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A importância do psicopedagogo nas escolas públicas

RC: 92008
3.049
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

DUARTE, Anna Carolina Toffano [1]

DUARTE, Anna Carolina Toffano. A importância do psicopedagogo nas escolas públicas. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 07, Vol. 10, pp. 165-178. Julho de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/psicopedagogo

RESUMO

O objetivo deste artigo científico é abordar, por meio de pesquisa bibliográfica, o seguinte questionamento: Qual é a importância do psicopedagogo nas escolas públicas? O psicopedagogo deve atuar nos processos educativos a fim de minimizar a ocorrência dos problemas no processo do aprender, trabalhando e estudando a aprendizagem nas esferas psicopedagógicas, propiciando a transformação da realidade escolar, visando à busca pela adequação da escola às demandas da sociedade e implantando projetos que estimulem a autonomia. Com isso, conclui-se que a aplicabilidade da Psicopedagogia é necessária e eficaz tanto na saúde como na educação, favorecendo a inclusão, o acolhimento e a construção do conhecimento.

Palavras-chave: educação, psicopedagogia, pedagogia, escola pública.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Comissão de Assuntos Sociais (CAS), por meio do projeto de lei da Câmara dos Deputados (PLC 31/2010) que regulamenta a atividade de Psicopedagogia, a profissão de psicopedagogo é regulamentada no Brasil desde o ano de 2014. A Associação Brasileira de Psicopedagogia estima que há, aproximadamente, 100 mil psicopedagogos formados no país.

Este artigo científico se empenha em versar sobre o seguinte questionamento: Qual é a importância do psicopedagogo nas escolas públicas?

Durante muitos anos, profissionais educadores e estudiosos buscam conquistar o direito de oferecer uma educação pública, democrática e de qualidade, na qual os saberes, a cultura, a diversidade e a individualidade do educando são respeitados. De acordo com Cruvinel (2009, p.06):

A formação do psicopedagogo é indício para a formação da identidade
deste profissional. Deste modo, regulamentar a profissão de
psicopedagogo efetivaria sua existência e seu reconhecimento, com base em leis. Questões como tipo de curso, formação e conhecimento prévio, criação de órgãos de classe, espaço ocupado pela psicopedagogia, entre outros, proporcionaria base para este reconhecimento e delimitaria a atuação da psicopedagogia clínica, institucional e a participação em pesquisa científica.

Em concordância com a autora, é inegável constatar que bases legais reforçam a necessidade de implantação desta profissão em três esferas: clínica, institucional e científica. Segundo Crunivel (2009, p. 02-03), a Psicopedagogia trabalha e estuda a aprendizagem nos setores psicopedagógicos transformando a realidade escolar, vivenciando momentos históricos atuais em busca de adequar a escola às demandas da sociedade, incentivando a implantação de projetos que estimulem a autonomia de professores e alunos.

Como propõe a autora, pode-se perceber que embora não haja psicopedagogo atuando nas escolas públicas, sua participação sempre se fez necessária. Sabe-se que um dos grandes desafios dos docentes da rede pública é a possibilidade de transformar a escola em um ambiente democrático e aberto à inovação. Para Rubinstein (1987, p. 51):

O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando solucioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta fundamental é investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta investigação entender a constituição da dificuldade de aprendizagem.

Com base no exposto, a presença desse profissional é indispensável, uma vez que o psicopedagogo poderá atuar em diversas frentes e, sobretudo por desempenhar o papel de analista entrevistador e investigador, a fim de reconhecer os fatores que prejudicam a aprendizagem.

O trabalho de investigação desenvolvido pelo psicopedagogo poderá ser feito por meio de entrevistas criadas para identificar as dificuldades ou síndromes do aluno. Geralmente, para chegar ao diagnóstico do problema são feitas entrevistas e fichas de anamnese.

Nas palavras de Weiss (2004, p. 35), há momentos de anamnese só com os pais, de compreensão das relações familiares em sessão com toda a família presente, de avaliação da produção pedagógica e de vínculos com objetos de aprendizagem escolar, busca da construção e funcionamento das estruturas cognitivas, desempenho em testes de inteligência e visomotores, análise de aspectos emocionais por meio de testes expressivos, sessões de brincar e criar. Tudo isso pode ser estruturado numa sequência diagnóstica estabelecida a partir dos primeiros contatos.

De outro modo, além de desenvolver pesquisa analítica, o psicopedagogo também será capaz de reconhecer as diversas patologias e etologias relacionadas à dificuldade de aprendizagem, por isso, o psicopedagogo que é um estudioso e conhece intimamente os elementos que compõem o processo de aprendizado poderá atuar diretamente na questão-problema.

2. A PSICOPEDAGOGIA

A Psicopedagogia era concebida como uma área exclusivamente clínica, ou um campo de integração da Psicologia e da Pedagogia, e essas ideias conservaram-se por alguns anos.  Entretanto, para Rubinstein (2004), a Psicopedagogia é uma área de pesquisa interdisciplinar caminhando para a transdisciplinaridade. Sendo assim, pode-se conceber que a psicopedagogia já deve vista hoje como comum a diversas áreas de conhecimento.

Segundo Bossa, (2007, p. 102), na Psicopedagogia pode-se trabalhar em diferentes níveis de atuação. Primeiro, o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem. Seu trabalho incide nas questões didático-metodológicas, bem como a formação e orientação dos professores, além de fazer aconselhamento aos pais. Na segunda atuação, o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem já instalados. Para tanto, cria-se um plano diagnóstico, a partir do qual se procura avaliar os currículos com os professores, para que não se repitam transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros.

Posto isso, é possível afirmar que a Psicopedagogia visa à compreensão do individuo na sua condição humana, como cidadão, e por isso cabe ao psicopedagogo reunir estratégias voltadas para a articulação de atividades a fim de propiciar o desenvolvimento da aprendizagem do estucando dentro e fora do ambiente escolar.

Como afirma Rubinstein (2004, p.7) os desafios a serem superados são provocativos. A Psicopedagogia nasceu de uma falta e é essa falta, enquanto paradoxo, que a mobiliza no sentido de buscar as possíveis alternativas para compreender o sujeito da aprendizagem nos diferentes contextos socioculturais, buscamos “o caminho do meio”, no sentido de nos aproximarmos de um modelo transdisciplinar, o qual transita entre as disciplinas sem abolir as fronteiras existentes.

É necessário que sempre sejam avalizadas as condições de aprendizagem, a democratização do ensino, a acessibilidade, a equidade e as relações afetiva-emocionais que circundam o aluno. Para Rubinstein (1987, p.14) devem ser considerados os aspectos cognitivo e afetivo, o desenvolvimento da aquisição da linguagem, a linguística aplicada, técnicas e metodologias da reeducação da leitura e escrita e, fundamentalmente, o conhecimento do processo de aprendizagem, bem como das inúmeras variáveis que nele interferem. De acordo com o Projeto de Lei n.º 3.512-B, de 2008:

Art. 4º são atividades e atribuições da Psicopedagogia sem prejuízo do exercício das atividades e atribuições pelos profissionais da educação habilitados:

I – intervenção psicopedagógica, visando a solução dos problemas de aprendizagem, tendo por enfoque o indivíduo ou a instituição de ensino público ou privado ou outras instituições onde haja a sistematização do processo de aprendizagem na forma da lei;

II – realização de diagnóstico e intervenção psicopedagógica, mediante a utilização de instrumentos e técnicas próprios de Psicopedagogia;

III – utilização de métodos, técnicas e instrumentos psicopedagógicos que tenham por finalidade a pesquisa, a prevenção, a avaliação e a intervenção relacionadas com a aprendizagem;

IV – consultoria e assessoria psicopedagógicas, objetivando a identificação, a compreensão e a análise dos problemas no processo de aprendizagem;

V – apoio psicopedagógico aos trabalhos realizados nos espaços institucionais;

 VI – supervisão de profissionais em trabalhos teóricos e práticos de Psicopedagogia;

 VII – orientação, coordenação e supervisão de cursos de Psicopedagogia;

 VIII – direção de serviços de Psicopedagogia em estabelecimentos públicos ou privados; IX – projeção, direção ou realização de pesquisas psicopedagógicas. (BRASIL, 2008)

O psicopedagogo busca compreender o processo de formação do conhecimento, ocupando-se da aprendizagem humana, podendo atuar tanto na saúde, como no ambiente escolar, avaliando as práticas pedagógicas e sendo parceiro do professor na elaboração e avaliação das atividades educativas.

Para Barbosa (2001, p.64) a psicopedagogia no âmbito da instituição, ao escolher uma forma preventiva de ação, transforma a atenção individual em grupal, analisa os sintomas, considerando a gama de relações que existem numa instituição, e propõe projetos de atuação que apontem para uma mudança global.

À vista disso, pode-se considerar que o psicopedagogo deve trabalhar com mediadas preventivas e/ou terapêuticas, promover palestras, atuando na autoestima e potencialidades do educando, estimular as áreas de competências, treinando pais, responsáveis e professores e orientar na elaboração das atividades e avaliações.

De acordo com a ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), no Código de Ética da Psicopedagogia (2021, p.1):

Artigo 1º A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos.

 De tal modo, o profissional de Psicopedagogia precisa estar dentro da escola, como um agente que vai atender a cada aluno em sua especificidade no processo de construção do conhecimento, a fim de compreender as influências positivas e negativas norteadoras do sucesso ou fracasso escolar, para tanto é necessária a elaboração de estudo, pesquisa e entrevista.

3. O CONTEXTO

Esta pesquisa foi idealizada no início da pandemia, durante o curso de especialização em Psicopedagogia por meio da observação de professores e alunos na rotina escolar. O mundo todo ficou impactado com a pandemia, e o ano de 2020 foi marcado pelo distanciamento social, a mudança de rotina, o desemprego, a moléstia e a miséria.

De acordo com o Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno nº 5/2020, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, em razão da infecção humana pelo novo Coronavírus (COVID-19).

Para Santos (2021) conceber o vírus como pedagogo é dar-lhe a oportunidade de dialogar com ele, interagir e convertê-lo. Certamente a convivência e a interação com o vírus representa um fortalecimento das tecnologias digitais.

Segundo Weiss (2004) há diferentes áreas de aprendizagem, contudo, frequentemente, a mídia expõe dados estatísticos sobre o fracasso escolar, exibindo situações caóticas que envolvem a má gestão nas escolas, o baixo desempenho dos alunos nos exames, a evasão escolar e a defasagem das práticas pedagógicas. De acordo com Weiss (2004, p.16):

No diagnóstico psicopedagógico do fracasso escolar de um aluno não se podem desconsiderar as relações significativas existentes entre a produção escolar e as oportunidades reais que determinada sociedade possibilita aos representantes das diversas classes sociais. Assim, alunos de escolas públicas brasileiras provenientes das camadas de mais baixa renda da população são frequentemente incluídos em “classes escolares especiais”, considerados pertencentes ao grupo de possíveis “deficientes mentais”, com limites e problemas.

Por isso, entende-se que a Psicopedagogia presente na escola pública é essencial para reverter esse quadro, haja vista que, só por meio da compreensão da realidade do educando, bem como a investigação dos motivos que geram problemas de comportamento e aprendizagem, é possível adequar as práticas pedagógicas, uma vez que todas as relações culturais e sociais estão relacionadas à aprendizagem.

Bossa (2007, p. 51) afirma que para o psicopedagogo, aprender é um processo que implica pôr em ações diferentes sistemas que intervêm em todo o sujeito: a rede de relações e códigos culturais e de linguagem que, desde antes do nascimento, têm lugar em cada ser humano à medida que ele se incorpora a sociedade, consequentemente, pode-se compreender que o psicopedagogo tem um papel fundamental para a formação do educando e por extensão a transformação social.

Além disso, com o advento da pandemia e o isolamento social imposto, inúmeros setores foram comprometidos, afetando severamente a economia do país, aumentando o desemprego, a fome e a miséria, prejudicando a educação, principalmente nas esferas mais pobres e marginalizadas.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) a internet é utilizada em 82,7% dos lares brasileiros, mas a maior parte está concentrada nas áreas urbanas das grandes regiões do país. Sabe-se que uma parcela muito grande de alunos das áreas pobres e rurais não tem acesso à internet, nem a dispositivos eletrônicos (tablet, computador e celular) para acompanhar as aulas remotas, ou quaisquer modalidades de educação não presencial. Muitos desses alunos não têm também luz elétrica, saneamento básico, alimentação adequada, lazer e estrutura familiar.

Segundo Santos (2021) a pandemia provocou o aumento da desigualdade, com o qual muitos estabelecimentos de ensino foram fechados, comprometendo o calendário letivo. Algumas escolas da rede privada decretaram falência, muitas famílias ficaram desempregadas, promovendo a migração de alunos para a rede pública, provocando uma crescente do trabalho infantil e, consequentemente, aumentando ainda mais o insucesso escolar.

Bossa (2007, p. 94) afirma que o psicopedagogo busca não só compreender o porquê de o sujeito não aprender algumas coisas, mas o que ele pode aprender e como. A busca desse conhecimento inicia-se no processo diagnostico momento em que a ênfase é a leitura da realidade daquele sujeito, para então proceder a intervenção que é o próprio tratamento ou o encaminhamento.

Para Fonseca (1995, p.9) as crianças não podem continuar a serem vítimas de métodos por mais populares que sejam. Temos que ajustar as condições internas de aprendizagem, isto é, as condições da criança (o que pressupõe um estudo aprofundado do seu desenvolvimento biopsicossocial) às exigências das tarefas educacionais, ou seja, às condições externas da aprendizagem, ou melhor, às condições de ensino inerentes ao professor e ao sistema de ensino, ou seja, aos seus processos de transmissão cultural.

Sabe-se que a escola é um ambiente de diversidade, na qual é necessário interagir diariamente com várias situações, diversas culturas, vários níveis de inteligências e múltiplos graus de dificuldade. Por isso, na escola, o psicopedagogo faz o assessoramento dos agentes da educação e mantem-se atualizado sobre os estudos no que concerne a profissão de Psicopedagogia.

4. A EDUCAÇÃO

 No que tange à educação inclusiva, conforme trata o Código de Ética, o psicopedagogo tem compromisso com o planejamento escolar e na orientação pedagógica, considerando o ambiente que o educando vive a sua construção familiar, o contexto sociopolítico, a situação financeira, o seu desenvolvimento intelectual e as possíveis deficiências intelectuais, psicossociais, físicas ou motoras, investigando se os programas estão adequados à realidade do aluno.

Bassedas (1996, p.26) conclui que a escola, como instituição social, pode ser considerada de forma ampla e, de acordo com a teoria sistêmica, como um sistema aberto que compartilha funções e que se inter-relaciona com outros sistemas que integram todo o contexto social. Entre esses sistemas, o familiar é o que adquire o papel mais relevante à educação e assim, na atualidade, vemos a escola e a família em inter-relação contínua, mesmo que nem sempre sejam obtidas atuações adequadas, já que, muitas vezes, agem como sistemas contrapostos mais do que como sistemas complementares.

Fundamentando-se nisso, é importante destacar que a Psicopedagogia tem de fato o compromisso de promover a viabilidade da construção do conhecimento do educando por meio da inclusão atuando em parceria com a escola, a fim de motivar o desenvolvimento do individuo diante dos desafios da sociedade, segundo Pastorino (2002, p. 177):

Pertence também ao âmbito do nosso trabalho psicopedagógico colaborar na explicitação e tomada de consciência dos professores sobre a análise da instituição escolar: as relações de poder, a trama de interações, simétricas entre pares ou assimétricas segundo o modelo organizacional, o inter jogo de papéis entre os integrantes, os diversos sistemas de valores, as coincidências ou desavenças entre os diferentes projetos e aspirações.

Para analisar as situações econômicas, políticas e tecnológicas que envolvem o desenvolvimento escolar em tempos de crise, é necessário considerar o abismo que há entre as classes.

Basseda (1996, p.27) garante que num outro nível, a sociedade outorga à escola a missão de educar e instruir os alunos, visando à sua integração da forma mais plena possível como seres individuais e com critério próprio para abordar assuntos diferentes, tanto aqueles relativos à maturidade pessoal como os referentes à sua integração social. Assim, a escola não pode agir independentemente; existe um outro sistema mais abrangente, que é a administração do Estado, dentro do qual ela está inserida e que é o que propõe os objetivos mínimos que cada aluno deve atingir ao concluir o ensino obrigatório.

A partir dessa perspectiva, e com base na observação da rotina escolar durante a pandemia, é possível compreender que ainda é um desafio aplicar inovação pedagógica e tecnológica, estimular a criatividade e trabalhar o currículo de forma produtiva em tempos de caos, considerando a desigualdade que aflige a sociedade atual.

De acordo com Davis e Oliveira (2010, p.101) evidentemente, algumas crianças enfrentam sérias dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Não lhes é fácil abstrair e generalizar, pois sofrem inúmeros medos e problemas de relacionamento com outras crianças e adultos. É prudente, todavia, não se concluir que todas as crianças com problema de aprendizagem escolar são difíceis ou anormais. Sobretudo, não é possível pensar que 40 % dos alunos que não se alfabetizam na primeira série da escola brasileira não o façam devido a desajustes emocionais.

Como afirmam Davis e Oliveira (2010), a relação social consiste no conjunto das interações entre os indivíduos e os grupos sociais, que se dá em casa e na escola. Com outras palavras, pode-se dizer que as atividades e trabalhos em grupo aplicados pelo psicopedagogo possibilitam que o educando desenvolva muitas habilidades, como por exemplo, a tomada de decisão, a cooperação e colaboração, o debate, o respeito, o compartilhamento, a delegação, a autoavaliação e a disciplina.

Portanto, é necessário que as escolas públicas sejam de fato um espaço democrático de inclusão e diversidade, principalmente na educação infantil, que representa o primeiro contato da criança com o meio escolar e onde se dará a primeira forma de socialização longe do ambiente familiar, como propõem as autoras.

O psicopedagogo deverá perceber as possíveis dificuldades no “aprender” e a partir disso, desenvolver orientação pedagógica por meio de plano e projeto prático de integração e inclusão. E, sobretudo, é importante que o repertório do psicopedagogo seja amplamente diversificado, para que ambos os aspectos possam ser desenvolvidos.

Para Pastorino (2002, p. 175) os profissionais da Psicopedagogia compartilham, desde uma posição e um olhar diferente, suas funções com outros profissionais, docentes e diretivos da instituição em geral; também com todos os envolvidos nos atos educacionais, pais, familiares, pessoal das instituições com funções não docentes, profissionais de outras áreas que integram sua equipe de referência. Isso exige do psicopedagogo uma postura que leve em conta, em primeiro lugar, seu compromisso ético e deontológico para os demais e para si mesmo, em forma crítica permanente, o que não exclui a consideração do projeto ideológico e político que rege a sociedade e a educação.

Diante dessa visão, o que se pode interpretar com as palavras de Pastorino é que o psicopedagogo deve oferecer variadas possibilidades e diversos métodos para que o professor possa desenvolver e contribuir para a formação do aluno. O psicopedagogo precisa avaliar constantemente o papel dos educadores na sala de aula a fim de que não sejam reproduzidos os valores e crenças conservadores.

Segundo Oliveira (1996, p. 113) o grande desafio lançado à educação, hoje em dia, por um ambiente sociocultural em profundas e rápidas transformações, faz com que o educador, muitas vezes perplexo, perca seu rumo. já não consegue se afirmar, ou crer, no paradigma tradicional, que lhe dizia o que e como fazer, fornecendo-lhe um conteúdo programático estável e uma condução didática dele conhecida, hierarquizada. Intui, ou mesmo, chega a compreender, que precisa dominar melhor formas de comunicação e de expressão criativas e organizadas, sem se ater predominantemente a conteúdos, hoje em dia, constantemente revistos e ultrapassados.

Desde o período colonial, com a educação jesuítica, a história da educação é marcada por um contexto de dominação, cuja práxis opressora de amplas desigualdades sociais e ausência de diálogo. Freire (2011, p.65) afirma que a luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve ser ao tratar da contradição entre opressores e oprimidos e sua superação, anuncia que esta superação ou libertação da opressão entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que dela faz parte. O combate em favor da dignidade da prática docente é tão parte dela mesma quanto dela faz parte o respeito que o profissional da educação deve ter à identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito de ser.

Observa-se que Freire refere-se à ideia de libertação da opressão com perspectiva da equidade no ambiente escolar para que o aluno seja capaz de desenvolver as suas competências. E, além disso, reconhecer que isonomia não consiste em apenas oferecer vaga para aluno deficiente em rede regular de ensino, mas oferecer condições para seu acesso e permanência com legitimidade e dignidade, com igualdade de direitos e respeito as suas limitações.

Para Perrenoud (2001), deve-se observar que a capacidade de agir eficazmente em determinado tipo de situação é uma competência. Sendo assim, vale destacar que pensar que as capacidades que cada um tem para “sobreviver” à situação de crise também é um saber que serve de substância para complementar o processo de construção do conhecimento. Com isso é necessário reconhecer o seu papel na sociedade e, como bem afirmou Bossa (2007, p. 21):

O objetivo do tratamento psicopedagógico é o desaparecimento do sintoma e a possibilidade do sujeito aprender normalmente em condições melhores enfatizando a relação que ele possa ter com a aprendizagem, ou seja, que o sujeito seja o agente da sua própria aprendizagem e que se aproprie do conhecimento.

Desse modo, a Psicopedagogia se relaciona com todas as disciplinas, e o psicopedagogo coopera com o professor, construindo um perfil avaliativo da turma, realizando um trabalho como os alunos e para os alunos, porquanto a intervenção do psicopedagogo sempre é relacionada à aprendizagem do educando, atuando na área clínica e/ou educacional, em conjunto com a família e a escola.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta pesquisa, foi possível definir qual é a importância do psicopedagogo nas escolas públicas, haja vista que o trabalho do profissional de Psicopedagogia, consiste em auxiliar no desenvolvimento da educação escolar de forma ampla e perspicaz, principalmente, em momentos de fragilidade emocional e em período de pandemia.

Com base no contexto da pandemia do COVID-19, com o aumento da pobreza no país, que afetou a saúde física, mental e emocional dos brasileiros, elevando o uso do álcool, das drogas, a violência doméstica, e entre as crianças e adolescentes, o trabalho infantil, a evasão escolar, a hipertensão, a obesidade e o diabetes, considerando que não se estabelece educação igualitária num contexto de desigualdade, é necessário que o psicopedagogo contribua juntamente com a escola na inclusão dessa parcela excluída das periferias.

Este artigo destacou que o trabalho do psicopedagogo, nesse segmento, é detectar essas circunstâncias, construir metodologias adequadas a elas e trabalhar de forma específica de acordo com as necessidades de cada educando, auxiliando no trabalho de superação das suas demandas, na suplantação dos desafios e desenvolvendo de suas potencialidades.

Nada obstante, não há profissionais da Psicopedagogia atuando como psicopedagogos dentro das escolas, e isso se dá porque não há leis que legitimem isso, não há investimento nessa área e a preocupação com as questões psicossocioeducativas ainda estão em segundo plano.

Dessa forma, foi possível compreender que a participação do psicopedagogo nas escolas públicas é de fundamental importância, pois incide na contribuição para o desenvolvimento da educação. Basta ver que o psicopedagogo pode desenvolver um trabalho inter-multi e transdisciplinar, criando projeto para auxiliar o professor, a escola, a família e o aluno no processo de ensino.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA, Código de ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Disponível em: https://www.abpp.com.br/wp-content/uploads/2020/11/codigo_de_etica.pdf. Acesso em: 23/05/2021.

BARBOSA, Laura Mont Serrat. A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001.

Bassedas, E et al. Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. Tradução: Neves BA. 3ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas; 1996.

BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artmed, 2007.

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 23/05/2021.

BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP nº 5/2020, aprovado em 28 de abril de 2020 – Reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/pec-g/33371-cne-conselho-nacional-de-educacao/90771-covid-19. Acesso em: 23/05/2021.

CÂMARA DOS DEPUTADOS, Projeto de Lei n.º 3.512-B, de 2008. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=0E8CB6B7C879DCA243192D4F28285456.node1?codteor=575405&filename=Avulso+-PL+3512/2008#:~:text=exercida%20por%20um%20profissional%20especializado,aumentar%20suas%20potencialidades%20de%20aprendizagem Acesso em: 23/05/2021

CRUVINEL, Leiliana Cabral De Oliveira. A Prática Psicopedagógica como alicerce para a superação das dificuldades de aprendizagem. Instituto Educacional Pinheiros. Pinheiros, 2009.

DAVIS, Cláudia e OLIVEIRA, Zilma. Psicologia na educação. 3ª edição. São Paulo: Cortez, 2010.

FONSECA, Vitor da. Introdução às Dificuldades de Aprendizagem. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Uso da Internet, televisão e celular no Brasil. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-e-celular-no-brasil.html Acesso em: 23/05/2021.

OLIVEIRA, Vera Barros de. Informática em psicopedagogia. 2ª edição. São Paulo. Editora SENAC, 1996.

Pastorino, Carmen. Psicopedagogia e equidade social: contexto como protagonista, a diversidade como norma. Rev. Psicopedagogia, 2002. Disponível em: http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/461/psicopedagogia-e-equidade-social–o-contexto-como-protagonista–a-diversidade-como-norma. Acesso em: 23/05/2021.

PERRENOUD, Philippe. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed,  2001.

RUBINSTEIN, Edith. A psicopedagogia e a Associação Estadual de Psicopedagogia. São Paulo. In SCOZ, Beatriz Judith Lima (et al). Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Medicas, 1987.

RUBINSTEIN, Edith. Castanho, Marisa Irene; Noffs, Neide de Aquino. Rumos da Psicopedagogia Brasileira. Rev. Psicopedagogia, 2004. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/revistapsicopedagogia.com.br/pdf/v21n66a05.pdf Acesso em: 23/05/2021.

SANTOS, O futuro começa agora: da pandemia à utopia. São Paulo: Boitempo, 2021.

SENADO, Agência Senado. Senadores aprovam regulamentação da profissão de psicopedagogo, 05 de fevereiro de 2014. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/02/05/senadores-aprovam-regulamentacao-da-profissao-de-psicopedagogo Acesso em: 23/05/2021.

WEISS, Maria Lucia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica
dos problemas de aprendizagem escolar
. Rio de Janeiro: DP & A, 200

[1] Pós-Graduação Lato sensu – Especialização em Educação Básica pela UERJ. Pós-Graduação Lato sensu – Especialização em Língua Portuguesa pelo Liceu Literário Português. Pós-Graduação Lato sensu – Especialização em Psicopedagogia pela Faculdade Instituto Brasil de Ensino – IBRA – FABRAS. Graduação Lato sensu em Pedagogia – Licenciatura pela Faculdade Instituto Brasil de Ensino – IBRA – FABRAS.  Graduação em Letras – Licenciatura em Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.

Enviado: Junho, 2021.

Aprovado: Julho, 2021.

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Anna Carolina Toffano Duarte

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