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Reflexões acerca da transformação do papel do idoso na sociedade e da sua relação com a era digital

RC: 50516
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

RODRIGUES, Flávia dos Santos [1], JUNIOR, Adival José Reinert [2]

RODRIGUES, Flávia dos Santos. JUNIOR, Adival José Reinert. Reflexões acerca da transformação do papel do idoso na sociedade e da sua relação com a era digital. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 05, Vol. 05, pp. 53-63. Maio de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/papel-do-idoso

RESUMO

O avanço da Medicina decorrente das grandes descobertas científicas e tecnológicas tem influenciado diretamente na perspectiva de vida da humanidade. Nesse cenário, a população idosa, classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como aqueles com mais de 60 anos, tem ganhado destaque nos debates econômicos, políticos e sociais a respeito da relevância do seu papel como agente receptor e emissor na era da comunicação virtual. A partir desse contexto, o presente artigo tem como objetivo compreender como ocorreu a transformação no perfil da geração dessa faixa etária, antes vista como senil e agora como potencial usuária da plataforma digital, assim como a proposta visa analisar de que forma o mercado está se adaptando para lidar com esse público-alvo. Os conteúdos encontrados por meio da pesquisa bibliográfica, método de estudo utilizado neste trabalho, mostram que apesar de a população idosa estar cada vez mais presente nas transações virtuais e de a atenção do mercado e da sociedade como um todo ter se voltado para ela, ainda é mal compreendida pela maioria das marcas. Portanto, faz-se necessário analisar, a partir de relatos de idosos e de especialistas envolvidos no estudo sobre esse tema, quais são os fatores que ainda limitam essa comunicação e as possíveis soluções já disponíveis pela área do marketing digital, por exemplo, para reverter essa situação.

Palavras-chave: Terceira idade, idoso, marketing digital, comunicação virtual.

1. INTRODUÇÃO

As descobertas no campo da Medicina somadas ao avanço da tecnologia têm promovido o aumento da longevidade da população em todas as nações. De acordo com dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), o processo de envelhecimento da sociedade terá seu ápice em 2050, quando o segmento de idosos, pessoas com 60 anos ou mais, atingirá a marca de dois bilhões (atualmente são cerca de um bilhão[3]). Nesse contexto, buscaremos analisar o novo perfil dessa geração no Brasil, também denominada “terceira idade”, que está cada vez mais independente e presente no ambiente online, e a sua relação com o marketing digital. O objetivo geral da pesquisa é auxiliar as empresas a estabelecerem um canal de comunicação digital assertivo com esse novo segmento de idosos a partir da identificação das mídias em que estão mais presentes e das suas principais buscas. Já a finalidade específica do trabalho é contribuir para a autopercepção desse público sobre a sua importância como agente receptor e emissor dentro da era da comunicação virtual, que já predomina no cenário econômico, político e cultural do país e promete, segundo especialistas, intensificar-se ainda mais no futuro.

Ao longo do estudo para a produção desse artigo, percebemos, a partir da análise de propagandas voltadas para idosos e de artigos sobre a adaptação das campanhas publicitárias para atender às demandas do novo perfil desse público, que há uma tendência de grande parte do mercado de homogeneizá-los, como se fossem todos iguais. Em razão disso, constatamos a relevância de fomentar um debate para que as empresas vejam o potencial desse segmento, que se torna cada vez mais tão promissor quanto o público jovem, para que assim promovam ações  para identificá-los sob um ponto de vista singular, e se tornem capazes de identificar e de se comunicar com os diferentes estilos de idosos existentes, seja por meio do mapeamento de suas características, como pela análise da linguagem que se identificam. Assim será possível estimular a sua interação e inclusão  na sociedade como um todo, principalmente no espaço em que as relações têm sido mais predominantes: as redes sociais.

O entendimento do seu valor e o reconhecimento da sua capacidade nesse cenário se mostram necessários para que se elimine definitivamente o olhar estereotipado sobre os mais velhos, a fim de que as ferramentas e o sistema tecnológico sejam facilitadores e não empecilhos para o desenvolvimento da nação. O tema será abordado por meio da pesquisa qualitativa bibliográfica, com foco na cultura ocidental, tendo em vista a variedade de estudos e informações encontrados sobre o assunto na internet. Além de reunir dados apresentados por sites e jornais, também traremos pensamentos da autora e socióloga Guita Grin Debert, que é referência no estudo do novo perfil do idoso na idade moderna. No primeiro momento do texto, abordaremos o conceito de “terceira idade”, fazendo um paralelo com a ideia de velhice desde os primórdios da sociedade.

O intuito é compreender a formação e como evoluiu a visão sobre essa camada social. Tão importante quanto a compreensão do construto da velhice ao longo do tempo será a análise do comportamento, das demandas e do posicionamento desse público nos dias de hoje diante das tecnologias modernas. Em seguida, faremos uma análise da abertura de novas frentes de negócios que já têm como foco a população da terceira idade, a exemplo do curso “Supera – ginástica para o cérebro”. Para obter informações referentes ao empreendimento educacional, entrevistamos por e-mail a diretora da franquia localizada no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro. Por fim, concluiremos aferindo como as redes sociais têm contribuído para a melhoria do bem-estar da terceira idade. Logo, este trabalho poderá auxiliar tanto as empresas no trato com esse público, como a eles mesmos por meio da compreensão do seu papel no presente e no futuro da era digital.

2. AS PERCEPÇÕES SOBRE A VELHICE E A TERCEIRA IDADE

As discussões acerca da etapa da velhice no ciclo de vida humano são muito antigas, apesar de a percepção da pessoa mais velha como um cidadão ativo perante as demandas da sociedade ser relativamente recente na nossa história. Na cultura ocidental, de acordo com documentos históricos datados de 2500 a.C, o poeta e filósofo egípcio Ptah Hotep foi o primeiro a tratar sobre o assunto. O pensador teria se retirado das atividades laborais e deixado escritos para o filho, com lamentações sobre a perda do vigor físico e psicológico decorrentes do avançar da idade.

Para ele, a vetustez representava o momento mais degradante da vida, tendo em vista as limitações do corpo e da mente.  Ainda sob o espectro filosófico, mais à frente, cerca de 500 a.C, Sócrates e Platão já analisavam o tema de forma mais promissora. Para eles, o idoso era alguém, que em razão das muitas experiências adquiridas, seria um sábio a ser consultado acerca das sendas existenciais. Tal posicionamento fica claro na fala de Sócrates durante o diálogo com Céfalo, que foi reproduzido na obra “A República”, composta por Platão e traduzida por Enrico Corvisieri (2004, p. 06).

(…) Nada me agrada tanto como praticar com pessoas de idade; pois as considero como viajantes que percorreram um longo caminho, o qual eu talvez tenha de percorrer também. Por isso acho necessário informar-me com elas se a estrada é lisa e fácil ou áspera e cheia de dificuldades (…).

Juntamente com os filósofos citados, a Bíblia, em seu conjunto de versículos, reitera em diversos momentos a reverência aos mais velhos. Em um dos textos sagrados afirma-se: “o cabelo grisalho é uma coroa de esplendor, e se obtém mediante uma vida justa”. (Provérbios 16:31). Porém, o reconhecimento da figura do idoso nem sempre se deu em razão do mérito da sobrevivência ou da sabedoria obtida em razão dela. Para a maior parte de gregos e romanos, os anciãos eram identificados pela posse de riquezas ou por suas influências políticas. Essa última visão estendeu-se para a idade média e para o período da revolução industrial, permeando os anos do século XIX. O cenário social para os mais velhos começou a mudar na transição do século XIX para o XX, com o avanço da medicina, da tecnologia e das ciências humanas.

Nesse contexto, cabe destacar, em relação aos saberes médicos, que esses surgiram a partir de duas ciências fundamentais para pensarmos o público-alvo desta investigação: a Geriatria e a Gerontologia. Sendo a primeira responsável por avaliar as doenças e os aspectos físicos e a segunda voltada para o estudo do envelhecimento sob a ótica psicológica e social.  No artigo “Da velhice à terceira idade: o percurso histórico das identidades atreladas ao processo de envelhecimento”, publicado em 2008 pela psicóloga Luna Rodrigues Freitas da Silva, comenta-se a influência da revolução do saber médico no processo de percepção da velhice, antes estabelecido à luz de apontamentos predominantemente filosóficos :

A morte era entendida como um obstáculo a ser superado e a longevidade, principalmente nos casos excepcionais de centenários, como um evento tanto fantástico e mágico quanto revelador da racionalidade própria do corpo humano. (…) A morte passou a ser vista, então, como resultado de doenças específicas da velhice (SILVA, 2008, p. 158).

Entretanto, ao mesmo tempo em que as disciplinas retiraram o caráter místico da velhice e a apresentaram como um momento da vida recorrente a todos, evidenciaram aspectos complexos e subjetivos inerentes a tal etapa da vida humana que não se resumem a doenças e a limitações. Percebe-se, então, que para avaliar a condição de envelhecimento de uma pessoa não basta apenas observar o aspecto patológico, há que se avaliar, também, as suas experiências de vida. Somada a essas descobertas, a criação da aposentadoria[4], ainda no século XIX, na Alemanha, surge como um divisor de águas. Inicialmente criada como um descanso remunerado para amparar os trabalhadores que tivessem 70 anos ou mais sem condições laborais, consagrou-se posteriormente como o período para se reinventar e viver novas experiências, em que grande parte dos idosos passaram a usufruí-la  para fazer viagens, desenvolver novas aptidões e descansar.

Essa nova perspectiva contribuiu ainda mais para o vislumbre positivo da chegada da velhice, que passou a ser esperada e não mais tão temida. Nesse contexto, emergiu na França, em 1962, a expressão “terceira idade”, como resultado da nova concepção do idoso na sociedade, substituindo termos pejorativos utilizados para fazer referência às pessoas de mais idade, como “velho” e “velhote”. Atualmente, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), agência ligada à ONU, idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais. Entretanto, a própria instituição alerta que o fator etário não é um condicionante preciso de delimitação da velhice. Nesse âmbito, a antropóloga Guita Grin Debert fala em seu artigo “A invenção da terceira idade e a rearticulação de formas de consumo e demandas políticas”, sobre as novas representações do envelhecimento e às formas contemporâneas de gestão da velhice no Brasil:

(…) Até muito recentemente, tratar da velhice nas sociedades industrializadas era traçar um quadro dramático de perda de status social  dos velhos (…) Essas novas imagens do envelhecimento que acompanham a construção da terceira idade ocupam um espaço cada vez maior na mídia que (…) desestabiliza mecanismos tradicionais de diferenciação (…) e, ao mesmo tempo, abre novos campos para a articulação de demandas políticas e para a constituição de novos mercados de consumo (DEBERT, 1997, p. 41).

Ainda, segundo Debert:

(…) uma nova linguagem pública, empenhada em alocar o tempo dos aposentados, é ativa na desconstrução das idades cronológicas como marcadores pertinentes de comportamentos e estilos de vida. Uma parafernália de receitas envolvendo técnicas de manutenção corporal, comidas saudáveis, medicamentos, bailes e outras formas de lazer é proposta, desestabilizando expectativas e imagens tradicionais associadas a homens e mulheres em estágios mais avançados da vida. Meia-idade, terceira idade, aposentadoria ativa não são interlúdio maduros entre a idade adulta e a velhice; indicam, antes, estágios propícios para a satisfação pessoal, o prazer, a realização de sonhos adiados em outras etapas da vida (DEBERT, 1997, p. 42).

A análise da antropóloga sobre a representação positiva da velhice na expressão “terceira idade” chama a atenção, pois ao passo que fala do fim da aposentadoria como marco indicativo da passagem para a fase nula da vida, trata da importância de se pensar o envelhecimento sob diversos ângulos a fim de compreender as demandas desse novo público e preparar o país para recebê-lo.

3. AS FERRAMENTAS DIGITAIS E A TERCEIRA IDADE

Uma das ferramentas digitais que se popularizou inicialmente entre o público jovem, mas que ganha cada vez mais adeptos entre a população idosa são as redes sociais, em especial o Facebook e os aplicativos de celular. De acordo com informações divulgadas pelo site do Centro de Educação Continuada e Aperfeiçoamento Profissional (CECAP)[5], levantamentos feitos no Brasil, nos últimos oito anos, indicaram que o país ganhou 4,8 milhões de internautas da terceira idade, passando de 360 mil, em 2008, para mais de cinco milhões de usuários, em 2019. Ao todo, segundo a referida verificação, um em cada quatro brasileiros acima de 60 anos está presente na internet. Vale observar que o fenômeno da terceira idade como “heavy user’’(usuário assíduo) da internet não é exclusivo dos brasileiros. Também mencionado pelo portal do CECAP, um estudo realizado pela Universidade de Michigan mostrou que assim como na América do Sul, os idosos dos Estados Unidos também  estão muito presentes na internet.

A pesquisa, que contou com a participação de 591 norte-americanos com idade média de 68 anos, destacou que as ferramentas mais utilizadas são o Facebook, Twitter, Skype, e-mail e chats e que 95% dos participantes afirmaram estar “satisfeitos” ou “muito satisfeitos” na rede, enquanto 72% disseram ser favoráveis a utilizar novas ferramentas. Os dados científicos mostram que a época em que os hábitos digitais segmentavam as gerações está próxima do fim e que o idoso, além de não ocupar mais o papel de mero espectador na sociedade, vai aos poucos firmando-se como um agente modificador. Outro aspecto relevante é a mudança dos hábitos de consumo desse segmento, que não se resume mais a cuidados geriátricos e a tecnologias para a saúde.

Segundo o blog Magicwebdesign[6], no ano de 2018 a cada dois minutos foi realizada uma busca no Google com termos relacionados a envelhecimento e para cada três pesquisas ligadas a “bengalas para idosos”, já existiam duas relacionadas a “celulares para idosos”. Essa constatação traz à luz a relevância da análise sobre o impacto desse novo consumidor no mercado. Em entrevista ao DC – Jornal Digital, o professor de Marketing e Canais de Distribuição da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Kanter, alerta as empresas para não definirem o padrão de consumo baseado somente na idade. De acordo com ele, tão errado quanto fazer uma comunicação só para o jovem é representar o idoso de forma estereotipada, pois além de o grupo de idosos ser muito vasto, com necessidades e gostos distintos, consomem todo tipo de produto e serviço.

A terceira idade, na qual eu me incluo, quer que as marcas entendam que não somos velhos. […]Quero experiências de consumo que falem a minha língua e entreguem produtos coerentes com quem eu sou e não com o estereótipo da minha idade (DC. JORNAL, 02/07/2019)

A partir dos dados apresentados também pelo blog Magicwebdesign, ficou constatado que entre as atividades realizadas pela terceira idade na rede estão uso de aplicativos para comunicar-se com familiares e amigos, acesso a sites de relacionamento,  e-commerce, jogos e leitura de notícias. Dentro dessa perspectiva, portanto, é importante relembrar os ensinamentos do Marketing Digital sobre a relevância de identificar-se o público-alvo para elaborar produtos e serviços assertivos que atendam à sua real necessidade e de adotar-se uma estratégia de conteúdo com linguagem apropriada, de modo a promover a identificação do usuário com a marca. Atualmente, existem diversas soluções disponíveis para auxiliar as companhias nesse sentido. Uma delas é a contratação de profissionais especializados para monitorar e gerir as redes sociais empresariais, meio pelo qual é possível identificar o seu público e estabelecer um relacionamento direto com ele.

Outra opção é o uso de métodos desenvolvidos pelo Google para aumentar a visibilidade e facilitar o acesso aos sites, seja pelo conjunto de técnicas da modalidades de busca personalizada, conhecido como SEO (Search Engine Optimization) ou  pelo método de links patrocinados. Entretanto, apesar das inúmeras facilidades oferecidas pelo Marketing Digital, grande parte do segmento de idosos não se sente identificado com o discurso adotado pela maioria das companhias.  A deficiência atual das marcas em falar corretamente com o grupo de idosos foi revelada em pesquisa do Instituto Locomotiva[7], quando 76% do público mais velho mostrou não se identificar com a forma como são retratados nas propagandas e 81% disse que a publicidade deveria representar melhor a diversidade etária.

Porém, há marcas que estão atentas à participação dos consumidores sexagenários na plataforma on-line e já se destacam, como o aplicativo de relacionamentos Lumen. O sucesso do dispositivo deve-se ao entendimento de dois aspectos fundamentais valorizados por esse público: facilidade de usabilidade (com design leve e botões grandes) e por não enquadrar o idoso em um perfil pré-concebido, proporcionando experiências almejadas por eles, como diversão e romance por meio da tecnologia. Outro exemplo de sucesso no ramo de empresas voltadas a atender as pessoas acima de 60 anos é o curso “Supera – Ginástica para o cérebro”.[8] Há mais de 12 anos no mercado, o estabelecimento é hoje a maior rede de escolas voltadas para o estímulo cerebral do Brasil e conta com mais de trezentas franquias espalhadas  pelo território nacional.

A metodologia de ensino aprovada por neurocientistas, educadores, psicopedagogos, neuropediatras e geriatas propõe, a partir da prática de jogos,  desafios lógicos, dinâmicas em grupo e do uso do instrumento milenar chinês chamado “Ábaco”, o desenvolvimento da concentração, atenção, memória, percepção, coordenação motora e cálculo mental. Por e-mail, a diretora franqueada da Unidade Supera Tijuca, no Rio de Janeiro, Tathiana Tavares, falou sobre as principais carências apresentadas pelos idosos ao procurar o curso. De acordo com a gestora, as pessoas acima dos 60 anos representam 80% do total de alunos, que também incluem crianças, adolescentes e adultos. Para a especialista, a questão sócio emocional é a mais identificada nos atendimentos. “Muitos buscam o curso para se sentirem incluídos em um grupo, saírem da solidão. A depressão tem atingido um número expressivo de idosos”, explicou Tavares.

Dentre as dificuldades apresentadas pela terceira idade durante as tarefas educacionais, Tathiana destacou a limitação para interagir com os jogos on-line como a principal delas e disse que  em razão disso foi desenvolvido o curso “Viv@ Digital”, para auxiliar a inclusão digital dos alunos sexagenários. A nova modalidade tem duração de 4 meses, com  aulas semanais com duração de duas horas. Nos encontros, ensina-se aos idosos o manuseio de celulares e tablets a partir da utilização de aplicativos e outros dispositivos. Para a diretora, a dificuldade é grande somente até o momento em que são apresentados ao mundo digital, depois, segundo ela, passam a navegar normalmente, em busca de músicas, receitas, compras, etc.

Nesse contexto,  para ratificar a importância da internet para a inclusão social do idoso na era digital e no combate às doenças psicossomáticas, citamos outro estudo promovido pela Universidade de Michigan, que constatou uma redução superior a 30% na ocorrência de casos de depressão de quem fazia uso das ferramentas online.  Publicado pelo portal “Banco da Saúde”[9], a pesquisa realizada pela universidade analisou mais de 22.000 idosos americanos , sendo considerado um dos mais abrangentes estudos do gênero.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como foi apresentado ao longo do artigo, vimos uma transformação na percepção da etapa da velhice – cujo marco inicial é aos 60 anos -, assim como na significação da chegada da aposentadoria. Ambos representavam, inicialmente, a iminência da inatividade, seguidos pelo temido prelúdio da morte e foram com o tempo dinamizando-se, passando para o estágio de descanso reconhecido e finalmente consolidando-se no patamar em que se encontra hoje: a fase de recomeço e de novas oportunidades de crescimento pessoal e profissional.    Conforme foi verificado nos estudos da antropóloga Guida Grin Debert, a desconstrução das idades cronológicas como marcadores pertinentes de comportamentos e estilos de vida foi relativizada tanto em decorrência da evolução da medicina como em razão das mudanças na estrutura da sociedade, resultantes do desenvolvimento tecnológico.

A especialista, em seus apontamentos, destaca a importância da contribuição da Gerontologia, área médica que avalia de forma mais ampla o construto do sujeito envelhecido, não apenas em razão das alterações sofridas pelo corpo em decorrência do tempo e das  possíveis doenças – análise esta feita pela Geriatria -, mas também em prol de distintos contextos. O surgimento de tais disciplinas desmistificou o caráter filosófico da velhice senil, ampliando o conhecimento sobre a pessoa idosa, que passou a ser valorizada não só como conselheira, mas pelo seu latente vigor psicológico e físico para realizar descobertas e contribuir para o desenvolvimento do país. As mudanças no modo de perceber os sexagenários trouxe consigo diferentes denominações utilizadas para definir os perfis dos grupos de idosos, dentre as quais usamos como referência neste trabalho a “terceira idade”. Achamos válido focar nessa expressão, visto que subentende mais uma etapa da vida, sem restrições ou estereótipos. Vai ao encontro da realidade moderna desse segmento que já é definido por especialistas como ator político presente, usuário ativo e crescente da internet, além de representar um potencial expressivo consumidor de produtos digitais. Atualmente, no Brasil, há mais de 50 milhões de idosos que movimentam 1,6 trilhão de reais ao ano. Em contrapartida, percebemos que apesar do crescimento do poder econômico e da presença da população idosa na plataforma digital, esse segmento não se vê representado nas personas criadas pela maioria das empresas para representá-los. Os tempos mudaram e as marcas precisam identificar os anseios dessa nova geração de idosos, que só tende a crescer nos próximos anos, e a usar das facilidades oferecidas pela plataforma digital, novo pano de fundo das relações atuais e do futuro, a seu favor.

REFERÊNCIAS

CECAP. Eles estão cada vez mais conectados. 2019. Disponível em https://www.soucecap.com.br/aumento-da-terceira-idade-nas-redes-sociais/. Acesso em: 29 dez. 2019.

DEBERT, G. F. A invenção da terceira idade e a rearticulação de formas de consumo e demandas políticas. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 12, n. 34, p. 39-56, jun. 1997.

ESTÚDIO NSC. Ativo, poderoso e conectado: conheça o perfil do consumidor idoso no Brasil. 2019. Disponível em https://www.nsctotal.com.br/noticias/ativo-poderoso-e-conectado-conheca-o-perfil-do-consumidor-idoso-no-brasil. Acesso em: 29 dez. 2019.

Magic Web Design. Terceira idade: o público que mais cresce no Brasil. 2019. Disponível em: https://www.magicwebdesign.com.br/blog/marketing-digital/terceira-idade-cresce-no-brasil/. Acesso em: 29 dez. 2019.

PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 2004.

REDAÇÃO MUNDO ESTRANHO. Quem criou a aposentadoria? 2019. Disponível em https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quando-surgiu-a-aposentadoria/. Acesso em: 29 dez. 2019.

SBGG. O que é Geriatria e Gerontologia. 2019. Disponível em: https://sbgg.org.br/espaco-cuidador/o-que-e-geriatria-e-gerontologia/. Acesso em: 29 dez. 2019.

SIGNIFICADOS. O que é terceira idade? 2019. Disponível em: https://www.significados.com.br/terceiraidade/#:~:targetText=O%20que%20%C3%A9%20Terceira%20Idade,Mundial%20da%20Sa%C3%BAde%20(OMS).  Acesso em: 29 dez. 2019.

SILVA, L. R. F. Da velhice à terceira idade: o percurso histórico das identidades atreladas ao processo de envelhecimento. Hist. Cienc. Saúde-Manguinhos, v. 15, n. 1, p. 155-168, mar. 2008.

BANCO DA SAÚDE. Estudo: Internet ajuda idosos a escapar à depressão. 2014. Disponível em https://www.bancodasaude.com/noticias/estudo-internet-ajuda-idosos-a-escapar-a-depressao/ Acesso em: 13 Mai. 2020

APÊNDICE – REFERÊNCIAS DE NOTA DE RODAPÉ

3. https://www.populationpyramid.net/pt/mundo/2019/

4. https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quando-surgiu-a-aposentadoria/

5. https://www.soucecap.com.br/aumento-da-terceira-idade-nas-redes-sociais/

6. https://www.magicwebdesign.com.br/blog/marketing-digital/terceira-idade-cresce-no-brasil/

7. https://www.soucecap.com.br/aumento-da-terceira-idade-nas-redes-sociais/

8. https://metodosupera.com.br/quer-saber-como-funciona-o-curso-supera/

9. https://www.bancodasaude.com/noticias/estudo-internet-ajuda-idosos-a-escapar-a-depressao/

[1] Bacharel em Comunicação Social, com especialização em Jornalismo. Pós-graduada em Comunicação Integrada e em Marketing e Redes Sociais.

[2] Especialização em Teoria Psicanalítica. Especialização em Orientação, Supervisão e Gestão Escolar Democrática. Especialização em Docência do Ensino Fundamental, Médio e Superior. Graduação em Matemática.

Enviado: Abril, 2020.

Aprovado: Maio, 2020.

4.7/5 - (14 votes)
Flávia dos Santos Rodrigues

2 respostas

  1. Artigo escrito de forma simples e objetiva, me fez sentir compreendida e animada com a visão de estar ingressando em um novo estágio da vida com possibilidades de aprender e interagir efetivamente participando da plataforma digital
    Parabéns Flávia que sempre demonstrou paciência e me incentivou a estar presente no ambiente online, tão importante agora quando vivemos um isolamento social. Beijos minha querida.

  2. Parabéns Flávia, o artigo ficou maravilhoso. Acompanhei seu trabalho quer nas pesquisas bibliográficas, quer nas consultas à pessoas dessa faixa etária, ouvindo suas ideias e dificuldades. Particularmente tinha dúvidas e resistência em usar as novas ferramentas digitais, no que você muito me ajudou.
    No presente momento de isolamento social posso me comunicar virtualmente, comemorar datas e fazer várias transações no mercado online.
    Vale ressaltar o destaque dado à propaganda voltada para este grupo tão diverso que é o da terceira idade. O Marketing digital deve estar atento aos diferentes estilos de vida que podem variar significativamente em cada década de existência.
    Grata sempre pela sua paciência me ensinando e estimulando a usar as novas ferramentas digitais.
    Parabéns e sucesso!

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