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O Uso da Tecnologia para Alfabetizar e Letrar no Século XXl

RC: 8992
638
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/tecnologia-para-alfabetizar

CONTEÚDO

MIYAZAKI, Ana Rita de Souza [1]

MIYAZAKI, Ana Rita de Souza. O Uso da Tecnologia para Alfabetizar e Letrar no Século XXl. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 04. Ano 02, Vol. 01. pp 219-230, Julho de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

As tecnologias de comunicação e informação conhecidas como TIC’s modificaram a comunicação do mundo, e de forma significativa, o nosso cotidiano, intervindo em diferentes esferas da sociedade, tais como: política, econômica e cultural, dentre outras. Na educação não poderia ser diferente. Rádio, televisão, jornal, revistas, computador, telefone celular, tablets. As mídias estão cada vez mais acessíveis e podem ser importantes ferramentas didáticas. A compreensão do uso das novas tecnologias em sala de aula é um passo importantíssimo que visa aproximar o professor de um mundo midiático que propicia mais dinâmica na sala de aula. Nesta perspectiva, o presente trabalho, partindo de uma análise crítica, visa trazer algumas concepções sobre o uso da tecnologia correlacionada aos conceitos de alfabetização e letramento de modo a compreender como estas podem contribuir para uma educação de qualidade desde os primeiros anos do ensino fundamental. Para tanto esta pesquisa faz um breve retrospecto sobre o conceito de letramento e alfabetização, discute alguns métodos de se alfabetizar na pré-escola e como o letramento pode ser fomentando nesta nova conjuntura educacional. A metodologia aplicada ao trabalho se ateve a um estudo descritivo do tipo revisão bibliográfica, que se respaldou em literaturas científicas, trabalhos acadêmicos referenciados que tentem responder a tais questionamentos, sendo que os resultados obtidos responderam satisfatoriamente à proposta da pesquisa em foco.

Palavras-chave: Tecnologia, Alfabetização, Letramento.

1. INTRODUÇÃO

Para viver em sociedade o homem precisa se comunicar. Pode ser por meio de uma simples mensagem escrita, uma conversa ao telefone, um e-mail, um assovio, uma discussão olho no olho. Pode ainda ser numa aula, numa palestra, por meio de uma notícia de jornal, um programa de rádio, um livro publicado. Não há nada de novo nisso. O homem sempre buscou formas de se comunicar. Contudo, por que, então, falamos, atualmente, em era da comunicação? Responder a este questionamento no leva a ponderarmos que a internet aproxima as pessoas de tal forma que podemos nos comunicar sincronicamente com alguém do outro lado do mundo. Situações que demandavam meses para que as pessoas interagissem. Nesta perspectiva podemos arrazoar ainda que cada pessoa hoje é ‘repórter’ do seu próprio mundo. Isso implica dizer que as pessoas, atualmente, podem se posicionar sobre qualquer fato, publicar no seu blog, entrar no jornal e fazer um comentário sobre um fato que acabou de acontecer. Logo, a internet possibilita uma comunicação em rede, uma divulgação da realidade instantaneamente e em rede, o que converge para a educação do futuro, explicitada por Edgar Morin, que afirma que: “a educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal centrado na condição humana” (MORIN, 2002, p. 47).

A internet faz parte de um processo contemporâneo, é um processo de comunicação de massa unilateral. A possibilidade de democratização que ela nos coloca é real. Através da internet começamos a perceber que não somente o universo escolar, mas todos os espaços necessitam do seu uso. Ela tem um impacto na forma como as pessoas trabalham, se divertem, e é claro, aprendem.

Mas como incorporar as tecnologias como abordagem comunicativa? Como criar condições para os estudantes exercitarem a capacidade de selecionar a informação, resolver problemas e transformar informação em conhecimento? Quais os desafios que viemos enfrentando? Porque adotar uso de novas tecnologias em sala de aula?

De acordo com Perrenoud (2000, p. 26) “durante muito tempo a tarefa do professor era assimilada à aula magistral seguida de exercícios”. Com as novas tecnologias essa concepção de ensino mudou. As novas tecnologias se tornaram então excelentes ferramentas de apoio ao processo educacional. E para essa aderência às novas tecnologias faz-se necessária competência por parte do docente. “A noção de competência designará aqui uma capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situações. (PERRENOUD, 2000, p. 26).

O professor que utiliza em sala de aula, de mídias como: vídeos, slides de apresentações em powerpoint, áudios, computadores ou tablets percebem que estas são excelentes ferramentas de ensino-aprendizagem, e dizem, consequentemente à novas formas de conhecimento, que conforme nos aponta Edgar Morin em “Sete saberes necessários à educação do futuro”, diz respeito à “uma tradução, seguida de uma reconstrução. Mesmo no fenômeno da percepção em que os olhos recebem estímulos luminosos que são transformados, decodificados, transportados a um outro código” (MORIN, 2002, p. 20).

Portanto, o presente trabalho se justifica pelo fato de que podemos perceber a necessidade emergente do uso da tecnologia para alfabetizar e letrar no século XXI, pois o que é perceptível que atualmente “não ensinamos as condições de um conhecimento pertinente, isto é, um conhecimento que não mutila o seu objeto” (MORIN, 2002, p. 20).

E para isso, faz-se necessária “a formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 2012, p. 22). E tudo isso tem estreita articulação com as transformações que vêm se processando na nossa sociedade, além da necessidade de repensarmos, por meio de uma análise crítica, algumas concepções sobre os fenômenos ligados aos desafios das novas tecnologias em sala de aula na nossa atual conjuntura social correlacionando-os à questão da identidade cultural, conforme nos aponta FREIRE (2012, p. 24) “de que fazem parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não pode ser desprezado”.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 O QUE É LETRAMENTO?

O conceito de letramento ganhou maior evidência fora do Brasil, em meados dos anos 1980. Numa época em que países, como Estados Unidos, França e Portugal também passaram a voltar às atenções para as práticas sociais de leitura e escrita mais complexas do que as práticas decorrentes da aprendizagem do sistema de escrita.

Magda Soares, estudiosa do tema nos faz algumas considerações a respeito do letramento. Para a autora: “Letramento é palavra recém-chegada ao vocabulário da Educação e das Ciências Linguísticas: é na segunda metade dos anos 80, há cerca de apenas dez anos, portanto, que ela surge no discurso dos especialistas dessas áreas” (SOARES, 2009, p.15).

Logo, para a autora, é difícil conceituar o letramento ou mesmo impossível defini-lo, haja vista que enfrentamos uma falta de uma condição essencial para sua avaliação e medição: uma definição precisa que permita determinar os critérios a serem utilizados para distinguir pessoas letradas de iletradas, ou para estabelecer diferentes níveis de letramento (SOARES, 2009).

Contudo, ao discutirmos o conceito de letramento, o primeiro fato que precisamos nos atentar é que vivemos numa sociedade letrada, onde a escrita está presente a todo o momento. E nesta perspectiva, “conhecer os conteúdos a serem ensinados é a menor das coisas, quando se pretender instruir alguém” (PERRENOUND, 2000, p. 26).

Isso converge para o que nos aponta Morin, de que devemos levar em consideração que “somos parte de uma sociedade, uma parte da espécie, seres desenvolvidos sem os quais a sociedade não existe” (MORIN, 2002, p. 25). Portanto, o conceito de letramento é amplo e exige essas interpretações de modo a compreender o que é tratado nele é justamente os usos, as práticas de leitura e de escrita presentes no cotidiano das pessoas.

Perrenoud (2000, p. 28), nos esclarece que “a escola não constrói a partir do zero, nem o aprendiz não é uma tabula rasa, uma mente vazia; ele sabe ao contrário, “muitas coisas”, questionou-se e assimilou ou elaborou respostas que o satisfazem provisoriamente” Neste sentido, é difícil conceituar o letramento ou mesmo impossível defini-lo, haja vista que enfrentamos uma falta de uma condição essencial para sua avaliação e medição: uma definição precisa que permita determinar os critérios a serem utilizados para distinguir pessoas letradas de iletradas, ou para estabelecer diferentes níveis de letramento.

Então numa sociedade urbana em que a escrita é cada vez mais presente é impossível pensarmos em pessoas que não façam uso da leitura e da escrita, sejam elas alfabetizadas ou não. Assim, as pessoas estão, a todo o momento, tendo contato com materiais escritos, lemos, por exemplo, placas de ônibus, nomes de produtos em supermercados, avisos, diferentes faixas. Então a escrita é algo extremamente presente.

Logo, o letramento representa um conjunto de práticas sociais de uso da escrita. Ou seja, trata-se de um processo em que a criança vai ter acesso às práticas culturais de leitura e de escrita, irá desenvolver atitudes favoráveis à leitura e escrita, compreendo, portanto, seu sentido no contexto social. E para isso é preciso insistir no saber necessário ao professor que conforme Freire, “ensinar não é transferir conhecimento – não apenas precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razoes de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica, mas também precisa ser constantemente testemunhado, vivido” (FREIRE, 2012, p. 27).

Então quando apreendemos o conceito de letramento estou apreendendo-o no sentido do que as pessoas fazem com a escrita ou a partir dela. Então, de certa forma, tudo que envolve um fazer em que a escrita é perpassada tem a ver com um evento de letramento, uma situação em que a escrita, de certo modo, afeta e intervém nos modos que interagimos. E o ideal é que, “na experiência educativa, educandos, educadores e educadoras, juntos, “convivam” de tal maneira com este como com outros saberes” (FREIRE, 2012, p. 34).

Por esta via o conceito de letramento vai além da alfabetização, daquilo que entendemos como apropriação do sistema de escrita para tratar dos usos sociais da escrita na sociedade.

Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condição social e cultural – não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura – sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferente (SOARES, 2009, p.37).

Converge para o respeito à autonomia e à dignidade de cada um como um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros (FREIRE, 2012, p. 35).

Esta concepção de letramento veio no sentido de enriquecer esse momento de uma tecnologia adquirida pela criança, ou mesmo pelo adulto. “As atividades de aprendizagem são, em princípio, apenas meios a serviço de finalidades que autorizam outras trajetórias (PERRENOUD, 2000, p. 48).

A ideia é que essa alfabetização se concretize tendo em vista um horizonte social de utilização dessa tecnologia. “Isto exige de mim uma reflexão crítica permanente sobre minha prática através da qual vou fazendo a avaliação do meu próprio fazer com os educandos” (FREIRE, 2012, p. 38).

É interessante perceber que em dicionários da década de 1980 o conceito de letramento sequer aparecia. Nem o verbo letrar. Eles estão absolutamente ausentes. Então o próprio verbete ‘letrado’ sofreu algumas modificações em sua concepção. Em dicionários anteriores ele indicava pessoa erudita, versado em letras, um literato. E mais recentemente ele indica também a pessoa que é capaz de se inserir em eventos de letramento de uso da escrita com autonomia, com essas habilidades.

Se a palavra letramento ainda causa estranheza a muitos, outras palavras do mesmo campo semântico sempre nos foram familiares: analfabetismo, analfabeto, alfabetizar, alfabetização, alfabetizado e, mesmo, letrado e iletrado. Analfabetismo, define o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, é o “estado ou condição de analfabeto”, e analfabeto é o “que não sabe ler e escrever”, ou seja, é o que vive no estado ou condição de quem não sabe ler e escrever; a ação de alfabetizar, isto é, segundo o Aurélio, de “ensinar a ler” (e também a escrever, que o dicionário curiosamente omite) é designada por alfabetização, e alfabetizado é “aquele que sabe ler” (e escrever). Já letrado, segundo o mesmo dicionário, é aquele “versado em letras, erudito”, e iletrado é “aquele que não tem conhecimentos literários” e também o “analfabeto ou quase analfabeto”. O dicionário Aurélio não registra a palavra “letramento”. Essa palavra aparece, porém, em um dicionário da língua portuguesa editado há mais de um século, o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete: na sua 3ª edição brasileira,” o verbete “letramento” caracteriza a palavra como “ant.”, isto é, “antiga, antiquada”, e lhe atribui o significado de “escrita”; o verbete remete ainda para o verbo “letrar” a que, como transitivo direto, atribui a acepção de “investigar, soletrando” e, como pronominal “letrar-se”, a acepção de “adquirir letras ou conhecimentos literários” – significados bem distantes daquele que hoje se atribui a letramento (que, como já dito, não aparece no Aurélio, como também nele não aparece o verbo “letrar”) (SOARES, 2009, p.16-17).

É nesse sentido que a escola deve se preocupar com o letramento. Ou seja, com a oportunização de momentos de inserção em práticas letradas, práticas de uso da escrita.

“Para que cada aluno progrida rumo aos domínios visados, convém colocá-lo com bastante frequência, em uma situação de aprendizagem ótima para ele” (PERRENOUD, 2000, p. 55). Portanto, não basta uma condição alfabetizada do ponto de vista tradicional que era aprender a ler e escrever, ou seja, aprender a decodificar e codificar, embora essa condição seja fundamental, ela não é suficiente para formar sujeitos letrados e para além disso, “a capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a” (FREIRE, 2012, p. 41).

2.2 SER ALFABETIZADO E SER LETRADO

Atualmente no Brasil encontramos uma questão de extrema importância ao tratar da precariedade da alfabetização, pois nota-se que muitas pessoas já escolarizadas são consideradas analfabetas funcionais, ou seja, não são capazes de compreender o que leem. Para que essa realidade seja mudada e para que as práticas pedagógicas sejam verdadeiramente significativas, é preciso compreender inicialmente a concepção do que seja ensinar para depois apreendermos o sentido de alfabetização e letramento.

Para Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado” (FREIRE, 2002, p. 12). Neste sentido, podemos entender, conforme Freire, “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2002, p. 12).

Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender. Não temo dizer que inexiste validade do ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode realmente aprendido pelo aprendiz (FREIRE, 2002, p. 12-13).

Por esta via, a resposta ao questionamento, o que é ser alfabetizado e letrado envolve dos conceitos que, embora distintos precisam caminhar juntos. Ser alfabetizado nem sempre significa ter autonomia na escrita e na leitura. Por isso é importante alfabetizar letrando. E ao mesmo tempo, “é importante que os alunos percebam o esforço que faz o professor ou a professora procurando sua coerência” (FREIRE, 2012, p. 64).

Contudo, o conceito de alfabetização vem sofrendo transformações ao longo do tempo, ao longo da história, mas basicamente pode ser considerado como o processo de ensinar a ler e escrever.

Conforme Freire (2012, p. 13), “quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a serenidade”. Logo, a alfabetização é o processo em que vai permitir a aquisição do sistema de escrita pelas crianças. É um processo que a criança aprende o sistema de escrita enquanto sistema de representação da língua falada.

E já o letramento é quando ela lê e escreve, mas num contexto social. Ou seja, uma pessoa quando vai até o ponto de ônibus e consegue identificar os nomes dos bairros, placas pode ser considerada uma pessoa alfabetizada. Já uma pessoa letrada é aquela que lê, escreve e interpreta diversos gêneros. Por exemplo, ao ler um texto de jornal, essa pessoa consegue opinar sobre o assunto lido. Portanto essa é a diferença essencial entre os conceitos de letramento e alfabetização.

Tal explicitação nos leva a associação do educador democrático de Paulo Freire (2012, p. 14) que diz que “o educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua submissão”. Na escola, assim como na vida, de uma forma geral a criança deve interagir firmemente com o caráter social da escrita e ler e escrever textos significativos. E nesta perspectiva é possível alfabetizar letrando, seja através de muita leitura de textos de circulação, tais como receitas, bulas, jornais. Então, num primeiro momento é importante introduzir tais gêneros para o aluno. “É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível” (FREIRE, 2012. p. 14).

Um ponto importante a ser considerado na atualidade, é que a criança, geralmente entra na escola aos 6 anos de idade. O ensino fundamental está ampliado. E pensar situações de aprendizado que coloquem essa criança em processo tanto de alfabetização como de letramento é um desafio. Para tanto, “essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes” (FREIRE. 2012, p. 14).

Com isso, temos de pensar que uma criança, ao chegar na escola com seus 6 anos ou até mesmo antes, ela chega à escola com muitos conhecimentos. Conhecimentos esses que vem de um mundo letrado, em que ela está em contato com a leitura e com a escrita. Então, cabe aos educadores partirem de onde a criança sabe, ou seja, do conhecimento que ela traz de seu espaço familiar, e a partir daí introduzir para ela novos conhecimentos que lhe sejam significativos. Mas para isso é importante considerar o que nos aponta Freire:

Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo. Aí a impossibilidade de vir a tornar-se um professor crítico se, mecanicamente memorizador, é muito mais um repetidor cadenciado de frases e de ideias inertes do que um desafiador (FREIRE, 2012, p. 14).

Assim sendo, o processo de alfabetização e letramento envolve várias atividades, dentre elas, lembrar, raciocinar, interpretar ideias. Exige o pensar certo que, “em termos críticos, é uma exigência que os momentos do ciclo gnosiológico vão pondo à curiosidade que, tornando-se mais e mais metodicamente rigorosa, transita da ingenuidade para o que venho chamando “curiosidade epistemológica” (FREIRE, 2012, p. 16).

E nisso existem atividades que são essenciais no processo de alfabetização e letramento, sejam elas: desenvolver uma carga significativa de leitura de diversos gêneros, a produção de textos escritos, pois até mesmo aquele aluno que não sabe ler e escrever é capaz de produzir um texto, tendo o professor como escriba, também muito texto de memorização, adivinhas, ditos populares, rodas de conversa e de leitura, jogos de memorização.

Portanto, exige o “pensar certo”, “do ponto de vista do professor, tanto implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessária superação quanto o respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando” (FREIRE, 2012, p. 16).

O letramento é cultural, por isso muitas crianças já vão para a escola com o conhecimento alcançado de maneira informal, absorvido no cotidiano. Com isso “a grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tomado como paciente de seu pensar, a inteligibilidade das coisas, dos fatos, dos conceitos” (FREIRE, 2012, p. 21).

Ao conhecer a importância do letramento deixamos de exercitar o aprendizado automático e repetitivo baseado na descontextualização, mas para isso é necessário suscitar a curiosidade, vista como “inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere e alerta faz parte integrante do fenômeno vital” (FREIRE, 2012, p. 18).

Sabendo disso a família também pode colaborar no sucesso desse processo de alfabetização e letramento de seus filhos de modo a suscitar a autonomia de seus filhos, pois conforme Freire evidencia “a participação dos pais se deve dar, sobretudo, na análise, com os filhos, das consequências possíveis da decisão a ser tomada” (FREIRE, 2012, 67).

Nesta perspectiva é importante que os pais também propiciem momentos de leitura com seus filhos, pois temos que pensar que os adultos são exemplos para as crianças. Então, a partir do momento que eles gostam de ler, as crianças também passam a gostar. Assim, pelo fato da criança estar em contato com a leitura e a escrita nos livros, consequentemente a alfabetização vai acontecer mais aceleradamente.

2.3 TECNOLOGIA PARA ALFABETIZAR E LETRAR NO SÉCULO XXI

A competência é a base para a formação da cidadania que, por conseguinte, diz respeito àquilo que buscamos dentro do processo educacional. Cada vez mais novas demandas são exigidas do cidadão. Isso implica numa revisão do processo educacional. Implica também numa evolução que remete a sairmos do modelo tradicional, do quadro e do giz para o quadro branco em que não há mais giz, para a lousa virtual e para os sistemas interativos de comunicação.  Estamos falando da informática na educação, da tecnologia na informação. E também da evolução no processo educacional que necessitam evoluir. Logo, é importante levarmos em consideração que “… o conhecimento deve se referir ao global. O global sendo, bem entendido, a situação de nosso planeta, onde, evidentemente, os acidentes locais têm repercussão sobre o conjunto e as ações do conjunto sobre os acidentes locais…” (MORIN, p. 04).

Para Morin, esse fenômeno que estamos vivendo hoje em que tudo está conectado” (MORIN, p. 09). Ou seja, os paradigmas antigos devem ser quebrados. É isso que se propõe à nova conjuntura social: a informática e a tecnologia de informação na educação. Neste sentido, a escola sempre ficou um pouco para traz.

Deste modo, na hora em que se muda um paradigma tem-se que mudar a forma de tratar isso porque a escola faz parte de uma sociedade, a mídia faz parte de uma sociedade. A sociedade é midiatizada, ou seja, pensa de acordo com a lógica de mídia. Logo, a escola também terá de pensar no mesmo sentido a fim de que cumpra o seu papel.

A informática nada mais é do que o processo de gerar informações de forma automática. E a informática é proporcionada hoje em sala de aula, principalmente através do uso do computador. Nós temos o notebook, o desktop, o notebook, temos hoje os tablets, e pager em geral, além dos celulares.

É na parte de transmissão de informações que reside a grande importância desse processo porque enquanto tínhamos computadores isolados, capazes de armazenar e processar informações isso não despertava muito interesse do educando. Mas a partir do momento que estamos conectados em rede e somos capazes de transmitir informações o educando passou a ter mais interesse pela questão da informática na sala de aula.

No que tange às aplicações de um computador, eles são usados nos negócios, na medicina e na saúde pública, na educação, na engenharia, manufatura, política, entretenimento, etc. Ora, então porque não ter o computador na sala de aula, se ele é utilizado em todos os segmentos da sociedade moderna em que vivemos hoje. É óbvio que ele também terá que ser usado em sala de aula.

O computador é uma máquina programável, capaz de realizar uma grande variedade de tarefas. Quando mostramos que estas tarefas envolvem atividades do cotidiano do educando ele passa a ter maior interesse nas tarefas.

Vídeo, áudio, imagem, tudo isso é extremamente sedutor para o jovem de hoje. Os textos e os números nem sempre o são. Porém, vídeos, imagens e sons envolvem o jovem e o adolescente numa proporção que a maioria de nós não é capaz ainda de mensurar.

Assim sendo, a sala de aula deve preparar o indivíduo para o mundo. Se o mundo é permeado de informática e de computadores, a sala de aula também deve fazer uso do computador e da informática e de forma interligada à internet para preparar o educando para o mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Convivemos com o desafio de educar numa sociedade que se transforma aceleradamente, que se faz e desfaz com uma impressionante rapidez.

A informática no contexto educacional torna-se uma importante ferramenta que visa proporcionar o aprendizado de modo mais dinamizado, até mesmo pelo fato do computador, a informática e a conexão em rede estarem presentes em todos os aspectos da vida social e da vida cultural do ser humano hoje que vive na área urbana na nossa sociedade moderna.

Há algum tempo que se diz que o ensino de línguas, por exemplo, é o ensino para a comunicação. No entanto esse ensino ficava dentro da sala de aula ‘didatizado’, simulado.

Hoje os professores ao utilizarem a internet, colocarem seus alunos para utilizarem as ferramentas da internet, há possibilidade de se fazer práticas sociais da linguagem reais. Quando nos referimos às práticas sociais está se refere ao sentido do aluno poder não apenas simular que está escrevendo uma carta para alguém, criticando algo, mas de fazer essa crítica em um blog, por exemplo, onde outras pessoas podem entrar, interagir com ele e comunicar.

As ferramentas que nós dispomos atualmente, como o próprio celular, as máquinas fotográficas são de uso muito fácil. Muitas pessoas são capazes de fazerem um vídeo, de fotografar, editar fotografias e publicar na internet fazendo com que outras pessoas vejam e interajam com o autor desses produtos.

A tecnologia tornou-se um dos componentes para uma educação de qualidade. Contudo, a educação de qualidade tem um espectro muito maior do que somente o uso das tecnologias. Portanto, ela contribui, mas não é o único elemento. A formação dos professores, gestores e da própria escola, o trabalho colaborativo em torno de um projeto pedagógico consistente e a participação de todos faz parte dessa educação maior que é a educação que procuramos, uma educação democrática, inclusiva e uma educação que promove o processo de ensino e aprendizagem ao longo da vida.

Portanto, as tecnologias são importantes como apoio, haja vista que a educação de qualidade pode ser feita até sem uso das tecnologias, mas no mundo atual, no mundo já conectado, em rede, ficaria inadequado trabalhar todos esses conteúdos sem essa mediação que usamos no cotidiano, no dia a dia, no trabalho.

Como nos expõe Moran (2000, p. 50), “é preciso educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos indivíduos”, pois, conforme o autor, quando a criança chega à escola os processos fundamentais de aprendizagens já estão desenvolvidos de forma significativa. E por esta via, concomitantemente, urge também a educação para as mídias, para compreendê-las, criticá-las e utilizá-las de forma mais abrangente possível.

A influência do computador no processo de alfabetização e letramento não pode ser deixado de lado e neste sentido é importante salientar as atividades realizadas para o desenvolvimento das habilidades referentes ao uso do computador. Conhecer e saber utilizar essa mídia é fundamental, principalmente para crianças que já nasceram em uma época onde o computador é utilizado para realizar inúmeras tarefas simples do cotidiano.

E diante de toda essa conjuntura Moran (2005) nos lembra que o novo profissional deverá, portanto, “integrará melhor as tecnologias com a afetividade, o humanismo e a ética. Será um professor mais criativo, experimentador, orientador de processos de aprendizagem […] ”Assim utilizar a tecnologia com crianças traz benefícios para o desenvolvimento da alfabetização e do letramento e também pelo simples fato de ensinar aos alunos a utilizá-la para melhorar a vida.

E nesta ótica, podemos compreender o que nos traz a autora Magda Soares no que tange ao letramento, pois conforme entendimento da autora, a criança quando vem à escola, dá continuidade a um trabalho de letramento que ela já vinha desenvolvendo dentro do seio da família e da sociedade como um todo, e, em contato, com outros textos, com outros gêneros, com atividades que o professor estimula, como por exemplo, ouvir cantigas, cantar músicas de roda, declamar poemas, produzir poemas, ter contato com brincadeiras, com jogos, ler e escutar fábulas, contos maravilhosos. Esse trabalho tem continuidade e dentro dele é perfeitamente possível empreender também um trabalho de alfabetização.

Perrenould nos aponta para os saberes necessários à educação do futuro, e convergente a isso, podemos ainda apreender que é muito importante, durante a fase escolar da criança e da vida dela, não deixarmos de lado o espírito lúdico, o espírito da brincadeira. É importante também que os professores fiquem, portanto, atentos a essa questão, de modo que turmas inseridas, por exemplo, no 1º ou 2º ano, que são os anos voltados para a alfabetização tenham a leveza necessária para que a criança não se sinta numa escola presa naquele sentido tradicional de estudar, como Paulo Freire em seus textos nos chama a atenção, mas para que, o trabalho de letramento e de alfabetização tenha a mesma leveza, assim como essa criança  brinca com os amigos na hora do intervalo, na rua, com a família em casa, portanto, poderíamos usar o termo “educação libertadora” no sentido freiriano, de modo que, a criança brincando com jogos, ouvindo músicas, cantando músicas, sendo feitas, a partir daí atividades de reflexão em torno do sistema alfabético da língua de forma que a criança levante hipóteses da escrita de algumas palavras, sobre o seu próprio nome, sobre os nomes dos colegas, de forma que tudo isso seja levando também para uma produção de texto que resulte em alguns projetos.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra, São Paulo, 2002.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessário a educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 6ª Ed. São Paulo: Cortez Editora. DF: UNESCO, 2002.

PERRENOULD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Convite à viagem. Tradução: Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre, Artimed, 2000.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 3. ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

[1] Especialista em Pedagogia, Letras – Inglês/Português Psicopedagogia. Mestranda em educação UDE – Universidad de la Empresa-Montevideo-Uruguay.

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Ana Rita de Souza Miyazaki

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