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Principais dificuldades dos alunos japoneses com materiais autodidáticos de português como língua estrangeira

RC: 84834
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/alunos-japoneses

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

LIMA, Leonardo Teixeira Miyamoto de [1], BARBIERI, Sueli Caraçço [2]

LIMA, Leonardo Teixeira Miyamoto de. BARBIERI, Sueli Caraçço. Principais dificuldades dos alunos japoneses com materiais autodidáticos de português como língua estrangeira. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 05, Vol. 06, pp. 05-21. Maio de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/alunos-japoneses, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/alunos-japoneses

RESUMO

Com a evolução dos materiais autodidáticos no aprendizado de línguas estrangeiras, novos modelos de alunos têm surgido em nosso meio educacional. Desenvolvendo uma maior independência, esses estudantes têm optado pela utilização de materiais autodidáticos à cursos de idiomas com professores no centro do aprendizado. A evolução dos meios de comunicações e dos materiais com recursos audiovisuais tem auxiliado estudantes alunos de PLE em seus objetivos nos idiomas resultando em uma maior venda dos mesmos. Assim com o crescimento do ensino de Português como língua estrangeira em solo japonês e a pouca oferta de cursos de PLE em universidades e escolas de idiomas, alunos japoneses tem optado por métodos focados no aprendizado da língua de forma autodidática. A pesquisa tem como tema o ensino de PLE para alunos japoneses no Japão e Brasil com materiais e livros de PLE publicados no Japão entendendo seus segmentos, metodologias e dificuldades. Através de uma entrevista aproximada, expõem-se suas dificuldades na língua portuguesa e no material autodidático com uma comparação de dados coletados pelo aluno e nas pesquisas. Chegando assim a conclusões sobre os pontos fortes e fracos do material e suas possíveis necessidades e melhorias nos campos de fala, escrita ou escuta do material.

Palavras-chave: Material, Autodidatismo, PLE, Alunos japoneses.

1. INTRODUÇÃO

A pesquisa tem por finalidade focar no aprendizado de português como língua estrangeira, doravante PLE, por alunos japoneses sob auxílio de materiais autodidáticos. Apesar de vastas pesquisas referentes ao ensino de PLE à japoneses, questões como pesquisas de materiais autodidáticos e tipos de alunos que nascem desse método ainda são escassos. Devido as ofertas de cursos de letras português por 7 faculdades japonesas segundo o site Minkou (2019), muitos alunos procuram o Brasil como alvo no foco do Curso. Com o aumento do interesse de alunos pelo idioma, a língua portuguesa tem crescido em solo asiático. Junto a expansão das possibilidades de aprendizado do idioma, podemos focar a pesquisa com delimitação de tema em alunos japoneses que estudam português como língua estrangeira através de materiais autodidáticos ou de forma independente, visto não somente uma maior procura por metodologias autodidáticas mas também a falta de cursos que resultam no modelo de aluno foco da presente pesquisa.

O objetivo está focado em investigar os números e as dificuldades específicas que os alunos alvos possuem. Com isso procurar chegar ou iniciar possíveis soluções as necessidades como conclusão. Com uma pesquisa documental, inicialmente introduzir sobre o ensino de PLE para alunos japoneses no Japão e no Brasil através com trabalhos e livros na área. Investigar sobre os materiais e livros de PLE publicados no Japão entendendo seus seguimentos. Através de uma pesquisa de campo, entrevistar alunos japoneses procurando entender suas dificuldades na língua portuguesa e no material autodidático. Fazer uma comparação de dados coletados nos documentos e nas pesquisas, chegando a possíveis conclusões sobre os pontos fortes e fracos do material.

Visto a grande possibilidade do tema, a pesquisa visa desvendar as quantidades e especificidades desses alunos, registrando aqui esses novos estudantes deste modelo de metodologia.

2. O ENSINO DE PLE PARA FALANTES DA LÍNGUA JAPONESA

2.1 A ENTRADA DO PORTUGUÊS NO JAPÃO

A entrada da língua portuguesa no Japão se dá muito antes da imigração japonesa ao Brasil, no qual o contato começa há mais de 300 anos atrás através de portugueses que chegaram ao Japão. Apesar de grandes expedições feitas pela Ásia, o arquipélago foi descoberto primeiramente pelo acaso, sendo a partir dessa data o marco inicial das relações entre as diferentes culturas e idiomas. Em 23 de Setembro de 1543, três portugueses chegaram, acidentalmente, ao arquipélago nipónico. Eram eles António da Mota, António Peixoto e Francisco Zeimoto (FUZII, 2004, p. 5), sendo mercadores no mar da China. Os primeiros contatos com materiais em português vieram logo em seguida com obras ocidentais escritas em português. Missionários portugueses além da religião, difundiam junto questões como literatura e itens ocidentais. Podemos constatar que essa foi uma das portas de entrada para as relações entre os dois idiomas consequentemente.

Por outro lado, através da imprensa os missionários deram a conhecer aos japoneses obras europeias como as Fábulas de Esopo, e aos ocidentais clássicos japoneses como Heike Monogatari (Conto dos Heike) (FUZII, apud MARQUES, 2017, p. 12).

Com as proximidades das culturas o idioma português entrou cada vez mais adentro do Japão com hoje, algumas palavras portuguesas fazendo parte do idioma Japonês.  Segundo o site CA-VOIR (2019) muitas palavras portuguesas entraram em solo japonês junto a seus produtos de comércio, temos como exemplo; “かるた” (karuta – carta), “上呂” (Jouro – jorro), “かっぱ” (kappa – capa) ou “天ぷら” (tenpura – tempero).

Segundo Marques (2019), temos a questão de hoje no Japão existirem um total de 13 universidades e instituições com estudos portugueses inseridos seus programas de estudos (cursos ou matérias optativas) sendo elas; Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio, Universidade Rikkyo (Tóquio), Universidade Sofia (Tóquio); Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto; Universidade de Osaka; Universidade de Estudos Estrangeiros de Osaka,  Universidade de Estudos Internacionais de Kanda (Chiba), Universidade Tenri (Nara); Universidade Nanzan (Aichi), Universidade Industrial de Quioto, Universidade Musashino (Tóquio), Universidade Takushoku (Tóquio), Universidade Ryutsu Keizai (Ibaraki).

Com todas as questões apresentadas podemos colocar que a relação entre Japão e a língua portuguesa possuem anos de seguimento, sendo um vínculo de constante evolução e com grande potencial de desenvolvimento não somente de nações para nações, mas também de culturas para culturas igualmente.

Podemos prever, então, que o português irá ganhar cada vez mais relevância no Japão, sobretudo como língua de negócios, estreitamente associado à dinamização das relações internacionais entre este país e boa parte do restante Mundo. (MARQUES, 2017, p. 20)

A troca de culturas entre nações pode assim trazer novas possibilidades para ambos os países, continuando então até hoje suas trocas de estudo em âmbito cultural e de idiomas.

2.2 O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA JAPONESES

Marques (2017) informa em seu trabalho que o Japão coloca em seu ensino a questão do aprendizado de uma segunda língua ser focado em questões comerciais, ou seja, de modo a desenvolver a questões mais relacionadas ao trabalho e carreiras. Fazendo uma breve pesquisa sobre as variantes utilizadas pelas escolas e universidades podemos chegar a que em solo nipônico, o português Brasileiro é a grande maior base de português ensinada em solo japonês, sendo outras variantes do português como a europeia e africana, minorias na área de ensino. Assim como coloca Marques (2017, p. 28):

Os factos apontados por estes professores são confirmados pelo testemunho de dois informantes japoneses (28) que aprenderam português em instituições japonesas (…) Convém também referir de antemão que, de acordo com o seu depoimento, o português ensinado nestes estabelecimentos é a variante brasileira, quase não havendo menção à europeia ou africana.

Isso pode ser visto igualmente com uma maior vinda de vários universitários japoneses por programas de cultura e língua assim como mostra o site Jornal da USP (2016):

A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, recebe nesta semana estudantes de intercâmbio da Universidade de Agricultura de Tokyo, no Japão. Os estudantes vêm para estágios com duração entre duas semanas e um ano. A parceria entre as universidades é resultado do projeto Reinventando o Japão, do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do governo japonês.

Apesar de preferencialmente a variante brasileira do português ser desenvolvida, as metodologias em solo nipônico não estão focadas na conversação segundo autores como Rosa (2002). Prioridades são colocadas nas escritas e traduções com exercícios gramaticais e de interpretações. Se analisarmos o estudo de Rosa (2002), o aprendizado de uma língua estrangeira está focado demasiadamente na gramática e escrita sendo pouco trabalhada partes como a oralidade. Com isso se pode se entender que a aula acaba sendo focada na questão de interpretações e traduções ao invés da conversação e fluência. Com todas as Línguas estrangeiras sendo priorizadas desta forma, o ritmo de aprendizagem da aula acaba sendo de uma forma centralizada no professor a frente de modo a uma aula expositiva.

As salas de aula japonesas são caracterizadas pelo absoluto silêncio enquanto o professor discursa, comportamento que se estende às aulas de LE. Esta falta de comunicação oral durante as aulas, até mesmo quando a participação é pedida pelo professor, causa um grande entrave à aprendizagem plena da língua (PICHITELLI 2010, p. 342). Por outro lado, a aprendizagem da escrita é muito célere, primando pela correção da ortografia e da acentuação, havendo um grande esforço no que toca à memorização (ibid.).

Assim como Shirley (2000) aborda, a aula centralizada acaba causando uma forma de aprendizagem passiva e com base na memorização. Segundo autor, aulas expositivas acarretam um ambiente mais individualista e competitivo, seguindo os moldes tradicionais de professor como figura “autoridade” em um plano estruturado.

Podemos colocar então, que aulas de LE no Japão assim colocadas pelos autores citados, são mais individualistas e com foco na memorização sendo naturalmente propicias a uma metodologia autodidática no qual igualmente é o foco da presente pesquisa. Questões como o foco na escrita e nas traduções também são postos de destaque quando falamos em metodologias autodidáticas, porém este cenário está mudando hoje com as infinitas possibilidades da internet e suas redes.

2.3 O AUTODIDATISMO E OS MATERIAIS AUTODIDÁTICOS NO JAPÃO

2.3.1 O AUTODIDATISMO E SEU CENÁRIO NO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NO JAPÃO

Com o auxílio da internet e a facilidade de materiais online a opção pelo estudo de forma autodidática tem aumentado, segundo pesquisas como o de Masami Ikeda (2016, p. 70) no qual coloca:

O crescimento da internet e da tecnologia móvel trouxeram mudanças ao cenário que gira em torno do aprendizado de línguas estrangeiras. Com a proximidade de modos de aprendizado de idiomas estrangeiros, não somente a língua japonesa, mas aumentou muito a oportunidade para estudar vários idiomas devido ao fácil acesso até mesmo a nativos da língua.  (…) Pela adição da nova opção (autodidatismo), não somente a diversidade de aprendizado no histórico dos alunos mas igualmente o número de alunos autodidatas e suas habilidades tem obtido um aumento repentino nos últimos anos. (tradução nossa)[3]

A facilidade e proximidade com a internet fez com que a maioria dos materiais na área se modificasse, com maior acesso e facilidade na compreensão. Considerando o país Japão como um dos mais avançados em tecnologia no mundo segundo o site tecnologia.culturamix (2019), a expansão e possibilidades do aprendizado se tornam infinitas com simplesmente o uso de um celular ou aparelho móvel. Assim como coloca Ikeda (2016, p. 70):

Com a evolução da tecnologia móvel, o modo e as escolhas dos aprendizados de uma língua aumentaram drasticamente, sendo possível obter, compartilhar e trocar informações sobre o idioma japonês 「quando quiser」, 「com quem quiser」e「onde quiser」. Até então, modos antiquados de contato como cartas e telefones, foram substituídos popularmente por formas mais rápidas e baratas como Skype, e-mail e aplicativos de textos, com blogs e Twitter sendo possível até a conversação de pessoas sem nenhuma proximidade. (tradução nossa)[4]

Porém onde podemos colocar o limite desse autodidatismo tecnológico? Pelos caminhos onde esse novo modelo de educação está evoluindo, será capaz de suprir as quatro habilidades linguísticas como: Leitura, escrita, fala e escuta?  Apesar dos modelos clássicos de aulas expositivas e presenciais serem comuns, a evolução do modelo autodidático tem mostrado resultados consideráveis assim como Ikeda (2016, p. 70) coloca em sua pesquisa:

Dentre os alunos, temos estudantes de mestrado que não possuem históricos de aulas do idioma japonês em seu currículo, ultrapassando a compreensão e já adquirindo até mesmo as 4 habilidades no idioma. Nos decorrentes anos, somente com o estudo autodidático, tem aumentado casos de alunos com um japonês mais preciso, fluente e redações excelentes chegando aos níveis avançados da língua. Isso é algo que não era possível nem de se imaginar no passado. (tradução nossa)[5]

A grande autonomia que os alunos possuem através deste modo de ensino, modifica o ambiente de sala de aula para um modelo de aprendizado centrado no estudante e suas plataformas. Podemos colocar que segundo as pesquisas do professor Ikeda, que o aprendizado de línguas estrangeiras tem uma grande tendência de se transformarem cada vez mais autônomas, devido a seleção e iniciativa apresentada pelos estudantes. “Querer estudar por conta o que quiser e como quiser” tem se tornado uma frase talvez hoje não tão distante. Segundo o professor Ikeda (2016, p. 78) coloca em sua pesquisa sobre o autodidatismo:

È esperado que nos seguimentos dos anos, cresçam cada vez mais o número de estudantes autodidatas. É deduzível que muitos professores de japonês através da tentativa e erro passarão por muitos desafios ainda nessa área de ensino. (…) Para os professores isso é uma chance de trabalhar a autonomia do estudante e desenvolve-la.            Para criar assim um ambiente onde os alunos que já tem essa autonomia possam ensinar uns aos outros, assim trabalhando com a colaboração entre o aprendizado dentro da universidade e fora dela. (tradução nossa)[6]

A pouca oferta de curso e a questão do pouco investimento nas ciências humanas pelo governo japonês segundo a Gazeta do povo (2018) também adicionado a isso pode ser uma opção pela procura de tais formas de estudo.

2.3.2 OS MATERIAIS AUTODIDÁTICOS DE PLE NO JAPÃO

Apesar de uma produção pequena de materiais de PLE no Japão, é muito fácil adquirir livros autodidáticos através da internet. Uma breve pesquisa já se pode encontrar várias matérias por um preço acessível com até mesmo sites recomendando as melhores opções. Assim como o blog japonês Sampasso (2019) recomenda os livros “O Português brasileiro iniciante” [7] e “Entrada ao português brasileiro” [8]. Os principais pontos destacados pelos usuários e pelo material autodidático segundo o Blog são;

Além de uma explicação detalhada e de fácil compreensão da gramática, podemos ver temas como pronúncia, como usar o dicionário, coletânea de frases exemplos, coletânea de vocabulário, tabela de flexão dos verbos, conhecimentos com dicas sobre o Brasil e até exercícios de treino sendo bem completo e rico. (tradução nossa) [9]

Informações como essa mostram que o material acaba sendo completo como um todo, podendo ser usado até mesmo para uma aula expositiva com um tutor. Aparentemente somente alguns materiais possuem o áudio como cd junto ao livro devido as leis de downloads japonesas serem extremamente rígidas e limitadas. Todavia o material parece realmente ter um foco na questão da compreensão usando assim temas como cultura e atrações do Brasil. Como colocado no blog japonês Sampasso (2019).

Com uma explicação mínima na parte gramatical, pode ser considerada como complexa por iniciantes no idioma. É recomendado para pessoas com compreensão na gramática básica e que procuram um próximo estágio. È possível encontrar como característica no material, um aprendizado mais natural e passivo da gramática em pontos da cultura e hábito brasileiro, de jogos de esportes até atrações turísticas. Um ponto de destaque é o CD que acompanha o livro igualmente. (tradução nossa) [10]

Porém os métodos mais comuns além desses materiais pagos são as plataformas e dispositivos disponíveis hoje através da internet. Assim recomendado por alguns sites japoneses de PLE, pontos como entrar em redes sociais com brasileiros ou fazer uso de dicionários digitais são de grande proveito para um estudo por conta. Devido a uma enorme comunidade brasileira no Japão, vários sites colocam o proveito de lojas locais para consumo de músicas, revistas, livros, filmes e noticias devido à questão de restrição de download no Japão. Assim como colocado pelo site Takata Sakamotos Blog (2017):

O ponto necessário ao aprender a língua portuguesa é 「compreender os brasileiros. (…) Para iniciantes na língua portuguesa é recomendável esse fertilizem sua sabedoria com itens com livros, revistas, cinema, músicas e notícias. (tradução nossa)[11]

Não é de hoje que assuntos como músicas e filmes ajudam na aquisição natural de uma nova língua, porém quando adicionados à pontos como revistas e noticiários obtemos uma maior aproximação cultural na qual se pode compreender melhor o idioma alvo. Colocamos então que materiais nativos do Brasil podem ser de grande utilidade em um estudo mais independente em relação ao idioma. Assim ainda como colocado pelo site japonês (2017) existem várias formas de por conta se aproximar e estudar o PLE de forma autodidática. Listado no site Takata Sakamotos Blog (2017) temos como tópicos;

  • “Frequentar as comunidades brasileiras”

Nada mais próximo da cultura que frequentar locais com muitos brasileiros. Além de uma forma mais natural de adquirir a língua, costumes, gírias e até jargões podem ser adquiridos nesses ambientes. Mesmo não sendo necessariamente um ambiente educacional, acaba sendo uma sala para quem observa e escuta.

  • “Utilizar melhor os meios de tecnologia e redes sociais”

Sem nenhuma dúvida o ambiente online, é um dos únicos locais que podemos buscar material nativo através de notícias e postagem de brasileiros. Temos ainda a grande vantagem de poder interagir com todos os usuários de forma livre e espontânea, aumentando o contato através de amizades, grupos e discussões.

  • “Utilizar livros e materiais autodidáticos”

Ainda assim a recomendação por materiais de apoio com complementos é bem forte pelos sites japoneses assim como este tópico acima. A recomendação de compra se dá pelo difícil acesso a materiais educacionais gratuitos no Japão devido a questão de ilegalidade de downloads e pirataria.

  • “Usar aplicativos de dicionário para o português”

Uma forma muito interessante foi a questão de aplicativos gratuitos de dicionários em português. Segundo o Site sua utilização se faz, com sites e redes-sociais no qual quando não se sabe uma palavra, se pode pesquisar por conta própria no celular em segundos.

2.4 ENTREVISTA A ESTUDANTES JAPONESES DE PLE

Devido a apenas um estudante japonês aceitar a responder o questionário, visando sempre uma melhor pesquisa, modifiquei as perguntas de questionário para entrevista.  Especificando assim mais sobre a suas trilhas de aprendizado com o material autodidático. A entrevista foi realizada através de um formulário Google no qual estará disponível para consulta nas referências.

2.4.1 AS IMPRESSÕES E CONCLUSÕES DE UM MATERIAL AUTODIDÁTICO POR UM ESTUDANTE DE PLE

Para uma melhor aproximação com o material foco de pesquisa, entrevistei o estudante de Medicina da universidade de Sendai (Japão) Yuusuke Nakano, 26 anos. Atualmente possui nivelamento pela Celpe – Bras no nível “intermediário” e devido a uma viagem programada para o Brasil, decidiu aprender o idioma para aproveitar melhor o turismo em si. Coloca que a escolha pela vertente brasileira do português veio através de vários colegas brasileiros no ensino médio japonês.  Yuusuke coloca que, aprendeu de forma 100% autodidática. Em sua entrevista explica que utilizou dois itens. O livro “Novo português brasileiro básico” (tradução nossa)[12] pela editora IBC e o aplicativo gratuito Duolingo. Em geral Yuusuke destaca que através destes materiais, trabalhou principalmente com a gramática e vocabulário sendo itens como fala e escutas não trabalhados até chegar em solo brasileiro. O entrevistado debate como a principal dificuldade de matérias com essa metodologia, que; “É muito complicado de checar a fluência e desenvolver estudos como conversação. Principalmente não consigo confirmar se minha pronúncia está certa ou não” (tradução nossa)[13]. Não somente com os materiais, mas na metodologia autodidática em si, Yuusuke informa que “Como resolvi estudar a língua portuguesa por conta não havia testes ou provas, por isso foi trabalhoso construir hábitos de estudo e lidar com esta questão em tempos vagos.” (tradução nossa)[14]. Um dos pontos cruciais desta metodologia é a questão da disciplina que podemos destacar através da entrevista com Yuusuke. Quando perguntado sobre a questão de recomendação do método e dos materiais, Yuusuke diz que “é inegável que podemos adquirir um bom nivelamento com o autodidatismo porém, se caso haja a oportunidade de aprender com um tutor eu recomendo o professor. O ponto de destaque do autodidatismo é o estudo descontraído e a oportunidade de testar ou poder ver o quanto você é interessado na língua. Na minha opinião, poder trocar materiais com colegas também é uma das maiores vantagem no autodidatismo” (tradução nossa)[15].

Por fim Yuusuke expõe que apesar dos estudos sozinho e do nivelamento já obtido, a questão da pronúncia ainda é um dos pontos que mais o incomodam. Sendo o mesmo, quando questionado sobre sua maior dificuldade hoje, relata: “Sem dúvidas de que é a questão de se estou falando com a pronúncia correta” (tradução nossa)[16].

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No seguimento do trabalho, podemos observar que a metodologia de ensino de línguas estrangeiras no Japão, mesmo sendo expositiva, possui poucos exercícios com trabalho na fala. Por um ambiente naturalmente quieto e com trabalhos focados na estrutura e vocabulário, o material autodidático acaba sendo uma boa opção por acabar em sua grande maioria ser com focos parecidos a sala de aula japonesa. Assim como visto anteriormente, e igualmente a questão que o entrevistado acaba colocando, a escuta, a fala e mais especificamente a pronúncia são os pontos menos trabalhados. Isso consequentemente pode causar futuras dificuldades aos estudantes de PLE. Apesar de opções ainda referentes a redes sociais e mesmo com livros que utilizam CD´s ou vídeos a questão da entonação e pronúncia no idioma são questões que vão além de um estudo sozinho segundo tanto site e material visto quanto o entrevistado.

Como conclusão parcial, compreendemos a questão da falta de práticas focadas na fala e interação com a língua nativa. Possuir um professor fluente em sala no qual se pode conversar é sem dúvidas uma resolução bem fácil ao problema, mas com os dispositivos, tecnologia móvel e internet “ao vivo” disponível hoje as possibilidades alcançam infinidades em relação aos problemas dos alunos. Como já comentado pelo site Takata Sakamotos Blog (2017) a questão de aplicativos, já existem app´s como o “FluentU”, “SpeakingPal”, “Speklar”, “Supiki” no qual se pode treinar a pronúncia e fluência segundo o próprio site da FluentU (2016). Ainda, caso hoje se tenha alguma dúvida com a pronuncia é possível procurar ajudas em fóruns públicos e até mesmo colocar o regime tandem no qual segundo Amélia (2016): nesse modelo, o aprendiz atua também como formador, já que aprende uma língua estrangeira e também ensina sua própria língua materna, ou segunda língua. Não exatamente temos aqui um estudo sozinho, porém para intercambistas e alunos que procuram a questão de melhora da fala, é uma opção fora das salas de aula ou fora de qualquer formalidade. Para alunos que não tem a oportunidade de encontrar presencialmente estrangeiros, ainda existem aplicativos como “Hellotalk”, “Hello Pal”, “Speaky”, “Buusu” e até com o próprio nome “Tandem” que se pode praticar o idioma com estrangeiros do mundo todo segundo o site APP GEEK.

Se pode entender que a metodologia autodidática dá ao estudante uma enorme habilidade e contato inicial com a língua. Porém é visível que esta metodologia ainda está em pleno desenvolvimento, no qual, já se pode ver modificações e passos futuros sendo tomados através de plataformas futuras. Acredito que com o avanço da aquisição de línguas na tecnologia, em poucos anos aparecerão plataformas mais desenvolvidas e cada vez mais independentes nas 4 habilidades do idioma transformando a metodologia para uma forma cada vez mais fácil, prática e universal.

REFERÊNCIAS

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APP GEKK. 6 apps para conversar com estrangeiros e fazer amigos do mundo todo. disponível em:<https://www.appgeek.com.br/apps-conversar-estrangeiros/> (consultado em 07 de setembro de 2019)

CHIKA, Takeda. Português do Brasil iniciante (ブラジルのポルトガル語入門). Sanseido, 2000.

FluentU. Os 7 Melhores Aplicativos para Treinar Conversação em Inglês e Falar com Confiança. Disponível em:< https://www.fluentu.com/blog/english-por-br/treinar-conversacao-em-ingles/> Acesso em 29 de setembro de 2019.

FREED, Shirley.  Pensar, Dialogar a Aprender. disponível em:< https://www.andrews.edu/~freed/ppdfs/1-10Aprendizagem.pdf > Acesso em 22 de agosto de 2019.

FUZII, Estela Okabayashi. 2004. “Uma Síntese da Influência da Cultura Lusíada no Japão”. In Signum: Estudos da Linguagem 7 (2), pp.13-25. Londrina: Universidade Estadual de Londrina.

GAZETA DO POVO. O governo japonês prometeu acabar com cursos de humanas. Mas o que aconteceu?. Disponível em:< https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/o-governo-japones-prometeu-acabar-com-cursos-de-humanas-mas-o-que-realmente-aconteceu-2g4294xar711bks4klx0i1rnj/> Acesso em 14 de agosto de 2019.

IKEDA Masami. Era das possibilidades do autodidatismo – A diversificação na história da língua japonesa e seus efeitos em aula CAJLE 2016 Proceedings. pp. 70 – 79. Disponível em <http://www.cajle.info/wp-content/uploads/2016/09/CAJLE2016Proceedigns_10_IkedaMasami.pdf> Acesso em 22 de agosto de 2019 (Tradução nossa) [17]

JORNAL DA USP .USP recebe alunos de universidade japonesa para estudar agricultura. Disponível em:< https://jornal.usp.br/universidade/usp-recebe-alunos-de-universidade-japonesa-para-estudar-agricultura/> Acesso em 22 de agosto de 2019.

KANEYASU, Silvia. O Português Brasileiro Vivo (生きたブラジルポルトガル語). DOUGAKUSHA, 2005.

MARQUÊS, INÊS, O Espaço do Português No Japão – Presença, Evolução e Futuro da Língua Portuguesa no Estado Nipónico. Tese de Mestrado, Faculdade de ciências humanas – Universidade Nova de Lisboa, 2017.

OLIVEIRA, Ana Amélia Furtado de. Ensino-aprendizagem de língua estrangeira in-tandem pela ead: uma proposta para alunos intercambistas, posto online no dia 31 dezembro 2016, consultado em 11 julho de 2019. URL: https://revistas.rcaap.pt/uiips/article/view/14447/10834

PICHITELLI, Eliseu. 2010. “Educação e Linguagem: o estudante estrangeiro e os limites para aprender a língua portuguesa como língua estrangeira”. 東京外国語大学論集(Area and Culture Studies) 80, pp. 339-351. Tóquio: Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio. Acesso em 22 de Agosto de 2016. (http://repository.tufs.ac.jp/bitstream/10108/59889/5/acs080017_ful.pdf)

Principais dificuldades dos alunos japoneses com materiais autodidáticos de ple – português como língua estrangeira (外国語としてポルトガル語を独学教育本から学習する、日本人学習者の困難点).entrevista em formulário disponível em:< https://drive.google.com/open?id=14tLx4I0HazJFed2xJLs7OPZOXG1CyXhZDluv4DJJjp8 > Acesso em 28 de setembro de 2019.

ROCHA, ÍRIS, Português para Alunos Japoneses: Propostas Didáticas. Tese de Mestrado, Faculdade de ciências humanas – Universidade Nova de Lisboa, 2013.

ROSA, Edison. 2002. “Encontrando o Equilíbro Entre Gramática, Comunicação e Cultura no Ensino do Português”. In JALT2002 at Shizuoka – Conference Procedings, pp. 295-300. Tóquio: JALT Publications. Acesso em 14 de Setembro de 2016. (http://jaltpublications.org/archive/proceedings/2002/295.pdf)

TECNOLOGIA CULTURAMIX. Países mais desenvolvidos tecnologicamente. disponível em:< https://tecnologia.culturamix.com/dicas/paises-mais-desenvolvidos-tecnologicamente> Acesso em 07 de setembro de 2019.

APÊNDICE – REFERÊNCIA DE NOTA DE RODAPÉ

3. “インターネットの普及とモバイル・テクノロジーの発達は、外国語学習を取り巻く環境に、様々な変化をもたらした。外国語が身近な存在になった今、言語習得手段の選択肢が広がったのは日本語も例外ではなく、学習者はどこにいても日本語母語話者と容易につながることができるようになった。…「独学」という選択肢が新たに加わったことで、学習者の学習歴が多様化しただけでなく、独学編入者の数も能力も、ここ数年急上昇している”

4. モバイル・テクノロジーの発達により、言語習得のための手段や選択肢は飛躍的に増加し、 「いつでも」「だれでも」「どこでも」自由に日本語の情報を入手、共有、交換 できるようになった。それまで手紙や電話に頼っていた通信手段は、より迅速で 安価な電子メールやスカイプ、テキストなどに取って代わられ、ブログ や Twitter 上では、面識のない者同士のコミュニケーションが盛んに行われている

5. 中には、大学での日本語履修前に、正式な日本語学習歴なく受動的知識を超えて、日本語の四技能を習得してしまう者もいる。特に近年、独学のみで上級レベ ルに達し、驚くほど正確かつ自然な日本語で、流暢に会話をしたり見事な作文を 書いたりするケースが急増しているが、以前は想像もできなかったことである

6. 恐らく今後も独学者はますます増え続けることが予想される。そして、この新しい時代の中で、新たな課題に直面し、試行錯誤を重ねている日本語教師も大勢いるのではないかと察する。(…) 教師にとっては学習者オートノミーを育成する絶好のチャンスであろう。既にオートノミーを 身につけている独学者と、その他の学習者が同じ教室で学び合い、教え合えるような環境作りのために、今後は学内のみならず、学外の動向にも目を向け、他機関と連携してこの問題に取り組めればと思う。

7. 初級ブラジルポルトガル語

8. ブラジルのポルトガル語入門

9. 文法の解説がとても詳しくわかりやすいだけでなく、発音、ポルトガル語辞書の引き方、例文集、単語集、動詞の活用表、ブラジルに関する豆知識、さらには練習問題まで、非常に充実している。

10. 文法解説が最小限に抑えてあるため、全く知識のない人には分かりにくいかもしてません。基本文法が理解でき実際に移りたくなってきた頃が良いと思います。ブラジル文化や慣習、スポーツ観戦や観光地まで、自然に文法を取り入れるのが特徴です。またCDが付いているのも魅力。

11. ポルトガル語を学ぶこと以上にもっと大切なこととして、「ブラジル人を理解する」ということが必要になってきます。 (…)初心者がポルトガル語の「土作り」をするための「肥料」になるのは、「本・雑誌」「映画」「音楽」「ネット情報」です。

12. 新ベーシックブラジルポルトガル語(IBCパブリッシング

13. 発音のチェックと会話の勉強がし辛い。特に自分の発音が正しいかどうかが判断できないこと。

14. 自分で希望してポルトガル語を勉強していて特にテストなどがあるわけでもなく、自分の空いた時間に勉強していたので、勉強の習慣を作って維持するのが大変でした。

15. 独学である程度ポルトガル語を身に付ける事はできると思いますが、先生に教えてもらえるチャンスがあるのであれば、先生に教わることをお勧めします。ですが、独学のいいところは気軽に勉強を始めてその言語を気に入るかどうかを気軽に試すことができたり、教材を気軽に交換したりすることができるのが独学の利点だと思います。

16. 正しい発音で喋れているかどうかがうまくわからないことです。

17. 池田雅美(2016)「独学可能な時代―多様化する日本語学習歴と授業活動 への影響」『CAJLE 2016 Proceedings』70-79

[1] Pós-graduando em Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa para Estrangeiros (UNINTER) e Graduado em Letras Japonês (UFPR).

[2] Orientadora. Graduada em Letras Português-Inglês (Faculdades Integradas de Santo Ângelo – FISA-RS) e Pedagogia pela Universidade de Maringá (UNICESUMAR-PR). Especialista no Ensino de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira (UTFPR), pós-graduada em EAD e as novas tecnologias (UNICESUMAR-PR), orientadora de TCC do Grupo UNINTER.

Enviado: Junho, 2020.

Aprovado: Maio, 2021.

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Leonardo Teixeira Miyamoto de Lima

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