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Os conteúdos de educação física para o ensino técnico integrado

RC: 124526
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

ELEAMEN, Camila de Souza [1], MELO, Iranira Geminiano de [2], BARBA, Clarides Henrich de [3]

ELEAMEN, Camila de Souza. MELO, Iranira Geminiano de. BARBA, Clarides Henrich de.  Os conteúdos de educação física para o ensino técnico integrado. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 08, Vol. 04, pp. 73-88. Agosto de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao-fisica/ensino-tecnico-integrado

RESUMO

A Educação Física tem um papel relevante no processo de formação dos discentes, sendo um componente curricular de importância indiscutível no ambiente escolar, pois contribui para a formação do homem em sua totalidade. Assim, definiu-se como questão de pesquisa: quais os conteúdos desse campo do conhecimento na educação profissional integrada ao ensino médio? Para responder a esse questionamento, estabeleceu-se por objetivo analisar os conteúdos da Educação Física como componente curricular do Ensino Técnico Integrado. Assim, apresenta-se a importância da Educação Física para o meio educacional, bem como seus benefícios no processo de aprendizagem e aproximação com a área técnica. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, cujos dados foram analisados por meio da análise de conteúdo. Os resultados demonstram que, apesar das dificuldades e preconceitos que a disciplina enfrenta desde a sua criação, a Educação Física tem uma grande importância para a vida acadêmica dos discentes, e os conteúdos podem ser apresentados de maneira dinâmica e articulados tanto com as temáticas das vivências dos alunos quanto com as matérias da área técnica do curso. Desse modo, conclui-se que os conteúdos são baseados nos saberes conceituais, procedimentais e atitudinais e incluem as práticas corporais de movimento, a promoção da saúde e a sociedade.

Palavras-chave: Educação Física, Técnico Integrado, Conteúdos, Componentes Curriculares.

1. INTRODUÇÃO

O Ensino Médio Integrado surgiu com o objetivo de integrar a educação básica com a profissionalizante e proporcionar uma formação integral e cidadã, de modo a superar essa divisão e atenuar as disparidades sociais. Desde sua consolidação como matéria de estudo, em 1882, a Educação Física tem por objetivo proporcionar aos alunos uma compreensão sobre o próprio corpo, seja no aspecto social, cultural, psicológico, afetivo ou biológico (PRANDINA; SANTOS, 2017).

Dessa forma, a Educação Física tem um papel relevante no processo de formação dos discentes, pois contribui para a formação do homem em sua totalidade e auxilia no processo de aprendizagem por meio de jogos e brincadeiras, e na transmissão de valores e conceitos, contribuindo para a convivência em grupos (SILVA, 2012).

Além disso, apresenta-se a disciplina com maior catalisador da cultura dos alunos. Por meio da prática educativa, o docente promove o desenvolvimento do aluno, a vida saudável, a socialização, o espírito de equipe, dentre outros. Os conteúdos procedimentais possibilitam, além do exercício de uma atividade física, o descobrimento do próprio corpo e realização de movimentos úteis ao equilíbrio e desenvolvimento de outros componentes curriculares da formação escolar dos estudantes (MARANHÃO, 2018). Isso ocorre, principalmente, quando há um planejamento com diálogo entre os conteúdos do currículo, por exemplo, associando a lógica do jogo de handebol à lógica de programação. Isso porque o estudante pode compreender melhor as regras do handebol e os comandos de lógica de programação que, sem essa associação, podem parecer muito abstratos.

Os conteúdos da Educação Física para o Ensino Médio são baseados em um conjunto de valores, conhecimentos, habilidades e atitudes que o professor deve ensinar para garantir o desenvolvimento e a socialização do estudante. Os conteúdos de ensino são importantes elementos que constituem o processo pedagógico e, de certa forma, representam uma ponte entre o ensinar e o aprender. Para Vasconcellos (2011), os conteúdos cumprem a tarefa educacional de equipar os educandos para que eles possam se localizar, usufruir da cultura, posicionar-se e intervir sobre o mundo. No caso da Educação Física Escolar, entende-se que os elementos da “cultura” corporal devem ser transpostos ao currículo para, então, tornarem-se conteúdos de ensino expressos na forma de jogos, esportes, lutas, ginásticas, atividades de aventura e demais práticas corporais.

Andreani (2018) apresenta os conteúdos classificados como conceitual (que envolve a abordagem de conceitos, fatos e princípios = saber), procedimental (saber fazer) e atitudinal (saber ser). Os conhecimentos conceituais buscam aprimorar as habilidades de pesquisa, discussão e senso crítico dos alunos; os conhecimentos procedimentais são as vivências e percepções em que os discentes estão inseridos; já os saberes atitudinais referem-se ao comportamento dos educandos em relação às suas ações perante a sociedade/comunidade com base em valores como respeito, empatia, solidariedade, tolerância, entre outros.

Maranhão (2018) apresenta os Conteúdos Estruturantes, que são caracterizados como saberes, conhecimentos de grande amplitude, que são fundamentais para a compreensão de seu objeto de estudo e ensino e, quando for o caso, de suas áreas de estudo. Assim divide-se estes Conteúdos em: práticas corporais e movimento; práticas corporais na promoção da saúde; Práticas corporais e sociedade. As práticas corporais e movimento referem-se à realização de atividades voltadas para as atividades físicas e esporte (jogos, lutas, dança, ginástica), já as práticas corporais na promoção da saúde e práticas corporais e sociedade abordam temáticas relacionadas ao corpo, à sociedade e suas relações socioculturais.

Segundo Lovera (2015), às aulas de Educação Física atuam na promoção de valores por meio da reflexão crítica sobre aspectos como cultura, educação, política, meio ambiente, entre outras temáticas. Para isso, é considerável que os docentes utilizem metodologias que possam ir ao encontro dessas temáticas, articulando a teoria e prática de modo a relacionar a disciplina com a formação técnica dos discentes.

As Orientações Curriculares para o Ensino Médio, do Estado do Maranhão, descrevem seis objetivos da Educação Física nessa etapa da educação, sendo eles: 1) Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social; 2) Compreender a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas e da promoção da saúde; 3) Identificar a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos; 4) Participar das práticas corporais de movimento, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando o nível de conhecimento, as habilidades físicas e os limites de desempenho; 5) Repudiar a violência sob todas as formas, adotando atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade nas práticas corporais de movimento e; 6) Reconhecer e valorizar a aplicação de procedimentos voltados à prática segura em diferentes situações de aprendizagem nas aulas de Educação Física (MARANHÃO, 2018).

Andreani (2018) afirma que por meio da pesquisa, ensino e extensão pode-se desenvolver alternativas para que haja articulação entre os conteúdos e a área técnica. A Educação Física pode se vincular aos projetos interdisciplinares e às disciplinas científicas pelo seu modo multidimensional. O seu ensino pode envolver conhecimentos das mais diversas áreas, pois há um complexo de saberes e conteúdos com os quais a disciplina atua. Andreani (2018) cita, também, exemplos de como a Educação Física pode se relacionar e realizar integração entre as matérias dos cursos técnicos. Nesse sentido, é relevante diversificar os critérios e os instrumentos avaliativos para que haja um bom desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem.

Diante do exposto foi elaborada a seguinte questão de pesquisa: quais os conteúdos desse campo do conhecimento na educação profissional integrada ao ensino médio? Para responder a essa questão, foi definido por objetivo analisar os conteúdos da Educação Física como componente curricular do Ensino Técnico Integrado. Assim, apresenta-se a importância da Educação Física para o meio educacional, bem como seus benefícios no processo de aprendizagem e aproximação com a área técnica.

2. METODOLOGIA DA PESQUISA

Esta é uma pesquisa bibliográfica que, conforme recomendado por Lakatos e Marconi (2003), seguiu oito etapas: escolha do tema a ser abordado; elaboração do plano de trabalho, de acordo com a estrutura de artigo; identificação da literatura a ser utilizada; localização das referências relacionadas com o tema definido; compilação do material localizado; fichamento das referências; análise e interpretação do referencial teórico, visando a utilização de textos autênticos e com relevância acadêmica e, por fim, a redação do artigo.

Foram definidos como material de análise as Orientações curriculares de educação física para o ensino médio IFSP de autoria da pesquisadora Andreani (2018) e as Orientações curriculares para o Ensino Médio: Caderno de Educação Física, da Secretaria de Estado da Educação do Maranhão (2018), além de outros textos que são utilizados para discorrer sobre a Educação Física.

3. A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO TÉCNICO INTEGRADO

A história da educação no Brasil é marcada pela dualidade estrutural do sistema de ensino, em que havia uma instrução voltada às pessoas que possuíam maior poder aquisitivo e, outra, direcionada aos que ocupavam os postos de trabalhos de natureza braçal e sem obrigatoriedade de conhecimentos científicos aprofundados a serem utilizados (MARCOLINO; LIMA, 2019).

O Ensino Médio Integrado surgiu com o objetivo de integrar a educação básica com a profissionalizante, e proporcionar uma formação integral e cidadã de modo a superar essa divisão e atenuar as disparidades sociais (MARCOLINO; LIMA, 2019). A partir de 2007, houve a expansão em larga escala da formação profissional por meio do programa Brasil Profissionalizado, que visava implementar o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional nas redes estaduais de ensino. Um ano depois, foi aprovada a Lei n.º 11.892/2008, que estabeleceu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica de Ensino com a criação de 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (BRASIL, 2018).

Atualmente, os Institutos Federais ofertam diversos cursos profissionalizantes integrados ao Ensino Médio, com uma grade curricular do curso técnico integrado que mescla disciplinas que compõem a base curricular do Ensino Médio com as matérias técnicas e teóricas do curso técnico realizando, assim, uma aproximação entre os componentes do núcleo comum (Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Artes, Educação Física, Matemática, Biologia, Química, Física, Geografia, História, Sociologia e Filosofia) e as disciplinas da área técnica. O currículo visa contemplar uma formação diversificada e atualizada, capaz de preparar o estudante para os desafios do mundo do trabalho.

3.1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O MEIO EDUCACIONAL

Desde a sua consolidação como matéria de estudo em 1882, a Educação Física enfrenta grandes críticas, questionamentos e debates acerca do seu papel no contexto escolar, processo que é marcado, também, por uma pretensa desvalorização da área e da profissão. A Educação Física e o profissional da área encontram-se, atualmente, submersos em preconceitos que fazem com que seja mais difícil o processo da valorização desta profissão. Essa desvalorização deve-se ao fato da origem da Educação Física no Brasil estar diretamente ligada ao âmbito esportivo e não ao processo de escolarização (GHILARDI, 1998).

Dessa forma, criou-se uma concepção – derivada de vivências pouco significativas – de que a matéria de Educação Física se resume às práticas de esportes ou jogos, desconectados de uma proposição pedagógica que ofereça sentido ao aluno. Nesse cenário, pode haver uma visão deturpada, fazendo com que as competências dos professores sejam menosprezadas e vistas como dispensáveis, de modo que qualquer um possa fazer essas tarefas, independentes da sua formação (SZUBRIS; COFFANI, 2009).

Por outro lado, é mister destacar que a Educação Física tem um papel relevante no processo de formação dos discentes, pois, enquanto componente curricular, contribui para a formação do homem em sua totalidade, apresentando-se como a disciplina com maior potencial catalisador da cultura dos alunos:

Nas palavras de Darido (2007) a Educação Física traz essa cultura para dentro da escola e para a aula de Educação Física, na qual o professor exerce grande influência sobre os(as) alunos(as): a forma como os vê interfere, não só nas relações que estabelece com eles, mas também na construção da autoimagem de cada estudante, devendo “o educador tomar o educando nas suas múltiplas dimensões – intelectual, social, física e emocional – e situá-las no âmbito do contexto sociocultural em que educador e educando estão inseridos. (MARANHÃO, 2018, p. 43).

Nesse sentido, ela promove o desenvolvimento do aluno, a vida saudável, a socialização, o espírito de equipe, dentre outros aspectos. Por meio da sua prática, além de exercerem uma atividade física, os alunos podem descobrir o próprio corpo e realizar movimentos úteis ao equilíbrio e desenvolvimento de habilidades que contribuem para o aprendizado de outros componentes curriculares.

A educação física favorece o desenvolvimento físico, psíquico e social da criança, isto é, o seu desenvolvimento integral. Por meio de exercícios, ginásticas, jogos, competições, danças, etc., o educando adquire qualidades físicas, psíquicas e sociais como: força, resistência, flexibilidade, velocidade; coordenação de reflexos, de movimentos; capacidade de concentração e de relaxamento; disciplina; equilíbrio emocional, segurança, coragem; espírito de solidariedade, de equipe; adaptação social. (CERSÓSIMO; SATO 2003, p. 125).

Nesse processo formativo, os professores de Educação Física têm um papel relevante. Esses profissionais são considerados mediadores entre o aluno e o mundo, estimulando e proporcionando avanços no desenvolvimento do educando. Assim, o aluno passa a ser não apenas um sujeito que aprende, mas aquele que aprende em contato com os demais, com a sociedade. Desse modo, os procedimentos pedagógicos passam a ser essenciais na aprendizagem e na transmissão dos conhecimentos (BASEI et al., 2008).

3.2 OS CONTEÚDOS

Os conteúdos de ensino são o conjunto de valores, conhecimentos, habilidades e atitudes que o professor deve ensinar para garantir o desenvolvimento e a socialização do estudante: são importantes elementos que constituem o processo pedagógico e, de certa forma, representam uma ponte entre o ensinar e o aprender. Para Vasconcellos (2011), os conteúdos cumprem a tarefa educacional de equipar os educandos para que eles possam localizar-se, usufruir da cultura, posicionar-se e intervir no mundo. No caso da Educação Física Escolar, entende-se que os elementos da “cultura” corporal devem ser transpostos para o currículo para, então, tornarem-se conteúdos de ensino expressados na forma de jogos, esportes, lutas, ginásticas, atividades de aventura e demais práticas corporais.

Segundo Andreani (2018), os conteúdos da Educação Física escolar podem ser classificados em três dimensões: conceitual (que envolve a abordagem de conceitos, fatos e princípios = saber), procedimental (saber fazer) e atitudinal (saber ser). Os saberes conceituais constituem as informações, ideias e teorias sobre as temáticas apresentadas, sobre os quais os professores contextualizam e problematizam o que será abordado. Esses saberes podem ser divididos em conhecimentos técnicos e conhecimentos críticos.

Os conhecimentos técnicos referem-se à contextualização das características das práticas corporais: regras, objetivos da prática, intenções táticas, papéis dos praticantes, diferentes tipos de modalidades dentro de uma mesma prática, entre outras coisas. Já os conhecimentos críticos constituem-se nos conteúdos que podem gerar reflexões e análise crítica da realidade, buscando soluções de melhorias, discussões e mudança ou não de posicionamento (ANDREANI, 2018).

Exemplificando, a autora explica que, sobre Esportes e Jogos, são propostas pesquisas aos estudantes para que sejam discutidas em sala de aulas questões políticas e econômicas, gênero, políticas públicas, saúde, competições, cooperação, tecnologia, cultura e esportivização. Nas lutas, ginástica e dança são realizadas pesquisas sobre a contextualização histórica e origem, caracterização, regras, profissionalização, diferenças culturais, conhecimento sobre espaço, dentre outros (ANDREANI, 2018). De acordo com Andreani (2018, p. 9):

Os saberes procedimentais são as vivências práticas e, com base no tempo destinado ao seu ensino, pode se constituir numa prática que gera um saber para conhecer ou um saber para praticar (saber fazer), e têm por objetivo o empoderamento motor do aluno.

Para trabalhar esta temática nos esportes, a autora sugere a realização de leituras e pesquisas incluindo os conceitos e fundamentos básicos que regem os esportes como regras, marcações e execuções. Nos Jogos deve haver a experimentação de diversos jogos e pesquisa sobre movimentação de peças e aparatos. Nas Lutas, os movimentos e estratégias básicas de defesa e ataque. Nas Ginásticas e Dança utilizam-se aparelhos, movimentações corporais e respiração, construção de coreografias, atividades de percussão corporal e exercícios diversos.

Por fim, “os saberes atitudinais se relacionam ao desenvolvimento dos diversos valores sociais: respeito, tolerância, solidariedade, cooperação, autoconfiança, autoconhecimento, resiliência, entre outros” (ANDREANI, 2018, p. 9). Há a realização de atividades propostas com o objetivo de colocar em prática atitudes de solidariedade, ética e cooperação. Praticar o respeito ao corpo, às próprias limitações e limitações de colegas.

As Orientações curriculares para o Ensino Médio, organizadas pelo estado do Maranhão, apresentam os conteúdos de Educação Física de outra forma. Os autores do documento denominam a composição do currículo de “Conteúdos Estruturantes”, entendidos como os saberes e conhecimentos de grande amplitude, que identificam e organizam os campos de estudo de uma disciplina escolar (MARANHÃO, 2018).

Os Conteúdos Estruturantes são fundamentais para a compreensão de seu objeto de estudo e ensino e, quando for o caso, de suas áreas de estudo, e são compostos por: Práticas corporais e movimento; Práticas corporais na promoção da saúde; Práticas corporais e sociedade que de acordo com Maranhão (2018, p. 44).

Para melhor compreensão e organização das competências e dos conteúdos, elencaram-se os Conteúdos Estruturantes, apresentados nas DCE (MARANHÃO, 2014), que servem como referência aos conteúdos básicos para o planejamento do professor, quais sejam: Práticas corporais e movimento, Práticas corporais na promoção da saúde, e Práticas corporais e sociedade. Esses conteúdos estruturantes podem ainda ser sistematizados de forma que os professores organizem as práticas corporais que compõem a dimensão dos saberes tradicionalmente conhecidos na disciplina (esporte, jogos, ginástica, lutas e dança), como também sua estrutura e dinâmica dos significados sociais a elas atribuídos.

As Práticas Corporais e Movimento são baseadas na compreensão de saberes produzidos pela vivência da prática corporal, assim como a dimensão conceitual de sentidos e significados a elas atribuídos. Abrangem, ainda, as práticas tradicionalmente conhecidas como objeto de estudo da Educação Física: esporte, jogos, ginástica, lutas, dança, práticas corporais expressivas, práticas corporais junto à natureza e atividades aquáticas (MARANHÃO, 2018).

As Práticas Corporais na Promoção da Saúde “desdobram-se em subtemas, em função das suas características, com certo grau de autonomia e especificidades, demandando abordagens diferenciadas, mais complexas de serem tratadas como um único objeto de estudo” (MARANHÃO, 2018, p. 46). Abordam, também, fatores relacionados à saúde e ao bem-estar, relacionando a prática de atividades físicas com a qualidade vida (MARANHÃO, 2018).

Já as Práticas Corporais e Sociedade realizam a discussão de temáticas relacionadas à sociedade, a partir das vivências e percepções dos alunos. Evidenciam a relação das práticas corporais com diferentes dimensões, a saber: mercado, mídia, instituições esportivas, organizações sociais, esporte e lazer, corpo e cultura, dentre outros (MARANHÃO, 2018). Nesse aspecto, as Orientações curriculares para o Ensino Médio do estado do Maranhão descrevem que:

Assim, o professor de Educação Física deve viabilizar a integração com o trabalho desenvolvido na escola, nivelando o seu componente curricular no mesmo patamar de seriedade e compromisso com a formação do aluno, não caracterizando a disciplina como […] um momento livre de intervenção pedagógica, ou mesmo de descanso acadêmico, porém sem deixar de ser interessante e atrativa aos estudantes. (MARANHÃO, 2018. p. 46).

Essas Orientações Curriculares (MARANHÃO, 2018) apresentam eixos temáticos que integram saúde física, mental e social dos discentes. Quando se trata de saúde física, apresentam-se conteúdos de forma teórica sobre anatomia do corpo humano, noções básicas de educação física, fundamentos, importância da nutrição, entre outros.

Por conseguinte, a prática de atividades físicas pode incluir jogos, atletismo, lutas, esportes, manifestação da cultura corporal brasileira. Há, também, práticas corporais alternativas que envolvem yoga, pilates e meditação, que podem auxiliar no desenvolvimento de uma boa saúde mental, o que é muito importante já que saúde mental é sinônimo de qualidade de vida emocional e equilíbrio entre emoções e sentimentos, diante dos desafios, conflitos, mudanças e demais eventos da vida.

Já a saúde social é a manutenção de relações saudáveis com a família, amigos, colegas e comunidade em geral. Como seres sociais, temos necessidades de apoio, reconhecimento e estima dos outros, e as redes de apoio são fundamentais para manter as outras dimensões de saúde equilibradas. Para isso, podem ser realizados debates e conversas sobre várias temáticas variadas (MARANHÃO, 2018).

Figura 1: Os conteúdos estruturantes da Educação Física

Os conteúdos estruturantes da Educação Física
Fonte: Adaptado de Maranhão (2018).

O organograma ilustra uma organização dos saberes considerados pelos professores de Educação Física como aqueles que contribuíram, fundamentalmente, na construção das orientações curriculares para o componente curricular Educação Física, no que diz respeito ao Ensino Médio. Nesse sentido, a sistematização proposta pode possibilitar “[…] ao aluno apropriar-se, problematizar e ressignificar o que foi proposto […]”, permitindo “  […] a intervenção autônoma, crítica e criativa do aluno na construção do conhecimento” (MARANHÃO, 2018).

3.3 APROXIMAÇÃO COM A ÁREA TÉCNICA

As aulas de Educação Física atuam na promoção de valores por meio da reflexão crítica sobre aspectos como cultura, educação, política, meio ambiente, entre outras temáticas. Para isso, é considerável que os docentes utilizem metodologias que possam ir ao encontro dessas temáticas, articulando a teoria e prática de modo relacionar a disciplina com a com a formação técnica dos discentes (LOVERA, 2015).

Com base no estudo e análise da literatura de Andreani (2018), fica evidente que é extremamente importante realizar a aproximação entre a disciplina de Educação Física e as matérias da área técnica dos cursos integrados. Apesar de os docentes enfrentarem alguns desafios na realização desta aproximação, pois, com frequência, não tiveram oportunidade de realizar esta formação específica para tal atuação, é de suma importância que haja diálogo entre as áreas.

Por meio da pesquisa, da extensão e do ensino, podemos buscar alternativas de articulação entre o ensino técnico e propedêutico, contudo, ressaltamos que a tarefa de articular conteúdos deve partir tanto dos docentes do núcleo comum quanto do núcleo técnico (ANDREANI, 2018). Além do exemplo já descrito sobre integração do ensino da lógica do jogo de handebol (podem ser outros esportes e jogos) e lógica de programação, pode-se citar outras possibilidades para os estudantes do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio: os professores (de diversas matérias) podem mediar a criação de eventos esportivos digitais, elaborar aplicativos de cronometragem, dentre outros. E, para cada atividade realizada pelos alunos, há uma possibilidade de avaliação da aprendizagem, que pode ser utilizada pelos professores envolvidos na proposta de ensino (ANDREANI, 2018).

Nesse sentido, é importante diversificar os critérios e os instrumentos avaliativos para que haja um bom desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem. Dessa forma, recursos variados podem ser empregados como instrumento de análise dos conhecimentos dos estudantes. Para isso, propõe-se os seguintes instrumentos avaliativos: produção de pôster, resolução de listas de exercícios, pesquisa, apresentação de trabalhos em grupo, análise crítica de músicas e charges, provas escritas, autoavaliações. Entretanto, é relevante ressaltar que os métodos citados podem ser implementados e discutidos com os discentes (ANDREANI, 2018).

Em relação aos recursos didáticos, Maranhão (2018) afirma que eles devem ser utilizados pelos professores como forma de ferramenta para aperfeiçoar as metodologias e ajudar os alunos a alcançarem bons resultados. O principal objetivo desses recursos é fazer com que os alunos tenham maior entendimento em relação aos conteúdos trabalhados e se sintam mais atraídos e instigados a participar deste processo. Para isso, o ambiente escolar deve ser visto como um espaço que sofre constantes transformações, e o aluno deve se sentir protagonista em todas essas mudanças e adaptações.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo além de apresentar os conteúdos de Educação Física para o Ensino Técnico Integrado, baseado na análise das referências de Andreani (2018) e Maranhão (2018), também abordou a importância da Educação Física para o meio educacional, bem como seus benefícios no processo de aprendizagem, na visão de Ghilardi (1998) e Cersósimo e Sato (2003) e, por fim, mencionou possibilidades de aproximação com a área técnica, com base em Andreani (2018).

A Educação Física, apesar de enfrentar diversos desafios de reconhecimento desde a sua criação, tem um papel relevante no desenvolvimento integral dos discentes contribuindo no desenvolvimento cognitivo, motriz, físico, psíquico e social e, consequentemente, para a formação do homem em sua totalidade. Nesse sentido, tem o papel de proporcionar uma compreensão sobre o próprio corpo aos alunos, seja no aspecto social, cultural, psicológico, afetivo ou biológico, auxiliando no processo de aprendizagem por meio da cultura corporal de movimento e do diálogo sobre valores e conceitos, contribuindo para o saber, saber ser, saber fazer e o saber conviver.

Conclui-se que, respondendo à questão norteadora, os conteúdos de Educação Física no ensino técnico integrado podem ser baseados nos saberes conceituais (abordagem de conceitos, fatos e princípios = saber), procedimentais (saber fazer) e atitudinais (saber ser e conviver), dadas suas aplicações na vida acadêmica dos discentes, incluindo práticas corporais de movimento, práticas corporais na promoção da saúde e práticas corporais e sociedade. Nesse sentido, são necessárias mais pesquisas no sentido de apresentar possibilidades de integração entre Educação Física e matérias da área técnica.

REFERÊNCIAS

ANDREANI, Fabiana. Orientações curriculares de educação física para o ensino médio IFSP. Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2018.

BASEI, Andréia Paula; SILVEIRA, Juliana da; SILVA, Marcio Salles da; Maschio, Vanderléia. A prática pedagógica dos professores de Educação Física e a influência do esporte: da formação à atuação profissional. EFDeportes.com, Revista Digital Buenos Aires, ano 13, n. 123, 2008. Disponível em: https://efdeportes.com/efd123/educacao-fisica-a-influencia-do-esporte-da-formacao-a-atuacao-profissional.htm Acesso em: 04 fev. 2021.

BETTI, Mauro. A versão final da Base Nacional Comum Curricular da Educação Física (Ensino Fundamental): menos virtudes, os mesmos defeitos. Rev. Bras. Educ. Fís. Escolar, Ano IV, V. 1 – Jul. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/329244831_A_VERSAO_FINAL_DA_BASE_NACIONAL_COMUM_CURRICULAR_DA_EDUCACAO_FISICA_ENSINO_FUNDAMENTAL_menos_virtudes_os_mesmos_defeitos. Acesso em: 04 fev. 2021.

BRASIL. Histórico da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil. Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/publicacoes-para-professores/30000-uncategorised/68731-historico-da-educacao-profissional-e-tecnologica-no-brasil. Acesso em: 04 fev. 2021.

CERSÓSIMO, R.; SATO, K. A criança e a Educação Física. In: GONSALVES, Paulo Eiró (Org.). Tudo sobre a criança: perguntas e respostas. São Paulo: IBRASA, 2003.

GHILARDI, Reginaldo. Formação profissional em Educação Física: a relação teoria e prática. MOTRIZ – Volume 4, Número 1, Junho, 1998.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas 2003.

LOVERA, Franciel José. A importância da educação física na formação de cidadãos críticos, pensantes e atuantes. Rei – Revista de Educação do Ideau, Vol. 10, Nº 21, Jan/Jul, 2015. Disponível em: https://www.bage.ideau.com.br/wp-content/files_mf/e5c574cae25b9884fa72e08c9e1b43be242_1.pdf. Acesso em: 04 fev. 2021.

MARANHÃO. Orientações curriculares para o Ensino Médio: Caderno de Educação Física. Governo do Estado do Maranhão, Secretaria de Estado da Educação. São Luís, 2018.

MARCOLINO, Francisca Samara; LIMA, Patrícia Ribeiro Feitosa. A importância da Educação Física no ensino médio integrado: concepção docente no IFCE Campus Canindé. Res., Soc. Dev. 8(12). Ceará: Agosto 2019. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/5606/560662203006/ Acesso em: 04 fev. 2021.

MEIRA JUNIOR, Cássio Miranda; ROSE JUNIOR, Dante de; MASSA, Marcelo. Iniciação aos esportes coletivos. São Paulo: Edições EACH, 2020.

NOZAKI, Joice Mayumi; BRANT, Tuffy Felipe; PASCOM, Graziela. A Ressignificação da Educação Física Escolar no Ensino Médio Técnico-Integrado. Revista Brasileira de Educação Física Escolar – REBESCOLAR, Ano V, V.2, Nov. 2019.

PRANDINA, Marilene Zandonade; SANTOS, Maria de Lourdes dos. A Educação Física escolar e as principais dificuldades apontadas por professores da área. Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, v.4, n.8, julho a dezembro, 2016.

SILVA, Marcelo Guimarães. A importância da Educação Física como componente curricular da educação básica na formação do cidadão do ensino fundamental: estudo de caso com alunos do 9º ano da rede pública estadual da cidade de Resende, RJ. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. Disponível em: https://efdeportes.com/efd171/a-importancia-da-educacao-fisica-na-formacao.htm Acesso em: 04 fev. 2021.

SZUBRIS, Wernher; COFFANI, Márcia. Educação física escolar: um estudo da prática pedagógica no ensino médio. Movimento e Percepção, Brasília, DF, 10.14, 04 05 2009.

[1] Acadêmica de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. ORCID: 0000-0002-3616-2920.

[2] Doutoranda em Educação Escolar pela Universidade Federal de Rondônia. Mestra em Educação Agrícola pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Especialista em Educação Ambiental e Em Saúde da Família. Graduada em Educação Física e em Ciências Sociais. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia. Tem experiência na área de Educação Física e Saúde da Família. Líder do Grupo de Estudos Saúde, Sociedade e Tecnologia – GESTEC. ORCID: 0000-0002-8344-3020.

[3] Doutor em Educação Escolar. Mestre em Filosofia. Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Educação Ambiental no contexto amazônico. Também faz parte do Grupo de Pesquisa CIEPES – Centro Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Educação e Sustentabilidade, localizado na Universidade Federal de Rondônia. ORCID: 0000-0002-2950-9033.

Enviado: Maio, 2022.

Aprovado: Agosto, 2022.

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Camila de Souza Eleamen

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