Em nosso post de hoje iremos discutir sobre o processo de coautoria na academia. Como sabemos, é muito comum que diversos autores se unam em prol da produção de um único material, entretanto, certos conflitos ou discordâncias entre esses indivíduos podem impedir a sua publicação.
Pensando nisso, é com essas variáveis que dificultam a publicação de um material que iremos trabalhar hoje. Não é segredo para ninguém que as relações humanas são complexas e repletas de desafios. Como a coautoria é um processo que envolve diversas pessoas, ela não está isenta de conflitos.
As relações conturbadas nascem por diversos motivos, como um olhar diferente e um tom de voz específico. E no mundo da pesquisa, isso não é diferente e é por esse motivo que muitos desistem de publicar um artigo em parceria com outros acadêmicos.
Não são raros os casos de pesquisadores que desenvolvem um artigo com amigos e, por algum motivo, acabam entrando em conflitos que impossibilitam que o material seja submetido para uma possível publicação. Por isso, abordaremos esse tema aqui.
O meu coautor não quer publicar, como posso proceder?
Há uma série de situações que fazem com que uma relação fique conturbada. A partir desse contexto, iremos responder à seguinte questão norteadora: tenho um artigo para publicar em um congresso internacional com chamada aberta que é resultado do meu TCC, porém, a minha dupla, também responsável por esse TCC, não quer publicar.
Como proceder nesse caso? Esta é uma questão fortemente ligada com as relações humanas, de modo que não bastaria apenas retirar o nome da dupla, uma vez que ela também faz parte dessa produção.
Por isso, iremos pensar em algumas alternativas ao longo deste artigo. Há algumas variáveis a serem levadas em consideração.
Dessa forma, a primeira coisa que você precisará verificar é se esse material se encontra publicado em algum lugar. Se ele foi apenas apresentado ao seu orientador e à banca, as suas possibilidades serão diferentes caso a instituição tenha se responsabilizado pela publicação.
Quais são as possibilidades de publicação de um material já divulgado e não divulgado?
Se esse material foi publicado pela instituição, ele automaticamente não poderá ser republicado em nenhum local sem que algumas adaptações sejam feitas. Nesse sentido, se ele se encontra no repositório de sua instituição, não poderá ser publicado em uma revista ou em um congresso, pois será acusado de plágio.
Por outro lado, se você sabe que esse material não circulou, as suas possibilidades são outras, visto que ele ainda é inédito. Se esses resultados ficaram disponíveis apenas off-line, isto é, se essa comunicação se restringe aos membros da banca, ele poderá ser publicado em um congresso, revista ou qualquer lugar semelhante. Se você se encaixa nessa situação, terá como objetivo dar continuidade a esta proposta.
Proteja-se legalmente antes de prosseguir com a publicação
A fim de que você não enfrente nenhum problema legal, indicamos que você tome alguns cuidados antes de prosseguir com a publicação de qualquer tipo de material, uma vez que envolve outra pessoa nessa relação. Por exemplo, suponhamos que você queira dar continuação a uma pesquisa que possui coautoria, mas o seu coautor não deseja ter mais nenhum vínculo com ela.
Nesse caso, você pode conversar com a sua dupla e pedir para que a pessoa assine uma carta onde abre mão desta publicação. Além da redação expressar que o sujeito abre mão da autoria, é fundamental que haja a assinatura.
Esses cuidados são necessários porque ele tem uma parcela de contribuição na construção desse estudo e essa contribuição deve ser respeitada. Contudo, quando a questão é autoria, ainda há mais um ponto que deve ser tratado. Estamos falando da ordem para menção dos autores.
Qual a ordem para a menção dos autores envolvidos?
Diferentemente do que muitos pensam, a menção aos autores em um artigo científico não responde à ordem alfabética, visto que outros critérios são levados em consideração. Embora não haja no Brasil nenhum documento que formalize esta questão, devemos chamar a sua atenção para o fato de que a menção ao nome dos autores está ligada a um critério.
Essa ordem é por nível/frequência de participação, onde o primeiro autor é sempre aquele que mais contribuiu para com a construção do material em questão. De modo que, geralmente, o nome do orientador, fica por último. Contudo, esse é um critério em voga nas revistas brasileiras. Em revistas internacionais, não são raros os casos em que o nome do orientador apareça em primeiro lugar.
Isso acontece para que o seu nome seja o primeiro a aparecer nas bases de dados quando for citado por acadêmicos em outras produções. Dessa forma, se você tem intenção de publicar sua pesquisa em uma revista ou congresso, é importante que você tenha em mente quais são as políticas locais.
Tome atenção às políticas locais da revista ou congresso
Esse critério, embora possa parecer simples, deve ser levado à sério com muito rigor. O consenso brasileiro tem determinado que, via de regra, o nome do orientador deve aparecer por último e o nome dos alunos, por sua vez, devem ser mencionados de acordo com o seu nível de participação na construção daquele material específico.
Logo, a fim de que essa menção seja feita de forma justa, é preciso que você tenha muito claro o nível exato de participação de cada uma dessas pessoas. Seja essa coautoria com uma ou mais pessoas, mencione os nomes de acordo com a frequência/intensidade em termos de participação.
Essa é a política em vigor até o presente momento. Ela pode mudar, mas o mais comum é que as revistas sigam esta lógica específica. Nesse contexto há um outro ponto importante sobre o qual não podemos deixar de refletir neste post.
O que ocorre quando submeto um material a um congresso ou revista científica?
A partir do momento em que você submete um material a uma revista ou a um congresso científico, alguns cuidados devem ser tomados. Como mencionamos anteriormente, se esse material se encontra publicado no repositório de sua instituição, na revista ou no site do congresso, você “perde” essa autoria, logo, não pode submeter esse mesmo material em nenhum outro local.
Você ainda será associado a essa produção e terá todos os direitos de citação garantidos, porém, não deterá os direitos de exclusividade deste material, uma vez que são concedidos ao local no qual será armazenado.
O reconhecimento de sua autoria nunca será perdido, mas ele deixará de ser inédito e é por esse motivo que não poderá ser republicado em outro espaço acadêmico.
Logo, ao conceder a autoria para essa revista, congresso ou instituição, você abrirá mão de quaisquer outros benefícios para além do reconhecimento e citação desse material específico.
Do que você abre mão ao conceder a autoria?
Além de não poder receber qualquer tipo de fundo pela publicação desse material, você também não poderá solicitar qualquer tipo de reembolso. Além disso, você não pode impedir que outros materiais sejam desenvolvidos com base no seu, desde que a devida citação seja feita.
Também não poderá solicitar qualquer tipo de retorno financeiro daqueles acadêmicos que continuaram a desenvolver a sua ideia. Nesse sentido, podemos frisar que a concessão de autoria nada mais é do que a doação de um conhecimento para que seja publicado por uma revista específica.
Por outro lado, é essencial que você saiba que embora seja a revista a detentora do seu material, ele não deixa de ser seu, uma vez que é o seu nome o citado, não o da revista. Assim sendo, é correto afirmar que esse material pertence, em termos de autores, àqueles acadêmicos que o produziram e publicaram, mas o conhecimento ali exposto é público.
A “perda” do direito de exclusividade
A partir do momento em que o seu material é publicado em qualquer contexto aqui apresentado, ele passa a ser de domínio público, logo, todos podem acessá-lo e citá-lo quando conveniente.
Esse conhecimento não pertence apenas aos acadêmicos, mas a toda a sociedade, visto que é ela que precisa ter acesso a essas fontes de informação para que seja capaz de evoluir e sanar problemas diários. É por esse motivo que há casos de muitas pessoas que não têm o hábito de publicar.
Acreditam que por “perderem” esse direito de exclusividade não há qualquer tipo de vantagem na publicação de materiais científicos. As pessoas que compactuam desse pensamento geralmente não querem que os seus experimentos, invenções e até mesmo reflexões sejam citadas por outros sem que recebam por isso. Infelizmente, tais casos existem. São sujeitos que não querem que os seus achados sejam apropriados por outros acadêmicos.
A rejeição à popularização do conhecimento
Embora hajam políticas que ajam diretamente no campo da democratização do conhecimento, ainda há uma série de acadêmicos que querem que as suas produções circulem em um campo muito específico e, dessa forma, a depender dos acadêmicos com os quais faz parceria, mesmo que momentânea, pode haver uma rejeição à coautoria a depender do espaço onde deseja publicar esse material.
No geral, são pessoas que leem e pesquisam muito, porém, abrem mão da publicação justamente por não verem benefícios para além da citação e disseminação do conhecimento de domínio público.
Essas questões são muito complexas e não podem ser esgotadas em um único texto, porém, o nosso objetivo aqui é fazer com que você compreenda que há certas regras que governam a ciência brasileira e não podemos ignorá-las. Uma delas é:
a exclusividade do material!
Por que posso submeter um material apenas a uma revista por vez?
Como consequência da regra do ineditismo e da exclusividade, cada material científico apenas pode ser submetido a uma revista por vez, mesmo que ele seja reprovado. Além disso, é de suma importância que você saiba que um material armazenado no repositório de sua instituição, como é o caso de um TCC, não poderá ser aproveitado em nenhum outro veículo acadêmico, como em um congresso ou em uma revista científica, visto que o material, como pode ser identificado na internet, perde o seu vínculo de ineditismo.
Entretanto, no caso dos congressos, há alguns que costumam aceitar a publicação de materiais que já foram defendidos e armazenados em um repositório, porém, tudo depende das regras do congresso em questão. Esses cuidados devem ser tomados porque as revistas e, na verdade, qualquer veículo acadêmico, é governado pela inteligência artificial. Pensemos um pouco em tais questões!
A lógica da inteligência artificial
Hoje, a inteligência artificial, convertida em programas de anti-plágio, diz respeito a uma das primeiras estratégias colocadas em prática pelas revistas científicas para analisar se o material ali submetido é, de fato, inédito e exclusivo.
Em outras palavras, podemos afirmar que o trabalho da inteligência artificial diz respeito à identificação de possíveis semelhanças entre o material ali submetido e aqueles que já se encontram publicados na internet.
Todos os materiais armazenados na linguagem HTML podem ser facilmente identificados pelos programas de anti-plágio.
A análise entre o que já está na internet e o seu texto é feita a partir da mensuração de sequências idênticas entre o seu texto e aqueles que já circulam na internet.
Em virtude da ação desse tipo de programa, a maior parte das revistas fica impossibilitada de aceitar materiais que tenham trechos semelhantes, uma vez que serão acusados de plágio, logo, não serão aceitos.
Por que materiais já publicados não podem ser aceitos?
Uma vez que materiais semelhantes já estão circulando na rede mundial, caso as sequências se repitam, o material em processo de avaliação não poderá ser aceito, pois entende-se que ele não é inédito.
Caso a revista aceite esse tipo de material, a inteligência artificial irá detectar que esse artigo tem plágio e no Brasil esse tipo de prática é considerado como um crime. Todavia, há certas revistas que aceitam materiais publicados em outros lugares, embora esta prática não seja bem-vista.
Assim sendo, há aquelas que aceitam os artigos que fizeram parte de uma dissertação ou que foram apresentados em um congresso científico.
Como essa prática não é bem-vista, as punições voltam-se à revista, visto que ela poderá perder a sua indexação por aceitar um material já publicado. Ela adentra em um outro universo, o que abre portas para novas discussões sobre o que é ou não plágio, pauta para outro momento.
Reflita!
Posto o que foi apresentado ao longo desse post, reconhecemos a dimensão e a importância da questão das relações e da aceitação para publicação científica, pois, uma relação não adequada, seja com o colega de pesquisa ou orientador, pode dificultar ou impedir completamente a publicação de um material.
Logo, se você for desenvolver com a intenção de tornar esse material público, se atente aquele que fará parceria com você e os interesses dele ou, então, tente entrar em um consenso.
Uma resposta
Olá, na minha faculdade é obrigatório que o TCC seja com 3 pessoa sou mais. Fiz o TCC com o grupo, recebemos a aprovação e tudo mais. Messes depois meu coordenador de curso nos fez participar da amostra científica, onde ele conversou com os outros dois integrantes no particular e publicou o nosso artigo, levando o nome dele e dos outros dois e me deixando de fora… O que posso fazer?