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Jornalismo internacional: do ingresso às rotinas de correspondentes no exterior

RC: 127773
734
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/jornalismo-internacional

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

VARGAS, Gianmarco Soares de [1], PALMA, Glaíse Bohrer [2]

VARGAS, Gianmarco Soares de. PALMA, Glaíse Bohrer. Jornalismo internacional: do ingresso às rotinas de correspondentes no exterior. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 05, pp. 51-88. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso:  https://www.nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/jornalismo-internacional, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/jornalismo-internacional

RESUMO

O presente artigo discorre sobre o trabalho de alguns jornalistas internacionais das emissoras Globo, CNN Brasil, ESPN Brasil, SporTV, TNT Sports e Grupo Bandeirantes de Comunicação, a fim de responder o seguinte problema de pesquisa: no que se diferem as rotinas de produção de correspondentes internacionais brasileiros alocados em diferentes continentes? Objetiva-se, por meio desta perspectiva, compreender os métodos de inserção destes comunicadores no mercado internacional, com o foco em suas logísticas de trabalho. Como metodologia, foram analisadas coberturas internacionais a partir de obras literárias e de entrevistas com correspondentes das referidas emissoras. Obteve-se a resposta para a questão norteadora, ao apurar-se que as diferenças no desempenho da profissão em cada continente estabelecem-se a partir de níveis distintos de liberdade de imprensa, facilidade no acesso a fontes, editorias com maior popularidade (esporte e política) e relação com a imprensa local. A pesquisa auxiliou no entendimento do autor frente às distinções estruturais do trabalho jornalístico em cada continente, principalmente ao levar em conta o quanto a rigidez das culturas comunicacionais de cada lugar influencia na execução do trabalho.

Palavras-chave: Enviados Especiais, Correspondentes internacionais, Jornalismo esportivo, Jornalismo internacional, Coberturas internacionais.

1. INTRODUÇÃO

Inseridos no âmbito do jornalismo internacional, os correspondentes caracterizam-se pelo trabalho de coberturas em países estrangeiros. Geralmente, são jornalistas que permanecem fixos em outras nações, com o objetivo de acompanhar possíveis eventualidades em uma determinada região continental (DELUCA, 2021). O trabalho destes comunicadores divide-se em editorias e rotinas distintas de trabalho, usualmente ligados à pautas políticas, ou esportivas, seja na América, Europa, África, Ásia ou Oceania. Ao levar em consideração este parâmetro, há emissoras no Brasil que destinam 100% de suas atividades para um setor em específico, ao serem compreendidas como veículos que operam exclusivamente com um tema, como é o caso do esporte. Entre alguns nomes, estão: BandSports, ESPN Brasil, TNT Brasil e SporTV. Por outro lado, Band, CNN Brasil e Globo caracterizam-se como emissoras que abrangem em suas pautas, mais de uma editoria. Nacionais e sediadas no Brasil, todas contam com o trabalho de equipes compostas por correspondentes em diferentes continentes.

Por meio destes conceitos, um artigo foi realizado com o propósito de compreender o método de inserção destes comunicadores no mercado jornalístico internacional, bem como seus encargos e as peculiaridades em suas logísticas de trabalho. Tais objetivos visam responder o problema de pesquisa: no que se diferem as rotinas de produção de correspondentes internacionais brasileiros alocados em diferentes continentes? Para isto, foram analisadas coberturas e trajetórias profissionais de alguns correspondentes, a partir de obras literárias, bem como por meio de entrevistas estruturadas e semiestruturadas (GIL, 2009) com os repórteres: Vinícius Assis (Globo), Denise Odorissi (CNN Brasil), Carina Ávila (SporTV), Rodrigo Carvalho (Globo), Carlos Gil (SporTV), Thiago Kansler (BandSports) e Eduardo Barão (Band) – sendo ao menos, um ligado a cada continente.

Optou-se pela temática de jornalismo internacional, em razão do autor estabelecer familiaridade e gosto frente aos assuntos presentes nessa esfera, bem como por acompanhar a rotina profissional de jornalistas ligados a ela. Entre alguns dos autores mencionados na obra, destacam-se Leonardo Barbosa, Igor Andrade e Luis Felipe Rodrigues.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA 

2.1  COBERTURAS INTERNACIONAIS: DAS ORIGENS À CONTEMPORANEIDADE 

Embora antiga e formalizada nas grandes emissoras de televisão, a atuação de jornalistas internacionais no século XX destacou-se para o Brasil, com as coberturas de correspondentes de guerra enviados para conflitos em diferentes partes do mundo. Exemplo disto é o jornalista gaúcho Alexandre Garcia, que teve sua primeira cobertura internacional durante o fechamento do Congresso uruguaio, em 1973, quando trabalhava no Jornal do Brasil. De Montevidéu, foi transferido para Buenos Aires, onde cobriu a crise política argentina durante três anos. Na sequência, seguiu com experiências de reportagem internacional durante o governo Geisel, em uma viagem do até então presidente ao Japão, em 1976 – período que consolidou seus 10 anos de serviço no Jornal do Brasil. Garcia seguiu no ramo internacional até 1983, ainda funcionário da TV Manchete, em Brasília. Empresa pela qual exerceu a cobertura das Guerras do Líbano, das Malvinas, de Angola e da Namíbia, antes de integrar o grupo Globo, em 1980. Além dele, Marcos Uchôa, responsável pela cobertura da Guerra do Iraque (2003), e Pedro Bial, pelas guerras do Golfo (1991), da Bósnia (1992) e o fim da União Soviética (1991), também compõem a lista dos correspondentes de guerra brasileiros.

Por outro lado, perpassando as linhas guerrilheiras, com exemplos mais recentes, está a jornalistas Denise Odorissi (Londres), correspondente da CNN Brasil, e Rodrigo Carvalho (Londres), da GloboNews. Nomes que exibem um modelo distinto de operações internacionais. Assim como Garcia, eles levam consigo um vasto currículo de experiências e passagens por inúmeros veículos de comunicação, prévios ao mercado internacional.

Desde sua chegada na CNN, em 2020, Odorissi já realizou pautas referente a temáticas polêmicas como a ‘Imunidade Parlamentar na Inglaterra’, diante de casos envolvendo membros da realeza britânica, com estudos e pesquisas sobre a Vacina de Oxford, após a chegada da pandemia. Entre outras matérias elaboradas pela jornalista, está o ‘Racismo e Xenofobia no Futebol’, o que a posiciona num papel de profissional não limitada a um único nicho. Além de cobrir assuntos pertencentes a diferentes editorias, encaminha ao Brasil informações sobre temas de interesse público. Natural de São José dos Campos, em São Paulo, a brasileira atuou como repórter da Band Vale (2004 a 2007) e da Record News (2007 a 2011), onde também foi apresentadora (2010 a 2012). Na sequência, trabalhou com reportagem na Record TV São Paulo (2011 a 2019), antes de chegar ao seu atual posto de trabalho, em Londres, o qual é aprofundado pela jornalista em uma entrevista realizada em outubro de 2021, ao vivo com o autor, em live no Instagram.

No âmbito jornalístico, aqui em Londres, as coisas ocorrem mais organizadas e com mais antecedência. É muito difícil os entrevistados te atenderem no mesmo dia. Por outro lado, tive que me adaptar quanto ao acesso às fontes, já que somos mídia estrangeira. Por exemplo, houveram coletivas do governo que a mídia de fora não participava, dando espaço apenas à imprensa local. Nestes casos, costumamos receber apoio de uma associação de jornalistas daqui, que são apoiadores e nos fornecem dados que muitas vezes não conseguimos apurar. (ODORISSI apud DE VARGAS, 2021)

Igualmente na Terra da Rainha, mas como empregado da GloboNews, carioca de Niterói, Carvalho é considerado um dos mais jovens repórteres da TV brasileira. Em seus primórdios de atuação nacional, participou das coberturas dos deslizamentos em Angra dos Reis e Ilha Grande, em 2010 e, um ano depois, das enchentes e deslizamentos de terra na Região Serrana do Rio de Janeiro, uma das maiores tragédias naturais que o país já viu. Seu primeiro dever internacional foi acompanhar o resgate dos mineiros no Chile, em 2010. Desde que chegou em Londres, em 2016, estreou com trabalho na Sérvia, em um acampamento de refugiados. Em praticamente quatros anos, acompanhou da eleição presidencial francesa ao casamento do príncipe Harry com Meghan Markle. Outras coberturas que estiveram em sua rotina, foram desde o ativismo ambiental da juventude britânica à canonização da Irmã Dulce no Vaticano. Porém, um dos encargos de Carvalho acabou virando uma obra cultural. A tão repercutida tragédia no norte da Tailândia, quando um passeio se transformou em drama, ao noticiar o desaparecimento de 12 meninos e seu técnico de futebol em uma caverna. Após o término do resgate das vítimas, Carvalho escreveu o livro, ‘Os Meninos da Caverna’, baseado no fato (RAFAELA, 2022). Em entrevista cedida ao autor, ele reiterou também que um de seus maiores desafios durante a pandemia, foi o acesso às fontes. Entretanto, enalteceu a qualidade dos materiais enviados pelas agências.

Eu fazia tudo de casa, a gente vai se acostumando aos poucos. Cheguei como videorrepórter em Londres, gosto de filmar e isso me ajudou no meu processo de adaptação e manuseio dos equipamentos sozinho. O mais desafiador foi ter que acionar fontes de tudo que é lugar do mundo. As viagens foram suspensas. Só tive uma exceção, quando viajei 50 minutos de carro para entrevistar o capitão britânico Tom Moore, que arrecadou dinheiro para o sistema público de saúde inglês (NHS) durante a pandemia. Para as demais matérias, o contrato com a Reuters estabelecido pela Rede Globo ajudou muito. Conseguimos construir histórias somente com o que chegava das agências, entre informações, imagens gerais e histórias de pessoas. (CARVALHO apud DE VARGAS, 2021)

Uma vez que tantas personalidades compõem o amplo grupo de correspondentes internacionais, não se pode deixar de falar do jornalista do O Estado de S. Paulo, especialista em relações exteriores, Gustavo Chacra, responsável pelas coberturas: Guerra do Líbano (2006); conflitos na Faixa de Gaza (2008 e 2009); e a expansão do grupo terrorista islâmico Al-Qaeda (2009), durante sua estadia em Beirute, na capital do Líbano. Também é autor de reportagens sobre panoramas políticos e socioeconômicos da: Cisjordânia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Faixa de Gaza, Iêmen, Israel, Jordânia, Líbano, Omã, Catar, Síria e Turquia. Não somente Chacra, mas também Ariel Palácios é considerado um forte nome do jornalismo internacional nas Américas, por ter sido correspondente da CBN e da GloboNews, em Buenos Aires. Sua carreira começou em 1995 pelo jornal O Estado de S. Paulo, até pedir afastamento em 2014, ano em que passou a trabalhar para a GloboNews, com entradas ao vivo no Jornal Hoje, Jornal da Globo e SporTV. Após falar em Chacra e Palácios, situados nos continentes americano e asiático, há também Vinícius Assis, jornalista alocado na África do Sul, como correspondente do Grupo Globo. Entre suas missões, estão a cobertura da crise sanitária do continente e a experiência num local de pouca liberdade de imprensa. Viaja por países vizinhos a fim de apurar informações para a GloboNews e outros veículos brasileiros, trabalhando também, como freelancer local.

Eu costumava viajar muito aqui antes da pandemia, por isso morava em Joanesburgo, próximo do aeroporto internacional. Então, com o surto, o deslocamento para seguir fazendo as reportagens, tanto para o Brasil como freelancer, se tornou mais difícil. Neste último caso, eu cobria eventos de duas maneiras. Ou meus clientes bancavam todas as minhas despesas e serviços, ou eu investia na viagem e vendia as matérias prontas. Contudo, acho que o mais desafiador foi me treinar a ser meu próprio cinegrafista. Durante um tempo, eu passava contratando profissionais para operarem a câmera. E aí que vivi uma situação complicada na Nigéria, quando contratei um cinegrafista que ameaçou parar de trabalhar no meio das gravações, tentando me extorquir mais dinheiro para passar as imagens gravadas no meu computador. Desde então, me treinei para trabalhar sozinho, sem depender de ninguém. (ASSIS apud DE VARGAS, 2021)

Todavia, além do brilho predominante no setor político e econômico nas comunicações internacionais, o esporte passou a ganhar forças com o tempo. Repórteres que costumavam viajar junto de delegações, com o único objetivo de realizar coberturas de jogos importantes, com o tempo, passaram a residir em diferentes países, adotando uma nova metodologia de vida, bem como o multi-uso tecnológico (BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019).

Diante da utilidade de gadgets e softwares inovadores, a seleção de jovens jornalistas também foi uma característica adotada por emissoras e canais de streaming a partir de 2010, o que resumiu a seguinte intenção entre instituições. Quem estava acostumado a acompanhar a trajetória de Tino Marcos, um dos maiores repórteres brasileiros – quem cobriu oito Copas do Mundo e cerca de 200 jogos da seleção brasileira, além de Olimpíadas, Copa América, Copa das Confederações e Jogos Pan-Americanos pela Rede Globo – não deve estranhar o grau de atuação dos jovens correspondentes inseridos no mercado europeu.

Quem também é conhecido por suas passagens como correspondente, é Carlos Gil,  um dos responsáveis pelo acompanhamento dos Jogos Olímpicos de 2021, em Tóquio, no Japão. Tornou-se correspondente em 2018, após apresentar o Globo Esporte SP na TV Globo, com objetivo de substituir Márcio Gomes, que estava no país oriental, desde 2013 (BELÉM, 2018). No final de 2021, Gil retorna ao Brasil, de volta ao jornalismo de esportes. De acordo com ele, logo que se mudou para o oriente, em 2018, deparou-se com uma surpresa: “Vivenciei algo histórico. Estava na Ásia quando ‘uma nova pneumonia chinesa’ apareceu e fiz as primeiras reportagens sobre isso. Então, é algo que carregarei para a minha história” (GIL apud CARNEIRO, 2017). Entretanto, não foi só a pneumonia. Gil também fez parte da equipe que cobriu os Jogos Olímpicos de Tóquio, o primeiro evento de grande magnitude esportiva em âmbito mundial, a ser realizado durante a pandemia: “Não ter público afeta diretamente as produções, em razão de um VT de televisão ser fruto do ambiente. TV não é só texto, é imagem, é som, é movimento e sensação” (GIL apud DE VARGAS, 2021).

Sua vivência no decorrer da pandemia de Covid-19 chama atenção, ao levar em conta sua descrição sobre os métodos japoneses de controle populacional contra a doença. Gil (2021) admitiu que vivenciar o isolamento no país foi algo fácil em comparação a outras nações,  ao relatar que o Japão não chegou a ficar nem três meses com o comércio fechado, e que sua escolha em ter ido para lá foi um desafio para sua rotina: “Jornalista pode ser especializado, mas a notícia é universal, não importa a editoria. Estar aqui tem sido um desafio muito legal e gostoso, uma experiência fantástica” (GIL apud DE VARGAS, 2021). Paralelamente ao trajeto de Gil pelo Grupo Globo, está Thiago Kansler, repórter da BandSports, também presente na cobertura das Olimpíadas de 2021. Diferentemente de Gil, o jornalista atuou como repórter enviado da emissora, mas experienciou, igualmente, os desafios acerca das limitações impostas pela Covid-19.

No decorrer das entrevistas, tínhamos que ficar dois metros de distância dos atletas, com duas grades na frente, além de providenciar um pedestal para o microfone do entrevistado. A OBS (empresa responsável pela mídia) reduziu o número de espaços das zonas mistas nas olimpíadas. Geralmente tínhamos como agendar a nossa ida em uma instalação para um evento de alta demanda, onde há muita procura por entrevistas. Neste caso, tivemos que agendar as nossas idas às arenas diariamente, para a OBS ter um controle maior do fluxo da imprensa. (KANSLER apud DE VARGAS, 2021)

Já em solo australiano, mas ainda em conectividade com o esporte, está Manuela Franceschini, correspondente do SporTV em Sydney. Similarmente ao seu colega de profissão, ela trabalha direto com apuração de notícias esportivas para o canal, mas desde 2016. Manuela começou a carreira no Estadão, teve passagem pela Veja e trabalhou oito anos na Globo, como repórter e correspondente do SporTV. Hoje, atua também como professora de Broadcast Journalism na Bond University, na Austrália (FRANCESCHINI, 2018).

3. CORRESPONDENTES INTERNACIONAIS ESPORTIVOS

3.1 TNT SPORTS 

Ao estabelecer uma análise do mercado de correspondentes, a partir de 2010, novos projetos foram surgindo e empregando jovens talentos no mundo todo. Um exemplo é a TNT Sports, antigo Esporte Interativo, extinto pela WarnerMedia em 17 de janeiro de 2021 (BARBOSA, 2021). O canal passou por várias transformações desde seu surgimento em 2004, enquanto TV aberta, período em que começou a transmitir modalidades como Futsal, Vôlei, Atletismo e Basquete.

Consolidada promessa do jornalismo esportivo internacional, a TNT Sports adotou um método inovador de realizar as transmissões dos jogos da UEFA Champions League, avaliada como o seu principal foco. Nomes como Frederico Caldeira (Manchester), Tatiana Mantovani (Madrid), Arthur Quezada (Porto), Marcelo Bechler (Barcelona), Isabela Pagliari (Paris) e Clara Albuquerque (Turim), fazem parte da aposta no mercado jovem, ao estarem alocados em diferentes países com um estilo de trabalho que perpassa as fronteiras continentais.

Acostumados com uma rotina de produção, eles vivenciam o papel do “jornalista multitarefa”, encarregados da produção, roteirização, gravação, entrevistas, edição e encaminhamento de materiais para a emissora veicular em seu canal e mídias digitais. Isso sem falar na necessidade de buscar conteúdos factuais e de interesse público, de maneira autônoma, sem depender exclusivamente dos editores.

Residente na capital espanhola e responsável pelo acompanhamento do dia a dia dos clubes Real Madrid e Atlético de Madrid, Mantovani integrou o grupo TNT Sports em 2016, quando o antigo Esporte Interativo procurava alguém que já residisse na cidade, falasse o espanhol fluente e conhecesse os clubes locais. A partir destes requisitos, a jovem foi indicada pelo seu atual colega de profissão, Bechler, correspondente em Barcelona. Após integrar a nova equipe, ela cobriu quatro finais de Liga dos Campeões consecutivas. Com proficiência no espanhol, Mantovani passou por diferentes vivências ao longo do seu trabalho como correspondente. Segundo ela, as coberturas de Liga dos Campeões foram uma das melhores sensações já vividas. Fator este que, sobretudo, criou vínculos com os atletas brasileiros, Marcelo e Casemiro, do Real Madrid. “Sempre nas entrevistas após os jogos, eu acho que eles se sentem mais à vontade falando português, com uma pessoa que é do mesmo país, e acho que isso acabou aproximando a gente” (MANTOVANI apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 110), relatou.

As brincadeiras e descontrações geraram intimidade entre os profissionais, ponto que ela justifica ter ocorrido por “ser a única jornalista esportiva brasileira local”. Além dos conterrâneos, a correspondente também participou de outras entrevistas, como foi o caso das coletivas com o técnico francês Zinedine Zidane, e bate-papos online via Twitch, com o goleiro belga Courtois.

As dificuldades também fizeram parte de sua rotina, sendo uma delas, durante o Mundial de Clubes de 2017, ano em que Grêmio e Real Madrid decidiram o título. “Foi realmente uma das piores experiências profissionais, mas também uma das que eu mais aprendi. Cobrir o mundial nos Emirados Árabes foi bem complicado, mas no final deu tudo certo” (MANTOVANI apud BARBOSA, ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 112), acrescentou. Segundo ela, o público presente não entendia como ela poderia estar sozinha no local, na falta de uma companhia. Ela conta que o acesso foi bastante dificultoso, principalmente para ingressar com seus equipamentos de trabalho (MANTOVANI apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019).

Por outro lado, a rotina de trabalho de Caldeira, correspondente em Manchester, foi fundamental para que desse seguimento aos seus projetos de esportes. Segundo ele, em meio às principais dificuldades, está a necessidade de ele ser o seu próprio cinegrafista: “O olhar de um especialista em imagem é fundamental para uma boa reportagem e evidentemente eu não tenho esse olhar, sei apenas operar a câmera” (CALDEIRA apud BARBOSA, ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 78).

Caldeira (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) também realça o peso da construção do diálogo em países europeus, ao mencionar que a procura por um “meio termo” na construção textual e verbal, como construtora de uma proximidade entre as culturas brasileira e inglesa, é desafiadora.

Como produzir um conteúdo com a cara do Brasil ao entrevistar personagens tão distantes em termos culturais? É importante, quando possível, buscar referências comuns ao Brasil. Mas, acho que existe um desafio aí: o Brasil que conheci, como morador da zona norte do Rio de janeiro, têm diferenças profundas dos tantos Brasis do mesmo país. Buscar referências comuns em um país continental e com tanta desigualdade de realidades é complicado (CALDEIRA apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 78).

O Campeonato Inglês é um prato cheio para quem ousa realizar coberturas. Considerado o mais competitivo da Europa, por agregar um maior número de grandes equipes que costumeiramente brigam por títulos nacionais e internacionais, a instantaneidade das informações tende a correr de maneira mais rápida. Segundo Barbosa; Andrade e Rodrigues (2019), os correspondentes devem elaborar um boletim por dia para o Conselho Europa (programa disponível no IGTV, do Instagram), três participações por semana no programa ‘Melhor Futebol do Mundo Debate’, no YouTube, além de uma grade para o Liga Espetacular, da TNT.

Previamente à fase de correspondente internacional, Caldeira chegou ao antigo Esporte Interativo, em 2011, onde lidou com produção, apuração e apresentação. Sempre apaixonado pelo assunto, não optou por outra área, se não o jornalismo esportivo. Desde setembro de 2016, integra o grupo de correspondentes na Europa, e enfatiza que “ter se dado a oportunidade” de sair do país e desafiar-se diante das adversidades que a nova proposta apresentava, foi um dos pontos mais gratificantes em sua jornada profissional. “Se você não se abrir ao novo, não há crescimento pessoal nem profissional” (CALDEIRA apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 81).

Já em Paris, Pagliari teve um começo parecido com o de Mantovani. Aos 27 anos, ela optou por mudar-se do Brasil, com destino à capital francesa, onde reside desde então. Seu objetivo era manter-se ligada aos estudos, até que, em 2015, o Esporte Interativo a recrutou para compor o grupo de correspondentes internacionais que estava sendo formado para a cobertura da Liga dos Campeões. Em entrevista para o grupo Uol Esportes, Pagliari relata que vivenciou diferentes realidades profissionais antes de virar correspondente.

Antes de trabalhar no Esporte Interativo, eu montei um canal do Youtube e trabalhei um pouco no Globo Esporte. Eu trabalhei em bar de balada, mas sempre quis ser jornalista. Eu ia aos jogos do PSG mesmo sem trabalho. Eu vim para me jogar, eu não pensei muito. Se pensar muito, não vai. Eu não tinha amigos no primeiro ano e pensei em desistir. Foi então que o Esporte Interativo entrou em contato para falar que queriam montar uma equipe por causa da Liga dos Campeões. (PAGLIARI apud TORRALBA, 2017)

Antes mesmo de estrear pela nova emissora, ela comentou que um dos seus receios ao chegar na França era a existência de fatores como o terrorismo e o machismo. Ela descreve que quando o Paris Saint Germain (PSG) venceu o Barcelona na Liga dos Campeões, no jogo de ida das oitavas de final, em 2017, no Parque dos Príncipes, Neymar parou para lhe ceder uma entrevista durante a zona mista: “Os caras falaram que ele só falou comigo por ser mulher e bonita. Machismo existe e as pessoas sempre justificam as coisas pela beleza e não pela sua capacidade. Isso não tem nada a ver” (PAGLIARI apud TORRALBA, 2017).

No entanto, após este período, Pagliari consagrou-se fonte indispensável para vários veículos franceses. Hoje, a atual embaixadora da PUMA já soma em seu currículo sete Champions League e três Copas do Mundo, com experiência de sete anos junta à TNT Sports, além da rádio francesa Europe 1. Com domínio do idioma local, ela teve sua rotina transformada após o dia 3 de agosto, quando o PSG oficializou a contratação de Neymar, por 222 milhões de euros. Ela passou a realizar entradas ao vivo para canais brasileiros, bem como entrevistas para veículos franceses, que viviam em busca de notícias sobre o jogador mais caro da história.

Eu acho que meu dia às vezes tem 72 horas, mas a gente se vira. O meu trabalho tem cobrança, mas é muito sonho. Eu acordo, leio os jornais, escuto as rádios, separo os assuntos, bato pauta, eu me preparo e faço as tarefas de casa, pego o ônibus e vou para o Parque dos Príncipes. Eu entro ao vivo e faço o que precisa, traduzo as respostas, eu envio, eu penso as chamadas. Exige muita dedicação e muita paixão. (PAGLIARI apud TORRALBA, 2017)

Um dos pontos que chama atenção no modo com que estes profissionais se transformaram em correspondentes, refere-se à trajetória de cada um. Diferentemente dos exemplos anteriores, Quezada deu um grande salto entre os patamares da profissão. Sobrinho do jornalista Leandro Quesada, sempre foi apaixonado pela área. Começou a operar como comunicador interno em um sindicato e, posteriormente, tornou-se funcionário da Rádio Cidade, no Rio de Janeiro. Teve o encargo de acompanhar as equipes que enfrentavam o Clube Atlético Votuporanguense que, até então, disputava a quarta divisão do Campeonato Paulista. Em 2011, optou por deixar o Brasil e realizar intercâmbio na Irlanda. Dois anos depois, foi a Portugal, onde pretendia fazer sua pós-graduação. Em 2015, recebeu a notícia que o Esporte Interativo estava montando a equipe de correspondentes internacionais para a cobertura da Champions League. Foi aí que Quezada enviou seu currículo e foi aceito logo de primeira: “Nunca fiz um jogo da Série A do Campeonato Brasileiro. Pulei da quarta divisão do Campeonato Paulista para a maior competição de clubes do mundo” (QUEZADA apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 28). Desde então, ele vive na cidade de Porto, responsável pela apuração noticiosa das principais equipes do país: Porto, Benfica e Sporting. Porém, eis apenas uma parte de sua responsabilidade como correspondente. Igualmente, Quezada viajava por todo Velho continente, a fim de cobrir eventos futebolísticos em localidades onde não existissem jornalistas internacionais da emissora, como Holanda, Grécia e Alemanha.

Ser o coringa me proporciona também, ter mais tempo para pensar e elaborar matérias especiais, eu também posso estar em jogos e estádios diferentes dos habituais. Fiz jogos como Bayern e Ajax no meio da OktoberFest. Então é uma grande oportunidade, em todos os sentidos. Profissional e pessoal. (QUEZADA apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 29)

Exemplo das coberturas fora de Portugal, foi o confronto entre Ajax e Tottenham, pelas semifinais da Liga dos Campeões de 2020, marcada pelo hat-trick (três gols em um jogo) de Lucas Moura, que garantiu a classificação para a equipe inglesa à final do campeonato. O jogo foi repleto de emoções, além de ter proporcionado a Quezada uma das entrevistas que repercutiu no mundo, ao conversar com o meio-campista brasileiro. Para o correspondente, momentos como este fizeram com que conhecesse mais de 40 estádios na Europa (QUEZADA apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019).

Com o passar do tempo, tornou-se conhecido pelos jogadores de Portugal, mesmo que não tenha sido fácil conviver com a imprensa, logo de saída. De acordo com ele, em razão de na época, o Esporte Interativo não estar entre os grandes veículos de comunicação internacionais, no quesito de popularidade, a demora para desenvolver proximidade com as federações, clubes e atletas foi um obstáculo (QUEZADA apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019). Após isso, tudo se enquadrou no relacionamento com as equipes portuguesas. Inclusive, Quezada (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) conta sobre um bate-papo gravado com Jorge Jesus, em 2017, quando o técnico português deu um furo de reportagem em meio a conversa, ao revelar que havia sido procurado para comandar o Porto, rival do seu time, o Benfica. Para ele, a informação foi emitida da maneira mais natural possível, de tão à vontade que o treinador português se sentiu no bate-papo (QUEZADA apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019).

O contato com integrantes das equipes a serem acompanhadas internacionalmente é de extrema importância aos correspondentes. Em Turim, na Itália, Albuquerque (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) salienta a responsabilidade acerca das perguntas direcionadas a membros de clubes futebolísticos. Por mais que domine o italiano, a jornalista pontua que é muito recorrente os atletas e membros de comissão técnica darem respostas distintas do que foi perguntado.

Nós temos uma dificuldade muito grande, e não é só no Brasil, de fazer perguntas e o entrevistado não responder. A gente pergunta X e o entrevistado responde Y. Os treinadores e jogadores têm um cuidado muito grande em não falar o que não devem, então isso acaba que as respostas são muito iguais e no final das contas não dizem nada (ALBUQUERQUE apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 55).

Para a brasileira, as melhores experiências com entrevistas foram com Pep Guardiola e Jürgen Klopp, técnicos do Manchester City e Liverpool, até então. “Tenho os dois treinadores como referências, pois quando os entrevistei, eles responderam de fato o que perguntei, conversaram de futebol comigo e isso me deu uma satisfação profissional muito grande” (ALBUQUERQUE apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 55), afirmou. Por outro lado, o ex-treinador da Juventus, Massimiliano Allegri, é conhecido por não ser tão agradável nas respostas. Albuquerque (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) descreve que o italiano nunca chegou a ser mal educado, mas não costuma dar tanta liberdade à imprensa como os outros membros do plantel.

Tanto quanto a chegada de Neymar a Paris, a contratação de Cristiano Ronaldo pela “Velha Senhora” tomou as atenções da imprensa local. Albuquerque, que não costumava ir a todos jogos no estádio, passou a acompanhar de perto as partidas da Série A, o que, segundo ela, modificou completamente sua rotina de trabalho. Fator plausível, já que o craque português passou a jogar na equipe de Turim, onde trabalhava.

A comunicadora foi apaixonada pelo esporte desde cedo, influenciada fortemente pela mãe. Teve sua primeira produção noticiosa publicada em seu projeto final do curso de graduação em Jornalismo, quando lançou a obra ‘A Linha da Bola – tudo que as mulheres precisam saber sobre futebol e os homens nunca souberam explicar’, em 2007. Posteriormente, recebeu um quadro na TV Bahia (afiliada da Rede Globo), chamado ‘Tudo às Claras’. Na sequência, tornou-se comentarista do SporTV e do Premiere Futebol Clube (canal de assinatura para transmissão dos jogos dos campeonatos estaduais brasileiros, das séries A e B do Brasileirão). Passado algum tempo, ela optou por mudar-se para o Rio de Janeiro, com o objetivo de dar amplitude ao seu trabalho, quando em 2013, o Esporte Interativo a convidou para integrar a equipe onde foi apresentadora e comentarista durante quatro anos.

Em meio a sua atuação no SporTV/PFC e no Esporte Interativo, ela era a única comentarista mulher entre as principais emissoras de televisão do país. Diante do fato, a jornalista não esconde a existência do machismo no futebol, por se tratar de uma esfera em que historicamente houve maior presença de homens.

Não existe uma mulher que trabalhe no jornalismo esportivo que não tenha sofrido preconceito, porque o esporte reflete como é nossa sociedade, e nossa sociedade é machista. Não conseguimos viver em uma bolha onde o machismo não se manifeste. O que a gente sente no dia-a-dia é que as mulheres precisam provar todos os dias que sabem de futebol. (ALBUQUERQUE apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 57)

Já em 2017, foi convidada a mudar-se para Turim, com a perspectiva de dar início à sua trajetória de correspondente. Ela conta que, no começo, não se imaginava atuando no setor, mas foi uma grande oportunidade de desenvolver suas habilidades.

Eu não gosto de rotina e os correspondentes não tem uma. Os dias são completamente diferentes, envolvendo muita viagem e conhecimento sobre outras culturas. Dependendo do mês, eu passo menos de uma semana na minha cidade. (ALBUQUERQUE apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 53)

Por fim, correspondente em Barcelona, Bechler (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) destaca a vantagem do enriquecimento cultural como ponto forte na vida de um jornalista internacional. Para ele, a viagem a trabalho é uma das coisas que mais o desperta interesse como forma de se conectar a outras culturas, estádios, países e pessoas. “Conheço 79 estádios em quatro continentes. É bem legal e enriquecedor e essa é a melhor parte”, (BECHLER apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 96) salienta. Além do amor pelas viagens, a identificação pelo seu clube do peito, Barcelona, também o motiva a trabalhar no ramo.

Bechler (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) descreve as atuações pós-jogo como um dos passos mais árduos na vida de correspondente. As entrevistas produzidas depois do término das partidas pela Liga dos Campeões tornaram-se parte de um processo desgastante de produção.

A gente está muito cansado do jogo, estamos trabalhando desde cedo e tem jogador que ainda está com a roupa de jogo, de cabeça quente, com a adrenalina a mil. Nós, jornalistas, queremos boas respostas, queremos fazer perguntas para eles se enrolarem, mas os caras querem ficar ligados no que foi o jogo. (BECHLER apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 97)

O brasileiro enfatiza também, o uso de dois ou mais idiomas em suas entradas ao vivo, dependendo de quem sejam os atletas: “Às vezes fazemos entrevistas em inglês, dois minutos depois passamos para o espanhol, e temos que falar bem a língua, para sermos entendidos pelos entrevistados” (BECHLER apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 97).

Além da TNT Sports, ele possui uma coluna em Lance! e trabalha, igualmente, na rádio Itatiaia, de Minas Gerais, e para a TV3, canal televisivo da Catalunha. Nesta vasta experiência, o mineiro relata que conseguiu notar as diferenças presentes entre a imprensa brasileira e a espanhola, principalmente voltada às distinções culturais entre os dois públicos, nas maneiras de observar o futebol.

Aqui, o jornalismo não tem essa pegada do humor que tem no Brasil, eles são mais sérios e muito concentrados nos jogos. A dinâmica dos clubes é diferente, os jogadores são diferentes, a cultura é futebolística e jornalística aqui é diferente. (BECHLER apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 98)

Estas mudanças o surpreenderam em parte, já que o mesmo somava passagens na rádio Globo e no SporTV, como comentarista, além do seu primeiro emprego na rádio Inconfidência, em Belo Horizonte. Com o desejo de se tornar correspondente, mudou-se para Barcelona, em 2015, e desde então passou por momentos marcantes, como a transferência de Neymar, do Barcelona ao PSG. Bechler foi autor de um dos maiores furos jornalísticos da época, após anunciar previamente a compra do clube francês junto ao craque brasileiro. No dia 18 de julho de 2017, ele escreveu em seu Twitter: “Neymar aceita proposta do PSG. Clube francês pagará os 222 milhões de euros. Em instantes, mais detalhes no Esporte Interativo”. Com esta afirmação, Bechler foi responsável pelo furo ao ser o primeiro a noticiar o acerto, tendo seu nome repercutido por todo o mundo. Ele comenta sobre o contato com as fontes, que garantiam que Neymar iria para o clube parisiense, e depois de cinco minutos de entrada ao vivo com o Esporte Interativo para divulgar o acordo, Bechler foi procurado para ceder 14 entrevistas no mesmo dia, para falar a respeito da transferência.

Ponto este que faz referência a um dos pilares da profissão, considerados essenciais na busca de informações: o mailing, como é chamado, engloba a listagem de vários contatos de profissionais em diferentes serviços, a fim de prestar auxílio com apurações específicas que o jornalista esteja procurando saber. Neste caso, após as buscas pelo correspondente brasileiro, as relações foram ampliadas. Bechler (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) conta que ainda durante o período em que estavam ocorrendo as especulações, chegava a monitorar os grupos de WhatsApp para ficar de olho em possíveis atualizações e mensagens de fontes que participavam da negociação: “Dormi com o celular despertando de meia em meia hora por uma semana, conferindo o comportamento da pessoa do outro lado e constando que estava na Europa todos esses dias”, (BECHLER apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 99). O repórter chegou a escrever no blog Medium[3] toda trajetória acerca dos desafios vivenciados nesta época.

É interessante abordar, além do trabalho massivo, a lei de causa-efeito nestas emissoras. Independentemente de serem redes de TV aberta, os picos de audiência tendem a aumentar durante as transmissões e coberturas esportivas. A TNT Sports, já enraizada com o sistema aberto de televisão, mesmo após migrar para o grupo TNT, seguiu a reproduzir os jogos no seu Facebook, embora saiba-se que todo engajamento e repercussão nas mídias sociais, em específico no Instagram, corrobora muito para o crescimento dos índices de audiência. Segundo o site ‘Máquina do Esporte’ (2019), pertencente ao grupo Uol, o canal atingiu 6 uma marca de 1,4 pontos de média, com pico de 2,1 na transmissão do clássico inglês, Arsenal e Liverpool, em novembro de 2019, o que equivale a 3,3% de participação nas televisões ligadas em São Paulo (). Antes da posse dos direitos para transmissão de outros jogos em nível nacional, a média de audiência batia 0,3 pontos no ibope. Nitidamente, a repercussão de campeonatos que vão além do Brasil, agrega maior público e, consequentemente, mais jornalistas para cobrir esportes fora do país. O procedimento é uma base de lógica e algoritmo de gestão, o que agrega benefícios a três lados: o da empresa, que lucra com o aumento da audiência e com o ganho de repercussão; o jornalismo, que ao mesmo tempo que é valorizado em outras modalidades e campeonatos internacionais, gera mais empregos; e o consumidor de notícias, que têm informações de interesse pessoal.

3.2 ESPN BRASIL

Outro nome que ganhou voz diante do trabalho com correspondentes esportivos foi a ESPN Brasil, que investiu na aplicabilidade profissional no mercado exterior. Diferentemente da TNT Sports, a ESPN lida há anos com a cobertura multiesportiva. Modalidades que variam entre futebol, basquete, futebol americano, tênis, hockey, surf, golf, box e automobilismo, fazem parte de sua grade de programação. Entre o grupo que compõe a seleta equipe de profissionais da ESPN Brasil na Europa, destacam-se: André Linares (Barcelona), João Castelo Branco (Londres) e Natalie Gedra (Londres).

A estação adota consigo o sistema de televisão fechada e já se manteve líder de audiência com transmissão da Premier League, em várias oportunidades. Uma delas, segundo o site Observatório da Televisão, durante a temporada 2020/2021, quando a emissora bateu bons números chegando à terceira semana consecutiva como líder de audiência, após exibir cinco partidas entre sábado e domingo em um final de semana, sendo o canal mais assistido da TV paga em todos os jogos (VAQUER, 2019).

Linares é residente na Espanha desde 2018, e define a função de correspondente internacional como: “Um grande desafio é buscar ser bom em cada uma das tarefas” (LINARES apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 17). Encarregado da cobertura de equipes como Barcelona e Real Madrid, ele conta que sua rotina começa no início de semana, quando fecha a programação junto à chefia de reportagem sobre o que vai fazer nos dias seguintes. Ele relata que, de costume, chegava aos estádios três horas antes das partidas, antecedência que permitia com que realizasse entradas ao vivo, gravasse entrevistas com torcedores e preparasse conteúdos para as redes sociais. Durante os 90 minutos de jogo, acompanhava os lances por de trás do gol ou à beira do campo, com uma visão lateral das quatro linhas. Na sequência, eram realizadas as coletivas, gravações e edições dos boletins.

Com o aumento do uso de recursos tecnológicos, assim como o linear desenvolvimento de acesso e ferramentas em mídias digitais, o trabalho dos correspondentes perpassou as fronteiras televisivas, o que os obriga a elaborar materiais para redes sociais e sites.

A comunicação é muito mais rápida e eficiente. Quanto ao noticiário, a internet te obriga a estar ligado o tempo inteiro pela velocidade com que as notícias ganham o mundo. Ao mesmo tempo, é necessário ter cuidado para não cair em um ritmo frenético sem levar em conta a qualidade e a credibilidade do que você faz. (LINARES apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 19)

Segundo Linares (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019), o ponto forte que auxilia na proximidade com as fontes, em especial, torcedores, é o “ser brasileiro”. Quesito que reflete a convivência e contato com o futebol, já que no começo de sua jornada, por ser estrangeiro na Espanha, as dificuldades de aproximação eram maiores do que as de seus colegas nativos.

É fácil buscar as informações básicas, por isso os jornalistas locais nos perguntam mais sobre detalhes da trajetória, curiosidades, estilo de jogo. E, claro, no período de janela de transferências todos buscam apurar com o máximo de contatos possíveis, ouvir vários lados e saber o que está sendo publicado e falado também na imprensa brasileira. É sempre uma troca muito interessante. (LINARES apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 19)

O brasileiro pontua também a contextualização como peça fundamental na emissão da mensagem. Toda construção textual tem um público que pode variar entre os mais diferentes estilos dependendo do setor jornalístico. No trabalho de um comunicador internacional, deve haver o cuidado para explicar determinadas menções ou dados para os brasileiros. “Tento sempre usar algumas palavras daqui sempre acompanhadas pela explicação”, (LINARES apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 20) relata o jornalista. De acordo com ele, as informações utilizadas na Espanha têm discordâncias com alguns dos significados brasileiros em certas palavras, por isso enfatiza a cautela na hora de repassar a notícia, pois mesmo que o público local a consuma, elas são direcionadas ao Brasil (LINARES apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019).

O jornalista compartilhou diversos sentimentos desde o começo de sua passagem frente às câmeras. Com o antigo desejo de atuar na área, apaixonou-se pela comunicação, o que o levou a realizar seu sonho de entrevistar nomes como: Zinedine Zidane, Del Piero e Rodrigo Taddei. Porém, há contrapontos que permeiam as rotas da profissão. Independentemente do desenvolvimento na apuração e produção de conteúdos, as Fake News se fazem presentes, tornando-se armadilhas não só na vida de quem consome notícias em casa, mas, também, na dos comunicadores. Através desta análise, subentende-se que a retomada da credibilidade é um passo importantíssimo a ser dado e que deve se desenrolar aos poucos, diante do alto grau de desinformação coletiva. “Talvez o grande desafio do momento seja reconquistar a credibilidade para manter a relevância para o público. O jornalismo tem compromisso com os fatos. Então, o que é noticiado nem sempre vai agradar” (LINARES apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 25), pontua Linares.

Rumo à Inglaterra, está Castelo Branco, correspondente na mais atrativa liga nacional europeia, considerada destaque do ESPN Brasil. Junto à Premier League, Castelo Branco transformou-se em um dos rostos mais conhecidos da emissora, pelo fato do crescimento de audiência nas transmissões do futebol inglês.

Há mais de 10 anos no canal, ele acompanha todos os movimentos e novidades entre os maiores clubes da “Terra da Rainha”. Ao começo das transmissões do campeonato pela ESPN Brasil, o brasileiro adquiriu familiaridade com o manuseio das câmeras, como um de seus deveres com a emissora, além de ter atuado como cinegrafista e produtor até chegar ao seu estágio atual, como correspondente. Desde que passou a residir em Londres, Castelo Branco é responsável pela apuração de todas as negociações de jogadores que envolvem as equipes inglesas. Do mesmo modo que destaca a cultura e o conhecimento local como pontos chave da zona de atuação, o convívio com os hábitos regionais de diferentes civilizações incrementa os fundamentos informativos na hora de gerar conteúdo. Neste caso, os estádios fixam-se em uma prateleira de preferências para ele, que destaca alguns nomes: Anfield Stadium (Liverpool), por conta de se localizar na cidade que mais respira futebol; Saint James’ Park (Newcastle), em razão da torcida apaixonada; Tottenham Hotspur Stadium (Tottenham), pela modernidade; Craven Cottage (Fulham), por caracterizar-se um estádio cultural, com arquibancadas do final do século XX.

Além dos estádios, ele cita o título do Leicester na temporada 2015/16, as Olimpíadas na China (2008) e a Copa do Mundo de 2014, como coberturas marcantes. Esta última, inclusive, rendeu um documentário chamado “João pelo Mundo”, o qual retrata fragmentos do campeonato mundial de futebol e os momentos vividos acompanhando as torcidas de seleções internacionais pela Europa e África.

Mesmo com família formada e estabelecida na Inglaterra, ele revela um possível interesse em retornar ao Brasil. Segundo ele, a tendência caso voltasse ao seu país de origem seria operar em outro domínio, com o qual também se identifica. “Eu gosto muito de documentário, por exemplo, é uma coisa que me atrai, talvez algum projeto assim, ou trabalhar em alguma outra área do jornalismo. Mas sim, eu gostaria de voltar um pouco, brasileira um pouco de novo” (CASTELO BRANCO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 91).

Para ele, o amor pelo jornalismo já era algo de família, compartilhado nas profissões de pai, mãe, padrasto e madrasta (CASTELO BRANCO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019). Enquanto mais jovem, chegou a cursar faculdade de Ciências Sociais, entre outros cursos, mas sempre se identificou com imagens, fotografia e documentários. Houve também, um nome que, diante de sua representatividade, foi um divisor de águas para ele, enquanto garoto. O jornalista Pedro Bial foi casado com a mãe de Castelo Branco durante 10 anos. O ícone da profissão foi correspondente da Rede Globo em Londres e carrega em seu currículo, as coberturas do: colapso do socialismo no Leste Europeu (1989); as guerras do Golfo (1991) e Bósnia (1992); fim da União Soviética (1991); e a Queda do Muro de Berlim (1989). Bial esteve ligado ao setor por oito anos (1988-1996), quando foi casado com a jornalista Renée Castelo Branco. Por conseguinte, em razão da transferência de Bial para a Europa, é que o atual correspondente da ESPN Brasil mora na Inglaterra desde 1989.

Também correspondente pela emissora, está Gedra. Ainda em época de estágio na faculdade, cobria partidas da Copa São Paulo de Futebol Júnior, além de frequentar partidas de futebol todas as semanas, após ganhar de seu pai sua primeira carteirinha da ACEESP (Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo). Posteriormente, uma reviravolta… a jovem pede demissão do veículo de imprensa que trabalhava, para morar em Londres, no ano de 2016. Com finalidade de bancar seu mestrado na Inglaterra, ela trabalhou logo de início nos cafés da capital inglesa, achando que sua carreira jornalística teria chegado ao fim, após ter se “formado” como repórter de campo na Rádio Globo e ter adquirido experiência na TV Bandeirantes.

Eu queria explorar outras oportunidades também. Aí pensei que eu poderia procurar outra coisa fora do Jornalismo. Fui buscar um mestrado e achei um em gestão esportiva, porque queria sair do Jornalismo, mas não do esporte. Deu certo, passei e fui. Pedi demissão com muita tranquilidade. As pessoas ficavam um pouco assustadas, tipo: ‘como assim você vai pedir demissão da Globo? Ninguém faz isso. (GEDRA, 2020)

Depois de estar instalada na Inglaterra, trabalhando em cafés, Gedra ganhou a oportunidade de cobrir a Premier League pela ESPN Brasil, detentora dos direitos de transmissão do torneio. Desde então, em quatro anos na Europa, ela foi responsável pela cobertura de dezenas de partidas da Liga Inglesa, Champions League, campeonatos de tênis da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) na Europa – como Roland Garros e Wimbledon – além de ter entrevistado o técnico português, José Mourinho, que a respondeu uma pergunta que somente ela teve coragem de questionar, em meio à toda imprensa.

O Salah estava voando na temporada, e todo mundo dizia que o Mourinho tinha dispensado ele no Chelsea. Aí perguntei sobre isso e ele disse: ‘vou te dizer uma coisa que nunca falei pra ninguém. Eu não fui o cara que dispensou o Salah, eu fui o cara que contratou o Salah. A saída dele foi decisão do clube’. A resposta dele para Natalie repercutiu em jornais do mundo. (GEDRA apud MENDONÇA, 2020)

Muito além do sucesso de carreira, Gedra, assim como as outras correspondentes, representa a superação e a luta do público feminino que sonha em trabalhar com o esporte. “Fico muito orgulhosa vendo que hoje tem tanta mulher querendo desafiar esses padrões e não sucumbir às regras. A gente por muito tempo aceitou essas coisas, né? A gente também tem direito de ocupar esses espaços” (GEDRA apud MENDONÇA, 2020), concluiu.

Diferentemente de alguns nomes já citados, Gedra costuma realizar também a cobertura de partidas de tênis na Europa. Um dos casos foi a edição 2021 de Roland Garros, onde destacou-se ao encarregar-se de entrevistas para a ESPN Brasil e Sur, Fox Sports Asia e TSN Canada. Além da produção de matérias especiais, a comunicadora obteve falas exclusivas pós-jogo com os tenistas: Novak Djokovic, Stefano Ttitsipas, Danil Medvedev e Barbora Krejčíková.

3.3 JORNALISMO INTERNACIONAL NO BRASIL

Há também, nomes associados ao jornalismo internacional que trabalham diariamente com editorias distintas, sem necessariamente estabelecerem-se em regiões específicas para coberturas. Patrícia Lopes (Brasil) é correspondente internacional no Brasil, desempenhando a função de repórter para a Bein Sports, do Catar. No curso de ‘Jornalismo Internacional’, promovido pela THE360, ela revela um pouco de sua rotina de trabalho, bem como a trajetória percorrida para chegar até seu atual posto, na palestra ‘Missão Qatar 2022: Os olhos e ouvidos conectados no local da próxima copa’.

Antes de chegar à Bein Sports, em 2013, Lopes começou estagiando na TV Bandeirantes e no canal Multishow, onde deu o pontapé inicial na profissão. Posteriormente, em 1999, foi contratada para ser repórter da TVE, onde atuou por 9 anos. Período que marcou seu trabalho como repórter e correspondente no Brasil das emissoras internacionais NBC Telemundo e CNN em Español. Na sequência, integrou o grupo ESPN Brasil, onde participou das coberturas dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, da seleção Brasileira, final da Copa Libertadores da América de 2008 e da cobertura da Copa do Mundo na África do Sul, até se desligar do veículo, em 2012. Desde então, faz parte da emissora do Catar, Bein Sports, pertencente ao grupo Al-Jazeera. Atualmente, é a única a desempenhar o serviço no Brasil, ao realizar semanalmente diversas matérias sobre o esporte. Desde sua chegada na emissora, ela já participou da cobertura de vários circuitos da Fórmula 1, Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

Por maiores que fossem os desafios impostos pela carreira, ela destaca o forte impacto dos idiomas. Embora os demais correspondentes enfatizem a magnitude do domínio de diferentes línguas, Lopes realça que o inglês já é considerado obrigatório em inúmeras situações, o que deixa de qualificar um jornalista como “diferencial”. Sabe-se que quanto mais idiomas o profissional domina, maior é o leque de possibilidades de emprego que ele terá, caso queira trabalhar no exterior. Segundo a repórter, que tem proficiência em inglês, italiano e espanhol, além do português, as chances de ingresso no mercado internacional ocorrem por meio desta qualificação (LOPES, 2021).

Em razão de trabalhar para uma empresa da Península Arábica, há vários fatores curiosos a respeito do seu dia a dia. Um dos aspectos revelados, é o método com que as coberturas funcionam. Lopes explica que grava todas as reportagens em inglês e encaminha para a produção da Bein Sports, onde as entrevistas com fontes brasileiras, no idioma local, são traduzidas para o árabe por um profissional. Já no caso das entradas ao vivo, há o papel dos dubladores, responsáveis pela tradução e retorno do áudio dos apresentadores da emissora para o inglês. Comunicadores que fortalecem uma conexão linguística entre a repórter e os âncoras. Outro ponto abordado sobre as transmissões ao vivo, é a necessidade do preparo diante do “improviso” em situações inusitadas da reportagem. Os imprevistos sempre estão sujeitos a acontecer, independente do momento. Exemplo experienciado por ela foi quando em uma de suas entradas ao vivo do pré-jogo, dentro de um estádio, o seu retorno da tradução do árabe para o inglês sumiu, deixando-a somente na escuta do idioma árabe, o qual não compreende 100%. Ela conta que, para não perder o foco, necessitou improvisar uma resposta com algumas “obviedades”, que certamente estariam ligadas à pergunta da apresentadora, como: “saber o clima do estádio, informações da torcida, times e escalações” (LOPES, 2021). Entretanto, o pontapé para chegar até a atuação de correspondente exige mais do que qualificação – como é caso da humildade e disciplina.

Não pensem que vocês vão começar sendo estrela, repórter, apresentadora. Não, nada disso, vocês vão começar fazendo matérias, ajudando na produção. Vocês tem que ver o jeito de entrar, isso é o importante. vocês precisam estar lá dentro. A partir do momento que vocês estão lá dentro da emissora, do canal, vocês fazem testes para conseguir ir para outro patamar. (LOPES, 2021)

Por fim, outro suporte na vida de um comunicador que trabalha em outro país, é o networking[4]. O relacionamento é uma ferramenta que joga a favor do profissional, como recurso que pode garantir notícias em primeira mão e atualizações constantes sobre atletas, competições e entidades. Sobre isso, Lopes (2021) cita a diferença de entrevistar um atleta já renomado e um jovem das categorias de base – ao explicar que o jogador que ainda não despontou na categoria profissional, geralmente pelo fato de não ser conhecido, não tem muita intimidade com as câmeras, assim como não se conhece quase nada sobre ele. Aí entra a importância do assessor de imprensa, que pode contribuir com dicas para um jogador da base, que corresponda de uma maneira descontraída para a entrevista, do mesmo modo que se encaixe ao estilo das perguntas (LOPES, 2021).

3.4 VIVÊNCIAS PROFISSIONAIS DE EX-CORRESPONDENTES

Entretanto, há profissionais que embora não atuem mais no ramo, tiveram a oportunidade de provar da mesma experiência. Neste caso, estão Cassio Barco e Carina Ávila.

Representante do grupo Globo em Barcelona, entre 2014 e 2015, Barco exerceu o trabalho de correspondente ao acompanhar os jogos da Liga dos Campeões. A principal competição de clubes da Europa fez com que ele se mudasse para a cidade catalã, logo após a final da Copa das Confederações, de 2013. Ele responsabilizou-se pela produção, gravação e edição das reportagens, para reprodução no SporTV e GloboEsporte. O jovem encarregava-se de acompanhar as partidas da Liga Espanhola, construindo materiais pré e pós-jogo para a emissora brasileira. Embora a tevê nacional não portasse os direitos de transmissão do campeonato, apostava em algumas produções de Barco. Mas, foi a Champions League que ganhou os olhos do repórter, ao fazer com que o brasileiro estivesse nas coletivas de imprensa pós-jogo, com os técnicos e capitães das duas equipes: “Os caras são super receptivos, ao contrário daqui (Brasil). Aqui você tenta marcar uma entrevista com o jogador e é impossível, ainda mais na casa do cara. Lá eles eram meio carentes, então topavam” (BARCO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 42).

O bate-papo com os jogadores foi uma ação que chamou atenção de Barco, justamente pelo rendimento nas suas produções. A acessibilidade e recepção dos atletas facilitava bastante o seu trabalho. Outra questão destacada são as diretrizes políticas e culturais entre Barcelona e o restante da Espanha. Ele explica que por localizar-se na Catalunha, a cidade tem governo regional autônomo, o que acarreta na preservação cultural diante do restante do país, principalmente em termos linguísticos.

É bizarro, porque os caras vivem uma guerra política entre Madrid e Barcelona que os clubes compram. Se não te conhecem, acham que você pode ser um espião de Madrid, então eles só deixam entrevistar um jogador quando era um jornalista catalão. Tinha um favorecimento de informações nas entrevistas. (BARCO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 44)

Barco ingressou no grupo Globo em 2013, quando foi videorrepórter no site globoesporte.com. Naquele ano, o portal foi convidado pela Adidas para cobrir a final da Liga dos Campeões da temporada 2012/2013, entre Bayern de Munich e Borussia Dortmund, no estádio Wembley. Consequentemente, Barco foi convocado para participar. Em 25 de maio de 2012, já estando em Londres, Neymar foi anunciado pelo Barcelona em negociação com o Santos. O acerto contratual foi tão importante que desencadeou uma mudança na trajetória do jornalista, fazendo com que suas atenções fossem redirecionadas à transferência catalã. Ele conta que na época, seu chefe ligava pedindo para que deixasse a reportagem da final da Champions e partisse rumo à Catalunha (BARCO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019). Na sequência, as coisas melhoraram. Fontes, contatos e aproximações com a imprensa foram alguns pontos que se conectaram à vida do profissional, depois da chegada do craque brasileiro à Espanha.

Por outro lado, além do futebol, Barco vivenciou temáticas um pouco diferentes do que estava acostumado a produzir. No dia 24 de março de 2015, um avião que carregava 150 passageiros caiu na França, causando a morte de todos os tripulantes. O voo saía de Barcelona e partia em direção a Düsseldorf, na Alemanha. Neste dia, Barco fez a cobertura do acidente para uma reportagem no Jornal Nacional. Foi a primeira vez em que o jornalista atuou fora da editoria de esportes. Em 2015, retornou ao Brasil para apresentação de uma nova proposta da Rede Globo.

Assim como Barco, a ex-editora, produtora e repórter da TV Globo, de 2018 a 2021, em Brasília, Ávila teve parte de sua caminhada dedicada ao setor internacional. Responsável pela cobertura da seleção islandesa de futebol, em 2018, foi a primeira correspondente internacional brasileira na Islândia. Em 2017, por meio de um processo seletivo, foi selecionada pela 5ª edição do “Passaporte SporTV” para trabalhar na cobertura da Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

Autora do livro “Touros, “tapas” e meias pretas: Crônicas de uma brasileira em Sevilha”, Carina passou por seis meses de processo seletivo e foi uma das seis aprovadas, entre cinco mil inscritos de todo país. Ela revela na palestra ‘Uma mulher na terra do gelo: conhecendo uma nova cultura por meio do futebol’, também no curso da THE360, que entre as 10 provas inseridas no processo, 3 eram de inglês. “Um dos pré-requisitos era ter três anos de formado, o inglês fluente e pelo menos outro idioma intermediário” (ÁVILA, 2021). Após chegar na Europa, dedicou um bom tempo para conhecer o país. Ela conta que um dos pedidos da produção do SporTV era para que focasse nas reportagens, já que não teria que fazer tantas entradas ao vivo, em razão da falta de conteúdos factuais para o povo brasileiro.

Quando eu cheguei lá na Islândia, no meu primeiro dia, eu fui no mercado e eu pensei, eu preciso me atualizar, eu preciso saber tudo que está acontecendo aqui, tudo que a mídia islandesa tá falando. E aí fui no mercado e comprei um monte de jornal. Tudo que era jornal que tinha alguma coisa de futebol, de seleção eu fui comprando. Só que todos os jornais em islandes, e eu cheguei em casa e fui tentar passar tudo, letrinha por letrinha para o Google Tradutor e tentar traduzir o que as reportagens estavam dizendo. Até que eu achei uma reportagem muito legal, falando sobre os valores dos jogadores islandeses, mostrando que o jogador mais valioso da seleção islandesa, que é o Gylfi Sigurðsson, camisa 10, ele vale mais de 100 milhões a mais do que o segundo mais valioso. Que se você somasse todos os outros jogadores não dava o preço que o Gylfi valia. (ÁVILA, 2021)

De acordo com a jornalista, ela encaminhou a notícia para o editor do “Redação SporTV”, como possibilidade de a matéria ser transmitida (ÁVILA, 2021). No dia seguinte, foi direcionada a realizar uma entrada ao vivo com o canal brasileiro. Além de seu objetivo tradicional ligado ao futebol islandês, Ávila salienta que sempre sugeria pautas, já que por estar situada num país desconhecido, “tudo chamava atenção” e “tudo era novidade”. Em entrevista realizada em abril de 2021, com o autor, em live no Instagram, ela ressaltou que realizava 10 entradas ao vivo pelo menos duas vezes por semana, para comentar a respeito de ocorrências locais. Em razão de estar sozinha, se encarregava de assumir a função de videorrepórter, ao ter que desempenhar várias tarefas até a edição do material pronto.

Este está sendo o futuro, profissionais que sabem se virar. E você não precisa ser o melhor do mundo em edição de vídeo, incrível em captação de imagens, você precisa saber se virar. Você sabendo chegar em um lugar, encontrar uma história e preparar um material que mereça ser exibido, é o que será valorizado. A profissão de vídeo-repórter é algo que está crescendo muito, é o repórter que trabalha sozinho. Ser proativo, topar os trabalhos e se virar. Eu tinha que carregar 50 quilos de equipamento para todo lado, ficar congelando numa temperatura de -15 graus, para entrar ao vivo. E era isso, era mostrar que eu ia conseguir me virar e ia conseguir entregar o que eles queriam. (ÁVILA apud DE VARGAS, 2021)

3.5 REDE BANDEIRANTES DE COMUNICAÇÃO

Entre tantas curiosidades abarcadas na vida de um jornalista internacional, está a do trabalho não aplicado somente à uma editoria. Correspondente pelo grupo Bandeirantes de Comunicação, Felipe Kieling é outro excelente exemplo de atuação com o encargo de acompanhar fatos, independentemente de quais sejam, sem fixar-se exclusivamente à uma categoria noticiosa. O brasileiro reside em Londres desde 2012, quando cobriu as Olimpíadas na capital inglesa. De lá para cá, produziu uma série de reportagens sobre os mais variados assuntos, entre eles: pautas sobre o conflito entre Israel e Palestina, o Funeral do Príncipe Philip, Vacina de Oxford, além de campeonatos esportivos como Liga dos Campeões, Eurocopa, Copa do Mundo 2018, Premier League e Roland Garros, onde entrevistou várias estrelas do futebol e do tênis, como Gustavo Kuerten, Roger Federer, Serena Williams e Rafael Nadal. Embora more em Londres, não se limita às fronteiras do país e recorre à informações sobre toda Europa, assim como notícias factuais de países como Índia e China.

Uma das coberturas mais marcantes em sua trajetória foi em novembro de 2016, quando quatro ataques terroristas deixaram mais de 100 mortos em Paris. Como ocorreu na Europa, Kieling foi convocado para integrar o grupo de reportagem diante da tragédia. Frente à flexibilidade de trabalho com diferentes temáticas, ele diz não considerar esta transição um problema, já que o segredo para fazer notícia está na quantidade de informações.

A minha primeira cobertura de um evento internacional fora do esporte foi o atentado que aconteceu em Paris. E aí tem muita informação rolando, então fica mais fácil. Difícil mesmo é cobrir Bragantino e Portuguesa, terça-feira à noite, 0x0, sem história nenhuma. (KIELING apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 69)

Desde o começo da pandemia, ele encarregou-se de apresentar ao Brasil as recorrências da Covid-19 no Reino Unido. Quarentena, estatísticas de vacinação, óbitos, leis e protocolos foram alguns pontos que o brasileiro estava sempre atualizando. Além de matérias, boletins e entradas ao vivo para televisão, ele também usou de sua rede social para emitir conhecimentos gerais, já que ele próprio cita em sua biografia do Instagram, “utiliza os stories para informar e opinar”.

Já no esporte, o futebol ganha destaque na carreira do jornalista. No dia 8 de março de 2017, no confronto de volta entre Barcelona e Paris Saint Germain, válido pelas oitavas de final da Liga dos Campeões, Kieling conta que chegou ao estádio cerca de seis horas antes do jogo para fazer imagens e abastecer os programas da Band com entradas ao vivo. Ele relembra que foi uma experiência marcante, não só pela vitória de 6×1 da equipe catalã, mas por ter coberto uma das partidas mais icônicas do campeonato no século. Portanto, em dias que não há jogo, o correspondente não tem uma rotina definida, o que o faz optar por receber sugestões de pautas do Grupo Bandeirantes. Segundo ele, fatores que podem parecer interessantes aos olhos da população britânica, podem não refletir o mesmo ao público brasileiro (KIELING apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019).

Tem muitas coisas que passam despercebidas, que eu acho que não é relevante para o pessoal do Brasil, mas são. Tem outras coisas que eu antes achava que eram relevantes e hoje já não são mais. O importante é não se viciar, ter sempre o olhar brasileiro morando fora. (KIELING apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 66)

Logo que as pautas são definidas, ele tem a missão de contextualizar os conteúdos apurados para o público brasileiro, com a intenção de evitar que as abordagens relacionadas ao exterior não sejam compreendidas, sendo objetivo e simples em seus textos.

Eu acho que o jornalismo tem que ser simples e direto. Não é poesia, não é literatura, é notícia. O primeiro bom termômetro acaba sendo o editor, porque eu mando a minha matéria e meu texto para o editor no Brasil e, se o cara olha e fala “ih, não entendi isso aqui”, eu já falo “opa, se você já não entendeu, vamos mudar, tem que ser bem simples”. Mas se o editor pega, lê e entende fácil, dá para passar para o público”. (KIELING apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 66)

Ele frisa que outro ponto que se deve ter cautela é referente aos contatos de assessoria de imprensa, decisivos na marcação de entrevistas. Conforme ele enfatiza, há vezes em que os assessores não estão preocupados com a TV do Brasil, o que torna normal ignorarem solicitações feitas por e-mail. Kieling ressalta que em razão de Londres ser uma metrópole mundial, onde agrega centenas de correspondentes de todo o globo, as informações são priorizadas aos profissionais locais. “São muitas TVs e jornalistas internacionais trabalhando aqui, e quando você vai fazer um pedido de entrevista, já tem um monte na sua frente, outras pessoas muito mais relevantes para as pessoas daqui do que a imprensa brasileira” (KIELING apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 67), acrescentou.

Por trabalhar em um veículo de comunicação na TV aberta, o brasileiro conta que há especificidades em seu método de fazer notícia, referente à distinção entre os públicos de TV aberta e fechada.

Eu acho que na aberta você tem que ser mais simples, saber que está falando para empresário até analfabeto, então tem que atingir todo mundo. Na TV fechada você já tem um público mais específico, então você pode falar diretamente para ele. Você pode pular algumas etapas ou alguns pontos da matéria para se aprofundar mais em um assunto. (KIELING apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 68)

Kieling deu início em sua trajetória profissional aos 18 anos, quando integrou o Grupo Bandeirantes de Comunicação, ainda estagiário. Seguiu no setor até que aos 22 anos, tornou-se um dos principais repórteres da emissora, ligado ao programa esportivo Jogo Aberto. Porém, ao levar em consideração sua paixão antiga de viajar e operar com imagens, Kieling almejou dar vida a seu antigo interesse. Foi aí que em 2011, com 24 anos, o jovem comunicou a seu chefe que gostaria de morar fora e que arcaria com as despesas frente à aquisição de equipamentos de filmagem. Após questionar o interesse dos chefes da emissora local, afirmou que caso recebesse um “não”, buscaria a oportunidade em outro veículo brasileiro. Consequentemente, a porta foi aberta para trabalhar no exterior com a realização das Olimpíadas de Londres, em 2012. Pelo motivo da Band portar os direitos de transmissão, Kieling partiu em direção ao exterior, onde começou sua trajetória no departamento em que se encontra trabalhando até hoje.

Ainda no Grupo Bandeirantes, Eduardo Barão atua como correspondente em Nova Iorque. Antes de juntar-se à Band, passou pela Agência Estado e na Rádio Jovem Pan. Embora tenha tido passagens por outros veículos, trabalha na BandNews FM desde a sua estreia, em 2005, onde foi chefe de redação da equipe de esportes, além de âncora do BandNews TV, tendo como parceiro de profissão por um longo tempo, o falecido jornalista Ricardo Boechat. Atuou também como comentarista de basquete no canal e, atualmente, é âncora do BandNews Station.

Barão é outro repórter com participação internacional e dedicação a múltiplas editorias. Se elencou para compor um novo projeto da emissora, no qual se tornou correspondente nos Estados Unidos. Entre algumas pautas factuais que cobriu, destacaram-se: as eleições dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff e do atual presidente, Jair Bolsonaro. Responsabilizou-se pelo acompanhamento do impeachment da ex-presidente Dilma, além de Copas do Mundo e Olimpíadas. Esteve presente nas tragédias de Brumadinho e Mariana, nos ataques à escolas de Realengo, no Rio de Janeiro, e Suzano, na Grande São Paulo. No exterior, cobriu as eleições de Barack Obama e Donald Trump nos Estados Unidos, além da pandemia de Covid-19, além de ser o responsável por levantar pautas e dados político sociais do Brasil e dos norte-americanos. Em conversa com o autor, ele destaca algumas curiosidades da sua chegada em Nova Iorque.

Cheguei em Nova Iorque com a cidade como epicentro da pandemia. Não tive muito o que fazer, coloquei a máscara e fui trabalhar torcendo para não ser contaminado. Desde então, tenho de me preocupar com tempo, forma e claro, o conteúdo, seguindo os pedidos dos meus editores no Brasil. Chegar a um país novo me fez começar quase do zero. Assim como no Brasil, há situações surpreendentes ao longo das coberturas, principalmente naquelas que achamos que será fácil, sendo que no fim vira um inferno para fechar a matéria. Faz parte. (BARÃO apud DE VARGAS, 2021)

Barão também já se encarregou de cobrir esportes no exterior. O maior exemplo foi a National Basketball Association (NBA), competição de basquete mais popular do mundo que o brasileiro acompanhou por vários anos, cobrindo inúmeras decisões, sendo quatro finais de NBA em quadra. A mais recente, na Bolha de Orlando (nome dado à zona de isolamento com regras criadas pela NBA, para proteger atletas dos times da liga durante a pandemia na temporada de 2019-20), em 2020, nas finais entre Los Angeles Lakers e Miami Heats. Torcedor do São Paulo e do Golden State Warriors, Barão complementa uma equipe de correspondentes internacionais postados pelo Grupo Bandeirantes.

Além dele e Kieling, Mariana Becker é outro ícone que não poderia ficar de fora desta lista. Gaúcha de Porto Alegre, a jornalista é reconhecida pelas inigualáveis coberturas de Fórmula 1 (F1), integrando a área do automobilismo. Becker esteve 27 anos no Grupo Globo, responsável pela modalidade como repórter oficial da categoria. Em 2020, trocou a emissora pelo Grupo Bandeirantes, após ter o contrato encerrado devido à perda dos direitos de transmissão do esporte pelo grupo global.

Eu consigo mostrar o que a gente está vivendo para trazer a informação para as pessoas, que não é uma coisa que vem numa cartilha. Antes, o bastidor ficava muito escondido e você só recebia o presente pronto. Hoje, a pessoa pode ver o presente sendo feito: a pesquisa, a compra, o embrulho. Tem todo esse processo até que a pessoa recebe a informação que ela quer. Acho que as pessoas se sentem mais envolvidas. (BECKER apud GRUPO LANCE!, 2021)

Durante suas vivências pelo ramo automobilístico, Becker já entrevistou personalidades como: Lewis Hamilton, Max Verstappen, Lando Norris, Mick Schumacher, Esteban Ocon e Charles Leclerc. Fazem parte de seu histórico de coberturas os Grandes Prêmios (GP) de Bahrain, Mônaco, Sakhir, Toscana, Espanha, Portugal, Ímola, Abu Dhabi, Nurburgring, Itália, Áustria, Rússia, Brasil, entre outros.

A Fórmula 1, sem dúvidas, é um tubo de ensaio para os eventos em geral, porque congrega gente do mundo todo. E essa gente viaja por diversos países. Por isso, há um protocolo bem rígido — e que pode ser chato, em alguns momentos, mas é o que temos. É isso ou não faço o meu trabalho. Há muitas regras, e uma delas determina que só posso conviver com a minha bolha, que são as pessoas do grupo com quem trabalho: dois produtores e um cinegrafista. (BECKER apud NEGREIROS, s.d.)

Semelhantemente aos demais casos, ela usa o recurso da fluência em diferentes idiomas – o italiano, inglês, francês, espanhol e o português acompanham-na em suas centenas de entrevistas em diferentes localidades do mundo. O japonês, igualmente, é de conhecimento, idioma que aprendeu após visitar mais de dezenas de vezes ao Japão. Como parte de suas viagens, ela costuma ter uma companhia especial, já que é casada com um de seus produtores, o que possibilita aprendizado da distinção entre o relacionamento profissional e pessoal nos trabalhos (BECKER apud NEGREIROS, s.d.). Ela relata que enquanto na Globo, pôde experienciar tal situação de maneira frequente em meio às coberturas.

Nas viagens a trabalho, ficamos em quartos separados. A Globo paga um quarto para cada um. Chegamos muito cansados, temos pouco tempo para baixar a bola, tirar a tampa do estresse. É o tempo de comer e dormir. Então vai cada um para o seu quartinho, eu tomo banho, tenho tempo de me acalmar, ler, trocar de roupa. Depois, saímos para jantar, nos visitamos, namoramos, mas vai cada um nanar no seu canto. (BECKER apud NEGREIROS, s.d.)

Desde que a gaúcha passou a residir na Europa, além da F1, ela também já produziu outros conteúdos esportivos. Chegou ao Grupo Globo em 1994, antes de ser transferida para o Rio de Janeiro, em 1995. Em 2008, substituiu João Pedro Paes Leme no automobilismo. Não é de hoje que Mariana é um dos principais nomes femininos na reportagem esportiva brasileira, o que se justifica por meio de suas coberturas e por comandar em suas redes sociais, a atração #GuriaBoaEssa, onde destaca mulheres no esporte, com episódios semanais.

3.6 O RADIOJORNALISMO NO MERCADO DE CORRESPONDENTES

Quem disse que a televisão é o único nicho ocupado por correspondentes de esportes? O rádio é outro veículo de informação que conta com o auxílio de repórteres para levar pautas factuais além das fronteiras europeias. Um dos nomes associados à área é Ulisses Neto, jornalista internacional da rádio Jovem Pan, em Londres. Com desejo de trabalhar no exterior, o brasileiro começou sua relação com o rádio em 2005, ainda na faculdade, época em que a referida emissora havia instalado uma cátedra em sua universidade. A ação fazia parte de uma parceria, para que alguns estudantes fossem para a redação praticar um curso. Felizmente, Neto conseguiu um estágio e foi escolhido pela Jovem Pan para seguir trabalhando na rádio escuta da empresa. Posteriormente, pelo fato de ter o domínio da língua inglesa, ele foi transferido para a editoria internacional e logo para a função de editor internacional, onde atuou por cinco anos (NETO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019). Em 2010, sua esposa foi transferida para Londres, o que acarretou a sua mudança, por conseguinte. Consequentemente, a Jovem Pan já tinha um correspondente na Europa. Tratava-se de Reali Júnior, jornalista brasileiro que morava na capital francesa e que trabalhava em O Estado de S. Paulo.

Logo, Neto passou a trabalhar de freelancer na editoria de economia, para os veículos: Terra, Estadão, Valor Econômico, entre outras revistas. Em 2015, ousou tentar ir para o vídeo quando operou junto ao Esporte Interativo. Porém, ele só veio a ter mais certeza da sua vocação para o rádio.

Na época, achei meio doidera porque não tinha reportagem alguma, era só entrada ao vivo falando durante cinco, seis minutos. Vi que não era para mim, não quero ficar falando ao vivo sem parar. Hoje em dia vejo que as outras emissoras são iguais. A Globo e a ESPN fazem isso, virou uma tendência. No The Players’ Tribune, tenho a oportunidade de construir uma narrativa mesmo, contar uma história diversificada, produzir algo mais sólido. (NETO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 122)

Hoje, segue na Jovem Pan trabalhando como correspondente internacional de rádio, onde além de buscar fontes e consumir notícias locais, escreve o comentário diário para o Jornal da Manhã, às 7h30 no Brasil. E além de seu encargo tradicional, ele participa também de outros dois empregos. Um deles é o “Correspondentes Premier”, podcast formado por jornalistas brasileiros da Inglaterra, como Castelo Branco (ESPN), Gedra (ESPN) e Renato Senise (Rede TV e DAZN). Nele, as abordagens giram em torno das partidas da Liga Inglesa de futebol e outros tópicos relacionados a ela. Ademais, Neto integra também o The Players’ Tribune, plataforma que oferece materiais escritos por atletas de elite, mas produzidos por funcionários especializados nos assuntos discutidos. O objetivo é dar voz a ex-jogadores que após darem seus depoimentos, têm suas falas analisadas por um ghostwriter (profissional especializado que edita e escreve os textos em nome de outro colaborador), que as publica em primeira pessoa (NETO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019).

Além dos textos, Neto teve oportunidade de lidar bastante com o audiovisual, ao ter contato com o manuseio de câmeras e a produção de vídeos para o seu histórico no The Players’ Tribune. Referente a isto, o brasileiro conta que obteve uma sequência de produções que foram destaques, ao contarem com estrelas do basquete e do futebol.

A que mais destacou foi uma série que fizemos para a Nike. Com o anúncio de MVP da NBA do Giannis Antetokounmpo, fizemos um comercial daqueles, “Just Do It”, de um minuto, que conta a carreira dele em cinco episódios. A história do cara é muito boa, interessante. Ele é filho de imigrantes nigerianos, mas nasceu na Grécia e vendia bolsas e relógios falsificados em Atenas para ajudar a família quando era moleque. (NETO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 121)

Além de Antetokounmpo, também foram produzidos materiais audiovisuais para Neymar, Daniel Alves e Kevin De Bruyne. Esta última, uma de suas favoritas. “Ele se abriu demais, contou umas histórias legais da adolescência dele e essa entrevista repercutiu muito, aqui. Você sabe quando o cara se abre. Ficamos duas horas na casa dele, foi como uma sessão de terapia” (NETO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 121), relembrou.

Previamente ao The Players’ Tribune, o jornalista já havia trabalhado para a revista inglesa Four Four Two, direcionada a entrevistas com atletas e listagens repletas de estatísticas, como por exemplo: “As 50 camisas de clubes mais bonitas do mundo”. Ele encarregava-se de elaborar vídeos, o que o possibilitou construir produtos com Ronaldo Nazário, Gabriel Jesus e Lionel Messi. Mas, para quem acha que trabalhar no exterior são só flores, é um grande engano. Neto (apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019) conta que um dos contratempos vivenciados por ele em sua trajetória foi quando viajou a Madri para entrevistar o lateral “merengue”, Marcelo, para a Four Four Two. Após chegar no Centro de Treinamento do Real Madrid, ele montou todo equipamento de gravação para aguardar o jogador. Após a chegada de Marcelo, a pauta veio a cair, em razão de um mal entendido da assessoria de imprensa do clube madrilenho.

A hora que ele sentou e viu as câmeras, perguntou de onde era e eu disse que era para a Four Four Two. A partir daí, ele começou a me ignorar, falou que não ia fazer reportagem em vídeo, arrancou a lapela e foi para o vestiário. Eu fiquei de cara, porque de fato eles (assessores) não falaram que ia ser uma entrevista em vídeo, disseram que seria uma sessão de fotos. Era direito dele não querer fazer, mas eu fiquei meio assim: “poxa, vim até Madrid”. Mas depois fiz uma entrevista, ele foi super de boa. (NETO apud BARBOSA; ANDRADE E RODRIGUES, 2019, p. 122)

3.7 ANÁLISE DOS DEPOIMENTOS

Compreendeu-se que as logísticas de produção se diferenciam de algumas maneiras. Entre elas, o meio em que o jornalista está inserido. Na África, por exemplo, a baixa liberdade de imprensa acaba tornando mais difícil o acesso a algumas fontes – mais do que em outros casos – como mostra o Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa (2021).

Tabela 1. Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa (2013-2021), considerando os contextos político, econômico, sociocultural, quadro jurídico e segurança

Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa (2013-2021), considerando os contextos político, econômico, sociocultural, quadro jurídico e segurança.
Fonte: Repórteres Sem Fronteiras.

 Tendo em vista este parâmetro, junto dos depoimentos dos correspondentes internacionais listados neste artigo, é possível formular novas perspectivas referentes a cada resposta obtida, notando-se as diferenças e similaridades em cada trajetória.

Independentemente de estarem vinculados a emissoras que focalizam suas atenções a pautas de editorias distintas, as respostas analisadas, somadas às consultas em obras e sites com outras informações, possibilitaram formular na Tabela 2, as características que mais se tornaram comuns.

Tabela 2. Comparativo com base nos depoimentos de todos os correspondentes internacionais listados, levando em conta as informações que mais se repetiram entre as fontes

África América Ásia Europa
Ingresso como correspondente X Participação em novo projeto da emissora Substituir antigo correspondente; viajar como enviado Foi estudar ou trabalhar fora; indicação de outro colega; Processo seletivo
Gatekeeping Contato com os editores no Brasil; Freelancer Contato com os editores no Brasil Contato com os editores no Brasil Contato com os editores no Brasil; Apuração independente
Encargos Viajar entre os países do continente, cobrindo ocorrências sobre saúde e política Cobrir a NBA e outras ocorrências ligadas à política e saúde Cobrir modalidades esportivas e eventos ligados à saúde e política Cobrir campeonatos futebolísticos; cobrir ocorrências ligadas à saúde e política local
Principais editorias Política Esporte e Política Esporte Esporte, Política e Saúde
Liberdade de imprensa Desfavorável Favorável Desfavorável Favorável

Fonte: Autor.

Voltando um pouco no tempo, diante de todo processo evolutivo já citado neste material, pode-se destacar que: anos 50 – foi marcado por fortes narrativas, relatos e vivências de participações heróicas como “testemunhas oculares da história”. Período relembrado pelo uso de cartas, telégrafos e telex, como método de encaminhar as notícias para a redação; anos 60 – fortalecimento da televisão como principal veículo do país. Mesmo com a censura militar da época, desbravava-se uma crescente na economia nacional, o que possibilitou o suporte de comunicadores internacionais do Brasil, no exterior; anos 70 – reconhecida pelo avanço tecnológico e pela mudança do padrão na escrita dos textos nas redações; após os anos 80 – empresas nacionais de mídia passam por impactos de crise econômica, o que resultou na substituição do número de jornalistas internacionais empregados, por tecnologias caracterizadas pela instantaneidade na transmissão de dados (CASTRO, 2006).

Quando se fala em jornalismo internacional, vislumbra-se o aumento na produção de notícias e a velocidade com que a mesma chega até o público, onde o papel do correspondente vai da “apuração” até a “divulgação”. As categorias política e econômica mantiveram diversos nomes ligados ao ramo. Já o esporte passou a se reinventar, principalmente após o século XXI, quando a criação de novos veículos televisivos com o foco exclusivo no assunto tornou a editoria mais oportuna para quem almejasse trabalhar no exterior. Frente a essas alterações, a profissão ficou mais versátil ao oferecer novas rotas de trabalho com a revolução da internet. Entrevistas presenciais tornam-se dinâmicas remotamente e apurações pessoais transformam-se em telefonemas. Reportagens e matérias são transmitidas a baixo custo até as redações tornarem-se acessíveis para pessoas de diferentes países. O trabalho à distância também acarretou em resultados positivos, ao fazer o público reinventar-se e procurar outros modos de exercer a mesma função. Narrações e comentários esportivos em jogos ao vivo começaram a ser feitos de casa, via streaming, assim como programas de mesas-redondas onde o recebimento de convidados de outros países pôde ser facilmente viabilizado.

Desde os anos 50, quando os jornais do Brasil passaram a ser escritos com o padrão americano, o texto, a hierarquização e organização do que “era notícia”, deram o pontapé inicial a uma série de novas adaptações no método de “fazer jornalismo”. As recém adquiridas tecnologias permitiram grandes avanços na transmissão das reportagens, assim como ter a possibilidade de estar conectado a mais vozes e pontos de vista sobre um fato. Exemplo disto é a marca atingida pela imprensa brasileira, que segue a utilizar três ou quatro das maiores agências de notícias mundiais, como a AFP, a Reuters, a EFE e as emissoras CNN e BBC (CASTRO, 2006). Para a autora, a exclusividade de informações audiovisuais torna-se o diferencial quando permanece ligada ao furo noticioso ou com materiais de autoria própria, ao transmitir imagens coerentes, mas distintas do que o restante que a mídia utiliza (CASTRO, 2006).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Para além das perspectivas de coleta de informação por meio de notícias e cursos, pôde-se desenvolver esta pesquisa a partir da coleta de depoimentos de correspondentes em obras literárias, assim como por meio de entrevistas estruturadas e semiestruturadas (GIL, 2009) realizadas com os jornalistas: Vinícius Assis (Globo), Denise Odorissi (CNN Brasil), Carina Ávila (SporTV), Rodrigo Carvalho (Globo), Carlos Gil (SporTV), Thiago Kansler (BandSports) e Eduardo Barão (Band). Estas são efetivadas de três maneiras distintas: Lives e Chat do Instagram; WhatsApp; via e-mail. No planejamento foi estabelecido que deveria ser entrevistado, ao menos, um profissional de cada continente. Perspectiva esta, que no final da pesquisa, proporcionou o contato com correspondentes da Europa, América, África e Ásia.

Depois de se conhecer as diferentes realidades de correspondentes internacionais Brasil afora, é possível observar as distinções na logística de trabalho de cada um. A partir das entrevistas realizadas com Odorissi (Inglaterra), Ávila (Islândia), Barão (EUA), Kansler (Japão), Gil (Japão), Carvalho (Inglaterra) e Assis (África), além dos demais depoimentos de Marcelo Bechler (Espanha), Isabela Pagliari (França), Arthur Quezada (Portugal), Frederico Caldeira (Inglaterra), Tatiana Mantovani (Espanha), Clara Albuquerque (Itália), Patrícia Lopes (Brasil), João Castelo Branco (Inglaterra), Natalie Gedra (Inglaterra), Mariana Becker (Europa/Ásia), Manuela Franceschini (Austrália), André Linares (Espanha), Ulisses Neto (Inglaterra), Cássio Barco (Inglaterra) e Felipe Kieling (Inglaterra), percebeu-se que, referente aos métodos de ingresso no mercado internacional, destes 22 repórteres, ao menos um teve a oportunidade: por intermédio de um processo seletivo; através de uma cobertura como enviado especial; substituindo um antigo correspondente que retornaria ao Brasil; como repórter especial de uma modalidade esportiva específica; ao demonstrar interesse de trabalhar fora para a emissora; por indicação de outro colega correspondente; após ter ido estudar, ou trabalhar fora – assim como é abordado na Tabela 2.

Em se tratando de Assis, vale ressaltar suas rotinas de cobertura como freelancer, ao levar em conta o trabalho independente na produção de reportagens para veiculação local, sem qualquer relação com seus editores. Já na América e Europa, a partir dos relatos analisados, nota-se que os trabalhos ocorrem mais restritos a algumas editoras em específico – pautas esportivas, ou políticas, econômicas e sociais – em razão do foco e direcionamento de cada emissora. Casos estes que oportunizam com mais liberdade e acesso (devido à localização) o contato e a familiaridade dos jornalistas com os entrevistados e imprensa, tanto em pautas temporais como atemporais.

Percebe-se também, que as diferenças culturais de cada país influenciam diretamente na produção de reportagens e cobertura de eventos. como por exemplo, a necessidade de agendamentos antecipados para entrevistas, ou regras mais rígidas para a realização das mesmas, como destacaram Barão, Gil, Kansler, Odorissi e Carvalho, exemplificando as situações nos EUA, Japão e Inglaterra, respectivamente.

Por meio desta logística, o objetivo de explorar os diferentes métodos de inserção profissional no exterior foi alcançado através das conversações estabelecidas com os comunicadores, além das já constatadas em notícias e livros. Igualmente, o objetivo de compreender os encargos de correspondentes também foi cumprido pelo mesmo método, chegando na resposta do problema de pesquisa: no que se diferem as rotinas de produção de correspondentes internacionais brasileiros alocados em diferentes continentes?

Vale ressaltar também, a vasta pesquisa levantada no referencial teórico, com contextualizações que partem desde o surgimento dos correspondentes brasileiros, até uma descrição aprofundada da contemporaneidade no referido setor de trabalho. Os registros são um compilado de informações que possibilitam futuras pesquisas para o campo da comunicação. A conclusão do projeto auxiliou no entendimento pessoal do autor, frente a uma noção de como ocorrem as tarefas jornalísticas diárias em âmbito internacional, assim como as mais diferentes características presentes nas rotinas de correspondentes.

REFERÊNCIAS

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BARBOSA, Rafael. TNT Sports é lançada para substituir marca Esporte Interativo; EI Plus vira estádio. 18 jan, 2021. Disponível em: <https://www.tudocelular.com/novos-produtos/noticias/n169132/tnt-sports-lancada-substituicao-esporte-interativo.html>. Acesso em: 9 mai. 2021.

BELÉM, Euler. Carlos Gil é o novo correspondente da Globo no Japão. Substitui Márcio Gomes. Goiás: 26 jan, 2018. Disponível em: <https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/carlos-gil-e-o-novo-correspondente-da-globo-no-japao-substitui-marcio-gomes-115615/>. Acesso em: 22 jun, 2021.

CARNEIRO, Leandro. Carlos Gil relembra começo da covid na Ásia e vive expectativa de Olimpíada. São Paulo: 25 abr, 2021. Disponível em: <https://www.uol.com.br/splash/noticias/2021/04/25/homem-da-globo-em-toquio-carlos-gil-vive-angustia-no-exterior-em-pandemia.htm>. Acesso em: 22 jun, 2021.

CASTRO, Renata. Jornalismo internacional: a mudança na editoria inter nos últimos 50 anos. Rio de Janeiro: Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 107 pag, 2006.

DE VARGAS, Gianmarco. Entrevista com Carina Ávila – Os desafios de uma correspondente esportiva. Santa Maria (RS): 6 abr. 2021. Instagram: @gsdvargas . Disponível em: <https://www.instagram.com/tv/CNV-mgGl4Yn/>. Acesso em: 17 mai. 2021.

DE VARGAS, Gianmarco. Entrevista com Carlos Gil – Atuação jornalística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. Santa Maria (RS): 07 set. 2021. 01:23 am. Troca de mensagens pelo Gmail, através do contato [email protected] .

DE VARGAS, Gianmarco. Entrevista com Denise Odorissi – Conexão Brasil-Inglaterra: coberturas internacionais na Terra da Rainha. Santa Maria (RS): 14 out. 2021. Instagram: @gsdvargas . Disponível em: <https://www.instagram.com/tv/CVAwQpclP7M/>. Acesso em: 21 mai. 2021.

DE VARGAS, Gianmarco. Entrevista com Eduardo Barão – Jornalismo Internacional: A rotina de um correspondente nos Estados Unidos. Santa Maria (RS): Instagram. 28 jun. 2021. 11:54 am. Troca de mensagens pelo chat do Instagram, através do perfil @gsdvargas .

DE VARGAS, Gianmarco. Entrevista com Rodrigo Carvalho – Jornalismo Internacional: A rotina de um correspondente na Inglaterra. Santa Maria (RS): WhatsApp. 05 jul. 2021. 06:54 am. Troca de mensagens pelo WhatsApp.

DE VARGAS, Gianmarco. Entrevista com Thiago Kansler – Atuação jornalística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. Santa Maria (RS): Instagram. 23 set. 2021. 02:07 am. Troca de mensagens pelo chat do Instagram, através do perfil @gsdvargas .

DE VARGAS, Gianmarco. Entrevista com Vinícius Assis – Jornalismo Internacional: A rotina de um correspondente na África do Sul. Santa Maria (RS): Instagram. 30 jun. 2021. 09:22 am. Troca de mensagens pelo chat do Instagram, através do perfil @gsdvargas .

DELUCA, Naná. Correspondentes internacionais traduzem o mundo ao leitor da folha. São Paulo: 26 fev, 2021. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2021/02/correspondentes-internacionais-traduzem-o-mundo-ao-leitor-da-folha.shtml>. Acesso em: 19 nov. 2021.

FRANCESCHINI, Manuela. “O que de pior já me aconteceu se transformou no melhor de mim”. Disponível em: <https://www.projetodraft.com/o-que-de-pior-ja-me-aconteceu-se-transformou-no-melhor-de-mim/>. Acesso em: 22 jun, 2021.

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APÊNDICE – REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

3. O blog Medium é uma plataforma de publicações de conteúdos elaborados por pessoas ligadas ou não ao jornalismo, como uma forma de contribuição informativa.

4. Networking é o nome dado à capacidade de trabalhar com uma ampla rede de contatos.

[1] Graduado em Jornalismo, pela Universidade Franciscana (UFN). ORCID: 0000-0003-4204-5138.

[2] Orientadora. ORCID: 0000-0002-6852-1879.

Enviado: Agosto, 2022.

Aprovado: Setembro, 2022.

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Gianmarco Soares de Vargas

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