ARTIGO DE REVISÃO
MORA, Eduardo Milani [1], LACQUA, Najla Fernanda de [2]
MORA, Eduardo Milani. LACQUA, Najla Fernanda de. Vírus da Imunodeficiência Humana: Um panorama acerca das infecções no Brasil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 05, Vol. 04, pp. 111-120. Maio de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/imunodeficiencia-humana
RESUMO
A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é causada por um vírus da família Retroviridae, do gênero Lentivirus, com a espécie human immunodefiency virus (HIV), levando um curso crônico da doença e apresentando longo período de latência. O vírus pode ser transmitido por diversas formas para um novo hospedeiro. A epidemia por AIDS se caracteriza como uma questão de saúde pública global. Esse artigo tem como objetivo revelar um panorama acerca da infecção pelo vírus em território brasileiro. A metodologia desse trabalho se baseia em uma revisão bibliográfica de artigos já publicados entre os anos de 1999 e 2019. A identificação das fontes, foi realizada por meio de sistemas informatizados de busca como BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library OnLine). A amostra foi, portanto, constituída de 11 publicações. O trabalho tem como resultado uma análise frente ao quadro de infecções pelo vírus na população brasileira abordando, principalmente, a transição e características, sendo categorizados em grupos sociais, sexo e idade. Concluindo que as infecções ainda se destacam na população masculina, principalmente em homens que fazem sexo com homens, e abordando como as medidas de educação poderiam colaborar com a diminuição da infecção a nível nacional.
Palavras Chave: HIV, AIDS, Brasil, infecção.
1. INTRODUÇÃO
A pandemia da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) começou oficialmente em 1981, quando foi publicado no boletim do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) o relato de cinco casos de homens homossexuais com pneumonia por Pneumocystis carinii, que se apresentava como uma etiologia rara, e nos meses subsequentes centenas de casos foram diagnosticados. Foi observado então, que nesses pacientes havia uma imunossupressão linfocitária. A identificação do agente causal só foi elucidada em 1983, com a descoberta de um retrovírus denominado vírus da imunodeficiência humana (HIV).1
A AIDS é causada por um retrovírus da família Retrovididae, do género Lentivirus, com a espécie human immunodefiency virus (HIV). Se caracteriza por apresentar curso crônico da doença, associado a longo período de latência clínica, replicação viral persistente e envolvimento do sistema nervoso central.1
O HIV pode ser transmitido por via sexual (secreção vaginal e esperma), pelo sangue (transmissão horizontal ou vertical) e por meio da amamentação. A transmissão pode ocorrer mediante relações sexuais desprotegidas com parceiro portador do vírus, utilização de sangue e derivados provenientes de um portador, reutilização e/ou compartilhamento de seringas e agulhas, recepção de órgãos ou sêmen de doadores infectados, acidentes com material biológico e secreção de pacientes.2
No Brasil, homossexuais, homens que fazem sexo com homens (HSH), profissionais do sexo, travestis, transexuais e usuários de drogas injetáveis podem ser considerados como população chave para a epidemiologia da infecção. 2
O primeiro registro brasileiro por infeção pelo HIV se deu em 1980, na cidade de São Paulo, sendo classificado como AIDS dois anos após, em 1982. Mesmo ano onde se foi adotado erroneamente os 5H (Homossexuais, Hemofílicos, Haitianos, Heroinômanos e Hookers [profissionais do sexo em inglês]) como o grupo de risco para a infecção pelo vírus.3
A epidemia de HIV/AIDS a nível mundial, se tornou um relevante problema de saúde pública. Grandes avanços acerca do tratamento da doença têm sido obtidos nos últimos anos. Entre eles, se destaca a terapia antirretroviral (TARV), introduzida na década de 1990, sendo aprimorada no decorrer dos últimos anos, com destaque para a primeira década do século XXI, apresentado diversos incrementos para com o tratamento.4
A respeito da mortalidade por HIV/AIDS tem-se observado uma redução global. Entretanto, regiões como Ásia Central, Europa Oriental, Norte da África e Oriente Médio foi observado um incremento no número de mortalidade em torno de 20% entre 2000 e 2015.4
Por volta dos anos 90, foi instituído no Brasil o acesso de forma gratuita ao diagnóstico e tratamento para HIV/AIDS pelo Sistema Único de Saúde (SUS), apresentando relevante impacto nas políticas públicas de tratamento, desde então, a campanha brasileira visa a tendência mundial de testá-la e tratá-la o mais precoce.4
Em território brasileiro tem se evidenciado que indivíduos entre 15 e 19 anos continuam apresentando taxas crescentes de incidência da AIDS.5 Sendo de forma mais expressiva entre homens que fazem sexo com homens.6,7
Esse artigo visa estabelecer um panorama acerca da infecção por HIV em grandes centros brasileiros por meio de uma revisão bibliográfica a partir de artigos publicados no tocante a este assunto.
2. OBJETIVO
Identificar e categorizar o panorama sobre as infeções por HIV nos principais centros populacionais brasileiros.
3. MATERIAL E MÉTODOS
A revisão bibliográfica é a análise crítica e abrangente das publicações em uma delimitada área do conhecimento.8
A pesquisa bibliográfica busca apresentar e debater um tema com base em referências teóricas já publicadas em livros, revistas, periódicos e outros. Além do mais, busca reconhecer e analisar conteúdos científicos sobre determinado assunto.9
Esta modalidade de pesquisa tem como objetivo colocar o pesquisador em contato com tudo aquilo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto.10
Desta forma, a pesquisa bibliográfica não é apenas uma mera reapresentação do que já foi dito ou escrito sobre determinado assunto, mas sim, proporciona o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a novas conclusões.
Autores ainda reiteram que a ideia da pesquisa é de induzir o contato pessoal do estudador com as teorias, levando à interpretação própria.11
Na elaboração deste trabalho foi realizado uma revisão narrativa da literatura nacional e internacional sobre o tema proposto: identificar e categorizar o panorama sobre as infeções por HIV no Brasil, visto que esta revisão possibilita sumarizar as pesquisas já realizadas e obter conclusões a partir de um tema de interesse.
3.1 LEVANTAMENTO DOS DADOS
A base de dados: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library OnLine) serviram como instrumento para coleta de dados, além de livros de caráter científicos e educacionais.
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
A população do estudo foi composta pela literatura relacionada ao tema de estudo, indexada nos bancos de dados BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library OnLine).
Quanto à amostra, os artigos foram selecionados a partir da variável de interesse, totalizando 11 artigos.
A escolha foi realizada através de uma leitura cuidadosa das teses, artigos e dissertações, encontradas nas bases de dados já citadas, sendo eleito apenas as literaturas que atendiam os critérios de inclusão definidos neste estudo. Foram elencados artigos publicados entre 1999 a 2019, no idioma português e inglês.
3.3 ANÁLISE DOS DADOS
Após leitura criteriosa de todo o material e coleta de dados, as informações primordiais foram compiladas. Onde, posteriormente, foi realizado uma análise descritiva dos assuntos estudados buscando assim estabelecer um entendimento acerca do tema pesquisado, e por conseguinte sendo elaborado este texto.
4. RESULTADO
Desde os anos 80, com o início da epidemia de HIV/AIDS, foi notificado mais de 900 mil casos desta infecção em território brasileiro. Atualmente no Brasil, após um breve período de redução da incidência da infecção pelo vírus ocorreu um aumento no número de indivíduos portadores, segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde mais recente. Nele, mostra um incremento da infecção principalmente em mulheres grávidas e homens jovens que fazem sexo com homens.6
No que se trata a respeito da distribuição por sexo, nos últimos 10 anos, houve uma taxa reduzida de detecção de mulheres de todas as idades, exceto entre 15 a 19 anos, onde houve uma taxa crescente.5,6 Em relação a raça/cor houve um predomínio pela população negra em comparativo com outros grupos raciais.6
Homens homossexuais estão predominantemente expostos ao HIV, sendo que o número de casos nesta população tem aumentado a cada ano. Estudos demonstram que em grandes centros brasileiros a prevalência de HIV em homens que fazem sexo com homens é significativamente maior do que o observado em todo o território nacional, segundo estudos publicados no ano de 2009.7
É importante ressaltar que a notificação compulsória de casos de infecção pelo HIV só se tornou obrigatória no Brasil a partir do ano de 2014, portanto, apenas a partir desde momento é possível analisar os dados de forma mais confiável.5 Estima-se então que o número de casos pela infecção desde o início da pandemia, deve se apresentar de forma superior aos dados hoje disponíveis.5
No ano de 2018, foram diagnosticados 43.841 novos casos de HIV, notificados no SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação), contando com uma taxa de 17,8 casos para 100.000 habitantes; totalizando em um período de 1980 a junho de 2019, 966.058 casos, segundo dados do mais recente Boletim Epidemiológico HIV/AIDS do Ministério da Saúde, publicado em dezembro de 2019.5 Observando o mesmo Boletim, em 2018 foram registrados um total de 10.980 óbitos por causa básica AIDS, revelando assim também um decréscimo no número de óbitos entre os anos de 2014 a 2018.5
O Brasil tem detectado, anualmente, uma média de 39 mil casos novos de AIDS nos últimos cinco anos, mas tem-se observado que o número anual de detecção vem caindo desde 2013. Em um período de dez anos, a taxa de detecção pelo HIV apresentou queda de 17,6%, sendo que as regiões Sudeste e Sul apresentaram tendência de queda nos últimos 10 anos. Pode-se observar de forma gráfica através da Figura 1 extraída do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS do Ministério da Saúde, publicado em dezembro de 2019.5
Figura 1: Taxa de detecção de AIDS (por 100.000 habitantes) segundo região de residência, por ano de diagnóstico. Brasil, 2008-2018.
Ao se analisar dados recolhidos dos documentos estudados nesta revisão de literatura, foi observado que, no Brasil, de 2002 a 2009, havia uma proporção de quinze casos de homens para dez casos de mulheres. Entretanto, a partir do ano de 2010, houve uma mudança gradual nesta proporção, ocorrendo aumento no número de homens portando a infecção em relação ao sexo feminino; como é demonstrado de forma gráfica na FIGURA 2 extraída do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS do Ministério da Saúde, publicado em dezembro de 2019.5
Figura 2. Taxa de detecção de AIDS (por 100.000 habitantes) segundo sexo e razão de sexos, por ano de diagnóstico. Brasil, 2008 a 2018.
O maior número de infectados pelo HIV no Brasil estão entre 25 e 39 anos, em ambos os sexos. Comparando-se os anos de 2008 a 2018, é observado uma redução da detecção em indivíduos masculinos de até 14 anos e nos homens de 30 a 59 anos. Já entre as mulheres percebe-se redução da detecção em todas as faixas etárias.5
Entre os homens, é observado nos últimos dez anos um incremento na taxa de detecção nos indivíduos entre 15 a 29 anos e nos de 60 anos ou mais.5 Já entre as mulheres, no mesmo período de dez anos, a taxa de detecção apresentou queda em todas as faixas etárias.5
É notório um aumento alarmante na detecção de novos casos na população masculina jovem e adulto jovem. Ações preventivas para HIV/AIDS podem não estar acessíveis para essa população.6 Movimentos conservadores, principalmente em ambientes escolares, têm provocado uma imposição de silêncio sobre a sexualidade na educação, impedindo o diálogo sobre gênero, orientação e atividade sexual, e mecanismos de autoproteção.6
Quanto mais bem exposto o padrão, comportamentos de risco e rede de apoio social, melhor podemos estabelecer medidas de prevenção e controle do HIV.6 Um maior número de programas direcionados para a população jovem com o caráter de prevenção ao HIV é urgentemente necessário para prevenir e controlar essa epidemia.6
5. CONCLUSÃO
É possível, analisando todos os dados disponíveis nessa revisão bibliográfica, concluir que o panorama acerca da infecção pelo HIV tem se modificado intensamente ao longo dos anos, sendo de forma mais relevante nos últimos 10 anos. É inquestionável que o número de casos tem aumentado de forma expressiva na população masculina, em praticamente todas as faixas etárias, enquanto na população feminina a taxa tem caído no decorrer dos anos.
Uma medida de educação acerca do HIV/AIDS é necessária a nível escolar, assim, buscando um melhor compreendimento sobre essa infecção sexualmente transmissível (IST), ademais, o acesso à informação sobre IST’s deve estar cada vez mais difundida para todos os sexos e faixas etárias. Tendo assim, como objetivo um maior entendimento acerca do HIV/AIDS e buscando um melhor controle e prevenção dessa epidemia.
REFERÊNCIAS
1. TAVARES, Walter. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das Doenças Infecciosas e Parasitárias. 4. ed. atual. e aum. v. 1. Rio de Janeiro: Ateneu, 2015.
2. MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Governo Federal. Guia de Vigilância Em Saúde. In: Guia de Vigilância em Saúde. 1. ed. Brasília – DF: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: http://saude.gov.br/. Acesso em: 19 jan. 2020.
3. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (Brasil). A EPIDEMIA DA AIDS ATRAVÉS DO TEMPO. In: A EPIDEMIA DA AIDS ATRAVÉS DO TEMPO. [S. l.], 2007. Disponível em: http://www.ioc.fiocruz.br/aids20anos/linhadotempo.html. Acesso em: 16 jan. 2020.
4. GUIMARAES, Mark Drew Crosland et al. Mortalidade por HIV/Aids no Brasil, 2000-2015: motivos para preocupação?. Revista brasileira epidemiologia., São Paulo, v. 20, supl. 1, p. 182-190, Maio 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2017000500182&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 21 Jan. 2020.
5. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde.
Boletim epidemiológico HIV-Aids. Brasília, DF: Ministério da
Saúde; 2019.
6. TAQUETTE, Stella Regina; RODRIGUES, Nádia Cristina Pinheiro. Human immunodeficiency virus/acquired immunodeficiency syndrome epidemic in adolescents from a Brazilian metropolis (1978-2017). Revista Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba , v. 53, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822020000100608&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 21 Jan. 2020.
7. KERR, L; KENDALL, C; GUIMARÃES, MKC; MOTA, RS; VERAS, MA; DOURADO, I; et al. HIV prevalence among men who have sex with men in Brazil: results of the 2nd national survey using respondent-driven sampling. Medicine (Baltimore). Maio 2018; 97(1S Suppl 1):S9-S15.
8. TRENTINI, M.; PAIM, L. Pesquisa em Enfermagem. Uma modalidade convergente-assistencial. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.
9. MARTINS, G.A.; PINTO, R.L. Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos. São Paulo: Atlas, 2001.
10. MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
11. DEMO, P. Pesquisa: Princípios científicos e educativos. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
[1] Graduando em Medicina pela Universidade Brasil.
[2] Graduando em Medicina pela Universidade Brasil; Graduada em Odontologia pela Universidade Estatual de Londrina.
Enviado: Abril, 2020.
Aprovado: Maio, 2020.
Uma resposta
tudo bem? gostei muito do seu site, parabéns pelo conteúdo. 😉