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Inclusão através da música: Da deficiência ao palco

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

BARROS, Jackson Rafael Tavares [1], CRUZ, Antonia Maria Medeiros da [2]

BARROS, Jackson Rafael Tavares.  CRUZ, Antonia Maria Medeiros da. Inclusão através da música: Da deficiência ao palco. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 10, Vol. 15, pp. 109-120. Outubro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/deficiencia-ao-palco

RESUMO

Este artigo apresenta reflexões e um relato de experiência a respeito da inclusão de pessoas com deficiência intelectual através da música no âmbito do projeto intitulado “O palco” desenvolvido no primeiro semestre de 2019, na APAE da cidade de Salgueiro, Pernambuco. O projeto foi embasado teoricamente no método do educador austríaco Émile Jaques-Dalcroze, o qual nos ensina que o aprendizado ocorre por meio da música e pela música, através de uma escuta ativa. Os resultados apontam que, de maneira geral, as ações do projeto obtiveram uma prospecção inclusiva e cultural de grande valia para alunos com deficiência intelectual. Oportunizou ainda o desenvolvimento do “abrir dos olhos” para as faculdades artístico-musicais, proporcionando o aprofundamento no mundo da música com o ensino básico das estruturas rítmicas, música e cultura regional. A música como sinfonia cognitiva adentra caminhos específicos do conhecimento da mente não convencionais, neste percurso conglomeramos o afeto, a motricidade e os sentidos.

Palavras-chave: Música inclusiva, deficiência intelectual, APAE.

INTRODUÇÃO

As propostas de educação Inclusiva no Brasil, nos últimos trinta anos, avançaram de forma significativa (LOURO 2018). Podemos perceber que apesar desses avanços, as pessoas com deficiência intelectual ainda não são beneficiadas com as ações necessárias para uma vida com cidadania. Logo, deve existir uma preocupação com as pessoas com deficiência intelectual no sentido de fazer um trabalho articulado e efetivo em diferentes pontos de atenção.

Na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Salgueiro – Pernambuco, as iniciativas de educação inclusiva têm se tornado cada vez mais relevante. A instituição conta com uma equipe de profissionais empenhados em realizar ações no ambiente da educação inclusiva, saúde e educação. Desde 2017 a instituição vem evoluindo em busca de melhorias no que se diz respeito à inclusão social usando como estratégia a educação musical.

Neste artigo temos o propósito de relatar as possibilidades de inclusão social através da educação musical, bem como as contribuições dessas práticas para a vida do deficiente intelectual. Em 2019 a APAE de Salgueiro iniciou o projeto intitulado O Palco, que tinha como propósito preparar musicalmente uma turma de alunos, para que os mesmos estivessem aptos a realizarem uma atividade musical, e assim, participarem de um festival de arte (FEAPAES) na cidade de Caruaru, Pernambuco, que acontece a cada três anos e é realizado pela própria instituição.

O projeto tem como máxima o método do educador Émile Jaques Dalcroze, que se baseia no movimento no qual o aprendizado ocorre por meio da música e pela música, por meio de uma escuta ativa (MATEIRO, 2012). As vantagens relacionadas a utilização desse método incidem no desenvolvimento das relações artísticas através do sentir, deixando de lado a obrigatoriedade do acoplamento do estudo baseado  na teoria, que deixa  mais complexo o aprendizado para as pessoas com deficiência intelectual. Jaques-Dalcroze procurava introduzir o aluno dentro da música fundamentalmente através da assimilação corporal. (MATEIRO, 2012). Assim, criava uma maior afinidade com a aprendizagem e concomitante a isso, uma maior ligação com o fazer artístico.

BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Quando pensamos sobre Educação Inclusiva, pensamos também em um precedente histórico não tanto animador. É na Grécia Antiga que nos deparamos com a fase de maior desacordo entre a sociedade e o deficiente. A fase de negligência total, os gregos hiper valorizavam a beleza e a perfeição. Segundo Silva (1986):

Se lhes parecia feia, disforme e franzina, como refere, Plutarco, esses mesmos anciãos, em nome do Estado e da linhagem de famílias que representavam, ficavam com a criança. Tomavam-na logo a seguir e a levavam a um local chamado Ápothetai, que significa depósito. Tratava-se de um abismo situado na cadeia de montanhas Tahgetos, perto de Esparta, onde a criança era lançada e encontraria a morte, pois, tinham a opinião de que não era bom nem para a criança nem para a república que ela vivesse, visto como desde o nascimento não se mostrava bem constituída para ser forte, sã e rija durante toda a vida” (SILVA, 1986, p. 86-87).

Mais adiante, já na Idade Média, os deficientes físicos eram acusados de predestinação demoníaca, portanto, deveriam ser alvo de maus tratos e abandono. No entanto, esse padrão foi dissolvendo-se com o passar do tempo e ainda na idade média alguns cristãos acreditavam que os deficientes físicos eram obra divina e assim “filhos de Deus”. Entre XV e XVII, na Europa, sucederam algumas modificações no então quadro vigente e tais mudanças ficaram marcadas pelo triunfo da valorização humana, o progresso da ciência e a soltura quanto às normas e religiosidade preponderantes da idade média. “A experiência dos religiosos enclausurados em tratar seus irmãos feridos ou doentes, bem como os pobres ou desvalidos, portadores de sérias limitações físicas” (SILVA, 1986, p. 149).

Somente a partir do século XVIII observamos um início marcante no tocante à saúde das pessoas com deficiência mental. Segundo Aranha (2001), em meados de 1800, Guggenbuhl abriu uma instituição para cuidado e tratamento residenciais de pessoas com deficiência mental, em Abendberg, Suiça, cujos resultados chamaram a atenção para a necessidade de uma reforma significativa no sistema vigente, da simples internação em prisões e abrigos.

No Brasil, somente no século XIX, as ações de integração e cuidado com os deficientes intelectuais iniciam-se através do, em 1854, do Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant – IBC), e, em 1856, o Imperial Instituto dos Surdos Mudos (hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES) (JÚNIOR, 2010). Dentro desse cenário e com o início dessas instituições o Brasil começava a ter um indicativo positivo no ambiente de tais deficiências. Entretanto, foi no século XX que surgiu uma das mais abrangentes iniciativas no universo da deficiência, nasce então, em 1954, a APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, no Rio de Janeiro.

SAÚDE MENTAL NO BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

A problemática relacionada a pessoa com deficiência intelectual não está apenas centrada nas dificuldades encontradas diante das privações de saúde relacionadas as faculdades da mente, e sim, a negação da prática de tais direitos. Logo, a pessoa com deficiência é cidadã como qualquer outra e deve ser respeitado por todos e em todas as situações, como, por exemplo, na saúde, na educação, no transporte, no trabalho, no lazer e no acesso à justiça, entre outros (ADERE, 2008).

Observemos as informações abaixo:

Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde – PNS 2013, IBGE.

O quadro acima confirma que a relação social dos deficientes Intelectuais com o restante da sociedade ainda se traduz com um enorme distanciamento. Todavia, apesar dos direitos garantidos na legislação, a maioria das pessoas com deficiência intelectual ainda vivem a mercê de um ambiente de inclusão social. Diante disso, a sociedade e mais ainda o estado são agentes imprescindíveis para tal mudança. De acordo Diniz (2007) e Figueira (2008), em 1981, foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) a responsabilidade dos governos por garantir direitos iguais às pessoas com deficiência num marco democrático de reajustes sociais, estruturas e políticos para contratar o tema na esfera dos direitos humanos. Entretanto, as iniciativas do estado não dão o real suporte a demanda que a problemática merece, ficando assim, a cargo das inúmeras instituições não governamentais o papel de driblar todos os empecilhos, para assim, entrar com as ferramentas necessárias e com afeto no cuidado ao deficiente intelectual.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece a deficiência intelectual (DI), antes sendo diagnosticada como retardo mental, uma inclinação expressivamente abreviada de compreender elementos novos ou complexos e de estudar e cultivar novas destrezas (inteligência afetada). É assinalada, basicamente, por agitações, durante o período de alargamento, das faculdades que determinam o grau global inteligência, dos desempenhos cognitivos, de linguagem, ações motoras e competência social e que implica em um efeito duradouro a respeito do desenvolvimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).

Para identificar clinicamente um deficiente intelectual é necessário um diagnóstico plausível relacionando o comprometimento das destrezas cognitivas, de linguagem e comportamentais, com dispêndios na fala, na atenção, concentração, memória, e, sobretudo conflito na habilidade de pensamento imaginário e aptidões sociais. Além disso, a deficiência intelectual pode ser classificada como Leve, Moderada, Grave ou Profunda. Sobretudo, existe um preconceito gravíssimo com o deficiente intelectual. As classificações relacionadas ao deficiente intelectual no que tange a vivência social ou pedagógica, não fazem a menor diferença quando o assunto é a possibilidade de habilidades especiais, onde mesmo com deficiência cognitiva, eles podem externar habilidades nesse mesmo campo ou desvencilhar um grande talento artístico, mesmo com o QI abaixo da média. (LOURO, 2012).

De acordo com ambos DSM e CID, três critérios básicos devem ser atendidos para que haja um diagnóstico de deficiência intelectual (ou retardo mental):

      • Funcionamento intelectual significativamente abaixo da média (QI de 70 ou inferior)
      • Déficits concomitantes ou prejuízos no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, auto-cuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, auto-direção, habilidades acadêmicas funcionais, trabalho, lazer, saúde e segurança
      • O início é antes dos 18 anos (KE, 2015, p.16).

O diagnóstico de Deficiência Intelectual é abonado por um neurologista e se faz necessário o acompanhamento do mesmo por um grupo multidisciplinar de profissionais da área da saúde mental.

A APAE de Salgueiro-PE, trabalha com crianças, jovens, adolescentes e adultos diagnosticados com deficiências em vários níveis e com os mais variados transtornos e quadros de conflitos mentais, como Paralisia Cerebral, Autismo, Síndrome de Down e outros. Nesse embargo, a Música, estruturada para ser um agente instigador, desvendado como uma chave fundamental de desenvolvimento intelectual e afetiva diante de tal cenário, pois “a atividade musical mobiliza quase todas as regiões do cérebro de que temos conhecimento, além de quase todos os subsistemas neurais” (LEVITIN, 2010, p.100).  Música, sendo um elemento dotado de capacidades para interagir com a expressão humana durante toda história, é uma prática ligada à emoção que tem também um fio condutor preciso com o intelecto. Conforme LEINIG (2008), diversos alvos terapêuticos de extrema valia são propósitos caracterizados como evolução de necessidades físicas, mentais, emocionais, sociais e intelectuais do indivíduo que amplia potencialmente e recupera funções.

Diante de tais constatações, o ensino da música é uma atividade que excita o desenvolvimento no campo neural de crianças, jovens e adultos diagnosticados com prejuízos nas faculdades mentais.

APAE DE SALGUEIRO- PE: RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA DO PROJETO O PALCO

Na totalidade, o acordo sobre o que significa a palavra musicalização excede o sentido o do ensinar elementos da teoria musical, e de que uma pessoa é musicalizada porque a mesma é dotada de sensibilidade para os feitos musicais e tem destreza necessária para expressar-se mediante a música, batendo palma, identificando os sons, ou executando um instrumento etc. Do ponto de vista de Penna (1990), musicalizar(-se) é tornar(-se) sensível à música, de modo que, internamente, a pessoa reaja, mova-se com ela.

A APAE de Salgueiro desenvolveu o projeto o Palco via oficinas de musicalização, com o intuito de ampliar, agir e desenvolver  uma percepção sonora dos respectivos alunos com deficiência. O trabalho das oficinas deu-se no início 2019 e foi até o dia da apresentação, 18 de Junho do mesmo ano. O público participante era composto por crianças, adolescentes, jovens e adultos. Como categoria imprescindível para participar da APAE, todos os alunos eram portadores de diversas deficiências: auditiva, autismo, síndrome de Down e em associação com deficiência Intelectual.

Antes de iniciarmos com as aulas de música propriamente ditas, foi necessário a participação de todos os alunos no teste da banda. O teste se dava na execução de exercícios que se baseiam no método rítmico de Dalcroze. Os exercícios envolviam movimento corporal na tentativa de aliar sensibilidade no perceber dos elementos de linguagem musical, não só com o ritmo, mas, com noções sobre altura, intervalos e percepção musical. Os exercícios de rítmica procuravam antenar conexões entre gestão motora e experiência musical.

Vale lembrar que as práticas citadas lançam mão dos ensinamentos de Émile Jaques-Dalcroze que com suas descobertas abriu as portas para as inovadoras pedagogias musicais que surgiram na primeira metade do século XX, ao desenvolver gradualmente um método de educação musical baseado no movimento, no qual o aprendizado ocorre por meio da música e pela música, por meio de uma escuta ativa. A Rítmica – sistema de educação musical criado por Jaques Dalcroze, visa a musicalização do corpo (TEREZA 2012).

Devido à inquietude e/ou displicência por parte da maioria dos alunos, foi definido que os minutos iniciais das aulas seriam usados no propósito de acalmar os alunos. Para isso, exercícios de relaxamento eram postos em prática através de música que promove sensação de bem estar, harmonização psíquica e ambiental (MARCICLENE, 2006). Iniciamos com o trabalho de respiração pensando ser uma prática provisória. No entanto, pelo fato do resultado ter sido muito positivo, passamos a usar técnicas de respiração todos os dias, pois só com os exercícios de relaxamento os alunos diminuíam a ansiedade e encontravam certa tranquilidade para adentrarmos no material de ensino da música.

O exercício de controle da ansiedade era feito pela técnica de Respiração Induzida que se baseia em exercícios respiratórios para diminuir o grau de ansiedade e colaborar no controle da frequência respiratória e diminuir a ansiedade. Para aplicação da técnica, pedíamos aos alunos o controle da inspiração e expiração do ar, ao mesmo tempo em que contavam mentalmente algumas séries numéricas, focalizando a respiração nos músculos do peito e das costas (MARCICLENE, 2006)

Depois do teste, os alunos que tiveram aptidão e quiseram participar do projeto, entretiveram-se nas atividades e assim, iniciaram-se as aulas. Estruturado com base no trabalho do educador Dalcroze, frisamos a partir daqui o projeto em três fases: Identificação dos gêneros da música regional, composição e apresentação. Na primeira fase de aprendizagem foi criado um compilado de músicas (dez músicas do gênero Baião) que fizessem referência a determinados ritmos para que o trabalho inicial fosse a identificação rítmica do gênero exposto. Aliado a isso, a escrita musical era executada com as mãos e os pés repetidas vezes.

Fonte: Acompanhado e produzido pelo autor

É importante destacar que uma das atitudes imprescindível na sala de aula é usar religiosamente a repetição dos exercícios “pois a sequência lógica das atividades colabora muito com a organização neurológica” (LOURO, 2012, p.133). Entretanto, quando se fala no ambiente da deficiência intelectual, necessariamente  a técnica da repetição exige um reforço maior, os exercícios precisam ser repetidos exaustivamente, e  além disso modificações dos próprios em outros formatos,  até que seja percebível o entendimento claro do aluno relacionado  á atividade.

Os ritmos regionais como xote, xaxado, baião e arrasta, foram detalhadamente expostos, para que os alunos tivessem conhecimento específico do que posteriormente eles queriam apresentar. Foram usados nas aulas os instrumentos que caracterizam a música regional, tais como, zabumba, triângulo, sanfona e pífano, esse último era usado pelo professor para que este pudesse auxiliar no acompanhamento dos ritmos e das melódicas. Vale lembrar que esse Instrumento de cultura milenar atravessa gerações. Caracterizou-se nordestino principalmente pelo o uso nas zonas rurais que formavam suas respectivas bandas. “ […] feitos de bambu ou taboca (uma espécie de taquara); São de vários tamanhos, resultando em várias afinações. Os mais usados são afinados em sol ou em lá e geralmente possuem seis furos, além do furo do bocal.” (CLÁUDIO, 2008, p. 09).

Concluída a primeira etapa, entramos na fase composicional, na qual os alunos já com conhecimento prévio com relação aos principais gêneros puderam opinar de forma construtiva na estrutura rítmica e melódica – através da escuta – da composição. A forma de composição escolhida por eles foi um recital (sem o poder da escrita, a secretaria e a coordenação do projeto se encarregaram de escrever o que seria recitado) tendo como base o gênero baião. Os exercícios de criação foram feitos dentro do método Dalcroze, tendo como base a liberdade e a improvisação, na qual o acordar da consciência rítmica brota da observação e da rotina com o movimento. E dentro desse caminho, cresce o apreço pela criatividade e expressão rítmica. Pois,

Todos os exercícios da ‘rítmica’ têm por objetivo reforçar a faculdade de concentrar-se, de habituar o corpo a manter-se, por assim dizer, sob pressão esperando as ordens da zona superior, de fazer penetrar o consciente no inconsciente, e de aumentar a faculdade inconsciente de todo o contributo de uma cultura especial, que tem por resultado o respeito a ela. Além disso, esses exercícios tendem a criar hábitos motrizes mais numerosos e novos reflexos para obter-se com o mínimo esforço o máximo efeito, portanto a tranquilizar o espírito, a revigorar a vontade e a estabelecer a ordem e a clareza no organismo (DALCROZE, 1925, p. 93, tradução nossa).

Acentuando o desenvolvimento e a contribuição que a música proporciona para as pessoas com deficiência intelectual, fica evidente que os alunos foram contemplados com um novo olhar dentro do ambiente da inclusão, que na regência da educação musical oportunizou a participação em um evento na cidade de Caruaru – PE, onde puderam socializar com pessoas com as mais variadas deficiências o fazer musical em grupo, sendo essa uma experiência jamais vivida entre eles. Além disso, o contato com a teoria musical, com a diversidade de instrumentos musicais que perpetuam a cultura e o saber relacionado à possibilidade das mais diversas contribuições sonoras que a música oferece.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto O Palco executado na APAE de Salgueiro – PE indicou que o uso da música mediante o movimento corporal, seguindo o método do educador Émile Jaques Dalcroze, que se baseia no movimento, é eficiente em vários níveis da saúde mental. As aulas de preparação para o Fapaes-PE, evento cultural estadual organizado pela própria APAE, demonstrou claramente os níveis de contribuição do projeto na vida dos alunos, especificamente na melhoria da coordenação motora, nos processos cognitivos, no que tange a memorização do conteúdo exposto e a afetividade.

O ensino da música tem relação direta com as emoções, e assim, o efeito terapêutico também é imprescindível na vida dos deficientes mentais. Concomitante a tudo isso, no projeto de aprendizagem, tendo como ferramenta a musicalização, acontece o desenvolvimento das habilidades musicais dos alunos, os mesmos adquirem de forma generalizada capacidades relacionadas ao fazer musical. Pulso, Altura e timbre, foram corporalmente engajados na mentalidade dos alunos, onde os mesmos se divertiram e compartilham o conhecimento aprendido com familiares e amigos.

Assim, esperamos que poder compartilhar nossa experiência neste artigo seja relevante para favorecer o debate sobre os caminhos da inclusão de pessoas portadoras de deficiências através da música. Para finalizar, reforçamos a necessidade de aprofundar as possibilidades de inclusão através de outros olhares, outros projetos, assim como há a necessidade de abandonar preconceitos e reescrever novos capítulos na história dos deficientes na música.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADERE, ADID E APAE de São Paulo, O Manual dos Direitos Fundamentais da Pessoa com Deficiência Intelectual. São Paulo, agosto de 2008.

ARANHA, Paradigmas da relação da sociedade com as pessoas com deficiência. Artigo publicado ma revista do Ministério Público do Trabalho, ano XI, Março, 2001, PP. 160-173. Disponível em: .<https://www.passeidireto.com/arquivo/76332931/paradigmas-da-relacao-da-sociedade-com-as-pessoas-com-deficiencia> Acessado em: 02 de Agosto de 2020.

DALCROZE, E. Jaques. La ritmica, il solfeggio e l’improvvisazione. In: ______.Ginnastica ritmica estetica e musicale. Milano: Ulrico Hoepli, 1925. p. 88-123.

DINIZ,  Debora;  BARBOSA,  Lívia;  SANTOS,  Wederson  Rufino  dos.  Deficiência,

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KE Xiaoyan, LIU Jing Deficiência Intelectual. Edição em Português Editor: Flávio Dias Silva Tradutores: Izadora Fonseca Zaiden Soares, Rafael Ramalho Vale Cavalcante. Disponível em: <https://iacapap.org/content/uploads/C.1-Intelectual-disabilities-PORTUGUESE-2015.pdf> Acesso em 18 de Agosto de 2020.

LEVITIN J. Daniel. A MÚSICA NO SEU CÉREBRO: A Ciência de uma Obsessão Humana. Editora: Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 2010. Disponível em: <https://grumeufpr.files.wordpress.com/2019/03/a_musica_no_seu_cerebro.pdf> Acesso: 10 de Agosto de 2020.

LOURO, Viviane dos Santos. Jogos e atividades para a educação musical inclusiva, São Paulo, Editora: Som, 2018, Pag 44.

MATEIRO, Tereza; ILARI Beatriz, Pedagogias em Educação Musical. Curitiba, Editora: intersaberes, 2012, p.27 até 31.

PENNA, Maura. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Edições Loyola, 1990.

SILVA, Otto Marques da. A Epopéia Ignorada: A pessoa Deficiente na História do Mundo de Ontem e de Hoje. São Paulo: CEDAS, pag. 86-87 e 149, 1986. Disponível em: <https://issuu.com/amaurinolascosanchesjr/docs/-a-epopeia-ignorada-oto-marques-da-> Acessada em: 09 de Agosto de 2020.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Chapter V: mental retardation (F70-F79). The ICD10. Classification of mental and behavioural disorders. Clinical descriptions and diagnostic guidelines. 10th revision, edition 2010.Acesso em 02 de Agosto de 2020. Disponível em: <https://www.who.int/classifications/icd/en/bluebook.pdf> Acesso: 10 de Agosto de 2020.

[1] Graduado em Música.

[2] Doutorado em andamento em Letras e Linguística. Mestrado profissional em Mestrado Profissional em Letras. Especialização em Programação Do Ensino De Língua Portuguesa. Graduação em Letras – Inglês.

Enviado: Setembro, 2020.

Aprovado: Outubro, 2020.

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