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Aspectos conceituais sobre o uso e aplicação de drones no georreferenciamento

RC: 82091
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

NASCIMENTO, Francisco Ivam Castro do [1]

NASCIMENTO, Francisco Ivam Castro do. Aspectos conceituais sobre o uso e aplicação de drones no georreferenciamento. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 04, pp. 65-82. Abril. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/tecnologia/drones-no-georreferenciamento

RESUMO

O georreferenciamento pressupõem o conhecimento das reais coordenadas de um objeto na superfície terrestre. Saber onde um objeto de localiza no espaço geográfico é um passo primordial para delimitar e estudar áreas, fenômenos etc. Para isso, são considerados métodos e técnicas que comprovam a exatidão das dimensões e localização destes objetos. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo demonstrar, por meio de pesquisa bibliográfica, a importância do uso de drones para o georreferenciamento de propriedades rurais. Foi possível perceber que em diversos trabalhos com uso de drones houve uma economia financeira, na medida em que os drones executavam tarefas difíceis e perigosas. Além de reduzir custos com logística, os drones trouxeram benefícios ambientais e produtos de alta qualidade com baixo custo financeiro. Os resultados obtidos neste trabalho indicaram que os drones e equipamentos mais sofisticados podem atender às exigências estabelecidas pela Norma Técnica de Georreferenciamento de Imóveis Rurais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), com a devida precisão que este tipo de trabalho requer. É importante destacar que os levantamentos por meio de drones só podem representar os vértices do tipo virtual. Neste sentido, é possível afirmar que ainda há muito trabalho a ser feito, e por ser uma tecnologia nova na área de georreferenciamento, os profissionais ainda buscam por metodologias mais eficazes e eficientes na utilização de drones em campo.

Palavras-chave: Geotecnologias, Mapeamento aéreo, Drones, INCRA.

1. INTRODUÇÃO

O uso de drones e suas tecnologias está crescendo em diferentes aplicações, tais como: fotogrametria, mapeamento ambiental e agrícola, georreferenciamento de imóveis, monitoramento urbano e acompanhamento de obras.

De acordo com Oliveira et al. (2018) há pesquisas que tem se concentrado no processamento em tempo real de dados adquiridos por drones na área de desastres naturais, busca e resgate, agricultura de precisão, entre outros. O uso na área de georreferenciamento de imóveis também tem crescido entre os profissionais ligados às engenharias e geociências devido a praticidade que estes equipamentos têm proporcionado.

Com o surgimento de novas tecnologias de aquisição de dados espaciais, como os drones e sistemas de posicionamento de alta precisão, diversas áreas tem-se beneficiado destas tecnologias como: agrimensura, geografia, engenharia etc. O georreferenciamento de imóveis rurais é uma das áreas que tem passado por uma profunda mudança a partir da maior adoção dos drones ou Veículos Aéreos não Tripulados (VANT’s).

Assim como o computador, os drones são considerados uma tecnologia disruptiva, ou seja, uma tecnologia mais avançada que substitui uma tecnologia anterior. Um dos melhores exemplos para exemplificar esta afirmação é a substituição de aviões como meio de mapeamento aerofotogramétrico por drone ou a substituição das máquinas de datilografia por teclados de computador.

A topografia também tem passado por grandes transformações relacionadas aos métodos e meios de aquisição de dados. Se antes a construção de um mapa planimétrico envolvia a participação de vários profissionais com vários dias em campo, hoje este trabalho pode ser feito por alguns poucos profissionais por meio de levantamento aéreo. Porém, ainda há dúvidas e questionamentos sobre a capacidade destes equipamentos em adquirir dados confiáveis ou próximos, em termos de qualidade, em relação aos dados adquiridos por satélites e demais plataformas de aquisição de dados.

A importância que drones representam para toda a área ambiental requer que haja uma maior atenção por parte dos pesquisadores em divulgar as potencialidades destas tecnologias, bem como indicar quais as áreas que mais podem se beneficiar em relação a redução de custos e praticidade em aquisição de dados. Cabe destacar que a automação e a facilidade na aquisição de imagens, permitiram um aumento um grande aumento no número de usuários, porém não o suficiente de especialistas. Isso demonstra a necessidade de trabalhos que produzam informações que possam ser utilizadas por aqueles que estão à procura de conhecer melhor sobre o uso da tecnologia dos drones na área de georreferenciamento e mapeamento aéreo.

Neste sentido, este artigo busca elaborar uma análise teórica e conceitual sobre a potencialidade do uso de drones para o georreferenciamento de imóveis rurais, bem como as possíveis consequências profissionais e econômicas do uso desta tecnologia sem a devida regulamentação e conhecimento adequado por parte dos profissionais.

2. METODOLOGIA

Este trabalho foi elaborado a partir do método de Estudo de Caso e análise de conteúdo, que de acordo com Yin (2010) permite com que os pesquisadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos que ocorrem na vida real. Para este autor a realização de pesquisas com base neste método é um processo linear, porém interativo.

Foi realizado um levantamento de bibliografias que tratavam da história dos drones, do seu uso na área de georreferenciamento e das suas potencialidades e limitações.  Em seguida, estes textos foram sistematizados, permitindo ter uma ideia geral sobre as características gerais dos drones disponíveis para o georreferenciamento, bem como em relação a atuação no setor. Este artigo também é resultado da experiência do autor na área de mapeamento com drones ao longo dos últimos anos. Isso permitiu dialogar com os autores por meio da experiência teórica e prática.

3. DESENVOLVIMENTO

Os drones de asa rotativa se tornaram populares nos últimos cinco anos graças ao baixo custo dos equipamentos vendidos no Brasil que tiveram como pioneira a empresa chinesa DJI (Dà-Jiāng Innovations) com o oferecimento da sua famosa linha de drones DJI Phantom. Cabe ressaltar que estes equipamentos se diferenciam dos chamados drones de asa fixa. Estes são os mais indicados para mapeamento aéreo pois em alguns casos podem permanecer voando por até duas horas.

O drone Phantom 1, o primeiro de uma linha com várias versões, foi uma das primeiras aeronaves remotamente pilotada de uso recreativo a utilizar o sistema GPS, além de uma relativa facilidade em pilotar, fator que acabou contribuindo para a sua popularização no Brasil. Porém, havia alguns fatores negativos como a baixa durabilidade da bateria, que não chegava a 10 minutos, as imagens captadas saiam trêmulas, e o sinal de GPS sofria constantes interferências. A grande maioria destes problemas foram corrigidos com o lançamento do Phantom 2 por volta do ano de 2014. Agora a bateria teria duração de aproximadamente 20 minutos, além de diversos recursos que facilitavam o voo e manuseio por parte do operador.

Além da qualidade destes equipamentos para Hobby e diversão, o que permitiu a sua difusão de forma mais acentuada, foi a qualidade das câmeras embarcadas, bem como os sistemas que garantiam a estabilidade da câmera. Estas características despertaram a atenção de profissionais da área de mapeamento aéreo e filmagens, possibilitando um avanço sem precedentes na história recente do setor de aerofotogrametria. Isso possibilitou um aumento considerável no número de profissionais e na criação de empresas voltadas para o mapeamento aéreo.

A topografia foi uma das primeiras áreas a se beneficiarem dos produtos gerados pelos drones, pois levantamentos e de medições de ângulos, distâncias e desníveis para a representação de pequenas porções da superfície terrestre em uma escala específica agora poderiam ser realizados por meio de fotografias áreas de alta resolução. Estas operações até pouco tempo eram feitas somente com auxílios de trenas analógicas e digitais, teodolitos, estação total, GPS geodésico, ou imageamentos realizados por aviões adaptados, o que encarecia bastante a coleta de dados. Cabe ressalta que o imageamento de grandes áreas ainda continua sendo feito por avião e/ou satélites de alta resolução.

Para o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e a ANAC (Agência Nacional de Aviação civil) o termo utilizado em documentos oficiais para se referir a um drone ou Vant é RPA (Remotely Piloted Aircraft). Porém, observa-se que entre os profissionais da área a sigla RPA é pouco utilizada e até desconhecida.

Munaretto (2017) afirma que o termo VANT (Veiculo Aéreo Não Tripulado) ainda é muito utilizado no Brasil, porém vem, aos poucos, caindo em desuso devido a adoção a abreviação RPA por parte do DECEA e da ANAC e Drone por parte da grande maioria dos profissionais da área.

Para Chamayou (2015) um Drone é classificado como um veículo aerodinâmico com características especiais e muito semelhantes a de um avião.  Seu objetivo inicial era contribuir com operações bélicas, porém, a possibilidade de aplicações em outras áreas contribuiu para a sua popularização entre profissionais de diferentes áreas do conhecimento, entre elas destaca-se: geógrafos, agrônomos, fotógrafos, geólogos, entre outros.

Pode-se afirmar que a terminologia adotada pelos órgãos reguladores do setor aéreo no Brasil, define que as aeronaves remotamente pilotadas podem ser consideradas e chamadas de VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado). Por isso, por um bom tempo ainda iremos encontrar documentos e textos que citem um dos termos a seguir: Drone, VANT, RPA, RPAs, entre outros.

Diante disto, este artigo irá se referir aos termos Drone e Vant para indicar uma aeronave remotamente pilotada capaz de realizar mapeamento para fins de georreferenciamento, podendo ser de asa rotativa ou fixa, por entender que o uso da palavra Drone facilita o entendimento para os leitores que ainda estão conhecendo as aplicações e funcionalidades desta tecnologia.

Por meio das câmeras embarcadas e recursos tecnológicos avançados, os drones podem substituir, em determinadas situações, aviões e satélites na produção de fotos georreferenciadas de propriedades rurais e urbanas. Suas imagens e dados permitem aos profissionais gerar mapas topográficos e modelos para nivelamento e drenagem, medir a altura das plantas, avaliar as condições gerais da lavoura, localizar plantas daninhas e infestações de pragas (MESQUITA, 2014).

De acordo com Cunha (2018), as imagens geradas por alguns tipos de drones possuem alta qualidade e grande precisão de posição. Estas imagens, estão inclusive, sendo usadas pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) como apoio em atividades de georreferenciamento. Profissionais do setor de georreferenciamento também estão começando a visualizar no uso de drone a possibilidade de automação de algumas atividades, tais como: reconhecimento de campo, mapeamento de pastagens, elaboração de Modelos Digitais de Superfície (MDS) e Modelos Digitais do Terreno (MDT) para auxiliar no processo de planejamento territorial.

O fato de ser controlado remotamente faz dos drones uma ferramenta perfeita para trabalhos que necessitam de imagens e vídeos. Os drones ainda são uteis em trabalhos de riscos como a inspeção de linhas de transmissão de energia e no auxílio a resgate e operações policiais. O emprego destes equipamentos também tem se voltado para áreas de inteligência militar e segurança pública, envolvendo atividades de espionagem, monitoramento de fronteiras, apoio em missões de equipes terrestres, reconhecimento de terreno e obtenção de informações de territórios hostis (LONGHITANO, 2010).

A eficácia de um drone é resultado de suas características, como a existência de avançados componentes tecnológicos, tais como: bateria de longa duração, hélices, placa controladora, receptor, câmeras de alta resolução etc. Os mais sofisticados ainda podem vir até com RTK[2] ou PPK, que são receptores que possuem a capacidade de receber sinais de correção em tempo real com precisão de milímetros para uso em projetos que requerem grande precisão geodésica.

Abraham Karem, engenheiro aeroespacial, é um dos pioneiros quando se fala em drones. É também considerado o “pai dos drones” por desenvolver o Predator que ainda hoje é temido por forças de segurança de todo o mundo. Esta aeronave entrou em operação por volta de 1995. Tinha uma autonomia de voo de aproximadamente 14 horas e poderia ir a uma distância de 730 km. Atualmente o modelo Pradator saiu de operação para dar lugar ao MQ-9 Reaper (Figura 1), modelo muito superior em alcance de distância, autonomia e carga embarcada, tais como: bombas e armas de disparo automático.

Figura 2 – Drone MQ-9 Reaper.

3.1 OS DRONES COMO FERRAMENTA PARA O GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS

O georreferenciamento é considerado um conjunto de técnicas que procura referenciar os objetos da superfície terrestre por meio de coordenadas geográficas conhecidas e representá-los por meio de mapas temáticos. Para que isso ocorra se torna necessário uma série de métodos e técnicas que comprovem a exatidão das dimensões e localizações dos objetos de acordo com a legislação vigente. De acordo com Amorim (2016) o uso de drones tem permitido a realização de fotogrametria por meio da aquisição de imagens aéreas. É importante destacar que mesmo sendo uma atividade recente, os primeiros registros de VANT no Brasil data de 1982 (FAGUNDES, 2019).

Foi produzido um protótipo de VANT, porém teve seu projeto encerrado antes mesmo de ocorrer o seu primeiro voo. Mesmo tendo vários países desenvolvido a capacidade de desenhar, projetar e construir os primeiros protótipos funcionais a cerca de quatro décadas, foi por meio de empresas chinesas que os drones se tornaram populares em todo mundo.

Com o baixo custo e equipamentos cada vez mais sofisticados, os drones da linha Phantom, produzidos e comercializados pela empresa chinesa DJI, começaram a ser utilizados por empresas de mapeamento aéreo, o que despertou e propiciou o aparecimento de várias empresas fabricantes de veículos aéreos não tripulados do tipo asa fixa para mapeamento aéreo. Destaca-se que entre as vantagens das aeronaves de asa fixa estão a maior capacidade em permanecer em voo, o que contribui para o mapeamento de áreas maiores e a aquisição de uma maior quantidade de dados. Entre as empresas brasileiras que se beneficiaram da popularização dos drones estão a: XMobots, Horus Aeronaves, Droneng, SkyDrones e Hexafly, entre outras.

De acordo com Fagundes (2019) os Drones podem ser utilizados para diversas aplicações, destacando-se em áreas como topografia, mapeamento temático, monitoramento florestal, agrícola, inspeção de estruturas para apoio à engenharia e segurança pública.

As tecnologias embarcadas em aeronaves remotamente pilotadas, faz com que não seja necessário o contado direto com o objeto, facilitando e otimizando o tempo despendido em levantamentos de campo (DIAS et al., 2014). Destaca-se que estas ações também podem ser feitas por meio de imagens de satélite, tomando cuidado somente com a resolução e data imagem. Rezende (2019), também afirma que

Os drones aplicados a atividades topográficas possuem câmeras embutidas com a finalidade de obter imagens aéreas que, juntamente com dados de localização geográfica, são capazes de gerar dados topográficos com mais detalhes e rapidez comparados aos levantamentos realizados de forma convencional como com Estação Total ou GNSS RTK, além da utilidade da própria imagem gerada. Em poucos minutos o drone realiza um trabalho que demoraria dias com equipamentos topográficos convencionais (REZENDE, 2019 p.8).

A diminuição do tempo de aquisição de dados, apontada de forma indireta por Rezende, permite afirmar que as ações voltadas para o georreferenciamento de imóveis rurais sejam mais rápidas e eficazes. Com isso, os custos de operações com uso de drone se tornam menores se comparado com as antigas formas de aquisição de dados.

Em relação aos sensores embarcados é possível afirmar que estes variam de acordo com a aplicação desejada. Alguns equipamentos já dispõem de sensores embarcados. Ainda há uma gama de sensores disponíveis no mercado para diversos tipos de aplicações, que vão desde o mapeamento da vegetação até o reconhecimento de objetos por infravermelho. Grande parte dos sensores abordo dos drones são sensores passivos, que neste caso, precisam que o objeto responda a radiação eletromagnética incidente. Também existem sensores multiespectrais, hiperespectrais, câmeras térmicas e sensores ativos do tipo LIDAR (Light Detection and Ranging).

Todos estes sensores devem garantir que a qualidade mínima posicional para o georreferenciamento de imóveis rurais seja alcançada. De acordo com Cunha (2018), a precisão exigida pelas normas do Incra é de aproximadamente 50 cm. O padrão mais restritivo para produtos cartográficos no Brasil é de cerca de 28 cm.

Com drones sofisticados e profissionais treinados, a precisão alcançada em mapeamento aéreo pode ser muito superior ao indicado pelas normas vigentes.  Marques ainda afirma que

O artigo 2º adverte que o Georreferenciamento de imóveis rurais com Drones só serão aceitos se as divisas forem foto identificadas. Neste caso, a altitude da aeronave que capturará as imagens deve ser compatível com a identificação das feições das cercas, onde pode-se observar o final do vértice da divisa na área de interesse. Nesta situação emprega-se as coordenadas encontradas por meio do processamento das imagens capturadas pela drone, sem a necessidade de marco do tipo “M” (MARQUES, 2019 p.432).

3.1.1 ETAPAS DO PLANEJAMENTO DE VOO E O MAPEAMENTO PARA A GERAÇÃO DE ORTOMOSAICOS

Para Fagundes (2019) o planejamento de voo é de extrema importância para o aerolevantamento com drone. É na etapa de planejamento que são definidos todos os parâmetros envolvidos no levantamento, bem como a identificação das limitações do equipamento que será utilizado, o tipo de aplicativo para o planejamento do voo, as configurações da câmera, entre outros.

O profissional deve estar atento as características da área a ser mapeada, tais como: tamanho da área, perímetro, topografia, tipo de vegetação que existe na área, se há rios ou lagos que possam dificultar o acesso a locais mais distantes da propriedade, etc. Estas informações são importantes, pois dependendo do tamanho da área, o profissional deverá subdividi-la em partes menores para a realização do mapeamento, pois alguns drones possuem um alcance limitado ou baterias com curta duração.

Também é importante consultar por meio de sites e agências a previsão do tempo para evitar que uma provável chuva na localidade atrapalhe o mapeamento. Além disso, é importante consultar a direção e velocidade do vento, conhecer as configurações da câmera que será utilizada, a altitude do voo, velocidade do equipamento e a sobreposição mínima das imagens para evitar que partes da propriedade fiquem sem ser mapeadas, evitando assim, a necessidade de retornar à propriedade para a realização de um novo levantamento aerofotogramétrico.

Para Marques (2019), na avaliação e definição do perímetro a ser mapeado, o profissional deve verificar se são visíveis cercas e divisas no mapa gerado pelo drone. Não sendo visíveis, torna-se necessário o georreferenciamento por meio de sistemas de posicionamento de alta resolução. Isso demonstra que mesmo sendo útil para este tipo de atividade, os drones ainda possuem certas limitações para a atividade de georreferenciamento.

Após a etapa de pré-sinalização da área que será mapeada, se torna necessário que seja distribuído alvos artificiais com coordenadas conhecidas. Estas coordenadas irão servir como pontos de apoio (FAGUNDES, 2019).  Os pontos de controle são utilizados para melhorar a precisão do ortomosaico que será gerado a partir das imagens obtidas pelo drone. Estas sinalizações permitem a localização exata de onde o GPS geodésico coletou os pontos

A partir do momento que as imagens forem capturadas e processadas em software específico, essas coordenadas serão posicionadas no centro da marcação em solo, e com isso, será possível georreferenciar o ortomosaico gerado com um erro de poucos centímetros. Cabe ressaltar que antes que o drone seja utilizado para atividade de mapeamento e coleta de imagens é necessário que o drone seja registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), e a atividade de voo registrada no sistema SARPAS do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Por fim, o dono da aeronave terá que fazer um seguro contra danos no casco da aeronave e danos a terceiros que porventura venha a ocorrer.

3.2 BENEFÍCIOS DA UTILIZAÇÃO DE DRONES PARA O GEORREFERENCIAMENTO

De acordo com Fagundes (2019), as aplicações civis com uso de drones são inúmeras, sendo possível explorar novos nichos no mercado interno ou estratégias de atuação. Para Marques (2019), o uso será mais vantajoso na execução do georreferenciamento de imóveis rurais nas seguintes situações:

  • Áreas de grande porte;
  • acidentadas;
  • difícil acesso;
  • Alagados;
  • pantanosas.

Além disso, os drones também apresentam algumas vantagens quando comparados aos métodos tradicionais de levantamento topográfico, a primeira vantagem é no quesito segurança (RODRIGO, 2018). Outra vantagem está na facilidade de manuseio do equipamento.

Neste sentido, é possível afirmar que os drones são ótimos aliados no mapeamento de pequenas e medias áreas, pois possuem facilidade de manuseio e pilotagem, diminuindo os gastos com logística. Estes equipamentos podem gerar produtos georreferenciados de alta qualidade como: modelos digitais de superfície, modelo digital do terreno, curvas de nível, georreferenciamento de propriedades rurais, vegetação, solo e rios, entre outros.

Na Figura 3 e 4 é possível ver alguns exemplos drones de asa fixa. Estes modelos são preferíveis quando se deseja recobrir uma área maior, com um GSD (Ground Sample Distance – tamanho do pixel no terreno) de precisão centimétrica. A velocidade, altura do voo e tempo que permanece no ar é maior que drones de asa rotativa. Esta característica permite que uma área maior seja imageada em apenas um voo.

Figura 3 – Drone/Vant Maptor HS.

Fonte: https://horusaeronaves.com/maptor/

Os equipamentos mais avançados possuem a tecnologia PPK (Post Processed Kinematic), que permite grande precisão espacial mesmo que o drone perca sinal com a base de controle durante um voo de longa distância. Na figura 4 é possível visualizar um modelo de Vant/Drone hibrido que contém asa fixa e asa rotativa. Neste caso a asa rotativa é utilizada para que o drone alcance a altitude necessária para realizar o mapeamento.

Figura 4 – Drones Nauru 500c Vtol.

Fonte: https://xmobots.com.br/nauru-500c-vtol/

De acordo com as especificações da fabricante o drone Nauru 500c Vtol pode ter uma autonomia de voo de até 4 horas e mapear em um único voo uma área de 16.000 hectares. Com esta capacidade de mapeamento, estes equipamentos conseguem superar a dificuldade inicial dos drones, que era mapear grandes áreas.

A figura 5 apresenta um drone da empresa chinesa DJI, referente ao modelo Phantom 4 Advanced. Este modelo, de asa rotativa, é um dos mais acessíveis na área de mapeamento, principalmente para pequenas empresas e profissionais que estão começando suas atividades na área de georreferenciamento e imageamento de pequenas áreas.

Figura 5 – Drone Phantom 4 Advanced.

Fonte: https://www.dji.com/br

A versão 4 da linha phantom foi lançada em 2016, ano em que o setor de drones já estava bastante aquecido no Brasil com a venda de milhares de drones e o surgimento de uma grande quantidade de pilotos amadores. Esta linha já é considerada apta para uso profissional podendo gerar imagens de alta resolução, e tendo alcance de até 7 km em relação ao rádio/controle e uma altura de aproximadamente 1,5 km.

Esta versão é dividida em Phantom 4 “normal”, Advanced, PRO e PRO Plus. No Phantom 4 a autonomia de voo é de aproximadamente 28 minutos, podendo ser inferior dependendo das condições do tempo como temperatura e vento. Já as versões Advanced, PRO e PRO Plus possuem, teoricamente, uma autonomia de voo de 30 minutos. Estes equipamentos são indicados para mapeamento de pequenas áreas e auxílio em atividades de reconhecimento.

3.3 LIMITAÇÕES E CUIDADOS NA UTILIZAÇÃO DE DRONES PARA MAPEAMENTO

Assim como os equipamentos tradicionais, responsáveis pela coleta de dados para o georreferenciamento, a grande maioria dos drones de baixo custo também possuem limitações e custos a serem avaliados. É possível destacar as seguintes limitações:

  • Imageamentos de grandes áreas,
  • Duração limitada da bateria,
  • Maior interferência de fatores atmosféricos como o vento e a chuva,
  • Necessidade de pontos de controle,
  • Necessidades de várias baterias.

Em pesquisa de caso realizada com um drone modelo Mavic PRO, Figueiredo (2019) chegou à conclusão de que o mapeamento de pequenas áreas possui o custo de serviço muito menor quando feito por meio de estação total ou RTK. Este autor afirma que a utilização de estação total apresenta uma redução de custo de 36% quando comparada ao custo da operação com o Drone, considerando o mapeamento de uma área de aproximadamente 1 hectare. Isso pressupõem que os drones possuem uma quantidade mínima e máxima de hectares a serem mapeadas para que o seu uso se torne vantajoso do ponto de vista econômico.

Os erros decorrentes do uso e aplicação dos drones só podem ser corrigidos pelo uso de pontos de controle ou checagem no solo com coordenadas conhecidas adquiridas por equipamentos apropriados (FAGUNDES, 2019). Este é um dos cuidados que precisam ser tomados, pois as imagens geradas por drones possuem, em algumas situações, erros inaceitáveis para uma atividade de georreferenciamento.

As principais desvantagens do uso de drones envolvem os modelos de asa rotativa, pelo fato de possuírem menor autonomia de voo, e por voarem a uma altura mais baixa se comparado aos modelos de asa fixa. É preciso destacar que uma das vantagens dos modelos de asa rotativa é a necessidade de um pequeno espaço para realizar o pouso e a decolagem já que é realizado na vertical. Porém, isso já está sendo superado pelos chamados drones híbridos.

O uso destes equipamentos ainda é restrito a aplicação de aerofotogrametria para a determinação de vértices do tipo M, que são aqueles cujas coordenadas são obtidas a partir de sua localização física (BRASIL, 2018). A utilização de drones para o georreferenciamento também estarão restritas em casos em que os pontos de delimitação de uma propriedade não forem fotoidentificáveis.

Além de observar todas as questões envolvendo as características técnicas da aeronave, do software e da qualidade dos produtos gerados após o processamento, bem como as legislações do Incra que tratam do uso de drones, os operadores e empresas que desejam trabalhar com estes equipamentos devem estar atentos aos documentos que regem o uso do espaço aéreo, que neste caso fica a cargo do Ministério da Defesa. Neste âmbito, é a instrução ICA-100-40 (BRASIL, 2020) sobre aeronaves não tripuladas que rege as orientações que os pilotos de drone deverão seguir para operarem dentro da legalidade neste setor.

4. CONCLUSÕES

A diminuição dos custos de aquisição, operação e manutenção dos drones está permitindo uma economia financeira em serviços que antes demandavam um grande investimento, tais como: mapeamento de pequenas e médias áreas, georreferenciamento com equipamentos de alto custo, entre outros.

Mesmo com a popularização dos drones, os custos para a criação de uma infraestrutura capaz de mapear e processar os dados adquiridos em campo ainda são altos considerando a realidade da maioria dos profissionais brasileiros que concluem seus estudos nas áreas de engenharia, cartografia e geografia, geologia, entre outros.

O uso de drones proporciona uma economia financeira, na medida em que podem executar tarefas difíceis e perigosas sem que envolva o risco humano, além de contribuir com a redução de custos com logística, trazer benefícios ambientais e gerar produtos de alta qualidade com custo financeiro menor se comparado com os métodos tradicionais de georreferenciamento.

Os resultados obtidos a partir de diversos estudos na área de mapeamento com drones indicam que os equipamentos mais sofisticados podem atender às exigências estabelecidas pela Norma Técnica de Georreferenciamento de Imóveis Rurais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). É importante destacar que os levantamentos por meio de drones só podem representar os vértices do tipo virtual. Assim, é possível fazer levantamentos de limites naturais e artificiais de áreas de difícil acesso.

Por serem equipados com tecnologias e sistemas automatizados, tais como: “autopilot”, GNSS (Global Navigation Satellite System), IMU (Inertial Measurement Unit) e por gerar produtos de alta qualidade como: modelo digital do terreno (MDT), modelo digital de superfície (MDS) e imagens de alta resolução, fazem com que os drones se tornem uma ferramenta imprescindível para os profissionais que trabalham com georreferenciamento de imóveis rurais atualmente.

Os profissionais que não aderirem as novas tecnologias envolvendo o mapeamento aéreo com uso de drones, poderão correr o risco de ver seus produtos e prestação de serviços se tornarem obsoletos e por conseguinte, mais caros e menos procurados no mercado.

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE – REFERÊNCIA DE NOTA DE RODAPÉ

2. De acordo com Figueiredo (2019 p.2) o RTK é um GPS onde os dados coletados são processados simultaneamente com o momento da coleta, isso só é possível pois o mesmo é dividido em duas partes, chamadas de base e rover, que se comunicam via rádio.V

[1] Mestre em Desenvolvimento Regional.

Enviado: Janeiro, 2021.

Aprovado: Abril, 2021.

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Francisco Ivam Castro do Nascimento

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