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Os múltiplos papéis do coordenador pedagógico

RC: 142165
658
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/papeis-do-coordenador

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SANTOS, Amanda Pirassol dos [1]

SANTOS, Amanda Pirassol dos. Os múltiplos papéis do coordenador pedagógico. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 03, Vol. 03, pp. 31-44. Março de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/papeis-do-coordenador, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/papeis-do-coordenador

RESUMO

O objetivo deste artigo é identificar os principais desafios do Coordenador Pedagógico (CP) em seu contexto profissional. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, e os dados foram interpretados pelo método qualitativo. A partir deste estudo, compreende-se que a rotina de trabalho do coordenador pedagógico é intensa. Busca-se entender, dentre as várias funções exercidas pelo coordenador pedagógico, quais são os principais desafios enfrentados no cotidiano escolar. Atendimento aos pais, organização de espaços de aprendizagem, cronogramas, reuniões pedagógicas e muito mais. Diante de tantas demandas, o profissional sente-se confuso e sobrecarregado, e isso faz com que os pesquisadores reflitam sobre a sua efetiva função no ambiente escolar e contribuições junto aos professores e alunos. Este estudo tem base em autores renomados que tratam sobre a construção da identidade dos CPs, como Holanda e Pordeus (2021) e Placco, Souza e Almeida (2018), mas diversos outros autores poderiam ter sido considerados para este estudo. O processo de construção de identidade depende de muitos fatores, mas, dentre eles, cabe ao próprio coordenador definir prioridades, delimitar tarefas e organizá-las conforme o seu contexto, dando prioridade ao seu processo de formação, que deve ser construído através de ações coletivas, englobando todos os atores da unidade escolar. É necessário que o CP priorize, em sua rotina, momentos de atualização, estudo, fortalecimento, análise, planejamento, replanejamento e avaliação do processo de formação pelo qual é responsável.

 Palavras-chave: Coordenador pedagógico, Desafios, Identidade, Formação continuada, Funções.

1. INTRODUÇÃO 

Ao registrar e refletir sobre suas ações e atuação, o Coordenador Pedagógico (CP) amplia seu campo de possibilidades. Através da reflexão, é capaz de identificar situações burocráticas impostas pelo sistema de ensino no qual está inserido, que são de atribuição do CP, mas também pode encontrar a oportunidade de organizar sua rotina semanal de trabalho, elegendo critérios sobre suas demandas, organizando seu tempo de estudos e fortalecimento para se tornar capaz de mapear as necessidades formativas do território em que atua.

Quando se observa a rotina de um CP no ambiente de trabalho, facilmente constata-se dificuldades para encontrar momentos de estudo e de reflexão. Sempre há um assunto para se resolver, que se faz urgente e prioritário, como, por exemplo, um acidente envolvendo alunos durante o período de intervalo, um atendimento ao professor que não foi agendado previamente, a verificação de semanários e instrumentos de avaliação utilizados por docentes, um atendimento a familiares de um aluno matriculado recentemente, uma reunião com a direção da escola para tratar sobre eventos internos ou que envolvam a comunidade escolar, enfim, são inúmeras as atividades capazes de desviar o coordenador pedagógico de momentos de reflexão e estudos.

Inúmeros são os desafios encontrados pelos CPs que os desviam de atribuições do contexto formativo, e encontrar coerência entre o que se espera da atuação dos professores e de sua própria atuação profissional exige cuidados permanentes. Promover momentos de estudo individual e coletivo, de escuta sensível e de planejamento em parcerias com os pares atuantes no grupo se faz necessário para aproximar seu fazer pedagógico do que imagina que precisa ser feito. Buscar estratégias que sejam significativas para o contexto da escola e para o grupo docente pode ser um caminho para validar as intenções formativas e torná-las parte importante do processo de consolidação da identidade do grupo escolar.

O complexo contexto no qual o CP está inserido convoca, inevitavelmente, diversas demandas da rotina escolar que se fazem urgentes e minimizam os momentos de formação em serviço deste profissional, trazendo a ele a sensação de ser um mero “executor de tarefas”, “bombeiro”, “burocrata”, “solucionador de problemas”, e acaba por assumir e se conformar com tal papel.

Romper essa dinâmica de tarefas burocráticas e situações não planejadas é um dos desafios vividos por inúmeros CPs, mas não é tão simples quanto parece. O primeiro passo nesse sentido deve ser dado em direção ao CP não se contentar ou conformar em executar apenas essas tarefas. É necessário que seu olhar lance luz sobre o pensar/agir de maneira preventiva, sendo capaz de identificar necessidades do grupo ou individuais de um professor e planejar antecipadamente suas ações, buscar parcerias que sejam capazes de potencializar suas intenções formativas e organizar espaços/momentos para promover essa construção de identidade. Sendo assim, o objetivo deste artigo é descrever os múltiplos papéis do coordenador pedagógico.

2. DESENVOLVIMENTO 

2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

No cotidiano escolar, o CP ocupa parte importante e significativa das atribuições pedagógicas, tais como: intermediar e subsidiar as relações, sejam elas pedagógicas ou interpessoais; desenvolver atividades relevantes que mostrem a importância da formação continuada para o docente; ser responsável em compreender a realidade social da escola, na reflexão dos problemas que ocorrem, no planejamento e na avaliação constante de seu trabalho. É um profissional no qual se concentram diversas tarefas a serem executadas, e que se acumulam sobre essa figura que compõe o quadro da equipe gestora da instituição. Assumir um papel formativo em serviço esbarra em inúmeras dificuldades, mas se faz necessário para que se busque garantir os princípios estabelecidos em lei, assim como a garantir uma oferta de um ensino de qualidade aos estudantes (HOLANDA; PORDEUS, 2021)

Algumas responsabilidades do coordenador pedagógico são até mesmo delineadas por legislações, uma vez que é o líder na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), aquele que executa meramente funções administrativas e de assessoramento da direção escola, e com destaque a principal atribuição, coordenar todas as atividades escolares que envolvam os educandos e o corpo docente, tais como: acompanhar o planejamento de aulas e avaliações, a avaliação de resultados dos alunos, acompanhar o processo ensino aprendizagem, a supervisão das ações pedagógicas cotidianas (frequência de alunos e professores), lançamento de notas, organização de conselhos de classes e reuniões de pais, aplicação de avaliações externas, provimento de material necessário para suporte das aulas e reuniões pedagógicas, dentre outras, além da formação continuada dos professores. No que tange a esta última atribuição, as legislações enfatizam que essa formação deve ser tratada como a construção de um processo reflexivo e crítico sobre a prática educativa, e contribuem para a constituição da identidade profissional do coordenador pedagógico formador (PLACCO; SOUZA; ALMEIDA, 2018.).

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), as atribuições do coordenador devem estar alinhadas para a organização e orientação do trabalho pedagógico de forma a garantir, nos variados setores, uma gestão participativa e democrática. Dentro da referida lei, o coordenador pedagógico é definido como o articulador, aquele que transita entre expoentes que compõem a escola, formando vínculos entre docentes, alunos, família e a gestão. Nesta linha, a função desse profissional é contribuir para que sejam colocadas em prática as premissas estabelecidas no PPP da escola. O coordenador deve procurar orientar para que a rotina pedagógica na escola esteja em conformidade com este documento (BRASIL, 1996).

O trabalho que deve ser realizado pelo CP pode ser organizado em três dimensões: articuladora (a ação educativa precisa ser planejada e articulada com todos os participantes da escola), formadora (responsabilidade com a formação continuada dos profissionais da escola) e transformadora (promover a reflexão e mudanças positivas na vivência das relações escolares). Para que tal profissional assuma a função de coordenar um grupo de professores, é essencial uma gestão pedagógica que assuma o papel de articulador da proposta pedagógica da escola, assim como a responsabilidade com a formação continuada dos professores, sem perder de vista a sala de aula. Portanto, a aprendizagem deve constituir o referencial para as ações que o coordenador pedagógico irá desenvolver no seu exercício profissional (HOLANDA; PORDEUS, 2021).

Exige-se do CP, ainda, a postura de trabalho burocratizada, que desempenha funções estritamente administrativas, de supervisão do trabalho docente e no cumprimento de projetos e programas curriculares já definidos pelas secretarias de educação. Nesse contexto, muitos coordenadores pedagógicos já acostumados com este perfil profissional têm dificuldade em assumir um novo papel. Esse aspecto contraditório leva os CPs a enfrentarem dificuldades em exercer a função pedagógica e formativa, parte essencial do seu trabalho (PLACCO; SOUZA; ALMEIDA, 2018).

Grande parte dos CPs que ocupam suas funções busca alcançar sua identidade formativa, uma vez que, pouco antes de assumir a coordenação do grupo, atuava como professor, algumas vezes, da mesma instituição educacional. A transição entre um papel e outro implica em lacunas formativas e confusões na atuação e oferta das necessidades formativas do grupo de professores. É um grande desafio constituir uma identidade enquanto busca encontrar tempo em sua rotina de trabalho, buscando momentos de autoformação, em um contexto de atribuições que se misturam com o papel burocrático, que acaba por consumir demasiado tempo de seu período de atuação, e, também, ao se deparar com diretores/gestores que não compreendem ou priorizam a atuação do CP como articulador, formador e transformador de práticas, uma realidade muito comum e que ainda reina em diversas instituições. Buscar clareza e direcionamento sobre tais processos formativos é uma ótima oportunidade para que a identidade formativa do CP possa se constituir (HOLANDA; PORDEUS, 2021).

O trabalho do coordenador numa instituição de ensino é bastante amplo e complexo, e, muitas vezes, ele nem se dá conta disto, talvez por uma formação inicial ineficiente ou por falta de uma formação continuada. Essas lacunas da formação inicial, e que se repetem no decorrer de sua jornada, constituem obstáculos para uma formação de qualidade, para que possa desenvolver suas atribuições com clareza e contribuir para a construção de uma educação que esteja a serviço da formação do cidadão crítico, como: provisoriedade, indefinição, desvio de função e imposições do sistema e da gestão quanto aos encaminhamentos e decisões. Quanto à dimensão formativa na atividade de coordenação pedagógica, o planejamento é essencial. O coordenador pedagógico necessita projetar um plano de trabalho para potencializar suas ações, no entanto, há pouca clareza do que seja essa formação continuada. Há descrições de várias atividades voltadas aos professores, que vão desde a organização de grupos de discussão para sanar dúvidas, encontros de estudos, orientação quanto aos problemas com alunos até a organização dos conteúdos curriculares. Sendo assim, a formação continuada apresenta-se diversa, e o coordenador pedagógico encontra dificuldades para realizá-la, por falta de tempo para planejá-la e falta de local e momento adequado para esta formação, pois muitos professores só conseguem participar desses encontros fora do seu horário de trabalho (PLACCO; SOUZA; ALMEIDA, 2018).

O acúmulo de funções, o imediatismo, as burocracias, a ausência de rotina, a falta de pertencimento e a falta da constituição de identidade são alguns dos fatores que impedem que o percurso formativo do CP seja iniciado ou que implique na continuidade do processo de formação. É fácil assumir um papel passivo diante do grupo de trabalho e instaurar-se em uma enorme zona de conforto, deixando que as queixas substituam os momentos de estudos, de preparo de pautas formativas e de planejamentos a curto e longo prazo para execução de planos de ação que possam contribuir para melhores atuações de professores em sala de aula e, também, para elevar os índices de aprendizagem dos estudantes. Por vezes, faltam-lhes condições dignas de trabalho. O reconhecimento e investimento financeiro no processo de formação desses profissionais é bastante limitado, assim como os recursos que lhes são oferecidos (HOLANDA; PORDEUS, 2021).

Diante de tamanhos desafios, questiona-se o que manteria os coordenadores pedagógicos na função. A escolha dessa carreira é motivada, sobretudo, pelo crescimento pessoal e profissional, o discurso que sustenta e promove a identificação com a função. Fica claro que a formação, tanto inicial como continuada, é vital para o desenvolvimento de um trabalho eficaz, visto que os problemas educacionais são vastos e mudam constantemente. Muitos atributos negativos estão vinculados à profissão, como a baixa remuneração e as condições de trabalho que ultrapassam as possibilidades de ação do profissional, mas é nesse cenário dialético que se constituem as identidades profissionais dos coordenadores pedagógicos (PLACCO; SOUZA; ALMEIDA, 2018).

As tarefas do CP respondem aos estímulos da rotina escolar, portanto, são, quase sempre, imprevisíveis. Mas há outros desafios que o impossibilita de manter uma rotina organizada durante o período de trabalho e o desvia de suas funções:

A falta de professores, frequentemente, é outro desafio enfrentado pelos coordenadores no ambiente escolar. Isso reverbera em outras situações, como no fato do coordenador assumir a turma que ficou descoberta, com os alunos ociosos, caso não tenha alguém para substituí-lo, já que a escola não conta com um número suficiente de funcionários para suprir a demanda de faltas. (HOLANDA; PORDEUS, 2021, p. 1200).

Além dos imprevistos no cotidiano escolar, há uma questão de impacto capaz de contribuir ou prejudicar o clima escolar, fator determinante a ser considerado para que as relações de confiança se estabeleçam e para que o CP seja capaz de traçar parcerias e envolver a equipe em um trabalho colaborativo, no qual é capaz de envolver a todos os participantes da comunidade escolar. Envolver professores, pais e estudantes e corresponsabilizá-los pelos sucessos escolares é fator primordial de uma comunidade educativa, porém, um dos desafios desse processo se dá nas relações interpessoais, que acaba ficando ao encargo do CP, sendo ele o responsável por mediar essas interações.

Outro desafio elencado trata das relações interpessoais entre professores, pais e alunos, pois, além de organizar e executar os horários dos trabalhos pedagógicos, ainda é preciso atender a casos particulares e individuais que envolvem pais, professores e alunos, devido a conflitos e desentendimentos no ambiente escolar. Muitas vezes, isso ocorre de maneira súbita, em momentos inadequados, nos quais o coordenador deixa o acompanhamento ou estudo com os demais professores que estão planejando para ser o apaziguador de situações de indisciplina. Quanto ao desafio das relações interpessoais, foram citados o temperamento, a formação deficitária dos professores e as concepções que os mesmos trazem sobre o papel da escola e sobre os direitos e deveres dos alunos e dos próprios professores. Logo, os coordenadores estão conscientes de que, por muitas vezes, não realizam um bom trabalho e não atendem às expectativas do grupo docente, devido às eventuais situações que se apresentam, e isso faz com que os mesmos se ausentem de suas reais funções para buscarem soluções para esses problemas (HOLANDA; PORDEUS, 2021).

2.2 METODOLOGIA

Esta pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura em questão, na qual foram analisados artigos publicados entre os anos de 2018 e 2022. Buscaram-se artigos nas bases de dados Scielo, Lilacs e Google Acadêmico. As palavras usadas foram: coordenador pedagógico, profissional e função. Como critérios de inclusão, foram escolhidos: artigos em português publicados entre 2018 e 2022, tendo em vista um olhar atual dos enfrentamentos vividos pelos coordenadores pedagógicos. E como critérios de exclusão: artigos pagos e que não correspondiam ao objetivo da pesquisa.

Foram utilizadas as considerações dos seguintes autores: Campos e Madeiro (2020), Ribeiro (2021), Silva, Costa e Coutinho (2020), Holanda e Pordeus (2021), Nóvoa (2022), Penteado e Gomboeff (2019), Placco, Souza e Almeida (2018), Sant’ana (2019) e Silva, Pires e Ferraz (2020), sobre as funções e os desafios do coordenador pedagógico, de modo a trazer uma dialética sobre a construção de sua identidade no contexto educacional.

Quanto à justificativa para a realização desta investigação, constata-se que são inúmeros os trabalhos que abordam sobre os desafios e atribuições do coordenador pedagógico, para citar alguns: Alarcão (2004), Christov (2003), Franco (2012) Grispun (2006), Lima e Santos (2010), Lomanico (2005), Oliveira (2009), Vasconcellos (2007) e Ferreira (2008). Contudo, não se observa uma articulação com os problemas desvelados atualmente, sendo essa a relevância e o diferencial do presente estudo.

2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

No ponto de vista de Holanda e Pordeus (2021), é necessário dissociar o papel do CP da função de fiscalizador da prática docente, estabelecer parcerias com os professores atuantes no grupo, planejar uma rotina antecipadamente (prevendo situações que possam emergir no decorrer dos dias) e priorizar momentos de estudos que reverberem em boas condições formativas tanto individuais como coletivas, considerando o contexto deficitário no qual o CP desenvolve seu trabalho.

Ainda sob a percepção dos autores:

Aprofundar-se nos anseios de uma desvalorizada profissão, como no caso do coordenador pedagógico, constituída nas carências, demandas e complexidades, é remodelar um profissional essencial nas mediações com os professores e na reconstrução de um ensino capacitado defronte dos desafios das inovações. (HOLANDA; PORDEUS, 2021, p. 1196).

A mediação realizada pela equipe gestora da escola, que tem a figura do CP como representação dos princípios contidos no currículo vigente, desenvolve um papel importante para a construção da identidade de centro educativo e para a constituição do CP como formador em serviço. Buscar estabelecer uma trilha formativa que possa validar, junto à comunidade escolar, tais princípios e estabelecer metas que entrelacem os fazeres pedagógicos, nas quais todos possam se envolver a contribuir, deve fazer parte do propósito do CP, fazendo-se cumprir as demandas e necessidades atuais dos estudantes e dos professores, driblando a condição histórica enraizada na concepção desta função. Ainda nos dias de hoje, prevalece a visão de que o papel do coordenador pedagógico é controlar a prática pedagógica e fiscalizar o trabalho dos professores em sala de aula, no entanto, essa forma de atuação assume novas discussões e redefinições. Deste modo, o dever do coordenador pedagógico precisa ser pensado, no presente contexto escolar, como especialista que contribui para a instrução do ser social, cuja identidade precisa ser repensada, extraindo as amarras da historicidade da educação brasileira e reconstruindo sua função de profissional transformador na escola (PENTEADO; GOMBOEFF, 2019).

A contribuição desse profissional para a melhoria da qualidade da escola e das condições de trabalho dos professores dependerá do sucesso alcançado nessa tarefa de se conhecer e se estabelecer como um profissional a serviço da organização do trabalho pedagógico (HOLANDA; PORDEUS, 2021).

As memórias da docência acompanharão o CP por toda sua trajetória, mas permitir-se viver novas experiências e ajustar as rotas enquanto se desenvolve e se consolida como agente formador e transformador das práticas que norteiam o trabalho dos professores da instituição na qual atua é uma ferramenta potente para que novas práticas cheguem, ganhem cada vez mais espaço e se tornem práticas significativas para o coletivo, considerando seus percursos e memórias. A formação continuada dos professores constitui-se no pensar e fazer docente, fortalecendo as ações pedagógicas que se desenvolvem neste espaço, portanto, apesar de todos os desafios que o CP encontra em manter uma rotina formativa no ambiente escolar, não há alternativas para que se possa avançar esse longo processo histórico (SILVA; COSTA; COUTINHO, 2020).

As escolas de educação básica formal estão repletas de educadores que se profissionalizaram nas mais diversas áreas de conhecimento e que foram alimentados com diferentes modelos de ensino e concepções. Dentre esses profissionais, encontra-se o CP, um educador que ocupa um papel de destaque entre os docentes do grupo, que é capaz de planejar com intencionalidade os caminhos que o coletivo necessita trilhar. E construir processos que direcionem tais caminhos para a efetivação de novas metodologias de ensino, de novas propostas, e sejam capazes de ressignificá-las, atendendo as necessidades atuais dos estudantes, assim como articular esses processos e mediar o aprendizado do adulto professor, é uma das competências que o CP necessita dominar para promover avanços formativos, além de assumir boa parte da responsabilidade sobre a garantia de acesso e qualidade de ensino ofertada aos estudantes. Ao assumir seu papel de formador perante o grupo docente, o CP inicia um processo de metamorfose em direção às necessidades atuais do grupo escolar, no qual os estudantes aprendem respondendo a diversos estímulos e, consequentemente, os docentes inovam suas práticas.

O modelo escolar serviu bem os propósitos e as necessidades do século XX, mas, agora, torna-se imprescindível a sua metamorfose. Ninguém sabe como será o futuro, mas devemos construir este processo, não com base em delírios futuristas, mas a partir de realidades e experiências que já existem em muitas escolas, a partir do trabalho que, hoje, já é feito por muitos professores. Nada será feito numa lógica centralista de reformas ou por imposição simultânea de mudanças. Tudo surgirá de iniciativas locais, cada uma ao seu ritmo e no seu momento, fruto do envolvimento de professores e da sociedade (NÓVOA, 2022, p. 17).

Validar ações formativas de renovação que sejam significativas ao seu território de atuação pode ser um caminho possível de ser trilhado pelo CP, se feito com planejamento e intencionalidade.

Envolver o grupo de professores e estudantes em um contexto que busque atender ao que remete a educação do século XXI, que favoreça o ensino e a aprendizagem, no qual todos possam ser responsáveis por seus processos e autônomos na busca por aprimorá-los e significá-los em suas vivências, pensando em bens comuns de convívio e corresponsabilidade em ações, pode parecer um longo caminho, mas, mesmo assim, é preciso que o primeiro passo seja dado para que a comunidade escolar se torne mais ativa e responsável pela qualidade do ensino ofertado e recebido, simultaneamente (SANT’ANA, 2019).

As atribuições do CP atendem as mais diversas naturezas dentro do ambiente escolar, e, ao zelar e buscar por garantir o acesso e a qualidade de ensino dentro de seu centro de atuação, o profissional remete a organização de todas as suas tarefas, que, consequentemente, melhora a qualidade do ensino oferecido aos estudantes, que está diretamente ligada à formação dos docentes (SILVA; PIRES; FERRAZ, 2020).

São tarefas que giram em torno dos acontecimentos escolares como: questões sobre avaliação; conteúdos; rotina de sala de aula; atividades extraclasses; indisciplina; políticas econômicas; interdisciplinaridade; preparação de materiais usados pelos docentes; leitura dos comunicados; decisões sobre projetos e programação das datas comemorativas e dos eventos (HOLANDA; PORDEUS, 2021, p. 1199).

Buscar parcerias assertivas dentro da própria equipe, ou na comunidade em que se encontra a escola, é uma das estratégias que o CP pode e deve utilizar para atingir seus objetivos relacionados à qualidade do ensino-aprendizagem, dentro e fora de sala de aula.

Os espaços de aprendizado podem ser explorados à medida em que as práticas se ressignificam no ambiente escolar, ao se identificar que estudantes, docentes, funcionários, familiares e comunidade que compõe o entorno escolar se identificam como parte importante daquele território e atuam de maneira colaborativa para que todos possam obter sucessos. A articulação e a mediação que o CP promove nesses momentos de intencionalidade segue o mesmo propósito da atuação dos professores em sala de aula, objetivando alcançar sucessos na aprendizagem e tornar tais momentos ainda mais significativos (RIBEIRO, 2021).

O professor é um profissional que media o conhecimento, nessa perspectiva, entende-se que a formação do professor é indispensável para a prática educativa, a qual constitui o lócus de sua profissionalização cotidiana no cenário escolar. Dessa forma, é preciso compreender que a formação docente incide na reflexão fundamental de que ser professor é ser um profissional da educação que trabalha com pessoas, logo, enfrenta desafios, mas também possui possibilidades. Desse modo, o papel do coordenador pedagógico como formador de professores contribui para que espaços de qualificação e formação sejam implementados.

Investir em formação continuada não é algo a ser questionado, é uma situação posta e inegociável, é visceral ao trabalho docente. Cabe ao CP, juntamente à equipe gestora da unidade escolar, criar mecanismos para que momentos de formação aconteçam no fazer pedagógico, na prática de sala de aula e em outros espaços da escola. Tais práticas envolvem questões pedagógicas e, acima de tudo, remetem às questões sociais com as quais os estudantes irão se deparar durante sua trajetória de vida. Promover vivências e poder prepará-los para o convívio em sociedade é primordial, e, para isso, os profissionais da educação necessitam desse investimento em formação (CAMPOS; MADEIRO, 2020).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste estudo, compreende-se que os CPs, para desenvolverem um trabalho competente, diante de tamanhos desafios enfrentados pela sua função, necessitam colocar em pauta o resgate da identidade do coordenador pedagógico, bem como sua formação inicial e continuada. Com relação à sua identidade, é preciso que ele tenha clareza de suas atribuições para que possa de fato realizá-la, descaracterizando a real dimensão do seu fazer profissional e estabelecendo novas diretrizes com os diversos papéis desempenhados pelos diferentes profissionais de educação.

Ao reportar sobre a formação do coordenador pedagógico, busca-se evidenciar que o profissional por si só não garante um ensino de qualidade, pois ele sozinho não muda a escola. Por mais competente que seja, não conseguirá imprimir marcas de uma dinâmica pedagógica se a instituição não estiver comprometida, envolvida e consciente de suas ações. Não restam dúvidas que o CP precisa ser bem formado, porém, os gestores, professores também precisam de formação de qualidade. Esta formação só terá sentido caso a escola rediscuta a práxis educacional de maneira crítica e reflexiva, por meio de ações coletivas.

O coordenador pedagógico tem importantes atribuições, enquanto articulador, através de formas interativas de trabalho, e como formador, incorporando no dia a dia o desenvolvimento pedagógico aos educadores. No tocante à transformação, deve estar atento às mudanças de atitudes da comunidade escolar. Como agente de transformação da prática pedagógica, deve estar aberto a transformar-se continuamente, a partir das considerações reflexivas e do feedback dos demais atores da instituição escolar.

As ações de articular, formar e transformar precisam ser realizadas de maneira participativa, de modo que todos realizem suas funções, mesmo que de maneira delimitada, mas em conjunto, de forma integrada. Isso garante que todos se comprometam com o processo de resultados obtidos, demonstrando, dessa forma, que o sucesso ou o fracasso escolar será compartilhado, repensado e modificado por todos.

As discussões da pesquisa apontam para a necessidade da presença do coordenador pedagógico nos espaços escolares, conscientes de suas atribuições e da complexidade de seu trabalho frente aos desafios da educação e à desvalorização da profissão. Com uma formação de qualidade, o profissional assumirá um papel que o exigirá empenho, dedicação, boas relações interpessoais, responsabilidade pela formação de professores, por sua própria formação, dentre outras habilidades que são fundamentais para ajudar sua equipe de trabalho a encontrar soluções que priorizem um trabalho educacional de qualidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 21 mar. 2023.

CAMPOS, Walison Torres; MADEIRO, Eraldo Pereira. Coordenador Pedagógico: Uma análise de sua função no cotidiano escolar. Humanidades & Inovação, v. 7, n. 8, p. 236-243, 2020.

HOLANDA, Vania Marinho; PORDEUS, Marcel Pereira. O papel e os desafios do coordenador pedagógico no cotidiano escolar: uma análise na rede pública. Revista Ibero-americana de Humanidades, Ciências e Educação, São Paulo, v.7, n. 9, set. 2021.

NÓVOA, Antônio. Escolas e professores proteger, transformar, valorizar. Salvador: SEC/IAT, 2022.

PENTEADO, Maria Emiliana Lima; GOMBOEFF, Ana Lucia Madsen. A falta de clareza do papel do Coordenador Pedagógico e como isso afeta o cotidiano da escola. Momentum, v. 1, n. 17, 2019.

PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (comp.). O coordenador pedagógico e seus percursos formativos: vol. 13. São Paulo: Edições Loyola 2018

RIBEIRO, Mara Lucia da Silva. Coordenação pedagógica e inserção à docência, aproximações e desencontros. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 7, p. 65344-65351, 2021.

SANT’ANA, Camila. O trabalho do coordenador pedagógico no auxílio ao professor com alunos com dificuldades no processo de alfabetização. Pedagogia em Ação, v. 11, n. 1, p. 29-37, 2019.

SILVA, Geisa Floro de Santana; COSTA, José Claudio Alves da; COUTINHO, Diogenes José Gusmão. O papel do coordenador pedagógico como indutor da formação continuada. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 10, p. 84087-84101, 2020.

SILVA, Soane Santos; PIRES, Ennia Débora Passos Braga; FERRAZ, Maísa Oliveira Melo. Reflexos da política de gestão gerencial sobre o trabalho do coordenador pedagógico. Linhas Críticas, v. 26, p. 1 – 4, 2020.

[1] Pedagoga pela UERJ/ pós – graduação lato sensu em Educação Infantil pela UNINTER e Coordenação Pedagógica pela UniBF. ORCID: 0000-0003-0650-064X.

Enviado: 14 de Fevereiro, 2023.

Aprovado: 17 de Março, 2023.

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Amanda Pirassol dos Santos

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