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O ensino da arte nas séries iniciais

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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

FARIAS, Ingrid Rodovalho de [1], CORREIA, Jucileide Maria [2]

FARIAS, Ingrid Rodovalho de. CORREIA, Jucileide Maria. O ensino da arte nas séries iniciais. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 06, Ed. 10, Vol. 07, pp. 35-47. Outubro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/ensino-da-arte

RESUMO

Este artigo traz uma reflexão acerca do ensino da arte nas séries iniciais do ensino fundamental, tendo em vista sua importância para a construção do conhecimento no processo educacional. Tal reflexão é norteada pela seguinte questão: como os documentos legais e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), recomendam o ensino da arte nas séries iniciais do ensino fundamental, considerando-se que a arte está interligada às demais disciplinas que devem ser exploradas pelos professores nas atividades escolares? O objetivo é analisar esses documentos e os PCNs no que se refere ao ensino da arte e identificar, através do mesmo, como os professores devem trabalhar esse conteúdo nas séries iniciais do ensino fundamental. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória, aliada à análise documental. Além disso, discute-se a proposta triangular para o ensino da arte (história da arte; leitura da obra de arte; fazer artístico). Os resultados apontam que, sendo a arte de grande significado para o processo ensino-aprendizagem, os PCNs são essenciais para o planejamento e a execução de aulas nas séries iniciais, contribuindo em estratégias, ações e práticas pedagógicas para que o professor, enquanto mediador, possa ter um olhar voltado às vivências culturais dos alunos. Conclui-se que o ensino da arte através dos parâmetros curriculares nacionais (PCN) veio a contribuir levando o professor a refletir possibilidades de ensinar/aprender arte de modo significativo e competente.

Palavras-chave: Arte, Ensino, Educação, Anos iniciais.

INTRODUÇÃO

O ensino da arte nas séries iniciais do ensino fundamental requer refletir sobre práticas pedagógicas a serem desenvolvidas no contexto em sala de aula. As manifestações artísticas e culturais constituem um fator relevante em toda sociedade e fazem parte de todas as culturas; porém, ao iniciar a escolarização, muitos são os olhares contraditórios sobre o ensino da arte como componente curricular. Por um lado, há muitos profissionais que a utilizam em suas disciplinas como suporte e como um meio eficaz para alcançar a aprendizagem desejada, mas nem sempre dão a ela o reconhecimento e a importância devida; por outro lado, há aqueles que se equivocam com o fazer artístico, tornando-o uma atividade meramente recreativa.

Em vista disso, o ensino da arte precisa se fazer presente no currículo escolar, dada sua importância para a formação e o desenvolvimento dos alunos. A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394/96, em seu art. 26, § 2º, assegura que “o ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, Redação dada pela Lei nº 12.287, de 2010). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais-Arte (BRASIL, 1997), o fazer artístico é parte do ser humano, que constrói, cria, inventa e reinventa; a valorização das artes é primordial para o seu desenvolvimento cultural e social. Assim, o sucesso do fazer artístico depende de vários fatores, das situações adversas e, ainda, do sujeito.

A compreensão artística é contínua, pois os professores estão sempre aprendendo, interagindo, criando e recriando e é nesse sentido que os saberes são mobilizados pela ótica dos professores. Para tanto, os professores precisam de apoio, de recursos e de ações pedagógicas, a fim de colocarem em prática toda forma de conhecimento, pois o ensino da arte faz com que a aprendizagem se torne significativa e, se bem trabalhada, poderá desenvolver inúmeras habilidades dentre os alunos, como o desenvolvimento da criatividade, a interação com diversos materiais e instrumentos, além de possibilitar que os diversos talentos surjam durante o processo.

Este estudo se norteia pela seguinte questão: como os documentos legais e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), recomendam o ensino da arte nas séries iniciais do ensino fundamental, considerando-se que a arte está interligada às demais disciplinas que devem ser exploradas pelos professores nas atividades escolares? A partir desse questionamento, nosso objetivo é analisar esses documentos e os referidos PCN, no que se refere ao ensino da arte, e identificar através do mesmo como os professores devem trabalhar esse conteúdo nas séries iniciais do ensino fundamental. A metodologia de pesquisa utilizada é de cunho teórico, de natureza bibliográfica, descritiva e exploratória. Além disso, apoiamo-nos na análise documental dos PCN-Arte referente aos anos de 1997 e 2001.

Ao longo do presente artigo, abordamos três aspectos principais: (i) O ensino de arte no Brasil e na educação; (ii) teorias relacionadas à arte no fazer pedagógico e avanços na práxis; e (iii) a importância da proposta triangular do ensino de arte nas séries iniciais do ensino fundamental.

O ENSINO DE ARTE NO BRASIL E NA EDUCAÇÃO

O ensino de arte, no Brasil, teve seu início em 1816, no Rio de Janeiro, durante o governo de Dom João VI, com a chegada da Missão Artística Francesa e com a criação da Academia Imperial de Belas Artes, que seguia o modelo europeu. Com a criação desta academia, instalou-se oficialmente o ensino de arte nas escolas (BRASIL, 2001. p. 12).

Diante do contexto histórico, o ensino de arte no Brasil tem passado por inúmeras transformações ao longo da sua história e, certamente, seguirá se modificando ao longo do tempo. Nos PCN-Arte (BRASIL, 1997), temos os principais pontos dessa história. A partir do início do século XX, de acordo com Rezende e Ferraz (1993, p. 30), “[…] o ensino do desenho era visto como uma preparação para o trabalho em fábricas e serviços artesanais, onde eram valorizados o traço, a repetição de modelos e o desenho geométrico”.

Em 1935, o escritor Mário de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura do município de São Paulo, promoveu um concurso de desenho para crianças, com tema livre, no qual o ganhador receberia uma quantia como incentivo. Na mesma trilha histórica, no Rio de Janeiro, em 1948, foi criada a primeira “Escolinha de Arte”, com o objetivo de propor atividades em que o aluno pudesse desenvolver a autoexpressão e a prática; em 1971, o número de instituições particulares desse tipo no país chegou a 32.

Através da LDB 5692/71, a educação artística (artes plásticas, educação musical e artes cênicas) passou a fazer parte do currículo escolar do ensino fundamental e médio. Depois de 25 anos, a LDB nº 9.394/96, em seu art.26, § 2º, estabeleceu que é obrigatório o ensino de arte na educação básica, nos seguintes termos: “[…] o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, 1996, p. 16).

Em 1973, foram criados os primeiros cursos de licenciatura em arte voltados à formação de professores (BARBOSA, 1989). Em 1980, Ana Mae Barbosa revolucionou o ensino de arte, com suas pesquisas sobre os três ideais da arte: fazer, ler imagens e estudar a história da arte. Essa pesquisadora criou a chamada proposta triangular, que inova o ensino da arte, ao colocar obras como referência para os alunos. Tal proposta pedagógica associava a liberdade de expressão a algum tipo de conhecimento sistematizado e isso fez com que os professores pudessem repensar também suas práticas pedagógicas, envolvendo tanto o professor quanto o aluno, suas vivências e manifestações artísticas e culturais. Dessa maneira, o ensino passa a ter uma nova visão: a arte não é somente uma disciplina comum da educação básica, mas é o reflexo do fazer, do pensar e do agir do indivíduo (BARBOSA, 2003).

De acordo com os PCN-Arte (BRASIL, 1997), é necessário o desenvolvimento da arte dentro de sala de aula, pois é por meio de habilidades que o estudante irá ampliar sua imaginação, percepção, dentre outras funções.  Nesse entendimento, Pillar (2001) afirma que a arte vai além de um pensamento estético e que existem táticas diferenciadas que permitem a sustentação do diálogo entre o sensível e o inteligível; a escola, então, passa a ser um espaço das discussões sobre direitos e deveres, de reflexão sobre a realidade e a dimensão social das manifestações artísticas, o que se constitui como uma das funções mais importantes do ensino de arte. Nesse sentido, desde os anos iniciais da educação infantil, o aluno vai se adaptando e percebendo as diferentes manifestações artísticas, passando a compreender as diversidades existentes entre povos e culturas (PILLAR, 2006).

A ARTE NO FAZER PEDAGÓGICO E OS AVANÇOS NA PRÁXIS

Nas escolas, de modo geral, é comum a utilização da arte nas séries iniciais do ensino fundamental; porém, nem sempre o fazer pedagógico tem a afinidade apropriada, embora seja importante que o educador se utilize desse saber, para que haja um total desenvolvimento social dos estudantes. Percebe-se que utilizar-se da arte como recurso pedagógico é muito comum, mas avaliar sua importância em todo o contexto de formação do ser é um pouco mais difícil. Tal avaliação se faz necessária, para compreensão da importância desse componente curricular em todo o currículo escolar e fora dele.

Fusari e Ferraz (2001), afirmam que o trabalho transforma e constrói o professor de arte mediante sua práxis cotidiana, na qual é necessário saber arte, saber os conteúdos e procedimentos, para fazer com que o aluno deles se aproprie. Isso é o que deveria ocorrer, segundo os PCN-Arte (BRASIL, 1997); entretanto, o que se nota é uma condição precária e viciosa de todo um sistema defasado de formação, que se tenta adequar ao currículo escolar, pois o professor precisa se apropriar de todos os recursos e alicerces metodológicos para que aconteça uma mediação apropriada.

Nesse sentido, levamos em consideração o conceito de metodologia da educação escolar em arte, a partir do que definem Ferraz e Rezende (1999, p. 98): “[…] conjunto de ideias e teorias educativas em arte transformadas em opções e atos que são concretizados em projetos ou no próprio desenvolvimento das aulas de arte”. Essas teorias ou propostas de como devem ser as práticas educativas em arte nos anos iniciais de escolarização têm sido motivo de muitos estudos e discussões e, desde a década de 1980, têm estado presentes na reformulação dos programas, na elaboração de material de estudo e de aprimoramento do trabalho docente.

De acordo com os PCN-Arte (BRASIL, 1997, p. 27), “[…] a arte é incluída no currículo escolar e passa ser considerada uma atividade educativa e não como caráter de disciplina”. No entanto, os professores não souberam aproveitar essas atividades como recurso pedagógico para desvendar as práticas tradicionalistas enraizadas nas escolas, porque não estavam habilitadas para trabalhar com atividades práticas de caráter construtivista.

Antes disso, ainda de acordo com os PCN-Arte (BRASIL, 1997 p. 25), “[…] o ensino de artes era voltado exclusivamente para o domínio técnico do professor, que trabalhava com exercícios e modelos convencionais selecionados por eles em manuais de livros didáticos”. Assim, quando se trata do ensino da arte aliado às diversas práticas em sala de aula, salientamos o que nos apresentam Ferraz e Rezende (1999): é necessária a formação do professor, para que haja uma significativa noção do ensino de arte e habilidades culturais nas produções artísticas em suas diversas modalidades (artes visuais, verbais, dança música, teatro, artes audiovisuais, entre outras).

A formação de professores não garante que a arte seja valorizada nas escolas, pois há instituições educacionais que ainda não contratam profissionais habilitados, muito embora a formação desses profissionais os habilite a trabalhar e atuar com plenitude dentro dos espaços educacionais. Conforme descreve Barbosa (1998, p. 14), “os PCN legitimaram a disciplina de arte, mas isso também não garantiu sua plena atividade”.

De acordo com o PCN-Arte (BRASIL, 1997, p. 21), “desde o início da história da humanidade, a arte sempre esteve presente em todas as formações culturais”. Assim sendo, conforme o ensino e a aprendizagem da arte há normas e valores estabelecidos em cada ambiente cultural que envolve o conhecimento e a produção artística (BRASIL, 1997). Então, desde criança já deveríamos ter consciência de que não existe uma arte melhor que as outras e que nenhuma expressão artística é mais importante que as demais.

Segundo os PCN-Arte (BRASIL, 1997), o que se pretende nas aulas de arte é a interação da criança com o campo da arte. É nesse momento que o professor deve levar consigo todos os recursos, todas as habilidades, para que haja um melhor aprendizado no ambiente escolar, e que todas as formas culturais trazidas pelos alunos precisam ser compreendidas como meio de aprendizagem. Na concepção de Pillar (2001), “o papel da arte na educação está relacionado aos aspectos artísticos e estéticos do conhecimento, contribuindo para expressar o modo de ver o mundo nas linguagens artísticas”. Assim, a escola cria um vínculo com a cultura artística, cabendo ao professor oferecer aos alunos condições para o exercício das variadas atividades, valorizando a espontaneidade lúdica e criativa das crianças que nela ingressam.

Para tanto, ainda em consonância aos PCN-Arte (BRASIL, 1997, p. 61), “[…] a escola deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, produção artística pessoal e em equipe”. Partindo dessa premissa, o professor tem que criar soluções, mesmo sabendo da escassez de recursos para as aulas de arte, pois é importante que os alunos desenvolvam suas capacidades. Como mediador, o professor deve buscar proporcionar momentos como pintar no pátio da escola, na quadra ou até mesmo desenhar em ambientes abertos, de forma lúdica. É preciso quebrar a rotina da mesmice da sala de aula e enriquecer as possibilidades de criação dos alunos, pois a apropriação da arte e de tais procedimentos favorece a criação, o reconhecer significados em suas produções e das mais diversas culturas.

De acordo com Ferraz e Rezende (1999), a arte pode ser entendida como uma forma de conhecimento humano que surge com a evolução histórica da humanidade. Com isso, ela ganha espaço em todas as dimensões do conhecimento, deixando de ser considerada somente um meio de propagação artística, tornando-se importante, proporcionando que o aluno possa manifestar suas formas de expressão artística, sua liberdade em poder criar, inventar. As referidas autoras definem essa compreensão a partir do seguinte argumento: “[…] a arte é criação do homem, conhecimento elaborado cientificamente e historicamente, portanto é trabalho, é estética, e expressões indissociáveis” (FERRAZ; REZENDE, 1999, p. 63). Diante disso, a arte é uma área de conhecimento que abrange todos os espaços formativos da criatividade humana e abrilhanta os seus diversos aspectos cognitivos, evidenciando o desejo de buscar algo de caráter simples e utilitário.

O argumento de Ferraz e Rezende (1999) se corrobora nos PCN-Arte (BRASIL, 2001, p. 21), em que se regista: “[…] desde o início da história da humanidade a arte sempre esteve presente em todas as formações culturais. O homem que desenhou um bisão numa caverna pré-histórica teve que aprender de algum modo, seu ofício e da mesma maneira, ensinou para alguém o que aprendeu”. Assim, o ensino e a aprendizagem da arte acontecem de acordo com normas e valores estabelecidos em cada ambiente cultural, com o conhecimento e o modo que envolvem a produção artística em todos os tempos.

Conforme os PCN-Arte (BRASIL, 2001), a arte é uma ciência que prospera na modernidade, acompanha as transformações sociais e os avanços tecnológicos. O ensino da arte não se dá isolado nem vazio, muito menos fora de suas práticas sociais. Tais possibilidades passaram a ser discutidas, e os PCN-Arte (BRASIL, 2001) elucidam que, a partir dos vários congressos de educação, resultou a concretização para as escolas novas, valorizando-se a ação construtivista do indivíduo. Portanto, a escola é dotada desse ato de invenção e criação, para favorecer e dinamizar suas atividades escolares, possibilitando que os educandos desenvolvam suas atividades específicas de forma dinâmica e criativa.

Como dito anteriormente, com a LDB nº 9394/96, que rege os parâmetros da educação até os dias de hoje, o ensino de arte se tornou um componente curricular obrigatório na educação básica. Mediante as perspectivas positivas sobre a arte, chegamos ao final da década de 1990 com novas formas curriculares de arte, incluindo-a como uma estrutura própria, com atividades ligadas à cultura artística e não apenas como atividade de “embromação” ou “passatempo” na sala de aula (BRASIL, 2001). Desse modo, a disciplina de arte passou a garantir que os alunos vivenciassem vários aspectos, sejam eles técnicos, inventivos, culturais, representativos e expressivos, através da música, do desenho e da dança. Temos a clara consciência de que o ensino de arte pode contribuir em todas as áreas do conhecimento, daí a importância de definirmos quais conteúdos e atividades queremos/podemos trabalhar, durante as aulas, para atingir nossa proposta de trabalho.

De acordo com Rezende e Ferraz (1993), o ensino da arte na escola não significa um treino para alguém se tornar um artista, mas sim uma maneira agradável de abordarmos o processo educacional, considerando-o não apenas como a transmissão simbólica de conhecimento, mas como um processo formativo do indivíduo, levando ao aluno a importância da arte para o seu desenvolvimento, fazendo com que ela ocupe uma função indispensável na vida das pessoas e na sociedade.

As aulas de arte devem ter momentos de interação em espaços de sociabilidade, haja vista que são momentos imprescindíveis do aprender; assim, o professor deve direcionar atividades que possam abranger as diversas áreas do conhecimento, por meio de representações e símbolos que enfatizem significações reais e concretas. Ferraz e Rezende (1993), a arte é uma das mais privilegiadas áreas do conhecimento em diversas instituições sociais, possibilitando que as pessoas adquiram o saber artístico não só na escola, visto que a arte está presente em todos os momentos da nossa vida: na vivência familiar, nos centros culturais, nos museus, na igreja, no teatro, nos meios de comunicação. A arte tem uma abrangência bastante complexa, que engrandece a formação cultural da pessoa.

Conforme o pensamento de Ferraz e Rezende (1999), a arte se manifesta como um fator indispensável à formação escolar dos alunos das séries iniciais do ensino fundamental, para que todos possam vir a ter o seu próprio conhecimento, despertando em cada um a vontade da arte, com o “aprender fazendo”. Nesse “aprender fazendo”, poderão surgir descobertas e conhecimentos.

Segundo os PCN-Arte (BRASIL, 1997, p. 23), “[…] pensar numa proposta de ensino- aprendizagem através da arte requer uma metodologia que possibilite aos alunos a aquisição de um saber específico”. Para tanto, é importante o auxílio necessário nas descobertas de novos caminhos, de modo a tornar os alunos capazes de compreender o mundo em que vivem e suas contradições, muitas das quais chegam a camuflar a realidade da sociedade. Nessa perspectiva, a escola, que é o centro de aprimoramento para o crescimento intelectual, precisa valorizar a arte na composição do currículo, fazendo com que ela se apresente como um fator indispensável para a formação e transformação humana.

Dessa forma fica claro que o ensino da arte precisa ser realmente reconhecido, é interessante ter um olhar mais atento sobre esse componente curricular ao longo da escolarização, que a sociedade reconheça não somente as disciplinas do currículo, mas também a grande contribuição que a arte exerce nos âmbitos social e cultural, acatando as potencialidades da arte para facilitar o ensino e aprendizagem dos demais componentes curriculares.

Além de suas contribuições para o desenvolvimento intelectual da pessoa, a arte tem-se revelado como um elo mediador para a profissionalização do indivíduo (BRASIL, 2001). Nessa linha de pensamento, a práxis e as formas de organização abordadas até o momento nos fazem perceber que o trabalho artístico tem se destacado a cada dia. Logo, o professor precisa abordar o ensino da arte, de forma que possa ela servir de alicerce na educação e que esse ensino traga possibilidades de crescimento para a formação profissional dos alunos, fazendo com que haja uma aprendizagem criativa e espontânea, que seja possível desenvolver, como atividades escolares, trabalhos artísticos em todas as dimensões da arte, tais como as artes plásticas e visuais, a música, a dança, o teatro.

A PROPOSTA TRIANGULAR DO ENSINO DE ARTE NAS SÉRIES INICIAIS

A proposta triangular apresenta uma melhoria para o ensino da arte, na busca por uma aprendizagem significativa e conhecimento crítico não somente para os alunos, mas também para os professores. Essa proposta surgiu nos anos de 1980 e ficou conhecida devido a grandes pesquisadores da área, como Ana Mae Barbosa (1998); no início, era denominada metodologia triangular para o ensino de arte. O trabalho com essa metodologia consistia em explorar a leitura de obras de arte do acervo do museu, com crianças e adolescentes sem conhecimentos de arte. Essa experimentação possibilitou a Ana Mae Barbosa (1991) sistematizar a metodologia por ela apresentada na obra A imagem no ensino da arte.

Conforme Barbosa (1998), o ensino da arte deve seguir a “metodologia triangular”, composta pela história da arte, pela leitura da obra de arte e pelo fazer artístico, ou seja, a pessoa que aprende arte deve não apenas saber fazer algo, mas também saber de onde veio tudo aquilo que está fazendo, como surgiu e o que levou as pessoas a fazerem determinada obra e sua leitura, podendo, dessa maneira, atentar-se para a mensagem que o artista quis passar a partir da sua obra.

Segundo Barbosa (1998), ao darmos crédito à arte para a formação   dos alunos nas atividades escolares, não estamos dizendo que o processo de ensino-aprendizagem da arte esteja voltado apenas para os aspectos de uma educação para o fazer artístico. Não podemos esquecer que, durante a concretização do fazer artístico, muitos fatores podem influenciar no resultado do ato criador.

Rezende e Ferraz (1993, p. 73) afirmam que, “[…] para desenvolver um bom trabalho de arte, o professor precisa descobrir quais são os interesses, vivências, linguagens, modos de conhecimento de arte e práticas de vida e de seus alunos”. No entanto, os professores ainda encontram dificuldades e fragilidades para ensinar. Segundo as autoras,

O trabalho com a arte na escola tem uma amplitude limitada, mas ainda assim há possibilidades dessa ação educativa ser qualitativa e quantitativamente bem-feita, para isso, seu professor precisa encontrar condições de aperfeiçoar-se continuamente. Tanto em saberes artísticos e sua história, quando em saberes sobre a organização e o desenvolvimento do trabalho de educação escolar em artes (REZENDE; FERRAZ, 1993, p. 19-20).

Segundo os PCN-Arte (BRASIL, 1997), o ensino da arte na escola deve se construir dentro de um espaço e de um tempo curriculares em que professores e alunos se dediquem criteriosamente à busca e à aquisição de novos saberes especificamente artísticos e estéticos. Assim, “[…] cabe à escola difundir os conteúdos que estão ligados às realidades sociais e inseri-los dentro de uma proposta pedagógica fundamentada em teoria e concepções relacionadas à arte” (BRASIL, 2001, p. 11). Corroborando os PCN-Arte (BRASIL, 2001), que os métodos de ensino não partem de um saber espontâneo, mas de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora, das suas vivências culturais, e cabe ao professor aplicar todo o seu conhecimento para melhor à aprendizagem. É um conjunto de ideias fundamentais e teóricas, com o objetivo de evidenciar uma transformação na escola, direcionando novas perspectivas para os ambientes.

Conforme Rezende e Ferraz (1993), através dos procedimentos metodológicos adotados pelo professor para as aulas de arte, são tomados posicionamentos conceituais, atitudinais e procedimentais que venham a fazer a diferença em todas as áreas do conhecimento humano. Do ponto de vista metodológico da pedagogia tecnicista nas aulas de arte, Ferraz e Rezende (1999) afirmam que o professor ocupa uma posição secundária, pois o elemento principal é o sistema técnico de organização da aula e do curso. Os métodos priorizam apenas os mecanismos centrados nos objetivos operacionais.

Na concepção de Barbosa (1998, p. 38), “qualquer conteúdo, de qualquer natureza visual e estética, pode ser explorado, interpretado e operacionalizado através da Proposta Triangular”. Segundo a autora, “[…] a Proposta Triangular é construtivista, interacionista, dialogal, multiculturalista e é pós-modernista por articular tudo isto e por articular arte como expressão e como cultura na sala de aula […]” (BARBOSA, 1998, p. 41).

Assim a proposta triangular se baseia no criar, a partir da compreensão, da noção, no retratar e (re) produzir. Se a arte é uma manifestação do ser em contato com a sua cultura e vivência, ela sempre será nova e sempre terá o caráter inovador. O professor é a base para que, a partir dessa proposta, possamos ter várias maneiras e pensamentos acerca de atividades diferentes, em se tratando do ensino de arte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tantos desafios, os PCN-Arte (BRASIL, 1997), têm como finalidade orientar a prática pedagógica que é essencial para o planejamento e a execução de aulas, visando atender os níveis de aprendizagens dos alunos das séries iniciais no seu campo do conhecimento artístico e estético, ou no processo de criação, criando estratégias, ações e práticas pedagógicas que garantam o desenvolvimento do aluno.

Dessa forma, os PCN-Arte (BRASIL, 1997), frisa que as aulas de arte devam contemplar as linguagens da dança, teatro, música e artes visuais e o professor, por meio de sua mediação possa articular os conteúdos dentro do contexto de ensino e aprendizagem e seguir os três eixos norteadores: produção, fruição e reflexão. Sabemos que o ensino de arte destina – se pouco espaço/tempo no currículo, além de pequena valorização desse componente curricular em relação aos demais, o que também afeta a maneira como os alunos a concebem. Por isso, o referido PCN é um recurso importante, pois trouxeram uma nova forma de se entender e ensinar a arte, subsídios que auxiliam o processo de ensino-aprendizagem, que visa promover o equilíbrio e contribui para o desenvolvimento de habilidades que favorecem a interação social.

É importante que sejam promovidas mudanças na forma como o currículo é proposto nas escolas, pois a arte tem um papel relevante no processo de ensino–aprendizagem; é necessário que o aluno considere o objeto de estudo como algo significativo e importante para sua vida, para si mesmo e para todos os envolvidos. Essa é uma tarefa árdua para os docentes, visto que não basta somente repensarmos o currículo atualmente posto em prática, mas sim efetivar, de fato, as mudanças necessárias. Para isso, é preciso rompermos muitos paradigmas pessoais.

Para Barbosa (1998), a arte deve estar presente em todos os demais componentes curriculares, evidenciando a capacidade de expressão dos educandos e fortalecendo a aprendizagem com toda a amplitude que as manifestações artísticas e culturais carregam, sejam elas na área de linguagem e seus códigos ou na compreensão geográfica e histórica.

Portanto, a arte é uma descoberta para os alunos e para os professores. Ante os desafios da docência, os professores vivem tentando (re)descobrir seu amor pela arte e pela criação, buscando despertar nos alunos toda forma de curiosidade, observando toda sua vivência cultural, evidenciando que a arte é pensamento imaginativo e criativo e um novo modo de olhar o mundo.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação: conflitos e acertos. São Paulo: Max Limonade, 1998.

BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil: realidade hoje e expectativas futuras. Estudos Avançados, São Paulo, v. 3, n 7, 1989.

BARBOSA, Ana Mae. As escuelas de pintura al aire libre do México: liberdade, forma e cultura. In: PILLAR, Analice Dutra. A educação do olhar no ensino das artes. 3ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2003.

BARBOSA, Ana Mae. Arte, educação e cultura. Revista 7. Disponível em: http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista7-mat5.pdf . Acesso em 21 jul 2021.

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.

BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei nº 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996.

BRASIL. Lei nº 12.287, de 13 de julho de 2010. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no tocante ao ensino da arte. Brasília: Presidência de República, 2010.

BRASIL. Lei de diretrizes e bases. Lei nº 5.692/71, de 11 de agosto de 1971. Brasília, v. 35, p. 1114-1125, jul/set, 1971.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais – Arte. v. 6. Brasília: MEC, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais – Arte. 3ª ed. Brasília: MEC,      2001.

FERRAZ, Maria Heloísa Cortez de; REZENDE, Maria Heloísa Fusari Cortez de. Metodologia do ensino de arte. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1999. (Coleção Magistério 2º Grau).

REZENDE, Maria Heloísa Fusari Cortez de; FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. Arte na educação escolar. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1993. (Coleção Magistério 2º Grau).

PILLAR, Analice Dutra. A educação do olhar no ensino de artes. Porto Alegre: Mediação, 1999.

PILLAR, Analice Dutra (Org.). A educação do olhar no ensino de artes. Porto Alegre: Mediação, 2001.

PILLAR, Analice Dutra. A educação do olhar no ensino das artes. 4ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2006.

[1] Pós-graduada em Gênero e Diversidade Escolar pela Faculdade São Braz; Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Rondônia. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3963-3449

[2] Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Rondônia. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3317-7294

Enviado: Agosto, 2021.

Aprovado: Outubro, 2021.

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Ingrid Rodovalho de Farias

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