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Posso dar aulas em um certo curso, programa ou instituição de ensino mesmo que não seja na minha área de atuação? – Como dar aulas em diferentes áreas e contextos?

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Lecionando no ensino superior: quando é possível dar aulas no ensino superior?Lecionando no ensino superior: quando é possível dar aulas no ensino superior?

Olá, tudo bem? Em nosso post de hoje a discussão se concentra novamente na atividade docente. Como temos ressaltado ao longo de nossos posts, a atividade docente é um dos objetivos daqueles que buscam pela consolidação de suas carreiras no eixo do ensino superior. Quem realiza um curso de mestrado ou doutorado na modalidade do stricto sensu têm esse interesse, que, na verdade, é tanto na pesquisa quanto na docência, executando as atividades que perpassam por esses dois eixos. Contudo, como sabemos, muitas pessoas realizam cursos de aperfeiçoamento na modalidade do lato sensu, que são cursos que não formam mestres e doutores, porém, muitos se questionam se é possível lecionar enquanto especialistas. A partir desse panorama, iremos discutir sobre algumas das possibilidades de exercício da docência em áreas diversas, inclusive naquelas que não são de seu domínio.

A carreira docente e as suas peculiaridadesA  carreira docente e as suas peculiaridades

A pergunta que irá guiar a nossa discussão de hoje é a seguinte: um professor acadêmico que tenha cursado a sua graduação em uma área (não só a graduação, mas também todos os níveis subsequentes, mestrado e doutorado) pode realizar um mestrado e/ou doutorado em uma outra área, ministrando disciplinas nesses três contextos/áreas diferentes? A primeira variável que precisamos esclarecer logo de início está ligada a um mito. Muitos acreditam que todos os professores que ministram as suas disciplinas em uma graduação específica possuem a mesma formação (mesmo curso de graduação, mestrado e doutorado), o que não necessariamente é uma realidade. Por exemplo, é preciso que reflitamos se todos os professores que compõem a grade de um curso de Direito são bacharéis em Direito. Muitos deles podem, de fato, ser, porém, outros possuem diversas formações para além do Direito em si.

As possibilidades postas pela grade curricular

Utilizando o nosso exemplo da área do direito podemos perceber que a grade curricular possui formações diversas além das disciplinas do direito, como ética, biopolítica, filosofia, sociologia, bem como as disciplinas específicas da área. A fim de que um professor possa lecionar essas disciplinas específicas, de fato, ele precisa ser formado na área para que tenha o arcabouço necessário para introduzir esse conhecimento aos alunos. Contudo, um curso não é formado apenas por essas disciplinas específicas, sendo que essas mais gerais, que admitem formações diversas, podem ser ministradas por professores que não são bacharéis em direito. Um outro exemplo é a área das Letras. Você pode ter feito a graduação em Letras e realizar um curso de mestrado na área da Filosofia. Assim sendo, você pode atuar dentro de um curso de Direito na área da Filosofia, mesmo que sua primeira formação seja em Letras.

O afunilamento de uma carreira

A depender da área em que você fizer o seu curso de mestrado ou de doutorado poderá atuar em áreas para além daquela relacionada à sua graduação. No caso de nosso exemplo, o pesquisador poderia lecionar disciplinas relacionadas à Filosofia em qualquer curso de graduação. Com isso, precisamos compreender como se dá o processo de admissão desses professores. Você pode ser admitido em uma instituição de ensino a partir de duas formas. A primeira delas é a partir de um núcleo específico da sua faculdade, por exemplo, o de Filosofia, Saúde ou Direito. A depender da organização da universidade, você irá trabalhar em um dado núcleo. Haverá um rol de disciplinas que você poderá se cadastrar para lecionar. A biopolítica e a ética são possibilidades no caso desse exemplo. A partir do escopo da instituição, você irá lecionar essas disciplinas associadas ao núcleo ao qual você está associado.

O cadastro do professor em algumas disciplinasO cadastro do professor em algumas disciplinas

Há certas instituições de ensino que permitem que um docente se cadastre para lecionar a partir de um rol específico de disciplinas. Além disso, há instituições que no processo de contratação admitem certos professores para que lecionem disciplinas programadas, específicas. São vários formatos que irão permitir que você atue como docente no eixo da graduação. Suponhamos que você tenha se especializado na área da ética. Em uma mesma instituição você poderá ministrar as disciplinas que perpassam pela ética em cursos diferentes que possuem a disciplina de ética, como é o caso do Direito, da Medicina (áreas da saúde, em geral) e da Administração. Porém, a depender da lógica da sua instituição, em razão do núcleo no qual atua pode ministrar disciplinas nos cursos que perpassam por esse núcleo. Você pode ser alocado, por exemplo, no núcleo de Direito.

Os núcleos e os seus direcionamento

Os núcleos e os seus direcionamento

A partir do momento em que você é alocado em um núcleo específico, irá ministrar as disciplinas nos cursos de graduação associados a esse núcleo. Você precisará se ater à grade curricular dos cursos relacionados ao seu núcleo. Precisamos pontuar que as discussões sobre quais professores irão ministrar as disciplinas em certos cursos são muito específicas ao contexto de cada instituição, visto que cada uma possui as suas peculiaridades. Assim sendo, nessas discussões é comum que o corpo administrativo desse núcleo já saiba quais serão os professores que ministrarão essas disciplinas em cada curso. De acordo com a disponibilidade dos professores que integram o seu corpo docente acabam distribuindo essas disciplinas entre eles a serem ministradas ao longo de um semestre. Vamos utilizar como exemplo a disciplina de projetos integrados. Em cada semestre essa disciplina pode ser ministrada por um docente.

A rotatividade das disciplinas

A depender da quantidade de docentes que integram esse núcleo, certas disciplinas podem ter uma certa rotatividade, de modo que, a cada semestre, um professor diferente pode ministrar essa disciplina em um mesmo curso ou em cursos diferentes. Há, ainda, a questão da hora-aula. Há professores que lecionam em diversos contextos e, dessa forma, apenas podem assumir uma disciplina que se adapte à carga horária de disciplinas que ele já assumiu, devendo tomar cuidado com o choque de horários. Assim sendo, a rotatividade está relacionada com a disponibilidade dos professores para cada semestre. Também devemos levar em consideração que esses professores podem possuir formações múltiplas em virtude das escolhas de linhas de atuação para o mestrado e doutorado, o que aumenta as suas possibilidades docentes. A formação define o quão ampla serão as possibilidades desse docente-pesquisador.

As áreas de pesquisa e as possibilidades de atuação

As linhas de pesquisa que perpassam pela sua formação irão definir o quão amplas serão as suas possibilidades de atuação. Por exemplo, se você presta um concurso público tendo o objetivo de atuar em uma instituição de ensino estadual ou federal, a sua linha de atuação deverá ser direcionada de acordo com o edital. Os editais promovem disciplinas específicas, então o principal desafio é demonstrar a sua capacidade para lecionar essa disciplina em específico. O edital voltado à área da saúde pode reiterar, por exemplo, que, para que você atue naquele contexto, precisará cumprir alguns requisitos básicos, sendo que o primeiro deles é a formação na área da saúde (fisioterapia, biologia, enfermagem e áreas relacionadas). Assim sendo, precisamos pontuar que grande parte dos professores que integram os cursos de Medicina não são médicos, mas sim biólogos, biomédicos, enfermeiros, nutricionistas etc.

A formação múltipla dos docentes e a sua necessidade

Os cursos admitem professores com formações amplas porque entende-se que certos conhecimentos, para que sejam repassados da forma devida, demandam uma formação específica. No caso da Medicina, há certos conhecimentos que podem ser melhores explorados quando introduzidos por professores com formação para além da Medicina. Assim sendo, você não precisa restringir as suas possibilidades de atuação à sua formação de graduação. O seu curso de mestrado e de doutorado também amplia tais possibilidades. Também precisamos chamar a sua atenção para uma questão essencial. No Brasil, as grades curriculares de nossos cursos são muito genéricas, de modo que não há um afunilamento em nenhum desses conhecimentos, que são muitos básicos, gerais. Não temos uma graduação focada. Esse é um problema que dificulta as pessoas que fazem cursos fora do país e desejam convalidar o título.

Dificuldades para convalidar títulos de graduação

Novamente, iremos utilizar a área da Medicina como exemplo. Muitas pessoas, por motivos diversos, realizam seus cursos de graduação em Medicina fora do país e quando retornam ao Brasil para atuarem aqui como médicos, esbarram com algumas dificuldades em relação à regularização do título. Com isso, precisamos refletir um pouco sobre essa necessidade de convalidar com a qual os alunos que optam por estudar fora se deparam. Essa questão está fortemente associada com a estrutura das grades curriculares dos nossos cursos de graduação e até mesmo de pós-graduação. No caso da Medicina ensinada em nosso país, ao longo dos seis anos de formação, o aluno irá aprender o básico sobre cada um dos assuntos, não havendo um aperfeiçoamento. No caso dos alunos que se interessam por certos conteúdos e desejam saber mais, precisam realizar residências específicas para obterem esse conhecimento aprofundado.

As grades curriculares em outros paísesAs grades curriculares em outros países

Diversos países espalhados por todo o globo possuem uma dinâmica muito diferente da brasileira. Ela reflete-se na composição da grade curricular e na forma a partir da qual esse conhecimento será ensinado. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, a partir do momento em que o aluno ingressa em um curso de Medicina, o seu foco de atuação desde o princípio será em uma área específica da Medicina, o que faz com que essa atuação seja mais direcionada. O conhecimento obtido por esse aluno, em virtude de tal afunilamento, é muito diferente do conhecimento obtido pelos alunos matriculados em cursos de Medicina aqui em nosso país. Assim sendo, o aluno, ao retornar para o Brasil, precisa regularizar o título para que possa atuar como médico de forma legal, porém, ao tentar fazer essa equivalência entre as grades acaba não conseguindo pelas dissonâncias entre as duas grades curriculares.

Por que a equivalência é algo complexo?

Aqueles que optam por realizar seus cursos de graduação e pós-graduação devem ter muito claro em mente que a equivalência é um dos principais critérios que os avaliadores analisam a fim de que aprovem a sua atuação ou não no país. Contudo, no caso dos alunos que realizam os seus cursos no Brasil, acabam se deparando com essa grade mais genérica, e, dessa forma, especializam-se a partir de cursos de mestrado ou de doutorado, e, no caso da Medicina, a partir das residências. Além disso, você pode realizar um curso na área da Engenharia e se interessar pela Filosofia, de modo que a sua atuação passa a perpassar por ambos os eixos. Como as nossas faculdades possuem grades genéricas, os alunos acabam tendo contato com conhecimentos diversos, sendo que eles, em muitas das vezes, não são específicos a uma área, aqui, no caso, da Engenharia, mas pelas mais diversas áreas e cursos, ampliando o rol.

As possibilidades fomentadas pelas grades curriculares diversas

Utilizemos como exemplo a área da Engenharia. Nesses cursos, os alunos têm contato com disciplinas sobre construção do espaço, ética, biopolítica, dentre outras. Os conhecimentos fornecidos por essas disciplinas irão lhe introduzir a contextos de pesquisa e perspectivas teóricas dos mais diversos tipos. Ao ter contato com uma série de linhas de pesquisa, os seus interesses podem se modificar à medida em que tem contato com esses diversos campos. As reflexões e desdobramentos que se dão nesses cursos irão lhe introduzir em novos contextos, logo, em novas possibilidades de atuação. O seu interesse é afetado diretamente pelas linhas de pesquisa. Dentre os assuntos, é preciso escolher pelos temas que lhes interessam.

Os autores e as suas linhas de pesquisa são muito decisivos nesse processo. Esse interesse pode começar na graduação, de modo que podem ser continuados em um mestrado ou doutorado, mas não é uma regra, visto que eles podem ser modificados a partir do momento em que você entra em contato com novos conhecimentos. Esses interesses podem ou não estarem interligados entre si. A sua formação é muito decisiva para que compreenda o mundo e os seus fenômenos a partir de um dado lugar teórico/metodológico. Essa múltipla formação não é um impeditivo, visto que este tipo de formação não lhe restringe a um campo específico. Entretanto, alguns núcleos preferem que você tenha uma carreira mais homogênea.

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