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Alimentos aceleradores de metabolismo no combate à obesidade: uma abordagem fitoterápica

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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

ANDRADE, Thaís Kiffer Souza [1]

ANDRADE, Thaís Kiffer Souza. Alimentos aceleradores de metabolismo no combate à obesidade: uma abordagem fitoterápica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 05, Vol. 10, pp. 176-191. Maio de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/aceleradores-de-metabolismo

RESUMO

A obesidade é uma morbidade preocupante, que vem crescendo largamente em números ao redor do globo. Os efeitos dessa doença que se alastra no mundo moderno vão desde os sistêmicos aos psicológicos, com a deterioração da autoestima dos afetados. O presente trabalho revela o benefício de dietas que prezem por alimentos que atuem como aceleradores de metabolismo, levando especial atenção aos fitoterápicos, que, reconhecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ganham cada vez mais destaque como terapia coadjuvante com o objetivo de trazer uma perspectiva diferenciada na ciência da perda de peso. O artigo traz uma revisão bibliográfica qualitativa descritiva analítica, evocando alguns dos fitoterápicos citados e seu gradual aceite na medicina, na nutrição clínica e no sistema de saúde. Conclusivamente é possível observar que os fitoterápicos, além de antigos aliados em dietas e tratamentos de saúde, são bem aceitos e constam em diversos documentos médicos.

Palavras-chave: Fitoterapia, Nutrição, CFN, SUS.

1. INTRODUÇÃO

Apontada como o excedente de tecido adiposo no organismo, a obesidade é uma doença crônica que pode ser precursora direta ou indireta de diversas outras patogenias como problemas cardiovasculares, hipertensão e neoplasias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) atenta para o fato de que a obesidade é uma doença multifatorial, que atinge indivíduos em todo o planeta de forma epidêmica (VERBINEN e OLIVEIRA, 2018).

Embora a nutrição enquanto ciência possua diversas ramificações nos seus estudos e no papel de atuação do nutricionista (nutrição clínica, oncológica, hospitalar e ambulatorial, esportiva, dentre diversas outras), esta ciência, enquanto alternativa no auxílio ao combate à obesidade e emagrecimento, é o que permeia o imaginário popular muitas vezes quando se pensa em profissionais da área.

Reeducação alimentar e prática de atividades físicas estão no topo da lista daqueles que pensam no emagrecimento. Obviamente, embora essas ações sejam valorosas, a fitoterapia também vem se mostrado uma excelente opção nos tratamentos voltados à obesidade e a diversas outras morbidades. Utilizada geralmente como tratamento auxiliar, a adesão a fitoterápicos auxiliadores na manutenção do peso corpóreo vem sendo largamente explorada (VERBINEN e OLIVEIRA, 2018).

Desde a antiguidade, plantas com a finalidade de tratar e curar enfermidades vem sendo utilizadas. Saberes ancestrais passados de pais para filhos, em diversas culturas, levaram a inúmeras pesquisas acadêmicas na área da química de produtos naturais, na frutífera busca por princípios ativos para a produção de medicamentos. Não é diferente com os fitoterápicos voltados ao emagrecimento. Dietas com alimentos aceleradores de metabolismo não são incomuns, e nem estão longe do saber popular.

Os fitoterápicos associam a expertise dos conhecimentos populares, tradicionais e etnobotânicos à práxis da academia, conectando o conhecimento tradicional ao científico e fazendo jus ao saber popular de forma adequada às exigências sanitárias, assim eliminando o risco de ingestão de componentes com toxicidade ou em doses prejudiciais. Antes da chegada dos fitoterápicos à população, eles passam por diversos procedimentos para que se tornem de uso seguro, adequado, e que forneçam os resultados prometidos.

A fitoterapia é multidisciplinar e envolve diversos ramos da ciência até o final da produção de um fitoterápico e a sua prescrição ao paciente: o isolamento, a purificação e a caracterização dos princípios ativos (fitoquímica e química orgânica),  a investigação farmacológica dos extratos e constituintes químicos isolados (farmacologia), as transformações químicas dos princípios ativos (química orgânica sintética), o estudo das relações, estruturas, atividades e mecanismos de ação dos princípios ativos (química medicinal e química farmacológica), a preparação das formulação pra produção do fitoterápico e, por fim, a sua prescrição (farmácia, medicina e nutrição) (MACIEL et al., 2002, apud SANTOS et al., 2011).

O presente trabalho se trata de uma revisão bibliográfica, qualitativa descritiva analítica, que tem por objetivo trazer ao público, em linguagem acessível, a importância dos alimentos aceleradores de metabolismo no combate à obesidade, associados à história e ao uso da fitoterapia como tratamento alternativo.

2. A FITOTERAPIA: UM BREVE HISTÓRICO

O Termo “fitoterapia” deriva das palavras gregas “phyton” (vegetal) e “therapeia” (tratamento). Esse ramo da ciência, extremamente interdisciplinar, consiste no uso interno ou externo de vegetais (e outros derivados vegetais) para o tratamento de patologias, sejam “in natura” ou sob a forma de medicamentos (ALVES e SILVA, 2003).

Tão antiga quanto a história, a fitoterapia e o uso dos fitoterápicos tiveram seu primeiro compilado médico, no século I d.C., em De Matéria Médica, por Dioscórides (c. 40 – 80 d.C.). Tal volume detalhava cerca de 600 espécies de plantas medicinais, seus possíveis efeitos tóxicos, técnicas de plantio, colheita e armazenamento (ELDIN e DUNFORD, 2001, p. 8).

A prática do uso das plantas na cura de diversas doenças tem em sua história nomes famosos como Hipócrates (468 – 377 a.C.), considerado o “pai da medicina”, Empédocles (500- 430 a.C.) filósofo siciliano, e Galeno (121 -180 a.C.), proeminente médico e filósofo romano (ELDIN e DUNFORD, 2001). A fitoterapia em seus primórdios não ficou restrita a médicos e esteve largamente presente em rituais religiosos e de curandeiras.

Os benefícios oriundos dos fitoterápicos em seus primeiros registros datam de mais de sessenta mil anos, com as primeiras descobertas feitas por estudos arqueológicos em ruínas do Irã. Os primeiros registros de fitoterápicos datam da China do período de 3000 a.C. com a catalogação de mais de 365 ervas medicinais e venenos que eram utilizados na época, criando-se, assim, o primeiro herbário de que se tem conhecimento (REZENDE e COCCO, 2002).

As comunidades tradicionais locais têm um peso grande no estudo da etnobotânica e da fitoterapia. No Brasil, a utilização de ervas medicinais tem na prática indígena suas bases principais. País altamente miscigenado, a medicina tradicional aqui também é influenciada pela cultura africana e a portuguesa. Para Santos et.al, (2011), a fitoterapia é a medicina integrativa que mais cresce ao longo dos anos, sendo a renda gerada pelo mercado de fitofármacos responsável por girar mais de 15 bilhões de dólares todo ano (SANTOS et al., 2011).

Dentro dessa ótica, sobre a crescente influência e aceitação, principalmente na comunidade científica, acerca das plantas medicinais, o Ministério da Saúde aprovou em 2006 a “Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos”, base para o “Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos” – PNPMF – regulamentada por meio do Decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006. Ademais, sendo o Brasil um dos países com a maior biodiversidade mundial, é mais que justificado o uso e o estudo destas plantas (BRASIL, 2006 e BRASIL, 2009).

2.1 A FITOTERAPIA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA NO SUS

De acordo com Verbein e Oliveira (2018), desde a segunda metade das décadas de 70/80, houve significativo crescimento das chamadas “medicinas alternativas”, destacando-se a fitoterapia. Os estudos demonstram o efeito positivo do tratamento com fitoterápicos para diversas comorbidades, principalmente para a obesidade (foco deste estudo) com o mínimo de efeitos adversos aos pacientes.

A presença da fitoterapia como prática integrativa a medicamentos sintéticos é muito comum em países em desenvolvimento, como o Brasil, segundo Santos et. al, (2001). De acordo com a autora, “A disseminação do uso de plantas medicinais, assim como a automedicação deve-se principalmente ao baixo custo e fácil acesso à grande parcela da população” (OMS, 2008 citado por SANTOS et al., 2011, p. 487).

Ainda segundo a autora, é importante que não se confunda fitoterapia com o uso de plantas medicinais. De acordo com a definição da ANVISA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária Brasileira, um medicamento só pode ser considerado um fitoterápico quando é obtido exclusivamente de matérias-primas de origem vegetal, com qualidade constante e reprodutível, com os riscos relacionados à sua eficácia caracterizados de acordo com os devidos levantamentos etnofarmacológicos e as documentações técnico científicas (BRASIL, 2000).

Empregar o uso de plantas medicinais de forma adequada é uma preocupação da fitoterapia. Culturalmente, a automedicação por meio dessas plantas é um problema, visto que estas são comercializadas livremente em feiras populares, por “erveiros” e “mateiros” (populares apontados como conhecedores de ervas e suas propriedades), para pessoas que as usam em forma de chás e unguentos, decocções, tinturas e outros formulados de forma indiscriminada, sem controle médico e análise de toxicidade (MACIEL et al., 2002).

Antes de as plantas medicinais serem usadas pela população, é importante que elas passem por processos que tornarão o produto de uso seguro e adequado para, assim, fornecer os resultados desejados a quem for utilizá-las. Dessa forma, levando o conhecimento popular de forma segura, visando à eficácia e ao baixo custo operacional, a integração de plantas medicinais nos programas primários de atenção a saúde se torna de suma importância.

Para Matos (1998), citado por Silva (2011, p. 489), “o fato de plantas medicinais poderem ser usadas através de formulações caseiras, de fácil preparo, se reveste de grande importância, pois ela pode suprir a crônica falta de medicamentos nos serviços de saúde”. Consoante a essa lógica, “o relatório final da 10ª Conferência Nacional de Saúde, em 1998, determina que os gestores do SUS devam estimular e ampliar pesquisas realizadas em parceria com universidades públicas, promovendo ao lado de outras terapias complementares a fitoterapia” (BOAS e GADELHA, 2007 citado por SANTOS et al., 2011, p. 489).

De acordo com Santos et al. (2011):

No Brasil, diretrizes do Ministério da Saúde determinaram prioridades na investigação das plantas medicinais e implantando a fitoterapia como prática oficial da medicina, orientando as Comissões Interinstitucionais de Saúde (CIS) a buscarem sua inclusão no SUS. Para que essa inclusão ocorra é essencial que os profissionais da área de saúde conheçam as atividades farmacológicas e a toxicidade das plantas medicinais de cada bioma brasileiro, de acordo com os costumes, tradições e condição socioeconômicas da população. Alguns trabalhos já são realizados em estados como o Ceará com o objetivo de desvendar o uso de plantas medicinais pela população, encontrando alta prevalência de uso (SILVA et. al., 2006, citado por SANTOS et.al., 2011 p. 489).

O governo brasileiro, por intermédio do SUS (Sistema Único de Saúde) e do Ministério da Saúde, vem trazendo diversas políticas, programas e portarias, garantindo a qualidade e a eficácia dos produtos derivados de plantas medicinais, sendo os tópicos mais relevantes ressaltados abaixo:

– O Programa Nacional de plantas Medicinais e Fitoterápicos, tem o objetivo de garantir à população brasileira o uso seguro das plantas medicinais e dos fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade e o estímulo da cadeia produtiva (BRASIL, 2006).

– A portaria n.212, de 11 de setembro, em seu item 2.4.3, define o estudo de plantas medicinais como uma das prioridades de investigação em saúde, implantando em 1982, o Programa de Plantas Medicinais – Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais (PPPM) da Central de Medicamentos (CEME), para o desenvolvimento de terapêutica complementar com embasamento científico (BRASIL, 1988).

– Em 1987, a OMS recomenda a inclusão dos fitoterápicos nos sistemas nacionais de assistência à saúde (SANTOS et al., 2011).

– Em 1991, o CFM (Conselho Federal de Medicina) divulgou dois pareceres reconhecendo a fitoterapia e as suas práticas como métodos terapêuticos (SANTOS et al., 2011).

– A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por meio da portaria 6 de 1995, normatiza o registo dos fitoterápicos, atualizando em 24 de fevereiro de 2000, por meio da RDC n°17, a regulamentação de registros no Brasil.

– No ano 2000, a 10ª Conferência Nacional de Saúde, incorporou, no SUS, as práticas de fitoterapia aos protocolos de tratamento, e, em 2003, a 12ª Conferência Nacional de Saúde determinou que a fitoterapia é uma atividade que pode ser exercida por todos os profissionais de saúde.

– Em 2004, a II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional instituiu a valorização da cultura alimentar, incluindo as plantas nativas e medicinais para a saúde da população.

– Aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, no SUS, em 2006, tendo o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) em 2006 reconhecido a fitoterapia na párea de nutrição clínica (BRASIL, 2006).

– Resolução CFN n° 402/2007, regulamenta a prescrição fitoterápica pelo nutricionista de plantas in natura frescas, ou como droga vegetal nas suas diferentes formas farmacêuticas. Sendo assim, o nutricionista pode prescrever maracujá, boldo, erva doce, sene, gengibre e outras plantas como terapia.

– Resolução CFN N° 525/2013, regulamenta a prática da fitoterapia pelo nutricionista, atribuindo-lhe competência para, nas modalidades que especifica, prescrever plantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos como complemento de prescrição dietética, considerando a eficácia e segurança de cada medicamento.

É importante perceber, assim, que a posição do nutricionista está consolidada em suas atribuições à prescrição de fitoterápicos e ervas medicinais, garantidos pelo sistema de saúde, bem como esse tipo de terapia vem crescendo em pesquisa e sendo valorado.

2.2 FITOTERÁPICOS ASSOCIADOS AO EMAGRECIMENTO

O tratamento da obesidade é diretamente relacionado no imaginário popular ao trabalho do profissional da nutrição. A alimentação e a prática de atividades físicas são dois fatores de suma importância no tratamento dessa morbidade. O acompanhamento médico, para compreensão do quadro clínico do paciente, além do estudo de seus hábitos alimentares e tipo de atividade são muito importantes para o tratamento. Tais fatores, de forma geral, são intuitivos a quem busca uma mudança de hábitos.

A fitoterapia, no entanto, enquanto terapia auxiliar, vem se mostrando uma excelente alternativa nos tratamentos, aliando as prescrições fitoterápicas às prescrições terapêuticas, levando o paciente à busca de resultados positivos e à melhora na qualidade de vida (VERBINEN e OLIVEIRA, 2018). Deve se levar em consideração, inclusive, que dentro da cultura imaterial, devido à influência de práticas de medicinas tradicionais, ainda vigentes, como as indígenas, as europeias e as africanas, esse tipo de terapia auxiliar não era popularmente estranha aos brasileiros (PRADO et al, 2010).

De acordo com estudos feitos por Verbeni e Oliveira (2018), a adesão a produtos auxiliadores na redução e na manutenção do peso corpóreo vem aumentando, tendo seu uso espalhado por todo o mundo, considerando as tradições e os produtos locais. Os autores definem:

Segundo a Portaria n° 6 de 31 de janeiro de 1995, produto fitoterápico “É todo medicamento tecnicamente obtido e elaborado, empregando se exclusivamente matérias primas ativas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de diagnósticos, com benefício para o usuário”. A mais recente RDC n° 26, de 13 de maio de 2014 de fitoterápicos denomina esses como: “São considerados medicamentos fitoterápicos, os obtidos com emprego exclusivo de matérias primas ativas vegetais, cuja segurança e eficácia sejam baseadas em evidências clínicas e que sejam caracterizados pela constância de sua qualidade” (VERBENI e OLIVEIRA, 2018).

Para Prado (2010), quando utilizadas de forma adequada, em acordo com as proposições farmacotécnicas e da OMS, tem havido valorização das terapias tradicionais. Sendo assim, se sob prescrição e acompanhados por especialistas, os medicamentos fitoterápicos podem ser utilizados no tratamento da obesidade e da saúde metabólica.

Os fitoterápicos podem ser utilizados com ação emagrecedora direta, ou mesmo como inibidores de apetite, no intuito de diminuir a ingestão de alimentos, aceleradores de metabolismo, redutores do nível de colesterol, antioxidantes, diuréticos e lipolíticos. As vantagens do uso dos fitoterápicos vão além de seus efeitos benéficos: eles são mais vantajosos financeiramente para o paciente, por custarem mais barato e apresentam menores riscos de efeitos colaterais (DAVID e BELLO, 2017).

Tabela 1. Fitoterápicos preferencialmente prescritos pelos nutricionistas.

Nome científico (nome popular) Ação sobre a fisiologia humana Referências
Camellia sinensis

(Chá verde)

Emagrecimento Pavanelli et al., 2011

Damasceno, 2013

Santos et al., 2013

Chamomilla recutita

(Camomila)

Ansiolítico Damasceno, 2013
Cordia ecalyculata

(Pholia Magra)

Emagrecimento Pavanelli et al., 2011
Cynara scolymus L.

(Alcachofra)

Emagrecimento Santos et al., 2013
Hibiscus sabdariffa

(Hibisco)

Antioxidante e diurético Pavanelli et al., 2011
Melissa officinalis

(Erva-cidreira)

Ansiolítico Pavanelli et al., 2011
Passiflora spp

(Maracujá)

Ansiolítico Pavanelli et al., 2011
Rhamnus purshiana

(Cáscara sagrada)

Laxante Santos et al., 2013

Fonte: Adaptado de David e Bello (2017).

A tabela acima, adaptada do trabalho de David e Bello (2017), traz os principais fitoterápicos prescritos por nutricionistas. É possível reparar que o maracujá e a alcachofra, por exemplo, presentes na tabela, são dois alimentos que podem ser consumidos in natura e trazidos de forma prazerosa à dieta diária do paciente.

Um exemplo de fitoterápico que pode ser introduzido diretamente na dieta do paciente é a Caralluma Fimbriata, um cacto comestível pertencente à família Asclepiadáce. Esse vegetal é muito conhecido na literatura por ter um efeito supressor de apetite, e nativos e populações tribais o usam em suas dietas. Estudos indicam que o vegetal bloqueia atividades de diversas enzimas responsáveis pela formação dos blocos de gordura, forçando a queima e controlando o apetite (DAVID e BELLO, 2017).

3. OS ALIMENTOS ACELERADORES DE METABOLISMO E A OBESIDADE

Enfermidade caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corpórea, sendo um fator de risco a diversas outras doenças, a obesidade é um assunto problemático, em constante debate. Oliveira e Cordeiro definem:

[…] A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2012 define a obesidade como o índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/ m². Sendo a obesidade e sobrepeso a quinta maior doença que mata no mundo, e que pelo menos 2,8 milhões de adultos morrem a cada ano como resultado do excesso de peso. Nessa faixa de peso, o risco de morte por diabetes, doenças cardiorrespiratórias, cérebro-vasculares e neoplasias são significativamente maiores. (OLIVEIRA e CORDEIRO, 2013, p. 98).

Distúrbios psicossociais também são associados à obesidade, visto que padrões sociais podem levar à discriminação de pacientes que sofrem dessa morbidade. A depressão é um fator que pode acometer os pacientes com obesidade, causando grande impacto na vida social do indivíduo (DAVID e BELLO, 2017). David e Bello (2017) apontam ainda que a doença pode ser definida por diversos fatores, como genética, em que seria transmitida de geração para geração, o sedentarismo, a alimentação inadequada, a ansiedade e outros desequilíbrios emocionais, além de ser provocada por medicações alopáticas que contribuam para o ganho de peso, como é o caso de alguns corticosteroides.

O profissional da nutrição tem um papel importantíssimo no tratamento de pacientes com obesidade, visto que a alimentação inadequada é um grande fator contribuinte para a doença. Alguns alimentos em estudos recentes vêm sendo apontados como auxiliadores na perda de peso, queima de gordura corporal e na sensação de saciedade, e são importantes na dieta de pacientes que sofrem da doença.

A lista de alimentos a citar nesse aspecto é grande e crescente, e, por isso, este estudo se aterá aos chamados alimentos termogênicos, embora as possibilidades de abordagem sejam grandes, e possível temática para estudos mais aprofundados. Os termogênicos, em suma, são alimentos que apresentam um grau de dificuldade maior para serem ingeridos pelo organismo, e isso faz com que este consuma mais energia e, consequentemente, calorias para a digestão. Tais alimentos induziriam o organismo a trabalhar em um ritmo mais acelerado (MAGALHÃES, 2002).

A quantidade correta e o período do dia em que se é adequado o consumo de tais alimentos devem ser acompanhados pelo nutricionista, visto que o excesso deles pode ser prejudicial e o consumo em períodos próximos às horas de sono pode afetar a qualidade deles. Magalhães (2002) aponta que por esses medicamentos fazerem o coração trabalhar mais rápido, a cautela é essencial a cardíacos, além da influência que exercem sobre o metabolismo ser um alerta a pessoas que sofrem de problemas na tireoide. A evidência sobre a necessidade do acompanhamento na dieta e da problemática que é a automedicação é evidente na literatura, por isso a compreensão sobre os efeitos deletérios ao organismo que mesmo certos alimentos e medicamentos naturais podem causar deve ser frisada pelos profissionais.

Através de revisão bibliográfica, foi possível identificar os alimentos mais apontados em relação aos seus efeitos termogênicos, sendo eles:

  • As pimentas;
  • O gengibre;
  • Aspargos;
  • O chá verde;
  • Cafeína;
  • Algumas frutas cítricas como a laranja e o kiwi;
  • Gorduras vegetais e de coco;
  • Verduras como brócolis, couve e acelga;
  • Diversos tipos de chás.

Utilizando a pimenta e o chá verde como exemplo, o componente ativo das pimentas, a capsaicina, é apontado como estimulante do apetite e auxiliar da digestão. O consumo desse aditivo seria responsável pelo aumento da salivação, estimulando a secreção gástrica e a motilidade gastrointestinal. Pacientes submetidos a dietas com esse componente apresentaram redução da gordura corpórea e oxidação lipídica (CRISÓSTOMO et al., 2006).

Sobre o chá verde, vale ressaltar que a utilização da gordura corporal como fonte de energia é maior quando ele é ingerido, provavelmente em decorrência da estimulação do metabolismo lipídico no fígado ou no músculo esquelético, locais onde estão aumentadas as oxidações dos ácidos graxos livres. Lamarão (2009) ressalta que o mecanismo pelo qual o chá verde diminui o percentual de gordura corporal ainda não está elucidado, e embora existam diversas hipóteses, o fato é o benefício potencial que ele carrega.

Muitos formulados fitoterápicos são derivados desses alimentos, e por isso são importantes no uso como terapia auxiliar, ajustando a necessidade de consumo de cada paciente à necessidade diária e às suas condições de saúde. Um plano alimentar equilibrado, focando em uma dieta hipocalórica e pobre em gorduras saturadas, com a ingestão de alimentos e fitoterápicos voltados à queima de gordura, pode ser um passo na direção certa.

As figuras abaixo trazem alguns fitoterápicos de uso auxiliar em dietas visando à queima de gordura. É notável que em comum a estes fitoterápicos estão os alimentos indicados como responsáveis pela queima de gordura e pela perda de peso, como o chá verde e o gengibre.

4. CONCLUSÃO

Por meio deste trabalho foi possível chegar a algumas conclusões. Primeiramente, a automedicação é danosa tanto para o consumo de medicamentos de uso clínico (alopáticos), geralmente vendidos com receitas, quanto para medicamentos tradicionais, como fitoterápicos, ou mesmo com o uso de ervas in natura. O uso indiscriminado, mesmo que de chás, pode trazer efeitos danosos como sobrecarga hepática ou até ingestão de certos componentes providos de toxidade.

Foi possível notar grande preocupação nos estudos bibliográficos levantados para a construção deste trabalho de revisão em frisar que a fitoterapia se distingue da homeopatia ou do uso de plantas medicinais, embora estas também se utilizem dos produtos vegetais nos seus formulados. Por essa razão, definições como a da ANVISA foram trazidas para o conhecimento do leitor, valendo salientar que segundo a agência o medicamento fitoterápico é aquele obtido através de matérias-primas de origem vegetal, com qualidade constante e reprodutível, cujos riscos e  eficácia devem ser caracterizados por levantamentos etnofarmacológicos, estudos científicos e ensaios clínicos.

Outro fator interessante foi o relativo à cultura brasileira no uso de medicamentos fitoterápicos. As raízes ligadas à medicina tradicional beneficiaram a aceitação e a validação da fitoterapia, pois o saber popular reconhece a eficácia das plantas medicinais. Não é incomum ouvir-se sobre parteiras, erveiros, mateiros e até líderes religiosos que utilizam as plantas medicinais em suas práticas.

Aliar o saber popular à ciência, não só torna as práticas mais seguras, como é uma forma de validação da cultura em si. Muitos estudos levantados levam o saber popular em consideração, fazendo levantamentos etnobotânicos, mapeando, assim, as plantas utilizadas por comunidades tradicionais e buscando o conhecimento para uma posterior extração de princípio ativo. Interessante notar também que a menção de plantas medicinais como benéficas a diferentes tratamentos do corpo não é presente apenas em textos de religiões de matrizes africanas, como se acredita no caso do Brasil.

Religiões mais tradicionalistas, como o cristianismo, têm em suas escrituras sagradas menções ao uso de plantas medicinais, como na bíblia cristã, no livro de Ezequiel, quando é dito que o seu fruto servirá de alimento e a folha de remédio”. Ainda na bíblia cristã, em Levíticos, está registrado que as “folhas e galhos dos salgueiros que nascem nos riachos são medicinais”, medicamento este utilizado por Hipócrates. Posteriormente, essa planta foi estudada e o seu princípio ativo descoberto, dando origem a um medicamento famoso e muito comum: a aspirina.

Alimentos utilizados na perda de peso, indicados na queima de gordura corporal, e aceleradores de metabolismo, como o gengibre, por exemplo, são descritos na farmacopeia e nas bulas de plantas, e são utilizados na formulação de fitoterápicos, o que demonstra mais ainda a eficácia dessa ciência.

Por fim, vale salientar que um país com rica biodiversidade, como o Brasil, tem infinito potencial para a exploração tanto na pesquisa para alimentos aceleradores do metabolismo e auxiliadores na queima de gordura como para a pesquisa de princípios ativos para formulações fitoterápicas. Sendo assim, a valorização da ciência e da pesquisa, bem como da capacitação profissional para a compreensão desse potencial, é de extrema importância, aliando o saber tradicional ao científico.

Vale ressaltar que o nutricionista tem um papel de extrema importância, analisando as condições físicas e financeiras do paciente para a indicação de um tratamento responsável e adequado, que leve aos resultados desejados, trazendo maior qualidade de vida aos pacientes.

REFERÊNCIAS

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[1] Bacharel em Nutrição, pós-graduada em nutrição esportiva e estética, Faculdade São Camilo.

Enviado: Abril, 2021.

Aprovado: Maio, 2021.

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Thaís Kiffer Souza Andrade

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