REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO
Livros Acadêmicos

3. Desafios a serem vencidos pelo docente do século XXI

4.2/5 - (5 votos)

Neuza Siqueira de Souza [1]

Victor Gonçalves Gloria Freitas [2]

Luciane Medeiros de Souza Conrado [3]

DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/1624

Introdução

São muitos os desafios enfrentados pelo docente, quando se trata de usar as Tecnologias Digitais na Educação (TDE), mas neste momento serão destacados apenas três deles. O primeiro a ser observado é a escassez da moeda mais preciosa que se tem, o tempo. Santos (2022) diz que esse é um ativo em falta para o professor, já que normalmente trabalha em mais de uma escola, tendo sempre que levar serviço para casa como, por exemplo, planejamento de aulas, correção de atividades, lançamento de notas on-line etc. Dessa forma, para ele pesquisar formas inovadoras de ensinar adequadas à diversidade de alunos que tem, precisa dispor de tempo de maturação, coleta de dados e seleção apurada para adaptar o que for garimpado ao que se pretende ensinar.

Precisa de tempo também para identificar o interesse dos alunos aproximando-se da realidade que vivem, para saber do que gostam de ouvir, de ler, que redes sociais mais utilizam, que perfil gostam de seguir ou que conteúdo produzem para seus seguidores. Ouvir os alunos é um fator primordial para que se entenda o que pode tornar o aprendizado mais interessante e efetivo para eles.

Além disso, a falta de tempo é um limitador para o professor participar de formações continuadas, já que não pode utilizar o horário de trabalho para se atualizar quanto ao uso das TDE. Para resolver esse problema precisaria ter oferta de cursos híbridos ou totalmente on-line e dispor de algum tempo reservado ao convívio com sua família ou ao descanso, para estudar.

Tem-se como segundo desafio a carência de inclusão digital. Para Moran (2013) a sociedade está em permanente transformação, o que a faz experimentar diariamente obstáculos difíceis, ao passo que a educação se mantém tradicional, repetitiva e nada atraente para o aluno. Segundo Falcão e Mill (2019), grande parte dos docentes parecem desinformados quanto à evolução das TDE e sua importância para o aprendizado.

Não é mais possível que a inclusão tecnológica seja ignorada pelos docentes (BERTOLETTI e CAMARGO, 2016 apud SANTOS e RUDNIK, 2022). Em harmonia com esse pensamento, Barbosa (2008) diz que a utilidade dos smartphones e das redes sociais, que fazem parte da rotina diária tanto de professores quanto de alunos durante várias horas por dia, pode ir muito além do entretenimento. Eles carregam em si, com a curadoria do professor e sua autonomia na produção de conteúdo audiovisual, possibilidade de serem importantes instrumentos na construção do conhecimento, instigando a curiosidade e despertando o prazer em aprender.

Fofonca (2018 apud SANTOS e RUDNIK, 2022) acredita que a inclusão midiática do docente é possível, a partir de sua decisão em buscar treinamento para aprender a lidar com as TDE em um viés pedagógico. Dessa forma, se apropriará de estratégias para utilizar o celular e as redes sociais como ferramentas que instigam a aquisição do conhecimento de forma ubíqua, alcançando um número maior de estudantes. Com a informação na palma da mão, os alunos poderão ver e rever o conteúdo trabalhado na disciplina, no horário disponível e em qualquer lugar que tiver acesso a um smartphone conectado à internet.

As redes unem pessoas com os mesmos objetivos, permitindo a sociabilidade e a potencialização da aprendizagem, fazendo com que ela se torne mais interessante e menos cansativa (SANTOS e RUDNIK, 2022). Faz-se necessário, então, que haja a alfabetização midiática do professor para que se aproprie dessas ferramentas com fluidez, elevando o processo educacional (DEDONÉ, 2022).

O último desafio a ser citado, mas não o menos importante, é a falta de motivação do docente para incorporar o ensino híbrido no planejamento das aulas. Nessa modalidade de ensino, segundo Bacich; Tanzi Neto e Trevisani (2015b), pode-se convergir os dois modelos de aprendizagem: o presencial e o on-line, utilizando as TDE. Contudo, para que o professor que é considerado um imigrante digital possa repensar seu modo tradicional de ensino, agregando o modelo híbrido a suas aulas, é imprescindível que ele seja alfabetizado digitalmente, de forma que se sinta seguro ao utilizar as novas tecnologias.

Lima e Moura (2015) dizem que, “[…] os professores devem investir na sua formação e ampliar os seus horizontes. Não podemos continuar fazendo mais do mesmo. É preciso inovar, Motivar. Encantar. Inspirar.” O medo do novo não pode impedir uma mudança de postura no tocante ao uso das tecnologias.

É fato que não existe uma fórmula mágica para salvar a educação, mas precisa-se refletir sobre a possibilidade de o ensino híbrido criar um ambiente favorável para a aprendizagem, com o uso das tecnologias como apoio aos professores, fazendo com que todos estejam motivados e felizes (LIMA e MOURA, 2015). Não se pode pensar nessa metodologia como algo que veio exterminar as aulas expositivas, mas sim ressignificá-la, fazendo-a tornar-se mais dinâmica, mesclando diversos tipos de atividades, a partir do que se pretende aprender (BACICH; TANZI NETO e TREVISANI, 2015b).

Educomunicação: incorporando as tecnologias digitais como ferramentas didáticas complementares e motivacionais

Martin-Barbero (2021, p. 120-121) aponta que a aprendizagem é contínua, acontecendo em qualquer lugar e a qualquer hora, com o uso das TDE. Por isso não pode se manter no modelo tradicional, desagregado da realidade do século XXI. Mas, infelizmente, o que se vê é que o aluno, ao entrar na escola, é forçado a deixar do portão para fora sua alma, seu corpo e suas preferências. O autor diz que é preciso cortar o “arame farpado dos territórios e disciplinas, dos tempos e discursos […]”, dessa forma será possível compartilhar saberes e experiências mútuos.

No ano passado, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez um estudo sobre o Panorama do Uso de TI no Brasil – 2022, na pessoa do coordenador Meirelles (2022). Foi percebido um avanço no uso dos dispositivos digitais, principalmente dos smartphones, para compartilhamento/visualização de conteúdo nas redes sociais, compras on-line e transações bancárias. A pesquisa registrou que há 242 milhões de aparelhos em uso para 214,6 milhões de habitantes no país, mostrando que há mais celulares que habitantes no país. Meirelles (2022) afirma que a pandemia deixou marcas, inclusive na forma de ensinar e aprender, onde as capacidades humanas e digitais se misturaram.

Bezerra e Brito (2013), acreditam que, mesmo com tanta facilidade quanto ao acesso às redes sociais e aos smartphones, a maioria dos docentes deixa de utilizar essas ferramentas pois não querem misturar trabalho com vida social, ou seja, não querem que seus alunos tenham acesso à sua vida privada. Mas, para solucionar esse problema, basta criar um perfil privado para cada turma ou série.

Dedoné (2019, p. 119), afirma que as “[…] mídias instigam a criatividade no processo de produção, ampliam a socialização, a dinâmica e o desenvolvimento de novas habilidades.” Dessa forma, é viável para o autor que as práticas educacionais sejam dinamizadas através da mistura da Educomunicação com as mídias (DEDONÉ, 2022).

Redes sociais: dinamizando práticas educativas

As redes sociais fazem parte do dia a dia das pessoas, como meio de comunicação, informação e entretenimento. Santos (2022, p. 11) afirma que “Rede social é o emaranhado de conexões que, tal como uma teia de aranha, liga diversos indivíduos que possuem alguma forma de vínculo social.” E, nessa tessitura de possibilidades que a internet trouxe, é compreensível o interesse das crianças, jovens e adultos por esses novos espaços de interação, onde valores e objetivos comuns são partilhados com flexibilidade de tempo e espaço.

É fato que os dispositivos móveis, em especial os smartphones, contribuíram para o crescimento das redes sociais em todo mundo. Com a mesma intensidade, eles também são o calcanhar de Aquiles na maioria das escolas, sendo objeto proibido em sala para evitar distrações, independente se a escola é particular ou pública.

Para se valer da proibição, cartazes foram colocados em muitas escolas, mencionando a lei nº 5453, Art. 1º: “Fica proibido o uso de telefones celulares, […] nas salas de aula, salas de bibliotecas e outros espaços de estudos, por alunos e professores da rede pública estadual de ensino […]” (RIO DE JANEIRO, 2009 apud SOUZA, 2020, p. 17). Um detalhe importante, que na maioria das vezes é ignorado, é que existe uma exceção a essa regra: “[…] salvo com autorização do estabelecimento de ensino, para fins pedagógicos” (RIO DE JANEIRO, 2009 apud SOUZA, 2020, p. 17).

À vista disso, é necessário se ter um novo olhar para os smartphones, já que os estudantes são imersos em tecnologia na sua rotina diária e são enormemente atraídos por esses aparelhos tão pequenos e com tantos recursos, que proporcionam gratificação instantânea. O planejamento docente precisa considerar essa ferramenta como transmissor de conteúdos de forma dinâmica, interativa e eficaz (FACCIONI, 2018), mesmo que ele opte em não utilizar o aparelho em sala, mas sim no ensino híbrido.

Dentro desta perspectiva, considerando que essa ferramenta é popular em qualquer nível de escolaridade e o fato de as redes sociais serem utilizadas pelos indivíduos no ambiente fora da sala de aula, por que não unir o útil ao agradável, transformando o vilão em mocinho? Tendo em vista sua utilidade, faz-se necessária uma análise das percepções dos docentes de hoje e dos futuros docentes, os que estão na graduação, acerca desta temática e sobre como trabalhar com as ferramentas digitais, que possibilitam estender a aprendizagem para fora dos muros da escola. Dessa forma, é possível estreitar os laços entre docente/discente, discente e objeto de estudo e discente/discente, aumentando a interação, o envolvimento e a colaboração mútua, envolvendo todos de tal forma que o ambiente tradicional de sala de aula não possibilitaria.

Destaca-se que o professor com esse perfil, além de mediador no processo ensino-aprendizagem, também tem o papel de curador de conteúdo (SANTOS, 2022). Assim como um curador nas artes, que decide quais obras devem ser expostas, o professor é aquele que tem a meta de zelar pelo conhecimento, pelos materiais a serem consultados, pelo caminho a ser percorrido, delineando estratégias para conseguir alcançar seu objetivo, que é a construção do conhecimento do aluno. Fazendo isso, ele “cria pontes para um conhecimento contextualizado que pode promover novas relações em sala de aula” (SANTOS, 2022, p. 125).

Pode-se verificar que muitos professores em pleno século XXI, ainda entram em sala com seu plano de aula tradicional para enfrentar um turma pós-moderna, que está totalmente envolvida com as novas tecnologias digitais, com seus fones no ouvido e olhos fixados na telinha do celular. Como acessar esse aluno que faz parte de uma nova cultura de absorção rápida de informações? Eles dominam as mídias, sendo produtores de conteúdo audiovisuais, editores dos seus próprios vídeos, fazendo o compartilhamento imediato de seus produtos nas redes sociais, isso tudo com apenas um smartphone nas mãos.

É relevante olhar para essas habilidades da geração atual sob uma nova perspectiva, vendo a necessidade de redirecionar os planos de formação dos novos professores e cursos de formação continuada, a fim de que se utilize as novas tecnologias a favor da educação. Se a produção de conteúdo desperta tanto a atenção desse aluno contemporâneo que não tira o celular da mão, é fundamental que se reflita sobre a necessidade de habilitar professores para que também sejam autores de conteúdo audiovisual.

“Essas mídias instigam a criatividade no processo de produção, ampliam a socialização, a dinâmica e o desenvolvimento de novas habilidades” (DEDONÉ, 2019, p. 119), não só dos alunos, mas também dos professores, que podem se descobrir excelentes criadores de conteúdo, alcançando e se aproximando da realidade e interesse de seus alunos de forma ubíqua e contextualizada com o mundo externo.

Formação continuada: o que o docente quer aprender de fato?

Para refletir sobre o que o professor busca aprender foi estruturado um questionário utilizando uma abordagem quantitativa investigativa a fim de coletar dados para identificar o perfil dos professores em relação às TDE. O questionário do Google Forms foi disponibilizado nas redes sociais Facebook, Instagram, TikTok, Kwai e WhatsApp ao longo de 15 dias, constando de 08 questões, sendo que 07 fechadas (múltipla escolha, grade de múltipla escolha e caixa de seleção) e 01 aberta.

A partir das respostas desse questionário, será formulado um curso de formação continuada para trabalhar as principais dificuldades do docente quanto às TDE. A divulgação do curso será realizada através das mesmas redes sociais da autora e também pelas redes sociais do Centro de Formação Continuada (CFC) onde trabalha, em São Gonçalo/RJ. Além da divulgação nas redes sociais, o CFC enviará e-mail para a Secretaria Municipal de Educação (Semed) e para todas as escolas municipais de SG/RJ, convidando os docentes para participarem do curso no formato híbrido.

A etapa da coleta de dados para identificar o perfil dos professores em relação às TDE se deu a partir de um convite feito a docentes de diferentes Estados (Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba) para responderem um formulário com o intuito de investigar suas experiências e opiniões com respeito às TDE.

Foram criados alguns panfletos explicativos no Canva para que os docentes se inteirassem do motivo da pesquisa, direcionando-os ao link do formulário. Esse material foi divulgado nas redes sociais da autora todos os dias no período estipulado, tal como compartilhado por professores, amigos e familiares para que mais docentes fossem alcançados, criando assim uma teia de divulgação. Ao final do tempo estabelecido, foi computado o número de 123 docentes participando da pesquisa.

Sabendo que, na maioria das vezes, os docentes trabalham em mais de uma rede, dentre os participantes, foi observado que 45,5% trabalham na rede pública municipal; 37,4% trabalham na rede pública estadual; 4,9% trabalham na rede pública federal e 26% trabalham na rede privada.

Quanto ao tempo de atuação na rede básica de ensino, foi verificado que 48% atuam há mais de 20 anos; 27,6% atuam de 10 a 15 anos; 13% atuam de 6 a 10 anos; 7,3% atuam de 1 a 5 anos e 4,1% atuam há menos de 1 ano.

No tocante ao grau de formação dos participantes, constatou-se que 57,7% possuem especialização; 22,8% possuem mestrado; 14,6% possuem graduação e 4,9% possuem doutorado.

A partir das respostas ao primeiro formulário que será visto a seguir, buscou-se entender qual a maior necessidade dos docentes quanto às TDE e, assim, partir para a fase da elaboração e implementação de um curso de formação continuada.

Análise do perfil de um grupo de docentes em relação às TDE

O questionário buscou saber se os 123 docentes que contribuíram com a pesquisa utilizavam as TDE em suas aulas (Figura 1). Dos participantes, pode-se observar que a maior parte as utiliza de alguma forma: 39% afirmaram que às vezes as utilizam, 25,2% disseram utilizar muitas vezes, enquanto 22,8% sempre utilizam as TDE.

Figura 1. Utilização

Fonte: Autora, 2022.

Das mais variadas TDE que permeiam o dia a dia de todos, os “Conteúdos audiovisuais em redes sociais (YouTube/Instagram)” foram citados por 88,6% dos docentes que participaram da pesquisa, como a metodologia de ensino mais utilizada em suas aulas, disparando de longe da segunda opção que foi “Games on-line”, que ficou com apenas 22% dos votos computados (Figura 2).

É importante destacar que as TDE não são mais importantes que as tecnologias habituais, porém a presença das “[…] tecnologias digitais modificam o ambiente no qual estão inseridas, transformando e criando novas relações entre os envolvidos no processo de aprendizagem: professor, estudantes e conteúdos” (BACICH; TANZI NETO e TREVISANI, 2015a, p. 50).

Figura 2. TDE que utiliza

Fonte: Autora, 2022.

Fresquet (2013, p. 97) reflete sobre esse novo lugar que a escola ocupa tendo a necessidade de se reinventar por causa do acelerado desenvolvimento tecnológico e midiático:

[…] o avanço da tecnologia, as mídias sociais, a espetacularização de uma sociedade de nativos digitais desloca o lugar da escola como o cenário para construir conhecimento e afetos, reversibilizar as funções de aprender e ensinar com o outro social (professor/estudantes), numa interação com o mundo que não está aí como matéria, mas como potência de reinvenção.

Quanto à utilização da linguagem audiovisual, Moran (2000, p. 39) afirma que isso “desenvolve múltiplas atitudes perceptivas: solicita constantemente a imaginação e reinveste a afetividade com um papel de mediação primordial do mundo”, fato que contribui para o processo ensino-aprendizagem.

Segundo os dados da pesquisa (Figura 3), 71,5% dos participantes já produziram algum vídeo para seus alunos, enquanto 28,5% não o fizeram. Nenhum dos respondentes marcou que não lembrava.

Figura 3. Produção de Vídeos

Fonte: Autora, 2022.

Nota-se que em um universo de 123 respostas (Figura 4), a maioria dos participantes (38,2%) produziu mais de 06 vídeos, enquanto 19,5% produziram de 1 a 3 vídeos e 13,8% produziram de 4 a 6 vídeos. Contudo, um número considerável (28,5%) afirmou nunca ter feito nenhum vídeo.

Isso chama a atenção já que, em um mundo onde a tecnologia digital está presente em todos os ambientes dentro e fora da escola, a Educomunicação na estratégia de ensino pode despertar o engajamento e o desejo do aluno em aprender a aprender o conteúdo, impactando numa aprendizagem dinâmica e criativa. Santos e Ghisleni (2019, p. 13) destacam que:

Trabalhar a Educomunicação no espaço escolar traz inúmeras contribuições, que impactam não só na motivação, envolvimento e interesse dos alunos em sala de aula, como também impactam na motivação, envolvimento e interesse dos professores, em dar aula, a partir de diferentes metodologias e recursos utilizados no seu planejamento, a fim de propor uma aprendizagem dinâmica, diversificada e inovadora.

Figura 4. Quantidade de Vídeos

Fonte: Autora, 2022.

Na busca para entender quais são as principais dificuldades dos docentes em serem protagonistas dos seus próprios vídeos, foi solicitado que informassem na pesquisa o grau de dificuldade na produção de um vídeo com conteúdo para suas aulas. As opções disponibilizadas foram: “Roteirização da aula na linguagem de vídeo”, “Utilização da câmera (celular)”, “Inibição” e/ou “Edição”. Deveria ser apontado nessas opções se tinham: “Muita dificuldade”, “Dificuldade”, “Pouca dificuldade” ou “Nenhuma dificuldade”.

De acordo com o resultado (Figura 5), verifica-se que o maior grau de dificuldade se encontra no item “Edição”. Foram 56 marcações na opção “Muita dificuldade” e 32 marcações em “Dificuldade”, somando um total de 88 docentes, dos 123 participantes, apontando este como o principal motivo da não produção de vídeos com conteúdo educacional.

Em segundo lugar, ficou o item “Inibição” como um dificultador. A opção “Muita dificuldade” foi marcada por 21 participantes e o item “Dificuldade” foi marcado por 39 participantes, somando um total de 60 docentes tendo como motivo da não produção autoral de vídeos o fator timidez.

Em terceiro lugar, no ranking de dificuldades na produção de um vídeo, constata-se a opção “Roteirização da aula na linguagem de vídeo”. Foram computados 19 votos em “Muita dificuldade” e 40 votos em “Dificuldade”, somando um total de 59 participantes.

Em quarto e último lugar, mas não menos importante que os demais, identifica-se o item “Utilização da câmera (celular), com 13 participantes afirmando que têm “Muita dificuldade” e 27 participantes afirmando que têm “Dificuldade” na utilização do smartphone para a produção de conteúdo, somando, assim, um total de 40 docentes.

Figura 5. Grau de dificuldade na produção de vídeos

Fonte: Autora, 2022.

No constante processo de atualização que deve ser vivenciado pelos docentes, Aparici (2014, p. 38) chama a atenção para o fato de buscarmos novas formas no ensino-aprendizagem:

Com novas ou velhas tecnologias é imprescindível perguntar-se sobre novas formas de ensinar e aprender. As mudanças metodológicas, à procura de novos modelos pedagógicos e as práticas interativas baseadas no diálogo são questões que estão além do uso de uma tecnologia ou outra.

Pensando na linguagem audiovisual, não há a necessidade da busca por câmeras semi e profissionais de alta resolução (Nikon, Canon, Sony etc.) para se produzir um vídeo educacional com qualidade. A constante atualização tecnológica dos softwares dos smartphones, os aproxima de uma câmera profissional e os habilita a fazer excelentes filmagens. Além disso, com acesso à internet o compartilhamento do conteúdo pode ser imediato nas redes sociais.

De acordo com a CNN (2022),

O Brasil tem atualmente mais de um smartphone por habitante, segundo levantamento anual divulgado pela FGV. São 242 milhões de celulares inteligentes em uso no país, que tem pouco mais de 214 milhões de habitantes, de acordo com o IBGE.

Então, foi perguntado na pesquisa com que frequência o docente utiliza essa ferramenta para gravar e editar um vídeo. Segue o resultado abaixo (Figura 6):

Figura 6. Frequência para gravar e editar vídeos no celular

Fonte: Autora, 2022.

Certifica-se neste item da pesquisa que apenas 14,6% dos docentes participantes afirmaram “Sempre” usar o celular, enquanto 21,1% afirmaram “Muitas vezes” usar o celular, 34,1% afirmaram que “Às vezes” usam o celular, 16,3% afirmaram que “Raramente” usam o celular e 13,8% disseram que “Nunca” usam o celular para gravar e editar um vídeo.

Segundo Nóvoa (2009, p. 75),

[…] usar a tecnologia a seu favor, é um grande desafio para a escola, para alguns professores e até mesmo para certos alunos. Muitas vezes, a dificuldade se dá pelo fato de que nem todos possuem o domínio das ferramentas, ou até mesmo, por não possuírem acesso as mesmas. Diante deste contexto o professor deve saber adequar a tecnologia que possui ao seu contexto e a realidade dos alunos.

Para utilizar os recursos do smartphone como estratégia no ensino aprendizagem, seria necessário que os docentes diminuíssem a influência quanto a utilização dessa ferramenta, participando de uma formação continuada. Para Camas et al. (2013, p. 8), é um desafio “formar os futuros professores e os já atuantes na educação a entenderem e fazerem uso significativo das potencialidades tecnológicas na realização de suas aulas”.

Dessa forma, pretendeu-se com esta pesquisa descobrir qual a real carência do docente nessa área e enfrentar esse desafio. Então, na questão “Se você fizer um curso de formação continuada, que conteúdos gostaria que o curso contemplasse?” (Figura 7), foram oferecidas as opções: “Roteiro”, “Utilizar a câmera”, “Técnicas de oratória para o vídeo”, “Edição” e “Distribuição em plataformas de vídeo (YouTube, Reels, Tik Tok, Vimeo etc.)”, podendo ser marcadas mais de uma opção por participante.

Figura 7. Formação Continuada: conteúdo(s) de preferência

Fonte: Autora, 2022.

Verifica-se com essa questão que 87% dos participantes têm a intenção de aprender mais sobre “Edição” de vídeos com conteúdos educacionais, seguida de 60,2% que gostariam de saber mais sobre como é feita a “Distribuição em plataformas de vídeo (YouTube, Reels, Tik Tok, Vimeo etc.)”. Na sequência temos “Técnicas de oratória para o vídeo”, com 51,2%; “Roteiro”, com 48%; “Utilizar a câmera”, com 37,4%.

Nesta pesquisa busca-se refletir sobre a necessidade da formação constante e instrumentalização do docente. Para Romanowski (2010, p. 138):

A formação continuada é uma exigência para os tempos atuais. Desse modo, pode-se afirmar que a formação docente acontece em continuum, iniciada com a escolarização básica, que depois se complementa nos cursos de formação inicial, com instrumentalização do professor para agir na prática social, para atuar no mundo e no mercado de trabalho.

Isto posto, a partir da Pesquisa Científica 01, será elaborada uma formação continuada para docentes de São Gonçalo/RJ. Isso é assunto para um outro capítulo.

Considerações Finais

É indiscutível o avanço tecnológico no século XXI e a forma como indivíduos estão encantados com esse aparelho que cabe na palma da mão e que conecta pessoas, que muitas vezes não teriam a possibilidade de sequer se conhecerem pessoalmente.

Este estudo teve como objetivo a reflexão sobre o uso das TDE na educação, o apontamento de algumas dificuldades encontradas pelos docentes quanto à inclusão digital e a necessidade de formação continuada para habilitá-los a dinamizarem suas aulas através do entrelaçamento do tradicional com o novo, encontrando dessa forma, o equilíbrio entre aula expositiva e aula permeada com ferramentas digitais.

A fim de conhecer a real carência do professor, foi aplicada e analisada uma pesquisa através do formulário do Google Drive, para a partir dos resultados, se pensar no planejamento de um curso híbrido, voltado para as necessidades registradas. Notou-se que os resultados da pesquisa corroboram com o que os autores citados neste estudo comentam a respeito da necessidade de alfabetização midiática dos professores.

Referências

APARICI, Roberto (Org.). Educomunicação: para além do 2.0. São Paulo: Paulinas, 2014.

BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, Fernando de Mello. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015a.

BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, Fernando de Mello. Planejando a mudança. In: BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, Fernando de Mello (Org.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015b, p. 191 – 244.

BARBOSA, Ana Mae. A importância da imagem no ensino da arte. A Imagem no Ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 2008.

BEZERRA, Júlio César Cavalcante; BRITO, Sydneia de Oliveira. Redes Sociais como ferramenta pedagógica: O caso do projeto e-Jovem. In: Congresso Internacional ABED de Educação a Distância, 2013.

CAMAS, Nuria Pons Vilardell; MANDAJI, Mônica; RIBEIRO, Renata Aquino; MENGALLI, Neli Maria. Professor e cultura digital: reflexão teórica acerca dos novos desafios na ação formadora para nosso século. Reflexão e Ação, v. 21, n. 2, p. 179-198, 2013. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/3834. Acesso em: 16 out. 22.

CNN. Brasil tem mais smartphones que habitantes, aponta FGV. CNN Brasil., 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/brasil-tem-mais-smartphones-que-habitantes-aponta-fgv/. Acesso em: 16 abr. 2022.

DEDONÉ, T. S. A Educomunicação e o processo de formação dos professores: ressignificando saberes. SCIAS – Educação, Comunicação e Tecnologia, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 115–126, 2019. DOI: 10.36704/sciaseducomtec.v1i1.3645. Disponível em: https://revista.uemg.br/index.php/sciasedcomtec/article/view/3645. Acesso em: 25 jan. 2023.

DEDONÉ, Tiago Silvio. Intersecções entre a comunicação e a educação: tecendo reflexões sobre a Educomunicação. In: DENDASCK, Carla; DIAS, Cláudio Alberto Gellis de Mattos; NASSIRI, Reza (Orgs.). Reflexões, proposições e desafios na construção do conhecimento acadêmico e científico no Brasil: 2022. São Paulo: CPDT, 1ª ed, 2022, p. 58. DOI do capítulo: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/722. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/livros/multidisciplinar/reflexoes/comunicacao-e-a-educacao. Acesso em: 23 jan. 2023.

FACCIONI, Paulo. O uso do celular como recurso pedagógico. In: BRITO, Glaucia da Silva (Org.). Tecnologia na educação: as multimídias como recurso pedagógico. São Paulo: Perse, 2018, p. 26 – 27.

FALCÃO, Patricia Mirella de Paulo; MILL, Daniel. O docente em formação e o docente formador: uma visão sobre a tecnologia digital na grade curricular. Atos de Pesquisa em Educação, [S.l.], v. 14, n. 2 s1, p. 745-771, nov. 2019. ISSN 1809-0354. DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2019v14n2s1p745-771.Disponível em: https://bu.furb.br/ojs/index.php/atosdepesquisa/article/view/7202. Acesso em: 10 jan. 2023.

FRESQUET, Adriana. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

LIMA, L. H. F.de; MOURA, Flavia Ribeiro de. O professor no ensino híbrido. In: BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, Fernando de Mello. (Org.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015, p. 89 – 102.

MARTIN-BARBERO, Jesús. A comunicação na educação. Trad. Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Dafne Melo. São Paulo: Contexto, 2021.

MEIRELLES, Fernando S. Panorama do Uso de TI no Brasil. Fundação Getúlio Vargas, 2022. Disponível em: https://portal.fgv.br/artigos/panorama-uso-ti-brasil-2022. Acesso em: 21 jan. 2023.

MORAN, José Manuel. Ensino e Aprendizagem Inovadores com apoio de Tecnologias. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 21ª Rd.  São Paulo: Papirus, 2013, p. 11-72.

NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.

ROMANOWSKI, Joana Paulin. Formação e profissionalização docente. 4ª Ed.rev. Curitiba: IBEPEX, 2010.

SANTOS, Marta da Cunha; GHISLENI, Taís Steffenello. Impactos da educomunicação na educação básica e a sua contribuição para a prática docente. Research, Society and Development, v. 8, n. 3, p. 01-21, 2019.

SANTOS, Rodrigo Otávio dos. Redes sociais digitais na educação brasileira: seus perigos e suas possibilidades. São Paulo, Artesanato Educacional, 2022.

SANTOS, Rodrigo Otávio dos; RUDNIK, Raquel Machado Lopes. Instagram e a educação: algumas considerações. Revista Brasileira de Educação, v. 27, 2022.

SOUZA, Gabrielle Martins de. Ensino híbrido na educação básica: construindo raciocínios geográficos na sociedade em rede. Dissertação (Mestrado em Novas Tecnologias Digitais na Educação) – Centro Universitário Unicarioca. Rio de Janeiro, 2020.

[1] Mestranda em Novas Tecnologias Digitais na Educação. ORCID: 0000-0002-7240-849X. Currículo Lattes: 3743128864156196.

[2] Orientador. ORCID: 0000-0002-0154-606X.

[3] Coorientadora. ORCID: 0000-0002-1487-5401.

Neuza Siqueira de Souza

Neuza Siqueira de Souza

Mestranda em Novas Tecnologias Digitais na Educação. ORCID: 0000-0002-7240-849X. Currículo Lattes: 3743128864156196.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Capa do Livro

Ciências Humanas Atualização de Área janeiro e fevereiro de 2023

DOI do Capítulo:

10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/

1624

DOI do Livro:

10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/

1609

Capítulos do Livro

Livros Acadêmicos

Promova o conhecimento para milhões de leitores, publique seu livro acadêmico ou um capítulo de livro!