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Indisciplina escolar: Desafio na aprendizagem dos alunos do Ensino Fundamental em uma escola de Mantenópolis/ES

RC: 57125
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ALMEIDA, Edivaldo Menegazzo de [1], FRANCO, Sebastião Pimentel [2]

ALMEIDA, Edivaldo Menegazzo de. FRANCO, Sebastião Pimentel. Indisciplina escolar: Desafio na aprendizagem dos alunos do Ensino Fundamental em uma escola de Mantenópolis/ES. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 03, pp. 81-111. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/indisciplina-escolar

RESUMO

Este artigo objetiva explorar a temática indisciplina escolar como um desafio na aprendizagem dos alunos do ensino fundamental em uma escola pesquisada de Mantenópolis/ES, pois se trata de assunto recorrente, intenso e desafiador nos últimos anos. Muitos docentes têm lacunas na formação acadêmica direcionadas à utilização de técnicas e metodologias diversas para conter, minimizar e mediar conflitos entre os alunos em sala de aula. Com o aumento significativo dos registros de ocorrência indisciplinar cometidos pelos estudantes na referida escola, buscou-se como resposta para o objetivo geral deste estudo analisar os possíveis impactos causados por essa problemática na aprendizagem dos estudantes. Este estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa de caráter qualitativo, com os objetivos específicos: identificar as maiores incidências da indisciplina escolar dos alunos de uma escola de Mantenópolis/ES registrados em livro próprio; descrever as ações utilizadas pela escola nos casos de indisciplina escolar à luz do regimento comum; verificar os resultados obtidos – aproveitamento escolar – dos alunos “indisciplinados” nos trimestres avaliados do ano letivo 2019. Como instrumentos de coleta de dados levantou-se o perfil dos discentes/docentes atuantes em sala de aula e foi realizada uma entrevista semiestruturada com os sujeitos para compreender as percepções que eles têm dos conceitos abordados e, dessa forma, construir caminhos pedagógicos sob orientação dos referenciais teóricos que embasam a discussão da temática em seus livros e dissertações. Portanto, é necessário, aprofundamento/estudos da equipe escolar acerca dessa problemática para melhor enfrentamento, revisão do regimento interno de forma democrática com todos os segmentos da comunidade escolar, construção de acordos/contratos pedagógicos entre discentes/docentes, ações de protagonismo em grupo de forma lúdica para estreitamento da amizade – empatia e monitoramento constante da equipe pedagógica em relação à aprendizagem dos alunos que praticarem atos “indisciplinares”.

Palavras-chave: Indisciplina escolar, aprendizagem, práticas pedagógicas, relações interpessoais.

1. INTRODUÇÃO

Hoje, muito tem sido falado acerca da indisciplina escolar pelos profissionais da educação nos planejamentos, em estudos coletivos, formações, jornadas pedagógicas e conselhos de classe. É um problema que afeta a maioria das escolas brasileiras públicas e privadas, não se limitando à classe social ou econômica. Para os profissionais da educação, a indisciplina tem sido um dos problemas mais difíceis de combater no sistema educacional, levando muitos a abandonarem o ofício e/ou se afastarem da função por motivo de saúde, como: cansaço, estresse e depressão.

Os registros de ocorrência indisciplinar cometidos por alunos em sala de aula têm aumentado nas escolas, sendo necessário buscar soluções e respostas aos atos praticados por eles. Diante desse problema, é comum ouvir muitos docentes dizerem que “não sabem o que fazer”. O resultado é uma grande frustração perante os demais estudantes em sala de aula por não conseguir manter a ordem, a disciplina e, consequentemente, o ensino-aprendizagem.

Contudo, esses estudantes ficam prejudicados na aprendizagem por não participarem das aulas preparadas pelos professores referentes aos conteúdos, atividades, exercícios, trabalhos e avaliações. Tal inquietação decorrente dessa problemática vivenciada nas escolas motivou o desenvolvimento desta pesquisa.

Embates entre professores e alunos são cada dia mais comuns nos espaços escolares e, diante desse aumento, torna-se imprescindível elaborar e adotar novas metodologias para uma prática docente eficaz, visto que essa problemática não é discutida na formação pedagógica dos professores no meio acadêmico, como poderá ser constatado no desenvolvimento da pesquisa.

De acordo com Garcia (1999), a indisciplina tem sido uma problemática bastante discutida nos espaços de reflexão escolar, sendo fonte de estresse quando associada a conflitos que emergem das relações entre professores e alunos. Esse estresse gerado pelo embate entre docente e discente acontece muitas vezes devido à ausência de limites, em que a solução está, frequentemente, nas regras do regimento interno na forma de advertência, suspensão e/ou transferência compulsória, ou seja, punição. No entanto, a reflexão precisa ser mais profunda e intensa entre os membros da comunidade escolar, visto que ela está resolvendo o problema no momento, paliativamente, mas os conflitos continuam e ocorrem logo em seguida à tomada de providência pela gestão escolar.

Para Aquino (2003), o conceito de indisciplina é uma criação cultural e, como tal, não é estático e uniforme. Fatores, manifestações de atos considerados indisciplinados, conceituações, concepções de professores, de alunos e de outros atores do sistema escolar constituem um cenário atravessado por diversas questões e interpretações presentes nas investigações sobre o tema indisciplina na escola.

Diversas causas dão origem à indisciplina escolar na sala de aula. La Taille (1996) acredita que esta se refere à ausência de moral/vergonha por parte dos alunos, sendo preciso buscar os motivos dessa ausência. Para o autor, o aluno passou a ser considerado cliente a quem a escola vende um produto.

Há autores que sugerem meios para prevenir a indisciplina escolar, como Eccheli (2008). Ele afirma que ao conquistar a motivação, o professor e a escola adiantam um passo para prevenir a indisciplina, pois aluno motivado é aluno atento, curioso, o que, consequentemente, estimula o professor a prosseguir no objetivo de repassar mais conhecimentos e se sentir mais motivado.

Moço (2009) considera que o professor deve trabalhar conteúdos relacionados às questões morais, ao convívio social, à cooperação mútua, de maneira que essas abordagens possibilitem uma relação de respeito mútuo e possam, assim, inibir a indisciplina, pois o aluno se sentirá valorizado e pertencente ao processo ensino aprendizagem.

De acordo com o ponto de vista de Vasconcellos (1994), a indisciplina pode ser encontrada em cinco níveis: sociedade, família, escola, professor e aluno. O ideal é trabalhar em ações junto a esses níveis. O autor acredita que a sociedade deve procurar resgatar o compromisso, a solidariedade, a valorização dos profissionais da educação, além de participar de movimentos populares em prol da educação. E a família deve buscar disciplinar o aluno por meio de diversas posturas, como: impor limites ao filho, ajudá-lo a construir uma postura crítica e a pensar no sentido da vida, não acobertar falhas, acreditar na possibilidade de o filho participar das atividades escolares, valorizando a escola, o professor e o estudo. A família precisa acompanhar a vida escolar do filho.

Assim, diante da importância desse tema, a proposta deste estudo é estudar a questão da indisciplina nas séries finais em uma escola de Ensino Fundamental da cidade de Mantenópolis/ES, verificando os impactos da indisciplina escolar na aprendizagem dos alunos que cometem tal ato.

Para fazer essa combinação serão selecionados do livro próprio de ocorrência da escola os discentes que mais se envolveram em atos ditos “indisciplinados” no ano letivo 2019. E também as ações encaminhadas e determinadas pela gestão escolar para esses alunos à luz do regimento comum e o aproveitamento escolar apurado nos resultados dos boletins trimestrais do ano letivo 2019. Como o pesquisador faz parte da escola pesquisada e, portanto, estará presente para assistir as medidas adotadas pela equipe responsável, utilizará como procedimento metodológico a observação e entrevista semiestruturada com os professores e estudantes que estão registrados no livro de ocorrências.

Este trabalho buscou responder as seguintes questões: De que forma os alunos “indisciplinados” alcançam aprendizagem escolar em uma escola de Mantenópolis/ES? Quais os principais casos de indisciplina que ocorrem na escola pesquisada?

Estabelecemos como objetivo geral, verificar a ocorrência da indisciplina numa escola de ensino Fundamental das séries Iniciais em Mantenópolis/Es e como objetivos específicos: identificar as maiores incidências de indisciplina escolar de alunos em uma escola de Ensino Fundamental das séries finais de Mantenópolis/ES; descrever as ações utilizadas pela escola nos casos de indisciplina escolar à luz do regimento comum; verificar os resultados obtidos – aproveitamento escolar – dos alunos “indisciplinados” nos trimestres avaliados do ano letivo 20190.

Essa pesquisa é de natureza qualitativa, uma vez que esse tipo de pesquisa possibilita maior participação dos envolvidos, apropriação dos procedimentos e resultados a serem obtidos sem perder seu caráter científico, por isso Trivinos (2008) aponta que a pesquisa é um processo organizado que deve objetivar o avanço do saber cientifico que inclui descrições, explanações, interpretações, orientações, e também o método para se chegar a esse conhecimento. Foram utilizados como instrumentos para a coleta de dados a observação, pesquisa documental (livro de registro dos casos de indisciplina na escola e entrevista semiestruturada.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os dados da pesquisa são descritivos e foram produzidos por meio da coleta detalhada de informações, utilizando os procedimentos: observação, pesquisa documental e entrevista semiestruturada.

O processo de observação participante ocorreu no período de novembro a dezembro de 2019, durante os atendimentos da gestão escolar aos alunos e professores. Nesses momentos de intervenção pedagógica, conversa, orientação e registros, o pesquisador presenciou a mediação dos conflitos ocorridos com alunos considerados indisciplinados junto com a escrita dos registros em livro próprio da escola. O pesquisador também se apropriou de informações sobre a temática indisciplina escolar nos planejamentos dos professores, em jornadas pedagógicas, em reuniões periódicas e nos intervalos.

A observação possibilita, na opinião de Lüdke e André (1986), um contato pessoal do pesquisador com o objeto de investigação, ao permitir acompanhar as experiências diárias dos sujeitos e aprender o significado que atribuem à realidade e às suas ações.

Na pesquisa documental utilizou-se o livro de ocorrências indisciplinares da instituição de ensino para compreender melhor os casos mais comuns registrados no cotidiano escolar, encaminhamentos da gestão como método de solução, seleção dos alunos que mais se envolveram nas referidas ocorrências para a pesquisa e documentos de aproveitamento escolar por meio dos boletins de notas extraídos na secretaria da escola dos alunos selecionados para relacionar a indisciplina com aprendizagem.

A pesquisa documental, segundo Gil (2008), é uma técnica de coleta de dados que, embora referentes a pessoas, são obtidos de maneira indireta, tomam a forma de documentos, como livros, jornais, papéis oficiais, registros estatísticos, fotos, discos, filmes e vídeos.

Como deseja-se fazer uma triangulação das fontes, utilizou-se ainda as entrevistas de natureza semiestruturada desta pesquisa abordará questões objetivas e subjetivas, por meio de um questionário com perguntas abertas padronizadas para o entrevistado emitir sua opinião de forma autônoma e livre, além de perguntas fechadas com opção de resposta padronizada, sem fugir da proposta do pesquisador.

Este tipo de entrevista, na visão de Lüdke e André (1986), possibilita uma relação de interação entre pesquisador e pesquisado por não haver uma imposição rígida de questões. Além disso, permite tratar de temas complexos que dificilmente poderiam ser investigados adequadamente nos questionários, explorando-os em profundidade.

2.1 CARACTERIZANDO A ESCOLA E O UNIVERSO DA PESQUISA

A escola na qual foi desenvolvida a pesquisa deste estudo, se localizada no município de Mantenópolis, noroeste do Estado do Espírito Santo que segundo o IBGE (2018), ocupa uma área territorial de 321,418 km2, população estimada em 15.194 pessoas – sendo 4.449 pessoas na zona rural (29,28%) e 10.745 pessoas na zona urbana (70,72%), com densidade demográfica de 47,27 Km2. Está na posição 50º em população entre as 78 cidades capixabas, sendo que 10,2% dela trabalha e recebe 1,8 salários mínimos de média mensal e 43,3% da população tem rendimento médio de 1/2 salário mensal.

A referida escola foi criada 20/09/1971 com 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, em 27/12/1994 criada para 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e 12/02/2009 EJA, educação de jovens e adultos. Oferta ensino fundamental séries finais no diurno e EJA noturno, que segundo os dados da secretaria da escola pesquisada, tinha em julho/2019, 350 estudantes matriculados no ensino fundamental séries finais, 111 crianças utilizando o transporte escolar (terceirizado) no turno matutino, ou seja, 31,7%.

A escola possui 140 discentes beneficiários do programa bolsa família do governo federal conforme consta no boletim de frequência do bimestre junho/julho da secretaria, ou seja, 40% dos estudantes recebem o benefício.

É importante conhecer o perfil social dos entrevistados numa pesquisa para uma melhore compreensão, análise e relação entre a problemática inserida no trabalho com os fatores internos/externos do cotidiano destes.

Quanto as características dos 9 estudantes entrevistados, selecionados no livro de ocorrências da escola, temos que: 8 são meninos e 1 é menina; a maioria 88,88% residem com os pais; 44,44% possuem uma ou mais reprovação escolar; 33,33% destes residem na zona urbana, ou seja, utilizam o transporte escolar; todos que residem na cidade, estão nos bairros de maior vulnerabilidade social; 100% dos entrevistados estão inseridos no CadÚnico (cadastro único) do governo federal, portanto, estão em situação de pobreza e extrema pobreza com renda de até meio salário mínimo por pessoa na residência ou até 3 salários mínimos de renda mensal total; cinco pessoas em média vivem na mesma residência incluindo o aluno pesquisado; 55,55% dos nove discentes estudam nessa escola pela primeira vez, ou seja, cursaram as outras séries nas outras escolas do município de Mantenópolis; e nenhum dos entrevistados possuem necessidades especiais físicas e/ou mentais declarados no ato da matrícula pelos responsáveis.

3. REFERENCIAL TEÓRICO: A INDISCIPLINA NA ESCOLA

A indisciplina sempre fez parte da vida escolar dos docentes e discentes, seja no presente ou passado, países ricos ou pobres, levando-se em conta as diferenças culturais existentes de cada região.

Esse problema é um dos maiores obstáculos pedagógicos nos tempos atuais no espaço escolar. Nesse sentido, é necessário compreender o que de fato é indisciplina escolar para apontar e caminhos pedagógicos eficazes e, assim, enfrentar essa situação visando melhorar o ambiente de aprendizagem em sala de aula dos estudantes.

Para compreender o conceito de indisciplina e sua interferência na aprendizagem, é fundamental apropriar-se do entendimento de importantes teóricos que discutem essa temática e apontam, ainda, como ela contribui para dificultar o processo ensino-aprendizagem na escola.

Na visão de Ferreira (1986), indisciplina pode ser definida como desobediência, tumulto, agitação, desacato, falta de educação ou desrespeito às autoridades, um comportamento inadequado.

Em diversas situações, indisciplina tem sido confundida com violência escolar, segundo Garcia (2006). Para esse autor, indisciplina, em seu conceito mais amplo, interfere diretamente no processo pedagógico em sala de aula. Assim, por isso mesmo, defende que a indisciplina escolar, em seu conceito mais amplo de comportamento interferente do processo pedagógico em sala de aula tem alcançado cada vez mais espaço na realidade do Brasil.

Em muitas ocasiões no ambiente escolar, a indisciplina é concebida como falta grave do aluno e atribuição muito específica de professores na mediação dos conflitos. Porém, Franco (1986) afirma que essa preocupação e busca permanente de sistematização do cumprimento das normas de conduta é dever de toda a comunidade escolar, porque o fruto desse mal não gera aprendizagem, mas produz, por conseguinte, transgressões, mau comportamento, violência na sociedade e família, além de reprovações, abandonos e evasão escolar. Quando esse mal não é estancado por vias coletivas, pais – professores – gestão escolar – alunos, a instituição de ensino perde sua essência e passa a contribuir, desse modo, com os índices crescentes das mazelas sociais.

A disciplina diz respeito a todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem: direção, alunos, professores, pedagogos, funcionários e pais. Daí a necessidade “Da observância de certas ordens, de certa sistematização, de certas normas de conduta, de certa organização”. Isto porque o trabalho pedagógico não é um processo natural, espontâneo e tampouco ocasional (FRANCO, 1986, p. 62-63).

Para Sampaio (1997), a escola só compreenderá o conceito de indisciplina se tiver bem claro o que é a disciplina escolar, ou seja, quais são os:

[…] comportamentos que consideram aceitáveis, sob o ponto de vista pedagógico e social, para aquelas pessoas, naquele contexto. Os alunos de hoje não são os mesmos de uma década atrás, possuem valores, crenças e saberes diferentes, e por isso devem ser considerados como […] cidadão produtor cultural, capaz de aprender, conosco, mas também de nos ensinar (SAMPAIO, 1997, p. 2).

Nessa perspectiva, a presença da pluralidade cultural na vida dos estudantes nos dias de hoje exige que a escola estabeleça com estes e seus responsáveis, por meio de reuniões periódicas, as atitudes, os comportamentos e as ações aceitáveis contidas no regimento comum, tanto dos direitos quanto dos deveres.

O fenômeno indisciplina além de não se limitar a determinados níveis de escolaridade, também não se restringe a países ou culturas específicas. Sendo assim, é possível alegar que a indisciplina assola a comunidade escolar em geral e que qualquer escola pode estar sujeita a ocorrência desse fenômeno (BARBOSA, 2009, p. 1).

Para Barbosa (2009), a indisciplina é interpretada simplesmente como uma questão comportamental do aluno diante da situação de aprendizagem, e outros aspectos importantes são negligenciados.

Referindo-se a essa questão, Vasconcellos (1997, p. 245) afirma que:

[…] muitos problemas de indisciplina têm origem na questão do desrespeito. Alguns alunos entram e saem da sala sem pedir licença, conversam assuntos paralelos que não dizem respeito à aula, muitas vezes são agressivos com colegas, não desenvolvem as atividades propostas e acabam por confrontar a autoridade do professor; e estes, muitas vezes, acabam rotulando o aluno como indisciplinado.

A indisciplina escolar pode ainda ser entendida como o descumprimento das normas fixadas pela escola e demais legislações aplicadas (SILVA; FERREIRA; GALERA, 2008). Assim, é possível entender que a indisciplina está ligada às normas/regras, que, na maioria das vezes, são impostas, sem nenhuma ou pouca discussão com o sujeito.

A indisciplina escolar tem sido intensamente vivenciada nas escolas, apresentando-se como uma fonte de estresse nas relações interpessoais, particularmente quando associada a situações de conflito em sala de aula. Mas, além de constituir um “problema”, a indisciplina na escola tem algo a dizer sobre o ambiente escolar e sobre a própria necessidade de avanço pedagógico e institucional. Trata-se de uma questão, portanto, a ser debatida e investigada amplamente (GARCIA, 1999, p. 101 e 102).

De acordo com La Taille (1996), a disciplina é entendida por comportamentos regidos por um conjunto de normas, e a indisciplina é traduzida de duas formas: a revolta contra essas normas e o desconhecimento delas.

3.1 RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E INDISCIPLINA ESCOLAR

Na concepção de Estrela (1992), a escola com abordagem tradicional tem como objetivo inicial disciplinar o aluno para depois propiciar aquisição do conhecimento. Sendo assim, o disciplinamento passa a ser o primeiro passo no processo de ensino–aprendizagem.

Leão (1999) afirma que na escola tradicional a igualdade é o pilar entre os homens, pois nesse modelo de ensino é necessário que todos os alunos aprendam o conteúdo exposto pelo professor da mesma maneira. No entanto, nesse tipo de enfoque o aluno somente consegue aprender os conteúdos ministrados pelos professores se estiver calado, quieto, atendo, obediente e respeitado.

Dessa forma a escola tradicional busca levar o aluno a converter a “[…] disciplina imposta em disciplina consentida […], pois assim o aluno irá compreender e aderir voluntariamente às regras do jogo que ele se vê obrigado a jogar” (ESTRELA, 1992, p. 20).

No PCN (1997), a escola tradicional tem uma proposta de educação centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria.

No modelo tradicional é observado em algumas escolas e/ou práticas docentes que controlam do início ao fim todo o processo dentro da sala de aula; consideram o aluno como receptor do conhecimento sem o direito de interferências e questionamentos, e ensinam o máximo de conteúdo em menor tempo possível, é marcado pela passividade de atitude e pela uniformidade de currículos e métodos. Hoje, a escola que adota parte dessas metodologias ou características, é muito criticada pelos especialistas.

As mudanças sociais também contribuíram para o aumento dos problemas sociais que afetam a vida das crianças e adolescentes, com muitos reflexos em sala de aula, causando prejuízos para a aprendizagem de todos, direta e indiretamente. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais abordaram, há mais de 20 anos, essa problemática, que ainda pode ser utilizada até hoje:

O aluno com um autoconceito negativo, que se considera fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua e se convence de que é um incapaz, ou vai buscar ao seu redor outros culpados: o professor é chato, as lições não servem para nada. Acaba por desenvolver comportamentos problemáticos e de indisciplina (PCN, 1997, p.65 – 66).

Os PCN’s preceituam a ideia de que a educação não deveria ser uma preparação para a vida, mas sim a própria vida, com a função de propiciar uma reconstrução permanente da experiência da aprendizagem, as quais deveriam democratizaras oportunidades e garantir direitos iguais perante a lei.

Dessa forma a disciplina no ambiente escolar deve ser democrática, com construção da autonomia nas crianças, não sendo necessárias sanções/punições e intervenções do adulto. O estudante respeita as regras mais facilmente porque ele contribuir para sua formulação/reformulação, bem como com as sanções contidas no regimento interno.

Com esse modelo, a instituição de ensino contribui não apenas com a aprendizagem dos conteúdos ministrados em sala de aula, mas com a formação social dos alunos ao melhorar seu relacionamento com os colegas de classe, funcionários e comunidade em geral. Reduz também as divergências indisciplinares em razão da compreensão e da execução das normas de convivência.

A escola é um contexto socializador, gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade. A não-compreensão de atitudes, valores e normas como conteúdos escolares faz com estes sejam comunicados sobretudo de forma inadvertida — acabam por ser aprendidos sem que haja uma deliberação clara sobre esse ensinamento (PCN, 1997, p.52 – 53).

Nesse entendimento dado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, a instituição de ensino se aproxima da filosofia da escola nova, em que a reflexão e a compreensão dos valores e normas vêm pela naturalidade, vivência diária e participação por meio da construção coletiva, gerando assim, aprendizagem escolar baseada em um clima organizacional pacífico sem a necessidade de advertências e sanções.

Para Gadotti (1996), deve ter a ideia de fundamentar o ato pedagógico na ação, valorizando a autoformação e a atividade espontânea do aluno ao propor que a educação seja instigadora da mudança social.

No PCN (1997), a escola valoriza o indivíduo como ser livre, ativo e social. O centro da atividade escolar não é o professor nem os conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como ser ativo e curioso.

Quando a escola ensina o educando a conquistar sua autonomia no espaço escolar, consequentemente, o ensino-aprendizagem melhora significativamente, visto que as imposições não acontecerão na sala de aula devido ao respeito pela democracia, reduzindo, assim, os conflitos e embates.

Estrela (1992) afirma que a indisciplina não é vista como um ato de rebelião contra a regra de vida coletiva e contra o grupo.

Os atos de indisciplina podem ser decorrentes de algumas imposições colocadas pelo sistema escolar, tais como:[…] turmas numerosas, escolas superlotadas, falta de material didático, sistema de avaliação do rendimento dos alunos, trabalhos burocráticos, excessivos, remuneração insatisfatória, dentre outros. Há, também, fatores de estrutura física da escola como: edifícios impróprios e degradados, sala de aula apertada, com pouca ventilação e pouca iluminação, sala que sofre interferência do barulho de fora, etc. que, com certeza, irão interferir negativamente no comportamento dos alunos (OLIVEIRA, 2005, p. 71).

3.2 INDISCIPLINA VIVENCIADA PELO ALUNO NO COTIDIANO ESCOLAR

No cotidiano escolar é normal que a aprendizagem ocorra em níveis diferentes, já que esta depende de um conjunto de variáveis, internas e externas.

Assim sendo, para uma efetiva aprendizagem escolar é preciso que o ambiente esteja organizado para que todos possam exercer seu papel adequadamente. Em um contexto tumultuado, confuso e com algazarra, no qual inexiste o entendimento, torna-se muito difícil os alunos se envolverem e darem atenção ao que está sendo apresentado, visando uma aprendizagem significativa.

No cotidiano da criança e/ou adolescente, indisciplina e disciplina caminham de forma paralela, coexistindo em muitas situações. Por isso, há a necessidade de o adulto em sala de aula, professor, mediar os conflitos gerados pelas mais diversas ocasiões, normais em todas instituições de ensino, e também apontar sempre caminhos por meio do diálogo, de explicações das normas de convivência humana, social e escolar existentes.

Segundo Vasconcellos (2009), as pessoas vão para a escola não porque possuem vínculos afetivos com os professores, mas porque é uma necessidade, é preciso atender as demandas fundamentais da formação humana. O mesmo autor expõe sua ideia sobre a questão disciplinar cometida pelos alunos, afirmando que esta ocorre pela falta de interesse e de limite.

Observa-se, ainda, na exposição do autor, a relação da indisciplina escolar com dois fatores intrínsecos aos estudantes, falta de interesse e falta de limites, revelando que muitos deles não veem sentido e motivo na escolarização, talvez por falta de perspectiva futura, o que gera desinteresse pelos estudos. Já outros, por não terem conhecimento dos direitos e deveres como cidadãos, nem respeito ao ser humano e prática de normas no convívio diário, consideram normal fazer o que desejam, desconsiderando as consequências (VASCONCELLOS, 2009).

Na visão de Parrat-Dayan (2012), as causas da indisciplina podem estar ligadas ao desrespeito dos ritmos biológicos dos alunos no desenvolvimento das atividades, à ausência de regras e de autoridade do professor.

Para enfrentar o problema da autoridade na aula, o professor pode seguir um registro preventivo ou repressivo. No primeiro, fará uso de diferentes condutas, tais como repetir as regras da aula para que a criança tenha sempre presente as exigências pedidas, motivá-las, justificar as regras de ordem, fazer uma organização espacial da aula para distribuir as diferentes tarefas, delegar alguns dos seus poderes a um ou vários alunos, etc. No caso em que seu registro seja repressivo, poderá elevar o tom de voz, vigiar constantemente as crianças, ameaçá-las, castigá-las, sobrecarregá-las de trabalho, etc (PARRAT-DAYAN, 2012, p. 56).

Rego (1996) atribui como motivos da indisciplina escolar dos alunos: autoritarismo nas relações escolares, qualidade das aulas, organização dos espaços e horários, conteúdos pouco significativos e desinteressantes, rispidez de determinados professores, despreparo e falta de clareza dos educadores, aulas monótonas, ausência de regras claras etc.

Além da hiperatividade, outras causas do déficit de atenção em crianças e adolescentes são os problemas visuais, auditivos e o rebaixamento mental. Esses fatores fazem com que as crianças, na maioria das vezes, fiquem desinteressadas e não prestem atenção na aula e, consequentemente, levam-nas a ficar ociosas e, então, a apresentar atos e comportamentos indisciplinados, atrapalhando o seu aprendizado e dos demais alunos (SILVA, 2005, p. 114).

Aquino (1996) é cauteloso quanto à afirmação de que as crianças não têm limites e não reconhecem regras. Cita o comportamento de alunos considerados indisciplinados durante um jogo ou uma brincadeira, em que conseguem se organizar e participar do início ao fim da competição respeitando as regras criadas em conjunto, por isso, fala da precaução.

Assim sendo, a escola precisa fazer dos indisciplinados estudantes em sala de aula uma aliada para alcançar a aprendizagem e não uma barreira sem solução. Um dos caminhos para reduzir seus efeitos colaterais é a prevenção.

3.3 PRÁTICA PEDAGÓGICA E GESTÃO ESCOLAR, MEIOS IMPORTANTES PARA SUPERAR A INDISCIPLINA

O professor diante da indisciplina escolar não deve desistir, mas estar preparado para ela quando surgir, a qual acontece em todos os estabelecimentos de ensino atualmente. É preciso evitar procurar culpados, pois resolvê-la é o único meio para não piorar a situação.

A disciplina escolar, frise-se, não é obtida por meio de regulamentos, e muito menos a partir da ameaça de punição, retaliação, banimento. Ao contrário, ela é resultado tão somente de acordo entre as partes – acordos pautados numa espécie de compromisso tácito ente elas. Um “acordo de cavalheiros”, costuma-se dizer (AQUINO, 2003, p. 67).

O acordo entre as partes, na construção do contrato por normas, não deve ser algo intocável e inflexível. Pode passar por modificações sempre que necessário, principalmente quando a turma obtiver avanços significativos, as relações interpessoais amadurecerem ou surgirem adaptações devido a novos conflitos ainda não pensados.

Segundo Nunes (2004), é na atividade prática de ensino com suas múltiplas interações que o saber da experiência se articula. Muitas vezes, diante das situações concretas, transitórias e variáveis, o professor precisa recorrer à improvisação e à habilidade pessoal para enfrentá-las.

Santos (1998) descreve a importância da experiência do professor na gestão dos conflitos e na transmissão da aprendizagem em sala de aula:

Resultados dos conhecimentos e habilidades que o professor vai adquirindo com o exercício de sua atividade, ou seja, é um saber adquirido no fazer, podendo ser caracterizado como um conhecimento tácito que leva as pessoas a dar respostas a situações da vida profissional de forma quase automática, sem conseguir, muitas das vezes explicar este saber-fazer (SANTOS, 1998, p.126).

Dessa forma, o professor deve ser sujeito da história pedagógica de sua classe e de sua escola e não pode ficar sonhando com alunos ideais. Para o autor, é necessário romper com velhas práticas de professores tradicionais e autoritários, que se enxergam como os únicos detentores do poder e, assim, construir novas formas de trabalho, sem perder a autoridade de professor. As aulas se tornarão momentos de diálogo e de produção do conhecimento quando, de fato, o docente tiver clareza do seu papel em relação à disciplina. (VASCONCELLOS, 2009).

Tende-se a concordar com Antunes (2015), ao este se referir que se a aula for apenas um discurso mal posicionado, nada contextualizado, a indisciplina será inevitável. Nesse sentido, a metodologia utilizada pelo professor nas aulas merece e precisa ser enfatizada com base em estudos e planejamento. Do contrário, quando a didática dele for considerada maçante, os alunos não vão se interessar pela aula.

Nessa mesma linha, Vasconcellos (2000) afirma que o professor é um agente privilegiado para promover mudanças na indisciplina, por estar em contato direto com os alunos, além de ser um dos mais interessados em resolver esse problema. Cabe a ele refletir sobre suas próprias atitudes, de forma a cuidar da dinâmica de sala de aula.

Diante dessa necessidade, podemos dizer que a formação do professor deve alicerçar-se em uma “reflexão na prática e sobre a prática”, por meio de dinâmicas de investigação ­ ação e de investigação ­ formação, valorizando os saberes de que os professores são portadores (NÓVOA, 1991).

Os professores em sua formação inicial, segundo Souza (2005), carecem de preparo para identificar e confrontar as dificuldades existentes na atividade docente. Assim, devem ser colocados em situações de antecipação de seu futuro profissional, visando clarificar as expectativas acerca das possíveis situações que poderão confrontar.

Para Esteve (1999) a formação inicial deveria desenvolver a capacidade de o professor identificar seu estilo de ensino, de discriminar os problemas relacionais que podem ocorrer na sala de aula, além de resolver problemas em decorrentes das atividades de ensino aprendizagem.

Outros autores como Bentes (2003) sugere a possibilidade de uma prática com autoridade, mas com uma dinâmica de interação e interlocução mais propícia às aprendizagens nos âmbitos dos conteúdos instrucionais e da formação da pessoa.

Os professores devem ficar alerta para que nunca percam de vista que os alunos devem se sentir interessados nas aulas, para tanto, estas devem ser prazerosas, transformando o oficio do ensino e aprendizado em algo capaz de superar os desafios que fazem parte desse processo, de forma que os alunos tenham sempre interesses em participar das aulas (VASCONCELOS, 2001).

Entretanto, há diversas ações que os professores podem realizar para alcançar o sucesso escolar dos estudantes, sem que as situações geradoras da indisciplina aconteçam. Entre elas, planejar bem as primeiras aulas no início do ano letivo para que os alunos conheçam as regras de trabalho, perspectivas, a visão geral da grade da disciplina, o sentido dos conteúdos em sua caminhada e a competência do professor, estabelecer um contrato didático por meio da construção dialética, após discussões com a turma, bem como estabelecer coletivamente os limites, com objetivos e regras claras de participação.

A exigência do respeito aos limites estabelecidos é fundamental. A evocação de limites por parte do professor evita que exceda sua própria capacidade de tolerância e acabe explodindo depois. O compromisso do professor com os seus limites, se manifesta em não chegar atrasado, não faltar por qualquer motivo, não entrar no esquema reativo diante da eventual agressão do aluno, respeitar o que foi combinado com os alunos, controlar seu impulso de falar, deixando espaço para os alunos se manifestarem (VASCONCELLOS, 2009, p.171 – 172).

Na opinião de Oliveira (2005), a administração escolar precisa conhecer a organização escolar e a organização didático-pedagógica da escola, porque eles influenciam diretamente as ocorrências de atos de indisciplina. A autora destaca que, nos últimos anos, a falta de orientação da administração escolar aos professores ocorreu devido à falta de clareza dos princípios que devem nortear o comportamento dos alunos pela equipe pedagógica/administrativa.

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

As observações se deram nos momentos dos registros de ocorrências em livro próprio da escola, com orientações e escuta ativa dos envolvidos. Já as entrevistas semiestruturadas, em sala reservada com o sujeito da pesquisa sob leitura dos objetivos propostos com a mesma e termos a serem preenchidos e assinados. Os pesquisados ficaram bem à vontade para responderem as perguntas dos anexos padrões que lhes foram propostos, contribuindo com a descrição e análises dos dados.

4.1 PENSAMENTO DOS PROFESSORES SOBRE A INDISCIPLINA ESCOLAR DIANTE DA PESQUISA SEMIESTRUTURADA

Observa-se nas repostas dos professores na entrevista, diversos pontos comuns sobre a prática da indisciplina escolar cometido pelo discente no ambiente escolar como: comprometimento da aprendizagem escolar por parte do aluno que pratica o ato e a turma em geral que indiretamente participa do mesmo, em razão do tempo dispendido pelo docente na intervenção do problema em sala de aula, encaminhamento para a equipe pedagógica e retomada da condução do ensino reduzindo o tempo de explicação e interação. Fala da professora E.L.P.A: “A indisciplina em sala de aula pode trazer consequências desastrosas para os alunos, atrapalhando o rendimento escolar não só do aluno, mas de toda a turma”. Professora M.C.D.O.: “diminui o nosso tempo de auxiliar aqueles que realmente buscam uma aprendizagem mais eficaz”.

Os grifos, outro ponto comum extraído na entrevista com os professores citados pela maioria sobre o meio de reduzir o erradicar a indisciplina na escola são as parcerias constantes com os órgãos governamentais no trabalho desse problema que majoritariamente prejudica a aprendizagem escolar e conscientização do papel da escola-família no conhecimento e estabelecimento dos direitos e deveres, regras e aulas planejadas. Professor A.M.D.O: “Cada professor deve preparar bem suas aulas, cativar os alunos, combinar regras, manter uma postura dialética e em casos mais graves, contar com a ajuda da gestão escolar e também de outras esferas de poder que perpassam a rotina escolar”. Professora E.B.R: “comunicar a família para que a mesma imponha regras aos filhos”.  Professora E.L.P.A: “devem ser estipulados os deveres da escola e os da família. É indispensável que a família seja conscientizada sobre os direitos e deveres dos alunos, da escola e dos pais”. Professora M.R.D.O.C: “por meio de parcerias entre família e escola e outros órgãos governamentais, e também por meio da conscientização de que escola e lugar de aprender”. Professor S.R.C.B: “através de trabalho de conscientização e aulas planejadas para trabalhar o lado humano do aluno”.

No que se refere aos procedimentos ou estratégias adotadas pelo professor (a) em sala de aula no enfrentamento da indisciplina escolar, nota-se a subjetividade do problema e pontos diferentes apontados por eles.

Quadro 1 – Descrição das ações utilizadas pelos docentes pesquisados para o enfrentamento da indisciplina escolar dentro da sala de aula.

Mapeamento da sala de aula Aulas com auxílio da tecnologia Uso de plataformas digitais
Sala de aula organizada Alunos em filas Domínio do conteúdo a ser lecionado
Diversidade de metodologias de ensino Cordialidade com os alunos Exigência no cumprimento das tarefas
Advertência verbal Orientação e conversa individual Encaminhamentos ao setor pedagógico para registro
Manutenção da ordem Estratégia de convivência pessoal e interpessoal – respeito Roda de conversa para avaliar ações
Dinamismo das aulas Diversificar as tarefas Trabalho lúdico e objetivo

Fonte: entrevista semiestruturada com os professores, 2019

A partir dos procedimentos descritos pelos docentes no quadro 1 e buscando nos referenciais teóricos deste trabalho, ações indispensáveis que todos os profissionais precisam utilizar na prática em sala de aula primordiais em relação a inibição da indisciplina escolar: dinamismo das aulas/diversidade de metodologia de ensino/domínio de conteúdo a ser lecionado, encaminhamentos ao setor pedagógico pra registro, manutenção da ordem, estratégias de convivência pessoa e interpessoal – respeito/cordialidade com os alunos e roda de conversa para avaliar as ações. As demais ações do referido quadro, são secundárias, e quando utilizadas terão pequena contribuição no enfrentamento desse problema

Quando os docentes foram questionados sobre as indisciplinas que mais predominaram na escola entre fevereiro e agosto de 2019 pelos discentes, verifica-se que a variedade foi grande em razão de cada professor ter uma postura e metodologia diferente entre sim, por motivos óbvios de cada ser humano profissional, inclusive do que seria para cada docente, o conceito de indisciplina escolar. Vejamos as respostas dos 10 professores pesquisados.

Quadro 2 – Relação de indisciplinas escolares praticados pelos alunos entre fevereiro/agosto de 2019

Docente/disciplina Atos de indisciplinas escolares
1 Professor de geografia Não realizar atividades por desinteresse
2  

 

Professora de matemática

Conversa paralela, descaso com o livro didático, uso do celular sem fins pedagógicos, falta de atenção durante a aula

e apatia em sala de aula

3  

Professora de ciências

Falta de interesse na realização das atividades e desacato ao professor
4  

Professora de arte (1)

Desinteresse, praticar bullying com os colegas e conversa paralela
5  

 

Professora de arte (2)

Roubar materiais dos colegas, não trazer material didático, implicar com os colegas, agredir verbalmente colegas e conversa paralela
6  

Professora de atividade de pesquisa

Dormir durante as aulas, intolerância/ preconceitos com os colegas, conversas paralelas, agressões verbais, insultos/ zombarias e bullying
7  

Professora de língua portuguesa

Conversa paralela, desinteresse, falta de atenção durante a aula e atrapalhar a aula por meio de brincadeiras fora de hora
8 Professor de língua portuguesa e língua inglesa Conversa paralela e uso de telefone celular sem fins didáticos
9  

Professor de história

Falta de atenção durante a aula, conversa paralela, grito na sala de aula e desobedecer ao professor
10  

Professor de geografia

Atrapalhar a aula, conversa paralela e desobedecer ao professor

Fonte: entrevista semiestruturada com os professores, 2019

Quando a indisciplina escolar, uma realidade presente em todas as escolas, não é levada a sério por parte da gestão pedagógica e professores, a reincidência aumenta a cada dia e se torna uma prática comum entre os discentes que testam o limite da instituição não permitindo que as regras pré-estabelecidas no regimento interno e contrato pedagógico da turma se quebre, e a principal razão de existência do educandário de ensino que é o ensino e aprendizagem, fique secundário.

Na entrevista semiestruturada com os professores, foi questionado as ações trabalhadas pela escola na qual trabalham em relação aos casos de indisciplina escolar praticados pelos alunos.

Verifica-se que a conversa individual com o aluno, registro da ocorrência e conversa com a família do discente são as ações mais praticadas pela unidade de ensino, em razão até mesmo da complexidade dos atos por eles praticados, ou seja, o diálogo é a metodologia de intervenção encaminhado pela escola em busca de solução aos problemas apresentados.

Em relação à pergunta se as ações da escola estão resolvendo os casos de indisciplina escolar, verifica-se que não há unanimidade de eficácia, o que sugere outras metodologias no tratamento desse assunto por parte da gestão escolar, visto também por eles que este percalço transcende a sala de aula. Vejamos nos relatos a seguir:

Professor B.G.D.A: “as vezes, devido à falta de comprometimento dos educandos e responsáveis”. Professora M.A.B.: “na maioria das vezes sim, porque se o responsável também ajudar, o aluno terá maior aceitação”. Professora J.A.B.A.: “parcialmente. A estrutura da família é o reflexo do estudante em sala de aula. A família não tem controle sobre o estudante. Há casos em que a conversa individual surte mais efeito”. Professor E.R.D.O.: “não, tem minimizado. Alguns alunos têm histórico escolar de indisciplina que vem de fora da escola, influência da família”. Professor S.R.C.B.: “na medida do possível sim, pois, o contexto social é um fator que tem enorme peso nos casos de indisciplina”.

Verifica-se que a indisciplina escolar na concepção dos professores, é de responsabilidade da família e que somente ela poderá reverter esse problema, dando a entender que o processo educativo de diálogo, conscientização, meio em que está inserido e imposição de limites são ferramentas exclusivas dos pais na formação do ser em construção. Mesmo que difícil, é necessário outra postura dos profissionais do magistério em relação a esse assunto, como afirma Franco (1986) que a indisciplina diz respeito a todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem: direção, alunos, professores, pedagogos, funcionários e pais e essa preocupação com busca permanente de sistematização do cumprimento das normas de conduta é dever de toda a comunidade escolar, porque o fruto desse mal além de não gerar aprendizagem, produz reprovações/ abandonos /evasão escolar, transgressões, mau comportamento e violência na sociedade – família.

Há professor que entende ser o suficiente o que a escola realiza. Professora E.L.P.A.: “sim. A escola busca por uma disciplina que considere o respeito como condição principal nas relações existentes na escola, tarefa um pouco complicada e requer persistência e principalmente paciência. Professora M.C.D.O.: “na maioria das vezes sim, pois, a mesma não tem sido omissa quanto a responsabilidade de auxiliar os alunos em sua formação cidadã”.

Finalizando a entrevista semiestruturada com os professores, foi solicitado aos mesmos de forma objetiva, que assinalasse as opções que julgavam ser indisciplina escolar, até mesmo para entendimento do que estes compreendiam sobre o assunto.

Quadro 3 – Comportamentos caracterizados como indisciplina escolar segundo os 10 professores pesquisados

Implicar com os colegas / Conversa paralela / Fazer brincadeiras fora de hora / Atrapalhar a aula / Gritar na sala de aula / Desobedecer ao professor / Praticar bullying / Praticar ameaças contra colegas / Andar excessivamente em sala/aula / Sair da sala de aula sem autorização do professor  

100%

Agredir verbalmente colegas / Insultar ou zombar / Usar celular sem fins pedagógicos em sala de aula / Não realizar atividade por desinteresse  

90%

Dormir durante a aula / Intimidar os colegas / Roubar materiais dos colegas 80%
Não trazer material didático / Chegar atrasado na aula / Falta de atenção durante a aula / Ser intolerante/preconceituoso  

70%

Apatia em sala de aula 60%
Comer em sala de aula       50%

Fonte: entrevista semiestruturada com os professores, 2019

De acordo com o regimento interno da escola pesquisada que denomina os atos indisciplinares dos estudantes de faltas disciplinares e infrações, classificados em atos indisciplinares leves, atos indisciplinares graves e atos infracionais, somente 9 itens do quadro 3 constam no mesmo: agredir verbalmente colegas, desobedecer professor, insultar ou zombar, praticar bullying, intimidar colegas, ser intolerante/preconceituoso, praticar ameaças contra colegas, roubar materiais de colegas e usar celular sem fins pedagógicos em sala de aula. Isso indica uma revisão dos conceitos sobre o assunto por parte dos professores ou atualização do regimento ou alinhamento entre ambos.

4.2 PERCEPÇÃO DOS ALUNOS QUE COMETERAM INDISCIPLINA ESCOLAR ENTRE FEVEREIRO E AGOSTO DE 2019 NA ESCOLA PESQUISADA

A entrevista semiestruturada, realizada com os alunos possui sete questões semelhantes com abertura para registro das falas, o que foi interessante em algumas respostas devido a naturalidade da condução do processo.

Em relação a questão 2, que “indisciplina” escolar você praticou esse ano na escola? Observa-se que majoritariamente, as respostas estão ligadas à relação interpessoal com os colegas de turma e minoritariamente, relação interpessoal com os professores. Dessa forma, interpretando os que os alunos disseram, podemos associar a indisciplina escolar com o desrespeito aos colegas e professores.

Para entender os motivos pelos quais os estudantes praticaram a “indisciplina” escolar, foi indagado aos mesmos na questão 3: porque você praticou a indisciplina escolar em sala de aula? Mediante as respostas, compreendemos que a imaturidade, extinto de adolescente que não compreende os limites das regras e respeito ao próximo, falta de controle das próprias ações/emoções e principalmente, não entendimento do motivo de estar na escola em busca da aprendizagem, são os destaques a conhecer.

ALUNO 1 (6ºANO): “Revide”.

ALUNO 2 (8ºANO): “Porque a colega fazia a mesma coisa comigo. Eu revidava”.

ALUNO 3 (6ºANO): “Por conversa fiada/fofoca de outro colega, cometi a agressão verbal”.

ALUNO 4 (6ºANO): “Porque o colega me provocou e a professora não resolveu a situação”.

ALUNO 5 (6ºANO): “Preguiça de fazer as atividades em sala de aula, tirei a atenção dos colegas ”.

ALUNO 6 (7ºANO): “Porque estava conversando alto, atrapalhando os colegas estudarem. Quanto a droga, fui obrigado a trazer para escolar por outro colega”.

ALUNO 7 (6ºANO): “Para mim, era uma brincadeira”.

ALUNO 8 (6ºANO): “Porque estava falando de mim”.

ALUNO 9 (6ºANO): “Revidando as provocações dos colegas”.

Verifica-se na questão 3, que os alunos praticaram “indisciplina” pela dificuldade em respeitar o direito do outro colega, ou seja, ter a empatia – se colocar no lugar do outro para o bom convívio no ambiente escolar, por motivos fúteis, banais e insignificantes. Isso leva a escola a pensar e trabalhar em novas metodologias e possibilidades de solidariedade e fraternidade, com trabalhos em grupos e dinâmicas que levem os estudantes a se conhecerem melhor e perceberem a importância de estarem juntos para a construção da aprendizagem em sistema de colaboração, e o professor é peça fundamental nessa relação, pois, é o adulto da mediação e o responsável pela eficácia na condução das ações a serem propostas.

Quanto à aprendizagem escolar, os estudantes possuem a plena convicção de que ficaram prejudicados a partir da ação de “indisciplina” escolar praticados em sala de aula, ou seja, podemos relacionar que a ação descumprimento das regras regimentais resulta diretamente no ensino e aprendizagem escolar, consequentemente, as avaliações qualitativas e quantitativas sofrerão impactos muitas vezes irreversíveis. Comprovação desse fato, está nas respostas da questão 4: a indisciplina que você praticou entre fevereiro e agosto de 2019 prejudicou sua aprendizagem escolar? De que forma?

ALUNO 1 (6ºANO): “Sim. Fiquei fora da sala de aula de suspensão com atividade, mas perdi explicação de conteúdos”.

ALUNO 2 (8ºANO): “Sim. Estava em revisão de prova e perdi a aula, pois, fiquei fora da sala de aula”.

ALUNO 3 (6ºANO): “Sim. Perdi o conteúdo de língua portuguesa do dia, pois, fui para a coordenação”.

ALUNO 4 (6ºANO): “Sim. Fiquei fora da sala de aula e perdi a aula/explicação”.

ALUNO 5 (6ºANO): “Sim. Fiquei fora da sala de aula na coordenação e perdi a explicação dos conteúdos naquela aula”.

ALUNO 6 (7ºANO): “Sim. Fiquei fora da sala de aula, perdendo explicação de conteúdos e atividades”.

ALUNO 7 (6ºANO): “Sim. Fiquei de suspensão das aulas do dia, mas com atividade”.

ALUNO 8 (6ºANO): “Sim. Perdi a aula de educação física teórica enquanto a coordenadora resolvia a confusão”.

ALUNO 9 (6ºANO): “Sim. Fiquei prejudicado porque a professora de matemática estava explicando conteúdo e eu brincando na sala.”.

Pelas falas dos alunos, nota-se de forma muito consciente por parte dos mesmos, que há prejuízo na aprendizagem principalmente quando são direcionados pelos professores, encaminhamentos, à coordenação e/ou setor pedagógico para auxílio na intervenção da “indisciplina” praticada pelo discente perdendo aquela aula em questão ou dependendo da gravidade do problema, as aulas do referido dia e outros mais, três dias, à luz do regimento interno.

Embora o aluno fique assistido de atividade pedagógica elaborada e entregue pelo (s) professor (es) para realização em outro ambiente da escola diferente de sua sala de aula, não há explicação/orientação/assessoramento do docente para facilitar o desenvolvimento da mesma. O dano só será percebido em termos práticos quando chegar as avaliações qualitativas e quantitativas.

A escola evita utilizar essa ação por ser muito trabalhosa e gera em muitos casos, efeito reverso por “deixar” o aluno em outro ambiente diferente de sua sala de aula, visto que devido sua imaturidade e falta de consciência para a importância dos estudos, o que mais quer é ficar “livre” do professor e daquela aula.

Quanto a recuperação do conteúdo que o docente trabalhou em sala de aula com o estudante que estava de suspensão momentânea, a unidade de ensino oferece recuperação paralela posterior, bem como, recuperação trimestral de uma semana para os discentes que não alcançarem o mínimo exigido para aprovação de 60%, ou seja, cumpre com a exigência legal.

Já na questão 5: o que deve ser feito pela escola para reduzir ou erradicar a indisciplina escolar? Verifica-se a consciência dos alunos e como parte direta, esses podem contribuir muito quando a escola os coloca em escuta ativa a partir das propostas da pesquisa. Nessa pergunta, apesar das ações serem fáceis de desenvolvimento, alguns estudantes tiveram dificuldades em proporem ações, mas vemos que a escola consegue colocar em prática todas elas como produto que ser pretende alcançar. A empatia cabe em qualquer lugar e circunstância, e nesse sentido, a gestão escolar sempre que possível, precisa trabalhar em paralelo com o regimento interno, a gestão participativa entre os diversos segmentos e membros da comunidade escolar.

Pode-se criar na rotina de planejamento semanal da instituição de ensino, a prática nesse canal de escuta dos estudantes envolvidos, mesmo que seja algo simples e já existente. Delegar aos mesmos, atribuições de liderança, execução e protagonismo nas proposições elencadas, é primordial, pois, assim, sentirão parte direta na solução desse problema que prejudica o ensino dos professores e aprendizagem de todos os alunos da turma em que o sujeito está inserido.

Como já mencionado na pesquisa, o problema dessa escola em relação aos problemas de “indisciplina” escolar está na relação interpessoal, observado tanto nas devolutivas dos alunos quanto dos professores na entrevista. Apesar dos discentes reconhecerem que os docentes trabalham muito essa relação social, observa-se a importância contínua dessa prática no ambiente escolar, bem como padronização por todos os mestres no cumprimento das regras regimentais para que esse mal não aconteça em sala de aula, identificado nas respostas da questão 6: cite ação(ões) que o(s) professor(es) utiliza(m) em sala de aula que evita(m) a indisciplina escolar.

A variedade de ações desenvolvidas pelos docentes, indica uma busca constante da escola em resolver este desafio em sala de aula.

De acordo com a última questão da entrevista, questão 7: marque a(s) situação(ões) que você considere indisciplina escolar, obteve-se:

 Quadro 4 – Atitudes consideradas “indisciplina” pelos alunos

100% Implicar com os colegas, Comer em sala de aula, Não trazer material didático, Falta de atenção durante a aula, Dormir durante a aula, Conversa paralela, Chegar atrasado na aula, Fazer brincadeiras fora de hora, Atrapalhar a aula, Gritar na sala de aula, Agredir verbalmente colegas, Desobedecer o professor, Insultar ou zombar, Praticar bullying, Intimidar colegas, Ser intolerante/preconceituoso, Praticar ameaças contra colegas, Roubar materiais dos colegas, Andar excessivamente em sala/aula, Usar celular sem fins pedagógicos em sala de aula, Sair da sala de aula sem autorização do professor, Não realizar atividade por desinteresse.
11,11% Apatia em sala de aula

Fonte: entrevista semiestruturada com os alunos, 2019

Nota-se no quadro 4, na qual os alunos marcaram vinte e dois itens de forma unânime da questão 7 que possuía vinte e três itens da entrevista, que a definição/conceito sobre indisciplina escolar que os mesmos possuem é muito amplo e abrangente, extrapolando inclusive os atos descritos no regimento interno da escola. Mesmo sabendo que muitos itens não se configuram como tal à luz do regimento interno da escola, acredita-se que os estudantes assimilam esses como “indisciplina” pelas tantas vezes que os professores os advertem e os retiram da sala de aula com encaminhamento para a equipe pedagógica, nas reuniões de pais, nos momentos de sala de aula e enraizamento da cultura familiar e social.

Indica a partir desses resultados a necessidade do trabalho de conscientização sobre o tema com toda a comunidade escolar, revisão com reconstrução do regimento interno e projetos que trabalhem continuamente as relações interpessoais existentes no âmbito da unidade de ensino.

Para os discentes, tudo que caracteriza um desvio de comportamento as regras da escola e padrão dos costumes sociais e familiares, acordo pedagógico e regras do regimento interno o levará sobretudo ao prejuízo na aprendizagem escolar e uma penalização. Possuem ampla consciência sobre o comportamento praticado em sala de aula e suas consequências, porém, a escola tem utilizado a automaticidade nas tomadas de decisões, sem a reflexão das melhorias que estas precisam trazer como correção de rota.

4.3 RELAÇÃO DA APRENDIZAGEM – APROVEITAMENTO ESCOLAR COM OS REGISTROS DE OCORRÊNCIAS “INDISCIPLINARES”

Realizando a pesquisa documental no livro de ocorrências da escola, onde extraí dele por conveniência do momento, nove estudantes que praticaram uma ou mais transgressão ao regimento interno durante 2019 para participarem da entrevista, e nos boletins de notas – aproveitamento escolar dos referidos educandos nos arquivos da secretaria, delineio neste tópico, a existência ou não da relação entre a “indisciplina” escolar com aprendizagem escolar por meio das avaliações que a escola aplica aos mesmos durante o ano letivo.

A avaliação nesta escola pesquisada acontece de forma somatória, levando em consideração os aspectos quantitativos e qualitativos por meio de: provas, simulados, portfólios, trabalhos (individuais e grupos) e participação/observação. Para cada modalidade avaliativa, aplica-se recuperação paralela e no final do trimestre, recuperação trimestral. É facultado ao aluno com aproveitamento superior a 60%, participar dos dois casos de recuperação, há menos que queira melhor sua aprendizagem.

Quadro 5 – Relação da distorção idade/ano/série dos estudantes entrevistados ocasionadas por reprovação

Alunos entrevistados Idade Ano/Série Já reprovou?
Aluno 1 13 anos 6ºano Sim
Aluno 2 13 anos 8ºano Não
Aluno 3 11 anos 6ºano Não
Aluno 4 14 anos 6ºano Sim
Aluno 5 12 anos 6ºano Sim
Aluno 6 13 anos 7ºano Sim
Aluno 7 12 anos 6ºano Não
Aluno 8 12 anos 6ºano Não
Aluno 9 12 anos 6ºano Não

Fonte: secretaria da escola pesquisa, 2019

A perspectiva a partir do quadro 5, é preocupante em relação ao atraso escolar com reprovação – prejuízo na aprendizagem escolar com registro de ocorrência indisciplinar. O índice de reprovação dos nove alunos pesquisados foi de 44,44%, apontando para uma urgente intervenção pedagógica por parte da escola, pois, essa porção sugere a curto/médio prazo, evasão escolar desses que ainda estão no ensino fundamental séries finais, visto que esta acontece pela sucessão de reprovação escolar, atraso da aprendizagem e consequentemente, distorção idade ano/série. O discente desanima do processo ensino-aprendizagem por sentir-se incapaz de adquirir conhecimento como os demais colegas, gerando indisciplina escolar e esse de forma inversa, gera aprendizagem abaixo do básico.

No quadro 6 a seguir, apresento o boletim de notas dos nove alunos entrevistados referentes os 1º e 2º trimestre, fevereiro a agosto, para constatar se a “indisciplina” escolar dos mesmos afetou diretamente no ensino-aprendizagem.

Quadro 6 – aproveitamento escolar dos alunos entrevistados no 1º e 2º trimestre de 2019, período em que a ocorrência foi registrada

 

Alunos

1º TRI 2º TRI
Notas azuis Notas vermelhas Notas azuis Notas vermelhas
Aluno 1 – 6º ano 06 02 07 01
Aluno 2 – 8º ano 07 01 08 00
Aluno 3 – 6º ano 05 03 08 00
Aluno 4 – 6º ano 04 04 06 02
Aluno 5 – 6º ano 06 02 06 02
Aluno 6 – 7º ano 05 03 06 02
Aluno 7 – 6º ano 07 01 08 00
Aluno 8 – 6º ano 04 04 07 01
Aluno 9 – 6º ano 07 01 08 00

Fonte: secretaria da escola pesquisa, 2019

A partir das informações nos boletins de notas dos alunos pesquisados referentes ao 1º e 2º trimestre, concluímos que há uma relação de proporcionalidade direta entre ocorrência “indisciplinar” com prejuízo na aprendizagem escolar dos envolvidos, já que 20% das notas aferidas ficaram abaixo da média, ou seja, notas vermelhas após a somatória das avaliações e recuperações.

Na escola pesquisada o discente fica reprovado senão alcançar 60% em todas as disciplinas em termos de aproveitamento escolar no histórico escolar/boletins de notas. Pelo quadro 6, vários alunos ficariam de recuperação final, digo assim, pois, não temos os resultados do 3º trimestre e com encaminhamentos de reprovação escolar inclusive caso a situação não melhore.

Diante das necessidades extraídas na entrevista semiestruturada dessa pesquisa, veremos no próximo capítulo diversos procedimentos que a unidade de ensino poderá aplicar na prática do ambiente escolar – sala de aula e outros espaços, para melhorar o funcionamento interno, conduta interpessoal, comportamento-respeito ao próximo, participação nas atividades pedagógicas e sobretudo, por conseguinte, aprovação por meio da aprendizagem escolar, erradicando essas adversidades/contratempos que geram reprovação, abandono escola, evasão e dispêndio de tempo de ensino dos professores denominadas de produto.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desta pesquisa foi identificar as ocorrências predominantes na escola pesquisada entre os meses de fevereiro/agosto. As ações utilizadas pela mesma no enfrentamento deste problema e os impactos gerados na aprendizagem escolar dos discentes que cometeram as práticas indisciplinares registradas no livro de ocorrência da instituição de ensino.

Pela temática ser muito ampla no que diz respeito a sociedade, família e escola, porque o senso logo imagina indisciplina como contravenção de princípios morais, quebra de acordo/regras/regulamentos/normas/regimentos, desordens sociais e interpessoais e conflitos que geram agressões físicas e/ou verbais, o projeto foi delimitado em pesquisar esse problema no âmbito escola, mais especificamente sala de aula, por isso dos atores professores e alunos na entrevista.

A escola para muitos da comunidade local, é um ambiente de respeito e de aprendizagem, e que para tal, é necessário por parte dos professores autoridade suprema em sala de aula para que a ordem e disciplina prevaleça, sem dizer que o este é o único a ditar as regras em sala e que sendo o adulto da relação está sempre com a razão. Entretanto, essa visão de cunho tradicional pelas condições culturais, difere do que os discentes adolescentes/jovens que ocupam hoje os bancos dessa escola, mesmo em minoria pensam. A forma que manifestam suas ações que em parte se caracterizam como “indisciplina”, merecem atenção e reflexão, pois, muitas ocasiões estão buscando na verdade é espaço e protagonismo, espaço, voz e vez no processo ensino – aprendizagem.

O trabalho indica por meio da pesquisa que a obediência dos educandos almejada pela escola depende do diálogo permanente, acordo pedagógico e gestão democrática em sala de aula. Tudo só será possível quando os docentes conquistarem os seus alunos e os colocarem no centro da discussão como sujeitos pensantes e em construção. Como tudo passa por evolução e inovação, assim também são os discentes que no passado só ouviam e obedeciam. Não podiam questionar por exemplo, uma metodologia tradicional de determinado professor autoritário que se lhe desobedecesse, recebia uma punição severa.

Destaca-se algo muito presente nas entrelinhas dos informantes que indisciplina escolar está ligado a todo tipo de desordem, para os alunos denominado de bagunça, ou seja, algo fora do padrão, normas e regras, sugerindo em muitos casos com práticas pedagógicas dos professores frágeis o suficiente para que tal atos aconteçam

A educação moderna considera a o dinamismo constante das metodologias de ensino como pressuposto para o alcance da aprendizagem escolar dos alunos, aproveitando muitas estratégias de intervenção pedagógica excelentes praticadas pelos mestres e reformulando outras ineficientes.

Dessa forma, pode-se compreender a “indisciplina” no âmbito escolar como desafiadora para todos que ali estão inseridos necessitando conhecimento técnico científico para identificar as causas e suas possíveis soluções a partir do conhecimento acerca do tema para o enfrentamento do mesmo, de forma múltipla e contemporâneo.

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[1] Graduado Licenciatura em Química, Universidade Vale do Rio Doce (2008) – Governador Valadares, Minas Gerais. Mestrando em Ciência, Tecnologia e Educação, Faculdade Vale do Cricaré (FVC) – São Mateus.

[2] Graduado em Licenciatura Em História pela Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, Brasil. Graduado em Bacharelado Em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, Brasil. Mestre em Educação (Conceito CAPES 5) pela Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, Brasil. Doutor em História Social (Conceito CAPES 6) pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil.

Enviado: Julho, 2020.

Aprovado: Agosto, 2020.

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Edivaldo Menegazzo de Almeida

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