Em nosso post de hoje iremos discutir sobre um tipo de trabalho que embora não seja solicitado de uma maneira tão corriqueira, quando o é, muitos ainda não sabem como prepará-lo. Estamos nos referindo ao memorial acadêmico.
Sendo assim, tendo em vista que muitos têm se questionado sobre as situações em que esse tipo de material pode ser requisitado e por quê, iremos esclarecer essas dúvidas ao longo deste post.
Logo, para darmos início a essa conversa devemos chamar a atenção para o fato de que, embora não seja solicitado em todas as instituições, atualmente esse trabalho tem sido cada vez mais solicitado, o que pode ser que vire uma tendência, assim como ocorreu com o estado da arte. Sendo assim, pensemos um pouco no que pode impulsionar esse aceite no futuro.
O memorial acadêmico
Tudo na academia tem o seu momento de expansão e de desuso, de modo que o que é comum hoje, pode não ser amanhã!
Entretanto, é válido destacar que alguns professores aceitam bem algumas práticas mais atuais, enquanto outros, por sua vez, priorizam certos tipos de prática de pesquisa que já não são mais utilizadas por outras academias.
E o memorial acadêmico é uma prática que perpassa por esse processo. Ou seja, trata-se de um material que era muito solicitado nos primeiros anos de consolidação da pós-graduação em nosso país e que, depois de alguns anos, tem sido resgatado por algumas instituições, pelo qual se quer saber mais sobre a trajetória dos acadêmicos que estão ingressando nesse mundo da pós-graduação.
O memorial, nesse sentido, diz respeito a um resumo sobre o currículo de um pesquisador, no qual são abordadas algumas concepções, como o que levou este pesquisador a escolher por esse curso e programa específico em que ingressou, seja ele de mestrado ou de doutorado.
O objetivo de um memorial acadêmico
Como cada pesquisador se relaciona de uma forma específica com a ciência e as suas experiências são muito diferentes, o objetivo do memorial é elencar o que fez com que este pesquisador chegasse a esse momento específico em sua carreira acadêmica.
Diante dessa proposta, essa prática pode ser facilmente visualizada quando manuseamos o arquivo de dissertações, teses e monografias de instituições mais tradicionais, como é o caso da Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Onde, antigamente, as dissertações de mestrado, teses de doutorado e até mesmo as monografias (como eram chamados os TCCs que conhecemos hoje) dedicavam um momento para que o autor apresentasse este memorial. Contudo, esse contexto mudou com o surgimento do currículo Lattes.
A substituição do memorial acadêmico
Como o próprio termo indica, o memorial é uma forma de resgatar as memórias associadas a um certo momento da vida. Contudo, entre os anos 2000 e 2005, a forma de elaboração de um memorial foi modificada.
Foi nesse momento que o acesso a toda e qualquer informação foi expandido, visto que a internet chegou até as casas das pessoas. E, entre o fim da década de 1990 até os dez primeiros anos da década de 2000, o uso do computador entre os estudantes também se popularizou, de modo que uma outra concepção de ciência surgiu.
Ou seja, com a popularização da internet, houve a necessidade de registrar essas trajetórias acadêmicas em um documento, que ficou conhecido como Currículo Lattes.
O que é o Currículo Lattes?
O Lattes é um meio de comunicação entre cientistas brasileiros, em que uma série de produções intelectuais de diferentes gêneros devem ser registradas. Dentre elas, tem-se os artigos científicos publicados ao longo dos anos, participações em simpósios, seminários, congressos científicos com e/ou sem apresentação de trabalho e outros tipos de produções intelectuais, acadêmicas e tecnológicas.
Nesse contexto, se você deseja conhecer a trajetória de pesquisadores nacionais, deve consultar o Lattes, contudo, caso você tenha interesse em conhecer os pesquisadores internacionais, indicamos que você faça essa consulta em outros tipos de plataforma, como é o caso do ResearchGate e do ORCID.
Há uma série de plataformas que atuam como redes sociais de acadêmicos nacionais, mas, hoje, o currículo Lattes é a plataforma principal que também serve como base para o preenchimento de informações de outras plataformas, como a plataforma Sucupira, onde os mesmos trabalhos acadêmicos são registrados.
Relação da plataforma Sucupira e do currículo Lattes com a volta do memorial
Com a expansão dos programas de pós-graduação stricto sensu em todo o país, a CAPES passou a estabelecer mecanismos para avaliar a produção científica dos acadêmicos ligados às mais diversas instituições, criando, para tanto, a plataforma Sucupira, onde as informações dos acadêmicos (professores, alunos, coordenadores de curso etc) deveriam ser registradas nesta plataforma a cada ano.
Entretanto, mesmo com a utilização da plataforma Sucupira e do currículo Lattes, que se tornaram excelentes ferramentas para acompanhar e avaliar os trabalhos de todos os pesquisadores, muitos passaram a se questionar se eles realmente eram capazes de reunir todas as formações pertinentes a respeito dos acadêmicos. Dessa forma, em meio a esse imenso registro de atividades, sentiu-se a necessidade do resgate do memorial, mas de uma forma diferente da que era utilizada antigamente.
Ou seja, com o resgate do memorial, passou a exigir que neste trabalho fosse apresentado os principais dados sobre a produção acadêmica de um aluno, mas buscando entender como um pesquisador atuou durante a sua trajetória naquele programa, a fim de conhecer um pouco sobre a experiência deste aluno e saber o que o impulsionou ao desenvolver a sua pesquisa.
O que devo escrever em um memorial?
Atualmente, o memorial é composto por diversas etapas nas quais se deve apontar os motivos que fizeram com que a pessoa escolhesse aquele programa de mestrado ou doutorado específico, como foi feita a escolha do tema, como ela chegou ao problema de pesquisa e aos objetivos e a metodologia.
Também se explora os autores, conceitos e teorias necessários ao desenvolvimento deste tema, assim como esses pontos fundamentais a uma pesquisa foram desdobrados ao longo dos capítulos.
Dessa forma, a primeira etapa diz respeito à descrição das disciplinas cursadas neste programa em específico.
Contudo, não basta a menção a essas disciplinas, pois deve ficar claro ao leitor quais foram as contribuições de cada uma delas para o desenvolvimento da sua pesquisa.
Entretanto, também tem sido solicitado ao autor do memorial que demonstre de que forma as disciplinas escolhidas estão conectadas, pois é esta conexão que deve contribuir para com o aperfeiçoamento teórico-metodológico da sua pesquisa.
Também não são raros os casos de memoriais que solicitam ao pesquisador que apresente uma micro avaliação do professor quanto a sua performance durante o desenvolvimento daquela pesquisa.
Nesta avaliação, há certos pontos que devem ser mencionados, como as suas intenções, percepções e contribuições identificadas para o seu trabalho. Por fim, demonstra-se como o trabalho foi construído.
A abordagem do processo de orientação em um memorial
Embora o memorial costume ser solicitado para a qualificação ou defesa do material respeitando os pontos mencionados acima, têm sido cada vez mais comuns os casos em que o aluno deve apontar a forma exata como foi orientado, o que é uma forma de colocá-lo em uma saia justa.
Há, ainda, momentos em que o pesquisador deve dizer, de forma clara, como se sentiu quanto a essa orientação e esse processo nem sempre é tranquilo para todas as pessoas, visto que há diversos conflitos que podem ser suscitados nesta orientação, pois, nem sempre, o professor se envolve com esse aluno pelos motivos mais diversos.
Há casos em que esse processo é o mais tranquilo possível e, dessa forma, o aluno terá como apontar coisas positivas quanto à orientação, porém, no caso dos alunos que não têm uma experiência positiva, é bastante delicado esse momento. Assim, se esse for seu caso, se possível, o mais sensato é que você pule essa etapa, pois falar mal do orientador não é indicado.
O que não pode ficar de fora em um memorial acadêmico?
Esta é uma questão bastante relativa e varia de programa para programa. Além disso, tudo depende da forma como seu orientador trabalha. Há memoriais que exigem que o aluno explore muito mais as suas memórias propriamente ditas quanto a sua experiência naquele programa.
Há outros tipos de memoriais que esperam que o aluno explore muito mais os pontos que dizem respeito a sua atuação profissional nesta área na qual deseja se aperfeiçoar, porém, outros podem requerer que você foque mais nos motivos acadêmicos que fizeram com que entrasse nesse programa em específico.
Outros ainda se apropriam do memorial para que o aluno avalie os professores com os quais teve contato e, dessa forma, este material serve como base para que os gestores responsáveis tomem decisões mais coerentes. Contudo, via de regra, um memorial, independentemente de sua finalidade, deve atender os pontos aqui tratados.
Como trabalhar com as memórias em um material desse tipo?
Esta é uma questão pessoal, visto que se trata da exploração de suas memórias. Por outro lado, podemos afirmar que algumas memórias tratadas neste material são contributivas, já outras, nem tanto.
Podemos citar como exemplo a etapa da descrição das disciplinas cursadas. Há aquelas que, de fato, contribuíram para com o desenvolvimento de seu estudo, porém, essa não é uma regra, visto que nem todas as disciplinas trazem boas contribuições para uma pesquisa e, por esse motivo, não podem ser escolhidas de maneira aleatória.
Entretanto, é nosso papel chamar a sua atenção para o fato de que qualquer conhecimento suscita uma série de memórias, mesmo que elas não sejam positivas. Dessa forma, acreditamos que todo e qualquer ensino, de alguma forma, contribui, mesmo que não seja para com a sua pesquisa, mas para com a sua essência enquanto ser humano.
Como explorar o conhecimento absorvido em um material?
Um outro ponto ao qual você deve se ater diz respeito à exploração de tudo aquilo que foi aprendido durante a sua trajetória. Nenhum conhecimento é aprendido em vão, mesmo que nesse momento em específico você ache que não é tão útil. Tenha certeza que anos depois ele pode ser muito relevante e fazer toda a diferença em sua vida, seja na pessoal, seja na profissional-acadêmica.
Saiba que todo e qualquer conhecimento pode fazer com que você melhore em alguma camada de sua vida. Contudo, claro, há certos tipos de conteúdo que podem não agregar tanto nesse momento específico.
Além disso, a forma como um conteúdo é apresentado pelo professor também é algo decisivo ao aprendizado rápido de uma dada questão. Nesse sentido, é inevitável que o modo como o professor trabalha irá impactar a sua formação.
Contudo, quando falamos sobre o conhecimento absorvido, estamos nos referindo àquele saber que ao resgatarmos em nossa memória conseguimos colocá-lo em prática quase que de forma automática, o que significa que o ensino daquela forma nos impactou e contribuiu com a nossa formação.
E se uma disciplina foi capaz de fazer com que você gerasse algum conhecimento que te auxiliou em sua jornada, quando você for fazer o resgate de suas memórias para realizar o seu memorial, elas irão emergir com uma maior facilidade.
Entretanto, se a sua instituição exige que você faça um memorial com base nas disciplinas que você cursou no programa de mestrado ou doutorado, mas por algum motivo você possui uma dificuldade de realizar esse resgate, sugerimos que você peça seu histórico para ter certeza de que não está esquecendo de nenhuma matéria que eventualmente você tenha que cursar, mas que ainda não cursou.
O memorial é mesmo importante?
Depende da instituição. Há programas e professores que acham a sua utilização interessante e a apoiam, mas não o tratam como uma exigência, e há outros programas em que o memorial faz parte do quesito de obrigatoriedade.
Ultimamente tem se pedido muito o memorial como um antecedente ao desenvolvimento da dissertação, mais ainda como uma parte dos elementos pré-textuais ou da introdução. Entretanto, se o memorial realmente vai ser cobrado de você ou não vai depender de como o seu programa, o seu orientador ou a sua banca vai avaliar a importância de sua inclusão em sua pesquisa.
Mas mesmo que a sua exigência não seja muito usual, ainda é muito importe que você tenha ciência do que é o memorial e como ele funciona, pois embora muitos programas não estejam interessados no memorial, ele ainda pode vir a ser exigido de você por algum motivo, e se isso acontecer você estará preparado.
Uma resposta
Orientações úteis, detalhadas e com clareza. Muito obrigado!