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Apenas doutores podem publicar um artigo científico? Esclarecendo dúvidas sobre a titulação aceita pelas revistas – Quem pode publicar um artigo científico?

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Esclarecendo as dúvidas sobre a publicação de artigos científicos: quem pode publicar e quais cuidados devem ser tomados?

Olá, tudo bem? Em nosso post de hoje iremos discutir sobre a submissão e publicação de artigos científicos, pois, como sabemos, a partir do momento em que ingressamos em um programa de pós-graduação stricto sensu, isto é, em um mestrado ou doutorado, passamos a ter um compromisso com a acadêmica: a divulgação acerca de como temos conduzido as nossas pesquisas. A melhor forma de assegurar esse compromisso é por meio da publicação de artigos científicos. Como sabemos, nem todos, especialmente aqueles que estão de fora da comunidade acadêmica, têm o hábito de lerem materiais mais extensos, como é o caso das dissertações e teses, e, dessa forma, os artigos científicos surgem como uma estratégia para reverter essa situação, pois a qualidade das informações é a mesma, porém, a sua extensão é menor, o que os torna mais atrativos. Entretanto, precisamos responder: quem pode publicar artigos?

A cultura da publicação de artigos científicos

A cultura da publicação de artigos científicos

Como temos ressaltado ao longo de nossas discussões, não temos, em nosso país, uma cultura de publicação de materiais científicos já desenvolvida. Ela ainda está em processo de consolidação. Há, ainda, um problema. É fato que diversas das nossas revistas científicas acabam priorizando a publicação de artigos científicos produzidos por doutores. Acreditamos que essa discussão deve nos motivar a dar o primeiro passo para que aos poucos consigamos reverter essa situação, tornando as possibilidades para os não doutores mais amplas. Defendemos aqui que o conhecimento deve ser acessível, tanto para quem deseja contribuir com seus textos quanto para quem deseja ler essas produções. Algo que nos afeta e que deve ser compartilhado é que muitos compactuam da ideologia de que o conhecimento deve ser aberto, porém, na prática, ele ainda é muito restrito, sobretudo no que toca à publicação desses materiais.

Uma problemática importante sobre a publicação científica

Temos visto que diversos acadêmicos combatem, por meio de suas pesquisas, as diversas desigualdades sociais que assolam nosso país, porém, ao fazerem certas escolhas, acabam perpetuando essa cultura que restringe o acesso ao conhecimento. Essa problemática surgiu da seguinte questão norteadora: como a cultura de produção do conhecimento ainda está sendo desenvolvida, apenas doutores podem publicar os seus textos? Essa é uma tendência que pode ser mudada de alguma forma? Há uma série de fatores envolvidos nesse processo. Devemos pontuar, de antemão, que a maior parte das nossas revistas científicas estão vinculadas a um programa de pós-graduação stricto sensu. Há revistas que tentam burlar essa lógica, como é o caso da Revista Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Nós publicamos artigos científicos independentemente da titulação dos autores que nos procuram.

A qualidade do material VS a titulação do autor

Nossa revista prioriza a qualidade do material em virtude da titulação do autor desta obra. Temos, hoje, mais de cinquenta mil revistas. A maior parte delas estão vinculadas a um programa de pós-graduação. É fato que historicamente elas têm sim priorizado materiais científicos publicados por doutores, e, em certos casos, doutores de seus programas de mestrado e doutorado. Isso deriva de uma ideologia da academia, que, felizmente, tem sido compactuada por menos acadêmicos. Muitos defendem que a produção científica deve ser feita de doutor para doutor. Você, enquanto doutor, escreverá para outro membro da comunidade científica, que também será um doutor. Contudo, existe uma ampla gama de pesquisadores que a publicação do conhecimento, especialmente nesse contexto, é uma necessidade máxima. Temos um problema: a publicação por pessoas diversas de materiais sem qualidade e segurança.

Reflexos das redes sociais

Reflexos das redes sociais

As redes sociais, de fato, têm impulsionado o acesso ao conhecimento, porém, nem sempre ele é verdadeiro, porque os materiais dificilmente partem de fontes seguras, científicas. Assim sendo, defendemos que, independentemente da titulação de um pesquisador, disseminar o conhecimento científico em espaços diversos é essencial. Ainda há, sim, as pessoas que publicam para doutores, porém, por outro lado, há aqueles pesquisadores que desejam se conectar com as mais diversas pessoas, independentemente de serem mestres e/ou doutores. Além disso, há pesquisadores que priorizam diversos tipos de públicos. Priorizam diversos tipos de produções, desde as revisões de literatura mais simples e artigos de divulgação científica até as produções mais extensas e complexas, o que contribuiu para com a universalização do conhecimento. Consideram as demandas dos níveis mais diferentes.

Os níveis diferentes de interesses e leituras

Os níveis diferentes de interesses e leituras

Alguns artigos comprometem-se com a promoção de uma discussão sobre uma situação que aflige e afeta o dia a dia das mais diversas pessoas, como uma forma de conscientização e alerta. Por outro lado, se você se propõe a realizar um artigo de revisão bibliométrica, os seus objetivos e públicos serão outros. A pesquisa científica pode fornecer subsídios para alunos do ensino fundamental e médio, para graduandos e graduados, para profissionais de mercado (ingressos ou não em um programa de pós-graduação lato sensu), para vestibulandos e concurseiros e afins. Os artigos devem promover discussões sobre fenômenos contemporâneos, como é o caso da COVID. Divulgar informações sobre marcos recentes de sua área, como é o caso da aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados, é de suma importância. Assim sendo, o objetivo aqui é a produção de conhecimento de qualidade para todos da sociedade.

A universalização do conhecimento

Há sim materiais que acabam sendo de interesse maior de pessoas que fazem parte de um rol de pesquisadores que integram uma linha de pesquisa específica. É o caso, por exemplo, de um doutorado com interesse em questões que perpassam pela construção do espaço. Com isso estamos querendo reiterar que sim, certos tipos de artigos podem atingir mais pessoas notoriamente acadêmicas, que estão imersas nesse universo, pesquisando assuntos semelhantes. Estamos, de fato, nos referindo a um outro tipo de público, porém a nossa atenção não precisa se restringir a um único público, visto que um mesmo tema pode ser debatido a partir de estratégias diferentes, considerando as características de cada público, de cada nível de conhecimento. Entendemos que o conhecimento, hoje, independentemente do nível de quem o produziu, é de suma importância para que combatamos os mais diversos problemas.

A importância do conhecimento

A importância do conhecimento

Independentemente desse conhecimento, voltar-se a um aluno de ensino médio/graduação ou a um mestre/doutor, ele é essencial. Além disso, ele volta-se desde aos profissionais da saúde e aqueles que estão dentro da sala de aula até a sociedade em geral. Todos podem e devem ser impactados com essas produções. Acreditamos que por esses motivos essa cultura não irá se manter. Lidamos com uma quantidade imensa de materiais publicados a cada novo dia, porém, eles ainda não têm sido suficientes para combater um grande problema da contemporaneidade: a disseminação de fake news, o que torna todo e qualquer artigo científico, desde que obedeçam os critérios científicos e metodológicos, necessários. Como ainda hoje o conhecimento científico perpassa por alguns entraves para ser publicado, as notícias falsas continuam sendo disseminadas com força nas redes e fora delas.

A fragmentação do conhecimento

A classificação do conhecimento por níveis no sentido de titulação é algo que causa danos à própria disseminação do conhecimento de qualidade. Assim sendo, qualquer pessoa que atenda, a partir dos seus materiais, os critérios científicos e metodológicos têm o direito de publicar nas revistas e esse direito deve ser respeitado. Partindo de autores e fontes seguras e de uma metodologia adequada, não há motivos para que um estudo seja barrado. Felizmente, há diversos acadêmicos que compartilham da ideia de que todo conhecimento, independentemente de titulação, deve ser publicado e aceito por essas revistas. Além disso, trata-se de algo emergencial, pois é a melhor arma que temos para combater essas notícias falsas que a cada dia ganham mais força. Os artigos científicos são essenciais porque viabilizam o nosso sonho de vivermos em uma sociedade cada vez melhor e mais evoluída.

A atenção à linguagem escolhida

A linguagem adotada impulsiona ou limita o acesso aos seus materiais. Precisamos ser realistas, em nosso país, por razões culturais, ainda temos um ensino bastante deficiente. As discussões, interpretações e embasamentos ainda se dão, de certa forma, de modo superficial. Assim sendo, a publicação de artigos científicos com uma linguagem bastante rebuscada e difícil de ser compreendida não é algo vantajoso, pois, novamente, atingirá apenas os doutores. Para que essas pessoas sejam impactadas com a sua produção, é necessário que você estabeleça junto a ela um mesmo nível de comunicação, de modo que todos possam ser entendidos. A comunicação apenas atinge o seu objetivo quando não há ruídos, quando as pessoas entendem o que leram/ouviram. O acesso a esses materiais de forma rápida e fácil é tão importante quanto a escolha da linguagem, que é, também, uma estratégia de acessibilização.

O acesso aberto ao conhecimento

O acesso aberto ao conhecimento

Entendemos que o acesso rápido e fácil aos artigos científicos é essencial para que eles cheguem até a sociedade em tempo real. O conhecimento é necessário para que tanto os acadêmicos quanto a sociedade em geral cheguem às melhores soluções para os diversos problemas que nos atingem diariamente, de forma direta ou indireta. Entretanto, devemos chamar a atenção para o fato de que há artigos que são mais elevados no sentido de linguagem empregada, atingindo ou não a massa. Essa linguagem fará diferença no quanto esse material será aceito entre os acadêmicos e a sociedade em geral. Com isso, precisamos esclarecer um pouco mais sobre os elementos que qualificam essa cultura que prioriza as produções dos doutores. Essa é uma questão de ordem cultural, porém, ela perpassa, também, pelo eixo administrativo. Essa questão está intimamente ligada com a qualis.

Como a qualis influência na cultura da produção científica?

A qualis nada mais é do que um conjunto composto por métricas que mensuram o volume de produções científicas de discentes e docentes ligados a um dado programa de pós-graduação. Assim sendo, não são as revistas científicas que são avaliadas nesse processo, mas sim os programas aos quais estão vinculadas, e, por consequência, os seus professores, alunos, coordenadores e demais membros que integram o programa. Quem recebe essas notas são os programas e são essas notas que determinam o quanto de investimento esses programas irão receber, principalmente bolsas de mestrado e doutorado. Ainda no quesito notas, determinou-se que um dos critérios a serem mensurados nessa avaliação seria a produção dos acadêmicos. Os avaliados no começo eram, sobretudo, os doutores. Eram eles que publicavam e mantinham ou não a nota do programa ao qual estavam vinculados com as suas produções.

O que avalia-se na produção dos acadêmicos?

Desde o princípio da qualis, avalia-se o que esses doutores publicam, a quantidade dessas publicações e onde costumam publicar. Surgiu, daí, a qualis-periódicos. Mensura-se a “qualidade” das revistas onde esses materiais são publicados. É essa qualis que fez com que a publicação científica de pessoas que não são doutores acabasse se esbarrando com diversas restrições, visto que essa cultura passou a ser disseminada (doutores publicam em A1, A2, por exemplo). No princípio, um dos requisitos para que a revista obtivesse uma pontuação alta seria a publicação de materiais de doutores. Assim sendo, nasceu uma confusão, que a nota qualis define a qualidade da revista, o que é um mito. Os editores de revista passaram a aceitar com mais afinco os textos de doutores para elevarem as suas “notas”. Se você não é um doutor ou não está assinando um texto com um doutor, poderá se esbarrar com certas limitações.

Essa era uma estratégia que viabilizava a ambição das revistas em obterem a qualis A. Nessa lógica, quanto maior a titulação dos publicadores, maiores as notas das revistas. Essa é uma questão que suscita brigas até hoje, o que culminou a discussão sobre a nova qualis, a ser implementada nos próximos anos. Muitas revistas que defendem o conhecimento aberto estavam em uma situação de notório desvantagem em relação às bases fechadas, em que você paga para ler e publicar materiais científicos. Havia casos em que para chegar à qualis A precisam integrar essas bases fechadas. Nessas bases, os materiais devem ser pagos e publicados em inglês, inviáveis para quase a população brasileira como um todo. Se essa questão não começar a ser desmistificada, o conhecimento continuará sendo restringido. Precisamos valorizar os mecanismos nacionais para que revertamos essa cultura que, de certa forma, silencia vozes.

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