findavam, as organizações passaram a enfatizar na administração de materiais/suprimentos, isto é, havia uma ênfase expressiva no conjunto de operações relativas ao fluxo de materiais.

Analisava-se desde a fonte da matéria-prima até a sua produção. Havia uma grande necessidade de se reduzir custos, e, assim, a estocagem era uma ferramenta em potencial para tal redução. Todavia, como reitera Vieira (2009), os métodos tradicionais voltados ao fornecimento de suprimentos foram substituídos por ferramentas mais avançadas com o mesmo fim. Cita, como exemplo, os métodos baseados em sistemas sincronizados de produção em fluxo sem estoques, conhecido como JITI (just in time). Dessa forma, um dado empreendimento pode ser construído mais rapidamente, e, ainda, com menos riscos, barulhos, sujeiras, confusões, e, ainda, conforme Vieira (2009), há menos perdas, desperdícios e erros. É preciso considerar, ainda, que o pessoal envolvido na obra é menor, o que acarreta a economia no que tange os serviços como alojamento, refeitório, higiene, equipamentos de segurança etc.

Essas despesas são compreendidas como indiretas, contudo, em um primeiro momento, a sua quantificação é essencial, pois são refletidas nos custos totais da construção. Nessa perspectiva, Vieira (2009) elucida que o planejamento do canteiro de obras precisa considerar, também, o planejamento das instalações, e, ainda, os procedimentos relacionados à segurança, em todas as suas dimensões. Desse modo, as instalações e os procedimentos necessários costumam ser numerosos, e, assim, é preciso que se proponha um planejamento específico para tal fim. Todavia, Vieira (2006; 2009) chama a atenção para o fato de que ele precisa ser integrado e, em hipótese alguma, pode se afastar das características do layout e da logística em uma sua dimensão global. Com tal caracterização, busca-se a otimização do acesso dos trabalhadores às instalações, evitando-se percursos perigosos que podem acarretar quedas.

Vieira (2006; 2009) chama a atenção, também, para o fato de que, ao planejar a logística, é preciso fomentar condições adequadas aos agentes envolvidos, tais como ventilação, iluminação, higiene, dentre outras. Tais condições são necessárias para que seja possível trabalhar em um ambiente salubre, de forma a não prejudicar a saúde humana no labor. É, portanto, mais do que uma forma de se cumprir as normas legais. É dever das organizações proporcionar um ambiente seguro e saudável, e, para tanto, além de se prezar pelo bem-estar do funcionário, é fundamental, também, que a empresa tenha o seu bem-estar respeitado. Nesse contexto, a segurança, a saúde e o ambiente laboral adequados são essenciais ao aumento da produtividade, à diminuição do custo do produto final e à redução de possíveis interrupções no exercício das funções em razão de acidentes e/ou doenças ocupacionais.

Destarte, as políticas que fomentam melhores condições de trabalho, bem como a própria segurança integra o processo de produção de uma empresa, e, desse modo, devem ser objetivos essenciais a serem aderidos e respeitados pela organização. Tais políticas visam, ainda, a preservação do patrimônio humano e material, assim como contempla, também, clientes e terceiros. Desse modo, conforme reitera Vieira (2006; 2009), as políticas garantem, ainda, a continuidade das atividades laborais, e, para tanto, enfatizam padrões tidos como adequados à produtividade, respeitando-se, nesse processo, a qualidade do serviço, a segurança humana e um ambiente laboral de qualidade.

3. A LOGÍSTICA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

A competitividade é uma realidade na esfera da construção civil. Ela, durante muito tempo, era praticamente inexistente. É, portanto, uma das principais preocupações que afligem os empresários desse setor. Segundo Vieira (2006; 2009), uma pesquisa realizada pela SINDUSCON no ano de 1997 já havia constatado que essa seria uma vantagem no contexto moderno, isto é, uma vantagem competitiva. Tal fato impulsionou as organizações no âmbito da construção a aderirem estratégias capazes de fomentar uma melhor eficiência operacional nas mais diversas atividades relacionadas à uma dada produção. Desse modo, o autor chama a atenção para o fato de que atividades de caráter operacional vigentes em um sistema construtivo, tais como o suprimento de materiais, componentes e serviços, armazenagem, processamento de materiais, locação de recursos humanos, fluxos físicos e dados são inerentes ao processo produtivo.

Em razão de tais atividades, os processos produtivos, conforme Vieira (2009), dever-se-ão tomar forma a partir de uma potencial redução de custos, bem com a partir do aumento da produtividade e do nível de serviço a ser prestado ao cliente em todas as suas dimensões. Assim sendo, é fundamental que haja uma estrutura administrativa-operacional adequada, que, por sua vez, precisa introduzir as concepções logísticas em tais atividades, pois esses mecanismos acarretarão um melhor planejamento, organização e controle de todo o empreendimento em construção, como alude Vieira (2009). Todavia, por outro lado, cabe destacar que os empresários do ramo da construção civil até entendem a necessidade de se enfocar nas atividades produtivas mencionadas, porém há uma carência na discussão e troca de informações entre os atores envolvidos em tal construção.

Conforme Peinado (2016), a interação é um fator primordial, pois, a partir dela, identifica-se possíveis dificuldades inerentes à um determinado processo, ou seja, a partir dessa troca objetiva-se encontrar soluções de caráter logístico. Contudo, o mesmo estudo frisa que ainda são de difícil as tecnologias da informação que impulsionam outros setores também tidos como industriais, isto é, essas tecnologias não são utilizadas em larga escala no âmbito da construção civil. Na verdade, elas são completamente desprezada. Vieira (2009) frisa, também, que os elementos de cunho administrativo precisam der discutidos e debatidos em uma fase anterior ao início propriamente dito da construção em questão. A partir dele deve-se aderir a um planejamento adequado, elaborando, portanto, a estrutura da cadeia de suprimentos do processo produtivo.

Depois de elaborada a estrutura é chegado o momento de planejar os fluxos que englobam os serviços, materiais, mão-de-obra, e, principalmente, as informações. Nesse sentido, espera-se que o sistema seja convertido em um bloco de atividades, e, segundo o estudo de Vieira (2009), elas precisam ser integradas, e, também, coordenadas.

4. A IMPORTÂNCIA DA SEGURANÇA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

De acordo com o Ministério da Fazenda (2018),em razão da quantidade em demasia de serviços ofertados pela esfera da construção civil, esse setor gera muitos empregos e exerce um papel sumário no Produto Interno Bruto Nacional (PIB). Essa participação significativa do âmbito da construção acompanha, também, um problema que tem se expandido: os acidentes e doenças no contexto laboral. O Anuário Estatístico da Previdência Social (2017) aponta que apenas esse setor somou 10,28% dos acidentes no ano de 2017. O documento aponta, também, que do total de acidentes do mesmo ano, o maior número está relacionado aos acidentes ocasionados durante a construção de edifícios (19,18%), o segundo setor com mais casos foi o de obras voltadas à geração e distribuição de energia elétrica e telecomunicações (7,92%) e os empreendimentos imobiliários totalizaram 6,40% dos casos.

Cabe ressaltar, também, nessa investigação, conforme os resultados observados pelo Anuário, que esses valores continuaram a aparecer nos anos anteriores, e, desse modo, é possível auferir que essas três vertentes podem ser compreendidas como as principais causas de acidentes de trabalho no âmbito da construção civil. Por outro lado, o estudo de Barbosa Filho (2015), aponta que os acidentes e lesões tido como graves ou fatais nesse setor derivam, em sua maioria, de certas causas corriqueiras. São elas a queda de alturas elevadas; soterramento; choque elétrico e choque ou impacto mecânico. A literatura aponta (COSTELLA; JUNGES; PILZ, 2014; SAURIN; FORMOSO; GUIMARAES, 2002; BARBOSA FILHO, 2015; PEINADO, 2016), também, que esse tipo de indústria possui uma série da aspectos que desencadeiam esses acidentes, e, dentre eles, pode-se citar algumas circunstâncias:

  • A corriqueira não participação do executor na etapa do projeto que visa identificar soluções para o projeto, de forma a garantir uma maior segurança na execução de tais atividades;
  • A ausência da elaboração de projetos de segurança, e, consequentemente, a falta de medidas que reduzem os riscos que podem se manifestar na execução de tais atividades;
  • Devido ao fato de os canteiros de obras serem temporários;
  • Em razão do número significativo de organizações de pequeno porte que fazem parte desse setor;
  • Em detrimento do uso de ferramentas artesanais e industrializadas para executar tais atividades;
  • Devido a rotatividade em demasia da mão-de-obra;
  • Em razão do uso significativo de mão-de-obra terceirizada;
  • Devido às mudanças tangentes à natureza do serviço em determinadas etapas da obra;
  • As mudanças climáticas e as horas extras para se agilizar a construção podem acarretar os acidentes;
  • A ausência dos custos relacionados à segurança e saúde do trabalho (SST) nos gastos da obra;
  • É comum que haja a competição de orçamentos, e, desse modo, contrata-se serviços pelos menores preços, sem se avaliar, portanto, como essa redução de gastos pode comprometer a segurança;
  • O pagamento por tarefas pode acarretar a redução de prazos necessários à realização de cada etapa da obras, e, assim, em muitas das vezes, desconsidera-se que o desempenho pode ser afetado em razão da falta de segurança.

Nesse sentido, de acordo com Caponi (2004), a construção civil é um ramo que apresenta uma vasta quantidade acidentes, e, assim, há certas características que o difere de outros setores, e, desse modo, pesquisas que se proponham a apresentar mecanismos voltados à orientação às empresas para que enfatizem na segurança são importantes. Entende-se, nesse estudo, que a segurança e a saúde no labor são de interesse de múltiplos agentes: desde funcionários até dos gestores, do governo e da sociedade como um todo. A temática é relevante pois a ausência da segurança acarreta problemas sociais e, ainda, um elevado ônus econômico. Assim sendo, a pesquisa de Vendrame e Graça (2009) disserta que os acidentes de trabalho afetam, também, a produtividade econômica, e, desse modo, impacta-se, de forma substancial, o sistema de proteção social, bem como o nível de satisfação do trabalhador é reduzido.

Caponi (2004) e Vendrame e Graça (2009) defendem a ideia de que a falta de segurança nos ambientes corporativos brasileiros oneram diversas dimensões do país de modo substancial, pois há gastos com benefícios acidentários, aposentadorias especiais, assistência à saúde do acidentado, indenizações, retreinamentos, reinserção no mercado de trabalho, sem contar as inúmeras horas de trabalho perdidas. Destarte, atualmente, mesmo que haja pesquisas que se voltem a conscientizar os empregadores da importância da segurança no exercício do labor, por outro lado, segundo Barbosa Filho (2015, p. 3): “é razoável admitirmos que o atual estágio de conhecimentos disponíveis seja bastante para propiciar o domínio técnico desses riscos, sendo, portanto, possível a execução segura desses labores”. Aufere-se, então, que mesmo que se conheça a SST, a maioria das organizações se limitam ao atendimento de parte da legislação.

Há diversas diretrizes que enfatizam a segurança nas obras e como pode ser incorporada, e, caso sejam implementadas da forma correta, haveria uma melhora expressiva nas condições laborais as quais o trabalhador está submetido. Todavia, o que se observa na prática é que os responsáveis pela execução das obras no setor, sobretudo no caso da criação de edifícios, conhecem e colocam em prática apenas alguns requisitos da Norma Regulamentadora n°18 (NR 18) e de outras NRs, ou seja, não há uma ênfase em todos os aparatos legais que garantem a segurança na execução das obras. Nesse sentido, sem o conhecimento amplo dessas diretrizes torna-se inviável a construção de uma cultura de segurança que deve perpassar desde os trabalhadores até os setores gerenciais. Tal desconhecimento, somado ao despreparo para se trabalhar com segurança, são problemas que podem ser visualizados no canteiro de obras.

O estudo de Costella, Junges e Pilz (2014) aponta que após a análise de cento e quinze (115) canteiros de obras, que, por sua vez, eram construções de pequeno, médio e grande porte, foi possível observar que uma parcela significativa das obras de grande porte atenderam, em média, 64,7% das disposições legais voltadas à segurança (NR 18). As obras de médio porte, por sua vez, atenderam, aproximadamente, 45,6% dos itens necessários, e, por fim, as obras de pequeno porte atenderam cerca de 19,7% das recomendações. Já era esperado que as obras de grande parte fossem mais comprometidas com a segurança e saúde do funcionário. Contudo, há, ainda assim, um descaso, pois 35,3% dos itens recomendados foram descartados, isto é, não foram atendidos. Desse modo, percebe-se que se outras normas fossem contempladas, o percentual de requisitos não atendidos iria aumentar consideravelmente.

As reflexões de De Mori e Matsubara (2016), por sua vez, apontam os seguintes resultados: ao analisarem trinta (30) canteiros de obras, constatou-se que havia, aproximadamente, seiscentos e vinte e seis (626)  não conformidades. Desse não atendimento à regulamentação, 69% dessas faziam remissão ao não atendimento dos dispositivos da NR 18. Por outro lado, 11% desse não atendimento correspondeu aos equipamentos de proteção individual (NR 6); 6% equivaleram aos trabalhos em grandes alturas (NR 35) e 4% faziam remissão as outras NRs levadas em consideração na análise. Assim, De Mori, Miotto e Canova (2016) aludem que as práticas adotadas pela maioria das empresas analisadas no que tange a diminuição ou eliminação dos ricos, e, assim, o número de acidentes de trabalho, voltam-se ao uso de ferramentas e do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho (SGSST).

Essas práticas são de suma relevância, contudo, segundo De Mori, Miotto e Canova (2016), o avanço tecnológico que experienciamos nos últimos ano promoveu significativas mudanças, e, com isso, há novos recursos que podem ser implantados no âmbito da construção civil. Eles contribuem de modo substancial para com a segurança e saúde no exercício do labor, e, desse modo, precisam ser incorporados. Alguns recursos podem ser citados como exemplo. Eles são as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a Modelagem das Informações na Construção (BIM)  e a realidade virtual e aumentada. Nesse sentido, pode-se inferir que mesmo que haja diversas normas e regulamentações que priorizam a segurança e a saúde, é urgente, ainda, a criação de uma cultura que também privilegie a segurança por parte dos responsáveis pela obra, pois essa é uma maneira de se respeitar a integridade do funcionário.

Nessa perspectiva, é fundamental que os responsáveis busquem, continuamente, pelo conhecimento atualizado das normas voltadas à segurança. E, mais do que conhecer, devem adotar os requisitos de SST que são traduzidos em dispositivos legais (normas), em recomendações técnicas e em manuais que promovem boas práticas tangentes à segurança no ambiente laboral. É necessário enfatizar, também, que a implementação de um SGSST e a busca por ferramentas modernas, inovadoras e atuais passíveis à aplicação no âmbito da construção civil são de suma importância.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da revisão da literatura aqui proposta, é possível concluir que é de suma importância que haja o planejamento e cuidado com a segurança. É algo garantido pela lei e pelas normas, contudo, entendemos que é mais do que uma obrigação legal, é um compromisso para com o trabalhador. Desse modo, a pesquisa buscou enfatizar que é importante que os responsáveis pela obra a acompanhem durante toda a sua execução, pois tomar decisões com base nessas observações pode otimizar a entrega, e, mais do que isso, sem comprometer a saúde e a segurança daquele que executa as atividades voltadas à essa construção. É, também, uma forma de se garantir que os processos sejam bem articulados e que os prazos estipulados sejam cumpridos.

É unanime entre os autores citados neste artigo a opinião sobre a pouca bibliografia existente no que tange o tratamento a logística e por isso tem sido o papel estratégico do engenheiro civil que tem feito a diferença para uma logística adequada e eficiente no canteiro de obras. A segurança, que a muito tem sido negligenciada, tem nos mostrado, a partir de dados reais, que se investir em segurança, apesar do que os pensamentos retrógrados dizem, não traz prejuízo algum, e, desse modo, o colaborador necessita ser tratado e protegido como um bem inegociável e a segurança, por sua vez, precisa ser tratada como um valor e não apenas para uso estatístico. Os canteiros de obras no Brasil ainda precisam evoluir. Essa evolução se faz urgente porque a segurança e a saúde desses funcionários ainda não é priorizada.

Os canteiros observados pelos autores apresentados ainda tendem a não atender grande parte das recomendações que fomentam a segurança e a saúde, e, desse modo, treinamentos desse pessoal responsável pelas obras a fim de que entendam a relevância da segurança e como colocá-la em prática se fazem igualmente urgentes. Como apresentado, os dados obtidos pelos autores supracitados apontam para uma necessidade urgente: a conscientização acerca das normas já existentes. Contataram que uma parcela pequena desses gestores da construção civil conhecem as NRs existentes. A análise desses autores não abarcou todas as normas, visto que os canteiros observados não aderiram à todas as NRs. Com isso, pode-se finalizar essa discussão afirmando que o conhecimento e aplicação ampla de tais dispositivos é urgente.

REFERÊNCIAS

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VIEIRA, H. F. Logística Aplicada à Construção Civil: como melhorar o fluxo de
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[1] Bacharelando em Engenharia Civil pela Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR.

[2] Graduado em Processos Gerencias pela Uninter, supervisor operacional na empresa Santa Rita Locações e Bacharelando em Engenharia Civil pela Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR.

[3] Bacharelando em Engenharia Civil pela Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR.

[4] Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. Especialização em Gerenciamento de Obras. Graduação em Engenharia Civil.

Enviado: Junho, 2020.

Aprovado: Junho, 2020.

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Murilo Cardoso Mendes

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