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Inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia ou psicoses a partir do olhar do professor e de equipe terapêutica

RC: 59134
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CONTEÚDO

ENSAIO TEÓRICO

SANTOS, Cilene de Araujo [1], SANTANA, Maria Luzia da Silva [2]

SANTOS, Cilene de Araujo. SANTANA, Maria Luzia da Silva. Inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia ou psicoses a partir do olhar do professor e de equipe terapêutica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 12, pp. 159-170. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/esquizofrenia-ou-psicoses

RESUMO

A condição crônica de doença mental interfere na vida e funcionamento da pessoa, podendo causar limitações diárias ao longo dos tempos e tem implicações no cotidiano de todos os membros da família.  O artigo tem como objetivo descrever acerca da inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia ou psicoses a partir do olhar do professor e de equipe terapêutica, para isso foi realizada uma pesquisa bibliográfica. A esquizofrenia e a psicose são delicadas para serem abordadas, pois há demandas relacionadas ao sofrimento pessoal como baixa autoestima, preconceitos, autoimagem negativa que exigem cuidados e habilidades na forma de abordagem para não causar mais sofrimento. As áreas da saúde e educação possui profissionais desenvolvendo práticas terapêuticas e educativas que acolhem a pessoa com problema de saúde mental, a exemplo da pré-escola terapêutica Lugar de Vida. A inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia ou psicoses a partir do olhar de professores são perpassadas pela crença de que é possível incluir independente do diagnóstico, devendo para isso haver um compromisso para realizar a inclusão, contudo, observa-se a carência de informações por parte dos profissionais de educação acerca de crianças e adolescentes nessa condição.

Palavras-Chave: Adolescentes, crianças, esquizofrenia, inclusão, psicoses.

1. INTRODUÇÃO

A educação inclusiva contribui com a constituição de sociedades inclusivas, em que todos, sobretudo os estudantes estão matriculados no estabelecimento de ensino regular, para isso requer uma resinificar a cultura, a prática e as políticas vivenciadas na escola no quesito diversidade dos alunos. A instituição escolar deve ter uma visão humana e democrática, com o objetivo do crescimento, satisfação pessoal e inserção social de todos. Também se deve considerar a escola como um ambiente multicultural e diversificado, que atende público com objetivos, ideologias diferentes e acolhe indivíduos diversos nas questões políticas, religiosas, sociais e muitas outras (NETO, 2018).

A educação inclusiva é contrária as práticas segregadoras, essas se constituem num desafio para o desenvolvimento de novas políticas de reestruturação educacional, portanto e necessário uma transformação do sistema educacional, que mesmo inclusivo recebe crianças dentro de um padrão de normalidade historicamente estabelecida. Frente as inúmeras demandas a inclusão não é uma tarefa fácil para a escola e nem para o professor. Contudo, os relatos de professores apontam que é possível incluir e também é gratificante trabalhar em sala com diversidades, porém é necessário implementar, enfrentar e superar os desafios com a participação de todos envolvidos na educação inclusiva (NETO, 2018).

A escola tem uma função essencial na vida do aluno, um papel importante para seu desenvolvimento cultural, social e cognitivo sendo indispensável para a formação do cidadão. É necessário destacar que para a inclusão de aluno, com deficiência e outras demandas, é preciso qualificação da equipe de profissionais escolares e disponibilidade de recursos pedagógicos. Para isso, é importante promover debates segundo a visão de quem faz a escola: professor, coordenador, diretor, porteiro, família, estudante, entre outros, para que o aluno seja matriculado não, somente, porque existe a lei, mas devido à presença de equipe preparada para atendê-lo (NETO, 2018).

Conforme Neto (2018) a escola contemporânea foi preparada para atender um perfil de aluno, porém hoje os alunos são bem diversificados o que exige da escola uma nova reformulação, incluindo a abertura para inclusão de todos até mesmo com os atendimentos individualizados.

Assim, é possível ter estudantes de diferentes características numa sala inclusiva, mesmo com diversas deficiências eles aprendem, desenvolvem habilidades voltadas a compreensão, respeito e convivência com as diferenças. No convívio com os demais é dada a oportunidade de aprendizado, interação social, construção de relações e desmitificação e quebra de barreiras atitudinais, de estereótipos e preconceitos em relação ao ser diferente. A inclusão é antes de tudo uma lição e postura de cidadania e de respeito para com o próximo, por isso a necessidade do profissional da área educacional, da saúde, do serviço social, etc. entender o que é incluir em todos os âmbitos.

A inclusão escolar é um trabalho árduo, em que requer quebrar valores e preconceitos enraizados em nossa cultura, assim ainda é necessário uma restruturação que transforme o olhar de diferentes pessoas, buscando o respeito na escola. A inclusão na escola também possibilitar uma sociedade democrática, onde todos possam viver com dignidade, por isso ela precisa ser uma realidade (NETO, 2018). Para que essa educação de fato se concretize são necessários mudanças estruturais e pedagógicas (SANTOS, 2000).

É importante que o trabalho do professor esteja voltado a igualdade de todos, disponibilizando ao estudante o que for de melhor para sua aprendizagem, pois para que ele aprenda é necessitário ser estimulado por seus professores e por todos que de alguma forma participam do processo de ensino (NETO, 2018). O professor deverá em suas práticas buscar a igualdade e fraternidade dentro da sala de aula, valorizando a diversidade como elemento de suma importância para o desenvolvimento social e pessoal do estudante (SANTOS, 2000).

No Brasil é recente o reconhecimento pelas instâncias governamentais de que a saúde mental das crianças é uma questão de saúde pública, tendo em vista que historicamente as ações relacionadas a essa temática foram delegadas aos setores educacionais e da assistência social. A condição crônica de doença mental na infância interfere no funcionamento do corpo da criança, além das limitações diárias ao longo dos tempos, tendo implicações no cotidiano de todos os membros da família que necessitam de ajuda de diferentes profissionais, inclusive os da educação (VICENTE; HIGARASHI; FURTADO, 2015).

O familiar que convive mais diretamente com a criança na condição de doença mental pode passar por privações em sua própria vida, no sentido de voltar a sua atenção para os cuidados adequados ao familiar, tendo desgaste, sofrendo, sobrecarga física e emocional (FURTADO, 2015). A esquizofrenia é uma das doenças psiquiátricas mais grave, desafiadora, complexa e abrange manifestações psicopatológicas variadas de pensamento, percepções, emoção movimento e comportamento (OLIVEIRA; JUNIOR, 2012).

A psicose é considerada uma desordem mental em que o pensamento, a afetividade e capacidade de perceber a realidade estão comprometidos, além desses sintomas os relacionamentos pessoas ficam prejudicados, o adolescente apresenta dificuldade para compreender a realidade, estando presente alucinações e ilusões (MAIA, 2004). Para as crianças psicóticas ir à escola pode significar também a volta da interação social e a retomada do seu desenvolvimento intelectual, mas que um exercício de cidadania frequentar a escola tem valor terapêutico (BASTOS; KUPFER, 2010).

Assim, a escola pode contribuir para a retomada ou pra a reorganização da estruturação perdida dessas crianças (BASTOS; KUPFER, 2010). É importante voltar os olhares para inclusão de crianças e adolescentes psicóticos ou com esquizofrenia, por isso o objetivo desse artigo é descrever acerca da inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia ou psicoses a partir do olhar do professor e de equipe terapêutica.

A relevância desse estudo se aproxima da apontada por Sanches e Oliveira (2011), decorrente da mudança na concepção sobre o que é doença mental, contudo, “existe uma ideia subjacente de que a loucura não é parte da esfera ou de competência, também, das proposições do processo ensino e ou aprendizagem regular ou especial e, ainda, servindo para fortalecimento de paradigmas que estabelecem uma linha divisória entre ‘normal’ e ‘anormal’” (SANCHES; OLIVEIRA, 2011, p. 415).  Desse modo, “justifica-se a importância deste estudo em razão de, historicamente, sempre houve uma tendência da instituição escolar de homogeneizar seus alunos, sendo a educação inclusiva, antes de tudo, uma provocação que propõe uma educação” (SANCHES; OLIVEIRA, 2011, p. 415).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada nesse artigo teve como base a pesquisa bibliográfica sendo elaborado a partir de livros e pesquisas científicas, considerando a intenção de aumentar a objetividade quanto a análise acerca do tema. Para isso, foram seguidos os procedimentos organizados com base em Souza et al. (2018).

  1. Foram formuladas perguntas sobre o tema inclusão de crianças e adolescentes portadores de psicoses e esquizofrenia, a partir de leitura de livros e artigos publicados em periódicos.
  2. Houve planejamento e organização do projeto de pesquisa que incluíram introdução, metodologia revisão, objetivo e cronograma.
  3. No decorrer da pesquisa foram realizadas buscas nas bases de dados: Scielo, Google acadêmico e portal de periódicos.
  4. Os materiais encontrados foram lidos e selecionados.
  5. Realizou-se fichamentos dos estudos que se aproximavam do tema, que resultaram na organização desse artigo, tendo no resultado e discussão duas categorias de análises: inclusão escolar e o professor, e a inclusão de estudantes com esquizofrenia ou psicoses a partir de equipes terapêuticas.

3. INCLUSÃO ESCOLAR E O PROFESSOR

A construção de uma escola adequada para os alunos com necessidades de aprendizagens diferentes requer profissionais e professores capacitados para atender a individualidade de cada um. Os profissionais que consideram a importância da diversidade dos seus alunos têm um olhar mais humanos e justos, buscando o respeito mútuo, tendo como alvo formar cidadãos conscientes para conviver bem com as diferenças (ROCHA, 2017).

A ação pedagógica deve procurar soluções para os desafios, exigindo novos olhares e práticas para resoluções e superações de barreiras, assim adequando para que o estudante consiga aprender e superar seus próprios limites (SANTOS, 2000). Contudo, existe uma insegurança por parte de alguns professores com respeito a desenvolver suas atividades com a diversidade (SANTOS, 2000).

As mesmas leis que almejam garantir a escola para todos, tem a possibilidade de assumir a função de um instrumento segredar quando não é considerada a singularidade de cada estudante. Assim, a inclusão escolar requer reflexão sobre a necessidade de cada um, olhando suas particularidades nesse processo (FONTES et el., 2015).

Fontes et el. (2015) também estudaram a inclusão de crianças na escola, que tinham diagnóstico de autismo ou psicose. Elas consideraram um desafio, pois entre os documentos que balizam a inclusão não há qualquer referência particular as características do psicótico, nem é mencionado acerca do trabalho pedagógico que atenda a essa particularidade do estudante.

Fontes et al. (2015) mapearam 9 escolas que recebiam crianças autistas e psicóticas, ao total havia 20 alunos com laudos, ou suspeita de TGD (transtorno global do desenvolvimento). Desse total, 18 foram diagnosticados com autismo e 2 de psicoses, esses diagnósticos foram disponibilizados na escola pela família, mas há casos da negação dos familiares de que há algo diferente e relacionado ao desenvolvimento de seu filho, sendo sugerido pela escola que o responsável encaminhe o estudante para avaliação do especialista.

O relato da pesquisa aponta que as escolas acreditam na inclusão para todos, independentemente do diagnóstico. Em relação as estratégias para lidar com alunos autistas e psicóticos não observou diferenças em relação aos demais estudantes, com exceção dos casos de resistência do aluno. Frente a inviabilização do trabalho pedagógico, as professoras cedem para contornar as dificuldades apresentadas por ele, sendo que as educadoras de apoio ficam ao seu lado (FONTES et el., 2015).

Em suma Fontes et al. (2015) observaram nas instituições de educação pesquisadas que os profissionais assumem o compromisso de realizar a inclusão de estudantes autistas e psicóticos, com a crença de que o trabalho de ensinar é possível. Contudo, tanto a escola como as professoras têm poucas informações do autismo e das psicoses, seria interessante conhecer um pouco sobre as características desses estudantes para melhorar a sua inclusão nesses espaços escolares.

Romonha (2012) pesquisou a trajetória escolar de estudantes com esquizofrenia, sendo enfatizadas as memórias deles no período escolar, apresentou que os aspectos mais importantes são: o processo de ensino e aprendizagem, às relações no interior da escola, bem como ações voltadas à afetividade demonstrada na relação com o cuidado. Também considerou que as dificuldades desses estudantes em marcos cognitivos são as mesmas do estudante regular.

Nesse estudo verificou-se que com a demonstração de sintomas psicóticos e a formulação do diagnóstico de esquizofrenia, houve a suspensão do processo educativo de estudantes, que na maioria dos casos, aconteceu antes de concluírem o ensino médio, entre os quinze e dezoito anos, alguns recorreram ao ensino supletivo como opção para concluir os estudos. E “essas trajetórias revelam a distância entre uma escola acolhedora de diferenças e a escola que se tem. Mudanças certamente ajudariam os portadores, mas iriam além, pois contemplariam outras diferenças e tornariam o espaço escolar mais agradável para todos” (ROMANHA, 2012, p. 16).

As pesquisas de Romanha (2012) e Fontes et al. (2015) indicaram a necessidade de avanços para inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia e psicose. Assim, foi possível ter uma leitura acerca de como está acontecendo a inclusão deles em instituições de ensino regular, sendo possível sugerir como necessários ajustes nos espaços físicos e recursos humanos para que a inclusão realmente aconteça.

4. A INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM ESQUIZOFRENIA OU PSICOSES A PARTIR DA EQUIPE TERAPÊUTICA

Pesaro; Kupfer e Merletti (2017) apresentaram possibilidades de práticas inclusivas baseadas na psicanálise, incluindo escolas interessadas na inclusão. E denominou de metodologia de estudo de caso da escola (Metodologia ECE) como uma instrumento que ajuda na construção de práticas inclusivas, sendo proposta pelo Lugar de Vida a um grupo de escolas de São Paulo durante os anos de 2015 e 2016. As práticas foram desenvolvidas, sobretudo a partir de uma ética, tal como entende a psicanálise.

A pré-escola terapêutica Lugar de Vida como um dispositivo para o tratamento de crianças com psicoses, segundo Kupfer (1996) foi criada na USP para crianças com problemas emocionais graves. O Lugar de vida é uma instituição que oferece as crianças atendimento psicoterapêutico e educacional integrados, desenvolve pesquisa sobre diagnóstico e o tratamento de distúrbios globais de desenvolvimento, a exemplo de psicoses e esquizofrenia- e oferecem cursos de aperfeiçoamento e supervisão para profissionais da área.

A pré-escola terapêutica Lugar de Vida existe na USP desde 1991, desde então vem ampliando suas atividades para atender à demanda de crianças e de profissionais que buscam formação (KUPFER, 1996). A Metodologia do Estudo de Caso da Escola (ECE) é uma das experiências desenvolvidas nesse espaço e que foi articulada em quatro tempos, assim organizado:

O primeiro tempo é o da apresentação de um saber constituído no qual são propostos os princípios orientadores das práticas inclusivas elaborados a partir dos 27 anos de trabalho do Lugar de Vida com as escolas e com a inclusão. O segundo, denominado de tempo da criança-sujeito, é o da leitura do caso de cada criança cuja inclusão preocupa a escola a partir de 4 eixos oriundos da teoria psicanalítica. O terceiro é o tempo da ação da escola protagonista e o quarto é o da construção de uma prática inclusiva própria a cada escola que surge da articulação dos tempos anteriores (PESARO; KUPFER; MERLETTI, 2017, p.1).

A Metodologia ECE resulta da sistematização do encontro no trabalho clínico com as atividades das escolas, assim possibilitou verificar que esse contexto exerce um papel fundamental no tratamento das crianças com entraves estruturais em seu desenvolvimento psíquico (KUPFER, 2000; COLLI E KUPFER, 2005 apud PESARO; KUPFER; MERLETTI, 2017).

A partir de uma leitura da psicanálise Pesaro, Kupfer e Merletti (2017, p. 5-9) consideraram que os princípios para uma escola transformadora e inclusiva são:

1. A inclusão é para todos e para cada um, o que supõe que o professor possa atribuir um lugar singular para cada um de seus alunos. [..] 2. O convívio com outras crianças pode ser terapêutico porque o outro semelhante (outra criança, o par) é essencial para definir uma imagem própria, para definir um valor narcísico para esta imagem e para ter acesso a um conhecimento sobre si. […] 3. O trabalho de inclusão se faz no laço que se estabelece entre professor e aluno porque, para a psicanálise, a construção da subjetividade se faz a partir das relações, ou dos laços, que se estabelecem entre os humanos. […] 4. O aluno é da escola e não apenas de um professor […] 5. A escola proporciona uma referência simbólica para todas as crianças […] 6. O educador tem o seu saber sobre seu aluno […] 7. A inclusão de uma criança garante a inclusão de todas porque garantir que uma criança em situação de inclusão frequente a escola e aí encontre um lugar entre os alunos é, ao mesmo tempo, dar a toda criança a possibilidade de estar na escola, independentemente de suas diferenças ou dificuldades particulares de aprendizagem. […] 8. A escola é o lugar social da criança. Com a inclusão, as crianças deficientes e com entraves psíquicos ganharam um lugar no mundo, o direito de ter um lugar social, já que para uma criança a escola é seu lugar social, o lugar a partir do qual é reconhecida como pertencente à comunidade humana. Para uma criança, pertencer a uma escolar é pertencer ao mundo. […] 9. A igualdade é o direito à diferença, não importa qual ela seja, que pode ser explicado do seguinte modo: todas as crianças devem ir à escola. […] 10. O sucesso da inclusão depende da adaptação da escola à criança e não apenas da adaptação da criança à escolar porque é necessário que a escola revise e inove suas práticas educacionais a fim de contemplar as necessidades de aprendizagem de todas as crianças. […] 11. Há um modo de entender a educação que se chama “Educação Terapêutica”. A Educação Terapêutica é uma forma de educar e ao mesmo tempo de cuidar, ou mesmo de tratar, dependendo da criança. […] 12. A inclusão escolar é terapêutica: educar é tratar. Educar é também promover a constituição do sujeito.

A instituição escolar tem possibilidade de ser protagonista da inclusão com o desenvolvimento e realização de suas próprias ações. “Mais do que obedecer à lei da inclusão, uma escola pode transformar a prática inclusiva em uma oportunidade para ser protagonista de seu projeto inclusivo, transformando-se e tornando-se ao mesmo tempo agente de transformação social” (PESARO; KUPFER; MERLETTI, 2017, p.1 apud BASTOS; KUPFER, 2010).

Segundo Bastos e Kupfer (2010) o Lugar de Vida acompanha a escolarização das crianças atendidas por compreender a inclusão escolar como um dos eixos do trabalho terapêutico, ou seja, educação terapêutica.  É um conjunto de práticas em que o grupo de professores é parte integrante, desenvolve atividades para que as crianças com transtornos graves possam se desenvolver na escola.

A proposta dessa escola terapêutica é acompanhar a escolarização de crianças, considerando a importância do professor resgatar e se apropriar do trabalho que desenvolve com elas. Para isso, tem um trabalho direcionado aos professores que é um espaço de escuta, em seus relatos diante do grupo é comum eles manifestarem demonstrações de supresa em relação as mudanças que observam nos estudantes e não avaliavam como um efeito do seu trabalho (BASTOS; KUPFER, 2010).

Esse espaço é esclarecedor para o professor ao possibilitar que ele se dê conta de sua implicação naquilo que, num primeiro momento, era visto como um problema exclusivo da criança, do qual ele só podia lamentar queixando se da falta de recurso, de preparo e da escola. Além disso, quando o professor é questionado em sua afirmação de que a criança tem alguma problema na saúde mental, nota-se operar uma desconstrução imaginária sobre o que venha a ser deficiência. É como se o professor num primeiro momento partisse de uma suposição imaginária de que aquilo que ele vê no aluno, o modo como ele pensa essa questão da deficiência seja compartilhado por todos na reunião (BASTOS; KUPFER, 2010).

No entanto, ao ser confrontado em sua confirmação, o professor se vê lançado a se interrogar sobre aquilo que era da ordem de uma certeza, pois mesmo que ele não tivesse clareza de qual a deficiência em questão, essas dinâmicas que acontecem nas reuniões possibilitam o giro nas produções discursivas produzindo algo diferente. Uma vez que não obtém respostas fechadas de como devem proceder e conduzir em sua tarefa educativa, os professores se veem desafiados a criar seus próprios fazer educativo pautado na singularidade do seu estudante (MARISE; BASTOS; KUPFER, apud BASTOS; KUPFER, 2010).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo teve como objetivo descrever acerca da inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia ou psicoses a partir do olhar do professor e de equipe terapêutica. A inclusão está acontecendo e existe trabalhos voltados nessa temática envolvendo adolescentes e crianças com esquizofrenia e psicoses, com profissionais habilitados para atendê-los.

A esquizofrenia e a psicose são assuntos delicados para ser abordados, pois há demandas relacionadas ao sofrimento pessoal como baixa autoestima, preconceitos, autoimagem negativa e dentre outros, que exigem cuidados e habilidades na forma de abordagem para não causar mais sofrimento. Contudo, as áreas da saúde e educação têm profissionais desenvolvendo práticas terapêuticas e educativas que acolhem a pessoa com problema de saúde mental, a exemplo das que acontecem na pré-escola terapêutica Lugar de Vida.

A inclusão de crianças e adolescentes com esquizofrenia ou psicoses a partir do olhar de professores é perpassada pela crença de que é possível incluir, independente do diagnóstico. Os professores e demais profissionais também assumem o compromisso de realizar a inclusão, considerando que é possível a sua aprendizagem e desenvolvimento, contudo, observa-se a carência de informações acerca dessa demanda de saúde mental de crianças e adolescentes.

REFERÊNCIAS

BASTOS, Bartolozzi. Inclusão escolar: pensando a escuta analítica no trabalho com professores. In: Colóquio Do LEPSI IP/FE-USP, 4., 2002, São Paulo. Proceedings online… Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000032002000400038&lng=en&nrm=abn>. Acesso em: 16 set. 2018.

BASTOS, Marise Bartolozzi; KUPFER, Maria Cristina Machado. A escuta de professores no trabalho de inclusão escolar de crianças psicóticas e autistas. Estilos clin.,  São Paulo ,  v. 15, n. 1, p. 116-125,   2010 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282010000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  10 out.  2019.

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GIL, Antônio Carlos. Como classificar as pesquisas. Como elaborar projetos de pesquisa, v. 4, p. 44-45, 2002.

JERUSALINSKY, Alfredo. A escolarização de crianças psicóticas. Estilos clin.,  São Paulo ,  v. 2, n. 2, p. 72-95,   1997 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71281997000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  16  nov.  2018.

KUPFER, Maria Cristina. Pré-escola terapêutica lugar de vida: Um dispositivo para o tratamento de crianças com distúrbios globais do desenvolvimento. Estilos clin.,  São Paulo ,  v. 1, n. 1, p. 8-17,   1996 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71281996000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso: em  05  set.  2018.NETO, Antenor de Oliveira Silva. Educação inclusiva: uma escola para todos. Revista Educação Especial, v. 31, n. 60, p. 81-92, jan./mar. 2018. Disponível: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/24091/pdf  Acesso em: 16 out.  2018.

OLIVEIRA, Renata Marques; FACINA, Priscila Cristina Bim Rodrigues; SIQUEIRA-JÚNIOR, Antônio Carlos.  A realidade do viver com esquizofrenia. Rev Bras Enferm, Brasília 2012 mar-abr; 65(2): 309-16. Disponível: http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n2/v65n2a17.pdf  Acesso em: 16 out.  2018.

PEREIRA, Caciana Linhares; FIGUEIREDO, Rita Vieira. Práticas escolares no contexto da proposta inclusiva: reflexões sobre a psicose infantil. Cadernos da Pedagogia. São Carlos, ano 10, v. 10, n. 20 (10), jan/jun 2017. Disponível: http://www.cadernosdapedagogia.ufscar.br/index.php/cp/article/view/993/344  Acesso em: 2 out. 2018.

PESARO, Maria Eugênia; KUPFER, Maria Cristina Machado; MERLETTI, Cristina Keiko Inafuku de. A Metodologia do Estudo de Caso da Escola – uma proposta para as escolas inclusivas e transformadoras. In: XII Colóquio Internacional do LEPSI, VII Congresso da RUEPSY, III Congresso da Red INFEIES, 2017, São Paulo. Caderno de resumos do XII Colóquio Internacional do LEPSI, 2017. Disponível em: http://www3.fe.usp.br/secoes/inst/novo/agenda_eventos/inscricoes/PDF_SWF/64510.doc  Acesso em: dez. 2018.

ROCHA, Artur Batista de Oliveira. O papel do professor na educação inclusiva. Ensaios Pedagógicos, v.7, n.2, Jul/Dez 2017. Disponível: Http://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n14/n14-artigo-1-O-PAPEL-DO-PROFESSOR-NA-EDUCACAO-INCLUSIVA.pdf  Acesso em: 2 out. 2018.

ROMANHA, Rosane. Memórias e vivências escolares de portadores de esquizofrenia e seus familiares. IX Seminário ANPED SUL, Caxias do Sul, 2012. Disponível: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/603/70 Acesso em: 2 out. 2018.

SANTOS, Mônica Pereira dos. Educação Inclusiva e a Declaração de Salamanca: Consequências ao Sistema Educacional Brasileiro. Integração – ano 10, no.22 – 2000, pp. 34-40. Disponível em: http://www.lapeade.com.br/publicacoes/artigos/Educacao%20Inclusiva%20e%20a%20Declaracao%20de%20Salamanca.pdf Acesso em: 2 out. 2018.

VICENTE, Jéssica Batistela; HIGARASHI, Ieda Harumi; FURTADO, Maria Cândida de Carvalho. Transtorno mental na infância: configurações familiares e suas relações sociais. Esc. Anna Nery,  Rio de Janeiro ,  v. 19, n. 1, p. 107-114,  Mar.  2015 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452015000100107&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: dez.  2018.  http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20150015.

[1] Graduação em Pedagogia.

[2] Doutora em Psicologia.

Enviado: Junho, 2020.

Aprovado: Agosto, 2020.

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3 respostas

  1. Gratidão somente gratidão, estou buscando por aprender mais entender de verdade e me ajudar assim conseguirei ajudar meu filho quê ê diagnosticado com esquizofrenia paranóide sou formado em pedagogia e agora terminando uma pós graduação em neuropsicopedagogia clínica institucional . A falta de inclusão e empatia dói.

  2. Boa Noite ,

    Seu gesto de cidadania com seu filho e incluir na sociedade na qual a empatia de profissionais na área da educação nos relatos de alunos

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