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Utilização pedagógica da rede social Instagram

RC: 77087
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/utilizacao-pedagogica

CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

OLIVEIRA, Priscila Patrícia Moura [1] , BRASILEIRO, Beatriz Gonçalves [2] , RODRIGUES, Florbela Lage Antunes [3] , FERREIRA, Maria Eduarda Roque [4]

OLIVEIRA, Priscila Patrícia Moura. Et al. Utilização pedagógica da rede social Instagram. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 02, Vol. 13, pp. 05-17. Fevereiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/utilizacao-pedagogica, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/utilizacao-pedagogica

RESUMO

Os aplicativos de redes sociais têm apresentado um notável crescimento de usuários, principalmente nos últimos meses, devido à pandemia de COVID-19. Estes ambientes digitais, espaços naturais de interação e comunicação virtual, possibilitam o acesso à informação em tempo real, a qualquer tempo e de qualquer espaço, o que os transforma em meios ideais para a construção e o compartilhamento de conhecimento. A sua versatilidade permite que o usuário se mantenha informado, confraternize com os amigos e aprenda sobre um novo assunto utilizando uma única ferramenta. Assim, o presente trabalho tem como objetivo discutir a possibilidade de se empregar redes sociais, mais especificamente o Instagram, como ferramenta pedagógica. Visa ainda descrever as suas principais características e funcionalidades, bem como colaborar para a discussão acerca da aplicação de recursos tecnológicos como ferramentas facilitadoras do processo de ensino e aprendizagem para além do momento de pandemia. Por meio da realização de pesquisas bibliográficas, construiu-se esta revisão de literatura através da qual verificou-se que os diferenciais deste aplicativo podem ser de grande valia na autorregulação da aprendizagem, bem como para tornar o processo de ensino e aprendizagem mais colaborativo, significativo e consonante com a tendência digital da atualidade.

Palavras-chave: Tecnologia, educação, ensino por multimeios, meios de comunicação.

INTRODUÇÃO

A miniaturização e o barateamento dos componentes eletrônicos, as melhorias nas redes de transporte de informações e a rápida difusão e popularização dos recursos tecnológicos têm modificado sensivelmente a sociedade da atualidade. Para Belloni (2009) tais mudanças “tendem a modificar o próprio estatuto social da informação, suas funções nas sociedades contemporâneas e as condições de seu impacto nos modos de vida” (BELLONI, 2009, p. 20).

Se antes o conhecimento restringia-se ao ambiente escolar ou acadêmico, hoje está ao alcance de todos aqueles que possuam os recursos necessários não só para acessá-lo, mas também para produzi-lo e divulgá-lo (OLIVEIRA, 2016). A massificação da informação acabou por também provocar mudanças na forma como nos relacionamos e como nos comunicamos, mas principalmente na forma como aprendemos.

O advento dos aplicativos de redes sociais é um exemplo disso. Definidas por Lorenzo (2013) como meios de estabelecimento virtual de relações de comunicação e interação, as redes sociais têm ganhado cada dia mais adeptos, principalmente entre os jovens. O autor esclarece que isso se deve a possibilidade que oferecem de se conectar a diferentes pessoas e de ter acesso a variados tipos de informação, a qualquer tempo e em qualquer lugar.

A situação de pandemia, provocada pelo vírus Sars-CoV-2, obrigou a população a adotar medidas de segurança, tais como o isolamento e o distanciamento sociais. Nesse ínterim, observou-se o crescimento da utilização das redes sociais, através das quais os indivíduos puderam continuam mantendo contato, mesmo separados no espaço.

Portanto, o artigo que aqui se apresenta discute as possibilidades de utilização pedagógica desse tipo de recurso, que tem se mostrado um eficiente meio de comunicação e interação. Enfoca-se o aplicativo Instagram, para o qual se observa um aumento do número de utilizadores, principalmente entre os jovens.

Além de descrever as suas características e funcionalidades, aborda-se a sua aplicação educacional, apresentando-se possibilidades de aproveitamento, demandas de planejamento e vertentes de avaliação. Dessa maneira, espera-se contribuir para a discussão de incrementos para o processo de ensino e aprendizagem que não só considerem a situação de pandemia atual, mas que possam vir a ser empregados também quando ela enfim terminar.

TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO

A capacidade de desenvolver ferramentas para facilitar a execução de atividades cotidianas é uma característica intrínseca ao ser humano, à qual, comumente, se dá o nome de tecnologia. Entretanto, Machado explica que o termo vai além do instrumento, podendo ser definido como “um conjunto organizado de conhecimentos e informações, originado de diversas descobertas científicas e invenções e do emprego de diferentes métodos na produção material e simbólica” (MACHADO, 2006, p. 56).

A autora também destaca que o significado do termo tecnologia é frequentemente confundido com o da palavra técnica, que designa as aplicações práticas da ciência, ou seja, o método que se utiliza para realizar determinada atividade. No entanto, a tecnologia tem um sentido mais amplo que não se limita ao desenvolvimento de um meio de execução, abrangendo também:

[…] a prática social; os aprendizados humanos, em seus processos e produtos; o conhecimento empírico, o saber tácito produzido no trabalho, as artes e técnicas desenvolvidas pelos homens; as forças produtivas; as racionalidades e lógicas historicamente produzidas (MACHADO, 2006, p. 57).

Quartiero; Lunardi e Bianchetti (2010) também deixam clara a diferença entre técnica e tecnologia ao explicar que a primeira se limita aos instrumentos, e a segunda é mais abrangente, indo além de máquinas e ferramentas. Sendo assim, a tecnologia não se restringe à execução e aos seus relativos equipamentos, mas engloba também os esforços físicos e mentais empregados pelo indivíduo em determinada tarefa.

A partir da evolução de recursos elétricos, eletrônicos, informáticos e digitais, surgiram as TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação. Belloni (2008) as conceitua como o conjunto de ferramentas, processos e meios destinados ao processamento e distribuição da informação. A autora afirma ainda que:

[…] estas tecnologias agilizaram e tornaram menos palpável o conteúdo da comunicação, por meio da digitalização e da comunicação em redes para a captação, transmissão e distribuição das informações, que podem assumir a forma de texto, imagem estática, vídeo ou som (BELLONI, 2008, p. 53).

Mill (2018) informa que as TICs são precedidas pelas TIs – Tecnologias da Informação, que compreendem os meios de codificação e armazenamento de mensagens bidimensionais, tais como o alfabeto, o número e a impressão. O autor acrescenta que a última evolução do termo se refere às TDICs, baseadas no modelo binário de escrita digital, que compreendem “[…] todas as produções e tecnologias midiáticas e da comunicação que são estruturadas, armazenadas, manipuladas e transmitidas por meio dessa linguagem” (MILL, 2018, p. 622).

A rápida e vasta disseminação dos recursos tecnológicos na sociedade contribuiu para a sua larga utilização tanto como ferramenta de trabalho quanto como instrumento de lazer. Moran (2013) chama essa tendência atual de sociedade da informação, em que a “informação é uma nova moeda de troca, […] tão importante quanto o dinheiro” (MORAN, 2013, p. 21).

E tal moeda não está mais localizada em um único local ou nas mãos de poucas pessoas. A massificação do acesso às TICs permitiu que atualmente o acesso, a produção e a disseminação do conhecimento sejam feitas por qualquer um que possua os equipamentos necessários para tal. Isso provocou também uma mudança nas formas de ensinar e de aprender.

Para Moran (2013), as TICs podem ser empregadas como ferramentas de ensino e aprendizagem, pois são capazes de potencializar a cognição dos indivíduos ao permitir um desenvolvimento interligado e intersensorial do raciocínio. Dessa maneira, o objeto de estudo é acessado e re-acessado várias vezes, de diversas maneiras e por diferentes pontos de vista, o que promove um aprendizado mais sólido e significativo.

Coll; Marchesi e Palacios (2004) salientam que as TICs combinam diferentes sistemas simbólicos para apresentar a informação, o que as tornam mais atraentes que conteúdos bidirecionais. Os autores destacam ainda outras características benéficas desse tipo de recurso para o processo de ensino e aprendizagem. O formalismo depreende a necessidade de compreensão do funcionamento processual do recurso tecnológico e o dinamismo promove a construção, o acesso e o compartilhamento do conhecimento em tempo real. A hipermídia permite a interligação entre informações semelhantes ou correlacionadas e a interatividade estimula a reciprocidade entre o sujeito e o objeto do conhecimento.

Santella (2015) acrescenta que as TICs possuem outros diferenciais para o incremento da cognição humana. A ubiquidade permite o acesso a um mesmo dado por meio de qualquer recurso tecnológico. Já a pervasividade é a capacidade do recurso se adaptar ao usuário conforme suas ações e reações, o que leva à personalização, onde o conteúdo apresentado ao usuário passa a considerar as suas necessidades e preferências.

Para Belloni (2009), a principal contribuição das TICs para o processo de ensino e aprendizagem é o estímulo à autodidaxia, onde o aluno transforma-se no próprio elemento regulador de seu aprendizado. Assim, decide não só quando e como aprender, mas também se torna responsável pela construção e compartilhamento do conhecimento. A autora destaca que a autodidaxia demanda professores-mediadores, que não mais forneçam o saber de modo estanque e depositário, mas que ensinem a aprender e a aplicar de forma prática o que foi aprendido.

Bacich; Tanzi Neto e Trevisani (2015) apontam que “as tecnologias digitais modificam o ambiente no qual estão inseridas, transformando e criando novas relações entre os envolvidos no processo de aprendizagem: professor, estudantes e conteúdos” (BACICH; TANZI NETO; TREVISANI, 2015, p. 50). Contudo, os autores alertam que as TICs não são mais eficazes ou mais relevantes que as tecnologias tradicionais para ensinar e aprender. Mas, a sua presença cada vez mais frequente no cotidiano da sociedade, demanda que sejam consideradas e exploradas pedagogicamente, o que pode contribuir para uma maior identificação do processo de ensino e aprendizagem com a realidade dos estudantes.

Lima e Ponciano (2020) ressaltam que o professor é peça chave nesse processo de exploração, devendo “estar consciente das tecnologias incluídas no processo educacional e aberto a encarar o desafio de mudança no ensinar e de usar essas tecnologias em seu favor, numa perspectiva de formação cidadão atual” (LIMA; PONCIANO, 2020, p. 5). No entanto, alertam que a necessidade de adaptar o processo de ensino e aprendizagem à tecnologia não deve ser vista como uma obrigação, tampouco uma disputa, e sim, como uma oportunidade de contribuir para o desenvolvimento das habilidades e capacidades necessárias para o pleno domínio da realidade onde o aluno hoje se encontra.

REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO

Souza; Simon e Fialho (2015) explicam que redes sociais são “formas de organização humana e de articulações entre grupos e instituições” (SOUZA; SIMON; FIALHO, 2015, p. 123). Esclarecem ainda que as redes sociais virtuais são “softwares de colaboração social, isto é, aplicações que suportam interesses, necessidades e objetivos comuns em um mesmo ambiente de colaboração, compartilhamento, interação e comunicação” (SOUZA; SIMON; FIALHO, 2015, p. 126-127).

Já Lorenzo (2013) esclarece que as redes sociais foram desenvolvidas para que os indivíduos pudessem representar os relacionamentos pessoais e/ou profissionais que estabelecem entre si. Quando esses acontecem por meio das TICs, acrescenta-se ainda a possibilidade de estabelecer relações de interação e comunicação, que se desdobram em nível virtual.

O autor informa que a primeira rede social virtual em que era possível construir e compartilhar um perfil pessoal surgiu no ano de 1997, com o nome de Sixdegrees. Em 2002 foi criada a Friendstere, e no ano seguinte, lançou-se a iniciativa da Microsoft, batizada de Myspace. A maioria dos brasileiros teve seu primeiro contato com uma rede social virtual ao ingressar no Orkut, lançado em 2004. Naquele mesmo ano era criado o Facebook, rede social com o maior número de usuários até hoje, mas que só foi aberta ao grande público em 2006. O Twitter foi lançado no mesmo ano, seguido pelo Instagram, em 2010.

O surgimento de novas redes sociais continua com o desenvolvimento de plataformas voltadas para diferentes públicos e objetivos. Como exemplo o Snapchat, rede social para criação e desenvolvimento de vídeos, lançado em 2011, e o Tinder, que foi criado no ano seguinte, voltado para pessoas em busca de relacionamentos afetivos (LORENZO, 2013).

A pesquisa TIC Kids online 2018 realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação – CETIC apurou que atualmente, as redes sociais figuram entre os aplicativos mais acessados por 87% dos jovens entre 16 e 25 anos de idade (CETIC, 2018). Oliveira e Brasileiro (2020) obtiveram dados semelhantes ao pesquisarem as principais finalidades de utilização dos smartphones pelos alunos do Ensino Médio Integrado. Na amostra pesquisada, 62,1% dos participantes afirmou que usa prioritariamente o aparelho para acessar aplicativos de redes sociais.

Segundo Choti e Behrens (2015), as redes sociais contêm ferramentas síncronas e assíncronas de comunicação, o que as transforma em um espaço inovador de aprendizagem, permitindo interações, socializações e aprendizagem colaborativa em rede, o que resulta na construção coletiva de saberes entre os indivíduos. Permitem ainda a criação, em meio virtual, da sociedade ideal de cada indivíduo, onde ele se conecta apenas a quem deseja e acessa somente o conteúdo que lhe interessa.

As autoras ressaltam também que as redes sociais, já tão em voga junto aos alunos, aguardam apenas a iniciativa dos professores para serem utilizadas como ferramentas de ensino-aprendizagem, pois as suas principais características intrínsecas, tais como a ubiquidade e a socialização de informações, as transformam num recurso adequado para ensinar e aprender.

Lorenzo (2013) corrobora e ressalta que além de ser benéfica para os alunos, a utilização das redes sociais na educação também pode trazer vantagens para os docentes e para as equipes pedagógica e gestora, pois contribui para que aperfeiçoem seus conhecimentos teóricos e práticos de uso das TICs. Numa atualidade profundamente digital, isso faz com que os alunos passem a usar os recursos tecnológicos com mais naturalidade e eficiência, aproveitando melhor suas funcionalidades.

A REDE SOCIAL INSTAGRAM

Pellanda e Streck (2017) definem o Instagram como um aplicativo de rede social, destinado à publicação prioritária de imagens previamente tratadas e editadas pelo usuário. Eles explicam que o aplicativo foi originalmente criado para utilização exclusiva em smartphones, através dos quais as imagens seriam produzidas (fotografadas ou pesquisadas e em seguida tratadas) e instantaneamente publicadas, o que permite ao usuário interagir quase que em tempo real com os seus seguidores[5]. É dessa noção que advém o nome do aplicativo: o prefixo Insta, proveniente de instantâneo, acrescido de gram, derivado de telegrama, forma mais rápida de se enviar informações antes do advento das TICs.

Os autores informam que o aplicativo se destaca pelos recursos e funcionalidades que oferece em sua Interface Gráfica do Usuário (GUI), definida como os elementos de programação visual que formatam a interação entre o usuário e o dispositivo móvel. A mais utilizada é a publicação instantânea de imagens pelo usuário, que podem também ser posteriormente visualizadas, já que permanecem disponíveis em sua timeline, ou simplesmente, linha do tempo de publicações. Dessa maneira, o aplicativo permite tanto a comunicação síncrona quanto a assíncrona (PELLANDA; STRECK, 2017).

Ressaltam também outra funcionalidade adicionada ao aplicativo em 2016, batizada de stories, ou apenas estórias, que tem as mesmas características das publicações da timeline, mas permanecem disponíveis por apenas 24 horas. Os autores salientam que esse tipo de publicação delimita micromomentos do usuário, pequenas narrativas de seu cotidiano através das quais provoca o interesse dos seus seguidores. Neles, a comunicação, prioritariamente síncrona, ganha mais recursos como a possibilidade de se elaborar testes e enquetes (PELLANDA; STRECK, 2017).

O Instagram se destaca por sua simplicidade de operação e por priorizar o compartilhamento de fotos e vídeos, permitindo uma rápida assimilação dos conteúdos pelos usuários. Por isso, configura-se hoje como a quarta rede social mais utilizada no Brasil (CETIC, 2018), atingindo 34% dos jovens entre 15 e 17 anos de idade.

Além dos já citados recursos de sua GUI, existem diversas outras funcionalidades disponíveis no aplicativo, como a postagem de vídeos de até 1 minuto na própria timeline[6] e a indicação de acesso a links externos de páginas afins, vídeos, artigos, jogos ou de outras redes sociais, através de sua inserção nas postagens da timeline, dos stories ou inserindo-os na bio[7].

A rede social Instagram também se diferencia por oferecer várias possibilidades de acompanhamento do engajamento dos usuários. Isso pode ser feito por meio da contabilização do quantitativo de seguidores e do número de curtidas que cada postagem obtém. É possível ainda verificar o número de pessoas que viram a página ou cada postagem separadamente.

Em contas criadas como perfil profissional é possível obter informações ainda mais detalhadas sobre as postagens. A ferramenta “ver informações” permite contabilizar o número de curtidas, comentários e compartilhamentos obtidos em cada postagem na timeline, bem como a quantidade de usuários que foram levados ao perfil por terem visto o post e a abrangência do alcance dele nos usuários do aplicativo. Já o histórico de cada storie publicado permite contabilizar o número de visualizações. Caso tenha sido utilizada uma funcionalidade tal como enquete ou teste, por exemplo, o aplicativo exibe a quantidade de usuários que os respondeu e que resposta foi dada.

APLICAÇÃO PEDAGÓGICA DO INSTAGRAM

O planejamento é fundamental para que a execução de qualquer trabalho resulte em êxito. Em se tratando do processo ensino aprendizagem, esta prática torna-se ainda mais importante, visto que precisa reunir e concatenar uma série de variáveis, no intuito de propiciar a aquisição de habilidades e capacidades pelo aluno (LIBÂNEO, 2013).

O primeiro passo para se desenvolver um trabalho pedagógico com uma rede social é delimitar claramente o papel que este recurso tecnológico assumirá no processo. Baseado em Lorenzo (2013) o aplicativo Instagram pode ser empregado de diferentes formas. Pode funcionar como um portfólio da turma para compartilhamento, com os responsáveis e com a comunidade escolar, de todos os projetos realizados pelos alunos. Pode ser aplicado como portfólio de um projeto, para documentar o seu desenvolvimento e a sua culminância em determinada(s) disciplina(s).

A sua utilização como fonte de pesquisa também é possível, no intuito de reunir informações sobre determinado assunto, como, por exemplo, a visita a perfis de museus e artistas plásticos. Contribui ainda para a ampliação de conhecimentos, quando se sugere que os alunos sigam perfis onde são abordados temas educacionais de seu interesse, tais como a prática de alguma língua estrangeira ou relacionado a dicas de estudo para o ENEM, por exemplo.

Também pode ser aplicado como ferramenta de reforço extraclasse, onde ocorre o desenvolvimento de postagens que objetivem relembrar e substanciar o que foi visto em sala de aula. Para isso, no momento do planejamento, é preciso considerar também outras variáveis.

Quanto ao público-alvo e aos recursos didáticos, é preciso sopesar a faixa etária dos alunos, o nível de conhecimento deles em relação aos recursos tecnológicos e à internet, a concordância dos responsáveis e da equipe gestora da escola acerca do desenvolvimento do trabalho e a possibilidade do aluno acessar a internet e o aplicativo na escola e em casa.

No que tange ao conteúdo que será abordado, é preciso verificar se é passível de abordagem e/ou transposição para o meio digital, se há disponibilidade online de material relacionado e a possibilidade de desdobramentos dele em meio digital. Já quanto ao método, é preciso definir o tempo de duração do trabalho, a periodicidade das postagens e as funcionalidades aplicadas, a possibilidade de acompanhamento do desenvolvimento dos alunos e os meios de avaliação dos resultados parciais e finais obtidos.

Uma vez definido o planejamento, deve-se iniciar o trabalho com o aplicativo, que deve levar em conta algumas especificações. O perfil não deve ser criado para os alunos, e sim, com eles, ou seja, precisam estar envolvidos no trabalho desde o planejamento. Suas preferências e necessidades devem ser levadas em consideração tanto quanto suas ideias e opiniões. Afinal, o engajamento dos alunos ao trabalho online deve ser igualmente proporcional ao seu interesse e motivação offline.

É imprescindível que o professor possua um perfil ativo na rede social para que possa se fazer sempre presente, interagindo com os alunos, curtindo e comentando as postagens, participando dos testes e gerando discussões. O estabelecimento de um elo entre o trabalho desenvolvido em sala de aula e na perfil também é fundamental, para que o aluno tenha uma sensação de continuidade, de forma a não mais perceber onde começa uma e acaba a outra.

A elaboração das postagens deve se adequada ao público-alvo, às suas preferências e à sua realidade própria, já que a correspondência das postagens com o cotidiano dos alunos é crucial para atrair a sua curiosidade e o seu consequente engajamento. Devem também ser compatíveis com conteúdo visto em sala de aula, no que tange à escolha das imagens, construção de legendas e design dos stories. Precisam ainda contemplar as principais funcionalidades do aplicativo de forma equilibrada e complementar.

Por fim, ressalta-se a necessidade de conhecer bem todos os recursos e funcionalidades da rede social, já que o acesso a determinadas ferramentas de interação e de verificação, como a inserção de links nos stories, por exemplo, dependem da quantidade de seguidores que soma o perfil. Portanto, é preciso planejar as ações conforme o tamanho do público-alvo que se deseja atingir.

O uso pedagógico do Instagram demanda o acompanhamento e a avaliação de todas as ações envolvidas, dentro e fora do ambiente escolar. Enquanto o acompanhamento permite uma visão da pertinência do trabalho, a avaliação o considera quanto ao cumprimento do planejamento.

As ferramentas do próprio aplicativo podem ser utilizadas para acompanhar as reações às postagens, o engajamento ao perfil e contas semelhantes. Por meio dele também é possível avaliar a qualidade dos comentários e as respostas a perguntas, testes e enquetes.

Considerando-se o caráter complementar que deve haver no trabalho, na sala de aula deve-se acompanhar as repercussões às postagens, as discussões decorrentes delas e possíveis sugestões de novos assuntos ou de diferentes abordagens. Já a avaliação deve focar na abordagem ou aplicação de conhecimentos veiculados no perfil em atividades presenciais e na utilização prática de saberes vinculados às postagens.

Acompanhar e avaliar as ações de forma contínua é muito importante, já que, dessa maneira, possíveis inadequações podem ser detectadas a tempo de serem corrigidas sem prejudicar o andamento do trabalho.

Por fim, ressalta-se que uma rede social é uma comunidade para interação entre pessoas. A sua utilização como ferramenta de ensino aprendizagem precisa seguir essa premissa, ou seja, transformar-se em um ponto de encontro online de pessoas que querem adquirir, compartilhar e construir conhecimento.

Portanto, demanda tempo, dedicação e acima de tudo, vontade do professor, não só para o planejamento das postagens, mas principalmente para interagir com os alunos, dando continuidade virtual à relação que é construída em sala de aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

São cada vez mais profundas e notáveis as mudanças sociais e comportamentais que a constante evolução e modernização dos recursos tecnológicos vêm provocando no cotidiano da maioria das pessoas. Graças a esses equipamentos, hoje, grande parte da sociedade se relaciona, se comunica e, principalmente, aprende de forma diferente.

As TICs permitem que se interaja com outros indivíduos e com o próprio aparelho, utilizando várias mídias e em tempo real, obtendo acesso a assuntos pelos quais há interesse e dos quais se pode saber mais apenas seguindo um link ou uma tag. Já as redes sociais, dotadas de um grande potencial informacional, propiciam a virtualização da realidade dos indivíduos ao se transformar em um espaço de comunicação e interação para além do tempo e espaço.

Portanto, a aplicação pedagógica de redes sociais é plenamente possível, na medida em que proporcionam a construção colaborativa e o compartilhamento de conhecimento tanto de forma síncrona, quanto assíncrona. No que tange ao Instagram, a sua capacidade enquanto ferramenta pedagógica reside na sua facilidade de acesso e operação, bem como na rapidez de assimilação e reação ao conteúdo veiculado prioritariamente através de imagens. No entanto, a sua utilização exitosa demanda planejamento e acompanhamento contínuo no intuito e verificar o nível e a qualidade dos saberes desenvolvidos, e de permitir o diagnóstico e a superação de dificuldades, isto é a autorregulação da aprendizagem.

Apesar da tendência atual de informatização de todos os processos e dos benefícios que podem trazer para a cognição humana, é preciso ter em mente que as TICs são apenas ferramentas, cujo emprego pedagógico pode influenciar positivamente o processo de ensino aprendizagem. Porém, tais recursos não educam, ou seja, mesmo levando o conhecimento aos alunos, não são capazes de ensinar-lhes a utilizá-lo.

Essa tarefa continua sendo do professor que, na era da informação, adquire um novo papel: o de mediador. Atuando dessa maneira, não mais cabe a ele repassar o conhecimento e repeti-lo até a sua memorização, e sim, que ensine o aluno a buscá-lo e a utilizá-lo assertiva e produtivamente. Dessa maneira, estará contribuindo para o desenvolvimento da literacia crítica, em que o indivíduo é capaz de questionar criticamente, raciocinar e assim aprender a construir a sua própria realidade.

REFERÊNCIAS

BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, Fernando de Mello. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

BELLONI, Maria. Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 2008.

BELLONI, Maria. Luiza. O que é mídia-educação. Campinas: Autores Associados, 2009.

CETIC; Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação. Pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil: TIC kids online Brasil 2018. Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2019. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/216370220191105/tic_kids_online_2018_livro_eletronico.pdf. Acesso em 28 set. 2020.

CHOTI, Deise Maria Marques; BEHRENS, Marilda Aparecida. A utilização das redes e mídias sociais na formação continuada de professores aponta para um paradigma inovador? In: TORRES, P. L. Redes e mídias sociais. Curitiba: Appris, 2015.

COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jésus (Org.). Desenvolvimento psicológico e educação: 2. Psicologia da educação escolar. Tradução Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2004.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013.

LIMA, Augusto José Savedra; PONCIANO, Nilton Paulo. Tecnologia: sua presença na educação escolar e na formação docente na contemporaneidade. Revista de Estudos e Pesquisas sobre Ensino Tecnológico (EDUCITEC), v. 6, e107120, 2020. Disponível em: https://sistemascmc.ifam.edu.br/educitec/index.php/educitec/ article/view/1071/477. Acesso em: 13 out. 2020.

LORENZO, Éder Wagner Cândido Maia. A utilização das redes sociais na educação. Rio de Janeiro: Clube dos Autores, 2013.

MACHADO, Lucília Regina de Souza. O desafio da organização curricular do ensino integrado. Boletim n. 7. mai/jun 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf2/boletim_salto07.pdf#page=51. Acesso em: 07 out. 2020.

MILL, Daniel. (Org.). Dicionário crítico de educação e tecnologias e de educação a distância. Campinas: Papirus, 2018.

MORAN, José. Manuel. Ensino e aprendizagem inovadores com apoio de novas tecnologias. In: MORAN, José Manuel; BEHRENS, Marilda Aparecida; MASETTO, Marcos Tarciso. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2013.

OLIVEIRA, Priscila Patrícia Moura. O YouTube como ferramenta pedagógica. SIED: EnPED-Simpósio Internacional de Educação a Distância e Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância, 2016. Disponível em: http://sistemas3.sead.ufscar.br/ojs/index.php/2016/article/view/1063/486. Acesso em: 12 out. 2020.

OLIVEIRA, Priscila Patrícia Moura; BRASILEIRO, Beatriz Gonçalves. O smartphone como recurso para estudos no ensino médio integrado: um estudo de caso. In: Anais do I Congresso Brasileiro Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia. Anais…Diamantina(MG) Online, 2020. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/icobicet2020/266800-O-SMARTPHONE-COMO-RECURSO-PARA-ESTUDOS-NO-ENSINO-MEDIO-INTEGRADO–UM-ESTUDO-DE-CASO. Acesso em: 13 out. 2020.

PELLANDA, Eduardo Campos; STRECK, Melissa. Instagram como interface da comunicação móvel e ubíqua. Sessões do Imaginário [on line], v. 22, n. 37, p. 10-19, 2017. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/ famecos/article/ view/28017/15936. Acesso em: 02 out. 2020.

QUARTIERO, Elisa Maria; LUNARDI; Geovana Mendonça; BIANCHETTI, Lucídio. Técnica e tecnologia: aspectos conceituais e implicações educacionais. In: MOLL, J. (org.). Educação Profissional e tecnológica no Brasil contemporâneo: desafios, tensões e possibilidades. Porto Alegre: Artmed, 2010.

SANTAELLA, Lúcia. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013.

SOUZA, Márcio Vieira de; SIMON, Rangel Machado; FIALHO, Francisco Antônio Pereira.  Redes Sociais Virtuais, REAS, AVAS, e MOOCS: reflexões sobre educação em rede. In: TORRES, Patrícia Lupion. Redes e mídias sociais. Curitiba: Appris, 2015.

APÊNDICE – REFERÊNCIAS DE NOTA DE RODAPÉ

[5] Usuários do Instagram que se conectam à determinado perfil devido à interesses comuns ou relações de amizade, e para os quais qualquer alteração desse perfil é compartilhada.

[6] Aqueles que excederem esse tempo podem ter continuidade no IGTV (Instagram TV), plataforma interna de armazenamento de conteúdos audiovisuais do Instagram.

[7] Seção editável, destinada à inclusão de características pessoais do usuário.

[1] Mestre em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste e Minas Gerais, Especialista em Uso Educacional da Internet pela Universidade Federal de Lavras e em Mídias na Educação pela Universidade Federal de São João del-Rei e Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais.

[2] Doutora em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa (2010), Mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e Bacharel Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa.

[3] Doutora em Educação pela Universidade da Beira Interior (Portugal) e Mestre em Supervisão Educacional pela Universidade de Nottingham (Grã-Bretanha) e em Ensino do português no 3º ciclo do ensino básico e ensino secundário e de espanhol nos ensinos básicos e secundários pela Universidade da Beira Interior (Portugal). Licenciada em Formação de Professores do Ensino Básico, variante de Português/Francês pelo Instituto Politécnico da Guarda (Portugal).

[4] PhD em Biologia pela Universidade de Aveiro (Portugal). Agregação em Educação pela Universidade da Beira Interior (Portugal).

Enviado: Janeiro de 2021.

Aprovado: Fevereiro de 2021.

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Priscila Patrícia Moura Oliveira

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