RELATO DE CASO
MOTA, Vinicius Albuquerque [1], ROTOB, Ali Abdalla [2], TANAKA, Clarice [3], MENDONÇA, Mariana Sacchi [4]
MOTA, Vinicius Albuquerque et al. Impacto da assistência fisioterapêutica e repercussões da mecânica respiratória na Síndrome de Stiff Person no ambiente hospitalar: Relato De Caso. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 09, Ed. 11, Vol. 01, pp. 99-114. Novembro de 2024. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/assistencia-fisioterapeutica, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/assistencia-fisioterapeutica
RESUMO
Introdução: A síndrome de Stiff Person (SPS) é uma condição patológica autoimune muito rara que é caracterizada por rigidez muscular flutuante e espasmos musculares dolorosos. Além do acometimento na função motora desta patologia, é possível que haja afecções na mecânica ventilatória, tendo em vista que os espasmos e a rigidez podem afetar os músculos da respiração. A atuação da fisioterapia nesses pacientes faz-se necessária após seu início insidioso, haja vista que é importante a conservação da função motora e respiratória, para que os efeitos da SPS não sejam progressivos. Objetivo: Analisar como a assistência fisioterapêutica pode impactar no aspecto funcional do paciente hospitalizado com síndrome de Stiff Person e avaliar as repercussões da mecânica respiratória. Relato do caso: Paciente S. P. M. S. Q., 53 anos, parda, natural e residente em São Paulo, casada. Paciente com diagnóstico de Stiff Person Syndrome PERM anti-GAD diagnosticada por quadro de espasmos musculares com rigidez muscular e comprometimento de deambulação iniciado em 2018. Queixa-se de nova piora de sintomas, com espasmos diários de duração de 1 a 2 horas, progressivamente mais intensos quanto a frequência e tempo de duração nos últimos dois meses. Notou piora da marcha, porém consegue deambular sem apoio em domicílio, mas usa cadeira de rodas para sair de casa. Conclusão: Desta forma, foi possível demonstrar que a fisioterapia impactou não só na manutenção funcional da paciente, mas também na evolução da motricidade fina, fazendo com que a própria realizasse sua alimentação e higiene pessoal, mesmo após meses de internação prolongada. Além disso, foi possível observar que houve repercussões na mecânica respiratória devido à internação prolongada. A PAV foi uma consequência adquirida devido a IOT prolongada recorrente das crises da SPS. A disfagia, estenose e traqueite adquiridas também causaram complicações na mecânica respiratória. Dentre os instrumentos de avaliação da mecânica respiratória, o Peak Flow evidenciou alterações nos valores normais para idade, estatura e sexo da paciente. O impacto das repercussões na hospitalização prolongada levaram ao uso de TQT definitiva devido estenose, sendo necessário nebulização e cuidados com via aérea artificial após alta hospitalar. Devido à escassez na literatura, são necessários mais estudos para identificar a melhor estratégia de tratamento fisioterapêutico e maiores repercussões na mecânica respiratória.
Palavra-chave: Rigidez Muscular Espasmódica, Hospitalização, Especialidade de Fisioterapia, Diafragma, Mecânica respiratória.
1. INTRODUÇÃO
A síndrome de Stiff Person (SPS) é uma condição patológica autoimune muito rara que é caracterizada por rigidez muscular flutuante e espasmos musculares dolorosos, acometendo 1 pessoa a cada milhão de habitantes. É causada devido aos anticorpos alterarem o funcionamento adequado da descarboxilase do ácido glutâmico (Anti-GAD). O ácido glutâmico produz o GABA, que é um neurotransmissor inibitório. Em conjunto com os neurotransmissores excitatórios, o GABA exerce um equilíbrio na mecânica muscular, fazendo com que haja sinergia entre os músculos. Na ausência do GABA os neurotransmissores excitatórios se sobressaem e isso causa o fenômeno de co-contração muscular. A co-contração é caracterizada pela contração simultânea de músculos de uma mesma articulação, sendo uma contração de músculos agonistas e antagonistas (excesso de neurotransmissores excitatórios).1,2
A SPS tem etiologia desconhecida, mas é sabido os elementos que desencadeiam as crises. Fatores como estresse, ansiedade, estímulos táteis, clima, infecções, ruídos etc., podem acabar servindo de gatilho para uma crise que pode durar minutos ou horas. 3
Além do acometimento na função motora desta patologia, é possível que haja afecções na mecânica ventilatória, tendo em vista que os espasmos e a rigidez podem afetar os músculos da respiração, causando quadros de apneia. O uso de suporte ventilatório nesse tipo de situação se demonstra ideal para a manutenção da ventilação do paciente. 4
O tratamento medicamentoso (diazepam, clonazepam, gabapentina etc.) e a imunoterapia (imunoglobulina humana, plasmaferese, corticoides e rituximabe) são alternativas adotadas na manutenção dos sintomas da SPS. 2
A atuação da fisioterapia nesses pacientes faz-se necessária após seu início insidioso, haja vista que é importante a conservação da função motora e da mecânica respiratória, para que os efeitos da SPS não sejam progressivos e o treino de marcha para evitar a marcha robótica (característica da SPS). Para o alívio dos sintomas também devem ser incluídas estratégias da fisioterapia para com o paciente. 5,6
O Índice de Barthel (IB) é uma escala quantitativa e qualitativa que serve para avaliar a independência do paciente nas atividades de vida diária. 7,8
Para avaliar a mecânica respiratória, o instrumento padrão ouro é o manovacuômetro, sendo possível mensurar a pressão inspiratória e expiratória máxima. 9 O Peak Flow é um instrumento para avaliação do pico de fluxo expiratório, frequentemente utilizado para verificar se há obstrução do fluxo respiratório, através de uma expiração forçada. 10
Outro equipamento utilizado para avaliação da mecânica respiratória é a ultrassonografia pulmonar, que por meio de ondas mecânicas, torna possível avaliar a espessura e mobilidade diafragmática. 11
Os ajustes da ventilação mecânica, higiene brônquica, manobras de reexpansão pulmonar e cinesioterapia respiratória, são estratégias utilizadas para a manutenção da mecânica respiratória. 5,12
2. OBJETIVO
Analisar como a assistência fisioterapêutica pode impactar no aspecto funcional do paciente hospitalizado com síndrome de Stiff Person e avaliar as repercussões da mecânica respiratória.
3. RELATO DE CASO
Relato de Caso: Paciente S. P. M. S. Q., 53 anos, parda, natural e residente em São Paulo, casada. Apresenta como doença de base epilepsia, Diabetes Mellitus do tipo II, hipotireoidismo, alergia a tramadol e omeprazol. Paciente com diagnóstico de Stiff Person Syndrome PERM anti-GAD diagnosticada por quadro de espasmos musculares com rigidez muscular e comprometimento de deambulação iniciado em 2018. Realizou pulsoterapia e plasmaferese em 2021 com melhora importante de sintomas. Queixa-se de nova piora de sintomas, com espasmos diários de duração de 1 a 2 horas, progressivamente mais intensos quanto a frequência e tempo de duração nos últimos dois meses. Notou piora da marcha, porém consegue deambular sem apoio em domicílio, mas usa cadeira de rodas para sair de casa. Nega queixas infecciosas, escapes convulsivos e disfagia.
Foi admitida na unidade de internação no dia 08/03/2022 com programação de realizar plasmaferese. Iniciou o tratamento dia 18/03/2022 na enfermaria.
Evoluiu no dia 23/03/2022 com quadro de crise hipertônica e espasmos por mais de 40 minutos, sendo optado por Intubação Orotraqueal (IOT). Realizada extubação no dia 24/03/2022 e retorna da UTI para enfermaria no dia 25/03/2022.
Evolui com crise de hipertonia e espasmos do dia 25/03/2022, necessitando novamente de IOT e manutenção de propofol e midazolam em bomba até controle otimizado da condição de base.
Evoluiu com falha de extubação no dia 31/03/2022 devido Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV) e quadro de traqueite. Tentada nova extubação em 04/04/2022, mas acabou evoluindo com necessidade de Traqueostomia (TQT) em 11/04/2022. Foi evoluindo gradativamente com melhora respiratória e iniciou desmame da ventilação mecânica, quando se manteve com oxigênio apenas para nebulização. Manteve episódios de crise controladas com propofol.
Na avaliação funcional inicial da fisioterapia, paciente apresentava-se sem alteração de sensibilidade superficial nos 4 membros e força muscular de MMSS e MMII preservadas. Para avaliar a funcionalidade, foi aplicado o Índice de Barthel em três momentos distintos.
O primeiro foi realizado no dia da admissão na enfermaria, o segundo momento foi realizado algumas semanas antes da alta hospitalar e o terceiro momento foi realizado no dia da alta hospitalar. No primeiro momento, a paciente apresentou uma pontuação total de 50 (Higiene pessoal-0, necessitando de ajuda para realização; Banho-0, necessitando de auxílio para tomar banho; Evacuação-5, ocasionalmente apresenta escape; Urinar-5, ocasionalmente apresenta escape; Uso do sanitário- 5, necessitando de auxílio para utilizar o sanitário; Alimentação-5, necessita de ajuda; Transferência da cadeira para cama- 10, necessita de pouco auxílio para a transferência; Mobilidade- 10, necessita de auxílio físico para realizar; Escadas-5, necessita de auxílio físico para realizar; Vestir-se- 5, necessita de ajuda, porém realiza parcialmente sozinha).
Após a avaliação funcional, iniciou-se o acompanhamento e reabilitação por um período de 259 dias com equipe de fisioterapia. Durante os atendimentos, foi realizado o treinamento funcional (treino de trocas posturais, fortalecimento de MMSS, MMII e estabilizadores de tronco, alcance funcional, treino de sentar e levantar, estímulos de ativação dos músculos estabilizadores no ortostatismo e treino de marcha). Com a realização dos atendimentos de fisioterapia, a paciente foi reavaliada pelo Índice de Barthel. Em um segundo momento, semanas antes de sua alta, a paciente apresentou uma pontuação total de 55 (Higiene pessoal-5, realiza de forma independente; Banho0, dependente; Evacuação-0, incontinente; Urinar-10, continente; Uso do sanitário- 5, dependente; Alimentação-10, Vestir-se- 5, necessita de ajuda, porém realizar parcialmente sozinha; Transferência da cadeira para cama- 10, necessita de pouco auxílio para a transferência; Mobilidade- 10, necessita de um pouco de auxílio para deambulação; Escadas-0, incapaz). No dia 21 de novembro, a paciente recebe alta hospitalar, sendo reavaliado o Índice de Barthel, apresentando uma pontuação total de 65 (Higiene pessoal-5, realiza de forma independente; Banho-0, dependente; Evacuação-10, continente; Urinar-10, continente; Uso do sanitário- 5, dependente; Alimentação-10, Vestir-se- 5, necessita de ajuda, porém realizar parcialmente sozinha; Transferência da cadeira para cama- 10, necessita de pouco auxílio para a transferência; Mobilidade- 10, necessita de um pouco de auxílio para deambulação; Escadas-0, incapaz).
Na avaliação respiratória da fisioterapia foram utilizados os seguintes recursos de avaliação: Manovacuômetro; Ultrassonografia pulmonar; Pico de fluxo de tosse (Peak Flow) em dois momentos distintos. O primeiro foi realizado semanas antes de sua alta hospitalar e a segunda avaliação no dia da alta hospitalar.
Na avaliação inicial de manovacuometria foi evidenciado valores de PiMax: -30cmH2O e PeMax: +50 cmH2O. Na ultrassonografia foi encontrada uma fração de espessura diafragmática de 30% e mobilidade diafragmática de 2,03 cm. Na mensuração do Peak Flow foi evidenciado 65 cmH2O.
Durante os atendimentos, foram realizados exercícios respiratórios (freno labial, inspiração profunda fracionada e sustentada, manobras de higiene brônquica, manobras de reexpansão pulmonar e exercícios de estabilizadores de tronco).
Na reavaliação da paciente foi apresentado os seguintes valores: Manovacuometria com valores de PiMax: -70cmH2O e PeMáx: +105 cmH2O. Na ultrassonografia pulmonar foi apresentado resultado de fração de espessura diafragmática de 62% e mobilidade diafragmática de 2,01 cm. No Peak Flow foi evidenciado 75 cmH2O.
No momento de sua alta, paciente realizava as trocas posturais de decúbito dorsal para lateral direito e esquerdo, e de decúbito lateral para sedestação de forma ativa, assumindo e mantendo ortostase com mínimo auxílio e deambulação com apoio unilateral. Após alta, paciente retornou para sua residência em uso de nebulização com O2 e foram realizadas orientações em conjunto da família quanto ao encaminhamento à reabilitação ambulatorial, realização de higiene brônquica e cuidados com TQT da paciente.
4. REVISÃO E DISCUSSÃO
O paciente que necessita ficar em uma hospitalização prolongada está sujeito a um declínio funcional importante.13 Estudos mostram que uma internação acima de 7 dias já é extremamente prejudicial para a funcionalidade do paciente. Isto acontece devido ao longo período sem a realização de suas Atividades de Vida Diária (AVDs).13-14 A falta de estímulos funcionais neste período pode desencadear fraqueza e rigidez muscular.15
Como introduzido anteriormente, a SPS, assim como a hospitalização prolongada, também acomete diretamente a funcionalidade do paciente, tendo em vista que a alta quantidade de crises, aliada a rigidez muscular, são fatores que colaboram para esse declínio funcional.16
A Síndrome de Stiff Person está relacionada à espasmos musculares, estando intimamente ligada às repercussões da mecânica respiratória, acarretando na necessidade de Ventilação Mecânica Invasiva (VMI). Quando ocorrem as crises, os espasmos musculares causam rigidez nos músculos respiratórios, que levam a diminuição do volume corrente e consequentemente queda do volume minuto. 4,17
Este é o primeiro relato de caso que avalia a funcionalidade e mecânica respiratória de um paciente com SPS com meses de internação prolongada. Foram 259 dias de internação, que de acordo com a literatura, é mais do que suficiente para o surgimento de complicações respiratórias. Em alguns momentos, a terapia era prejudicada devido às fortes crises desencadeadas pela síndrome, fazendo com que houvesse períodos em que a paciente não conseguisse realizar a terapia, consequentemente corroborando para a necessidade de VMI e sedação para controle das crises, além de colaborar para seu declínio funcional. Quando a paciente apresentava crises em VMI em pressão de suporte ventilatório, seu volume corrente chegava a atingir 70ml, sendo necessário controle de crises com propofol e midazolam. A Síndrome anteriormente citada é rara e há escassez na literatura de estudos que contenham dados relevantes para direcionamento de condutas.
Através de um tratamento intensivo com a equipe de fisioterapia, foram realizadas diversas sessões, com a meta principal de evoluir ou manter a funcionalidade que a paciente apresentava antes de sua internação. A evolução de posturas associada a fortalecimento da musculatura, foram as condutas principais para que a funcionalidade da paciente apresentasse uma evolução e se mantivesse até o dia de sua alta hospitalar.
O ponto chave deste estudo foi conseguir acompanhar a evolução funcional desta paciente em um longo período de internação. Mas apesar dos 259 dias de assistência contínua, a paciente era atendida por profissionais diferentes no decorrer dos meses, e por mais que a meta fisioterapêutica fosse a mesma, as condutas utilizadas não seguiam um protocolo e variavam de acordo com cada profissional. Conforme será apresentado, as diferentes condutas podem até ter sido um diferencial no tratamento, tendo em vista os resultados obtidos no momento da última avaliação. De qualquer forma o objetivo funcional foi atingido.
Devido a este acompanhamento, foi possível observar (através do Índice de Barthel) que a terapia conseguiu alcançar as metas previstas no final da internação. É importante destacar que além da manutenção da funcionalidade em relação a locomoção, a paciente ainda conseguiu melhorar a motricidade fina, sendo que anteriormente necessitava de ajuda para comer e realizar higiene pessoal. Na última avaliação do IB, paciente já apresentava melhora nesses aspectos de motricidade fina e conseguia realizar essas atividades de forma independente.
Há escassez na literatura sobre estudos que avaliam a evolução funcional de um paciente com SPS em uma internação prolongada. Porém, o estudo de Kelly et al. 18 apresenta um relato de caso de uma paciente com SPS em uma internação prolongada de um ano. O estudo não apresenta dados quantitativos ou qualitativos em relação à evolução funcional da paciente, entretanto, os autores relatam que após um ano de reabilitação contínua, a paciente “aprendeu a andar novamente”, tendo continuado a fisioterapia em sua residência após alta hospitalar.
Em contrapartida, o estudo de Kahraman et al. 19 apresenta um relato de caso de uma paciente com SPS, mas com uma escala quantitativa e qualitativa para avaliar o aspecto funcional. O estudo utilizou a The Physiotherapy Functional Mobility Profile (PFMP) para avaliar o nível funcional da paciente, entretanto, as sessões diárias de fisioterapia foram realizadas 14 vezes, exceto finais de semana, sendo uma diferença significativa quando comparado ao nosso estudo em relação ao tempo de hospitalização e necessidade de VMI. O PFMP evidenciou uma evolução importante no nível funcional. Inicialmente o score do PFMP era de 35/63 e no final do estudo foi apresentado melhora significativa no equilíbrio em pé, deambulação e subir e descer escadas, fazendo com que o score aumentasse para 49/63. As estratégias utilizadas foram as mesmas do nosso estudo. Exercícios com evolução postural, respeitando as limitações da paciente e visando evoluir a postura máxima que a paciente apresentava nas sessões anteriores.
O estudo de Potter 5, através do Time Up And Go Test e Escala de Medida de Independência Funcional empregados em um paciente sujeito à 10 dias de internação, demonstrou que a prática de sentar e levantar em variadas superfícies, o treino de marcha e independência na utilização do andador foram estratégias eficazes para melhorar o score dos mecanismos de avaliações supracitados.
Por se tratar de uma síndrome rara não há um consenso sobre um padrão ouro para o tratamento fisioterapêutico. É necessário avaliar o contexto funcional em que o paciente está inserido e conhecer a fisiopatologia para empregar a melhor estratégia, como por exemplo, momentos em que a musculatura se apresenta rígida, alongamentos servem como método para alívio de dores. Embora os alongamentos sejam descritos em alguns estudos como estratégia de alívio 20, é necessário entender o contexto de uso para não os utilizar em momentos que apresentam-se fortes crises da síndrome, e, consequentemente, corroborar com a dor provocada.
Como mencionado anteriormente, foi importante conhecer a fisiopatologia e entender o contexto funcional para escolher a melhor conduta fisioterapêutica, para que pudéssemos encontrar os melhores resultados possíveis (descritos no Quadro 1).
Quadro 1 – Resultados das avaliações do Índice de Barthel
Data | Resultados do Índice de Barthel |
21/03/2022 |
Pontuação: 50 (Higiene pessoal: 0, necessitando de ajuda para realização; Banho: 0, necessitando de auxílio para tomar banho; Evacuação: 5, ocasionalmente apresenta escape; Urinar: 5, ocasionalmente apresenta escape; Uso do sanitário: 5, necessitando de auxílio para utilizar o sanitário; Alimentação: 5, necessita de ajuda; Transferência da cadeira para cama: 10, necessita de pouco auxílio para a transferência; Mobilidade: 10, necessita de auxílio físico para realizar; Escadas: 5, necessita de auxílio físico para realizar; Vestir-se: 5, necessita de ajuda, porém realiza parcialmente sozinha). |
26/10/2022 |
Pontuação: 55 (Higiene pessoal: 5, independente p/ rosto/cabelo; Banho: 0, necessitando de auxílio para tomar banho; Evacuação: 0, Incontinente; Urinar: 10, Continente; Uso do sanitário: 5, necessitando de auxílio para utilizar o sanitário; Alimentação: 10, Independente; Transferência da cadeira para cama: 10, necessita de pouco auxílio para a transferência; Mobilidade: 10, necessita de auxílio físico para realizar; Escadas: 0, Incapaz; Vestir-se: 5, necessita de ajuda, porém realiza parcialmente sozinha). |
21/11/2022 |
Pontuação: 65 (Higiene pessoal: 5, independente p/ rosto/cabelo; Banho: 0, necessitando de auxílio para tomar banho; Evacuação: 10, Continente; Urinar: 10, Continente; Uso do sanitário: 5, necessitando de auxílio para utilizar o sanitário; Alimentação: 10, Independente; Transferência da cadeira para cama: 10, necessita de pouco auxílio para a transferência; Mobilidade: 10, necessita de auxílio físico para realizar; Escadas: 0, Incapaz; Vestir-se: 5, necessita de ajuda, porém realiza parcialmente sozinha). |
Fonte: Avaliação do IB realizada em enfermaria neurológica do Hospital das Clínicas da FMUSP (2022).
O Quadro 1 representa a evolução funcional da paciente avaliada pelo Índice de Barthel. Na primeira avaliação, é importante destacar que a paciente necessitava de ajuda para realizar sua higiene pessoal e não conseguia alimentar-se de forma independente, totalizando uma pontuação no Índice de Barthel de 50 pontos. Na segunda avaliação (7 meses depois), foi evidenciado que a paciente obteve melhora importante na motricidade fina, conseguindo realizar higiene e alimentação pessoal de forma independente, e manteve sua funcionalidade realizando deambulação com duplo apoio, obtendo pontuação de 55 no Índice de Barthel. No dia de sua alta e consequentemente sua última avaliação (25 dias após a segunda), foi obtido uma pontuação de 65 no Índice de Barthel, onde o ganho de pontos foi exclusivamente no quesito de evacuação independente, mas a paciente realizou deambulação com apoio unilateral, sendo que em sua avaliação anterior necessitava de duplo apoio para deambular.
Apesar desta evolução/manutenção funcional importante, ainda existia o risco de quedas. No dia de sua alta foram realizadas orientações sobre o uso de dispositivos auxiliares, sendo a bengala o dispositivo ideal para a paciente no momento, tendo em vista que a última deambulação avaliada havia sido com apoio unilateral. Além disso, foram realizadas orientações em conjunto da família quanto ao encaminhamento à reabilitação ambulatorial.
Durante as crises iniciais da internação foi necessário realizar IOT, para controle das crises e garantir uma ventilação pulmonar adequada, tendo em vista que em respiração espontânea não era possível realizar um volume corrente ideal. Uma das consequências adquiridas devido à IOT prolongada foi a PAV, sendo tratado de forma medicamentosa e após infecção evoluiu com necessidade de aporte de O2. No momento da Extubação Orotraqueal (EOT), evoluiu com falha devido às novas crises, quando foi optado pela realização da Traqueostomia (TQT). Devido a traqueite e estenose traqueal não foi possível realizar a evolução para decanulação.
Ao longo da internação a paciente evoluiu com disfagia, favorecendo a broncoaspiração e podendo acarretar maiores complicações pulmonares. Diante disso, foi optado pela instalação de sonda nasoenteral. Entretanto, com uso prolongado da sonda nasoenteral podendo aumentar o número de complicações, foi optado pela realização de Gastrostomia (GTT). 21
Durante a internação foi de suma importância a participação da equipe de fisioterapia, sendo realizadas sessões de atendimentos visando recuperação de força muscular respiratória e prevenção de maiores perdas na capacidade pulmonar. Em momentos de crises foi possível garantir uma ventilação pulmonar adequada, através de ajustes do ventilador mecânico.
Foram utilizados alguns instrumentos para avaliar a mecânica respiratória. A ultrassonografia teve como objetivo revelar uma disfunção diafragmática, caracterizada por menor mobilidade diafragmática e menos espessamento diafragmático. No estudo de Santana et al. 22, avaliaram pacientes com comorbidades pulmonares, como pneumonia, comparando a mobilidade diafragmática, evidenciando uma variação de 4,80 a 10,44cm, sendo que valores abaixo de 4,80cm durante uma inspiração profunda, são considerados como diminuição da mobilidade diafragmática, porém, na respiração tranquila obteve uma média de valor de 1,80cm. O valor encontrado na paciente em respiração tranquila foi de 2.03cm e em um segundo momento foi evidenciado valor de 2,01cm, não sendo suficiente para demonstrar diferenças expressivas.22
O Peak Flow verifica o maior fluxo obtido em uma expiração forçada a partir de uma inspiração completa ao nível da capacidade pulmonar total, com finalidade de detectar estreitamento de vias aéreas. Seus valores de referência apresentam algumas variáveis como sexo, estatura e idade. Para paciente em questão seu valor aproximado de normalidade seria 383 L/min.23 Em sua primeira avaliação foi aferido 70 L/min, em uma segunda avaliação, feita posteriormente foi evidenciado 75 L/min, que diante desses resultados sugere-se uma restrição em vias aéreas.23
A manovacuometria é um teste simples, rápido e não invasivo por meio da Pressão Inspiratória Máxima (Pimáx) e a Pressão Expiratória Máxima (Pemáx) são obtidas com finalidade de auxiliar na avaliação muscular respiratória. Além de toda facilidade de uso, possui valores de referência bem estabelecidos, sendo para mulheres o limite inferior de 60 cmH2O e para homens 80 cmH2O (PiMax) e 120 cmH2O para mulheres e 150 cmH2O para homens (PeMax).24 Durante os atendimentos da fisioterapia foi realizado o teste inicial tendo apresentado os seguintes resultados de PiMax: -30cmH2O e PeMax: 50cmH2O. O teste foi reaplicado após algumas semanas sendo evidenciado PiMax: -70 cmH2O e PeMax 105 cmH2O.
Diante dos dados apresentados, os valores da manovacuometria foram os que obtiveram os melhores resultados, apresentando uma melhora significativa. Contudo, levamos em consideração os atendimentos fisioterapêuticos que ocorriam de forma intensa, 3 vezes ao dia, sendo realizados manobras de higiene brônquica, higiene brônquica, exercícios respiratórios, exercícios funcionais, associados ao tratamento medicamentoso realizado pela equipe médica. Apesar dos outros instrumentos da avaliação da mecânica respiratória terem evidenciado melhora, ainda assim, os resultados apresentados estão longe dos valores esperados para a paciente (idade, estatura e sexo).
5. CONCLUSÃO
Foi possível demonstrar que a assistência fisioterapêutica impactou não só na manutenção funcional da paciente, mas também na evolução da motricidade fina, fazendo com que a própria realizasse sua alimentação e higiene pessoal, mesmo após meses de internação prolongada. Além disso, observamos que houve repercussões na mecânica respiratória devido à internação prolongada. A PAV foi uma consequência adquirida devido a IOT prolongada recorrente das crises da SPS. A disfagia, estenose e traqueite adquiridas também causaram complicações na mecânica respiratória. Dentre os instrumentos de avaliação da mecânica respiratória, o Peak Flow evidenciou alterações nos valores normais para idade, estatura e sexo da paciente. O impacto das repercussões na hospitalização prolongada levaram ao uso de TQT definitiva devido estenose traqueal, sendo necessário nebulização e cuidados com esta via aérea artificial após alta hospitalar. Devido à escassez na literatura, são necessários mais estudos para identificar a melhor estratégia de tratamento fisioterapêutico e maiores repercussões na mecânica respiratória.
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NOTA
Nosso relatório identificou a presença de inteligência artificial para correção gramatical e ortográfica. No entanto, o autor informou que não a utilizou. Os autores se responsabilizam pelo material.
[1] Pós-graduado em Fisioterapia Hospitalar pelo Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (2023); Pós-graduado em Medicina Tradicional Chinesa pela Faculdade Einstein de Salvador (2021); Graduado em Fisioterapia pela Universidade Paulista (2020). ORCID: https//orcid.org/0009-0004-0758-0973. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1830811326701317.
[2] Pós-graduado em fisioterapia hospitalar pelo instituto central do hospital das clínicas da faculdade de medicina da USP (2023); graduado em Fisioterapia pela Universidade Paulista (2022). ORCID: https//orcid.org/0009-0008-2174-622X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3569153474411984.
[3] Orientadora. Fisioterapeuta com Mestrado e Doutorado pela Universidade de São Paulo, Pós-doutorado na McGill University (1997-1999) e na Université de Montréal (2002-2004). MBA pela Strong-FGV em Gestão em Saúde. Professora Titular do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da FMUSP e Diretora do serviço de Divisão de Fisioterapia do Instituto Central da FMUSP. ORCID: https//orcid.org/0000-0003-3900-5944. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5954562944158010.
[4] Formação em Neuromodulação não invasiva clínica. Pós-graduação de Fisioterapia em Gerontologia e Fisioterapia Neurofuncional na Physiocursos – SP. Formação em Neurodesenvolvimento infantil (2017) pelo Instituto Neurológico de São Paulo e Neuromodulação clínica (2018) pela USP. Especialização em Fisioterapia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2013). Graduação em Fisioterapia pelo Centro Universitário São Camilo (2012). ORCID: https//orcid.org/0000-0002-3063-4106. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9048473367342688.
Material recebido: 08 de abril de 2024.
Material aprovado pelos pares: 25 de junho de 2024.
Material editado aprovado pelos autores: 31 de outubro de 2024.