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A relevância da militarização de escolas públicas no Brasil

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

VIANA, Claudenilson dos Santos [1], OLIVEIRA, Ginarajadaça Ferreira dos Santos [2]

VIANA, Claudenilson dos Santos. OLIVEIRA, Ginarajadaça Ferreira dos Santos. A relevância da militarização de escolas públicas no Brasil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 08, Vol. 01, pp. 170-182. Agosto de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/relevancia-da-militarizacao

RESUMO

A educação no Brasil passa por diversas transformações com o intuito de acompanhar os processos de unificação e universalização da educação como um todo. Entre essas transformações podemos destacar a gestão militarizada que é realizada em escolas públicas de alguns estados brasileiros, por meios de parcerias entre as Secretarias Estaduais de Educação e as Instituições Militares (KRECJI; SILVA, 2018). O artigo discorrerá sobre os aspectos fundamentais sobre a militarização de algumas escolas da rede pública do Brasil e as suas influências, com o objetivo de compreender e analisar de modo crítico esse novo modelo de gestão educacional que vem ganhando tendência no Brasil. A metodologia utilizada foi levantamento bibliográfico, utilizando plataformas de pesquisa e periódicos confiáveis e análise de dados secundários. Podemos concluir que a nova gestão educacional militarizada é vista como exemplo de sucesso e tem agradado o Governo Estadual e a maioria da sociedade, pois a transferência desta responsabilidade para as Instituições Militares não acarretam despesas financeiras ao estado e é notório o desempenho educacional dos alunos. Mas que também há aqueles que não concordam e defendem que a educação não se limita apenas no tríplice: disciplina, obediência e treinamento.

Palavras-chave: Militarização, escolas públicas, educação.

INTRODUÇÃO

A crescente violência em nosso cotidiano brasileiro é manifestada de diversas formas, sobretudo nos recintos escolares. Fato este que não deveria acontecer, visto que tais lugares são direcionados a formação dos sujeitos que ali agregam o corpo escolar, sejam eles alunos, diretores, professores e demais funcionários. Tal violência gera perplexidade na comunidade, nas famílias e todos aqueles que convivem no ambiente escolar.

Podemos observar e analisar o habitual da maioria das escolas de nosso país e ouvindo relatos de muitos profissionais de ensino, evidencia-se que a educação vem atravessando por um período de crise. As instituições escolares passam por múltiplos problemas preocupantes, dentre eles, a indisciplina dos alunos e, por consequência, piora o índice de violência dentro e fora do ambiente escolar. Identifica-se que a indisciplina é um dos grandes desafios a serem enfrentados pelos professores, que em diversas circunstâncias, não sabem como atuar perante essa questão da violência que abrange a todos os envolvidos.

Nos dias atuais, o Brasil possui a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/1996, que rege as diretrizes que englobam a educação, professores, âmbito familiar, Instituições de Ensino, entre outras. No que diz respeito à educação, ela é dividida em dois tipos: formal e informal; sendo que a primeira, de acordo com a constituição e a legislação educacional, tem o objetivo no desenvolvimento pleno dos discentes e na preparação ao total exercício da cidadania, além de garantir qualificação ao mercado de trabalho com planejamento, organização, regras e profissionais especializados (BRASIL, 1996). Já a segunda, supõe-se que ela ocorra fora das instituições educacionais e perdure ao longo da vida, não havendo uma procura de planejamento, nem organização em função de normas e outros direcionamentos.

Assim como declara Anísio Teixeira (1999), os dois modos de educação acabam se completando e são necessárias para o crescimento do indivíduo tanto no desenvolvimento e crescimento intelectual quanto ao de exercer sua cidadania, obtendo na educação o papel primordial na função social.

A militarização das escolas é uma temática que vem ganhando uma grande propagação nos estados brasileiros e preferencialmente em cidades com áreas de alto índice de criminalidade, violência, tráfico de drogas e desempenho escolar mínimo. Ela é possível através de um acordo firmado entre as Secretarias de Educação de cada Estado e as Instituições Militares, onde esta nova ideia estrutural de administração escolar ganhou impulso com o candidato a presidência Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018.

Após as eleições, o então eleito presidente Jair Bolsonaro, declarou que o novo modelo de gestão educacional militarizada é um exemplo de ensino e que deveria ser adotado em todas escolas presentes no território nacional. Defendendo sua ampliação e implantação em regiões de alta vulnerabilidade, com o intuito de disseminar o estímulo que os jovens têm de sentirem-se atraídos e entrem no crime organizado.

De modo que, em 2 de janeiro de 2019, o governo federal assinou o Decreto n° 9.465, que aprova uma nova organização estrutural no Ministério da Educação (MEC) criando a Subsecretaria de Fomento as Escolas Cívico-Militares (SECIM), ficando responsável pela criação de um novo formato na gestão educacional e na coordenação de programas pedagógicos que envolvam militares e civis.

O Decreto também afirma que os sistemas de ensino municipal e estadual ficaram por aderir de modo voluntário ao novo modelo, desde que atenda o requisito preferencial de escolas em situações de vulnerabilidade social (BRASIL, 2019).

Ao que se refere à militarização nos recintos escolares públicos, que constitui a prática de uma nova gestão escolar, tem-se como exemplo o quantitativo de 122 escolas em 18 estados da Federação e vem dando resposta, sobretudo, na questão da violência, além de grandes índices na melhoria de desempenho escolar, destacando-se, dentre as escolas estaduais, 9 estados brasileiros onde essas escolas militarizadas obtiveram o primeiro lugar no Exame Nacional do Ensino Médio.

O destaque ao desempenho dos alunos de escolas militares em exames como ENEM e Prova Brasil, acabam por direcionar a visão de que esse tipo de modelo educacional deveria servir como exemplos para as escolas públicas do Brasil (LE MONDE DIPLOMATIQUE, 2018).

De acordo com Lima (2018), a disciplina militar vem ganhando espaço nas escolas por meio de adeptos ao movimento, como pais, profissionais da educação, responsáveis pela formação das crianças e adolescentes, que, em grande parte, credita que a gestão escolar militarizada seja o ideal para o combate da violência, pois a disciplina militar conscientiza os alunos e os mantem longe das condições adversas ocasionados pela violência e a vulnerabilidade de riscos.

No entanto, há uma oposição e preocupação segundo Silva e Araújo (2018), de que as escolas militarizadas têm outro lado que acaba frustrando os princípios que dão acesso à educação, podendo agravar os prejuízos à universalização do ensino público no Brasil. Considerando a exclusão de alunos mais humildes, pois há uma cobrança gerada nas escolas militarizadas, além dos custos com o uniforme, o que acabam deixando uma quantidade significativa de alunos sem o acesso. Exemplificando, o pai que tem um filho matriculado, e que por ventura fica desempregado, não poderia mais arcar com esses valores. É sustentada uma melhoria na qualidade de ensino na escola, porém, na verdade, o que é feito é uma seleção de quem irá ou não estudar nessas escolas militarizadas.

Cabe explanar que a proposta de transferir a gestão das escolas da rede pública de ensino, para a administração das Instituições Militares, declina-se para uma redefinição do papel do Estado, logo o mesmo deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social para fortalecer-se na função de promotor e regulador deste desenvolvimento. Entretanto, as escolas não deixarão de seguir as Diretrizes Curriculares da Educação da rede pública. E o conteúdo pedagógico das classes terão como responsáveis seus professores, orientadores e coordenadores, mas os militares ministrarão disciplinas relativas a cultura cívico-militar, entre elas: ética e cidadania, oficinas de música, esportes, ordem unida, educação ambiental, entre outras.

Conforme Guimarães (2017) as escolas públicas cresceram sem ter um correspondente investimento, o que atingiu a banalização da educação, dando espaço para um grande apagão educacional, e abrindo portas para o crescimento da violência escolar, e que como resposta a este comportamento houve a necessidade da proposta de militarização de cunho pedagógico, onde se propõe a priorização dos princípios e práticas de uma educação formal moderna e atual, baseadas em seus tradicionais valores.

Diante de toda a problemática da questão da violência nas escolas e da polêmica militarização escolar, o referido artigo foi norteado no intuito de compreender o que é a militarização das escolas de rede pública e como elas funcionam. Com o objetivo de averiguar a sua relevância e quais características metodológicas podem provir da militarização dessas escolas, retratando diversas questões, entre elas, a exclusão dos alunos mais pobres e as melhorias do ensino para a sociedade. A metodologia utilizada, de acordo com Gerhardt e Silveira (2009), foi constituída de levantamento bibliográfico, utilizando plataformas de pesquisa e periódicos de fontes confiáveis como revistas, artigos, teses e dissertações, além de outras referências bibliografias de leis como os websites oficiais.

1. A VIOLÊNCIA E A VIOLÊNCIA NA ESCOLA

Para Cabral (2018), a definição da palavra violência dá-se como uso de uma ação ou uso da força de submeter alguém, contra sua própria vontade. Sobretudo, o conceito de violência e suas facetas sociais, é uma ação humana, podendo ser definida com uma relação social e entre indivíduos uma forma de ligação. Já o relatório da OMS (2003), define a palavra violência como o “o uso intencional da força física ou do poder, de fato ou como uma ameaça, contra si mesmo, outra pessoa ou um grupo ou comunidade que resulte ou tenha susceptíveis de causar lesões, morte, dano psicológico, transtornos do desenvolvimento ou privações”.

Na medida que os anos passam, a violência vem acontecendo de várias formas, com renovadas técnicas que entram de modo direto e indireto no jogo das forças, entre a dinâmica da sociedade e o seu desenvolvimento com o capitalismo, onde ela acaba por obedecer às estratégias pessoais e em grupos, de modo espontâneo, sem planejamento e organização ou em grupos semi organizados como no caso da violência familiar ou em comunidades.

Os valores e normas são vitais ao desenvolvimento capitalista e da base às desigualdades sociais, e boa parte da população é apreendida por situações violentas, pois estão ligadas às relações da produção e multiplicação do capital. O agravamento e aumento da população mais pobre altera o mercado de trabalho no Brasil, sendo gerado uma ampla opção para serviços sociais com a criação de diversos postos de trabalho temporários, e por outro é exigido uma renda mínima para obter poder de aquisição, que sem a reprodução é impossível continuar este ciclo. Dispondo que o crescimento e violência urbana já passou das barreiras das favelas e tornou-se um sintoma cada vez mais aparente de ameaças a integridade física e social (FLEURY, 2012).

A contemporaneidade que há nas escolas, bem como a vivência em família, vizinhança, bairros e cidades das quais os indivíduos estão associados a produção e ao consumo, que fazem a violência se tornar mais frequentes nas escolas brasileiras, além de ter consequência negativas sobre o rendimento escolar e que recai sobre a formação social dos alunos.

Segundo o autor Cabral (2018), a violência no ambiente escolar é um fato do cotidiano e é parte dos problemas sócios-políticos do nosso País, embora não sejam fatores estruturais de caráter socioeconômicos, onde não é possível separar a educação e sociedade, sendo a escola um lugar de socialização primária que acaba por traduzir a falta de educação trazida de casa em falta de aprendizagem. Isso ocorre quando o indivíduo não recebe regras básicas de convívio em coletividade, crendo que tudo lhe é permitido, agindo de forma indisciplinar em sala de aula, e deixando professores sem condições de exercer o controle. De acordo com Souza (2012, p.72), a violência possui três formas: “na escola entre alunos; aluno contra a escola; da escola contra o aluno, o da escola; violência simbólica e a violência contra a escola; a desvalorização social e do professor”.

A escola tem papel fundamental em identificar os alunos com tendência a apresentar formas de violências, sendo comportamentais ou expressões orais, visto que nesse ambiente é facilmente manifestado tais atitudes. Autores afirmam que as agressividades dos alunos podem ser prevenidas desde que sejam realizadas atividades por meio do ensino, mantendo-se o jovem ocupado e diminuindo o interesse em atividades com características violentas dissipando a concentração dos estudantes para uma nova vertente e também pelo monitoramento (BECKER; KASSOUF, 2016).

Estudos apontam que a violência enfrentada nas escolas é fruto da violência da sociedade contemporânea, onde muitas dessas escolas estão construídas em áreas marginalizadas, de baixo índice econômico e cultural. E seus efeitos são nocivos para a formação dos indivíduos, em todos os pontos de vista sendo ele intelectual, físico, econômico e psicológico. Mostrando a fragilidade e a ignorância da sociedade, dos órgãos governamentais e instituições de educação em lidar com o agressivo e inseguro dia-a-dia das regiões metropolitanas do país (CABRAL, 2018; LIMA, 2018).

Como forma de combater tal criminalidade do interior das escolas e também nas suas redondezas, as instituições militares observando tais fragilidades e insegurança nas instituições escolares, acabou por utilizar e implementar políticas militarizadas e antidemocráticas, com o intuito de diminuir a violência, utilizando o poder real e simbólico da farda para restabelecer a “disciplina” e a “ordem” destes locais. Se apresentando como um exemplo a ser seguido e de salvação aos conflitos de indisciplinas e a criminalidades juvenis, e alto rendimento escolar comprovados nos exames destinados aos alunos (LIMA, 2018).

Essa estrutura modelo de gestão educacional é bem vista por muitos pais de alunos, vista como a melhor solução para a garantia de uma boa educação dos filhos e mantê-los distantes da violência e criminalidade. Ela está presente em algumas escolas estaduais na maioria dos estados brasileiros, tendo como item fundamental a hierarquia e a disciplina, garantindo aos alunos o controle de seus comportamentos e uma formação adequada com a reprodução da sociedade capitalista contemporânea.

2. TRANSFORMAÇÃO DE ESCOLAS PÚBLICAS EM ESCOLAS PÚBLICAS MILITARIZADAS

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB n° 9.394 de 1996, a educação é responsabilidade do estado e da família, baseada nos princípios de liberdade e solidariedade humana, com o objetivo de educar e desenvolver o exercício pleno da cidadania e qualificação para o mercado de trabalho. Assim como descreve no inciso V, a gratuidade do ensino público nos estabelecimentos oficiais. A educação de crianças, jovens e adultos é garantida pelo Estado, que por diferentes motivos não conseguem finalizar essa etapa da vida. É dever da família dar apoio necessários para o filho permanecer na escola.

É direito da criança e dos jovens usufruir da educação em escola pública e próxima a sua casa, porém quando há a militarização da escola, ela acaba por excluir alguns alunos deixando-os sem acesso escolar próximo a sua casa (CRUZ, 2017). Relatos de pais de alunos descrevem que em algumas escolas militarizadas já iniciam seu processo cobrando uma taxa dos alunos, definida como simbólica, porém abusiva para outros pais, visto que não possuem renda fixa ou estão desempregados (BRAZILIENSE, 2014).

Segundo apontamentos realizados por Cunha (2019), no Brasil atualmente há 120 escolas públicas militarizadas, implantadas em 17 estados brasileiros, tendo o estado de Goiás obtendo o maior quantitativo, com 70 escolas. Em Goiás as escolas tiveram mudanças em suas direções das quais foram substituídas por militares e o diretor passou a ser um policial, já as funções de vice-diretor ficaram ao cargo de civis. Apesar da difícil disputa em conseguir vagas nessas escolas, é visível a importância dessa gestão para a comunidade, o que a torna tão valorizada.

Após acordo firmado entre as instituições militares e a Secretaria de Educação Estadual de cada região do Brasil, as escolas selecionadas para a implantação da nova gestão educacional, passam a obter um sistema ambíguo onde se autodesignem como escolas de civismo e democracia. Com a apresentação do plano de ensino tendo o foco formar cidadãos participativos, reflexivos, conhecedores de seus direitos e deveres. Entretanto, há uma divergência neste discurso de democrático, visto que a sua admiração é baseada em ideais e procedimentos que correspondem ao sistema educacional militar, hierárquica e disciplinar.

Se ao acaso as tais escolas públicas normais recebem um valor maior de verba anual, elas poderiam melhorar a sua infraestrutura e também seu material pedagógico, porém o que elas recebem, e de forma parcelada em verbas estaduais e federais, é apenas o valor de aproximadamente R$ 42.000 (quarenta e dois mil reais), fazendo com que as reformas não urgentes fiquem sempre para último plano. Essa verba recebida acaba limitando o gestor escolar de executar pequenos reparos, impressões de provas, materiais de limpeza e etc., não é à toa que percebermos uma grande diferenciação das fachadas, entre uma escola pública militarizada e uma escola pública normal.

As escolas públicas que passam por processo de militarização sofrem mudanças em suas estruturas físicas e corporativas; em resumo, destacamos que há o pagamento de um valor simbólico na matrícula e também uma mensalidade, o ensino nas turmas funcionam em regime seriado, com atividades educativas de segunda a sábado, as disciplinas são divididas conforme as áreas das quais são abrangentes, além de atividades culturais e esportivas. Aulas de reforços para os alunos do ensino médio aos sábados, com aulas de reforço e recuperação, além de aulas específicas com o objetivo de alcançar as aprovações nos vestibulares e Enem (LIMA, 2018).

O ensino também contempla as disciplinas de humanas, dentre elas a disciplina de “Noções de Cidadania” que é lecionada pelos militares com o objetivo de resgatar a base fundamental do civismo, e formar cidadãos conscientizados de forma sólida e harmônica, favorecendo a compreensão dos direitos e deveres da pessoa, da família e da comunidade. Outra importante finalidade da militarização, é a implantação das normas disciplinares que agem como instrumento integral para a formação do aluno. Elas também apresentam uma série de itens a serem respeitados e atendidos por todo corpo escolar, incluindo o Decreto do culto a obediência à lei, fidelidade e integração na sociedade.

A maioria das escolas militarizadas passa por reformas e acabam tendo uma infraestrutura, que, por vezes, é até melhor do que de outras escolas e até mesmo de particulares. Seu corpo docente é diversificado e amplo, sendo composto por profissionais da rede de educação estadual e militares que possuem formação educacional, que também lhe agregam valores ao longo da carreira militar. Após a nova gestão militar as escolas adquirem enfermaria, quadras poliesportivas, sonorização ambiente, sala de artes, de dança, auditório moderno preparado para palestras, reuniões, homenagens, encontros pedagógicos e até mesmo aulas específicas utilizando recurso multimídia e outros mais benefícios.

Além das mudanças na gestão educacional, podemos citar que há uma reestruturação organizacional administrativa que se difere das outras escolas estaduais normais das capitais brasileiras, possuindo recurso financeiro e material para o desenvolvimento das práticas pedagógicas, a sua gestão é dividida em vários setores, incluindo os conselhos disciplinares, de classe, escolar e também conta com a participação direta dos pais na associação dos pais e mestres, onde todos os membros do corpo escolar são obrigados a zelarem fielmente o cumprimento das instruções e ordem baixadas pelo diretor (CRUZ, 2017; LIMA, 2018).

É bem verdade que nem todas as escolas militarizadas possuem a mesma estrutura, mas com tantos recursos financeiros e didáticos e total autonomia administrativa não é difícil não alcançar o êxito na excelência e qualidade do ensino. É importante frisar que onde estas escolas estão localizadas são prédios públicos, provindo e assegurado com recursos financeiros dos estados.

3. ESCOLAS MILITARIZADAS: O QUE SÃO E COMO FUNCIONAM

São escolas da rede pública destinadas ao ensino fundamental e médio, onde as gestões foram transferidas para instituições militares, por exemplo, Marinha do Brasil, Polícia e Bombeiros Militares e Aeronáutica. De acordo com o ex-ministro da educação Ricardo Vélez Rodríguez, o Brasil tem muito a ganhar com a implantação do modelo, visto que o mesmo não exige investimentos […] são escolas municipais que optam em ter uma administração dada por policiais ou, em outros estados, pelas Forças Armadas. Não saí caro para o município, que encontra uma maneira de dar melhor destinação às suas instalações e ter um bom rendimento acadêmico” (NEXO, 2019).

Este modelo de gestão tem sido amplamente utilizado deste os anos 2000 até os dias de hoje, devido ao grande destaque no desempenho das Instituições que participam dos exames nacionais. De acordo com Moretti (2019), as escolas militarizadas do estado de Goiás geraram bons desempenhos da rede pública de ensino, conforme índice do Enem de 2016 despertando grande interesse aos outros estados, especialmente das regiões Norte e Centro-Oeste.

Segundo Nexo (2019), esse destaque só foi possível por meio de implantação de uma Lei estadual em 1976, que previa a criação de uma Diretoria de Ensino, mas não contemplava escolas militares ao ensino de civis; contudo, somente após sua criação e um pedido reformulação de suas finalidades, foi autorizado o ensino fundamental e médio, dando-se o início da implantação deste modelo em 2001, com a transferência das escolas estaduais para as Instituições Militares.

A militarização surge como nova pedagogia, promovendo valores neutros característicos da educação formal. As escolas que são escolhidas ou indicadas para a implantação deste modelo de gestão, geralmente estão localizadas em regiões de vulnerabilidade social e econômica, com elevado índice de criminalidade e baixo desempenho escolar. As escolas receberão de 20 a 25 militares que integrarão o quadro de servidores e adotarão o mesmo delineamento que há nas escolas militares em relação as exigências da disciplina e obrigação do horário (PATARO, 2019).

Logo após a implantação do modelo de gestão, os alunos precisam respeitar uma série de regras relacionadas ao comportamento, aparência e vestimenta, há uma preocupação em transmitir conhecimento sem uma linha ideológica, os alunos antes do início das aulas canta-se o hino nacional e entram em fila na sala. Caso há ausência de algum professor, os monitores acabam providenciando atividades extracurriculares e caso haja alguma divergência ou transgressões os alunos recebem infrações em seu boletim (MORETTI, 2019; NEXO, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, os casos de violência escolar tornaram-se comuns e o fator principal é a falta de uma base rígida e esclarecedora de qual é o papel dos estudantes e dos professores na sociedade, transformando as salas de aulas em uma verdadeira batalha com ataques físicos e psicológicos, brigas, assédios e ameaças. Considerando tais apontamentos, fica visível que a estrutura escolar precisa ser renovada.

Nas regiões que obtém altos índices de violência nas escolas, a militarização é válida, mas apenas como medida intermediária. Ainda neste contexto, o estudo realizado observou que às transformações educacionais ocorridas nos últimos anos, levou a um movimento de mudança na gestão das escolas públicas dos estados brasileiros, e tem seduzido parte da comunidade civil, fato este que se dá pelo bom e notório desempenho educacional, medido nos exames nacionais, e também pela redução dos casos de violência dentro e fora dos recintos escolares, sendo estes defendidos abertamente pelo governo estadual, como um exemplo de sucesso, onde o espaço público escolar passa a ser reestruturado de forma militarizada, com a proteção da disciplina e hierarquia. O novo modelo de gestão idealizado e implantado aprofunda questões como o dualismo histórico que a educação foi construída, e que ainda faz parte do cotidiano, que é a educação voltada à formação de pessoas para mão de obra e trabalhadora e a outra parte, a educacao voltada apenas para a elite; de modo que a primeira forma é constituída de políticas educacionais para formação exclusivamente para a massa, e a política das Instituições Militares abrange servir como instrumento de controle, submetendo os discentes a um comportamento mais aceitável e bem visto diante da comunidade.

Podemos citar exemplos das escolas militarizadas de algumas regiões como, por exemplo, no Nordeste, onde o modelo foi batizado de vetor disciplinar e sua implantação ficou a cargo dos municípios, totalizando em dias atuais 17 escolas militarizadas. Já na região Norte, podemos destacar os estados do Amazonas e Roraima, sucessivamente 12 escolas militarizadas no primeiro estado, tendo como exemplo uma escola chamada Colégio Waldocke Fricke de Lyra, que adquiriu experiência e obteve êxito, sendo reconhecimento pelo bom desempenho em relação ao IDEB apesar de estar inserida em um bairro com crescente índice de criminalidade.

As instituições militares penetram no núcleo escolar e se materializando com a forma de políticas públicas, transferindo para outra esfera a responsabilidade da educacao básica. Percebemos também que a parte mais afetada ainda são os estudantes, seus pais e os professores, pois a qualidade da educação não se faz somente com grande quantitativo de alunos aprovados em exames e vestibulares, existem outros fatores como os sociais e comportamentais.

Também se faz importante refletir sobre o propósito deste modelo de educação, qual a finalidade e que tipo de cidadão se pretende formar, visto que a educação não se limita no tríplice: disciplina, obediência e treinamento. E o Ministério da Educacao precisa inovar as metodologias de ensinos, e que sejam aplicadas em todas as redes públicas de educação, e não apenas a uma parcela delas, fazendo uso de tecnologias que integralizem todos os alunos, como por exemplo, os sites exclusivos para a preparação dos estudantes para o ENEM.

Finalizando, deve-se haver a busca e o incentivo dos educadores profissionais, de modo que apliquem a educação não apenas como um dever em sala de aula em modo automático, mas sim inspirando e instigando esses jovens, tornando a escola um ambiente mais agradável e salutar.

REFERÊNCIAS

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TEIXEIRA, Anísio. A crise educacional brasileira. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 80, n. 195, p. 310-326, maio/ago. 1999.

[1] Graduação em Administração de Empresas pela Faculdade Sociedade Madeira de Ley – Rio de Janeiro/RJ. Especialização em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra Amazonas – Manaus. Pós-Graduação em Gestão da Saúde e Administração Hospitalar pela Universidade Estácio de Sá – Manaus.

[2] Graduação em Ciências Biológicas pela Fundação de Ensino Superior de Olinda, Especialização em Micologia-UFPE; Mestrado em Biologia de Fungos pela UFPE e Doutorado em Biotecnologia pela UFAM.

Enviado: Julho, 2019.

Aprovado: Agosto, 2019.

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Claudenilson dos Santos Viana

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