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O ensino remoto a partir da pandemia, solução para o momento, ou veio para ficar?

RC: 85558
1.608
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/partir-da-pandemia

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CARVALHO, Alba Valéria Gomes [1], CUNHA, Marcos Roberto Da [2], QUIALA, Rosário Fernando [3]

CARVALHO, Alba Valéria Gomes. CUNHA, Marcos Roberto Da. QUIALA, Rosário Fernando. O ensino remoto a partir da pandemia, solução para o momento, ou veio para ficar?. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 05, Vol. 10, pp. 77-96. Maio de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/partir-da-pandemia, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/partir-da-pandemia

RESUMO

Este estudo exploratório tem por objetivo avaliar a perspectiva dos estudantes de quatro instituições de ensino desde o fundamental a graduação quanto ao ensino mediado pelas TIC (remoto e suas variáveis EAD e híbrido) para o pós-pandemia. A participação no estudo foi voluntária, confidencial e obteve adesão de 117 respondentes. Realizou-se análise descritiva dos dados tabulados no questionário pelo sistema de formulários do Gmail. A predisposição para uma migração definitiva de modalidade de ensino ficou evidenciada, pois 53,8% responderam que apesar de preferirem a modalidade presencial, o ensino híbrido é melhor que o totalmente remoto por propiciar a interação com colegas e professores. Somando-se este percentual aos que indicaram que preferem o totalmente remoto por terem se adaptado bem (26,5%), teremos 80,3% dos estudantes adaptados aos desafios e possibilidades da nova oferta de ensino se as instituições que estes estão matriculados decidissem por modernizar a oferta de ensino. Conclui-se, portanto, que apesar das dificuldades enfrentadas por parte dos estudantes na adaptação à modalidade remota imposta pela crise sanitária decorrente da pandemia com o coronavírus, a maioria está inclinada a se adaptar de forma definitiva a um modelo intermediário, o denominado ensino híbrido.

Palavras-chave: TIC, Ensino-aprendizagem, Modalidades de ensino, Metodologias ativas.

1. INTRODUÇÃO

A pandemia chegou, de repente, e com ela a necessidade de adaptação e ressignificação de muitos atos diários, inclusive a educação. As tecnologias da informação e comunicação – TIC que nos interligam com o mundo, facilitaram o isolamento social recomendado pelas autoridades sanitárias como medida de combate a propagação do coronavírus.

É fato que a pandemia acelerou processos. Algumas instituições, dos mais diversos ramos de atuação estavam em algum percentual convivendo com o trabalho remoto, mas a mudança imposta foi brutal e quem não teve como desenvolver suas atividades remotamente acabou parando de funcionar, durante o(s) período(s) de lockdown imposto(s) pelos governadores e prefeitos das cidades brasileiras.

Parece óbvio que a geração também denominada de nativa digital, e atualmente a maioria entre os que estão matriculados no ensino público ou privado, adapte-se facilmente com a mudança de cenário e oferta da modalidade de ensino presencial para a virtual, mas será que foi isso que aconteceu?

Pretendeu-se entender óbices ao processo de transformação digital do ambiente de trabalho e estudo, especialmente em instituições de ensino do fundamental a graduação e para tal foram aplicadas pesquisas em estudantes de instituições públicas e privadas para sondar a adaptação destes ao ensino remoto e até a predisposição dos mesmos sobre a continuidade da modalidade no pós-pandemia, ou uma eventual adaptação do ensino presencial em híbrido.

Para existir adaptação é preciso haver minimamente um domínio no(s) ambiente(s) que se passou a “frequentar” remotamente e por isso um dos aspectos averiguados foi se a infraestrutura residencial ou institucional interferiu na adaptação, e até se existiu diferença de domínio, entre os próprios estudantes ou professores que tenha influenciado na aprendizagem.

A escolha pela sondagem de estudantes em realidades diferentes (instituições públicas e privadas, capital e periferia, nível fundamental e graduação, entre outras) buscou evidenciar diferenças ou afinidades perante o mesmo cenário de ensino remoto aplicado a todos os níveis de ensino, indistintamente.

2. ENSINOS REMOTO, A DISTÂNCIA E HÍBRIDO – APROXIMAÇÕES E DIFERENÇAS

De acordo com a Associação Brasileira de Ensino a Distância (ABED), a história da educação a distância no Brasil começou em 1904, com uma matéria publicada no Jornal do Brasil, onde foi encontrado um anúncio nos classificados oferecendo curso de datilografia por correspondência (ABED, 2011). De lá para cá, muito se evoluiu no EAD.

Entretanto, oficialmente, a educação a distância surgiu pelo Decreto nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005, que posteriormente foi revogado. A sua atualização ocorreu pelo Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, vigente até a atualidade, que define, no seu primeiro artigo:

Art. 1º Para os fins deste Decreto, considera-se educação a distância a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos. (BRASIL, 2017).

É mister salientar que não existe apenas os modelos do ensino presencial, ensino remoto e do ensino a distância, existem associações entre os modelos que podem trazer um maior conforto em período de transição (como o ensino híbrido).

Em razão do isolamento social e lockdown em mais de uma oportunidade nas mesmas cidades, e nos mais diversos estados brasileiros, o ensino híbrido não se transformou em possibilidade real para o caso da pandemia, que chegou exigindo adaptação imediata, e por isso as instituições, em peso, optaram pelo ensino remoto, onde as aulas são em sua maioria on-line (denominadas de síncronas), com oportunidade de atividades desconectadas (denominadas assíncronas), porém em quaisquer das duas possibilidades do ensino remoto as interações foram a partir de casa, mas com imagem e som em tempo real entre estudantes e docentes.

Tal qual o ensino remoto, o ensino a distância – EAD, seria uma possibilidade factível para adoção imediata, mas se presume que não foi consenso sua adoção em razão da possibilidade de impacto negativo perante os estudantes pela falta de contato com os colegas e professores. Pois, nesse formato de ensino as aulas são, normalmente, gravadas com atividades disponibilizadas em plataformas com prazo certo para devolução das mesmas. Parece-nos uma opção para estudantes bem comprometidos com horários e que já possuem certo grau de autonomia e de consciência da responsabilidade de buscar seus próprios resultados de forma mais solitária.

Apesar de não ser novidade o ensino a distância, a incorporação das TIC no processo gera mais possibilidades, como afirmam Veiga et al (1998, p. 2)

O ensino à distância (EAD) não é novidade. No Brasil, tem funcionado há décadas através de cursos por correspondência, como os do Instituto Universal Brasileiro, e pela televisão, como o Telecurso 2o Grau, criado pela Rede Globo. A maior novidade dos últimos anos é a possibilidade de uso de tecnologias interativas, que permitem a comunicação em tempo real entre instrutores e alunos, tais como as teleconferências e a Internet, a qual tem-se desenvolvido em termos de capilaridade, velocidade e incorporação de recursos multimídia.

A ruptura imposta pela pandemia do coronavírus foi radical e exigiu uma adaptação sem uma prévia construção de conhecimento dos professores e de alguns estudantes ao mundo das TIC, de uma forma intensa, sem que a maioria desses tivessem uma experiência prévia que os colocasse mais confortavelmente numa relação de aprendizagem diferente da que estavam habituados.

Considerando a inviabilidade momentânea para a adoção do ensino híbrido, pode vir a ser amadurecida a ideia para garantir um estado de prontidão futura, se uma pesquisa com a comunidade escolar replicar resultados semelhantes aos desta.

Pois, Avrella e Cerutti (2018, p. 41) indicam que essa modalidade ”visa unir o melhor da aula tradicional com algum tipo de tecnologia, ressaltando de que forma ele pode ser inserido no contexto escolar gradativamente, respeitando o tempo das pessoas envolvidas neste processo”, ou seja, prevê um período de adaptação.

Mudanças bruscas podem levar decisões inesperadas quanto à permanência ou transformação de alunos em egressos, pensamento que coaduna com o que diz Nogueira (2014, p .20).

a evasão e a persistência discente configuram-se como fenômenos complexos, que são decorrentes de inúmeros fatores que influenciam na decisão do estudante em permanecer ou não em um curso, afetando as instituições de ensino por causar desperdício de recursos econômicos, sociais e humanos.

Entende-se que toda mudança promovida pelas instituições de ensino, adotadas pelos seus docentes visam o melhor para os estudantes. Contudo, como as pessoas além de serem diferentes, muitas vezes estão em ritmos e momentos diferentes de suas vidas fazendo com que as mesmas informações e/ou oportunidades sejam recebidas como oportunidades para uma parcela dos envolvidos e como desafio ou obstáculo para outras.

Discutir a transformação do ensino presencial em um estágio mais avançado e menos traumático, o ensino híbrido, pode ser uma excelente oportunidade de fortalecimento institucional para o enfrentamento de outras crises repentinas e duradouras como a da Covid-19.

Ainda para Avrela e Cerutti (2018, p. 45) “trabalhar desse modo em sala de aula, não é benéfico apenas para o bom andamento e rendimento das aulas, mas também para que os estudantes estejam preparados para viver em sociedade e para enfrentar as mais diversas situações”

Assim, devido a experimentação do ensino remoto estar sendo um exercício inesperado ou não programado de uma metodologia pouco conhecida para alguns, e até desconhecida para muitos que só eram atores da modalidade de ensino presencial, entende-se que é importante que as instituições busquem entender junto aos seus públicos-alvo a aceitação de mudanças no sentido de transformarem no todo ou em parte a relação ensino-aprendizagem, de forma permanente no pós-pandemia de maneira mais consensual possível, estimulando a prática e buscando formas de minimizar resistências.

A sensibilidade dos gestores, dos docentes e de toda a comunidade escolar, incluindo os pais e responsáveis é um ponto chave para encontrar alternativas de ensino desiguais de acordo com desigualdades locais, por exemplo megalópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, poderiam adotar com mais intensidade modalidades de ensino mediadas pela tecnologia, seja o EAD, o remoto ou o ensino híbrido, como forma inclusive de diminuir a poluição causada pela circulação de mais veículos, os que transportam esses estudantes e professores.

Comunidades com problemas logísticos graves, poderiam adotar as aulas remotas ou o EAD, como reflete Nogueira (2014, p. 20).

a região amazônica possui distâncias continentais, além de apresentar barreiras logísticas enormes ao deslocamento dos alunos, bem como dificuldades de implantação de campi avançados nos 62 (sessenta e dois) municípios que compõem o Estado do Amazonas. Locais de difícil mobilidade da população para os centros e campi universitários têm encontrado na EaD seu locus ideal de aplicação, alcançando expressivo significado no sistema educativo como forma de inclusão social, formação de profissionais, elemento de cidadania, dentre outros.

A inclusão social, um dos pilares base das instituições de ensino deve permear o discurso para vencer barreiras e convencer os menos empolgados com mudanças. Parafrasear Cora Coralina, parece muito adequado para a situação, pois como ela acertadamente definiu, a educação não muda o mundo, mas muda as pessoas e estas mudam suas realidades (adaptação nossa). Difícil pensar em mudanças que não passem pela educação, assim mudar ou combinar metodologias para que a aprendizagem avance nas capitais e nos rincões do Brasil é o convite que ficará mais latente no pós-pandemia.

O fato de cerca de um quinto dos estudantes estar disposto a esperar pelo retorno ao ensino presencial mesmo que demore, indica uma preocupação e se torna um fenômeno que merece ser estudado caso as instituições entendam que o amadurecimento e predisposição da ampla maioria para a mudança da chave de totalmente presencial para híbrido.

Pois, ficar sem estudar por um período indeterminado (haja vista terem considerado ficar sem estudar, mesmo que demore) não é saudável para o futuro desses e do próprio país, pois estariam os mesmos atrasando seus desenvolvimentos educacional e até profissional (para os respondentes de graduação).

Era esperado que existissem problemas de adaptação e que parte deles decorressem do receio da mudança, ou por desconhecimento da metodologia. Corrobora com essa impressão Almeida (2020, p. 18) quando diz que:

Pais tiveram muitos problemas. Professores tiveram muitos problemas. Alunos tiveram muitos problemas. Todos aqueles atores do processo educativo que tanto resistiram à mudança, precisaram experimentá-la. E, é claro, como não havia nenhum preparo anterior, a ação, emergencialmente composta para garantir o envolvimento do aluno com os conteúdos, não poderia ter dado 100% certo. Falo do ensino remoto.

Como o ensino remoto é parte do ensino híbrido, mas não pode ser confundido com ele, com a mudança repentina e drástica do presencial para o ensino remoto, era esperado que existisse alguma resistência, mesmo para os estudantes mais jovens que são nativos digitais, e isso foi percebido na tabulação das respostas atribuídas a pesquisa, base desse artigo.

Afirma Almeida (2020. P.18) que há semelhança entre o ensino remoto e o híbrido, mas que não se deve confundir essas modalidades, pois

dentro da ideia de ensino híbrido há momentos de escola remota, de aprendizagem remota, de ensino remoto. No entanto o que vimos no isolamento social por conta da pandemia foi uma mistura que ora parecia com ensino remoto – na maioria das vezes, ora parecia EAD, ora parecia e-learning, ora tantas outras coisas.

É compreensível, pois, se alguns dos atores envolvidos não possuíam expertise e permearam várias tecnologias buscando aplicar o ensino remoto, que em algum momento e algum grau para um percentual dessa população educacional envolvida que o desânimo e a desmotivação tenham aparecido, mas que a partir do envolvimento de todos essas sensações negativas tenham sido esvaídas para a maioria dos participantes.

A motivação para aprendizagem é algo que pode ser construída, segundo Bacich e Moran (2017, p. 43)

A aprendizagem é mais significativa quando motivamos os alunos intimamente, quando eles acham sentido nas atividades que propomos, quando consultamos suas motivações profundas, quando se engajam em projetos para os quais trazem contribuições, quando há diálogo sobre as atividades e a forma de realizá-las. Para isso, é fundamental conhecê-los, perguntar, mapear o perfil de cada estudante. Além de conhecê-los, acolhê-los afetivamente, estabelecer pontes, aproximar-se do universo deles, de como eles enxergam o mundo, do que eles valorizam, partindo de onde eles estão para ajudá-los a ampliar sua percepção, a enxergar outros pontos de vista, a aceitar desafios criativos e empreendedores.

Se o que importa é que a aprendizagem significativa ocorra, centrar a relação de ensino-aprendizagem no estudante é mais importante do que o espaço onde esse exercício ocorre.

É nesse sentido que se pode dar novo significado para os estudantes se as instituições adotam novas metodologias que consigam despertar neles a vontade de construir seus aprendizados a partir do uso de metodologias ativas, fugindo da necessidade de estarem enfileirados em sala de aula onde as atenções são preferencialmente para o professor.

Nas metodologias ativas, segundo Amaral et al (2018, p. 15)

O sujeito-aluno assume posição de coautor na construção do conhecimento, e isso requer das instituições e docentes uma urgência em se fazer circular outros sentidos distintos do modelo tradicional que caracteriza os modos de aprender e ensinar de forma unívoca. Dessa forma, é preciso estabelecer técnicas e estratégias de ensino que tornem os alunos mais participativos considerando que muitos, senão todos, são nativos digitais

Almeida (2020, p. 19-22), pensa e defende igualmente metodologia centrada no aluno, mas para o desenvolvimento destes ser exitoso, o ensino precisará estar calcado em seis objetivos a saber:

        1. Maior engajamento dos alunos no aprendizado.
        2. Melhor aproveitamento do tempo do professor.
        3. Ampliação do potencial da ação educativa visando intervenções efetivas.
        4. Planejamento personalizado, e acompanhamento de cada aluno.
        5. Oferta de experiências de aprendizagem que estejam ligadas às diferentes formas de aprender dos alunos.
        6. Aproximação da realidade escolar ao cotidiano do aluno.

Buscando esclarecer às resistências e nos baseando nas respostas a pesquisa, identificando e analisando-as sob o pensamento de Amaral et al, pode-se chegar ao entendimento que os cerca de 20% dos estudantes que resistem à mudança e alegam que preferem esperar pelo ensino presencial, mesmo que demore a acontecer nesse formato, pois segundo eles não conseguem aprender em outro formato que não seja o ensino presencial, talvez não estejam sendo estimulados adequadamente ou até estejam “viciados” no receber os pronunciamentos dos professores como um resumo suficiente, não estando dispostos a ampliar esses conhecimentos de forma autônoma.

Sendo válida essa premissa se torna, ainda mais, importante e urgente que os professores auxiliem na transição do modelo que os deixam limitados no conhecimento devido a passividade e que os distância dos desafios que os esperam no mundo pós acadêmico.

Exercendo esse papel de mediador e estimulando a busca de informações pelos alunos, auxiliando a estes na construção do conhecimento, instigando-os para que as informações disponíveis a todos no mundo virtual se transformem em conhecimentos úteis para a vida pessoal e profissional dos estudantes, ocorrerá a catapultagem da aprendizagem para o nível de significância que permitirá uma relação mais efetiva entre o mestre e o aprendiz.

Em função do processo da globalização e das céleres mudanças no cenário mundial, corrobora-se conhecer a construção do ensino remoto a partir da pandemia da COVID-19, diante deste cenário questiona-se a solução: é para o momento ou veio para ficar? Diante dessa visão, de acordo com Almeida (2020) o ensino híbrido chegou e para ficar, mas será necessário quebrar a resistência à mudança dos professores, que falam em novidades e mudanças, mas não as colocam em prática.

Já para Leal (2020) o autor entende como ensino remoto no contexto atual, como sendo uma estratégia educacional tendo a tecnologia como aliada, como forma de garantir continuidade do ano letivo. Dessa forma, diante da circunstância atual, o ensino remoto, inter-relaciona como a educação e tecnologias digitais, constituem-se em instrumento pedagógico estratégico no processo de ensino-aprendizagem.

Na concepção de Alves (2020) o ensino remoto, constitui um conjunto de práticas pedagógicas mediadas por plataformas digitais. Segundo Morán (2015) a tecnologia destacou-se como fator de integração de todos espaços e tempos, onde o ensinar e aprender ocorrem interligadas. O autor descreve como tecnologia o conjunto de diferentes plataformas digitais, entre outros meios que auxiliam o acesso ao conhecimento.

Segundo Spinardi e Both (2018) os autores acreditam que modelo de ensino remoto proporciona, maior interação, flexibilidade, autonomia e disciplina aos estudantes. De acordo com Peres (2020) atual processo de ensino, na sociedade digital, caracteriza-se pela facilidade de interação concedido pelas tecnologias digitais, como forma de difundir a concepção de conhecimentos e relações sociais.

Sendo assim, define-se como ensino remoto como sendo o processo de ensino-aprendizagem aliada a tecnologia, através das plataformas digitais e outros meios, onde o aluno é centro desse processo e o professor é o mediador enfrentando desafios de forma corresponsável no ambiente escolar virtual.

Desse modo, “As constantes atualizações tecnológicas e a grande influência cultural na sociedade da segunda metade do século XX até o momento têm causado uma virtualização das relações”, de acordo com Neto (2017, p. 59).

Com isto, segundo dicionário Aurélio, etimologicamente a palavra remota, do Latim remotus significa afastado, distanciado ou longe no tempo, Ferreira (2010). Mas, para o contexto aplicado na Educação nesse período pandêmico, o afastamento foi no espaço físico porque boa parte das aulas foi síncrona, onde professores e estudantes estiveram virtualmente podendo interagir, em tempo real.

Quadro 1- Ensino Remoto no Brasil: Principais características.

Principais características do Ensino Remoto no contexto da pandemia da COVID-19:
  1. As aulas ocorrem de forma online, coadunando com os horários das aulas no modelo presencial;

2. Foi implementado de carácter emergencial, como forma de atender a retomadas as aulas face a crise da pandemia;

3. Geralmente as aulas ocorrem em plataformas como: Google Meet, Zoom, Classroom e nas plataformas de gestão das próprias universidades Sigaa (sistema integrado de gestão de atividades acadêmicas);

4. Dispõe de avaliações de conhecimento do aprendizado de forma diferenciada;

5. O calendário acadêmico remoto segue o funcionamento do calendário presencial;

6. Os conteúdos e atividades são de forma virtual, não tendo um padrão unificado;

7.       Existe uma interação entre os alunos e professores em diferentes plataformas e meios de comunicação;

8. Não estabelece um número exato de disciplina à serem cursados por semestre, podendo o aluno fazer a quantidade que matéria possível;

9. Possibilita de criação de conhecimento em um ambiente colaborativo, flexível e virtual;

10. Mudanças progressivas no processo de ensino-aprendizagem dando autonomia aos estudantes na forma de aquisição de conhecimento.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

À luz da continuação das aulas de forma remota tornou-se possível através da portaria n° 343 de 17 de março de 2020, revogada posteriormente pela portaria n° 544 de 16 de junho de 2020, promulgada pelo MEC na pessoa do então Ministro da educação Abraham Weintraub, que orientava a substituição das aulas presenciais por aulas remotas ou em plataformas digitais, no tempo que perdurar a pandemia do coronavírus- COVID-19.

No seu art. 1° caráter excepcional autoriza a substituição das disciplinas presenciais, por aulas remotas que utilizem tecnologias digitais e de comunicação seguindo limites da legislação em vigor (BRASIL, 2020).

Com isso, fez com que os estados tomassem medidas estratégicas de forma a integrar e adequar os novos espaços de ensino para todos, como descrito no quadro 2.

A substituição das atividades letivas presencias, obrigou tanto professores e estudantes a migrarem para o ambiente virtual, alterando as práticas metodológicas do espaço físico para reinvenção nos espaços virtuais, o denominado ensino remoto emergencial a solução do momento face a crise da pandemia no contexto atual.

Ries, Rocha e Silva (2020) descrevem que, no cenário atual ensinar e aprender, requer o repensar no fazer pedagógico e enfrentamento de desafios de forma corresponsável na construção do processo de ensino e aprendizagem. Para esses autores, as novas estratégias educacionais precisam estar em constante avaliação e discussão como forma de garantir o feedback positivo, para que se alcancem as metas e os objetivos traçados.

Esse modelo de ensino-aprendizagem, pressupõe mudanças progressivas, dando autonomia aos estudantes. Para Morán (2015, p. 27) “é importante que cada escola defina um plano estratégico de como fará estas mudanças”.  Uma das vantagens, desse modelo, que se pode observar, foi colocar o aluno no centro do processo ensino-aprendizagem, e o professor como um mediador, possibilitando os estudantes estudarem no seu ritmo com as mais variadas ferramentas digitais.

Moreira; Henriques e Barros (2020) relatam que o professor, mais do que um transmissor de conhecimentos, deve ser um guia do processo de aprendizagem do estudante de forma a desenvolver as suas capacidades, nomeadamente de aprender a aprender, aguçando a autoaprendizagem e fortalecendo a autonomia. Para tal, os estímulos são fundamentais em qualquer processo de crescimento ou evolução do ser o humano.

De acordo com Ries; Rocha e Silva (2020), a necessidade de adequação de planos de ensino, estratégias pedagógicas e metodologias de ensino, são construídos por regime colaborativo entre os envolvidos em situações como a pandemia.

Neste ponto, cabe destacar que a escola como tal, deixou de ser o único espaço que possibilita a interação entre estudantes e professor. Pois, cria-se uma ruptura entre o que ocorre tradicionalmente na escola, e o que a tecnologia e o novo modo de vida disponibilizam, Neto (2017).

Dessa maneira, a condição humana significativamente progressiva em seus processos, a mudança, apresenta-se como um manifesto a evolução, Santos, Alves e Porto (2018).

Quadro 2- Ensino Remoto no Brasil: Estratégias adoptadas pelas secretarias estaduais.

Unidades Federativas Estratégias de Ensino Remoto: medidas adoptadas pelas secretarias estaduais para mitigar as perdas na aprendizagem dos alunos causadas pela pandemia.
Acre A secretaria lançou uma plataforma com conteúdo para os estudantes e fechou uma parceria com um canal aberto de TV para oferecer tele aulas. Além disso, divulgou um Guia Orientador para o Desenvolvimento de Atividades durante o período de suspensão das aulas. Além do guia, sugestão de materiais, atividades e videoaulas estão disponíveis na plataforma Rede Escola Digital, da própria secretaria.
Alagoas A secretaria estabeleceu o Regime Especial de Atividades Escolares Não Presenciais. O documento orienta como as atividades devem ser realizadas pelas unidades de ensino, com o apoio das Gerências Regionais de Educação e da secretaria. (Portaria Nº 4.904/2020, publicada no Diário Oficial do Estado de Alagoas (DOE) de 7 de abri de 2020).
Amapá A secretaria disponibilizou plataformas para atividades não presenciais, como a Escola Digital Amapá, a Escolas Conectadas e o AVAMEC. Além dos livros didáticos já entregues aos estudantes no início do ano letivo de 2020, que poderão ser utilizados nas atividades elaboradas pelos professores.
Amazonas Transmissão de conteúdo escolar diário pela TV aberta por meio do programa “Aula em Casa”, e disponibilização de conteúdo pelas plataformas AVA, Saber+ e pelo aplicativo Mano. Também há transmissão das aulas por lives no Facebook e no Instagram. Após o retorno das aulas presenciais, será realizada verificação da aprendizagem.
Bahia Em 2020, a secretaria disponibilizou roteiros de estudos, por área do conhecimento, no portal educacao.ba.gov.br. Também ampliou a Plataforma Anísio Teixeira com o Canal de conteúdos de 12 Instituições Públicas de Ensino Superior (IES). Além disso, transmitiu tele aulas por meio do programa “Estude em Casa”, da TV Educativa, além de utilizar o projeto de salas de aula online “Classes Abertas”, com orientação para professores, da Fundação Roberto Marinho.
Ceará As escolas foram orientadas a desenvolver um Plano de Atividades Domiciliares, utilizando o livro didático da rede como base. Para interagir com os alunos, professores estão utilizando as plataformas Aluno Online, Professor Online (desenvolvidas pela própria Secretaria) e Google Classroom. A avaliação dos conteúdos deve ser realizada no retorno às aulas presenciais. Os Centros de Educação de Jovens e Adultos também estão utilizando as plataformas tecnológicas para oferecer atividades não presenciais.
Para as atividades do regime especial não presencial, as escolas devem preparar materiais específicos por meios digitais ou não, viabilizando a realização das atividades por parte dos alunos.
Distrito Federal Na parte remota, o principal instrumento é a plataforma Google Sala de Aula. Os estudantes com dificuldade de acesso à internet já têm pacotes de dados para uso em qualquer dispositivo móvel pagos pela Secretaria.
Goiás Para atender aos estudantes tem o portal de conteúdo NetEscola, com aulas e listas de atividades para todas as séries do Ensino Fundamental e Ensino Médio, esse portal é atualizado diariamente pelos produtores de material das áreas.
Espírito Santo O ano letivo reinicia nos municípios que estão em Risco Baixo e Moderado, com todo o suporte e protocolos de biossegurança. As aulas na rede estadual foram retomadas em outubro, no formato híbrido. Os alunos que optarem pelo ensino remoto poderão acompanhar as aulas, que serão disponibilizadas no canal SeduES no Youtube. Serão enviados dois projetos de lei à Assembleia Legislativa: um visando a concessão de ajuda de custo a professores, pedagogos e diretores efetivos no valor de R$ 5 mil para a aquisição de equipamento de informática (notebook, Chromebook ou tablet), e outro dispondo do “auxílio internet” no valor de R$ 50,00 mensais para cada professor – efetivo ou em designação temporária (DT).
Maranhão A SEDUC ofertará aos estudantes chips com pacote de dados e material impresso. Em 2020, foi lançado o Portal Gonçalves Dias que contém videoaulas, apostilas e roteiros de estudo baseados no currículo do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino e será suporte para o ensino e a aprendizagem em 2021.
Mato Grosso O Governo do Estado firmou parceria para ofertar a plataforma Google for Education, que permite maior interação entre alunos e professores. Para os alunos que não possuem acesso à internet, serão entregues apostilas e haverá plantão pedagógico nas escolas para tirar dúvidas.
Mato Grosso do sul A secretaria trabalha com a plataforma Protagonismo Digital para execução de aulas remotas durante período de suspensão de aulas. Alunos sem acesso à internet receberão o material de estudos impresso em casa, devendo devolver as atividades após a retomada das aulas.
Minas Gerais As atividades serão ofertadas por meio do Regime de Estudo não Presencial, que foi desenvolvido pela secretaria. A principal ação é o Plano de Estudo Tutorado (PET), que são apostilas com conteúdos das disciplinas concentrados em volumes e por etapa de ensino.
Pará A secretaria oferece videoaulas para alunos dos Anos Finais do Fundamental e do Ensino Médio. Elas são transmitidas pela TV Cultura, de segunda a sexta, das 15h30 às 17h30, e aos sábados, das 11h às 13h. Também podem ser acessadas pelo aplicativo e por redes sociais.
No site da secretaria, os alunos têm a opção de baixar os exercícios diariamente.
Paraíba A secretaria lançou a plataforma Paraíba Educa (http://paraiba.pb.gov.br/paraibaeduca) e está fechando parceria para exibição de tele aulas pela TV Assembleia.
Paraná Os alunos da rede estadual do Paraná terão ensino híbrido em 2021. Os professores darão aula, simultaneamente, para os estudantes que estiverem em sala de aula e para os que estiverem em casa. Para isso, a Secretaria da Educação e do Esporte dispõe de um notebook para cada sala de aula do estado.
Pernambuco Em 2020, a secretaria criou a plataforma Educa-PE, uma iniciativa pedagógica para transmissão ao vivo de aulas durante o período de isolamento.
Piauí Entre as plataformas utilizadas, os alunos têm acesso a transmissão via Canal Educação, TV Antares, Google Meet, zoom, whats App, além disso, as escolas estão produzindo material impresso. As escolas também tiveram total autonomia para planejar e implementar novas estratégias de acordo com suas especificidades. A distribuição de chip com internet para os estudantes da rede é uma das novas ações.
Rio de Janeiro A partir de março será disponibilizado um link de navegação gratuita para que os estudantes tenham acesso ilimitado ao conteúdo didático da Seeduc sem gastar seus próprios pacotes de internet. Um novo aplicativo vai abarcar todo o conteúdo de ensino remoto, além das aulas ao vivo no Google Classroom.
Rio Grande do Norte A secretaria disponibilizou para toda a rede a Escola Digital, ambiente virtual de aprendizagem da Secretaria, onde o professor pode postar conteúdo para os alunos e realizar webconferências. A secretaria também firmou parceria com a Google for Education para disponibilizar acesso gratuito às plataformas e recursos da empresa.
Rio Grande do Sul Diante da pandemia de coronavírus e da necessidade de priorizar a segurança de alunos, professores e comunidade escolar, em 2021 a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) dará continuidade ao modelo híbrido de ensino. As aulas na Rede Estadual de Ensino, que incluem atividades presenciais e remotas, por meio da plataforma Google Sala de Aula, começam no dia 8 de março e se encerram no dia 21 de dezembro.
Rondônia Estão sendo ofertadas aulas remotas por meio da plataforma digital Google Classroom. As aulas são planejadas e ministradas pelos professores da rede estadual que atuam na Mediação Tecnológica, disponibilizadas por meio da plataforma “Google Classroom”. Os professores elaboraram cronogramas contendo os temas das aulas e links de acesso, onde o aluno é direcionado para assistir as videoaulas no canal da Mediação Tecnológica no YouTube.
Roraima A secretaria conta com um grupo de especialistas em tecnologia da informação no assessoramento direto aos professores e alunos, com a oferta de minicursos e informativos.
Santa Catarina Para alunos com acesso à internet, será mantido o uso da plataforma Google Sala de Aula para o envio de atividades e interações entre a turma e o professor. Já para os estudantes com acesso restrito ou sem acesso à internet, a secretaria irá seguir com a entrega de materiais impressos nas escolas de origem do estudante para os pais e responsáveis.
São Paulo A secretaria lançou o Centro de Mídias da Educação de SP (CMSP). A plataforma permite que os estudantes da rede estadual tenham acesso a aulas ao vivo, videoaulas e outros conteúdos pedagógicos mesmo durante o período da quarentena.
Sergipe Em 2020, o governo fez parceria com a Secretaria de Educação do Amazonas e disponibilizou videoaulas na TV Pública do Estado, com 4h40 diárias para ensino médio e fundamental II. Também lançou o portal Estude em Casa, com conteúdo para alunos e professores. Para 2021 o governo permitiu um canal de TV que abrange todo estado.
Tocantins Conforme o decreto n° 6.211, permitindo as escolas estudais retomarem as aulas presencias em janeiro de 2021. Seguindo as orientações da portaria n° 185, estabelecendo um conjunto de práticas pedagógicas de proteção à saúde e as medidas de retomada das atividades presenciais ou remotas.

Fonte: CONSED, 2020. Adaptado pelos autores.

A emergência desse novo modelo de ensino e das estratégias adotadas pelas secretárias de educação dos estados, transformou em algum grau, de forma permanente o padrão de ensino tradicional.

De um modo geral, de forma positiva, é possível compreender que o ensino remoto, modificou a ênfase que é dada ao processo de ensino-aprendizagem tradicional. Com isto, ganhando uma importância maior no novo cenário mundial, que se pretende mais inclusão, participação e interatividade.

Além do aspecto emergencial, existem também outros fatores que deveriam influenciar diretamente na mudança do modelo habitual de ensino-aprendizagem, principalmente pelos problemas sociais que o Brasil enfrenta.

Segundo Cesar (2020), considera-se que as estratégias do poder público devem lançar mão de ações que intencionalmente busquem reduzir, ao máximo, o risco de ampliação das desigualdades educacionais.

A partir dessa interpretação, é possível perceber que, é preciso que exista uma equidade no tratamento de disparidades como acesso à internet e aos equipamentos tecnológicos, a fim de que se evite a manutenção de diferenças já existentes entre as regiões, pela exclusão e desigualdade social, política e educacional no nosso país.

Interligar esses estudantes e esses docentes ao mundo virtual, de forma efetiva, poderá e provavelmente propiciará o conhecimento das desigualdades e a busca de soluções conjuntas para que essas disparidades sejam minimizadas e a tal igualdade de direitos de acesso ao conhecimento se torne realidade no Brasil.

3. METODOLOGIA

Este estudo exploratório tem por objetivo avaliar a perspectiva dos estudantes de quatro instituições de ensino desde o fundamental a graduação quanto ao ensino mediado pelas TIC (remoto e suas variáveis EAD e híbrido) para o pós-pandemia.

Esta pesquisa foi realizada utilizando a metodologia quantitativa e revisão bibliográfica. O questionário foi aplicado na data de 20 a 31/01/2021. A participação no estudo foi voluntária, confidencial e obteve adesão de 117 respondentes.

Segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 107) o papel do método estatístico é, antes de tudo, “fornecer uma descrição quantitativa da sociedade, considerada como um todo organizado”.

Conforme Gil (2008, p. 17), “este método se fundamenta na aplicação da teoria estatística da probabilidade e constitui importante auxílio para a investigação em ciências sociais”.

Com base na utilização de testes estatísticos, possibilita-se determinar, em termos numéricos, a probabilidade de acerto de determinada conclusão, bem como a margem de erro de um valor obtido (GIL, 2008).

Quanto à pesquisa quantitativa de Fonseca (2002, p. 20) explica que:

[…] os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e consideradas representativas da população, os resultados são tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente.

Quanto à pesquisa bibliográfica Dalbério e Dalbério (2009, p. 167): ”[…]o pesquisador deve tomar cuidado com a fidedignidade e validade científica das informações [sob o risco de] incorrer em possíveis incoerências e contradições causadas por material de baixa credibilidade”.

O resultado da pesquisa nos permitiu ter uma ideia da visão dos alunos a respeito do futuro da educação à distância.

A aplicação do questionário seguiu um método padronizado a todos os respondentes. A cada um foi enviado um link do questionário pelo sistema de formulários do Gmail.

A análise das respostas seguiu de forma sigilosa, sem identificação do respondente para não haver influência quanto ao resultado da pesquisa.

Quanto ao conteúdo da pesquisa, iniciamos com o enquadramento por gênero e condição socioeconômica, estabelecendo faixas de renda e indicando a escolha da classificação do gênero que, os respondentes, melhor se identificassem.

No total foram construídas 35 (trinta e cinco) assertivas cujas respostas nos possibilitou o entendimento das inquietações acerca da vivência dessa nova modalidade de ensino-aprendizagem para os estudantes da modalidade presencial, o ensino remoto.

Foi reservado espaço para exploração sobre a percepção dos mesmos acerca do tempo entre a suspensão das aulas e o início no formato possível para a fase de crise sanitária, quanto a estrutura física para acomodar essa prática escolar em isolamento social, incluindo a qualidade da internet que possuem, bem sobre os equipamentos eletrônicos.

A análise foi proposta tanto a nível de autopercepção de adaptação, quanto acerca da percepção destes em relação a adaptação dos colegas e dos professores ao desafio que foi imposto a todos, indistintamente.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A classe estudantil parece estar mais propensa a uma quebra de paradigmas do que antes da pandemia. Pois a experimentação do estudo na modalidade remota propiciou a perspectiva de pensar em adaptar a relação ensino-aprendizagem, para grande parte dos pesquisados, com a minimização ou eliminação de desconfortos que sentiam na modalidade presencial, tais como perda de tempo nos congestionamentos enquanto se deslocam de suas residências para as instituições de ensino.

Pode-se inferir essa predisposição nas respostas dadas para a seguinte pergunta: Quanto a sua adaptação à nova modalidade de aulas? 36,8% responderam que foi fácil se adaptar, mas que preferem a modalidade presencial porque sentem falta da interação entre os pares e os professores.

Outros 12% responderam que tiveram facilidade de se adaptar e gostariam de permanecer na modalidade remota.

Um razoável percentual de respondentes (18,8%) alega que foram mais produtivos na modalidade remota porque conseguiram otimizar seus tempos devido a não terem desperdiçado parte dele com deslocamento.

Entre os que tiveram mais dificuldades em se adaptar, 14,5% revelam ter sido difícil, mas como não escolheram a opção ainda não me adaptei (uma das respostas possíveis), leva-nos ao entendimento de que foi difícil, mas se ajustaram ao novo modelo. Restando apenas 17,9% que indicaram que ainda não se adaptaram.

Levando a compreensão que o ensino híbrido seria aceito e que a associação entre as modalidades presencial e remota traria benefícios para um percentual elevado dos estudantes, quando a redução de custos com o deslocamento, permitindo existir um melhor aproveitamento da renda per capita daqueles que indicaram que a família subsiste com um salário mínimo mensal que correspondeu a 37,6% que somados aos que indicaram o enquadramento de 1 a 3 salários mínimos a renda de sua família (21,4%), indicam que cerca de 60% dos respondentes poderiam ter algum benefício com a mudança de modalidade.

Corrobora com o entendimento de que a classe estudantil está propensa a aceitação de adaptação do ambiente estudantil ao uso das TIC – Tecnologias da informação e comunicação as respostas dadas a seguinte questão: Caso o conselho universitário decidisse por implementar um modelo híbrido (parte presencial e parte remoto), qual a sua opinião acerca da mudança na modalidade do curso, em relação a sua capacidade de adaptação? Pois 53,8% responderam que apesar de preferirem a modalidade presencial, o ensino híbrido é melhor que o totalmente remoto por propiciar a interação com colegas e professores.

Somando-se este percentual aos que indicaram que preferem o totalmente remoto por terem se adaptado bem (26,5%), teremos 80,3% dos estudantes adaptados aos desafios e possibilidades da nova oferta de ensino se as instituições que estes estão matriculados decidissem por modernizar a oferta de ensino.

Assim, as instituições precisam de uma estratégia para estimulação de cerca dos 20%, já que é o percentual indicativo dos que não se adaptaram e preferem o ensino totalmente presencial, mesmo que para tal o retorno a essa modalidade demore muito em função das adversidades impostas pela crise sanitária mundial.

Quanto ao desempenho e a dedicação aos estudos no primeiro semestre remoto para estudantes de ensino presencial, percebe-se que quase 40% deles reconhecem que se dedicaram menos do que no semestre regular de ensino e que somado aos pouco mais de 30% que indicam terem se dedicado igualmente à modalidade remota e presencial.

Portanto, não surpreendeu o percentual registrado na pergunta sobre desempenho, cujos respondentes indicaram que aprenderam menos que na modalidade tradicional, pois a dedicação na aprendizagem é fator importante para o sucesso, especialmente se desafios como mudança de metodologia fazem parte de um período.

O curioso foi perceber que mesmo cerca de 70% dos respondentes tendo se enquadrado e as suas famílias com renda de até 5 salários-mínimos, com destaque para mais da metade deles (37,6%) ou 44 pessoas no total indicarem que suas famílias em relação às situações socioeconômica, enquadram-se com renda de 1 salário-mínimo mensal.

Mesmo com um enquadramento social limitado para a manutenção do grupo familiar variável entre duas (o respondente mais uma), ou o(a) respondente mais quatro ou mais pessoas (cerca de 67%, ou seja 78 dos 117 respondentes) indicaram possuir internet rápida.

A maior parte desses justificou ser esse o motivo da rápida adaptação a nova metodologia de ensino-aprendizagem, já cerca de 14% alegaram que mesmo possuindo internet rápida não facilitou a adaptação.

Além de 109 dos 117 dos pesquisados indicaram possuir algum equipamento que propiciava o acesso às aulas (notebook, PC ou smartphone), e cerca de 65% destes informaram que tiveram ambiente reservado para se dedicar aos estudos, restando apenas 8 indicando que não possuíam equipamentos e foram auxiliados pelas instituições ou por familiares e amigos.

Quando perguntados sobre a adaptação dos professores (ou seja, da instituição), 77 deles (66,3%) responderam que ou os professores demostraram domínio na utilização da nova ferramenta para o ensino, ou inicialmente demonstraram pouco domínio, contudo se adaptaram rápido.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Passar pela experiência do ensino remoto, sem uma capacitação prévia, pela imposição de uma crise sanitária mundial, devido a urgência em retomar as atividades escolares, apesar de ter sido uma experiência negativa para estudantes que não dispõem de equipamentos ou internet de banda larga que propiciaria uma regularidade/estabilidade para assistir as aulas, demonstrou que as instituições podem aproveitar a oportunidade surgida desse desafio em ter que implementar uma nova modalidade de ensino em tempo recorde para todos os envolvidos (professores, estudantes, administração como um todo) em algo positivo e não retornar ao estágio de ensino passivo em que se encontrava.

Ocorrendo a compreensão de que é possível acomodar o ensino remoto, e avançar para o ensino híbrido, esses atores sairão mais fortes dessa experiência, e cientes de que estavam mais suscetíveis a quebra do paradigma do que podiam imaginar. Pois, a autoavaliação revelou resultado razoável, uma vez que muitos assumiram que se dedicaram menos do que na modalidade presencial, e isso refletiu em seus resultados que não poderiam ser iguais aos do semestre anterior em que estavam na modalidade presencial, até então as zonas de conforto do grupo que assim se enquadrou.

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[1] Doutoranda em Ciências Empresariales y Sociales (UCES – AR).

[2] Doutorando em Ciências Sociais e Empresariais/  Doutorando em Educação.

[3] Graduando em Administração Pública (UNILAB-CE).

Enviado: Abril, 2021.

Aprovado: Maio, 2021.

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Marcos Roberto Da Cunha

Uma resposta

  1. Marcos boa tarde
    Parabéns pelo estudo.

    você poderia compartilhar conosco o instrumento/questionário aplicado na pesquisa de campo? obrigada.

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