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Psicologia hospitalar: atuação com pacientes terminais e seus familiares

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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

SANTOS, Jhully Ruane Romão [1], CARVALHO, Luciane da Silva [2]

SANTOS, Jhully Ruane Romão. CARVALHO, Luciane da Silva. Psicologia hospitalar: atuação com pacientes terminais e seus familiares. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 09, Vol. 11, pp. 51-61 Setembro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

A psicologia hospitalar é um campo de atuação da psicologia da saúde que busca tratar os aspectos psicológicos em torno do adoecimento. Nesse contexto, o psicólogo pode se deparar com situações onde não há possibilidades de cura médica para o paciente. Dentre estas situações temos o diagnóstico terminal. Já que curar não é possível, resta ao paciente e família receber todos os cuidados necessários na fase da terminalidade. O objetivo desse trabalho é abordar a atuação do psicólogo hospitalar e a importância do atendimento psicológico aos pacientes em fase terminal e seus familiares e os impactos causados pelo diagnóstico. Para alcançar os objetivos utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica de caráter descritiva e exploratória. Partindo do pressuposto de que o diagnóstico terminal causa impactos na vida do sujeito, observou-se que a assistência psicológica na terminalidade é imprescindível tanto para o paciente quanto para seus familiares, pois o profissional de psicologia tem a possibilidade proporcionar suporte psicológico em prol de um cuidado humanizado a esses sujeitos, visando uma melhor qualidade de vida diante desse quadro que é carregado de medos, incertezas e angústias por estarem diante de uma doença incurável.

Palavras-chave: Psicologia hospitalar, Diagnóstico Terminal, Morte, Luto.

INTRODUÇÃO

A morte, o último ato do ciclo de vida humana, mesmo sendo um fenômeno natural e inevitável, ainda é um tema considerado tabu, pouco discutido. A sociedade contemporânea com seu ritmo frenético tende a negar a finitude do homem. Em sua análise sócio-histórica, Ariés (2003) nos ensina que a partir do século XX a morte, antes esperada no leito, passa a ser um acontecimento do hospital, onde o doente perde o direito de decidir sobre seu destino final e seu último direito, o de saber quando o seu fim se aproxima, é violado.

É nos ambientes hospitalares onde o fantasma da morte está sempre rondando, que ocorre o embate entre vida e morte. Moritz et al (2008), em um estudo sobre doença terminal e cuidados paliativos referem que 70% das mortes no mundo ocorrem em hospitais, nas Unidades de Terapia Intensiva. Nesse cenário traumático, repleto de tensões e emoções, onde a capacidade de suportar frustrações e dor é constantemente colocada em prova, o manejo com pacientes, familiares e profissionais irá exigir do psicólogo conhecimentos e intervenções que possam vir a amenizar o sofrimento causado pelas perdas inevitáveis.

O presente artigo abordará a atuação do psicólogo no contexto hospitalar com pacientes terminais e seus familiares e a importância do atendimento psicológico para estes, levando em consideração os impactos psicológicos causados pelo diagnóstico terminal.

Baseado no pressuposto de que o diagnóstico terminal traz conseqüências emocionais e psicológicas ao paciente e aos seus familiares, pode-se constatar a necessidade do atendimento psicológico nesse momento para auxiliar o paciente desde o diagnóstico e dar o suporte à família. Desse modo, o objetivo desse trabalho é investigar a atuação do psicólogo no contexto hospitalar e analisar como essa assistência pode ajudar o paciente em fase terminal e seus familiares, buscando também compreender como o diagnóstico terminal afeta psicologicamente o paciente e a família.

Com isso, a pesquisa demonstrará, a partir de uma revisão bibliográfica, que a assistência psicológica no contexto hospitalar é de grande relevância tanto para o paciente quanto para seus familiares, sendo que esse profissional por meio de suas técnicas tem a possibilidade de dar suporte psicológico que pode proporcionar a esses sujeitos uma melhor qualidade de vida diante desse quadro de finitude.

E O PSICÓLOGO ADENTRA NOS HOSPITAIS

No Brasil, a Psicologia Hospitalar tem seu início em 1954 com Matilde Neder, que desenvolvia um trabalho na Clínica Ortopédica e traumatológica e Instituto de reabilitação da USP, convidada pelo Dr. Carvalho para acompanhar pacientes que eram submetidos à cirurgia da coluna. O trabalho de Matilde Neder gerou grande repercussão na história da Psicologia e da Psicologia Hospitalar no Brasil (ANGERAMI-CAMON, 2004). A partir de então, os psicólogos vão sendo inseridos nessa área e passam a compor a equipe multiprofissional dos hospitais e, apesar do difícil começo, é um campo de atuação da psicologia que cresce a cada dia.

Sendo o hospital um ambiente onde prevalece o olhar biomédico, em que o paciente é visto apenas pela via do organismo enquanto corpo, a inserção da psicologia no cenário hospitalar surge pela necessidade de se olhar o indivíduo como um ser biopsicossocial.

Para Simonetti (2015), a psicologia hospitalar é o campo de tratamento dos aspectos psicológicos envolvidos no adoecimento e visa proporcionar intervenções sobre indivíduos que estão hospitalizados, diminuindo os aspectos que podem interferir sobre o processo de saúde e doença. O autor lembra que, tendo como campo de atuação a psicologia da saúde, o setting terapêutico do psicólogo é o hospital e o público são os pacientes, os seus familiares e a equipe de saúde. No hospital, o objetivo do médico é curar e salvar, sua atenção está voltada para o biológico, enquanto a psicologia visa que o sujeito, constituído de subjetividade, crença, cultura e costumes, se reposicione em relação à doença.

Nos aspectos psicológicos, quando perante uma situação de doença, temos as manifestações da subjetividade humana, como os sentimentos, emoções, pensamentos, crenças e outras. Esses aspectos são conseqüências do conjunto de significados que cada indivíduo dá a sua doença e a sua hospitalização, e que, conseqüentemente, poderão interferir no processo de saúde e doença.

Simonetti (2015) afirma que o objetivo do psicólogo hospitalar é acessar à subjetividade do sujeito através da escuta, deixando-o livre para falar do que o aflige, suas angústias, seus medos, seus sentimentos e desejos, e auxiliá-lo na travessia do processo de adoecimento buscando amenizar os impactos psicológicos que o diagnóstico provoca.

Por outro lado, Angerami-Camon (2010) diz que o principal objetivo do psicólogo hospitalar é minimizar o sofrimento causado pela situação de hospitalização, visto que esta traz inúmeras conseqüências para o indivíduo como ter sua intimidade invadida, seu trabalho suspenso, suas relações sociais impossibilitadas, e a mudança de caracterização, quando deixa de ser um sujeito e passa a ser caracterizado por um diagnóstico ou um número de leito.

Além dos pacientes, há também os familiares e a equipe de saúde que tem suas próprias demandas a serem tratadas e que também são foco das intervenções do psicólogo hospitalar. Simonetti (2015, p. 18) afirma que “A psicologia hospitalar define como objeto de trabalho não só a dor do paciente, mas também a angústia declarada da família, a angústia disfarçada da equipe e a angústia geralmente negada dos médicos”.

Ao ser internado no hospital, o paciente passa a lidar com a gravidade da doença, um ambiente físico desconhecido, passam a ser conhecidos pela equipe por número de leito, e vivem fisicamente na dependência de outros, roupas e objetos impessoais, imposição de horários para algumas atividades e na maior parte dessa nova realidade vive a ausência da família (PREGNOLATTO; AGOSTINHO, 2003).

Além disso, o individuo sofre perdas tanto físicas quanto da sua subjetividade, passa a viver inclusive sem garantias do dia de amanhã, não sabe como será sua vida depois da internação, nesse processo muitas vezes o sujeito precisará (re)significar sua vida, visto que enquanto permanecer internado. A rotina de vida do indivíduo será alterada, sendo que este ficará isolado de suas funções e passará a viver sob cuidados de uma equipe de saúde (RODRIGUES, 2006).

No contexto hospitalar, o psicólogo também se depara com casos onde a doença avança e a cura não é mais possível, ou seja, quando o paciente recebe o diagnóstico terminal. Então outros recursos passam a ser utilizados e a prática do psicólogo é imprescindível para o paciente e seus familiares nessa realidade de terminalidade.

PACIENTE E FAMÍLIA DIANTE DO IMPASSE DA TERMINALIDADE

O conceito de paciente terminal, segundo Gutierrez (2001), não é algo simples de ser estabelecido, visto que a avaliação do paciente é feita por uma equipe de profissionais. Quando a equipe reconhece que não se tem mais possibilidade de cura e que a vida do indivíduo está encaminhando-se para a fase final, não significa dizer que não há nada a fazer por esse paciente, e sim que resta a essa pessoa os cuidados paliativos que visam diminuir a dor e sofrimento causado pelo avanço da doença.

Domingues et al. (2013) consideram pacientes terminais, as pessoas que se encontram em um estado de saúde tão prejudicado em que a doença está em grau muito elevado e não se tem mais possibilidade de cura. Quando o paciente recebe a notícia de diagnóstico terminal, a terminalidade passa a fazer parte das conseqüências do avanço da doença. No momento em que se esgotam as chances de recuperar a saúde do paciente, a possibilidade de morte desse sujeito é inevitável.

Receber informações sobre um quadro clínico de saúde em que há possibilidade de morte provoca medo em todos os seres humanos, esse momento tão delicado pelo qual o paciente e os familiares passam pode causar vários sofrimentos para o indivíduo como solidão, afastamento dos entes queridos, perdas financeiras, perda da autonomia do próprio corpo, etc. (SOAVINSKY, 2009).

Por esses e outros motivos que esse diagnóstico é responsável por um grande impacto psicológico no paciente e seus familiares. Nele há a certeza da temida morte para o paciente e a perda de um ente querido para a família, ambos precisam encontrar meios de lidar com essa nova situação que é repleta de sentimentos e emoções fortes.

Outros autores (MACIEL, 2012; ARAÚJO; SILVA, 2012) afirmam que o sofrimento psíquico diante da doença terminal inclui ansiedade, medo, depressão, perda da dignidade, solidão, medo de se tornar um estorvo e de causar sofrimento aos entes queridos, medo de que seus sentimentos não sejam valorizados e de ser abandonado e outros impactos emocionais como a tristeza, baixa autoestima e autoimagem alterada, medo de se tornar incapaz, medo da dor, medo da morte e de estar sozinho, e o luto pelas perdas antecipadas como a vida que tinha, os relacionamentos e o trabalho.

Além disso, Silva (2010) aponta que os pacientes em estado terminal passam por um sofrimento físico e psíquico muito intenso, mas que estas pessoas lutam de alguma forma, dia após dia, para viver um segundo a mais.

TERMINALIDADE E MEDO DA MORTE

Ao longo do século XX a morte era vista como um tabu, interdita, vergonhosa. A partir dos avanços e do desenvolvimento da medicina ocorreu a possibilidade de proporcionar a cura de várias doenças, prolongando a vida, mas o medo da morte ainda se faz presente na nossa sociedade (KOVÁCS, 2003).

O temor que o ser humano tem da morte faz com que seja encarada como um tabu, algo que não pode ser nem abordado e discutido, pode-se observar isso quando os familiares não querem que o seu ente saiba que está doente, ou quando já sabe evita-se falar sobre sua morte. Infelizmente, isso não é saudável para o paciente que acaba por não externar suas angústias ou se despedir das pessoas que ama.

O medo da morte se dá por esta ser um momento solitário e impessoal, muitas vezes o paciente é retirado de sua casa e levado a uma sala de emergência ou uma UTI, separado de sua família e sofrendo procedimentos invasivos, além de ser tratado como alguém que não tem o direito de opinar e participar das decisões sobre sua internação, aos poucos é tratado como um objeto, deixa de ser a pessoa que toma suas próprias decisões.

Mesmo assim, cada paciente lida à sua maneira com seu diagnóstico e a proximidade da morte, pois isso envolve cultura, personalidade, crenças, estilo de vida e subjetividade. Alguns podem se deparar com sentimentos extremos como medo terrível da morte, alto nível de ansiedade, sensações de desvinculação, desamparo e outros.

Kubler-Ross em seu trabalho com pacientes terminais observou cinco estágios que eles podem vivenciar após o diagnóstico de uma doença incurável, ela os classifica como mecanismos para lidar com a morte e o morrer.

O primeiro estágio é negação e isolamento, dá-se pelo choque do diagnóstico, é uma negação na maioria das vezes temporária, o paciente não acredita no que está acontecendo. Essa negação pode ser percebida em frases como “não pode ser verdade” ou “isso não está acontecendo comigo”, a negação é normal em reação a uma notícia inesperada e chocante, e está presente na maioria dos pacientes (KÜBLER-ROSS, 2008).

Por ser uma defesa temporária, devido a um choque, a negação logo é substituída por outro sentimento ou mecanismo, após esse momento de negação o paciente estará mais acessível ao diálogo sobre sua doença.

Quando o paciente não consegue mais manter a negação, surge então o segundo estágio: a raiva, nele encontra-se os sentimentos de revolta, ressentimento e a pergunta “por que eu?” Esse estágio é o mais difícil para a equipe e os familiares, pois o paciente descarrega sua raiva em qualquer coisa ou qualquer pessoa (KÜBLER-ROSS, 2008).

A autora acrescenta que o terceiro estágio é a barganha, é uma tentativa de adiamento da morte, a pessoa comporta-se bem buscando ser recompensado com a cura como prêmio, pode incluir também metas e promessas. As barganhas geralmente são feitas com Deus e mantidas em segredo, podem estar associadas à culpa, o que pode ser investigado pela equipe.

No estágio da depressão, aquela raiva e revolta dão lugar ao sentimento de perda. Há dois tipos de depressão: a primeira é a depressão reativa, como conseqüência da perda de uma mama ou o útero para o câncer, uma cirurgia facial, etc., o que pode interferir na autoimagem ou personalidade; O segundo tipo de depressão é a preparatória, pois leva em conta a perda iminente de tudo e todos que ama. Kubler-Ross (2008, p. 93) diz: “Se deixarmos que exteriorize seu pesar, aceitará mais facilmente a situação e ficará agradecido aos que puderem estar com ele neste estado de depressão sem repetir constantemente que não fique triste”.

O quinto e último estágio é a aceitação, é o fim da luta contra a morte, não haverá mais depressão nem raiva, a pessoa teve tempo necessário para superar o que o diagnóstico lhe causara, para falar de seus sentimentos, sua raiva, suas angústias e medos, e poderá enfrentar sua morte com certo grau de tranquilidade. Nesse estágio, a família precisa mais de ajuda e apoio do que o próprio paciente, visto que para ele a dor e a luta cessaram, enquanto para a família é a perda do ente querido que está se aproximando.

Vale ressaltar que nem todos os pacientes terminais passarão por todos os estágios, ou que eles aparecerão na ordem, alguns podem passar pelo processo de morrer sem necessariamente apresentar todos os mecanismos. Por exemplo, quanto mais lutam negando a realidade da morte inevitável e se agarram à esperança, mais difícil se torna atingir o estágio da aceitação.

Quanto a essa esperança, pode-se dizer que é a única coisa que geralmente está presente em todos os estágios, pois até mesmo os mais conformados ainda apresentam certo grau de esperança, mesmo que seja disfarçado.

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM PACIENTES TERMINAIS E SEUS FAMILIARES

A atuação do psicólogo junto ao paciente e sua família está interligada a vários profissionais e cada profissional exerce um papel importante para minimizar os sofrimentos dos sujeitos. Cada membro da equipe vai ajudar no processo terapêutico de acordo com o saber de cada um, o objetivo principal é garantir que as necessidades do paciente, da família e da equipe possam ser reconhecidas e atendidas.

Segundo as autoras Porto e Lustosa (2010), o papel do psicólogo é proporcionar um novo direcionamento ao paciente sobre a qualidade de vida. Nessa perspectiva, a atuação do profissional de psicologia é propor intervenções que possibilitem o bem-estar do paciente e da sua família frente à fase terminal.

Com relação a essa atuação, Hermes e Lamarca (2013) propõem que as intervenções dos psicólogos residem em diminuir os sofrimentos que possam ser gerados no sujeito como ansiedade, depressão etc. As assistências psicológicas estão tanto nos níveis de prevenção, como nas diversas etapas do tratamento que o indivíduo vai ser submetido.

Melo et al. (2013), complementam que a atuação do psicólogo com os pacientes também é proporcionar ao sujeito a elaboração de pensamentos reconfortantes sobre o processo do morrer, como despedidas, os silêncios, etc. Essas ações ajudam os sujeitos a pensarem sobre possibilidades de intervenções que podem contribuir para a sua expectativa de vida.

Com isso, cabe ao psicólogo aproximar-se da dimensão afetiva do paciente, oferecer-lhe escuta para que ele possa ressignificar sua vida, a qual foi transformada pela presença da doença, proximidade da morte e o conseqüente sofrimento. Nesse processo os principais objetivos são: resgatar e reforçar mecanismos de enfrentamento para que ele possa lidar com a situação de doença, ressignificar mágoas, medos e culpas, incentivar a aceitação e atribuição do significado pessoal ao adoecimento e morte, bem como identificar e atuar sobre fatores de risco patológico (GUIMARÃES et al, 2012).

Os autores apontam que as intervenções psicológicas são feitas em diferentes formatos, pois parte das necessidades de quem precisa ser cuidado do ponto de vista emocional: o paciente ou cuidador.

Ainda dentro das possíveis intervenções psicológicas, Hermes e Lamarca (2013) mencionam que o psicólogo pode ajudar a família a quebrar o silêncio em relação ao processo de adoecimento do seu ente querido, sendo que os profissionais podem fornecer técnicas para trabalhar com a família a quebra do silêncio em relação ao adoecimento e tratamento, visto que em muitos casos os familiares preferem manter os pacientes sem informações sobre o seu estado de saúde. As autoras entendem que o trabalho do psicólogo com a família consiste em atuar nas desordens psíquicas que geram estresse e ansiedade, depressão e sofrimento sendo que o profissional da psicologia fornece suporte emocional para a família, lidar com as diferentes fases da doença levando a desenvolver junto ao paciente a autonomia para lidar com o tratamento.

Kira (2008) sustenta que, embora já se tenha esclarecido a todos (paciente e familiares) que a morte faz parte do processo da vida, os últimos momentos de vida são bem marcantes, já que é nesse período final em que se tem a possibilidade de acertos e despedidas e por ser um momento muito emocionante os níveis de estresse e ansiedade ficam bem elevados. Nesses últimos momentos de vida é de grande relevância que a autonomia do paciente seja trabalhada, também é nesse momento que o paciente vai decidir sobre o local em que vai passar seus últimos dias.

No período final da vida resta ao paciente lidar com sintomas desconfortantes, dor, incapacidade para realizar algumas atividades devido aos avanços da doença, e nesse momento que o psicólogo vai proporcionar atendimentos que fortaleçam a família, trabalhando com os mesmos os enfrentamentos da fase final do paciente, afetividade dos cuidadores, despedida e preparar a família para perda do ente querido, ou seja, trabalhar o luto.

O luto é um processo individual e subjetivo e que não existem regras e nem fases determinadas que ajudem no enfrentamento, ou seja, o luto é diferente para cada sujeito e a equipe que trabalha nos cuidados paliativos com a família pode ajudar a seguir em frente por meio de intervenções acolhedoras (GENEZINI, 2012).

Em resumo, a assistência que o psicólogo presta aos pacientes que estão vivenciando a fase terminal da vida é de ajudá-los a compreender sua real situação e a lidar com as questões relacionadas à morte, e aos familiares podem proporcionar suporte emocional e psicológico para lidar com a perda do seu ente querido, ou seja, é a assistência no diagnóstico, no prognóstico e após a morte, para os familiares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do ponto de vista psicológico, apesar dos avanços tecnológicos e medicamentosos na área da medicina, a doença e a morte ainda são muito estigmatizadas, e esses estigmas estão sempre relacionados a sentimentos negativos que podem ser observados nos pacientes terminais, seus familiares e até mesmo na equipe de saúde.

As conseqüências emocionais estão quase sempre presentes em uma hospitalização e diagnóstico de uma doença, por isso a importância do psicólogo no hospital, para dar escuta a esse público que muitas vezes está carregado de angustias e dor.

A intervenção do psicólogo é algo que vai além do orgânico e da tecnologia e está relacionada com os sentimentos psíquicos que cada sujeito tem sobre a sua doença, e este profissional, a partir de sua técnica, tem a possibilidade de conduzir o paciente a um melhor enfrentamento de sua enfermidade e promover seu bem-estar e de sua família frente à fase terminal. Além disso, com o suporte teórico e técnico que lhe é peculiar, pode contribuir junto à equipe para proporcionar aos adoecidos melhores condições para lidar com seus sofrimento e incertezas que podem surgir no decorrer desse processo de adoecimento.

Além disso, as intervenções do psicólogo oferecem ao paciente e seus familiares atendimentos humanizados, cujos direitos e autonomia devem sempre ser respeitados, os profissionais envolvidos no tratamento buscam a qualidade de vida dos pacientes e a compreensão do sujeito em sua totalidade, oferecendo assim condições para que o mesmo possa viver seus últimos dias de vida com dignidade.

REFERENCIAS

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[1] Psicóloga, Pós-graduanda em Saúde mental (ESAMAZ)

[2] Psicóloga, Pós-graduanda em Saúde mental (ESAMAZ)

Recebido: Dezembro de 2017

Aprovado: Setembro de 2018

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Jhully Ruane Romão dos Santos

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