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Estudo da utilização da berma de equilíbrio – reforço em barragens de rejeitos: revisão bibliográfica

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SODRÉ, Wyllyam Washington Borges [1]

SODRÉ, Wyllyam Washington Borges. Estudo da utilização da berma de equilíbrio – reforço em barragens de rejeitos: revisão bibliográfica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 12, Vol. 07, pp. 121-140. Dezembro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/berma-de-equilibrio

RESUMO

As barragens de rejeitos são estruturas construídas de terra que visam a retenção de água e resíduos sólidos dos processos de extração de minérios, sendo necessárias a fim de se evitar danos para o setor ambiental. As barragens de rejeitos, quando exploradas em função da sua evolução construtiva dentro do setor civil, apresentam um retardo reduzido ocasionado pela escassez de estudos específicos na área e, principalmente, devido ao receio de aprofundamento no assunto perante a quantidade de desastres associados à essas estruturas. Diante disso, no setor construtivo, cada vez mais, é enfatizada a importância do monitoramento e instrumentação de forma contínua para as barragens de rejeitos, seguindo as políticas envoltórias e os fatores positivos atrelados à utilização das bermas de equilíbrio, uma vez que as barragens de rejeitos são de alto potencial de risco a sociedade e ao meio ambiente. Nesse sentido, o presente material, está baseado na seguinte pergunta norteadora: Qual o nível de estabilidade alcançado com a utilização da berma de equilíbrio como reforço estrutural para uma barragem de rejeitos? Assim, o objetivo geral foi demonstrar as condições que influenciam diretamente a estabilidade e segurança das barragens de rejeitos. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica, baseada em artigos científicos, sobre a utilização da berma de equilíbrio como reforço em barragens de rejeito entre 1998 e 2020, em português, na base de dados Google Acadêmico. As bermas de equilíbrio são construídas de modo a compensar os momentos atuantes existentes ocasionados pelo peso do aterro criando um momento contrário ao de ruptura garantindo a estabilidade total do conjunto formado pelo solo mole e pelo aterro − além de elevar o fator de segurança da barragem. Geralmente, uma barragem que apresenta fator de segurança maior que 1 em todos os métodos utilizados, é estável e segurança A utilização de bermas de equilíbrio representa uma solução ao aumento do fator de segurança e à estabilidade das barragens, contudo, deve-se analisar de forma especifica o tipo de obra.

Palavras-chave: Barragens de rejeitos, fator de segurança, berma de equilíbrio.

1. INTRODUÇÃO

Uma barragem segura é aquela cujo desempenho consegue satisfazer as exigências de comportamento necessárias para evitar incidentes, especialmente aos que se referem aos aspectos estruturais, econômicos, ambientais e sociais (SILVA et al., 2007). As barragens de contenção de rejeitos, são estruturas construídas para conter os materiais resultantes do minério, trabalhando em estágio e diminuindo assim, os custos de operação (ESPÓSITO e DUARTE, 2010).

Diante dos diversos acidentes ocorridos em barragens de rejeitos, com graves consequências ambientais e perdas particulares, evidencia-se a importância da prática do monitoramento adequado e planejado através de inspeções periódicas, sistemas de observação com instrumentos específicos, controle topográficos de deslocamentos, dentre outros aspectos, a fim de se evitar ocorrências de precipitação extrema que ocasionem a suspensão das operações da barragem (OLIVEIRA, 2019).

Para Oliveira (2019), diante dos rompimentos de barragens de rejeitos cada vez mais frequente no Brasil, os reforços nessas estruturas vêm ganhando força e as empresas de engenharia, cada vez mais, buscam medidas que tragam mais segurança às pessoas e ao meio ambiente. Nesse sentido, as bermas de equilíbrio representam um dos reforços utilizados para aumentar o fator de segurança (Fs) (OLIVEIRA, 2019). Visando isso: Qual o nível de estabilidade alcançado com a utilização da berma de equilíbrio como reforço estrutural para uma barragem de rejeitos?

Este, tem o objetivo geral demonstrar as condições que influenciam diretamente a estabilidade e segurança das barragens de rejeitos. Para isso, serão utilizados os seguintes objetivos específicos: caracterizar as barragens de rejeitos de mineração; salientar os aspectos e mecanismos de ruptura e monitoramento de barragens de rejeitos; demonstrar os aspectos notáveis da utilização da berma de equilíbrio em barragens de contenção de rejeitos.

Foi realizada uma revisão bibliográfica, baseada em artigos científicos, sobre a utilização da berma de equilíbrio como reforço em barragens de rejeito entre 1998 e 2020, em português, na base de dados Google Acadêmico. Foram utilizadas as palavras-chave “Berma de equilíbrio”, “Barragens de rejeito”, “Reforço em barragens”. Na busca, foram encontrados 34040 resultados e a partir desses, utilizados 25 artigos para elaboração desta pesquisa. Os critérios de inclusão, incluíram a pertinência ao conteúdo de barragens de rejeitos, reforço em barragens e berma de equilíbrio, dentro do intervalo limite desta revisão, sendo excluídos os artigos que não atendiam esses conteúdos e período específicos, estando, a pesquisa bibliográfica, baseada em elaborações acadêmicas diretamente atreladas à linha de pesquisa.

2. BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS DE MINERAÇÃO

A grande quantidade de produção de rejeitos minerais provenientes das etapas de beneficiamento do minério tornou viável a construção de diques que servissem como armazenamento desses materiais, formando assim as barragens de rejeitos (SOUZA JUNIOR et al., 2018). De acordo com Espósito (2000), os rejeitos têm a finalidade de extrair os elementos visando o interesse econômico.

A partir da década de 1930, com o objetivo de reduzir o impacto ao meio ambiente e manter a manutenção da mineração, a indústria passou a investir na construção das primeiras barragens de contenção de rejeitos. Geralmente, as barragens construídas no século XIX, eram projetadas aos cursos d’água e suas considerações eram limitadas exclusivamente para as inundações, com isso essas barragens dificilmente se mantinham estáveis durante as fortes chuvas (MELLO e PIASSENTIN, 2011).

Mello e Piassentin (2011), ressaltam que, no século 19, raramente existiam engenheiros ou normas técnicas que direcionavam as fases de construção e operação das barragens de contenção de rejeitos.  Somente a partir da década de 40, tornou-se possível a construção desse tipo específico de barragens com técnicas de compactação e maior segurança − devido ao surgimento de equipamentos de movimentação de terras.

Espósito e Duarte (2010), enfatizam que as barragens de contenção de rejeitos são estruturas construídas para conter os materiais produzidos, paralelamente ao produto, no processo de beneficiamento do minério. Essas barragens são executadas em estágios, na medida em que os rejeitos são gerados, diluindo, assim, os custos da construção e da operação. A figura 1 apresenta um exemplo de barragem de rejeitos minerais.

Figura 1 – Barragem de rejeitos de Itabiruçú/MG.

Fonte: SIMI, 2019.

O projeto de barragem de rejeitos é um projeto específico inserido no contexto da construção de barragens convencionais. No entanto, existem algumas diferenças fundamentais entre as técnicas de projeto e construção usadas para barragens de terra convencionais e barragens de rejeitos (SOARES, 2010).

Em conformidade ao estudo de Soares (2010), nas barragens de terra é visto que os materiais são mais adequados, possuem melhores características e sempre praticam o controle de compactação. No entanto, os materiais usados para construir as barragens de rejeitos geralmente contêm uma porcentagem maior de água, e a adversidade causada pela liquefação quase sempre ocorre em proporção mais severa.

Conforme diretrizes da NBR 13.028 (2017), as barragens de rejeitos podem ser construídas com terra (solo), enrocamento ou com o rejeito próprio. Estas podem ser classificadas em barragens de mineração para: disposição de rejeitos, contenção de sedimentos gerados por erosão hidráulica, acumulação de líquidos contaminados, coleta de percolado e barragens de polimentos, fechamento de cavas exauridas em cavas de mineração e acumulação de água industrial para o beneficiamento do minério.

Na forma mais comum, os rejeitos são dispostos a céu aberto, e podem ser construídos com material compactado oriundo de áreas de empréstimo, ou material do próprio rejeito, partículas de granulometria mais grossa, que podem ser separadas pelo processo de ciclonagem. Esse processo da ciclonagem, separa granulometricamente as partículas menos densas e finas das partículas mais densas e grossas, por efeito da pressão (LOZANO, 2006).

Os métodos de alteamentos referem-se ao aumento da altura da barragem e consequentemente, ao aumento do nível de água do reservatório, ou seja, à direção na qual ocorre o deslocamento do eixo da barragem em relação ao dique inicial, à medida que a altitude aumenta. Conforme observado na Figura 2, os três métodos mais comuns nos alteamentos são: a montante, a jusante e linha de centro (SABBO et al., 2017).

Figura 2 – Métodos construtivos de alteamentos em barragens de rejeitos.

Fonte: Araújo, 2006.

Sendo o método mais utilizado e viável economicamente em curto prazo, Araújo (2006) define o método de montante a partir da construção de um dique de partida. Posteriormente, os rejeitos são lançados a montante da linha de simetria do dique, formando o que se tornará a fundação para o próximo alteamento, e assim sucessivamente até atingir a cota final de projeto.

No método de jusante, a linha do centro (eixo da barragem), se move a jusante durante os processos de alteamentos. Além de necessário a construção de um dique inicial com dispositivos de drenagem interna (filtro vertical e tapete drenante), o seu talude a montante deve ser impermeabilizado. Esse método utiliza apenas rejeitos grossos e a barragem pode ser projetada para ter alturas elevadas, sempre incorporando sistemas de drenagem e impermeabilização (SOARES, 2010).

Sabbo et al. (2017), ressalta que método de alteamento por linha de centro é considerado um método intermediário aos métodos anteriores. Primeiramente, é construído um dique de partida e o rejeito é lançado de maneira periférica da crista do dique até formar uma praia. O alteamento seguinte é feito lançando os rejeitos sobre a praia formada e sobre o talude de jusante do dique de partida.

Soares (2010), através de um estudo paramétrico, pode discriminar e analisar de forma comparativa os três métodos de alteamento mais comuns em barragens de contenção de rejeitos de mineração, o que pode ser observado na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Análise comparativa entre os métodos de alteamento.

Aspectos/Tipo Montante Jusante Linha de Centro
Tipo de rejeito Mais de 40% de areia. Baixa densidade de polpa para promover segregação. Qualquer tipo Areias ou lamas de baixa plasticidade
Armazenamento de água Não recomendado para grandes volumes Boa Não recomendado para armazenamento permanente
Resistência sísmica Baixa em área de alta sismicidade Boa Aceitável
Restrições de alteamento Sugere-se menos de 5 a 10 m/ano Pouca
Requisitos de alteamento Solo natural Rejeitos ou estéril Rejeitos ou estéril
Custo relativo do aterro Baixo (Vm) Alto (3Vm) Médio (2Vm)
*Vm = Volume da barragem pelo método de montante.

Fonte: Soares, 2010.

O método de execução que deve ser escolhido irá depender de uma série de fatores apresentados, tais como: o tipo de processo industrial, as características geotécnicas do local, nível e volume de produção de rejeitos, além da necessidade de verificar a sismicidade, topografia, hidrologia e os custos envolvidos da execução (ARAÚJO, 2006).

Assim, Soares (2010) constatou que a construção de barragens de rejeito deve ser um processo continuado, isto é, estendendo-se por praticamente todo o período da atividade mineira, possibilitando um acompanhamento dos resultados e possíveis modificações e aprimoramentos do projeto inicial. Desse modo, pode-se dispor, de forma segura, todos os rejeitos gerados no processamento, minimizando os riscos de acidentes.

3. MECANISMOS DE RUPTURA E MONITORAMENTO DAS BARRAGENS DE REJEITOS

Segundo Valerius (2014), para conhecer o comportamento das barragens de rejeito, tanto as condições normais que estão sujeitas como os eventos extremos, são necessárias os conhecimentos dos principais modos de ruptura na qual esse tipo de estrutura está sujeito, para assim, poder executar a barragem de forma mais segura.

Zardari (2011) apresenta, em sua pesquisa, alguns dos principais mecanismos de falhas, suas causas e possíveis medidas de ações que podem estabilizar e restringir a ruptura da estrutura, sendo eles:

– Instabilidade dos taludes: pode ocorrer devido à sobrecarga da fundação ou do depósito de rejeitos. Devem-se propor medidas de reforço do solo, instalação de trincheira drenante ou execução de drenos horizontais.

– Erosão interna (Piping): pode ocorrer devido ao controle inadequado da percolação ou projeto de drenagem ineficiente. Propõem-se realizar um alteamento para jusante e implantar um tapete drenante, instalar trincheiras drenantes e executar sondagens horizontais.

– Galgamento: ocorre devido a projeto hidráulico inadequado ou devido ao nível de água do reservatório estar muito próximo da crista. Devem-se construir vertedouros, abrir decantadores e ligar as bombas de emergência.

– Erosão externa: ocorre devido a inclinação incorreta do talude e pé da barragem. Propõem-se a construção de bermas de equilíbrio no talude à jusante assim como, o deposito de uma camada de estéril na face do talude a jusante ou a implantação de enrocamento de pé no talude a jusante.

Os inúmeros acidentes ocorridos devido à falta de monitoramento das mineradoras em gerenciar procedimentos de segurança que reduzam os riscos é uma situação mundial. Em alguns casos, que podem ser observados na Figura 3 e Figura 4, apresentam os resultados após os rompimentos das barragens sendo, todos eles, relacionados à falta de inspeção dos diques dos sistemas de drenagem (SABBO et al., 2017).

Figura 3 – Lama sobre a ilha localizada próxima a barragens de rejeitos em Mariana (MG).

Fonte: SIMI, 2019.

Figura 4 – Caminho de lama resultante do rompimento das barragens de rejeito em Brumadinho (MG).

Fonte: SIMI, 2019.

A Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), regida pela Lei nº 12.334 de 2010, tem como objetivo garantir que sejam cumpridos os padrões de segurança, reduzindo a ocorrência de acidentes; regulamentar as ações de segurança nas etapas de construção e promover o monitoramento depois da finalização.

Para que uma barragem de rejeito siga os requisitos de segurança, é essencial que ocorra um monitoramento, apresentando as avaliações de risco para cada etapa de estudo e projeto, tudo que pode acontecer de errado com essas estruturas, identificando os modos, possibilidades e ocorrências de falhas, resultando em estudos que possam gerenciar todos os riscos analisados (OLIVEIRA, 2010).

De acordo com Resende e Dantas (2016), o monitoramento das barragens em questão, modifica conforme as características apresentadas, e para tal, é imprescindível o estabelecimento de um plano que realize inspeções frequentemente das condições da crista e taludes das barragens, onde seja possível notar a presença de manifestações patológicas como trincas paralelas a crista ou no pé do talude de jusante − além de observar manchas de umidade, erosão superficial ou crescimento acelerado da vegetação.

Para um eficiente plano de monitoramento e gerenciamento, Cardozo; Ruver e Gehling (2020), afirmam que a instrumentação da barragem durante as etapas de execução, operação e manutenção é a razão primordial quanto à confiabilidade e estabilidade da estrutura. As etapas da instrumentação, conforme esquematizado na Figura 5, devem ser seguidas através de um árduo planejamento da instrumentação, definição da equipe executiva e análise crítica dos resultados.

Figura 5 – Esquema das fases da instrumentação.

Fonte: Machado, 2007.

Através dessas etapas, é possível avaliar o comportamento hidráulico-mecânico das barragens de rejeito, tanto na sua fase construtiva quanto no seu período de operação. Os resultados obtidos são comparados com os valores previstos em projeto para a sua operação de forma segura, através dos valores de carga de pressão e dos deslocamentos, vazões e tensões presentes na estrutura ou maciço de fundação da barragem (AFFONSO, 2004).

Os projetos de instrumentação, devido à grande variedade de locais e soluções aplicáveis, variam conforme seja a situação. Por isso, em um programa de instrumentação, é importante conhecer os fatores locais e os programas já realizados em barragens semelhantes, para que sejam escolhidos os instrumentos ideais e dimensionem quais os objetivos pretendidos que se deseja alcançar (RESENDE e DANTAS, 2016).

As leituras podem ser baseadas na utilização de equipamentos mecânicos (leitura realizada pelo operador) ou equipamentos que utilizam sensores elétricos associados ao sistema de aquisição de dados (geralmente as medições são obtidas por sensores elétricos), sendo que o primeiro tipo é mais adequado para locais onde não é necessária a instalação de muitos sensores. Por outro lado, os equipamentos que operam por sistemas eletrônicos caracterizam-se pela rapidez nos resultados obtidos, permitindo uma eficaz análise dos dados (FILHO, 2017).

Os instrumentos de medição mais comuns utilizados na instrumentação são: piezômetros, marcos topográficos, medidores de deslocamento (horizontal/vertical), inclinômetros, extensômetros células de carga e tensiômetros (RESENDE e DANTAS, 2006). A Figura 6, apresenta um esquema de projeto de monitoramento de barragens utilizando alguns instrumentos de medição.

Figura 6 – Seção de projeto de monitoramento de barragens sobre solos moles.

Fonte: Filho, 2017.

Machado (2007), concluiu que o monitoramento realizado pelos instrumentos proporciona acompanhar alterações das grandezas medidas pelos instrumentos em quaisquer fases da barragem. Com isso qualquer resultado ou comportamento atípico que venha a ocorrer será possível solucionar de forma rápida aplicando todas as medidas para garantir os níveis de segurança para a população.

Cardozo; Ruver e Gehling (2020), apontam que o monitoramento quando operado de forma adequada, automatizada e conectada, proporcionam uma inteligente estruturação de um sistema de monitoramento de segurança de barragens de rejeitos, ocasionando vantagens a todos os envolvidos nas proximidades da barragem.

4. UTILIZAÇÃO DE BERMAS DE EQUILÍBRIO EM BARRAGENS DE REJEITOS

Palmeira e Ortigão (2004), afirmam que executar aterros em solos de fundação com baixa resistência, é uma atividade que requer soluções de estabilidade, dentre essas soluções destacam-se: a utilização de bermas de equilíbrio, melhoramento do solo e aplicação de geossintéticos.

De acordo com Perboni (2003), os métodos de estabilização física envolvem a alteração da geometria do sistema ou o uso de equipamentos auxiliares, como as bermas de equilíbrio, que são usadas, por sua vez, ​​como elementos laterais de compensação de tensões causadas por sobrecargas em fundações de solo mole.

Em barragens de rejeito onde são encontrados valores abaixo do fator de segurança (Fs), devem ser tomadas medidas que assegurem as condições de estabilidade (FILHO, 2017). Através de estudos realizados, pode-se sugerir a utilização de bermas de equilibro a jusante da barragem (FILHO, 2017).

As bermas são responsáveis por criar um momento contrário ao de ruptura ocasionado pelo peso do aterro. Quando o solo de fundação não permite que um aterro seja alteado rapidamente, utiliza-se a técnica de estabilidade das bermas, como pode ser visto na prática através da Figura 7, para que este aterro possa ser executado sem que ocorra a ruptura. (PERBONI, 2003).

Figura 7 – Utilização de bermas de equilíbrio em volta do aterro de solos moles.

Fonte: Perboni, 2003.

As bermas de equilíbrio são construídas com a finalidade de compensar os momentos atuantes existentes, de modo a garantir a estabilidade total do conjunto formado pelo solo mole e pelo aterro − além de elevar o fator de segurança da barragem. A metodologia executiva da construção é unicamente física, sem alterar quaisquer características da fundação do solo existente (PERBONI, 2003).

Perboni (2003), acredita que as únicas restrições na construção das bermas de equilíbrio estão relacionadas à utilização de amplas áreas laterais, necessárias para sua instalação, além da quantidade elevada de material de aterro fundamental.

Para Filho (2017), bermas de equilíbrio representam elementos utilizados para garantir a estabilidade global do conjunto formado pelo solo mole e pelo aterro, de modo que a estrutura compense os momentos instabilizantes com consequente aumento do fator de segurança.

Bello (2004), informa que foi realizado um estudo para verificar o efeito no cálculo do fator de segurança quando a berma lateral é construída ou o contrapeso é colocado no lado oposto do aterro. Esta solução, é geralmente utilizada, quando há a necessidade de aumentar a estabilidade da estrutura aumentando o momento de resistência.

De acordo com o DNER-PRO 381 (1998), as bermas de equilíbrio são empregadas para estabilizar e suavizar a inclinação média de um talude de um aterro, levando a um aumento do fator de segurança contra a ruptura. O projeto de bermas é feito por tentativas, variando-se a geometria do problema até se obter o Fs desejado. A Tabela 2 abaixo, indica os fatores de segurança mínimos que devem ser atingidos ao final de construção do aterro:

Tabela 2 – Fatores de segurança mínimos.

ATERRO CLASSE FS MÍNIMO
I 1,4
II 1,3
III 1,2

Fonte: DNER-PRO 381, 1998.

Geralmente, uma barragem que apresenta fator de segurança maior que 1 em todos os métodos utilizados, é estável e segurança. Contudo, deve-se analisar de forma especifica o tipo de obra. À exemplo disso, Branquinho (2014) constatou que, em uma obra de altos impactos ambientais, riscos e − grande complexidade devido ao seu porte, eleva-se o fator de segurança, utilizando uma ou mais bermas no pé do talude a jusante aplicando um peso nesta área e, consequentemente, aumentando o fator de segurança.

A Figura 8, ilustra a construção de aterro sobre solo mole com bermas de equilíbrio laterais. Caputo (1998), ressalta que as bermas são construídas junto ao aterro principal com o objetivo de gerar forças contrarias às forças provocadas pela carga do aterro – responsáveis por causar ruptura nas barragens.

Figura 8 – Detalhe das bermas de equilíbrio em corte.

Fonte: Bouch, 2017.

Essas plataformas laterais vistas na figura anterior, apresentam um bom resultado, sobretudo porque são construídos a partir do aterro, para o qual é gerado um momento resistente, que colabora com a resistência contra o cisalhamento terrestre compressível contra o momento de ruptura gerado pela carga do aterro (MACHADO, 2012).

Ainda de acordo com Machado (2012), também é possível o deslocamento dos materiais instáveis durante a forma de realização do aterro, na utilização das bermas de equilíbrio, uma vez que eles servem como contrapeso quando o aterro principal sofre carregamento.

Para o cálculo das bermas, Caputo (1998), ressalta que elas são dependentes da altura crítica do aterro, respeitando a resistência ao cisalhamento do solo em sua camada de fundação. As bermas impedem a formação de bulbos, assim como o recesso do bom material do aterro, resultando um processo de estabilização rápido e econômico.

Figura 9 – Modelo esquemático das bermas.

Fonte: Almeida, 2010.

Figura 10 – Aterro final com utilização de bermas de equilíbrio.

Fonte: DNIT, 2009.

A metodologia construtiva das bermas de equilíbrio é baseada na construção do aterro por partes quando a altura final dele é superior à sua altura crítica. De acordo com o que é visto nos detalhes esquemáticos da Figura 9 e Figura 10, o processo de execução consiste em deixar o solo mole adensar-se ao peso do aterro a certa altura (H1), acrescida de uma nova altura (H2) devido ao enrijecimento do solo, e assim sucessivamente até chegar à altura desejada (H) (ALMEIDA, 2010).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho teve como foco apresentar as bermas de equilíbrio como alternativa de segurança estrutural para as barragens de rejeitos. Desta forma, retomando a questão norteadora: Qual o nível de estabilidade alcançado com a utilização da berma de equilíbrio como reforço estrutural para uma barragem de rejeitos? Conclui-se que, através dos conceitos apresentados sobre o método executivo e aplicabilidade das bermas em barragens de rejeitos, constatou-se que a sua utilização confere ótima estabilidade estrutural e física, sobretudo para as barragens de rejeitos executadas em solos de fundação com baixa resistência − além de elevar o fator de segurança contra a ruptura dessas estruturas. Para mais, em torno do sistema, foram apresentados os principais conceitos e métodos de alteamentos utilizados nas barragens em questão, além de realçado a relevância do monitoramento e instrumentação utilizados nas estruturas − como recurso para conhecer o real estado de uma determinada barragem de rejeito.

O conhecimento e avaliação das obras de geotecnia relacionadas as barragens de contenção de rejeitos de mineração, são imprescindíveis para impedir desastres, prejuízos físicos e ambientais à coletividade − visto que a sua utilização implica diretamente no cenário no qual está submetida.

É indispensável como sugestão para trabalhos futuros: os estudos econômicos e de planejamento viável da utilização de programas de monitoramento e instrumentações que possam atuar de forma contínua e, sejam capazes de prever de forma antecipada e adequada a utilização das bermas como reforço a estrutura, a fim de evitar grandes desastres − semelhantes aos ocorridos nas barragens supramencionadas neste material.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. DNIT – Superintendência Regional no Estado do Rio Grande do Sul. Audiência Pública – Obras de Implantação e Pavimentação da Rodovia BR – 448/RS. 25 mar. 2009. Porto Alegre, 2009.

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[1] Bacharelado em Engenharia Civil pela Faculdade Pitágoras de Paragominas – FPP. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9935-7610.

Enviado: Dezembro, 2021.

Aprovado: Dezembro, 2021.

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