Em nosso post de hoje iremos discutir sobre uma questão de suma importância e que influencia todo e qualquer pesquisador em sua jornada. Você sabe o que é um tema de pesquisa e como ele influencia em todo o processo de construção de seu estudo?
Ou melhor: é possível trabalhar com um tema de pesquisa que já tenha sido considerado e estudado por outros pesquisadores e materiais científicos? É sobre essas questões essenciais que iremos discutir hoje.
Posto isso, a primeira coisa que você precisa manter em mente é que todo e qualquer conhecimento é válido e pode ser aproveitado em um estudo, o que implica chamar a sua atenção para o fato de que nenhum saber pode ser esgotado em um único material científico, seja ele mais extenso ou curto. Ou seja, podemos dizer que um mesmo tema de pesquisa pode ser abordado de inúmeras formas na pesquisa.
A importância do fluxo do conhecimento
Como temos esclarecido ao longo de nossos posts, sobretudo com advento da internet e aperfeiçoamento das tecnologias diversas, a todo o momento novos materiais são publicados em todo o mundo, isto é, a cada poucos segundos.
A demanda por materiais mais curtos, porém, com a devida robustez, tem se tornado cada vez mais uma constante. Logo, em razão do volume intenso de produções, é natural que os temas se repitam.
Contudo, não basta replicar uma mesma discussão e não trazer nada novo, pois, além do seu material ser acusado de plágio, ele nada irá agregar à sociedade e à academia.
Dessa forma, é inerente ao próprio fluxo do conhecimento a repetição de temas, uma vez que o próprio conhecimento não pode ser esgotado de nenhuma forma, pois sempre suscita diversas outras discussões. Nesse contexto, é certo que alguns cuidados devem ser tomados para que o material seja inédito e, também, contributivo.
A delimitação de um tema de pesquisa: o que fazer?
Suponhamos que você tenha conseguido delimitar o seu tema e que esse processo tenha sido bastante delicado, contudo, em sua busca, você viu que o seu tema já havia sido rebatido. O que fazer nesse caso?
E quando encontramos um material que promova uma discussão semelhante àquela que você deseja desenvolver em seu próprio estudo?
Embora essa questão não seja uma novidade para ninguém, cada vez mais, tem gerado uma série de dúvidas nas mais diversas pessoas ligadas à academia.
Além disso, se não soubermos como delimitar um tema, a qualidade de nosso estudo pode ser comprometida. O ineditismo relacionado à temática, ou melhor, à discussão proposta, tem sido exigido não apenas pela academia, mas pela própria sociedade.
Diante disso, iremos apresentar alguns conceitos que podem ajudar a esclarecer essas dúvidas de uma vez por todas.
O que fazer no caso de linhas de pesquisa semelhantes?
A pergunta-guia de nossa conversa de hoje é a seguinte: acabei me deparando com um trabalho que parte de uma linha de pesquisa e de uma metodologia específica para chegar a uma resposta que também pretendo trazer em minha discussão.
É possível propor essa mesma discussão? É necessário mudar a temática? Bom, para responder a essas perguntas, a primeira coisa que você deve levar em consideração é que é necessário compreender as variáveis por detrás da escolha de um tema de pesquisa.
A temática, portanto, nada mais é do que a área e a linha de pesquisa que irão nortear todo o processo de desenvolvimento de sua pesquisa.
Por exemplo, se o seu interesse é o de atuar na área da neurociência, ou, ainda, na biopolítica, podemos perceber que o tema reflete nada mais do que o seu interesse em pesquisar em uma área e linha de pesquisa específicas.
Nesse sentido, em termos de temática, você não precisa mudar a sua proposta de pesquisa, pois, como afirmamos, nenhuma fonte de conhecimento pode ser esgotada. O que diferencia uma certa pesquisa de um outro estudo é a forma como o pesquisador irá delimitar esse tema, isto é, o recorte temático.
A delimitação de um tema reflete qual é o seu interesse, em qual área de atuação se concentra e no problema que se pretende resolver, fatores esses que tornam todo estudo inédito. Um tema pode sugerir uma ampla gama de propostas, sendo que essas podem ser manuseadas das mais diversas formas, com métodos específicos.
Como posso delimitar o meu tema?
A fim de que possamos saber se o nosso material está ou não delimitado e, com isso, se ele é ou não inédito, é preciso tomar alguns cuidados. Diante desse cenário, antes de pensar em qualquer coisa, gostaríamos de afirmar que não é necessário mudar de temática, pois será a forma como você abordará esse tema que tornará a sua pesquisa inédita e contributiva.
Contudo, é preciso que você tenha muito claro em mente onde este estudo pretende contribuir e de que forma e, para isso, é crucial que você tenha um bom problema de pesquisa e questão-problema com os quais irá trabalhar ao longo de seu estudo como um todo. O que difere um estudo do outro é a pergunta de pesquisa.
Reflita com a gente: será que o seu problema de pesquisa é igual ao do estudo no qual está se inspirando? Já que a metodologia e os conceitos utilizados pela outra pesquisa são semelhantes, mude, ao menos, o problema de pesquisa que irá guiar seu estudo.
Reformule a pergunta de pesquisa
A fim de que o seu estudo seja diferente de outro, recomendamos que você proponha uma pergunta de pesquisa diferente, o que implica um processo de reformulação. Esse é um dos aspectos de suma importância que você deve levar em consideração ao definir a pergunta de pesquisa do seu estudo.
E para que você consiga achar a pergunta de pesquisa ideal podemos pensar no estado da arte. O estado da arte fornece lacunas de pesquisa que não foram supridas por outros estudos, logo, você poderá trabalhar com uma delas e garantir que o seu estudo seja inédito e essencial, uma vez que os demais estudos não foram capazes de suprir tais lacunas.
Mesmo que a sua pergunta seja igual àquela do estudo no qual está se inspirando, basta reformular para que garanta que a sua pesquisa seja sim inédita e necessária, tanto para os acadêmicos quanto para a sociedade.
A replicação de estudos
Algo sobre o qual também precisamos chamar a sua atenção é que alguns estudos podem ser replicados, porém, embora haja semelhanças, todo e qualquer estudo possui as suas próprias características e, também, peculiaridade, o que os tornam inéditos.
A replicação de estudos é bastante comum, mesmo em instituições renomadas, pois não é anormal os professores pedirem aos seus alunos para que escrevam um material científico replicando uma discussão feita em um ou mais artigos científicos por eles selecionados. Não são todos os programas, porém, esta não é uma prática incomum.
Muitos professores têm optado por orientar dessa forma, isto é, por meio do incentivo à replicação de certos artigos em outros materiais. Nesse contexto, a temática é a mesma, no entanto, é necessário que ela traga novos resultados para que seja inédita.
Exemplo: como você pode replicar um material?
Suponhamos que você queira desenvolver um estudo aplicado cujo interesse é o de verificar quantas pessoas adultas consomem o gênero anime (desenhos produzidos e distribuídos por empresas japonesas).
Porém, ao fazer o estudo da arte, você percebeu que esse mesmo estudo já foi proposto, sendo este desenvolvido e aplicado à população dos Estados Unidos. Ou seja, em uma população que possui interesses diferentes do público brasileiro, embora consumam um mesmo gênero.
Observando esta variável, você poderia utilizar essa mesma temática e, inclusive, partir da mesma metodologia, aplicando essa pesquisa no Brasil, sendo esse aspecto o responsável pelo ineditismo da sua pesquisa, pois os resultados variam de um país para outros, o que iria tornar a sua pesquisa inédita.
Como garantir o ineditismo no processo de replicação de um estudo?
Como sabemos, a replicação de um estudo é bastante normal, porém, o desafio é garantir a proposição de uma pesquisa inédita. Sendo assim, uma forma de garantir o ineditismo é exatamente a aplicação do estudo em contextos diferentes daquele que já havia sido investigado anteriormente.
No caso de nosso exemplo, embora houvesse um mesmo interesse, a amostra não era a mesma, já que as variáveis consideradas eram distintas. Ou seja, o contexto dos estudos faz de sua pesquisa inédita, pois você, nesse caso, estaria considerando um bairro, cidade e estado diferentes daqueles considerados pelo estudo aplicado ao contexto estadunidense.
Posto isso, algo que também precisamos chamar a sua atenção é para o fato de que o seu estudo deve ser relevante para a sociedade. Logo, uma outra forma de garantir esse ineditismo da sua investigação é por meio da formulação de um problema de pesquisa.
Esses aspectos devem ser pensados com muito cuidado, porque, sim, você pode replicar uma parte de outro trabalho, o seu tema, mas é preciso que a sua pesquisa reflita uma essência própria e inédita.
A justificativa em um material científico: como mensurar a relevância de uma pesquisa?
Embora seja compreensível o receio quanto à relevância e ineditismo de um tema, é de suma importância que você se preocupe com um outro aspecto essencial. Estamos nos referindo à justificativa em uma pesquisa científica.
Como demonstramos em outro post, a justificativa pode assumir três formatos, sendo eles o teórico, o prático e o social.
A justificativa teórica toma uma teoria como base para poder justificar a relevância de um estudo.
Já as justificativas prática e a social vão revelar de que forma esse estudo pode ser aplicado na prática e como ele pode contribuir para a sociedade. Sendo assim, a justificativa é refletida na forma como você procurou atender aos objetivos que permitiram chegar a resposta para a sua pergunta de pesquisa.
Em termos sociais, é preciso que fique claro ao seu leitor de que forma ele se diferencia dos demais, pois é aí que reside a contribuição de seu estudo. Portanto, tome muita atenção à justificativa de seu trabalho.
Como trabalhar com a justificativa em um material científico?
Considerando o nosso exemplo relacionado ao público consumidor de anime, de que forma você poderia apontar que esse material é relevante? Por meio da justificativa. O consumo de anime nos Estados Unidos, por exemplo, está associado a fatores diferentes daqueles que influenciam o público brasileiro.
Apontar os motivos que impulsionam este consumo é uma forma de justificar a relevância social do tema. A recepção desse gênero por uma dada faixa etária e sexo e em uma dada região certamente não é a mesma em um outro contexto, mesmo no próprio Brasil.
Esses fatores podem ser visualizados pelo seu leitor por meio da clareza e transparência que devem ser refletidos na justificativa de seu tema. Entretanto, mesmo que você leve em consideração tudo que foi discutido até agora e tenha muito cuidado para escolher o tipo de justificativa que você trabalhará em sua pesquisa, como você pode ter certeza que ela se diferencia, de fato, de uma outra pesquisa?
De que forma o seu trabalho se diferencia de uma outra pesquisa?
Você pode, de fato, ter a mesma pergunta de pesquisa que um outro estudioso adotou, porém, a forma como este trabalho será conduzido para responder à pergunta pode se dar de uma forma totalmente diferente, o que garante o ineditismo do estudo.
O seu desafio, enquanto pesquisador, é o de encontrar uma lacuna deixada pelo estudo no qual está se inspirando!
Não é difícil, pois, como afirmamos, o conhecimento é uma fonte inesgotável e, desse modo, sempre suscita novas indagações e discussões. Assim, todas essas variáveis que apresentamos devem ser consideradas para que a sua pesquisa seja, de fato, inédita e contributiva. Mesmo que haja “trabalhos iguais”, a forma como cada um deles é construído nunca é a mesma.
O fato de encontrar um estudo com a mesma proposta de tema não significa que ele se tornou irrelevante e não pode ser mais discutido, pelo contrário, ele é o pivô para outros estudos.