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Diálogo entre as Ciências Biopsicossociais: Etiologia e Manutenção do uso do Crack

RC: 23084
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

BARROS, Dominique Rodrigues [1]

BARROS, Dominique Rodrigues. Diálogo entre as Ciências Biopsicossociais: Etiologia e Manutenção do uso do Crack. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 11, Vol. 07, pp. 41-53. Novembro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

Neste artigo é proposto o diálogo entre as Ciências Biológicas, Psicológicas e Sociais para compreensão dos fatores biopsicossociais envolvidos na dependência química do Crack, onde o sujeito é considerado em sua totalidade, visto como um ser dotado de características biológicas, sociais e psicológicas. Para o desenvolvimento do presente artigo foram utilizadas pesquisas bibliográficas. A pesquisa bibliográfica baseou-se em publicações cientificas sobre a dependência química do Crack, onde foram analisados artigos, teses, monografias, livros e arquivos via internet. O sujeito dependente químico do Crack muitas vezes se encontra em situação de vulnerabilidade biológica, social e psíquica, sendo necessário a compreensão de cada saber isolado para então fomentar a interdisciplinaridade no cuidado com o dependente químico, entendendo e respeitando a sua subjetividade. Nesse sentido é observada a necessidade de estudos acerca do sujeito em sua particularidade para então traçar alternativas mais eficazes de tratamento, sendo que hipoteticamente o fator determinante da dependência pode ser um fator isolado ou diversos.

Palavra-chave: Biopsicossociais, Crack, Biológicas, Sociais, Psicológicas.

INTRODUÇÃO

A dependência química do Crack vem sendo um problema em nossa sociedade que atinge pessoas em várias classes sociais, causando danos para o próprio indivíduo quanto para o meio que o envolve. Sendo assim, é de suma importância o estudo dos determinantes da dependência química do crack, para então compreender o sujeito em sua totalidade e subjetividade.

A escolha deste tema tem bastante importância para nossa sociedade contemporânea, pois hoje em dia em nosso meio o uso indevido das drogas está sendo um problema na nossa sociedade, sendo necessário um campo mais amplo de pesquisa em relação ao tema, onde teremos uma gama maior de compreensão sobre os aspectos envolvidos na dependência química, podendo assim visualizar novos olhares e quebrar preconceitos que são criados pela sociedade que podem dificultar nos métodos que são utilizados com os sujeitos que se encontram em situação de dependência química do crack.

Desta forma, o presente artigo faz o detalhamento isolado dos fatores que podem causar a dependência química, sendo que o sujeito considerado único e autônomo pode estar envolvido em vários fatores ao mesmo tempo, o que o presente trabalho pode favorecer na ampliação de olhares acerca do tema em questão.

REVISÃO DE LITERATURA

MODELO BIOLÓGICO – PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA E HEREDITARIEDADE

Dentre as ciências que vem nos mostrar a etiologia da dependência química a visão da ciência biológica nos mostra que deriva de questões hereditárias ou até mesmo preposição genética, como afirma Mota (2008, p. 32):

A relação entre a etiologia da dependência química e as ciências biológicas deriva da ideia de predisposição orgânica e hereditariedade. […] O organismo do dependente químico seria diferente do das “pessoas normais” em virtude de sua própria constituição fisiológica (MOTA, 2008, p.32).

Conforme Mota (2008) existe um componente genético como em algumas outras doenças como o câncer e o diabetes, onde também existe um específico componente genético que possa interferir nos padrões de vulnerabilidade de alguns indivíduos à dependência de álcool e drogas, sendo tais genes transmissíveis através das gerações, afirma Mota. Nesse sentido Messas e Filho (2004, p. 55) observam que “pode-se afirmar a presença de um componente genético em todas as dependências de drogas”. Em outros termos, a vulnerabilidade à dependência de álcool e drogas pode ser herdada. Atualmente existem vários estudos acerca das contribuições e influencias da biologia, em especial das questões hereditárias. Os estudos são realizados geralmente com crianças gêmeas e filhos adotivos, como afirma Mota (2008, p. 39):

A literatura recente sobre a etiologia genética da dependência química baseia-se em estudos epidemiológicos conduzidos entre famílias, gêmeos e filhos adotivos. Dentre esses, os estudos com filhos adotivos pretendem maiores índices de “objetividade”, uma vez que verifica-se prevalência de indivíduos que conviveram desde poucas semanas de vida em famílias adotivas sem problemas de abuso de álcool e tornaram-se alcoolistas (em virtude de serem filhos de pais alcoólicos), em detrimento de outras crianças adotadas cujos pais biológicos não apresentavam o problema (MOTA, 2008, p.39).

As predisposições genéticas não se limitam apenas para a questão da dependência química, mas se estende para outros tipos de problemas de saúde mental, como tiques, gagueira, hiperatividade, transtorno de conduta, transtorno obsessivo, mania e ansiedade generalizada (MOTA, 2008). A medicina moderna nos leva a crer que a dependência química de drogas é uma patologia de origens cerebrais, como afirma Mota (2008, p. 40-41):

A Organização Mundial da Saúde argumenta que as descobertas sobre as bases biológicas da dependência química pelas neurociências permitem desmistificar a drogadição como uma patologia decorrente de uma fraqueza moral. Procura-se romper o estigma relacionado à dependência de álcool e drogas projetando no cérebro, e não no indivíduo, a causa primária de seu problema (MOTA, 2008, p. 40-41).

Nesse sentido temos a dependência química como sendo um transtorno cerebral como qualquer outro, sendo assim necessário uma atenção acerca dos processos cerebrais para que possa assim uma compreensão e tratamento mais efetivo acerca do assunto.

O EFEITO DO CRACK NO CÉREBRO

As substâncias contidas no Crack atingem de forma direta o Sistema de Recompensa Cerebral (SRC), a cocaína que é a grande mãe do crack vai atingir justamente nesta área, provocando uma certa sensação de prazer “não natural”, como afirma Figlie, Bordin e Laranjeira (2004), onde as substâncias psicoativas que possuem no crack agem de forma direta no Sistema de Recompensa Cerebral (SRC), que também é conhecido como “centro do prazer”, o que a droga faz é proporcionar o prazer “não- natural”.

Nesse sentido, o crack vai atuar nas questões relacionadas ao prazer do individuo, e isso explica o motivo pelo qual o sujeito quer usar a droga, pelo prazer momentâneo que a mesma vai proporcionar. Sendo assim Figlie, Bordin e Laranjeira (2004) acrescenta que o principal neurotransmissor que age no sistema de recompensa é a dopamina, com o uso do crack acontece uma alteração do funcionamento dos neurônios, pois a cocaína é uma inibidora de receptação da dopamina. O excesso neuroquímico que acontece na fenda sináptica fornece a sensação de prazer, e por esse motivo a cocaína provoca a sensação de recompensa “não-natural”.

Após um certo período usando a substância, o corpo começa a ficar dependente do mesmo, ou seja, começa a ser necessário o uso da droga para que as funções do sistema tenham sua funcionalidade correta.

Com o tempo esse circuito começa a necessitar da droga para poder executar suas funções normalmente, passando a produzir menos dopamina e gerando ansiedade, humor alterado, anedonia, diminuição da energia e até problemas cognitivos (CUNHA, 2006, apud OLIVEIRA, 2010, p.2).

Sendo assim, o corpo acaba por ficar biologicamente dependente da substancia química, causando alterações biológicas, comportamentais e cognitivos.

PROBLEMAS NEUROLÓGICOS CAUSADOS PELO USO ABUSIVO DO CRACK

O uso abuso do crack pode acarretar vários problemas neurológicos, sendo que quanto menor o período de abstinência, maiores os danos momentâneos. Ardila et al. (1991), fizeram um estudo onde comprovaram que os usuários de cocaína com 30 dias sem o uso da droga possuíam prejuízos nas tarefas de memória verbal, visual, atenção, nomeação e capacidade de abstração.

Outro estudo foi realizado com o mesmo objetivo, porém com um período maior de abstinência, em torno de seis meses. Os resultados demonstraram diferenças em relação às tarefas que requeriam sustentação da atenção, concentração, novas aprendizagens, memória visual e verbal, fluência verbal, integração viso motora e alterações no fluxo sanguíneo cerebral (STRICKLAND et al, 1993).

Selby e Azrin (1998) realizam um estudo com dependentes do crack em um período de três anos de abstinência, e o resultado foi que após um longo período de abstinência é bem provável que a atividade neuroquímica se regularize.

Cunha et al. (2004) realizou um teste de avaliação de desempenho neuropsicológico em usuários de crack durante a segunda semana de abstinência, e verificou comprometimento em várias áreas de funcionamento cognitivo, como a atenção, memória, aprendizagem verbal, linguagem, funções executivas e visosespaciais.

Uma das áreas mais afetadas pela substância são as função executivas que consiste na capacidade de iniciar ações, planejar e prever meios de solucionar problemas, adiantar consequências e modificar estratégias de forma flexível (LEZAK, 1995). A cocaína provoca contrações nas artérias causando pequenos derrames que acabam por ser imperceptíveis, como afirma Silveira et. al. (2001, apud, OLIVEIRA, 2010, p.3-4):

A cocaína é um potente vasoconstritor, provoca uma contração das artérias, principalmente das cerebrais, alterando o fluxo sanguíneo cerebral. A constrição agride as paredes dos vasos e as deixa mais vulneráveis a pressão feita pelo fluxo sanguíneo, assim as chances de ocorrer um derrame são maiores no usuários de cocaína. O que acontece muitas vezes são pequenos derrames, muitas vezes imperceptíveis, mas que ao longo do tempo podem ter um efeito avassalador, pois são responsáveis pela perda gradativa da atividade cerebral, podendo ocasionar uma atrofia no cérebro (SILVEIRA el atl., 2001, apud OLIVEIRA, 2010, p. 3-4).

Nesse sentido podemos observar que os danos cerebrais causados pelo abuso do crack pode ser devastador, sendo de suma importância a conscientização sobre tais danos, para que os indivíduos possam assim estar cientes dos danos que a droga pode causar em seu sistema cerebral, comprometendo no seu funcionamento normal em sociedade.

MODELO SOCIOLÓGICO SOBRE A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

O modelo sociológico que vem nos explicar a etiologia da dependência química, vem justificar os fatores sociais como causadores e mantedores do uso de substâncias psicoativas, como afirma Mota (2008, p.47) “Um modelo estritamente sociológico da dependência química deverá centrar-se naquilo que se pode denominar de fatores sociais de risco que favorecem o uso e abuso de álcool e drogas”.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004, p.23), os fatores ambientais de risco e proteção que interferem na etiologia da dependência química são os seguintes: Fatores de Risco: fácil disponibilidade de drogas, pobreza, mudanças sociais, cultura permissiva do círculo de amigos em relação ao uso de drogas, profissão, normas, atitudes culturais e ausência de políticas sobre álcool, tabaco e drogas. Fatores de Proteção: situação econômica estável, controle das situações, apoio social, integração social e acontecimentos positivos na vida.

FAMÍLIA E ROTULAÇÃO DA SOCIEDADE

A dependência química afeta tanto o sujeito que faz o uso da droga quanto a própria família, causando vários impactos dentro do ambiente familiar, como por exemplo nas relações entre os membros da família, nesse sentido Pereira (2008, p. 58) propõe que “A Dependência Química dentro de uma família traz uma grande dose de estresse, transformando-se rapidamente em uma doença de todo o grupo familiar. Este estresse é responsável pelo rompimento da estabilidade”.

Nossa cultura ainda não reconheceu a diferença entre usuário de drogas e o dependente químico, causando assim certos preconceitos acerca dos indivíduos que estão usando algum tipo de psicotrópico, dificultando nos processos de tratamento e até mesmo da família em relação ao sujeito, como afirma Caldeira (1999), onde nossa cultura não sabe ainda diferenciar o usuário de drogas e o dependente químico, tendendo a tratar todos como sendo desviantes, criminosos que merecem ser punidos, ameaça para sociedade, ou até mesmo doentes que estão necessitando de ajuda.

Esse tipo de rotulação acerca do que é o usuário de drogas, acarretada de preconceitos leva a um prejuízo na recuperação dos que se encontram em situação de dependência, causando muitas vezes o aumento no uso dessas substâncias, como afirma Pereira (2008, p. 62):

A associação reducionista do uso de drogas ilícitas à marginalidade, à improdutividade e à violência, impede uma compreensão mais ampla da questão. E, dentro dessa visão, o impacto que o uso de drogas ilícitas causa na família, pode provocar reações de rejeição e exclusão do usuário, levando, muitas vezes, ao aumento do consumo. Além disso, o “terror” que habita o imaginário social com relação a essas drogas, frequentemente leva a banalização do uso de outras drogas (lícitas), que, se usadas de forma abusiva, podem provocar efeitos tão destrutivos quanto às primeiras (PEREIRA, 2008, p.62).

Nesse sentido é de suma importância que a família compreenda todos os aspectos envolvidos no uso das drogas, para que então possa lidar melhor com a situação, evitando assim prejuízos tanto para a família como um todo, como para o próprio individuo em situação de dependência química.

MODELO PSICOLÓGICO- RELAÇÃO DO EU COM A DROGA

O que caracteriza muitas das apreciações psicanalíticas sobre a dependência química é o fato de a droga surgir como um objeto substitutivo para uma carência psíquica. Assim, a dependência química poderia ser interpretada como uma tentativa de retorno aos estados prazerosos da infância através da busca pelas sensações lúdicas proporcionadas pelas drogas (Bordin, Figlie e Laranjeira, 2004).

De acordo com Olievenstein (2003, p. 41) nos modelos psicanalíticos a dependência química, ao contrário do modelo de doença, é geralmente compreendida como um sintoma e não necessariamente uma causa, embora isto sempre implique uma relação de reciprocidade. No caso a dependência é vista como um problema secundário, não uma doença primária. Em suma, o indivíduo usa drogas para lidar com seus problemas, mas acaba amontoando outros problemas quando nele se instala um padrão de uso patológico, ou seja, quando o indivíduo se torna dependente da substância. Assim, na tentativa de viver continuamente sob o domínio do princípio do prazer, o indivíduo incorpora à sua rotina um hábito de consumo de psicoativos que tem como objetivo gerar a dependência de drogas. Sendo assim, “toda toxicomania é um substitutivo, máscara para não se olhar no espelho que está quebrado”.

No mesmo sentido onde o foco se dá ao individuo e não propriamente a droga, o tratamento terapêutico com viés psicanalítico vem buscar nas profundezas do sujeito a etiologia do problema, e assim levá-lo a entender a sua problemática, capacitando-o à terapêutica. A psicanálise explica que a etiologia da dependência química deriva-se de uma fixação na fase oral como sendo a etiologia da dependência química como afirma Freud (1905, p.187) “Se a fixação persistir nas crianças quando crescerem (…), terão motivos para beber e fumar”. Nesse sentido, Bordin, figlie e Laranjeira (2004) a droga surge como um objeto substitutivo para uma carência psíquica. Dessa forma, a dependência química poderia ser interpretada como uma tentativa de retorno aos estados prazerosos da infância através da busca pelas sensações lúdicas proporcionadas pelas drogas.

O foco está sempre no sujeito em si, em sua personalidade, como afirma Mota (2008, p.45). Na psicoterapia a subjetividade é colocada em primeiro plano, sendo esta entendida como o local onde ocorre a eclosão dos distúrbios psíquicos, incluindo a dependência de drogas. O mundo externo passa a ser compreendido como uma realidade “virtual”, visto que ele refere-se a uma simples “projeção” do mundo interno, sendo muitas vezes desprezado o fato de que a realidade “interna” do indivíduo também é resultante de um processo de interiorização da realidade social que o circunda. Em algumas situações, o analista pode desprezar queixas sociais como desemprego ou queda da renda familiar como causas de um eventual desgaste conjugal ou depressão e procura tratar o paciente através de recursos terapêuticos que objetivam atuar na estrutura de sua personalidade.

Esse modelo individualista de pensamento psicanalítico acerca da psicoterapia, é contraposto pelo pensamento de Freud, que em suas escrituras sempre mostrou a influência da nossa civilização sob o individuo, como afirma Mota (2008, p. 46) que para Freud, ele nunca imaginou o homem fora de sua cultura, pois uma das principais fontes de compreensão do homem era a formação do mundo psíquico sob a influência da civilização e de seus aparatos de repressão. Nesse sentido, podemos observar que os aspectos sociais não podem ser excluídos da compreensão etiológica da dependência química.

No entanto, a objetividade do processo terapêutico é de buscar o conteúdo latente, ou seja, os conteúdos subjacentes da dependência química, como afirma Mota (2008,p.46) :

Mas em sua atividade prática o terapeuta é constrangido a esmiuçar os aspectos da individualidade do dependente químico na busca da etiologia de sua dependência. Assim, um tratamento psicanalítico da dependência química implicaria a remoção de traumas subjacentes à dependência, proporcionando uma mudança na relação indivíduo-droga (MOTA, 2008, p. 46).

Em suma, de acordo com o Modelo Psicanalítico, as dependências são causadas devido a uma fixação que ocorre na fase oral, sendo necessário uma investigação da vida do sujeito, para que possa aprofundar nas individualidades do individuo, e assim traçar estratégias de tratamento psicológico.

DEPENDÊNCIA PSICOLÓGICA

Existem quatro tipos de usuários de drogas, que são o experimentador, o ocasional, o habitual e o dependente, como afirma Ribeiro (2009, p. 338):

Um recente estudo encomendado pela Unesco, […] distingue quatro tipos de usuários de drogas: o experimentados, que experimenta um ou vários tipos de drogas, mas seu contato se restringe às primeiras experiências; o ocasional, que utiliza uma ou várias drogas de vez em quando, sem, no entanto, apresentar dependência; o habitual, que faz uso frequente, mas ainda “funciona” socialmente; e o dependente (chamado também de „taxicômano‟), que vive pela e para as drogas e seus vínculos sociais são por elas bastante prejudicados ou até mesmo rompidos (RIBEIRO, 2009, p. 338).

Nesse mesmo sentido, de acordo com o DSM IV (1994), existem critérios diagnósticos para que seja constatada a dependência química em um individuo, são eles: tolerância, abstinência, consumo maior que o pretendido de início, perda de controle, dispêndio de muito tempo para a substância, relevância do uso e fracasso do indivíduo em abster-se da sua utilização. Já no mesmo sentido a OMS (Organização Mundial da Saúde), defende que seja necessário considerar a quantidade, a frequência do uso e pelo menos três dos seguintes sinais:

compulsão, consciência da dificuldade para controlar o uso, uso para atenuar sintomas de abstinência, evidência da tolerância, consumo em ambientes não propícios ou a qualquer hora, perda de prazeres ou interesses, retorno ao uso de drogas após período de abstinência com reinstalação do quadro anterior e persistência do uso em detrimento das evidências danosas (RIBEIRO, 2009, p. 339).

De acordo com a Psicanálise, existem também diferentes tipos de consumo de drogas, não sendo todos considerados como condição mórbida, como afirma Pacheco Filho (2003, p.134), “nem todo consumo de drogas deve ser enquadrado na condição mórbida para a qual se criou uma profusão de denominações: drogadição, dependência, vício ou toxicomania”, sendo assim, o uso do termo „toxicomania‟ é usado para quando não existe um uso habitual e recreativo, como afirma Conte (2000, p. 11), “O conceito de toxicomania exclui o uso eventual, recreativo ou habitual das drogas. Considera-se a „toxicomania‟ a relação intensa e exclusiva, na qual o uso de drogas já se tenha estabelecido também como uma função psíquica do sujeito”.

Segundo Araújo (2007), existem pesquisas que indicam que grande parte da população que já experimentou algum tipo de droga não se tornou dependente químico, porém de acordo com um relatório de drogas publicado pela Organização das Nações Unidas em 2007 diz que cerca de 200 milhões de indivíduos usam drogas no mundo sendo que apenas um oitavo delas tem problemas de dependência química. Nesse mesmo sentido Ribeiro (2009, p. 339):

Menos de 10% das pessoas experimentam uma droga, alguma vez na vida, farão desse uso o que é considerado uma „toxicomania‟. E sendo assim, é cabível supor que o contexto sociocultural atual, mesmo contribuindo para um aumento significativo do consumo de substâncias tóxicas, através do imperativo do „prazer a qualquer preço‟, não é suficiente para explicar o porquê de alguns sujeitos, com singularidades e idiossincrasias, fazerem da droga uma escolha mortífera, nos casos chamados de „toxicomanias‟ ( RIBEIRO, 2009, P. 339).

A dependência química deve ser determinada a partir de aspectos envolvidos no uso do sujeito, levando em conta que grande parte da população já experimentou algum tipo de droga e não se tornou um dependente. Porém, a droga em questão é o crack, o que já anteriormente foi dito que é uma droga de alto índice de dependência, sendo importante a reflexão e a separação dos vários tipos de drogas existentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias de hoje observamos o uso do crack como sendo algo preocupante, pois é uma droga de fácil dependência química. Por esse motivo, estudar o indivíduo em seus aspectos biopsicossociais proporciona a melhor compreensão do sujeito a respeito de suas condições em relação às vulnerabilidades biológicas, sociais e psicológicas que interferem no grau da dependência química do crack.

No decorrer do trabalho foi exposto a temática em questão, e hipoteticamente a compreensão dos aspectos biopsicossociais como um todo, onde estes modelos quando usados com o mesmo propósito consegue abarcar maiores quantidades de detalhes e assim uma melhor compreensão do sujeito.

Desta forma é de suma importância que esta temática seja colocada em debate, se colocando à disposição de abranger novos conceitos e teorias, para que assim possa desenvolver métodos para ajudar na reabilitação de dependentes químicos do Crack.

O foco no individuo e não na droga, nos leva a fazer uma investigação sobre o individuo, buscando analisar sua subjetividade e os aspectos que estão causando a dependência química da substância.

REFERÊNCIAS

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[1] Graduanda em MBA Executivo em Gestão da Psicologia Organizacional pelo Instituto Graduarte (2018), Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Mineiros (2016).

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Dominique Rodrigues Barros

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