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Ruído em Salas de Aula de Escolas Municipais de Ponta Grossa: Associações com Distúrbios Vocais em Professores e Demais Fatores

RC: 14248
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CONTEÚDO

KUBASKI, Juliana Rutte [1], MOREIRA, Luciana dos Passos [2], MICHALOSKI, Ariel Orlei [3]

KUBASKI, Juliana Rutte; et.al. Ruído em Salas de Aula de Escolas Municipais de Ponta Grossa: Associações com Distúrbios Vocais em Professores e Demais Fatores. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 03, Vol. 04, pp. 93-103, Março de 2018. ISSN: 2448-0959

Resumo

Professores são profissionais que apresentam grande risco no desenvolvimento de distúrbios vocais, e os ruídos que permeiam durante as aulas proporcionam uma maior taxa desses distúrbios. Essa pesquisa tem por objetivo aferir os níveis de ruído aos quais os professores do ensino fundamental de 20 escolas municipais de Ponta Grossa, PR, estão expostos enquanto lecionam, aplicar um questionário aos mesmos, avaliar se os níveis estão de acordo com a NBR 10152/1987 e encontrar medidas que reduzam o ruído e preservem a saúde do professor. Foram realizadas 35 medições com dosímetros digitais DOS-1000 e respondidos 43 questionários. A média dos níveis de ruído para todas as escolas foi de 75,6 dB e as respostas, tanto positivas quanto negativas nos questionários. Os elevados níveis encontrados ultrapassaram o prescrito pela referida norma, corroborando com algumas das respostas ao questionário, também verificou-se possíveis associações entre os níveis de ruído encontrados, as questões respondidas e os distúrbios vocais. É irrefutável a necessidade da conscientização dos professores por parte da escola quanto a importância de práticas de treinamentos vocais visando a saúde do professor e a qualidade de ensino, assim como a aplicação de medidas para a redução do ruído segundo a realidade de cada escola.

Palavras-Chave: Ruído, Distúrbios da Voz, Docentes.

1. Introdução

Nas últimas décadas observou-se um aumento da preocupação com a qualidade de vida, priorizando o bem estar e conforto dos indivíduos e consequentemente solucionando muitas doenças1. Aliado a isso, há também uma preocupação com o ambiente de trabalho e sua relação com a saúde dos trabalhadores. A poluição sonora, por exemplo, é um problema que está aumentando cada vez mais, com isso o seu controle se faz necessário por meio de ações que visem minimizar as consequências trazidas às pessoas e também para que a saúde da população melhore2.

Muitas pessoas que utilizam a voz como um importante instrumento de trabalho podem apresentar distúrbios vocais, como os clérigos, terapeutas, cantores, telemarketers e professores. Porém, em relação as diversas classes profissionais, os professores são os que apresentam grande risco em relação ao desenvolvimento de distúrbios vocais. Uma ampla pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que 57,7% dos professores apresentaram um problema de voz ao longo de suas vidas e que apenas 28,8% dos indivíduos que não eram professores apresentaram esse problema3, 4, 5, 6.

O distúrbio vocal que tem relação com o trabalho é definido como qualquer forma de disfonia relacionada diretamente à utilização da voz enquanto o profissional está trabalhando, implicando no comprometimento, diminuição ou impedimento da comunicação e/ou atuação do indivíduo4.

As causas dessas disfonias podem surgir de alguns fatores como ruído ambiental, não beber água, grande número de alunos em sala de aula, bem como a presença de alunos indisciplinados, quantidade considerável de funções ou atividades, grande demanda vocal, extensa carga horária e estresse. Outros fatores como a limpeza, alergia a poeira, giz, equipamentos e postura inadequados, má qualidade do ar, iluminação e espaço físico não adequado, como tamanho da sala, interferem na qualidade do ambiente onde o professor trabalha contribuindo negativamente em relação aos distúrbios da voz3, 5.

O uso intenso da voz por longos períodos de tempo podem associar-se a alguns problemas, dentre eles podem-se citar as patologias da voz, como por exemplo pólipos, nódulos e edemas das pregas vocais e as alterações fisiológicas na laringe, como a fadiga e tensão muscular3, 4, 5, 7, 8. Ainda como consequências dos distúrbios vocais tem-se o absenteísmo, redução da carga de trabalho, adoecimento, afastamento e incapacidade de trabalho temporária, diminuição de atividades, impacto econômico negativo e dificuldades de socialização nos âmbitos profissionais e pessoais, podendo culminar no afastamento funcional definitivo3, 8.

Vários artigos apontam que, entre os fatores ambientais, salas barulhentas proporcionam uma maior taxa de distúrbios vocais em professores que nelas lecionam. Consequentemente esse rúido interno aliado aos ruídos externos à sala e até mesmo externos à escola resultam num grande obstáculo à boa qualidade na educação e à aprendizagem dos alunos, como também prejudica a atenção e concentração dos professores. Existe ainda o chamado “Efeito Lombard” que ocorre quando o professor eleva sua intensidade vocal afim de superar os ruídos presentes no local, tendência essa que é muito corriqueira. Um estudo realizado com professores aponta ainda que essa elevação da intensidade da voz foi o principal risco para o aparecimento de problemas vocais6, 9, 8, 1, 10.

O som pode ter sua intensidade mensurada e quantificada por meio de aparelhos que apontam os resultados em decibéis (dB)1, 9. Estudos mostram que o professor aumenta a intensidade da sua voz entre 10 a 30 dB acima dos ruídos ambientais presentes 2, 8. Outras pesquisas analisaram ainda que a intensidade média de ruído em instituições educacionais ultrapassava 70 dB11.

Em vista da grande ocorrência de distúrbios vocais em professores e da relação desse infortúnio com os ruídos que permeiam durante as aulas lecionadas pelos mesmos, este artigo tem por objetivo realizar medições de ruídos aos quais os professores estão expostos durante as aulas, distribuir um questionário aos mesmos e avaliar se os valores obtidos nas aferições estão dentro dos padrões de conforto acústico ditados por norma e encontrar possíveis associações entre as aferições e as respostas às questões. Assim como encontrar soluções de medidas de higiene ocupacionais visando a saúde do professor e a qualidade de ensino.

2. Materiais e Métodos

Essa pesquisa foi realizada em turmas de ensino fundamental de 20 escolas municipais da cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Foi aprovada pelo comitê de ética sob o número 23064.004441/2013-64 e foi celebrado o Acordo de Cooperação nº 06/ 2013 entre a UTFPR e o Município de Ponta Grossa, publicado no Diário Oficial da União no dia 06 de setembro de 2013, esse acordo permitiu a realização dessa pesquisa.

O presente estudo foi efetuado por acadêmicos, denominados pesquisadores, das graduações e pós graduações da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Ponta Grossa, entre os meses de setembro e novembro de 2017. O mesmo foi de caráter quantitativo, devido aos dados coletados e exploratório em razão do deslocamento até as escolas. A amostragem foi por conveniência dos pesquisadores e as medições foram representativas da exposição de toda a jornada de trabalho. Foram aferidos 35 níveis de ruído e respondidos 43 questionários.

Foram realizadas, por meio de aparelhos, as medições dos níveis de ruído ao qual o professor estava exposto enquanto ministrava a aula e em sala de aula. Os aparelhos utilizados foram dosímetros digitais DOS-1000, da marca Homis, sendo designado para testes de exposição de ruídos tendo como faixa de medição de 30 dB até 140 dB. Os dosímetros foram aferidos antes das medições e estavam em perfeitas condições para o uso. Junto a isso foi distribuído aos professores um questionário denominado Condição de Produção Vocal – Professor (CPV-P)12, composto por questões referentes à situação funcional, ambiente de trabalho, organização do trabalho e aspectos vocais, hábitos e estilo de vida do professor.

A pesquisa foi realizada conforme os procedimentos descritos pela Norma de Higiene Ocupacional 01 – Avaliação da exposição ocupacional ao ruído13. Sendo assim, em cada medição, o microfone foi posicionado sobre o ombro do professor, preso na vestimenta, ficando dentro da zona auditiva do mesmo e o aparelho foi instalado na cintura, por cima da roupa. Os pesquisadores ficaram no local da pesquisa durante todo o tempo de medição, proporcionando assistência e acompanhando a sua aplicação.

Esse estudo foi realizado apenas com professoras que foram escolhidas de acordo com as salas mais ruidosas, segundo informações da diretora e/ou pedagoga de cada escola e pela e disponibilidade da professora em participar da presente pesquisa. Ele foi distribuído também para mais alguns poucos professores que, mesmo não participando da medição, se disponibilizaram a respondê-lo.

As visitas às escolas foram marcadas previamente. Foram executadas 02 medições na maior parte das escolas e nas restantes apenas 01, isso ocorreu devido a alguns infortúnios durante a pesquisa, como problemas da conexão do cabo do microfone com o aparelho de um dos dosímetros, a disponibilidade de apenas 02 dosímetros e o tempo disponível dos pesquisadores para a realização desse estudo.

Das 35 medições, 03 tiveram que ser desconsideradas, descartando assim, 01 escola. Isso ocorreu devido a amostragem não ser representativa em alguns casos e também porque o dosímetro não aferiu os decibéis, provavelmente pela má conexão entre o cabo do microfone e o aparelho, como citado anteriormente. Até então o dosímetro estava funcionando perfeitamente, inclusive em relação a conexão do referido cabo, depois desse contratempo foi utilizado para as aferições apenas o dosímetro que estava em perfeitas condições de uso.

Somente foram analisados alguns dos itens do questionário CPV-P que, conforme estudos feitos e apresentados na introdução do presente artigo, influenciam negativamente os professores no que diz respeito aos distúrbios da voz. Preferiu-se fazer dessa maneira para que os itens selecionados sejam melhores analisados.

3. Resultados e discussões

Os resultados das mensurações dos níveis de ruído foram submetidos a gráficos para uma melhor interpretação, análise e avaliação dos mesmos.

As médias dos níveis de ruído aferidos com os dosímetros para cada uma das 19 escolas são demonstrados no Gráfico 1, a seguir.

Gráfico 1  - Média dos níveis de ruído, em decibéis, coletados por escola
Gráfico 1  – Média dos níveis de ruído, em decibéis, coletados por escola

A média geral, para todas as escolas, foi de 75,6 dB, ultrapassando os 70 dB, corroborando os valores trazidos por algumas pesquisas realizadas11. De acordo com os resultados obtidos no Gráfico 1 pôde-se notar que todos os níveis de ruído ultrapassaram 50 dB, que corresponde ao limite máximo de nível sonoro aceitável para salas de aula, segundo a NBR 10152 de 1987, sendo considerado um nível de desconforto14, porém isso não implica necessariamente a um risco de dano à saúde. A média encontra-se ainda mais distante de 40 dB que representa o nível sonoro para conforto em salas de aula, também de acordo com essa norma.

O menor valor encontrado foi para a escola nº 14, de 70,5 dB, e o maior foi para a escola de nº 11 de 82,2 dB (Gráfico 1), ultrapassando em 20,5 dB (41,0%) e 32,2 dB (64,4%), respectivamente, os 50 dB. Ou seja, nenhuma escola apresentou um nível sonoro aceitável e permanecer em ambientes com níveis de ruído a partir de 45 a 55 dB por longo período de tempo, como é o caso dos professores, pode ocasionar irritação, fadiga e estresse8.

Analisando cada uma das 32 medições, as que obtiveram as 03 médias mais altas dos valores de ruído foram avaliadas em particular. Os resultados são apresentados nos Gráficos 2, 3 e 4.

Gráfico 2  - Resultado da medição x dos níveis de ruído da escola nº 11
Gráfico 2  – Resultado da medição x dos níveis de ruído da escola nº 11
Gráfico 3  - Resultado da medição y dos níveis de ruído da escola nº 11
Gráfico 3  – Resultado da medição y dos níveis de ruído da escola nº 11
Gráfico 4  - Resultado da medição z dos níveis de ruído da escola nº 1
Gráfico 4  – Resultado da medição z dos níveis de ruído da escola nº 1

De acordo com os Gráficos 2, 3 e 4, as médias dos níveis de ruído para as medições x, y e z, resultaram respectivamente nos valores de 82,4, 81,9 e 81,7 dB. Tais resultados ultrapassaram consideravelmente os 50 dB, em 32,4 dB (64,8%), 31,9 (63,8%) e 31,7 dB (63,4%), respectivamente.

Em relação aos questionários, dos 43 professores que os responderam, alguns não preencheram todas as perguntas. A Tabela 1 apresenta os resultados dos itens analisados referentes à situação funcional, ambiente de trabalho, organização do trabalho e aspectos vocais, hábitos e estilo de vida.

Tabela 1 – Respostas das questões analisadas do CPV-P, concernente à situação funcional, ambiente de trabalho, organização do trabalho e aspectos vocais, hábitos e estilo de vida.

(continua)

Situação funcional a) Além de lecionar, você realiza outras atividades que exigem o uso da voz?
Nunca
Raramente
Às vezes
Sempre
36,8%
26,3%
21,1%
15,8%
b) Qual(is) atividade(s) você desempenha atualmente na escola? (1)
Leciona
Atende ao público
Trabalho administrativo
Planejamente pedagógico
Cuida do recreio/entrada
Responsável pela biblioteca
Outro. Qual?
97,6%
0,0
0,0
0,0
14,3%
0,0
2,4%
c) Quantas horas por semana você permanece com os alunos?
Até 10 horas/semana
De 11 a 20 horas/semana
De 21 a 30 horas/semana
De 31 a 40 horas/semanas
Mais de 41 horas/semana
Não atuo com alunos
2,3%
44,2%
11,7%
39,5%
2,3%
0,0

 

Tabela 1 – Respostas das questões analisadas do CPV-P, concernente à situação funcional, ambiente de trabalho, organização do trabalho e aspectos vocais, hábitos e estilo de vida.

(conclusão)

Nunca Raramente Às vezes Sempre
Ambiente de trabalho d) A escola é ruidosa?
e) O ruído observado é forte?
f) A acústica da sala é satisfatória?
g) A sala tem eco?
h) Há poeira no local?
i) O local tem iluminação adequada?
j) A limpeza da escola é satisfatória?
k) O tamanho da sala é adequado ao número de alunos?
l) Os móveis (lousa, mesa) são adequados à sua estatura?
0,0%
5,4%
5,6%
70,0%
4,9%
2,3%
0,0%
7,0%
0,0%
4,6%
10,8%
5,6%
7,5%
17,1%
2,3%
2,3%
9,3%
4,7%
34,9%
40,5%
36,1%
20,0%
36,6%
30,2%
32,6%
20,9%
9,3%
60,5%
43,3%
52,8%
2,5%
41,5%
65,1%
65,1%62,8%
86,0%
Organização do trabalho m) O ritmo de trabalho é estressante?
n) Há estresse em seu trabalho?
o) Você leva trabalho para casa?
11,9%
2,4%
7,0%
11,9%
14,6%
16,3%
50,0%
43,9%
58,1%
26,2%
39,0%
18,6%
Aspectos vocais, hábitos e estilo de vida p) No trabalho, você costuma gritar?
q) No trabalho, você costuma falar muito?
r) Você recebeu orientação sobre cuidados vocais?
s) Você está satisfeito com sua voz?
t) Já faltou ao trabalho por alterações vocais?
u) Você bebe água durante o uso da voz?
7,5%
0,0%
46,5%
4,7%
53,5%
0,0%
22,5%
2,4%
20,9%
0,0%
18,6%
9,3%
57,5%
11,9%
23,3%
55,8%
25,6%
30,2%
12,5%
85,7%
9,3%
39,5%
2,3%
60,5%

Fonte – Os autores.

(1) Neste caso alguns professores deram mais que uma resposta, devido a isso a somatória dos respectivos valores foi maior que 100%.

Conforme o item a) da Tabela 1, a maioria dos professores não utilizam a voz para outras atividades além de lecionar. Havia ainda a pergunta “Se sim, onde trabalha e o que faz?”, para a qual os que marcaram a opção “Sempre” redigiram que exigem o uso da voz, além de lecionar, em cantos de missa e casamentos. Já os que assinalaram a alternativa “Às vezes” escreveram que utilizam a voz em grupos de música, na religião e no coral. Ainda, os que marcaram a opção “Raramente” escreveram que usam na igreja.

Um número de 42 professores responderam a questão b) da Tabela 1, desses, 01 marcou a alternativa “Outro. Qual?” e descreveu “auxiliar pedagógico”, os demais assinalaram a opção “lecionar” e além disso, desses 41, 06 professores além de lecionar cuidam do recreio e/ou entrada da escola.

Ainda referente à situação funcional, 44,2% dos professores permanecem com os alunos de 11 a 20 horas/semana, 39,5% permanecem com eles de 31 a 40 horas/semana, 11,7% de 21 a 30 horas/semana e somente 2,3% permanecem mais de 41 horas/semana ou até 10 horas/semana. Em relação a isso, estudos apontam relação positiva entre carga horária semanal e distúrbios da voz3.

Conforme os dados obtidos percebe-se que, no que diz respeito ao ambiente de trabalho (Tabela 1), as escolas são sempre ruidosas de acordo com mais da metade dos professores que responderam ao questionário e os barulhos observados são, em sua maioria, às vezes (40,5%) ou sempre (43,3%) altos. As respostas a outra questão “Se o local é ruidoso, o barulho vem: (pode indicar mais de um local)” afirmam ainda que a maior parte desse ruído, 76,7%, são gerados do pátio da escola, seguido por 65,1% da própria sala de aula, 46,5% de outras salas, 32,6% dos ruídos são externos à escola, provém da rua, 14,0% da voz das pessoas, e por fim, 11,6% tem sua origem em obras na escola. A respectiva questão apresentava ainda a alternativa “outros:” para a qual apenas 03 professores assinalaram, escrevendo “refeitório”, “quadra da escola” e “trem que passa perto da escola”.

Assim como nesse trabalho, uma pesquisa realizada mostrou que a principal origem dos ruídos são as fontes internas de uma escola. Nessa mesma pesquisa foi verificado ainda que a perda de transmissão do som entre as paredes não era satisfatória para isolar o ruído15. Em estudos realizados, ressalta-se que a comunicação com inteligibilidade entre professores e alunos é interferida negativamente pelo ruído presente8. Além disso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, ambientes com ruídos provocam prejuízos na saúde geral e danos ao desempenho das pessoas expostas a esse ruído16.

Outros aspectos do ambiente de trabalho tiveram respostas positivas. Mais de 50% delas apontaram que as salas possuem acústica satisfatória, não apresentando eco e que o tamanho da sala em razão da quantidade de alunos e a iluminação são adequados. Mais da metade responderam ainda que a mesa e a lousa são apropriadas à estatura dos professores e que a limpeza da escola é satisfatória. Porém 41,5% dos professores apontaram que sempre há poeira no local de trabalho e 36,6% marcaram “às vezes” para a presença de poeira, algumas respostas a esse último item foram complementadas dizendo que a poeira é proveninte do giz utilizado.

Algumas pesquisas evidenciaram uma forte associação entre distúrbios de voz dos professores e a existência de poeira no ambiente de trabalho, além disso, quando inalada ela é agressiva ao sistema respiratório principalmente do professor alérgico ou que possui maior sensibilidade, interferindo negativamente na sua voz, isto é, contribuindo para o seu adoecimento vocal3.

Em relação à organização do trabalho, a maior parte dos professores consideraram que às vezes há estresse no trabalho e que também às vezes o ritmo do mesmo é estressante, seguidos da opção sempre para essas mesmas questões. Em relação ao fato de levar trabalho para casa, mais da metade, 58,1% às vezes levam e 18,6% sempre levam.

Segundo estudos realizados, no que diz respeito à organização do trabalho, foram encontrados alguns itens que tem associação com disfonia, são eles, ritmo de trabalho estressante, estresse no trabalho e levar trabalho para casa. O estresse, em especial, é um grande fator de risco em associação com distúrbios da voz. A bibliografia indica que há vários fatores que fazem o estresse ser comumente elevado na docência, como mau comportamento, motivação e grande número de alunos e questões administrativas e político-educacionais. Tais fatores podem ser apontados como secundários, entretanto,  juntos originam ou mesmo majoram os distúrbios da voz dos professores e podem causar danos ao seu estado físico ou psíquico, acarretando em adoecimento3.

Por fim, os aspectos vocais, hábitos e estilos de vida ainda referentes a Tabela 1 demonstraram que mais da metade dos professores às vezes gritam durante as aulas e um número considerável, 85,7% falam muito no trabalho. Quase 50% dos professores nunca receberam orientação sobre cuidados com a voz, mas em contrapartida mais de 50% nunca faltaram ao trabalho devido à alterações vocais e 39,5% sempre estão satisfeitos com a sua voz. Ainda, 55,8% dos professores às vezes estão satisfeitos com a voz e grande parte, 60,5% assinalaram que sempre bebem água enquanto fazem o uso da voz. Em relação às faltas dos professores por alterações vocais, 10 responderam a pergunta que a complementava “Se sim, quantos dias no último ano?”, sendo que 02, 04, 01, 02 e 01 professores escreveram que faltaram, respectivamente, 01, 02, 03, 05 e 10 dias.

Os professores faltam ou são afastados somente devido a alterações extremas da voz, pelo fato de compreenderem que distúrbios vocais leves ou moderados não limitam o seu trabalho e são característicos da profissão11.

Correlacionando os altos níveis de ruído aferidos com a presença de estresse determinada pelo questionário, a Organização Mundial da Saúde ressalta que a partir de um nível de ruído de 70 dB o organismo começa a se desgastar e são mais acentuadas as reações de estresse16.

Comparando os altos níveis de ruído dos Gráficos 2, 3 e 4 com os seus respectivos questionários, as respostas às perguntas apontaram a existência de ruído, em sua maioria, às vezes forte na escola que obteve a medição x e sempre forte nas escolas com as medições y e z, ao passo que, as três professoras assinalaram a presença de estresse no trabalho e de ritmo estressante de trabalho. As professoras marcaram ainda que às vezes levam trabalho para casa e que existe poeira no local de trabalho. Com isso, pôde-se notar que possivelmente há uma relação direta entre esses fatores com distúrbios vocais, corroborando com estudos realizados anteriormente3.

De acordo com pesquisas efetuadas por vários autores, as disfonias dos professores têm associação bruta com o ruído presente nos ambientes de trabalho, sendo considerado como um dos fatores ambientais que mais influenciam negativamente nesses distúrbios. Além disso, o ruído excessivo colabora para a ocorrência de estresse e fadiga elevada e provoca o “Efeito Lombard”, já mencionado na introdução, acarretando num aumento de esforço e no cansaço da voz do professor ao final do dia3, 9, 11. Isso corrobora com o relato de algumas professoras durante as visitas nas escolas, as quais disseram que no começo da aula a voz estava forte mas ao fim do dia a voz já se encontrava consideravelmente fraca.

Medidas de higiene ocupacional são essenciais para proteger a saúde geral do professor frente aos fatores que desencadeiam ou acentuam os distúrbios vocais. A prática de aquecimento térmico e treinamento respiratório, por exemplo, apresenta resultados positivos para manter a qualidade da voz10. Também, existe um sistema que proporcionou uma melhora na compreensão da voz do professor pelos alunos, auxiliou na diminuição do esforço vocal, melhorou parâmetros acústicos da voz e ainda foi alvo de relatos positivos pela professora que o utilizou, é o chamado sistema de amplificação em campo livre dinâmico17.

Os valores aferidos e as respostas do questionário CPV-P também ressaltam a importância da escola sensibilizar os professores sobre a voz como essencial instrumento de ensino e a necessidade de medidas que proporcionem a redução do impacto do ruído em sala de aula. Algumas medidas de baixo custo consistem em revestir com feltro os pés das cadeiras, mesas e carteiras e utilização de materiais mais absorventes, como piso ou tapete de borracha, carpete e cortinas. Outra medida é deixar as salas de aula distantes do pátio da escola e do refeitório, já que a maior parte do ruído é proveniente do pátio. Porém, cada medida deve ser direcionada a particularidade de cada escola, como por exemplo a presença do trem que tem sua linha passando próximo a uma das escolas, afim de que as medidas sejam eficientes e considerem o professor e os alunos em suas reais condições no dia a dia.

Conclusão

Por meio desse estudo identificou-se altos níveis de ruído nas salas de aula do ensino fundamental de escolas municipais de Ponta Grossa, PR. Níveis esses que ultrapassaram o prescrito pela ABNT NBR 10152 de 1987. Isso ficou evidente nos questionários respondidos.

De acordo com os questionários e também com os resultados das aferições salienta-se a necessecidade de que as escolas promovam a conscientização dos professores sobre cuidados vocais, sua importância na prevenção de ditúrbios da voz e na boa qualidade de ensino. Além de intervenções através de outras medidas cabíveis de acordo com a realidade de cada escola, como utilização de amplificadores, práticas de treinamento vocais e o revestimento adequado das salas de aula.

Com essa pesquisa e com outras analisadas pôde-se notar possíveis associações entre algumas respostas dos questionários, os ruídos presentes durante as aulas, o Efeito Lombard e manifestações de disfonias, as quais prejudicam a voz do professor e ainda, quando chegam a estados mais críticos provocam, entre outros fatores, o absenteísmo, afastamento ou o adoecimento.

Diariamente o professor está exposto a elevados riscos ocupacionais referentes a disfonia, diante disso, a sua mobilização com escola e instâncias superiores pode ser um fator decisivo em relação a implementação de medidas para a redução dos ruídos.

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  16. ASSIS, F. C.; MAGALHÃES, P. A. N. R. Percepção do ruído por professores na escola Frederico Jayme, Rio Verde – Goiás. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade de Engenharia Ambiental, Universidade de Rio Verde (UniRV), Goiás, 2017.
  17. CRUZ, A. D., et al. Impacto do sistema de campo livre dinâmico na voz do professor: estudo de caso. Revista CEFAC, v. 18, n. 5, p. 1260-1270, 2016.

[1] Engenheira Civil na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Campus de Ponta Grossa-PR, Brasil.

[2] Engenheira Civil na Universidade Estadual de Ponta Grossa e graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Ponta Grossa-PR, Brasil.

[3] Doutorado em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Ponta Grossa-PR, Brasil.

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Juliana Rutte Kubaski

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