ARTIGO ORIGINAL
BARROS, Angélica Priscila Araújo [1]
BARROS, Angélica Priscila Araújo. Luto nas metamorfoses: atuação do psicólogo escolar junto aos alunos no período de entrada e saída da escola. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 01, Vol. 08, pp. 05-17. Janeiro de 2019. ISSN: 2448-0959
RESUMO
O entrelaçamento entre psicologia e educação tornou possível o surgimento de um novo profissional, o psicólogo escolar, este que possui um leque de possibilidades na forma de atuação. Tal artigo busca perceber e problematizar a atuação deste profissional voltada para a adaptação do aluno, considerando o longo período de tempo que estes passam no colégio. Evidenciando os lutos vivenciados nas grandes metamorfoses, seja no período de entrada ou saída da escola.
Palavras chave: Adaptação, psicologia escolar, atuação do psicólogo.
INTRODUÇÃO
O psicólogo escolar, emergente da relação psicologia e educação, tem como intuito facilitar o processo ensino-aprendizagem. Possuindo ainda um leque de possibilidades de atuação, como avaliação, diagnóstico e atendimento das crianças com dificuldade em aprender. Além de formação e orientação de professores, alunos e pais; elaboração e coordenação de projetos específicos, participação no processo de relação dos membros da equipe e avaliação de trabalho, dentre tantos outros.
O principal campo de atuação desse profissional, mas não o único, é a escola, a qual é considerada como componente significativo para a educação teórico-prática e desenvolvimento daqueles que comporão a sociedade, sendo caracterizada por ser um locus possibilitador de conhecimento, reflexões e indagações. As crianças adentram a estas instituições de ensino, a principio, por uma necessidade dos pais, principalmente a partir do momento que a mãe ingressa no mercado de trabalho. Porém, ao longo do tempo, a escola deixa de possuir um caráter assistencialista e subsidiar a necessidade dos pais, para suprir uma demanda da própria criança.
Considerando o longo período de tempo, cerca de quinze anos, que o educando passa na escola, por vezes este a considera sua segunda casa, mas, para isso, em um primeiro momento, a criança sofre em sair do seu primeiro locus e relacionamentos com a família para adaptar-se a um novo contexto, com novos cuidadores, na escola, caracterizando-se como primeiro luto ou primeiro período de adaptação. Após toda trajetória escolar ser percorrida, chega o momento de deixar esse ambiente para trás, o que causa medo e a dificuldade de adaptar-se, o segundo período de adaptação e/ou luto.
Assim, o artigo busca identificar estes lutos e/ou períodos de adaptação vivenciados pelo aluno e perceber a atuação do psicólogo escolar perante tal contexto. Comparando a teoria disposta e a visão desta advinda de uma psicóloga, um professor do infantil I e um professor do terceiro ano do ensino médio.
PSICÓLOGO ESCOLAR E SEU LEQUE DE POSSIBILIDADES
A atuação do profissional da psicologia na educação além de algo amplo é diverso e esta busca empenhar-se em auxiliar efetivamente a aprendizagem dos alunos que porventura apresentem dificuldades que serão enfrentados e resolvidos no cotidiano. Alguns dos objetivos do profissional de psicologia na educação serão; avaliar e diagnosticar os alunos com dificuldades escolares; orientar os pais e alunos; trabalhar a respeito da orientação sexual; formar e orientar professores; elaborar e coordenar projetos específicos de acordo com as demandas da escola ou da comunidade. A utilização de testes psicológicos de forte conotação quantitativa ou clínica a fim de se descobrir o motivo de certas dificuldades serão bastante utilizadas por profissionais qualificados juntamente com uma equipe que convive com esse sujeito. Serão utilizados também instrumentos de investigação como, por exemplo, a observação dos alunos dentro do seu contexto escolar e nas suas atividades cotidianas, a utilização de alguns jogos que irão apontar as possíveis causa das dificuldades, conversações com seus conhecidos, dentre tantos outros.
Porém, as relações entre psicologia e educação não se encerram por aí. De acordo com Coll (2004, p. 22):
“as concepções da psicologia da educação oscilam desde formulações abertamente reducionistas, para as quais os estudos das variáveis e dos processos psicológicos é a única via adequada para proporcionar uma fundamentação científica à teoria e à praticas educacionais, até formulações que questionam de forma mais ou menos radical o papel e a importância dos componentes psicológicos, passando logicamente por toda uma gama de formulações intermediárias”.
Perante as potencialidades dessa relação interativa a psicologia e educação ainda possuem uma gama de formas de encontro. Há a psicologia aplicada à educação, a qual se conceitua unicamente por uma aplicação psicológica à educação, predominante na década de 50, porém aceito na atualidade em suas versões menos radicais. Perante diversas críticas a essa definição unilateral surgiu, mesmo sem extinguir os termos anteriores, a psicologia da educação como disciplina-ponte, buscando criar um novo conhecimento acerca desse vínculo existente. Ainda é possível enxergar a psicologia educacional como uma engenharia psicológica aplicada, não referindo-se a algo da técnica em si, mas como ela é utilizada. Colocando a escola como principal local de atuação do psicólogo, mas não o único.
As contribuições da Psicologia no campo educativo não se reduzem ao trabalho do psicólogo na instituição escolar, pois é sabido que os processos educacionais acontecem em diferentes âmbitos e níveis, fazendo com que a articulação Psicologia e Educação assuma diferentes e variadas formas. No entanto, é indiscutível que, no delineamento atual da sociedade, a escola tem um lugar privilegiado como locus dos principais processos educativos intencionais que, juntamente com outros, integram a educação como prática social. (Martinez, 2010, p. 41).
De acordo com Mayer (apud Coll, 2004) há uma lógica a ser seguida no desenvolvimento da psicologia da educação, não que uma definição substitua a outra em sua completude, mas os conhecimentos se agregam. Na primeira fase, localizada por volta do século XX, há predomínio de certo otimismo, utilizando a psicologia para orientar a educação; em seguida, surge certo pessimismo, recorrendo a laboratórios, pesquisas em busca de uma solução das teorias psicológicas sobre aprendizagem e desenvolvimento. Por fim, na terceira fase, é introduzida uma relação em dupla direção, na qual se insere a psicologia educacional como disciplina-ponte.
A pesquisa é um ponto importante na psicologia educacional, porém alguns professores e psicólogos atuantes neste campo dão pouca credibilidade à pesquisa e teoria, acreditando que elas não possuem grande utilidade para resolver os problemas encontrados cotidianamente no trabalho. Para tal, Corte (apud Coll, 2004) traz consigo três critérios para elucidação deste problema: adoção de enfoque holístico do ambiente de aprendizagem percebendo o contexto dos envolvidos, comunicação recíproca e indução de certa mudança nos valores atrelados à finalidade da educação escolar. Com isso, seria possível o aperfeiçoamento da psicologia educacional concreta.
Dentre esse leque constituinte das possibilidades do psicólogo nessa área de atuação há uma relação posta, onde tanto as formas de atuação tradicionais quanto as formas inovadoras possuem valor.
No entanto, é importante salientar que ambas as formas de atuação, as “tradicionais” – aquelas que podem ser consideradas como uma história relativamente consolidada – e as “emergentes” – as que apresentam configuração relativamente recente -, coexistem e guardam entre si inter-relações e interdependências diversas. Mesmo que umas sejam mais abrangentes e complexas do que outras e, nesse sentido, potencialmente mais efetivas, consideramos que todas as formas de atuação do psicólogo no contexto escolar têm seu espaço e resultam importantes, especialmente, se temos em conta as positivas mudanças qualitativas que, como produto das influências já mencionadas, vêm ocorrendo, também, as funções tradicionalmente desenvolvidas pelos psicólogos na escola. (Martinez, 2010, p.43).
A ESCOLA: PRINCIPAL CAMPO DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EDUCACIONAL
Pode-se perceber a escola como segundo locus mais importante na vida do sujeito. Onde, integrado a família e aos professores, há a constituição e desenvolvimento do ser biopsicossocial tal como questionador, despertando e instigando diversos potenciais advindos destes educandos. Tal instituição de ensino tem por função primordial socializar o saber sistematizado.
De acordo com Saviani (2005), a escola se relaciona com a ciência e não com o senso comum, e existe para proporcionar a aquisição de instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência) e aos rudimentos (bases) desse saber. A contribuição da escola para o desenvolvimento do sujeito é específica à aquisição do saber culturalmente organizado e às áreas distintas de conhecimento. (Oliveira e Marinho-Araújo, 2010, p. 101).
Cada vez mais frequentemente as crianças adentram as instituições de ensino precocemente diante das mudanças implicadas no novo contexto e dinâmica em que a família se encontra, como ratificam Vokoy & Pedroza (2005, p.95) “a criança se insere, atualmente, no sistema educacional cada vez mais cedo. Muitas das mudanças referidas foram provocadas por uma maior participação feminina no mercado de trabalho, alterando a rotina de cuidados e a educação dos filhos”.
O aluno que adentra a escola, geralmente encontra-se na frase pré-escolar caracterizada por Bassols, Dieder & Valenti (2001, p. 103-104) como:
A frase pré-escolar tem início com a criança deixando de ser um bebê para se tornar menino ou menina, que necessita desempenhar um novo papel, passando por uma fase inicial de confusão entre passado e presente. Sob a influência de organizadores internos e externos, a criança evolui para uma integração das tendências conflituosas da fase genital, que vai representar uma base adequada para o desenvolvimento das fases seguintes.
A inserção da criança nesse contexto educacional é gerado, à princípio por uma necessidade dos pais, posteriormente, a partir do momento em que ela saí da fase pré-escolar e adentra a fase da latência, a necessidade passa a ser do próprio aluno, por ver na escola a possibilidade de efetivar laços e avaliar seu self em relação aos demais.
O APEGO PERANTE A ADAPTAÇÃO
A teoria do apego é uma das mais famosas de John Bowlby, a qual busca entender como ocorre a relação entre o bebê e aquele que lhe alimenta, transmite segurança e otimismo, geralmente a mãe. Além da tentativa de mapear as consequências disto na vida adulta: porque algumas crianças nascem inseguras e outras confiantes?
Após descartar o impulso primário como explicação, afirma que essa relação acontece através do sentimento de segurança e não pela alimentação. Tal comportamento de apego é definido por seu autor como: “qualquer forma de comportamento que resulta em uma pessoa alcançar e manter proximidade com algum outro indivíduo, considerado mais apto para lidar com o mundo”. (Bowlby, 1989, p.38). Dessa forma, seja qual for o primeiro padrão estabelecido, ele tenta a repetir-se.
Além de Bowlby, autores como Mahler e Newcombe pensaram acerca dos padrões do apego, os dividindo em três: apego seguro, inseguro e resistente, além do inseguri e evitativo, De forma mais recente, foi pensado por Newcombe, um novo padrão do apego, o desorganizado. Enquanto Rossetti-Ferreira, Vitória e Goulardins (2008) abordam o apego de forma mais ampla, como “um conjunto de comportamentos, por meio dos quais o indivíduo inicia ou mantém uma relação estável com um ou mais de seu grupo social, surgindo durante o primeiro ano de vida da criança, em especial a partir dos seis meses de idade”, Zavaschi, Brunstein & Costa (2001) abordam o apego de forma mais centrada no papel materno, como:
“o apego emocional pela mãe ou por quem a substitua nessa relação inicial é de tamanha intensidade, que esta figura de apego é mais capaz do que qualquer outra pessoa para perceber e satisfazer o bebê e ser sensível aos seus sinais mais sutis de desconforto e de bem-estar. Desta forma, esta será a pessoa a quem o bebê recorrerá mais adiante para aplacar sua necessidade de consolo ou de brincadeira interativa espontânea”.
Assim, a criança ao adentrar na escola rompe de certa forma, esse apego não só com a mãe, mas com sua família, seu dito grupo social originário e tal fato, pode ter por consequência a dificuldade de adaptação à escola. Tal teoria ainda permite a visualização desta dificuldade de adaptação através de um ângulo distinto ao perceber o aluno concluinte do ensino médio percebendo, que em breve, terá que romper sua relação estável com seu grupo social constituído ao longo de diversos anos na escola.
O PSICÓLOGO ESCOLAR E A DIFICULDADE DE ADAPTAÇÃO
Por mais que a escola seja de imensa importância para constituição do sujeito e caracterize-se como palco para importantes momentos, ultrapassando a esfera de troca de conhecimento e adentrando a emocional, a criança, ao ser inserida nessa instituição, depara-se com um novo contexto, naquele momento tudo é diferente para ela.
Separada do seu objeto de apego e de seu ambiente costumeiro, a criança encontra no colégio um novo mundo, professores, coordenadores, sala de aula, outras crianças, gritos, brincadeiras, choros, lanches, hora do recreio e até mesmo, disputa por brinquedos. Todo esse novo contexto que se forma ao olhar dessa criança pode provocar ansiedade, não só para ela, mas também para os pais, o qual é um ponto para essa dificuldade de adaptação.
Dessa forma, algumas crianças possuem o medo desse novo contexto, além de enfrentar o temor que talvez os pais não vão voltar para buscá-la, por não compreender bem ainda essas separações breves, Coll (2004) afirma “manter a disponibilidade e a acessibilidade das figuras de apego nas separações (demonstrando-lhes que, se estão aflitas, socorrerão logo) é muito importante durante esse período.”. Enquanto algumas crianças parecem mais amedrontadas e apresentam dificuldade nessa adaptação escolar, outras demonstram certa excitação e curiosidade com o novo.
“Algumas ficam agitadas e correm pela sala à vontade; se retraem e exploram com seus olhos, enquanto seus corpos permanecem inertes. Outras parecem gostar da novidade da situação, da excitação de estarem com outras crianças da sua idade e do prazer dos novos brinquedos. No entanto, na maioria das crianças reage de alguma maneira forte a novos ambientes, ainda que esta reação possa não ser revelada” (Balaban, 1988).
Desta forma, é necessário um trabalho específico com tais crianças.
“o trabalho com crianças pequenas requer cuidados especiais e o planejamento do atendimento é diferente do realizado com as crianças maiores. Deste modo, estudos nesta área são fundamentais, principalmente dentro do novo contexto social em que muitas mães precisam retornar ao trabalho poucos meses após o nascimento do filho.” (Rapoport e Piccinni, 2001, p.82)
Tal ansiedade repete-se quando é necessário sair desse cotexto escolar e adentrar em um novo mundo repleto de possibilidades, seja para introduzir-se no mercado de trabalho, na universidade ou no ócio. Mais uma vez, o aluno, agora não mais criança, suspende sua relação estável com seu grupo social constituído na escola e esse locus que se torna tão importante para alcançar o desconhecido. Para auxiliar essas transições seja de ingresso ou de egresso da escola, surge o psicólogo escolar, e este, de acordo com Novaes (1976) “através de seus conhecimentos técnicos, auxilia no processo de adaptação.”.
Sabendo que a atuação do profissional de psicologia alcança não só os alunos, mas os pais e professores percebe-se a suma importância desse psicólogo perante o processo educativo. Diante das crescentes demandas a atuação de tal profissional vem sendo debatida e repensada.
“Consequentemente, o profissional de psicologia ao repensar seu modo de atuação, busca novas perspectivas para sua intervenção e questiona o conhecimento psicológico e seus instrumentos tradicionais, adaptando-os aos novos contextos, levando em consideração as limitações inerentes às instituições.” (Vokoy e Pedroza, 2005, p. 97).
Ainda é preciso elencar a não existência de um manual ou modelo pronto que leve diretamente ao sucesso ou superação desta dificuldade de adaptação, é necessário uma percepção com maior sensibilidade para perceber a subjetividade de cada e criatividade para trabalhar com estes alunos.
QUESTIONANDO OS PROFISSIONAIS
Percebendo a importância do psicólogo escolar na atuação dos casos de dificuldades de adaptação e/ou lutos vivenciados na escola, objetivou-se com este artigo entrar em contato com a psicóloga, uma professora do ensino infantil I e um professor do terceiro ano do ensino médio de um colégio particular localizado no interior de Pernambuco, para investigar suas percepções acerca do assunto.
A professora do infantil I foi questionada acerca da dificuldade de adaptação à escola por parte dos alunos através de alguns pontos: se é perceptível essa dificuldade de adaptação, se todos apresentam essa dificuldade, como fazer para superá-la, se busca interação com a família e quando é necessária a intervenção do psicólogo. A qual respondeu: “Mesmo não sendo apresentadas por todas as crianças, as dificuldades estão presentes na adaptação à escola. São perceptíveis choro, timidez, irritabilidade, desespero e insegurança em se separar dos pais e os pais em se separarem dos filhos. Em contraste com essa situação, encontramos crianças que se adaptam muito facilmente aos novos colegas e a professora, enquanto que outras precisam de mais tempo e de muita paciência, carinho e atenção por parte de todos que fazem a escola e a família. Para vencer a dificuldade de adaptação da criança com a escola é essencial a parceria com a família. É preciso que a escola passe confiança para os pais e para a criança. Assim a adaptação será bem mais rápida e simples. Por sua vez, ajuda de um psicólogo é necessária quando essa adaptação demora demais para acontecer ou fatores irregulares são observados.”.
Enquanto a professora do infantil I é questionada acerca da dificuldade de adaptação do luto vivenciado da criança ao sair do convívio único da família e dirigir-se a escola, o professor do terceiro ano do ensino médio, por sua vez, é questionado sobre a dificuldade de adaptação desse jovem, ao sair da escola. Para tal, foram enunciadas algumas indagações através dos pontos: se é perceptível essa dificuldade de adaptação, se é realizado algum projeto para auxiliar o aluno no fim dessa etapa, qual o papel do psicólogo e como percebe a atuação deste perante a dificuldade de adaptação dos alunos. No qual respondeu “Felizmente aqui no colégio temos um projeto que visa a integração do estudante com o universo do ensino superior, onde os alunos possam chegar um dia em uma universidade, conhecendo a rotina, os cursos e até mesmo assistindo aula dos professores do curso superior. Estes alunos tem a preocupação de que a universidade seja diferente da escola, mas com a vivência do projeto, eles começam a ter a visão do mundo do ensino superior e preparar-se para este. O psicólogo escolar atua junto aos alunos na preparação para esta mudança da escola para universidade, além de aplicar testes vocacionais e atender os alunos problemáticos.”.
Por fim, a psicóloga escolar é questionada a respeito da percepção e atuação perante a dificuldade de adaptação dos alunos tanto do infantil I quanto do ensino médio. Elucidando tais questões ao afirmar que a criança chega à escola apresentando dificuldade em se separar dos pais, chorando muito e não querendo permanecer em sala de aula. Para tal, com o tempo, o aluno consegue adaptar-se a esse novo contexto, sem maiores problemas. Quando isso não ocorre é realizada uma intervenção não só do professor, mas também da psicóloga, buscando o que embasa esse temor na separação e dificuldade. Se voltado ao aluno do terceiro ano é apresentada a atuação ao aplicar testes vocacionais, promover palestras e encontros com o intuito voltado não apenas para a preparação do vestibular, mas para entender a relação constituída com os professores, alunos e funcionários da escola e preparar a transição desse locus.
Pode-se perceber então a integração entre teoria e prática sendo construída, alicerçando a presença cada vez maior do psicólogo na escola. A inserção de tal profissional pode ser realizada perante a dificuldade de adaptação e luto da fase finalizada que pode ser percebida tanto pelos professores como pela psicóloga e esta trabalha no contexto escolar para tornar a adaptação possível.
CONCLUSÃO
A adaptação está intrinsecamente ligada à separação e como tal constitui-se como um período difícil, sendo associado à insegurança, medo e desproteção. A mudança de um locus, contexto e grupo social, como toda mudança, gera receio e inquietações.
A escola é caracterizada por ser um local possibilitador de conhecimento, desenvolvimento, reflexões e indagações tanto na esfera educativa, quanto educacional. Esta instituição de ensino coloca-se como permissora de duas grandes mudanças, a primeira a medida em que a criança necessita sair do contexto familiar e adentrar a escola, seguida do momento em que após diversos anos, esse aluno, que deixou de ser criança e transformou-se em jovem, necessita sair da instituição.
A dificuldade de adaptação causada por estes dois momentos de mudança e luto requer e torna possível a inserção de um psicólogo escolar. Este, não segue um modelo pré-definido para cessar tal dificuldade, mas percebendo a subjetividade de cada aluno e seu contexto traça meios para trabalhar com os mesmos.
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[1] Psicóloga pela Universidade Federal de Campina Grande.
Enviado: Janeiro, 2018
Aprovado: Janeiro, 2019