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O transtorno de ansiedade (TA) na perspectiva da psicanálise

RC: 67515
31.061
4.4/5 - (25 votes)
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

FERREIRA, Florência Cavalcante de Sousa [1]

FERREIRA, Florência Cavalcante de Sousa. O transtorno de ansiedade (TA) na perspectiva da psicanálise. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 12, Vol. 02, pp. 118-128. Dezembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/transtorno-de-ansiedade

RESUMO

A presente pesquisa traz uma discussão a respeito do Transtorno de Ansiedade (TA) a partir da perspectiva da psicanálise, tendo como objetivo geral: compreender os fatores e as consequências da ansiedade na saúde do paciente. A metodologia utilizada para a elaboração desta pesquisa foi a análise bibliográfica de abordagem qualitativa. A pesquisa bibliográfica foi realizada a partir da pergunta norteadora: qual a perspectiva da psicanálise a respeito da ansiedade? Para a realização da coleta de dados, foram utilizados diversos instrumentos, como, por exemplo: livros, capítulo de livros, artigos científicos e publicações em sites especializados no assunto. Por fim, foi feita a leitura, análise, discussão e redação final de texto, utilizando as informações disponíveis. Este estudo evidenciou que, segundo a psicanálise, a ansiedade tem uma relação direta com a expectativa e a necessidade de pertencimento de algo que atuam como gatilhos para acionar os sintomas. O estudo concluiu que, os sintomas da ansiedade não são um desfecho do processo intrapsíquico, mas uma decorrência do esforço do sujeito de evitar situações conflitantes e que geram problemas.

Palavras-chave: Transtorno, ansiedade, psicanálise, Freud.

1. INTRODUÇÃO

A ansiedade pode ser definida como um quadro patológico que provoca no paciente uma preocupação exagerada sobre situações do cotidiano que podem se transformar em gatilhos de disparos para sintomas de embaraço que prejudicam a interação social e o desempenho em público.

Segundo Castillo (2000), tanto o medo quanto a ansiedade passam a ser consideradas como sintomas patológicos a partir do momento em que se tornam exagerados e desproporcional em relação ao estímulo. Geralmente, essas reações se desenvolvem em pessoas com predisposição neurobiológica herdada.

O sujeito com ansiedade passa a ter preocupações com diversas situações e pensamentos negativos que se apresentam de maneira exacerbada. Alguns sintomas surgem com frequência nos pacientes com ansiedade, como por exemplo, fadiga, dificuldades de concentração, irritabilidade, falta de ar, sensação de perigo, aumento ou queda de pressão arterial, mal-estar, entre outros.

De acordo com Castillo (2000), as pessoas com ansiedade apresentam medo com excesso, dificuldade de relaxar e geralmente são preocupadas com o julgamento de terceiros em relação ao seu desempenho pessoal, necessitando de estímulo para renovar a autoconfiança.

Dessa maneira, as situações comuns do cotidiano podem se transformar em ameaças constantes, fazendo com que o sujeito fique em estado de paralisia. A ansiedade pode afetar o convívio do paciente que passa a evitar situações em que possa existir risco a vida ou a segurança. Atualmente, é considerada um mal do século e se tornou objeto de estudo de diversos especialistas em psicanálise.

Segundo Silva (2020), a psicanálise está relacionada a vida e a obra de seu fundador, o neurologista e psiquiatra Sigmund Freud. Utilizando-se de elementos existentes a sua volta, Freud desenvolveu suas bases teóricas sobre a mente e o comportamento do ser humano, com o intuito de compreender a gênese da histeria, da neurose e da psicose.

De acordo com Silva (2020), Freud percebeu que a ansiedade é uma condição que afeta excessivamente o ser humano, pois seus distúrbios estão associados às reações do organismo diante de situações estimulantes, sendo um estado altamente desgastante e que tira as pessoas do controle de suas próprias vidas.

As mudanças de comportamento do ser humano e as novas exigências do mundo moderno, marcado pelo excesso de informações e atividades, provocam o estresse e elevam o nível de ansiedade na maioria das pessoas e afetam o convívio social. Por ser considerada um mal do século, a ansiedade é um assunto bastante recorrente no meio científico e necessita o máximo de atenção e estudo.

Diante do exposto surge uma problemática: De que forma a psicanálise aborda o Transtorno da Ansiedade?

Dessa maneira, a presente pesquisa se justifica, pois se faz necessário trazer uma discussão sobre a perspectiva da psicanálise a respeito do Transtorno de Ansiedade (TA), a caracterização dos distúrbios, fatores desencadeantes e mecanismos de defesa.

Por isso, a presente pesquisa foi se torna relevante, pois busca discutir a ansiedade numa perspectiva psicanalítica, trazendo novos elementos que possam enriquecer o debate a respeito do tema abordado.

Com o intuito de compreender o Transtorno de Ansiedade (TA) a partir de uma perspectiva psicanalítica, a pesquisa tem como objetivo geral: compreender os fatores e as consequências da ansiedade na saúde do paciente. Se tratando de objetivos específicos, podemos citar: analisar a caracterização dos distúrbios; identificar os fatores desencadeantes; relacionar os mecanismos de defesa aos sintomas da depressão.

A pesquisa é um estudo do tipo bibliográfico e com abordagem de variável qualitativa. A pesquisa bibliográfica foi elaborada a partir da pergunta norteadora: como a psicanálise aborda o Transtorno de Ansiedade (TA)? A coleta de dados foi feita através de estudos publicados sobre o tema no período entre 2010 e 2020. Após a coleta de dados, foi feita a seleção de estudos para análise completa do conteúdo, a leitura analítica dos textos, o fichamento das principais informações, análise e discussão dos resultados e, por fim, a redação final do texto.

2. O TRANSTORNO DE ANSIEDADE (TA) DE ACORDO COM A PSICANÁLISE

Dentro dessa perspectiva, discutir a o Transtorno de Ansiedade (TA)a partir de uma ótica psicanalítica “é um retorno à subjetividade, ao questionamento, à complexidade. O que caracteriza a psicanálise é a investigação da subjetividade, e o seu rigor é dado pela fidelidade aos seus pressupostos […]” (PERES, 2018, p 13).

Silva (2020) corrobora que, a ansiedade sempre desafiou a compreensão teórica pois se trata de um fenômeno bastante comum dentro da atividade clínica, sendo necessário encontrar ideias abstratas corretas para que sejam aplicadas ao objeto de observação com clareza.

Dessa maneira, Lent (2010) apud Silva (2020, p. 08) afirma que:

[…] o termo ansiedade é usado para se referir a um es­tado de tensão ou apreensão devido a uma expectativa. Esta manifestação é uma rea­ção normal. Contudo, quando provoca sofri­mento, passa a ser considerada patológica, pois chega a provocar distúrbios orgânicos.

Percebe-se que o nível de intensidade do fenômeno é um fator de risco que pode alterar o bem-estar da pessoa, provocando sintomas que podem desencadear sofrimento psíquico e prejudicar o convívio do sujeito.

Neste sentido, “indivíduos ansiosos são capazes de selecionar certos objetos em seu ambiente e ignorar outros, na tentativa de provar que estão certo ao considerar a situação, muitas vezes inofensiva, amedrontadora […]” (PERES, 2018, p. 11).

Desse modo, a antecipação de um evento futuro de forma temorosa gera instabilidade psíquica, principal característica da ansiedade. Podemos dizer que se trata de um estado de tensão diante de alguma expectativa. O que pode ser considerado normal se não houve sofrimento. Porém, esta manifestação se torna patológica quando provoca algum tipo de distúrbio no sujeito.

De acordo com Silva (2020), Freud dividiu a ansiedade em três categoria: Realista, Moral e Neurótica. Dessa maneira, a primeira se refere ao medo de algo existente no mundo exterior. Já a segunda, se trata de um medo se ser punido pelo sentimento de culpa. Por fim, a terceira está relacionada ao medo sem objeto reconhecido, ou seja, um temor de algo que pode ou não existir.

A ansiedade pode ser considerada como um sinal indicador para o organismo de necessidade de levantar defesas psicológicas. Dessa maneira, “a ansiedade represen­ta um papel central no funcionamento do aparelho psíquico” (SILVA, 2020, p. 09). Neste sentido:

Sigmund Freud salienta que a ansiedade é consequência de traumas da infância que foram rechaçados pelo Ego como um mecanismo de defesa para a evitação da dor. O autor também salienta a relação entre desamparo e a angústia de castração, onde a privação ou perda do objeto equivale à separação da mãe, fazendo com que o indivíduo vivencie a sensação do desamparo devido à sua necessidade pulsional, como no nascimento. (OLIVEIRA; SANTOS, 2019, p. 34)

Portanto, é preciso reconhecer que o fenômeno vai além de processos neuroquímicos como defende o discurso médico científico diante do diagnóstico de Transtorno de Ansiedade (TA).

Utilizando-se da referência freudiana, os autores afirmam que a ansiedade também pode ser um resultado de libido contida, seja pelos desejos não realizados, ou pelas experiências traumáticas ocorridas na infância e que se manifestam na fase adulta em forma de sintomas.

Por isso, discutir a ansiedade a partir de uma perspectiva psicanalítica é, segundo Peres (2018, p. 75),“uma forma de ‘subjetivar o diagnóstico’, através do retorno à subjetividade, ao sujeito, à fala, ao seu corpo, que é marcado por questões psíquicas, sociais e culturais, e não somente biológicas”.

Os transtornos de ansiedade, foram divididos em cinco categorias: transtorno de pânico (TP), fobias, transtorno obsessi­vo compulsivo (TOC), transtorno de estres­se pós traumático e transtorno de ansieda­de generalizada (TAG), sendo, portanto, um assunto complexo e que necessita de uma análise psicanalítica (SILVA, 2020).

Por fim, Peres (2018) afirma que, a ansiedade é definida pela psicanálise como uma tentativa do sujeito de encontrar solução para seus conflitos psíquicos, por isso, as pessoas com esse tipo de transtorno evita situações temidas ou as suportam com muito medo e insegurança.

2.1 A CARACTERIZAÇÃO DOS DISTÚRBIOS DO TRANSTORNO DE ANSIEDADE (TA)

Os distúrbios de ansiedade “estão relacionados a um grupo de respostas emitido pelo organismo diante de estímulos ou situações” (MONTIEL, 2014, 172). É importante destacar que, a ansiedade faz parte das reações normais do sujeito diante de estímulos reais e de situações de perigo existente, porém, se torna patológica quando essa reação é desproporcional à situação que a provoca.

A ansiedade pode ser considerada um estado emocional que envolve componentes fisiológicos e, sobretudo, psicológicos, tendo como característica a reação autônoma e as sensações subjetivas de antecipação.

Os distúrbios de ansiedade são definidos em função de diferentes características, de acordo com o tipo de suas manifestações episódica ou persistentes, sobre os fatores desencadeantes, problemas físicos ou psicológico e se estão ou não associados a outros transtornos mentais ou comportamentais. (MONTIEL, 2014, p. 173)

Partindo do pressuposto da “subjetivação o diagnóstico” a partir da psicanálise, podemos dizer que a compreensão dos distúrbios de ansiedade está fundamentada no processo de análise das informações, considerando a complexidade do fenômeno observado.

Dessa maneira, os distúrbios de ansiedade devem ser tratados como componentes do estado emocional do sujeito, pois a ansiedade “revela um estado de desprazer onde se dão momentos de descarga os quais existe a percepção destes” (OLIVEIRA; SANTOS, 2019, p. 36).

Segundo Montiel (2014), pessoas que desenvolvem transtornos de ansiedade possuem elementos cognitivos vulneráveis e catastróficos pré-existentes que podem contribuir para o surgimento de sintomas. Esses pressupostos levam o sujeito a estabelecer regras inapropriadas e desenvolver sintomas de vulnerabilidade.

Percebe-se que, os pensamentos catastróficos precedem o comportamento, porém, são inadequados à realidade, o que leva o sujeito a alterar sua percepção sobre a intensidade do estímulo e a natureza da situação vivenciada. Essa situação pode paralisar o sujeito ou fazer com que este passe a agir de maneira caótica, prejudicando ações e o convívio.

Conforme Montiel (2014, p. 173):

Nos distúrbios de ansiedade a autoimagem é distorcida, o meio ambiente é considerado como apresentando situações de risco, o futuro é caracterizado como algo incerto, fora de seu controle e como estando além das suas habilidades em lidar com tais situações.

Tais distúrbios podem fazer com que o sujeito desenvolva uma posição reativa e uma evitação fóbica, afastando-se de situações que possam provocar possíveis problemas e até risco à segurança pessoal. Desse modo, “situações rotineiras podem apresentar-se como ameaças constantes, fazendo com que o ansioso se encontre em um estado paralisante” (OLIVEIRA; SANTOS, 2019, p. 35).

A partir dos estudos analisados, podemos perceber que as principais características dos distúrbios de ansiedade são as expressões inadequadas de medo excessivo e os padrões de pensamentos catastróficos que provocam comportamentos desadaptativos, ou seja, comportamentos adquiridos na infância e que quando adultos se tornam disfuncionais, provocando sofrimento no sujeito.

2.2 OS FATORES DESENCADEANTES DO TRANSTORNO DE ANSIEDADE (TA) E OS MECANISMOS DE DEFESA

No princípio, Freud considerava a ansiedade um fenômeno natural e acreditava que era resultado de fatores herdados biologicamente, sendo um aspecto vital para a sobrevivência humana. Entretanto, em seguida ele reformulou sua teoria e procurou explicar a importância e o lugar da ansiedade na vida psíquica do sujeito (OLIVEIRA; SANTOS, 2019).

Segundo os autores anteriormente citados, alguns fatores rotineiros como, por exemplo, o desamparo social e a necessidade de ser aprovado ou pertencer algum grupo ou classe, podem provocar gatilhos para o surgimento de sintomas relacionados ao medo e à insegurança.

Ainda se tratando de fatores desencadeantes da ansiedade, vale destacar que, “é bem provável que as causas precipitantes imediatas das repressões primitivas sejam fatores quantitativos, como uma força excessiva e o rompimento do escudo protetor contra os estímulos” (OLIVEIRA; SANTOS, 2019, p. 40).

As repressões primitivas podem se manifestar a partir de duas situações distintas: “quando um impulso instintual desconfortável e de grande mal-estar é provocado pela percepção do externo ou quando surge sem qualquer provocação (OLIVEIRA; SANTOS, 2019, p. 40).

Podemos perceber que, as repressões primitivas acontecem devido aos mecanismos de defesas do organismo diante dos estímulos externos existentes, ou seja, a tentativa do ego de solucionar os impulsos provocados pela exposição ao fenômeno desencadeante.

Segundo Silva (2020), os mecanismos de defesas são reações protetivas diante dos possíveis estímulos, fazendo com que o sujeito passe a tomar medidas defensivas exageradas, o que afeta seu comportamento e, consequentemente, seu convívio com outras pessoas.

Um mecanismo de defesa é uma ma­nipulação da percepção que tem como in­tuito proteger o indivíduo da ansiedade. A percepção pode ser de episódios internos, tais como os sentimentos e impulsos, ou de episódios exteriores, tais como os sen­timentos dos outros ou as realidades do mundo (SILVA, 2020, p. 10).

A partir da bibliografia analisada e de acordo com o vocabulário psicanalítico, podemos descrever os mecanismos de defesas mais comuns entre o ser humano: mecanismos de defesas psíquicas e sensoriais.

Segundo Silva (2020), são os meca­nismos de defesas psíquicas: Regressão, Recalque, Isolamento, Formação Reativa, Identificação, Projeção e Sublimação.

A regressão “dá-se esse termo, ao processo que conduz a atividade psí­quica, a uma forma de atuação já su­perada, evolutiva e cronologicamente mais primitiva do que a atual” (SILVA, 2020, p. 10).

O recalque, de acordo com Silva (2020), é a intervenção pela qual o sujeito procura afastar ou manter no inconsciente as representações associadas a uma pulsão, como, imagens, pensamentos e recordações.

O isolamento “faz com que se considera separado aquilo que a realidade permanece unido, exemplo, quando da relação entre a cena traumática, o conflito ou o desejo recalcado e o sintoma que foi reprimido” (SILVA, 2020, p. 10).

Outro mecanismo de defesa é a formação reativa. Segundo Silva (2020), trata-se de uma proteção da ansiedade a partir da manipulação da percepção interna, fazendo com que, o sujeito perceba de forma equivocada um sentimento exatamente oposto ao seu.

A identificação, outro mecanismo de defesa citado por Silva (2020, p. 11), “representa a forma mais arcaica de uma vinculação afetiva. Consiste em transferir as representações do objeto para o eu/self. A identificação pode ser parcial ou total”. A autora complementa ainda que a identificação pode ser: projetiva, introjetiva e por deslocamento.

Já a projeção é uma “operação na qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro tudo aquilo que é seu: qualidades, sentimentos, dese­jos que ele desconhece ou recusa. Trata-se de uma defesa de origem arcaica” (SILVA, 2020, p. 11).

Vale destacar que a projeção é um mecanismo em que o sujeito passa a atribuir suas próprias qualidades negativas a um objeto externo, como se fosse realmente uma característica do objeto. De acordo com o estudo analisado, as formas de projeção mais comuns são: depositada, fantasias projetivas, generalização projetiva, pensamento reverberante e transferência de culpa.

Por fim, a sublimação consiste:

[…] na adapta­ção lógica e ativa as normas do meio am­biente, com proveito para nós mesmos e para a sociedade, dos impulsos de id, re­chaçados como tais pelo eu/self, numa fun­ção harmoniosa com o superego. Isto se constitui uma forma de satisfação, visando o social.

A partir das informações, podemos perceber que, os mecanismos de defesas psíquicas estão relacionados a tentativa do ego de manter o sujeito afastado do perigo com o mínimo de estímulo possível e impedir que este seja dominado pelas três variedades de ansiedade descritas anteriormente: realista, moral e neurótica.

Já os mecanismos de defesas sensoriais estão relacionados aos ajustes fisiológicos que extrapolam os limites do Sistema Nervoso Autônomo e atingem o sistema imunitário e endócrino.

Para exemplificar, Silva (2020) diz que, a glândula supra renal (lo­calizada numa região do corpo próxima aos rins), tem ligação direta com o Sistema Nervoso Autônomo (hipotálamo, hipófise e medu­la espinhal) e por isso, o comando dessa glândula é um mecanismo de defesa sensorial da ansiedade.

A autora corrobora que: “devido a ativação do eixo simpático, a adrenalina produzida pela medula das glândulas suprarrenais, entra na circulação sanguínea e provoca taqui­cardia e constrição dos vasos sanguíneos periféricos” (SILVA, 2020, p. 12).

De acordo com Silva (2020), é importante destacar que, enquanto a medula das glândulas suprarrenais produz adrenalina, o córtex dessas glândulas libera cortisol, mais conhecido como o hormônio do estresse, que, quando produzido em quantidades adequadas contribui na adaptação de situações estressantes, porém, quando em excesso, pode provocar o aumento da pressão arterial, baixa imunidade e déficit de memória.

Portanto, tanto os mecanismos de defesas psíquicas quanto sensoriais, agem no organismo como reações de proteção diante dos estímulos, o que leva o sujeito a agir de forma defensiva, afetando, sobretudo, o comportamento e o convívio com o meio social.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo evidenciou que, a ansiedade é uma reação defensiva do organismo, ou seja, uma espécie de sinal de alerta diante dos estímulos existentes e dos perigos iminentes, sejam reais ou imaginários. Além disso, a ansiedade leva o sujeito a tomar medidas de proteção para enfrentar uma ameaça, caracterizando-se como uma resposta a uma ameaça vaga ou sem origem objetiva.

A ansiedade pode prejudicar a capacidade do sujeito de discriminar situações, fazendo com que este selecione e exclua objetos ao seu redor apenas com o intuito de provar que estar certo ao ponderar a situação como perigosa. Neste sentido, Silva (2020) afirma que a ansiedade pode levar o sujeito a fazer generalizações ou considerar determinadas situações de maneira excessiva e mal adaptada.

Já os distúrbios de ansiedade estão relacionados às respostas emitidas pelo organismo diante de situações que geram temor o risco a vida do sujeito e são definidos a partir de suas características e do tipo de manifestação (episódica ou persistente) diante dos fatores desencadeantes.

A partir da bibliografia analisada foi constatado que os distúrbios podem provocar preocupações excessivas diante de determinadas situações corriqueiras, comprometendo, de maneira significativa, a qualidade de vida do sujeito e seu convívio social.

A pesquisa constatou também que, o Transtorno de Ansiedade (TA) tem como fatores desencadeantes, o desamparo social, a necessidade de pertencimento de grupo e de aceitação pessoal. Esses fatores disparam gatilhos para o surgimento de sintomas associados ao medo.

Portanto, podemos dizer que, a maior contribuição da psicanálise para a compreensão do Transtorno de Ansiedade (TA) foi sem dúvida o retorno à subjetividade, ao questionamento e à complexidade, ou seja, a “subjetivação do diagnóstico”. O sujeito voltou ser considerado como um todo, seu eu, sua fala, seu pensamento, seu comportamento, seu corpo e etc. Um sujeito marcado por questões sociais, econômicas, culturais, psíquicas e não somente biológicas.

REFERÊNCIAS

BUENO, Laura de Oliveira. A ansiedade em situações escolares. Monografia (Especialização em Psicologia Escolar) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre: UFRGS, 2011, 33 p. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/62113/000867504.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 21 out. 2020.

CASTILLO, Ana Regina Geciauskas Lage. et al. Transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22 (Supl. II), p. 20-3, 2000.Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3791.pdf>. Acesso em: 21 out. 2020.

MONTIEL, José Maria; BARTHOLOMEU, Daniel; MACHADO, Afonso Antonio; PESSOTTO, Fernando. Caracterização dos sintomas de ansiedade em pacientes com transtorno de pânico. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 34, n. 86, 2014, p. 171-185.Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2014000100012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 21 out. 2020.

OLIVEIRA, Karina Marques Ferreira de; SANTOS, José Wellington dos. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA EM ADULTOS – UMA VISÃO PSICANALÍTICA. Revista Científica Eletrônica de Psicologia. 33ª Ed. Garça-SP: FAEF, v. 33, n. 01, p. 33-46, 2019. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/FYY6Zr6VVlSRzo9_2020-1-18-8-48-55.pdf>. Acesso em: 21 out. 2020.

PERES, Karoline Rochelle Lacerda. Transtorno de Ansiedade Social: psiquiatria e psicanálise. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) Universidade de São Paulo (USP). São Paulo: USP, 2018, 80 p. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-26102018-165234/publico/peres_me.pdf>. Acesso em: 21 out. 2020.

SILVA, Maria Bernadete Lima Maia. As contribuições da Psicanálise na Neurometria Funcional no controle da ansiedade. Revista Científica de Neurometria, Ano 4 – Número 6 – abril de 2020. Disponível em:<https://www.neurometria.com.br/article/vol6a1.pdf>. Acesso em: 21 out. 2020.

VIANA, Milena de Barros. Mudanças nos conceitos de ansiedade nos séculos XIX e XX: da “Angstneurose” ao DSM-IV. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). São Carlos: UFSCar, 2010, 204 p. Disponível em: <https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/4780/3194.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 21 out. 2020.

[1] Pós-graduada em planejamento Educacional, graduada em Pedagogia.

Envaido: Novembro, 2020.

Aprovado: Dezembro, 2020.

4.4/5 - (25 votes)
Florência Cavalcante de Sousa Ferreira

15 respostas

  1. Artigo muito bom, tem muitas informações necessárias e básicas nessa área do conhecimento, muito obrigado.

  2. Amei o artigo, fico agradecida por poder encontrar informações tão uteis e essenciais tão organizadas!
    Obrigada por oferecer tal entretenimento junto a informação, foi ótimo poder descobrir mais sobre esse tema ainda tão abstrato!

  3. Obrigada pelo excelente artigo. Consegui entender o que realmente é ansiedade. Parabéns. Quando se tem conhecimento exato do problema fica mais fácil a aceitação do tratamento. Que DEUS lhe proteja

  4. Adorei o artigo!
    Muito bem escrito, usando as regras gramaticais com perfeição facilitando
    portanto a compreensão e interpretação.

  5. Que artigo maravilhoso! Parabéns pelo riquíssimo conteúdo.
    Me formei em Psicopedagogia, que tem uma de suas bases na psicanálise. Me apaixonei ainda mais na psicanálise ?.

  6. O artigo é muito bom. Mas ali na avaliação está “9 votes”, corrigir a ortografia.

  7. Sou pedagoga, fiz psicopedagoga e agora terminando psicanálise clínica. Abrindo seu artigo, percebi o quanto Enrique com seu vasto conteúdo de grande valia para quem valoriza o humano

  8. Sou pedagoga, fiz psicopedagogia e agora terminando psicanálise clínica. Abrindo seu artigo, percebi o quanto é valioso seu vasto conteúdo
    para quem valoriza o humano

  9. Sou Psicólogo Clínico de outra linha de abordagem. Parabéns, o teu artigo está tão claro ou esclarecedor que me fez assimilar e gostar totalmente da Psicanálise. A partir desta leitura, decido ser psicanalista, já não é uma fuga minha de algo temido, mas virou um sonho. Fui curado agora. Muito obrigado e gostaria de te seguir nas redes sociais.

  10. Olá!
    Sou Estudante de Psicanálise, aqui destaco as iniciais em maiúsculas, por dar a importância que esta área do conhecimento merece.
    Fico feliz que numa época de mudanças generalizadas, encontro um psicólogo ungido de bom senso e imparcialidade reconhecendo a Psicanálise como berço das investigações das causas que levam o ser humano a sofrer.
    Acredito que no momento certo, as correntes contrárias a essa Ciência, sejam humildes o bastante, para serem curadas dessa patologia egocêntrica pelo instrumento que as condena.
    Parabéns!
    Verdadeiros profissionais são aqueles que se preocupam com a cura e não com a quem descobriu.

  11. Excelente artigo! Elucidativo e muito didático! Como estudante de Psicanálise, fico muito grata com a contribuição. 🙂

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